Após feridos e mortos, e em dia de eleição do presidente americano, estamos próximos ao final do ano de 2020. Adquiri novos livros, reviro outros antigos, sei que de tudo fica um pouco, tudo vira história.
Na pandemia encontrei desenhos belíssimos de Noemia Mourão, artista plástica e esposa de Di Cavalcanti. Mistura-se, enlaça papéis, pensamentos atuais sobre desenhos antigos.
Recorte no texto de Ailton Krenak e desenho de Noemia Mourão*
“Outro dia fiz um comentário público de que a ideia de sustentabilidade era uma vaidade pessoal, e isso irritou muitas pessoas. Disseram que eu estava fazendo uma afirmação que desorganiza uma série de iniciativas que tinham como propósito educar as pessoas sobre o gasto excessivo de tudo. Eu concordo que precisamos nos educar sobre isso, mas não é inventando o mito da sustentabilidade que nós vamos avançar. Vamos apenas enganar, mais uma vez, quando quando inventamos as religiões. Tem gente que se sente muito confortável se contorcendo no ioga, ralando no caminho de Santiago ou rolando no Himalaia, achando que com isso está se elevando. Na verdade, isso é só uma fricção com a paisagem, não tira ninguém do ponto morto.
Trata-se de uma provocação acerca do egoísmo: eu não vou me salvar sozinho de nada, estamos todos enrascados. E, quando eu percebo que sozinho não faço a diferença, me abro para outras perspectivas. É dessa afetação pelos outros que pode sair uma compreensão sobre a vida na Terra. Se você ainda vive a cultura de um povo que não perdeu a memória de fazer parte da natureza, você é herdeiro disso, não precisa resgatá-la, mas se você passou por essa experiência urbana intensa, de virar um consumidor do planeta, a dificuldade de fazer o caminho de volta deve ser muito maior. Por isso acho que seria irresponsável ficar dizendo para as pessoas que, se nós economizarmos água, ou só comermos orgânico e andarmos de bicicleta, vamos diminuir a velocidade com que estamos comendo o mundo – isso é uma mentira bem embalada.
A própria ideia de certificação, dos teste que são feitos com materiais que consumimos, desde a embalagem até o conteúdo, deveria ser posta em questão antes de a gente abrir a boca para dizer que existe qualquer coisa sustentável neste mundo de mercadoria e consumo. Estamos transformando oceanos em depósitos de lixo impossíveis de tratar, mas vocês, certamente, vão escutar um bioquímico ou um engenheiro espertalhão dizendo que tem uma startup que que vai jogar um negócio na água, derreter o plástico e resolver tudo. Essa pilantragem orienta, inclusive, a escolha de jovens que vão fazer especialização na Alemanha, na Inglaterra, ou em qualquer lugar,e voltam ainda mais convencidos do erro. Voltam, assim, transbordantes de competência para persuadir os outros de que comer o mundo é uma ótima ideia.
Enquanto as bases materiais da nossa vida cotidiana estão funcionando, operantes, a gente não se pergunta de onde vem as coisas que consumimos. Na maioria de tempo, as pessoas mal respiram ou têm consciência do que põem na boca para comer. Apenas quando há um desastre, os indivíduos, desplugados das fontes de suprimentos, começam a sofrer e a se questionar. Quem sobrevive a uma grande catástrofe costuma pensar em mudar de vida porque teve uma breve experiência do que é, de fato, estar vivo. Existem muitos povos vivendo situação de perdas, de catástrofe, de guerra. Ouvir sobre como essas pessoas agem para sair de um trauma profundo, olhar ao redor de si e recomeçar sua jornada nisso que chamamos “seguir vivendo”, pode ser instrutivo, mas não substitui a experiência.
Estou há dois anos vivendo na margem esquerda de um rio junto com outras famílias do meu povo que, do ponto de vista prático, tinham que ter sido removidas daqui, como o que aconteceu com o pessoal de Brumadinho, de Bento Rodrigues e outros lugares. Os Krenak não aceitaram ser retirados, quisemos ficar no local do flagelo. “Ah, mas vocês não tem água!” E daí? “Ah, mas vocês podem morrer aí!” E daí? Sabemos que esse lugar foi profundamente afetado, virou um abismo, mas estamos dentro dele e não vamo sair. É uma questão que incomoda, mas é preciso estar nessa condição para poder produzir uma resposta em plena consciência. Consciência do corpo, da mente, consciência de ser o que se é e escolher ir além da experiência da sobrevivência.”
in A vida não é útil – Companhia das Letras
* Ailton Krenak, líder indígena, pensador, ambientalista e escritor,66 anos, escolhido intelectual do ano, ganhador do prêmio Juca Pato, premiação realizada pela União Brasileira de Escritores, que reconhece autores que contribuem para o desenvolvimento da democracia brasileira.
