Há aproximadamente 450 km de Recife, sertão de Pernambuco, está a cidade de Itacuruba, com uma população de 4.754 pessoas. Nesse pequeno município existe um projeto do Governo Federal, para construção de um complexo com seis reatores nucleares e uma emenda à Constituição de Pernambuco pretende liberar a construção desta usina nuclear no Estado. Nesta primeira transmissão da série #LIVESANTINUCLEARES, o ativista Chico Whitaker entrevistou a cacica Evani Tuxá, da aldeia Tuxá, cujo território pode se tornar canteiro de obras das usinas de Itacuruba e o bispo de Floresta, Dom Gabriel Marchesi, que tem lutado contra esse projeto.
REPORTAGEM SOBRE O PROJETO FEDERAL DA USINA NUCLEAR EM ITACURUBA:
A Terra Indígena Pankararu, homologada em 1987, está localizada entre os atuais municípios de Petrolândia, Itaparica e Tacaratu, no sertão pernambucano, próximo ao rio São Francisco. Seu povo mantém viva suas tradições, fé e luta, mesmo num Brasil que governa contra nossos povos tradicionais.
Encerrou no último dia 15 de março, o ciclo de celebração e resistência do povo Pankararu conhecido como “Corrida do Umbu”. Consiste em celebrar a safra do fruto que chega, assim como representa tempo de purificação, renovação e inspiração para o ano que se inicia.
Após as primeiras trovoadas de janeiro, iniciando as plantações do fruto após as primeiras chuvas, os “detentores de saber” vão escolher o dia para o flechamento do primeiro umbu que aparecer da safra. No final de semana logo após o dia esse flechamento iniciam-se as corridas, que são movimentadas em grandes terreiros durante quatro finais de semana.
A ancestralidade, a reger a fé e força do povo, é personificada nos Praiás, indígenas cobertos com uniforme de fibra de caroá, que conduzem o Toré ao som dos toantes, maracás, manifestando a força encantada aos presentes. Segundo a cosmologia Pankararu os Encantados são entidades que estão presentes em toda a terra indígena enquanto elo entre aqueles que fazem parte do mundo humano com a entidade maior que não está presente nessa terra.
As festas são organizadas por famílias zeladoras dos Praiás que organizam os espaços (Poró) onde são guardados e onde certas obrigações são realizadas de forma a manter a força encantada viva entre os membros da família.
No cumprimento das obrigações estão presente as ervas, o fumo encantado (tabaco aromatizado de preparo exclusivo para as forças encantadas) e o vinho de ajucá (bebida preparada da jurema) como sinal de respeito ao sagrado a sustentar o mundo em que vivemos.
O ciclo fecha no quarto final de semana com a saída do “Mestre Guia” chefe de todos os encantados. O momento é esperado por centenas de pessoas que aguardam sua saída em vigília por toda madrugada em completo silêncio. Pirão e garapa são ofertados aos presentes para alimentar o corpo, as bênçãos do Mestre Guia alimentam o espírito.
Para além da tradição aconteceu, entre os dias 6 e 8 de Março, a primeira edição da mostra de música Pankararu reunindo centenas de indígenas e não-indígenas.
Aconteceu na aldeia Indígena Bem Querer, localizada a 7 km de distância da cidade de Jatobá, no Sertão pernambucano. Durante os três dias os participantes imergiram na cultura tradicional em rodas de conversa, trilhas e shows/espetáculos. O projeto estimulou o potencial econômico, criativo e afetivo da comunidade local, colaborando para a consolidação de um polo autônomo, independente e sustentável de produção cultural. Contou com a participação da Cia de Dança do Sesc Petrolina, e os artistas Juliano Holanda, Isabela Moraes, Camila Yasmine e Gean Ramos.
O projeto, da “Aió Conexões” com apoio Cultural do Sesc, foi um sucesso contando, com centenas de participantes.
Tanto a tradicional Corrida quanto a Mostra soam uma resposta ao Brasil que extermina povos indígenas, saqueia suas riquezas e destrata tradições: “Resistiremos!”
Que a força encantada esteja conosco!
(*) Daniel Filho é professor da Rede Estadual de Pernambuco.
Há aproximadamente 450 km de Recife, sertão de Pernambuco, está a cidade de Itacuruba, com uma população de 4.754 pessoas (de acordo com IBGE 2015). Nesse pequeno município existe um projeto do Governo Federal, para construção de um complexo com seis reatores nucleares.
Aconteceu no último sábado (08.02) uma palestra sobre os impactos sociais da construção da usina. O evento teve a palestra com a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutora em Auditoria Social, Fátima Pinel. Logo após a roda de conversa, foi exibido o filme Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dorneles.
“Tenho estudos acadêmico-científicos para afirmar, como também evidenciar, porque sou totalmente contra a construção da usina nuclear no entorno de Itacuruba, local escolhido estrategicamente pela presença do urânio 235. Esta usina provavelmente gerará empregos radioativos, contaminação e radiação para o entorno, como câncer no pulmão e tireoide, vide o caso de Caetité na Bahia, além da morte do Rio São Francisco” disse a professora, que é autora do Livro Modelo de Auditoria Social para Transnacionais que Destroem a Natureza e colonizam os Povos.
“Como consequência das pressões internacionais, que exigem um planeta livre da radiação dos acidentes fatais nucleares, como vimos o exemplo Fukushima e Chernobyl, estas usinas estão sendo desativadas em países desenvolvidos o que é um processo complexo, duradouro e caro, devido aos resíduos tóxicos que permanecem durante décadas na natureza”, conclui.
A cacica Evani Tuxá Campos evidencia que é muito claro o interesse de grandes empresas na construção da usina nuclear
Para a cacica Evani Tuxá Campos, a palestra foi muito importante. “Até agora, todos os debates que tivemos até hoje, se assim posso falar, foram só com quem defendia a construção da usina nuclear. Diferente de hoje. Para além disso, trouxe elementos importantes que apontam o interesse das grandes empresas nesse projeto”, salientou.
Por outro lado existem pessoas que são favoráveis a construção da usina, como é o caso de Marcineide Freire, dona da pousada Três Irmãos, que argumenta a mesma coisa que os pró-usina falam: geração de emprego e renda! Mas nós sabemos que não é bem assim e já publicamos aqui uma entrevista com Angelo Bueno, do Conselho Indigenista (CIMI) que pontuou: “como é que essa população será empregada se ninguém tem especialização de energia nuclear! Lógico que esse empregos são pra quem é de fora.”
“Achei muito representativo quando os estrangeiros entraram na cidade para matar todos e o povo se organizou para lutar. Isso pra mim mostra que mesmo com o interesse econômico das grandes multinacionais se a gente se organizar podemos vencer” disse Netinho Tuxá, da Comissão de Jovens Indígenas de Pernambuco (COJIPE), quando perguntamos qual a opinião dele sobre o filme Bacurau.
Esse evento faz parte de um série de atividades que serão realizadas neste ano contra a construção do complexo nuclear em Itacuruba.
LEIA MAIS SOBRE O PROJETO DE CONSTRUÇÃO DA USINA NUCLEAR EM PERNAMBUCO
O INDIGENISTA ANGELO BUENO EXPLICA OS INTERESSES POR TRÁS DA CONSTRUÇÃO DA USINA
*Essa matéria faz parte de uma série de reportagens que iremos fazer a respeito da construção do complexo nuclear em Itacuruba, sertão de Pernambuco. Para viabilizar nossas viagens, estamos realizando campanhas boca a boca em Recife, junto aos parceiros que podem de alguma forma, contribuir para o bom jornalismo.
Patrocinadores:
FETAPE – Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco
Mandato do Vereador Ivan Moraes (PSOL)
SINDSPREV – Sindicato dos Trabalhadores Públicos Federais em Saúde e Previdência Social no Estado de Pernambuco
Às lideranças políticas do País, dos Estados da Bacia do Rio São Francisco
E, mais precisamente, do Sertão de Itaparica
“Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram” (Rm 12,15)
Nós, bispos, presbíteros, diáconos, religiosas, leigos e leigas, representantes das comunidades quilombolas e de povos indígenas, pesquisadores e estudantes, reunidos em Floresta – PE nos dias 5 e 6 de novembro de 2019, chamados, como cristãos, a sermos solidários com toda criatura humana e com a natureza, e a fazer da nossa vida e da nossa fé um sinal e um instrumento do amor de Deus para com todas as suas criaturas, sentimo-nos impelidos a escutar o povo de Itacuruba e da região do Sertão de Itaparica a respeito das esperanças e dos temores suscitados pelo projeto de implantação de um complexo nuclear naquele município, à beira do rio São Francisco. Escutar para entender, para se informar, para solidarizar-se, escutar como estilo de caminhar juntos, a fim de que todos possam ser protagonistas das suas vidas e do seu futuro. Em tudo, fomos conduzidos e iluminados pela constatação de que progresso e desenvolvimento só são verdadeiros e reais quando promovem a vida, a partir da vida dos mais necessitados, e não a economia e o lucro de uma restrita elite.
Nossa primeira preocupação é com a vida de quantos moram na região, com o trabalho, a cultura, o futuro, a possibilidade de um crescimento e de um desenvolvimento de acordo com as suas caraterísticas, tradições, possibilidades e aspirações.
O povo que mora em Itacuruba e na região tem rosto e tem nome, história que fala de promessas não cumpridas, quando foi tirado de sua terra pela construção das barragens da hidrelétrica, de esperanças frustradas pela impossibilidade de continuar a trabalhar dignamente para a sua vida, de depressão, de suicídio entre os jovens que não aceitam ter uma vida fútil e sem sentido, reduzida ao consumismo. Sentimos, nas falas deste povo, o drama de quem desejaria mostrar suas forças e energias para o presente e o futuro, mas não tem perspectivas. Esse povo não sente a necessidade de usina nuclear, não acredita em promessas que já ouviu trinta anos atrás e que resultaram na situação problemática em que hoje vive.
Progresso não pode ser palavra bonita, mas vazia, não pode significar imposição de um modelo de vida baseado no ter e que acarreta problemáticas sociais muito fortes. Com quais instrumentos de conhecimento, com quais estruturas sociais o povo de Itacuruba e região irá enfrentar a transformação decorrente da chegada de muitas pessoas na sua terra? Quais serão as possibilidades de desenvolver harmoniosamente a sua vida no futuro próximo? Temos, de fato, uma grande responsabilidade também com as próximas gerações, pois as nossas escolhas, ainda mais em casos como este, sempre vão gerar consequências importantes. Diz o Papa Francisco na sua Encíclica Laudato Sí: “Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão crescendo? Esta pergunta não toca apenas o meio ambiente de maneira isolada, porque não se pode pôr a questão de forma fragmentária. Quando nos interrogamos acerca do mundo que queremos deixar, referimo-nos sobretudo à sua orientação geral, ao seu sentido, aos seus valores… se esta pergunta é posta com coragem, leva-nos inexoravelmente a outras questões muito diretas: Com que finalidade passamos por este mundo? Para que viemos a esta vida? Para que trabalhamos e lutamos? Que necessidade tem de nós esta terra? Por isso, já não basta dizer que devemos preocupar-nos com as gerações futuras; exige-se ter consciência de que é a nossa própria dignidade que está em jogo” (LS 160). Por toda esta série de considerações, denunciamos os erros do passado e pensamos que eles deveriam nos ajudar a refletir melhor para que não sejam repetidos e, sobretudo, a não tomar decisões sem escutar os interessados.
Projeção da Eletronuclear, feita em 2011, para a usina em Itacuruba, com seis reatores
A saúde do rio São Francisco também nos preocupa, porque, dele e com ele, o nosso povo vive e cresce, e não pode ser considerado como um instrumento de lucro por uma técnica que sabe fazer muitas coisas, mas que, até agora, raramente foi colocada a serviço da vida plena da nossa casa comum.
Todos aceitam com entusiasmo a possibilidade de uma vida melhor, mas isso significa acesso à educação e à saúde, possibilidade de um trabalho real e contínuo, justiça social e defesa das culturas; significa, sobretudo, unir a população e vislumbrar outros modelos de desenvolvimento pautados no princípio da dignidade da vida humana. É esse o tipo de desenvolvimento de que estamos precisando, algo que faça do povo de Itacuruba e região não pessoas que recebem uma “recompensa” por hospedar um complexo nuclear difícil de aceitar, mas que poderão afirmar sua plena pertença a um País e contribuir para o crescimento dele com humildade e ousadia.
Conclamamos todos os homens e mulheres de boa vontade, independentemente de suas convicções político-ideológicas, a conhecerem os estudos técnicos e sócio-antropológicos relativos à temática, e a se comprometerem com a defesa e a promoção da vida dos povos, do Rio São Francisco e do meio ambiente como um todo, a fim de que “todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10).
É um manifesto humanista, mais do que um livro de fotografia. É assim que Araquém Alcântara, um de nossos maiores fotógrafos de natureza — ele prefere ser chamado de fotógrafo brasileiro — qualifica a última publicação que lançou. O livro Mais Médicos é um registro do programa do governo federal que levou mais de 18 mil médicos a 4 mil municípios do País. “Eu queria ir a esses lugares onde o Estado está chegando pela primeira vez”, conta Alcântara, em seu escritório na Vila Olímpia, zona oeste de São Paulo. “Eu sei como é, minha infância foi assim. Meus pais, analfabetos, nunca foram a médico nenhum”.
Foto: Araquém Alcantara
Segundo o texto de apresentação do livro, escrito pelo ex-ministro da Saúde, Arthur Chioro, cerca de 63 milhões de brasileiros passaram, somente agora com o Mais Médicos, a contar com a atuação de equipes de Saúde da Família com a presença de médicos, que garantem 80% dos problemas de saúde da população antes que se tornem graves.
Alcântara percorreu 19 estados e 38 cidades durante um ano. Foi a lugares ermos, onde nunca havia tido a presença de um médico. “As comunidades se sentem brasileiras, amparadas pelo Estado. É impressionante, você vê a presença do Estado — que é o que falta no Brasil. Foi nesse aspecto que eu quis fazer esse ensaio, para registrar essa transformação no País”. A logística da viagem foi bancada pelo governo federal.
O fotógrafo tem 46 anos de profissão e já publicou 49 livros, mas ainda vibra com cada imagem ao folhear sua última publicação: “Olha esse índio, olha esse peitoral, isso é África total! Esse é meu País! Um Brasil que ainda não foi descoberto, em 2015!”.
Araquém vai pinçando algumas histórias, como a da médica cubana que descobriu que o foco de esquistossomose em Igreja Nova, Alagoas, era causado pelos canais de irrigação dos arrozais. Ou então a do paciente velhinho, em Manaus, vítima de hanseníase, sem uma das pernas e com os dedos das mãos atrofiados. Apaixonado pela médica cubana que o atende, escreve diversos poemas em sua homenagem.
Foto: Araquém Alcantara
Na Ilha do Marajó, no Pará, uma médica cubana faz as vezes de assistente social e conselheira. Diante de um bebê nascido com paralisia e uma mãe viciada em drogas, reuniu a família, redistribuiu as tarefas e delegou ao tio a responsabilidade de tratar da doença do sobrinho.
O roteiro de Araquém não ficou apenas na floresta. No Rio de Janeiro, o fotógrafo se encontrou com o médico João Marcelo Goulart, neto do ex-presidente João Goulart, que trabalha na favela da Rocinha. “Teve todo um esquema para liberar a nossa entrada. Passamos por vários caras armados, são os donos do pedaço. Triste”. Na favela, foram à casa de uma mulher que, em surto de esquizofrenia, matou a facadas o marido.
“A importância do Mais Médicos é essa: o velhinho cruza com o médico na rua, toca nele e diz: está dando resultado o tratamento. É o contato direito, ter ali o porto seguro”, diz Alcântara.
As fotografias do livro serão expostas em diversas mostras, dentre elas uma em Havana, Cuba, e outra em Genebra, Suíça, na sede da Organização Mundial de Saúde
O Projeto que é produzido pelo Coletivo Ecos do Caminho, juntamente com parceiros regionais, propõe uma ampla programação de curtas, oficinas e atividades abertas ao público em geral. Na 2ª edição, o projeto lança um manifesto amplo, assim como três estruturas de programação audiovisual: Mostra Competitiva Regional (para curtas-metragens dos estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás e do Distrito Federal), Mostra Sertão (longas escolhidos e convidados pela curadoria), Mostra Sertãozin (programação infantil para as crianças das escolas da região).
“Cinema e Ser-tão. Sonhar e ser no sertão. Descobrir(-se) (n)as histórias contadas, aprendendo com os mais velhos, com as crianças, com as tradições.
A busca pela inteireza da sabedoria da terra, a troca de afetos e a ancestralidade, através do singelo olhar das guardiãs e guardiões sertanejos.
Potencializar a beleza das vivências e, por meio do cinema e do diverso, expressar gratidão aos parentes geraizeiros.”
(trecho extraído do Manifesto CineBaru 2018)
Tal como na primeira edição, em 2017, o festival integrará uma programação de oficinas, vivências, música e atividades voltadas ao público infantil, totalmente abertas para a comunidade.
O projeto pauta um olhar para o chamado “território baiangoneiro” (da tríplice fronteira entre os Estados de MG, BA, GO, integrando juntamente o DF), assim como para os territórios que integram o Mosaico Sertão Vereas – Peruaçu. A Mostra se propõe a construir um espaço de atividades amplamente alinhado aos contextos socioculturais do Território com o qual se conecta, tendo em mente o incentivo de propostas oriundas do entorno da Vila de Sagarana, dialogando intimamente com as raízes e anseios de participações regionais.
Clement Villien
Os chamados para inscrição dos curtas e propostas de vivências autogestionadas estão abertos! Você pode conferir o Chamado de Curtas acessando o link: https://goo.gl/LffLFz As inscrições de propostas de vivências/oficinas possuem um Edital específico que pode ser conferido no link: https://goo.gl/KgRCK3
O CineBaru não conta ainda com incentivo de editais públicos nem patrocínio privado. A produção lançou uma campanha de financiamento coletivo .