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Tag: Preta Ferreira

  • Marmitas orgânicas da agricultura familiar beneficiam moradores em situação de rua

    Marmitas orgânicas da agricultura familiar beneficiam moradores em situação de rua

    Uma rede de voluntários e militantes que atuam da produção ao preparo de alimentos orgânicos, saudáveis e da agricultura familiar tem feito a diferença na vida e na saúde de moradores em situação de rua e em condição de vulnerabilidade da cidade de São Paulo, por meio do projeto Lute como quem cuida. Elaborado e colocado em prática de maneira coletiva pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento Sem Teto do Centro (MSTC) de São Paulo, o projeto distribui aproximadamente 300 marmitas todos os dias há mais de três meses.

    Por Nara Lacerda, do Brasil de Fato

    A ideia é criar uma rede de solidariedade contínua, que atenda essas populações em um momento delicado, com a crise causada pelo coronavírus. A falta de recursos e trabalho pode agravar ainda mais a insegurança alimentar e nutricional. No Brasil, o acesso a alimentos cultivados sem veneno ainda é limitado. Em parte, pelo preço que as grandes redes varejistas praticam, mas também pela falta de incentivo à agricultura familiar.

    A dirigente do MST no estado de São Paulo Daiane Ramos explica que a campanha teve início no âmbito da Brigada Estadual de Solidariedade Zilda Camargo, formada por militantes de diversos municípios, e cresceu com foco na coletividade. Segundo ela, a intenção é chegar à doação de 30 mil marmitas entre julho e agosto. 

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    “Essa brigada está desde o dia 20 de abril participando desse trabalho intenso de solidariedade para a Rede Rua e o Prédio dos Imigrantes (que abriga pessoas de outros países em situação de vulnerabilidade). No fim ela se estendeu, na parceria com o MSTC. As organizações se unem por uma causa única, de trazer esse alimento saudável e orgânico para essas pessoas mais vulneráveis. Infelizmente, com a covid, vem aumentando esse número.” 

    Mais que a simples doação dos produtos, o projeto tem cuidado especial com a garantia de que essas pessoas vão receber o melhor da produção orgânica do país. Todo o preparo – da higienização ao embalo – segue normas sanitárias criteriosas, que ficaram ainda mais rígidas com a pandemia. O cardápio é definido entre os militantes, mas leva em consideração também as sugestões de quem recebe as marmitas.

    Moradores de rua do centro de São Paulo recebem os alimentos. / Arquivo Brigada Zilda Camargo Ramos

    Os mais de 200 quilos semanais de arroz, por exemplo, vêm de assentamentos do Rio Grande do Sul, que hoje são os maiores produtores do grão na América Latina. A Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (Região Metropolitana de São Paulo), fornece as hortaliças e o pão. Assentamentos e acampamentos de outros municípios enviam em média por semana 90 quilos de feijão, 30 quilos de macarrão, 230 quilos de carne, 120 dúzias de ovos e 150 quilos de legumes.

    O trabalho é totalmente coletivo e dividido. Cada voluntário tem a oportunidade de passar por diferentes etapas do processo, para ampliação da experiência e dos laços criados entre quem está na colheita e atrás do fogão e as pessoas que recebem os alimentos. Oscar do Nascimento Teles, militante do MST e morador do Assentamento Dom Tomás Balduíno, no Pontal do Paranapanema (SP), faz parte dessa rede. Ele relata o cuidado existente em todo o processo. 

    “Os companheiros estão fazendo isso com muito amor e carinho, porque a gente viu a realidade na rua de quem tá recebendo o alimento. Você ver as pessoas na fila, erguendo as mãos para pegar aquela comida. Isso fortalece demais nosso trabalho na cozinha, em fazer isso com amor, carinho e preparar os alimentos com todo um protocolo de higiene e cuidado. Nessa grandeza que é São Paulo, é um pouquinho que a gente está fazendo, mas de grande proporção. A gente sabe da importância”, finaliza.

    Pela “manutenção imediata da vida”, a iniciativa “Lute como quem cuida” convida a sociedade civil para também colaborar. As doações podem ser realizadas por meio do site da campanha na internet

    Saiba mais: Quem é Carmen Silva, a líder dos sem-teto que a (in)Justiça quer prender
     

  • RACISMO: PRETA FERREIRA HUMILHADA NO EMBARQUE DA GOL

    RACISMO: PRETA FERREIRA HUMILHADA NO EMBARQUE DA GOL

    RACISMO!!! A cantora, atriz e militante do movimento de moradia Preta Ferreira teve seu check in bloqueado no embarque da GOL em Congonhas, quando se preparava para voar rumo a Salvador, nesta quarta-feira (5). A alegação no balcão do check in foi que o cartão de crédito que comprou sua passagem não era dela, fato absolutamente corriqueiro em qualquer empresa… Além disso, a autenticidade da compra foi confirmada por telefone pelo dono do cartão, que é o empresário de Preta. 

    “Mulher negra não pode ter empresário?”, pergunta Preta Ferreira

    Para cúmulo da humilhação, Preta Ferreira, com diversos compromissos para honrar na capital baiana, foi obrigada a comprar outra passagem. No balcão, o máximo que os atendentes lhe deram foi o conselho para que ela reclamasse no SAC da empresa o reembolso da passagem paga em duplicidade.

     

    É um escândalo!

     

    Este é mais um caso de discriminação contra mulheres negras a envolver grandes empresas apenas nesta semana. Há seis dias, Lorenna Vieira, mulher de Rennan da Penha, foi também atacada por preconceito e racismo em agência do Itaú na Penha, Zona Norte do Rio. Lorenna tinha ido à agência para desbloquear um cartão e sacar R$ 1.500. Ela denunciou ainda que, na delegacia, policiais duvidaram que ela seja casada com o DJ e a trataram com deboche. Até a publicação desta reportagem, a Polícia Civil não havia se manifestado sobre o caso. Já o Itaú lamentou e se desculpou pelos transtornos causados, mas a hashtag #ItauRacista espalhou-se por todas as redes sociais.

     

    OUTRO LADO:

     

    Os Jornalistas Livres estão em contato com a In Press Porter Novelli, empresa que faz a assessoria de imprensa da GOL, a fim de obter a versão da GOL para o impedimento de que Preta Ferreira viajasse com a passagem adquirida por seu empresário. Às 16h11, enviamos à In Press o email que segue, além de termos falado com a Diretora de Atendimento na In Press , encarregada da conta da GOL. Assim que recebermos resposta, faremos a atualização deste post.

    Prezados Senhores,
    Janice Silva, cidadã negra, cantora e atriz, tentou embarcar hoje (5) de Congonhas para Salvador. Vôo Gol 1564.
    Sua passagem foi comprada por seu empresário, e tinha o status de confirmada. Entretanto, Janice foi impedida de embarcar. No balcão, alegou-se que a compra havia sido feita por outra pessoa, que foi contatada e confirmou a compra. Mesmo assim, Janice teve NEGADO O DIREITO DE USAR A PASSAGEM COMPRADA.
    Janice é negra e acredita ter sido vítima de racismo por parte da GOL.
    Queremos ouvir a empresa.
    Estamos com todas as informações da denunciante e precisamos da posição da GOL.
    Nosso deadline para a resposta da GOL: 17h.
    Atenciosamente, 
    Jornalistas Livres

     

    A In Press Porter Novelli, empresa responsável pela assessoria de imprensa da GOL respondeu à solicitação dos Jornalistas Livres às 20h03, mas infelizmente não respondeu o questionamento feito à companhia aérea. Segue abaixo a íntegra do e-mail enviado.

    “A GOL reitera que não compactua com quaisquer atitudes discriminatórias e preza pelo respeito e pela valorização das pessoas.

    Nesta quarta-feira (5/2), a Cliente não pôde fazer o check-in, no aeroporto de Congonhas (São Paulo), antes da verificação dos documentos fornecidos na compra do bilhete, pelo fato de nenhum dos nomes envolvidos ser titular do cartão de crédito utilizado.

    Com isso, foi exigido o acionamento de procedimentos de checagem de informações, descritos no contrato de transporte aéreo (https://www.voegol.com.br/pt/contrato-de-transporte-aereo), explicitados no artigo 1.3, item XIII.

     

    Reforçamos que a prática não tem qualquer ligação com atos de racismo, sendo uma política de segurança aplicada em casos em que a compra é efetuada com cartão de crédito de terceiros. Esse procedimento é normal no ambiente de e-commerce, visando à proteção do portador do cartão de crédito.”

    AGORA PERGUNTAMOS A VOCÊ:

    Quantas vezes você já viajou com uma passagem comprada por outra pessoa? Quantas vezes você já viajou com uma passagem comprada com um cartão que não era seu? Quantas vezes você foi barrado ou impedido de viajar? Por quais constrangimentos você já passou? E, pra finalizar, qual sua cor? 

  • “O que não é floresta é prisão política”, está na galeria Reocupa

    “O que não é floresta é prisão política”, está na galeria Reocupa

    Dia 15 de setembro teve início a primeira ativação da galeria Reocupa com a exposição “O que não é floresta é prisão política”, no saguão do antigo prédio abandonado pelo Estado, onde um dia funcionou a sede do INSS,em São Paulo.

    O lugar que o Estado abandonou hoje está cheio de vida, uma vida diversa e pulsante conhecida por Ocupação 9 de Julho, organizada e revitalizada pelo Movimento dos Sem Teto do Centro (MSTC). Além de abrigar 140 famílias, é um ponto cultural, por onde circulam diversos grupos de artistas, que mobilizam muitos eventos e atividades, construídas coletivamente e em parceria com moradores e lideranças.

    Assim é também a galeria Reocupa, que se faz através de trocas e convívios entre essa rede. A Cozinha da Ocupação 9 de Julho, se tornou um evento imperdível, que acontecesse uma vez por mês, que além promover oficinas culinárias, serve almoços e acontecem diversos tipos de eventos e shows. Mais informações em: https://www.facebook.com/cozinhaocupacao9dejulho/

    Uma potente floresta

    O que não é floresta é prisão política inaugura o espaço com trabalhos de mais de 60 artistas brasileiras e brasileiros, numa lista em composição que hoje conta com 93 convidadas e convidados. Por isso, não há uma data limite para encerramento da exposição, que será ativada em eventos programados para acontecer a cada semana, continuamente.

     

    Quando o coletivo de artistas começou a construir a exposição, ainda não tinham no horizonte os incêndios na Floresta Amazônica, tampouco as notícias dos mandados de prisão das lideranças dos movimentos por moradia, “mas intuíamos que o inaceitável se aproximava”.

    Ver mais sobre a prisão em: 

    Justiça de São Paulo concede liberdade a Preta Ferreira

    Justiça de São Paulo concede liberdade a Carmen Silva

    Vitória histórica dos Sem-Teto: reintegração da Ocupação 9 de Julho é EXTINTA

    Entenda como foi a perseguição das lideranças:

    O que não é floresta é prisão política é uma mostra que nasce neste contexto. É um processo em curso que, como uma floresta, não se fecha e se realiza de forma colaborativa. Há uma partilha coletiva, múltipla, que toma de empréstimo a imagem da floresta para compor arranjos que se contaminam entre si, mesmo diante das diversas práticas de cada participante dessa exposição. Assim, não há uma hierarquia na montagem nem na seleção das obras, mas sim a intenção de construir um sentido sensível, livre, para esse espaço expositivo da Ocupação 9 de Julho, a Galeria Reocupa.

     

    Acompanhe a programação e próximas ativações semanais da mostra O que não é floresta é prisão política pelas páginas:

    @galeria_reocupa

    https://www.facebook.com/movimentosemtetodocentro/

    https://www.facebook.com/cozinhaocupacao9dejulho/

    @cozinhaocupacao9dejulho

    @oficina_de_arte_ocupa9dejulho

    @hotaocupa9dejulho

    Para ocupar as redes:

    #oquenaoefloresta #galeriareocupa #ocupacao9dejulho #mstc #cozinhaocupacao9dejulho #prisaopolitica #exposicaosp #liberdadepreta

    Galeria Reocupa / Ocupação 9 de Julho / MSTC, fica na  Rua Álvaro de Carvalho, 427.

    Mais sobre a Ocupação 9 de Julho

    Localizada no centro de São Paulo, na Bela Vista, o prédio da Ocupação 9 de julho representa um marco de luta por moradia social no Centro, e importante ponto cultural da cidade. O MSTC realizou um esforço pela valorização do prédio, acondicionando os espaços não só às necessidades dos moradores e o cumprimento da normativa vigente, quanto a sua adequação para dar espaço a uma quadra esportiva, horta comunitária, biblioteca e brinquedoteca, marcenaria, além de uma cozinha coletiva. Esses espaços e a gestão coletiva deles fazem com que a Ocupação 9 de Julho torne-se um exemplo de equipamento cultural – bem ali onde poderia existir o escuro e a invisibilidade, o apagamento e o silêncio, há a reabilitação da voz, da vida e dos afetos através da expressão artística e simbólica para a construção de um mundo possível.