*Noemia Mourão(1912/1992), pintora, cenógrafa e desenhista. Estudou e casou-se com Di Cavalcanti.
Cantou o poeta Gilberto Gil, certa feita, que sentir é questão de pele e amor é movimento. Sempre, aqui e agora, estanca-se amor.
coração e pele de uma gente de origem
A pele da terra é sua floresta, sua caatinga ou cerrado, mangue, restinga. Nada disso sabem no ringue, imbecis apostadores. Como tu és ou não, eu já não santo ou saberei. Sei de mim, filho da terra, Terra, como ti.
Querem fazer do boi um ser que combate o fogo. Tadinho do boi, na Índia ser tão respeitado, as vacas da maternidade, tolerância, mansidão, sustento do humano.
Aqui, profana vaca muge heresias. Novos ventos, leitos banais na ocupação de nossa equação? Estranha aritmética no fogo da razão.
Crianças Kawaiweté, em feliz pedagógica canoa e exercício de equilíbrio, prumo e rumo.
Resta-nos apenas a terceira margem do rio, penso como Guimarães Rosa, mandar fazer uma canoa. Aprendi que coisa séria em canoa é o remo, seu rumo.
Sem fim seguem absurdas afirmações da função dos animais. Atribuem qualidades ao gado de corte. De fato é o boi nosso churrasco, mas fogo não é seu apreço.
Preço da carne são outros 500. Índio pensa no desequilíbrio da água e seu brilho.
À margem do Xingu, na pesca diária da vida e educação indígena.
Fico pensando na paz, ausência de excitação, estado de calma. Não o Buda e seu prêmio de afastamento do mal e a eliminação dos demônios, mas o largar as armas, entender a palavra. É prêmio da paz a serenidade? Creio que sim, tal lavar a roupa da noite à beira de rio, tão puro, na alvorada de cada dia.
Alvorada entre os povos tradicionais e seus asseios e gratidão, ciência de quem sabe.
Quando nasci havia um pedido de paz, recordo bem nas igrejas da época. Vivi dia assim de paz apenas entre indígenas, homens fortes de luta, luto e senha. Há uma paz entre grandes guerreiros, por mais que ameacem. Descobrimos quando velhos que as armas apenas entristecem, vingam, atiçam a sanha.
Ropni, o cacique Raoni, o mestre das palavras e seus calibres no alvo de nosso peito, representa 5 séculos do brado dos povos nativos daqui, de um planeta Terra. Raoni sempre disse aos kuben, nós mesmos, os homens brancos, que os espíritos lhe dizem sobre a destruição das florestas e suas consequências.
A paz do cacique é a saúde da Terra. Sempre voltamos ao começo na esperança da paz.
Por: Gislayne Figueiredo e Rosa Lúcia Rocha – Consulta Popular – MT
Desde a chegada dos primeiros homens brancos no Brasil, o povo indígena vem sofrendo com a violência, o genocídio, os ataques à suas formas de vida e de cultura, tudo isso para se apropriar de suas terras e disponibilizá-las para aqueles que a utilizam segundo a lógica do lucro.
A mesma lógica utilizada – de apropriação da terra mediante o genocídio e etnocídio de povos inteiros – continua sendo utilizada como forma de expansão das fronteiras agrícolas e sob o discurso do desenvolvimento nacional: citamos algumas dessas violências cometidas em período não tão distante, entre as décadas de 1940 a 1960, que foram ricamente documentadas em 1967 pelo próprio Estado brasileiro por meio do chamado “Relatório Figueiredo”, um documento de mais de 7 mil páginas que está disponível na página do Ministério Público Federal e que merece ser conhecido por todos os brasileiros. No documento produzido pelo então procurador Jader de Figueiredo estão descritas inúmeras atrocidades praticadas por latifundiários brasileiros e funcionários do Serviço de Proteção ao Índio contra índios brasileiros naquele período, como assassinatos individuais e coletivos, torturas, prostituição de índias, trabalho escravo, usurpação do trabalho, apropriação e desvio de recursos oriundos do patrimônio indígena, venda de artesanato indígena, venda de produtos de atividades extrativas e de colheita, arrendamento de terras, venda de gado, venda de madeiras, exploração de minérios, doação criminosa de terras, omissões dolosas, dentre outras.
Essas violências continuam até hoje e centenas de povos indígenas que procuram viver em harmonia com a mãe-terra, respeitando-a e preservando-a, têm seus territórios constantemente invadidos por garimpeiros, madeireiros, fazendeiros e pelo agronegócio que, de forma predatória, queimam e arrasam as florestas, as águas e os animais.
Os povos indígenas foram sendo cada vez mais expropriados e confinados em pequenos espaços de terra, os chamados Territórios Indígenas que, em geral, são cercados de fazendas por todos os lados e, muitas vezes, não possuem terras suficientes para garantir a sobrevivência com dignidade desses povos.
A história mostra que uma das estratégias mais utilizadas para matar os indígenas com o fim de tomar as suas terras é a contaminação de grupos com doenças vindas dos brancos, como a varíola, tuberculose e a epidemia de gripe e sarampo que dizimou diversas etnias no século XX.
O Estado brasileiro de hoje, sob o comando de Bolsonaro, impõe um governo de direita (tendendo para a extrema direita) que é declaradamente a serviço dos maiores inimigos dos povos indígenas, ou seja, grandes produtores do agronegócio, latifundiários, madeireiros e mineradoras. Assume uma postura ativa de incentivo e apoio àqueles que invadem e cometem violências contra os indígenas, não apenas se omitindo quanto ao seu papel de fiscalizador, mas propondo ações que violam cotidianamente os direitos constitucionais dessa população, reforçando práticas e discursos genocidas.
De modo muito conveniente aos interesses desses grupos que dão sustentação ao governo Bolsonaro, o vírus Covid-19 chegou rapidamente aos povos indígenas, tal como pavio de pólvora, com evidentes indícios de negligência para com essa população, sabidamente mais vulnerável a doenças infecciosas.
Diante da pandemia que avança sobre seus territórios, muitos povos indígenas têm se organizado para sobreviver e resistir como podem para impedir a infecção pelo coronavírus, criando barreiras sanitárias nas aldeias, evitando ir às cidades e contando com a solidariedade dos amigos da causa indígena para acessarem produtos de higiene e ferramentas para a pesca, haja visto que o Estado não tem garantido as condições mínimas para a sobrevivência, para evitar o contágio e cuidar daqueles indígenas que foram contaminados.
No estado de Mato Grosso, de acordo com a contabilização feita pela Associação de Povos Indígenas do Brasil, em 11/09 já eram mais de 1600 indígenas contaminados e 73 mortos.
Um apelo por solidariedade aos povos do Xingu
Do Baixo Xingu, pelo whatsapp, chega um apelo por solidariedade pela voz de um jovem indígena, dirigido aos movimentos sociais do campo popular de Mato Grosso:
“Companheiro, estou sem acesso a internet, a gente está isolado. Devido a pandemia, nós mudamos do polo central onde estávamos residindo até o ocorrido, nós perdemos uma família devido às complicações da Covid 19. Na nossa cultura, quando acontece alguma coisa, a gente busca outros lugares para estar com a família. E aí, a nossa família está construindo uma comunidade lá, um lugar pra gente, então não estamos tendo acesso à internet, por enquanto. Mas buscando apoio para em breve ter uma instalação lá pra gente, porque a gente precisa para dar continuidade ao nosso trabalho. Estamos agora bem próximos de um outro povo indígena, eu agora estou tendo bastante contato com eles e pretendo colocar eles em contato com vocês, acho importante a gente socializar, para que o povo branco possa entender como estamos organizados. Então, a gente tem bastante demanda aqui no nosso povo, aqui do Xingu e acredito que tem outros povos indígenas que também têm demandas devido a pandemia… Porque mudou totalmente nossos hábitos. Tem chegado apoio, não muito, algumas coisinhas. O que o pessoal mais oferece é cesta básica, só que a gente precisa mais do que a cesta básica, como ferramentas, sabão, isqueiro, sabonete, produtos de higiene, faca, facão, lima, essas coisas. Já faz aproximadamente seis meses que a gente está parado aqui… A gente não consegue ter acesso fora da TIX (Terra Indígena Xingu). Daí eu gostaria de ver se vocês conseguem mobilizar aí alguns parceiros, pegar carona, para que possam nos ajudar, mobilizar, articular para adquirir essas coisas e mandar pra gente também. A gente ficaria muito feliz com isso, as comunidades, que realmente estão precisando. Eu não procurei você antes porque eu também sei que vocês tem a demanda de vocês aí… Mas é que eu vejo aqui, as comunidades super precisam dessas coisas. E não é só cestas básicas. A gente tem alimento da gente aqui também, que a gente consome. Não quer dizer que a gente não precisa também das cestas. Mas não tanto quanto os materiais que as comunidades estão precisando para trabalhar e para dar continuidade no trabalho de roçada. Daí já passa um tempo, aí posteriormente ver o tempo da queimada pras roças, e depois vem o período do plantio das roças… Então a gente vai precisar de bastante material. Eu aguardo posicionamento seu, uma resposta sua para ver o que que você me fala, tá bom? Um abraço até mais.”
Diante da resposta positiva, o reforço:
“Obrigadão aí pela força companheiro, pela parceria também e pela compreensão também. A gente está há seis meses sem sair. Como você sabe o Xingu é muito extenso, são 16 povos. Tem chegado apoio, mas não atende todo mundo, não consegue atender todo mundo, então por isso eu estou falando com vocês. Eu conversei aqui com uns povos parentes, que tem mais ou menos duas ou três aldeias, e tem o meu povo também, né? Então como a gente está em várias aldeias, então o que que foi a metodologia que eu montei lá. Eu achei que daria para gente dividir os trabalhos com outros parceiros. Então, aqui, a gente conversando, o pessoal aqui e o cacique lá de outra aldeia que fica na região onde a gente mora, a gente decidiu buscar algum tipo de apoio para 10 aldeias que são Parureda, Caiçara, Tuba-tuba, Maidicá, Camaçari, Aiporé, Paranaíta, Castanhal, Três Patos e Ciato. Dessas aldeias, a gente já fez um pequeno levantamento também, a maior população aqui é o povo Yudjá, dá um total de 150 famílias nas 10 aldeias. Então as ferramentas para trabalho, produto de higiene que não falei, o sabão, sabonete, bombril de lavar panela também, creme dental, escova de dentes, essas coisas também são bem vindo. Botinas, chinelos havaianas. Que a gente precisa além das cestas, né? Assim, que nem eu falei, a gente tem a comida nossa que é farinha, bijú, caça… A gente precisa também de óleo de comida, sal, açúcar também que a gente consome hoje, né? Não muito, mas a gente consome para adoçar algumas coisas. Então, por isso a cesta também é fundamental pra gente, é importante também, porque tem algumas coisas também que a gente usa também no nosso dia a dia. Então é isso!”
Essa é a história que motivou os movimentos sociais do campo popular de Mato Grosso – MST, Consulta Popular e Levante Popular da Juventude, em parceria com a Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (ADUFMAT) lançarem uma campanha conclamando toda a sociedade para doar ferramentas para trabalho na roça, pesca e materiais de higiene e limpeza para atender as necessidade de 10 aldeias da região do baixo Xingu.
Nesse momento, onde a existência concreta desses povos está mais uma vez ameaçada, é importante nos atentarmos para a importância de fortalecermos a luta pela defesa de suas formas de vida, pela preservação de suas múltiplas e diversas culturas e de seus territórios. Não obstante, para além de apoiarmos a luta, é preciso que nossa relação com os povos originários seja de aprendizagem, que a gente possa aprender com a riqueza de suas culturas e com sua relação de respeito para com a natureza e com outros seres humanos.
As organizações conclamam toda a sociedade a se juntar a essa causa e contribuir com a preservação das comunidades indígenas do baixo Xingu, em Mato Grosso, doando produtos de limpeza, material de trabalho na roça e para pesca (vide lista abaixo).
As doações podem ser entregues na sede da ADUFMAT, em Cuiabá, ou por meio de depósito na conta abaixo. Mais informações no face da AAMOBEP – https://www.facebook.com/aamobep/ – pelo email aamobep@gmail.com ou pelo telefone (65)981094569.
Nome: AAMOBEP (Ass. Amigas/os do Centro de Formação e Pesquisa Olga Benário Prestes)
Após um mês da chacina, com indícios de tortura, de quatro indígenas na fronteira do Brasil com a Bolívia (veja relato completo em https://jornalistaslivres.org/policia-mata-quatro-chiquitanos-na-fronteira-com-a-bolivia/) por policiais do Gefron, a aldeia é alvo de novas ameaças. O professor da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT Aloir Pacini, que acompanha o caso de perto, relatou essa semana que os Chiquitanos estão ligando desesperados depois dos policiais dizerem que vão matar outros dez habitantes do lugarejo. Por causa das ameaças e para dar apoio e visibilidade ao caso,Pacini, que também é padre jesuíta e antropólogo, está publicando semanalmente relatos da situação no site da Unisinos (http://www.ihu.unisinos.br/). Os Jornalistas Livres continuarão acompanhando o caso.
“A boiada não vai passar e a mentira, mesmo que saia da boca de uma mesma pessoa, dita milhares de vezes não se tornará verdade, principalmente porque sabemos que o pai da mentira é o diabo. Vamos somente aprender com os índios, caboclos e pequenos produtores rurais a cuidar da floresta como cuidar do fogo para queimar os roçados nas roças de toco ou usar de modos agrossistêmicos e agroecológicos adequados em busca da sobrevivência e produção de alimentos em áreas já desmatadas”, escreve Pacini.
Eis o artigo.
O Brasil está sendo criticado desde o ano passado na ONU e internacionalmente por causa de sua política ambiental e o massacre dos povos tradicionais, porque não quer aprender com os povos indígenas a cuidar dos nossos biomas, possui uma visão equivocada e idolátrica da natureza como local de roubo e de enriquecimento, como se esse fosse um banco pronto para assaltar e roubar. Não bastasse, as formas de negacionismo são tantas e tão perversas que encontra formas de colocar a culpa nos outros e, constantemente, minimiza os problemas causados pela forma equivocada de grande parte do agronegócio se portar, devastando em vez de cuidar. Bem diferente é a agricultura ecológica que possui um cuidado extremo com o uso do fogo, aprendeu que quem põe a mão no fogo queima.
No dia 23 o Coiso já havia dito que o Brasil era “vítima” de uma campanha “brutal” de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal e que os indígenas e caboclos eram que colocavam fogo, e foi duramente questionado por isso. Não aprendeu porque a cabeça é dura, algum problema existe, pois no dia 30 voltou a declarar na cúpula sobre biodiversidade da Organização das Nações Unidas (ONU) que “ONGs” comandam “crimes ambientais” no Brasil.
Todas as pesquisas científicas mostram que é a agropecuária que provoca no país tal impacto nos incêndios, o que é chamado dilúvio de fogo por causa do desmatamento e queimadas descontroladas que estão ocorrendo nas regiões de floresta, cerrado e pantanal, para o susto de todos, pois se tratava de um bioma com grande parte alagada, algo que jamais fora visto no país, ou seja, principalmente no Pantanal e na Amazônia temos grande precipitação de chuvas e isso gerava antes do aquecimento global e do desmatamento que faz com que grande quantidade de massa orgânica é devastada para colocar fogo sem os cuidados tradicionais que os povos indígenas tradicionalmente possuem.
Em vez do agropecuário recuperar as áreas devastadas por ele no Brasil, trazendo para todos um expressivo aumento de produtividade alimentar para nós e para o mundo, e parar de avançar sobre as áreas ainda preservadas como seria de bom tom, o que provocaria um impacto benéfico sobre o meio ambiente. Quando o Coiso tem dificuldades mentais de aprender com a prática fiel do bem, insiste na mesma narrativa de que os incêndios têm origem natural e que a ação humana nos locais não tem muita interferência. Parece que voltamos para o tempo da pedra lascada, não sabemos nós que a venda dos grandes tratores teve um aumento sem precedentes no mês de maio deste 2020. Para entrar na Floresta um desses tratores em cada ponta levam os correntões e vão derrubando a mata nativa em proporções nunca visto na Amazônia, começando é claro pelos seus entornos.
A boiada não vai passar e a mentira, mesmo que saia da boca de uma mesma pessoa, dita milhares de vezes não se tornará verdade, principalmente porque sabemos que o pai da mentira é o diabo. Vamos somente aprender com os índios, caboclos e pequenos produtores rurais a cuidar da floresta como cuidar do fogo para queimar os roçados nas roças de toco ou usar de modos agrossistêmicos e agroecológicos adequados em busca da sobrevivência e produção de alimentos em áreas já desmatadas.
O que venho observando nas pesquisas que faço desde 1989, quando fui morara com os Rikbaktsa é que as comunidades organizam-se para botar fogo e poder controlar, os indígenas seguem a mesma lógica. Acompanhei os Rikbaktsa nas suas derrubadas de mata, tudo feito de forma ritualizada, em vista de uma festa. O dono da festa designava cada um dos homens para derrubar as árvores maiores e a mulherada derrubava na frente as menores. