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Tag: Prefeitura de São Paulo

  • ZELADORIA ILEGAL DE BRUNO COVAS  “varre” pertences de moradores em situação de rua

    ZELADORIA ILEGAL DE BRUNO COVAS “varre” pertences de moradores em situação de rua

    Mais uma vez, ação truculenta de agentes da prefeitura acontece na Praça Princesa Isabel, centro de São Paulo, e desobedece o DECRETO nº 59.246/2020 que dispões sobre o tratamento à população em situação de rua. Um problema que requer ações de assistência social, de saúde e de humanidade, é substituído por violência e descaso com os mais necessitados. Além do sequestro dos poucos bens dessas pessoas, incluindo documentos, e material doado para que a sua subsistência na condição de rua seja menos caótica.

    A Ação ilegal se deu na manhã de, dia 13/10, entre 8 e 9 horas.  Uma grande equipe de limpeza urbana e vários Guardas Civil Metropolitanos estiveram na Praça Princesa Isabel e retiraram das pessoas seus bens, tais como barracas, documentos, roupas, cobertores e ameaçaram as pessoas, conforme os primeiros depoimentos.

    Moradora idosa desabafa: “Que prefeito é esse?” … ” Fazendo a gente de cachorro…” 
    “A gente não tá aqui por que a gente quer” desabafa moradora
    “Essa prefeitura está destruindo nós” declaração da moradora em situação de rua
    “Levaram até roupa, até a ração do meu cachorro” moradores desabafam
    Recebemos doações e a GCM vem todo dia e tira as barracas da gente, desabafa Bruna moradora
    Morador em situação de rua faz denúncia de truculência em ação de zeladoria ilegal, centro de SP.
    “Nem pegar as coisas que tem dentro da barraca, roupa de vestir, coberta, eles deixaram” diz morador
    “Mais um dia de caos na praça…. chegaram arrebentando” desabafa morador
    PLAYLIST COM TODOS OS DEPOIMENTOS
    Imagine se a gente tivesse roubando? A gente é gente de bem, procurando a reciclagem fala morador



    Os depoimento foram colhidos pela A Craco Resiste, coletivo de ativista que atua na região com projetos de redução de danos, e proteção da população, entre outros.

    Uma rotina de truculência ilegal

    Segundo o decreto e portaria isto não poderia ser realizado. Conforme obriga o DECRETO Nº 59.246 de 2020 que dispõe sobre os procedimentos e o tratamento à população em situação de rua durante a realização de ações de zeladoria urbana.

    A conduta, ainda, é vedada pela mesma normativa:

    Art. 10. As equipes de zeladoria urbana deverão respeitar os bens das

    >pessoas em situação de rua.

    § 1º É vedada a subtração, inutilização, destruição ou a apreensão dos

    seguintes pertences da população em situação de rua:

    I – bens pessoais, tais como documentos de qualquer natureza, cartões

    bancários, sacolas, medicamentos e receitas médicas, livros, malas,

    mochilas, roupas, sapatos, cadeiras de rodas, muletas, panelas, fogareiros,

    utensílios de cozinhar e comer, alimentos, colchonetes, travesseiros,

    tapetes, carpetes, cobertores, mantas, lençóis, toalhas e barracas

    desmontáveis;

    II – instrumentos de trabalho, tais como ferramentas, malabares,

    instrumentos musicais, carroças e material de reciclagem, desde que dentro da carroça.

    Ao ser questionado sobre a irregularidade da ação, funcionário presente ao local, que não se identifica, pede que o repórter procure a assessoria de imprensa da subprefeitura.

    Fizemos contato por email, com a da assessoria de imprensa das Sub-Prefeituras do Município de São Paulo, até as 15h30 (horário de publicação deste vídeo no youtube), e fechamento desta matéria, não haviamos recebido resposta sobre o por que da ação ilegal. ABAIXO a nota da Prefeitura enviada às 17h30 do dia de hoje (13.10.2020).

    Funcionário não se identifica, e pede que se procure a assessoria de imprensa da subprefeitura

    Nota da Secretaria de Segurança Pública da Prefeitura

    Boa tarde

    Seguem informações

    A Prefeitura de São Paulo, por meio da Subprefeitura Sé, esclarece que a ação citada aconteceu em 09/10 e que realiza diariamente operações de zeladoria urbana em áreas aonde vivem pessoas em situação de vulnerabilidade, como a Praça Princesa Isabel. As ações ocorrem em conjunto com as equipes de zeladoria e limpeza, e a Guarda Civil Metropolitana (GCM).

    A administração regional cumpre o Decreto Nº 59.246/20, que dispõe sobre os procedimentos e o tratamento dado à população em situação de rua durante as ações de zeladoria urbana na cidade de São Paulo.

    É vedada a retirada de pertences pessoais, como documentos, bolsas, mochilas, roupas, muletas e cadeiras de rodas. Podem ser recolhidos objetos que caracterizem estabelecimento permanente em local público, principalmente quando impedirem a livre circulação de pedestres e veículos, tais como camas, sofás, colchões e barracas montadas ou outros bens duráveis que não se caracterizem como de uso pessoal.

    A Secretaria Municipal de Segurança Urbana informa que Guarda Civil Metropolitana apoia os agentes da Subprefeitura nas ações de zeladoria urbana e limpeza, bem como os agentes de Saúde e Assistência Social, sempre que solicitada. A GCM está orientada a não retirar nenhum pertence dos moradores de rua.


    Enviamos os vídeos com as denúncias dos moradores, como resposta.

    Com Informações da A Craco Resiste

  • Prefeitura de SP ameaça com despejo 40 famílias na zona sul

    Prefeitura de SP ameaça com despejo 40 famílias na zona sul

    Apesar de diversos movimentos e campanhas de #DESPEJOZERO durante a pandemia, a Prefeitura de Bruno Covas, age de forma acelerada, burocrática e jurídica, com cerca de 160 pessoas, que moram há 3 anos num prédio na zona sul. Mesmo sem que a ação de despejo esteja decretada, estão ameaçando as famílias de despejo em 48 horas, e pressionando-as a assinarem um termo de acordo para sair do imóvel, ou nem vão pagar o o valor de auxílio definido no processo, ainda em curso.

    40 famílias que vivem há 3 anos, no Condomínio Guarapiranga, que fica entre o Atacadão e terminal Guarapiranga, na Zona Sul de São Paulo, estão sendo ameaçadas de ir pra rua nas próximas 24 horas. Pelo menos 25 crianças que ocupam este imóvel há 3 anos podem ir pra rua, com seus familiares com um valor de R$ 2.400,00 que corresponderia à um “valor de custo”, mediante a assinatura de um acordo de desocupação.

    Representantes da Prefeitura, da subprefeitura e da SEAHB (Secretaria Municipal de Habitação) ligaram ontem (quarta-feira 27.08.2020) para alguns moradores, alegando que se eles não assinassem esse termo, não receberiam o dinheiro, e seriam despejados de qualquer forma. Nas palavras do agente público:

    “Melhor vocês receberem os R$ 2.500,00 do que nada. E depois ter que brigar por isso na justiça”


    O fato é que não existe uma ordem de despejo decretada pela justiça, mas segundo a advogada ela pode ser emitida a qualquer momento. Com o intuito de dividir e confundir os moradores, os agentes da prefeitura tem feito as ligações e as ameaças.

    O processo está sendo acompanhado, desde outubro de 2019 pelo escritório Gaspar Garcia, encaminhado via convênio com a Defensoria Pública. Segundo a advogada, já havia um liminar condicionando a prefeitura ao atendimento das famílias, ou com auxílio aluguel, ou com “outro atendimento provisório”. Com base nesse termo “outro atendimento provisório” a prefeitura vem recorrendo judicialmente, derrubou o auxílio aluguel, e vem tentando pagar o mínimo possível para essas famílias deixarem o imóvel, inclusive reduzindo o valor desse apoio de custo. Agora eles pressionam as famílias com um ultimato ameaçador, dizendo que nem esse valor eles vão receber.

    A espera de uma solução, Marco (nome fictício) comenta a dificuldade que vai ser sair sem tempo de arrumar um lugar pra ir, e com apenas R$ 2.500,00 por família:

    “Não vamos sobreviver nem 1 mês”

    O papel da Prefeitura no despejo dos Pobres

    Essa seria uma rotina normal de litígio judicial, entre os que são chamados “ocupantes irregulares” em imóveis na cidade de São Paulo, não fosse esse um prédio em terreno da prefeitura, e se não estivéssemos em meio a uma das maiores crises sanitárias.

    O então Secretário da Habitação João Faria, no dia 03 de Agosto, segundo a advogada, havia afirmado que ia aguardar a decisão judicial. Depois da notificações a advogada entrou em contato com o setor de conflitos da Sehab eles disseram que em função da mudança do novo Secretário, Orlando Faria, não vão mais aguardar a decisão judicial, e vão acatar as orientações do setor jurídico, e por isso determinaram esse prazo de 48 horas, que é um prazo interno administrativo.

    De acordo com o Observatório de Remoções, projeto desenvolvido por laboratórios da USP e da Universidade Federal do ABC, apenas no estado de São Paulo, mais de 1.900 famílias foram atingidas por remoções durante a pandemia.

    A pergunta que fica é: Porquê da celeridade de um processo em meio a pandemia. Ainda mais partindo da própria prefeitura. Isso é no mínimo uma crueldade por parte do poder público municipal.

    A prefeitura acrescentou um laudo técnico ao processo, alegando que o imóvel está em risco. Mas os moradores afirmam que nunca receberam a visita de um técnico ou perito no local. A equipe da SEHAB está tentando acessar os moradores, mas até a final da tarde de ontem só havia contado metade deles. 

    O co deputado estadual Fernando Ferrari da Bancada Ativista PSOL, está acompanhando o caso junto a SEHAB, e os Jornalistas Livres seguem acompanhando o caso.

    Entenda mais sobre a campanha nacional pelo #DESPEJOZERO neste LINK

  • #DESPEJOZERO – Prefeitura de SP despeja pobres de seus barracos bem no meio da pandemia

    #DESPEJOZERO – Prefeitura de SP despeja pobres de seus barracos bem no meio da pandemia

    No dia 06 de agosto, em plena pandemia provocada pelo novo coronavírus, a Prefeitura de São Paulo, com auxílio da Polícia Militar e Guarda Civil Metropolitana, promoveu uma tentativa  de despejo e destruição de moradias de famílias que atualmente ocupam uma área livre na Avenida Pedro Bueno, na confluência com a Rua Josué de Castro. Nessa área está a Operação Urbana Consorciada Água Espraiada, localizada entre as subprefeituras Jabaquara e Santo Amaro.

    A subprefeitura do Jabaquara denominou pomposamente a ação de “desfazimento”, mas para as famílias atingidas trata-se mesmo de “destruição de moradias pobres com o que tiver dentro”. Por isso, as famílias resistiram e pediram apoios. A Prefeitura de São Paulo, diante da mobilização, recuou por trinta dias.

    Contudo, o prazo final se aproxima perigosamente e, com ele, a pressão das subprefeituras e da polícia militar, sem que alternativas reais e adequadas sejam apresentadas. A gestão pública diz que ali é uma área de risco e que haveria pessoas inescrupulosas fingindo morar no lugar para receber auxílios do governo. Fomos ao local e o que vimos foram famílias reais, de carne e osso, insistindo em defender suas moradias humildes e também reais, com móveis, geladeira, fogão, e outros equipamentos domésticos. São pessoas que lutam desesperadamente por um teto porque já não aguentam mais ser removidas de um canto para o outro.

    https://youtu.be/YKxp5U9JRgc

    Essa é a posição de Jacira, Maiara, Bruno e outras tantas famílias removidas das áreas no entorno da operação urbana. A Rocinha Paulistana, uma das últimas comunidades removidas, espalhou famílias sem alternativas habitacionais e uma parte de seus moradores se instalou nos precários barracos, agora sob risco de sofrerem um novo despejo. Outra parte está diante de um dilema terrível porque o orçamento doméstico é curto: ou compra alimentos, ou paga aluguel.

    Essas famílias se juntam a uma demanda de mais de 10 mil famílias removidas ao longo da avenida Roberto Marinho e adjacências, contando também as favelas incendiadas. Entre estas há cerca de 3 mil famílias inscritas em programas de aluguel aguardando atendimento habitacional, conforme dados do Observatório de Remoções.

    Mas a Prefeitura de São Paulo não entregou nem sequer 20% das habitações de interesse social prometidas às famílias removidas no âmbito da operação urbana Água Espraiada, que destaca-se, foi sucesso financeiro em venda de potenciais construtivos, tendo criado uma nova centralidade e uma elite imobiliária em todo entorno da Avenida Roberto Marinho e construído, com a venda de potenciais construtivos,  marcos monumentais como a Ponte Estaiada, que custou a remoção de famílias que ocupavam a área do Jardim Edith. Bem na frente da sede paulistana da TV Globo, aliás.

    Na Prefeitura de São Paulo, o conflito fundiário ­­– no meio da pandemia e por isso incrementado de crueldade – não é conhecido como “Novo Chuvisco”, nome que se destacou no último dia 06 de agosto. Esse conflito se territorializa na administração pública como Água Espraiada –  Rua Josué de Castro. O que pensaria Josué de Castro, autor de um clássico das ciências sociais “Geografia da Fome” publicado em 1946,  ao ver-se nominado num conflito fundiário territorial?

    Finalmente, o conflito fundiário Água Espraiada –  Rua Josué de Castro não é deflagrado a partir de uma ordem judicial, como tantos outros que vêm sendo noticiados, sobretudo pela campanha Despejo Zero, lançada no último dia 23 de julho. Esse conflito localiza-se no campo do poder de polícia administrativo, e como a própria prefeitura informa, no “desfazimento”. Ação de truculência muito comum na região da operação urbana consorciada Água Espraiada, muito rica no volume de recursos movimentados, mas também muito miserável ao sabor das nossas elites imobiliárias, na medida em que a paisagem é mais importante que a vida.

    https://youtu.be/RFRqV5KUMhc
  • EXCLUSIVO: Prefeitura de SP usa veneno vencido no “combate” ao Aedes Aegypti

    EXCLUSIVO: Prefeitura de SP usa veneno vencido no “combate” ao Aedes Aegypti

    Segundo denúncias feitas por trabalhadores do serviço público municipal das Unidades de Vigilância em Saúde (UVIS), os frascos de Deltametrina que estavam sendo utilizados nas nebulizações (também chamado fumacê), estão desde maio com validade vencida e foram usados por semanas após o vencimento.

    O Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública e Autarquias no Município de São Paulo (SINDSEP) denuncia que não é de agora que se usa material vencido. O inseticida anteriormente usado, Malathion, segundo os trabalhadores também estavam vencidos antes de esgotarem no estoque do Divisão de Vigilância de Zoonoses – DVZ (antigo Centro de Controle de Zoonoses – CCZ). Conforme os trabalhadores os inseticidas tinham “forte cheiro de podre”.

    Há também relatos de que o material vencido estava causando entupimentos e danificando os equipamentos de nebulização.

    Kits de sorologia da Dengue em falta

    Os dados sobre o aumento de casos de dengue na cidade não param de crescer. Um trabalhador de uma UVIS chegou a relatar ao SINDSEP que numa região da Zona Sul foram registrados mais de 300 casos de dengue nos últimos meses. O aumento foi tão significativo que há 20 dias, as Unidades de Saúde da Prefeitura esgotaram os kits de sorologia da Dengue, que confirmam ou não os casos suspeitos. A ausência de confirmação inviabiliza as ações ostensivas de combate aos focos do mosquito transmissor.

    Servidores passam mal

    A introdução da Deltametrina como inseticida nas operações de combate à dengue não foi acompanhada de orientações para os servidores, afirma o sindicato. Isso só ocorreu após casos em que trabalhadores passaram mal com utilização do material.

    Outros problemas graves

    A denúncia ainda traz outros relatos sobre problemas graves nas atividades das Unidades de Vigilância em Saúde (UVIS) como a falta de combustível para as viaturas de trabalho por atrasos no crédito dos cartões de voucher para combustível. Houve UVIS em que as equipes chegaram a ficar 30 dias sem uso dos carros no combate ao Aedes Aegypti.

    Também há relatos de dificuldade na manutenção dos veículos da Prefeitura, as “Denguinhas”, os carros do município destinados ao combate do mosquito transmissor da Dengue, Chikungunya e Febre Amarela. As picapes S10 disponibilizadas recentemente possuem a orientação de não serem utilizadas para carregar equipamentos.

    Foram feitas reclamações da execução de ações de combate à dengue fora do protocolo. O uso do inseticida exige o cumprimento de uma série de regras e protocolos de utilização. Esses protocolos são relativos a saúde dos trabalhadores e a eficácia do enfrentamento à epidemia.

    A nebulização em dias de sol, chuva ou garoa perde boa parte da sua eficiência. No entanto, há relatos de que estaria sendo realizada para “bater metas”, mesmo sendo operações irregulares frente ao protocolo orientado.

    Denúncia formalizada

    O SINDSEP protocolou junto a Prefeitura ofícios formalizando a denúncia no dia 24 de junho e irá reunir os representantes sindicais das UVIS para discutir a situação. O sindicato também está debatendo ações para proteger os trabalhadores e defender o serviço público frente a atitude irresponsável da administração municipal na gestão Bruno Covas.

  • Nem os  Ossos dos Desvalidos São Respeitados

    Nem os Ossos dos Desvalidos São Respeitados

    Fogueira de Ossos num ritual macabro dos que destoem os signos da indiferença mórbida do Capital, com seus lacaios escolhidos para fazer o espetáculo dos negócios escusos de um poder a serviço do construto cultural do Capital Financeiro apoiados num Sistema Judiciário perverso se manifestaram neste domingo dia 23 de junho deste ano. Este é o novo modo de privatizar dos tucanos liderados por seu mais jovem agente político que governa a Cidade de São Paulo. Já estamos há muitos anos vivenciando esse processo em que a mágica do poder desses grupos apoia-se na privatização a qualquer custo. Assim foi possível verificar mais uma etapa desse processo: os cemitérios públicos serão privatizados. Como eles estão num estado lamentável de abandono, o Prefeito Covas, ironia do nome, resolveu limpar a área para obter melhores preços para esses lugares que para ele nada significam, uma vez que esses mortos apenas ocupam poucas gavetas nos cemitérios ricos da cidade e muitas covas rasas nos cemitérios das periferias.

    O que nesse tema nos importa: em primeiro lugar, o poder público desde o início da história desta cidade foi responsabilizado pela tarefa de dar destino ético e digno aos restos mortais de seus moradores. Dever que congrega duas responsabilidades públicas: o respeito aos vivos em suas memórias e perdas afetivas e manter a cidade saneada, devido a centralização dos locais destinados aos mortos, onde seus parentes pudessem simbolicamente visita-los e tratar da morte como um ritual que demonstra a generosidade e os afetos dos vivos, e ao mesmo tempo preservar esses restos como provas da vida humana ao longo dos tempos históricos.

    Entretanto, no tempo presente, onde a banalização da vida e da morte é parte da ação dos “gestores públicos “, o lidar com essa esfera da vida passou a apontar o descaso e a omissão frente ao grande número de pobres que vivem na cidade, sem qualquer proteção, sejam homens, mulheres ou crianças. Assistimos há alguns anos mortes ocorridas por miséria, por fome, falta de abrigo, desespero pela solidão, ataques policiais, desocupações forçadas por tropas genocidas que despejam moradores das ruas da cidade com jatos d´água ou por tratores que derrubam imóveis ainda ocupados por sem tetos com suas crianças e idosos desassistidos e considerados lixo urbano.

    Além desses flagelados, também aparecem na cena macabra desses espetáculos de crueldade, corpos de pessoas perdidas, atropeladas ou assassinadas e desovadas em terrenos baldios da cidade, muitas delas identificadas e colocadas em necrotérios ou tanques hospitalares a espera de que seus parentes as encontrem, aliviando o desespero das perdas não resolvidas para realizarem o luto necessário ao descanso de todos os seus membros.

    Os ossos hoje ameaçados de desaparecimento escondem todas essas histórias e atestam como o mundo privado do capital exige dos governantes filiação incondicional aos seus interesses, não tolerando nem mesmo as covas rasas dos pobres que muitas vezes nem as possuem, e seus ossos acabam sendo emparedados em cubículos apertados nos muros fronteiriços dos cemitérios entre o lugar dos mortos e a cidade.

    Soube-se pela imprensa numa nota muito escondida em seus jornais, que as ossadas tinham fichas de identificação, mas que ao serem empilhadas fora das covas (rasas ou fundas?) como haviam sido feitas à caneta, os dados foram borrados e nada mais se poderia identificar nesses restos. Será mesmo? Há nas possibilidades científicas formas de se saber com clareza dados das ossadas e a Arqueologia é prova cabal desse conhecimento cujas ancestralidades já existem há séculos!

    Deste modo, quero concluir afirmando que a atitude do Prefeito e seus auxiliares não permitem outra compreensão senão a do descaso, indiferença e submissão aos ditames do mercado, que para comprar os cemitérios dos pobres e lucrarem com esse grande negócio o Município deve retirar todos os entulhos para que os compradores não arquem com o ônus desse descarte. Assim os compradores ao recebe-los poderão transformá-los em cemitérios para ricos construírem seus mausoléus, demonstrando que seus restos mortais devem seguir à posteridade, apagando a história de que essas riquezas foram obtidas pela violenta exploração dos trabalhadores ou da ausência de afeto, cuidado e proteção aos pobres descartados como se fossem lixos.

    Acordem trabalhadores, esse Modelo é revelador de quem são os gestores, de como nos consideram e de como escondem seus processos de massacre e morte daqueles que se voltam a criticá-los por seus atos.

     

    Zilda Marcia Grícoli Iokoi  Mestre e doutora em História Social pela Universidade de São Paulo. É professora titular do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, na área de História do Brasil Independente, atuando principalmente na linha de pesquisa História das Relações e dos Movimentos Sociais, nos temas da educação, lutas camponesas, políticas públicas, imigração contemporânea, humanidades, direitos e outras legitimidades. Atualmente coordena o Diversitas ? Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos e o Programa de Pós-Graduação Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades.
  • O QUE O CARNAVAL NOS INSPIRA?

    O QUE O CARNAVAL NOS INSPIRA?

    Por Cecília Figueira | Jornalistas Livres

    A escola de Samba “Paraíso de Tuiuti” surpreendeu o poder estabelecido e as elites, com sua garra, sabedoria e profundidade na crítica do momento atual: tratou com maestria o desmonte do Estado e das políticas públicas, da democracia, dos direitos do trabalhador e de sua aposentadoria, e a entrega do patrimônio nacional e de tantos outros temas.

    Com muito batuque, a “Paraíso do Tuiuti” deu lição de História do Brasil, que poucos hoje conhecem e sabem fazer. O povo negro e pobre, sujeito a escravidão no passado e construtor da riqueza de nosso país, denunciou com todas as letras e com muita ginga, a farsa do governo golpista, do Congresso que só defende interesses próprios, o enriquecimento pessoal e o compromisso com o neoliberalismo e o capital financeiro. Mostrou os vendilhões de nosso patrimônio apoiados por uma parcela do Judiciário e total concordância das grandes corporações midiáticas que compactuam com a escravidão até hoje.

     

    A insatisfação submersa, engasgada no cotidiano do povo, explodiu. O nó apertado e o grito rouco dos trabalhadores, do povo pobre e negro, do morro, das periferias e das favelas desatou com garra e deu seu recado:
    “Não sou escravo de nenhum senhor
    Meu Paraíso é meu bastião
    Meu Tuiuti, o quilombo da favela
    É sentinela na libertação”

    Com arte e maestria esse canto ecoou fundo. Os indignados com a situação atual de nosso pais se emocionaram e se espantaram com esta energia e a sabedoria popular.

    “Ê, Calunga, ê! Ê, Calunga!
    Preto Velho me contou, Preto Velho me contou
    Onde mora a Senhora Liberdade
    Não tem ferro nem feitor”

    Surpresa para as esquerdas, para os sindicatos, para movimentos sociais e para pessoas comprometidas com a luta e a esperança de um país melhor para todos. Essa revelação nos faz pensar- Porque as forças progressistas não estão conseguindo captar este grito do povo e insatisfação popular? Como impedir que essa força e garra, desapareçam, virem pó?No pós Carnaval, o corte das cenas impostas pelo Palácio do Planalto, a supressão do “Temer Vampiro” com a faixa presidencial, a decisão de intervenção militar no Rio de Janeiro, embotaram corações e mentes?

     

    Era de se imaginar que em São Paulo, no dia 19 de fevereiro, dia de mobilizações e paralizações contra a reforma da Previdência, o canto forte e vibrante da “Paraíso de Tuiti” inspirasse ações conjuntas e solidárias… Nem a ameaça e artimanhas do “prefake” Dória e da Câmara Municipal de mudar as regras da aposentadoria do servidor público municipal, contribuíram para que as categorias e alas se articulassem. A poucos passos e quase na mesma quadra, próximo à sede da Prefeitura de São Paulo, os manifestantes de categorias de servidores diversos e dos professores e profissionais da rede municipal de ensino se dividiram. O grito rouco da “Paraíso da Tuiti” não serviu para sugerir que pela mesma luta, os servidores tivessem sintonia e a mesma voz em uníssono.

    Da mesma forma, a arte forte dos muitos “Tuiutis” e a alegria criativa do carnaval, não sensibilizaram as lideranças de partidos, sindicatos e organizações sociais para que fossem inventivos em seus protestos: discursos pouco ouvidos se repetiram, lideranças e candidatos se fizeram presentes prá ver quem fala mais alto…

    Nenhuma participação e conversa com as pessoas que circulavam nas ruas, nos ônibus, nas lojas, nas calçadas, com o povo que está engasgado do seu lado, sem saber o que fazer também.

    Sonho com telões expondo nas ruas, nas esquinas e nas calçadas, os desfiles dos muitos “Paraíso da Tuiuti”, dos muitos “Arrastões do Bloco” que pipocaram em todo o carnaval, cantores e artistas, rappers e funks puxando músicas de protesto, vídeos sobre os desmonte dos direitos do povo brasileiro, jovens se expressando a sua maneira e tendo voz, distribuição de folhetos em linguagem clara e simples esclarecendo o povo, artistas fazendo performances, os indignados se juntando…

    Muitos blocos e escolas de samba por todo nosso Brasil, expressaram de maneira clara e precisa a insatisfação popular e a rebeldia através de seu samba neste carnaval.

    Quando será que as forças progressistas irão se sensibilizar e rever as suas práticas e linguagens?
    Por tudo isso, apesar de termos reunido um grupo significativo de militantes, onde estava o povo? Dia 19 para muitos foi uma 4ª feira de Cinzas!

    ”Meu Deus! Meu Deus!
    Se eu chorar, não leve a mal
    Pela luz do candeeiro
    Liberte o cativeiro social”
    É possível sonhar o sonho de nova militância, da união, da sintonia, da solidariedade.