     

    Sobre o MSTC

    Sobre a história do movimento e suas conquistas:

    https://www.movimentosemtetodocentro.com.br/

     

  • Poema para Preta Ferreira

    Poema para Preta Ferreira

     

    • Poema pra Preta –

    Preta na cor
    Preta na raça
    Preta no coração
    Preta luz na noite escura
    Preta gente
    Preta pura
    Preta doce
    Preta dura
    Preta Preta
    Quem te atura
    Tá criando confusão
    Tá fazendo ocupação
    Conquistando o chão pra vida
    Ser vida mesmo de vez

    Cala boca sua Preta!
    Já tá falando demais!
    Fala do pobre que é nobre
    Fala do rico que é cão
    Denuncia a injustiça
    Preta sem educação
    Pega o pobre da cidade
    Triste, velho, sem piedade
    Organiza faz a luta!
    Que Preta filha da puta
    Taca ela na prisão!
    Desbocada a Preta nova
    Que a Preta velha criou

    E lá vai a Preta Pobre
    Que orgulho insolente
    A Preta pensa que é gente
    Com esse condomínio aberto
    Desafiando a cidade
    Plantando fé e unidade
    Estancando a humilhação
    Faz a festa
    Faz piquete
    Luta por nosso interesse
    Diz que viver não é vão
    Que ser molenga e atoa
    Ter cara e não ter coroa
    Ter corpo e não ter um chão
    Isso é vida de barata
    Nós não é barata não!

    Vai Preta
    Ninguém te para
    Nem na cela
    Dos branquelas
    Nem no grito
    Nem na bala
    Tua fé na força pobre
    No direito à esse chão
    Pois que Deus não põe no mundo
    Nenhum infeliz que seja
    Pra viver nessa refrega
    De não ter um canto seu
    Essa luta é toda a luta
    Olhos de fogo no céu
    Resiste Preta bendita
    Que a Vitória virá
    Revivida renovada
    Cada semente jogada
    Preta cumpre a tua jornada
    Grande Preta
    Saravá.

     

    – Fernando Borgomoni –

     

     

    Ontem o movimento de luta por moradia obteve uma grande vitória com a concessão do HC preventivo de Carmen Silva, liderança histórica e símbolo do MSTC, no entanto essa semana completaram 100 dias da arbitrária detenção de sua filha Preta Ferreira. Esse absurdo não pode continuar. O direito constitucional à moradia e a utilização dos mecanismos legais de ocupação precisam ser respeitados, a luta dos movimentos da população sem-teto é uma luta de todos nós.

     

    Arte; Bacellar/Jornalistas Livres

  • Conjur mostra que Ministério Público generalizou as denúncias contra movimentos por moradia

    Conjur mostra que Ministério Público generalizou as denúncias contra movimentos por moradia

    Denúncia do MP-SP tenta ligar movimentos por moradia com organização criminosa

    Por Fernanda Valente, do CONJUR

    O Ministério Público de São Paulo quer transformar uma exceção nos movimentos por moradia em regra. Uma denúncia assinada pelo promotor Cássio Conserino, no dia 11 de julho, diz que 19 lideranças têm ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC). O embasamento são interceptações telefônicas e depoimentos “de inúmeras vítimas protegidas” que narram terem sido coagidas ou ameaçadas por membros dos movimentos.

    Membros do Movimento Sem Teto do Centro (MSTC), que gere a Ocupação 9 de julho, estão presos desde junho, acusados de organização criminosa e extorsão (Foto: Jeroen Stevens)
    Membros do Movimento Sem Teto do Centro (MSTC), que gere a Ocupação 9 de julho, estão presos desde junho, acusados de organização criminosa e extorsão (Foto: Jeroen Stevens)

    A denúncia foi apresentada depois da prisão preventiva de quatro integrantes dos movimentos, acusados de organização criminosa e de extorquir famílias que ocupam os prédios no centro de São Paulo. O inquérito está na 6ª Vara Criminal da Barra Funda e tramita em sigilo, por determinação da juíza Erika Soares de Azevedo Mascarenhas.

    No cerne da discussão está o desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo Paissandu, em maio de 2018. À época, a Polícia Civil instaurou um inquérito para investigar as irregularidades no prédio, como denúncias de que os líderes obrigavam famílias a pagar taxas mensais para morar na ocupação e que, em caso de inadimplência, seriam expulsas com a ajuda do PCC.

    O que o Ministério Público faz agora é usar o inquérito policial para estender as acusações a diversos movimentos sem individualizar as condutas. Com isso, não é possível distinguir se as ocupações revertem o dinheiro recolhido em benefício dos imóveis ocupados.

    “Temos os chefes de cada movimento, cada um batizado com um nome diferente, mas com o mesmo móbil, explorar sob o pretexto de ceder moradia a pessoas de diminuto poder econômico”, diz o promotor. Segundo ele, o grupo se associou para “obter direta e indiretamente vantagens de cunho econômico, mediante a prática de incontáveis extorsões”.

    Conserino pede a imediata interdição de todos os prédios e a realocação dos moradores em abrigos, ainda que a justiça criminal não tenha competência para isso.

    Coloração política
    O delegado André Figueiredo, responsável pelo inquérito que levou às prisões, disse ter provas documentais, interceptações telefônicas, depoimentos e cartas anônimas que relatam as ameaças. Em junho, quando o Departamento de Investigações Criminais (Deic) pôde cumprir os mandados de prisão temporária, foi citado como pontapé da investigação o recebimento de uma carta (digitada) que denunciava a extorsão e detalhava os valores cobrados. Escrita a mão, uma advertência: “isso ocorre em todos os prédios invadidos”.

    Anexada na denúncia, a carta pode ser considerada uma prova fraca já que seu conteúdo aparece em diversas páginas da internet e não dá pra verificar sua autoria. Como mostrou o site Jornalistas Livres, o provável autor do texto é Victor Grinbaum, que se apresenta como jornalista e já foi banido das redes sociais por publicações fraudulentas.

    Também chama atenção a tentativa de estampar que os movimentos agem com motivação partidária. Conserino afirma que algumas das lideranças são filiadas ao Partido dos Trabalhadores, que obrigavam os moradores da ocupação a votar na legenda ou seriam expulsos.

    “Eram compelidas a votar em integrantes do Partido dos Trabalhadores, mudar o título eleitoral para o centro de São Paulo, participar de invasões a novos prédios e, por fim, participar de atos em apoio ao ex-presidente Lula e a ex-presidente Dilma”, diz a denúncia.

    O promotor, no entanto, não aponta o número de cadastro ou data da possível filiação das pessoas. Ele também desconsidera, ou não sabe, que o domicílio eleitoral é uma exigência para que se possa dar entrada nos programas habitacionais.

    Busca e apreensão
    Em outro tópico, a denúncia considera uma busca e apreensão feita na ocupação Marconi, onde foi apreendido um livro que trazia na capa “Filiação PT – OK”. Para o promotor essa é uma indicação da “possível associação entre tais movimentos, política e criminalidade organizada”.

    Além disso, Conserino vê um panfleto do Movimento de Moradia Para Todos (MMPT) como um documento “revelador” que “retrata a estabilidade e organização dos grupos criminosos”. No caso, o panfleto apreendido informa que o interessado em morar na ocupação deve apresentar RG, CPF, título de eleitor, comprovante de residência e fotos 3×4.

    Hotel Cambridge, no centro de São Paulo, foi ocupado por 174 famílias em 2012 (Reprodução)
    Hotel Cambridge, no centro de São Paulo, foi ocupado por 174 famílias em 2012 (Reprodução)

    Os mandados de prisão expedidos em junho alcançavam diversos líderes, dentre eles Carmen da Silva e seus filhos, Sidney Ferreira da Silva e Janice Ferreira da Silva, conhecida como Preta Ferreira, membros do Movimento Sem Teto do Centro (MSTC), que gere a ocupação 9 de julho.

    Recentemente, a ministra Maria Thereza de Assis Moura, vice-presidente do Superior Tribunal de Justiça, negou o pedido de Habeas Corpus deles. A ministra entendeu que iria suprimir instâncias, já que o HC anterior ainda não teve o mérito julgado pelo TJ de São Paulo.

    De acordo com os advogados Ariel de Castro Alves e Francisco Lúcio França, que representam o movimento, o MP está acusando Carmen pela segunda vez com fatos já apontados em outra investigação. Em janeiro, ela foi absolvida, sob entendimento de que as provas não eram suficientes para uma condenação.

    Em um dos depoimentos colhidos no Deic, é narrado que o processo foi movido contra Carmen depois que alguns integrantes do movimento ficaram fora de um financiamento do programa Minha Casa Minha Vida, que previa a reforma do Hotel Cambridge, no centro da capital. O imóvel, alvo de uma batalha na justiça, foi desapropriado pela Prefeitura em 2011. Em 2015, o MSTC, que ocupava o imóvel, conseguiu edital de chamamento do programa. Com o financiamento da Caixa Econômica Federal e sob administração do movimento, o antigo hotel está em obras e vai virar uma moradia popular regularizada pela Prefeitura.

    “As denúncias são requentadas, assim como as mesmas testemunhas do processo anterior foram novamente ouvidas no Deic. Inclusive algumas que eram ligadas ao crime organizado e queriam levar traficantes para vender drogas nas ocupações e a Carmen não permitiu”, dizem os advogados, que alegam que as prisões são ilegais.

    LEIA AQUI A PUBLICAÇÃO ORIGINAL

    Outras reportagens:

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  • Vitória histórica dos Sem-Teto: reintegração da Ocupação 9 de Julho é EXTINTA

    Vitória histórica dos Sem-Teto: reintegração da Ocupação 9 de Julho é EXTINTA

    O pedido de reintegração de posse do antigo prédio do INSS na Avenida 9 de Julho, onde hoje fica a Ocupação 9 de Julho, do Movimento Sem Teto do Centro (MSTC), foi extinto pela 14ª Vara Cível Federal de São Paulo, no dia 15/07.
    Após o pedido para a reintegração ter sido realizado pelo INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) o movimento dos ocupantes recorreu. Durante o processo a posse do imóvel passou para o IPREM (Instituto de Previdência Municipal) que foi intimando duas vezes a se manifestar, mas não respondeu as intimações.
    Enquanto o processo corria na Justiça a ocupação se tornou um polo cultural na região central, sendo diversas vezes palco de encontros de artistas e acadêmicos.
    A 14ª Vara resolveu, após a falta do proprietário atual, que “caracterizada a carência de ação por ausência de interesse de agir e legitimidade supervenientes e JULGO EXTINTO o processo”. Na decisão ainda afirma que “o interesse de agir corresponde à necessidade e utilidade da via judicial como forma de obter a declaração jurisdicional do direito aplicável ao caso concreto litigioso. Esse interesse de agir deve existir não somente quando da propositura da ação, mas durante todo o transcurso da mesma”, reforçando a falta de interesse do IPREM em se pronunciar no pedido.

    Decisão que arquiva o pedido

    Decisão que arquiva o pedido

    Decisão que arquiva o pedido

    PRISÕES

    Quatro lideranças de movimentos de moradia de São Paulo foram presas no dia 24 de junho sem que houvessem provas. Ednalva Silva Franco Pereira e Angélica dos Santos Lima (do Movimento de Moradia para Todos), e Sidney Ferreira Silva e Janice Ferreira Silva (a Preta Ferreira), do Movimento dos Sem Teto do Centro (MSTC) estão há 23 dias em prisão preventiva.
    As prisões de outras cinco pessoas, entre elas Carmen Silva Ferreira, a protagonista do filme “Era o Hotel Cambridge” (2016), também foram pedidas e concedidas pelo juiz Marco Antônio Martin Vargas, que autorizou ainda buscas e apreensões em endereços de 17 dirigentes de movimentos. Todos os alvos dos mandados de prisão e de busca e apreensão, segundo a polícia, são suspeitos de associação criminosa e extorsão, por cobrarem “aluguéis” entre R$ 200 e R$ 400 nas ocupações que coordenam.
    A investigação que levou às prisões foi uma resposta à tragédia ocorrida no dia 1º de maio de 2018, quando o edifício Wilton Paes de Almeida, ocupado por pobres sem teto, acabou consumido por um incêndio e desabou, deixando nove mortos. Ananias Pereira dos Santos, alvo de mandado de prisão ainda não cumprido, era coordenador do MLSM (Movimento de Luta Social por Moradia), que comandava a ocupação no Wilton Paes.
    Prisão de lideranças pretas e pobres, baseada em acusações sem provas, sabe-se, é parte da herança escravocrata do Brasil e de um sistema de Justiça que nasceu para naturalizar a obscena exploração de negros e índios escravizados. Mas, neste caso, a perseguição não se deu ao trabalho nem ao menos de honrar os frufrus do discurso jurídico, que sempre ocultam natureza racista dos operadores do Direito neste país.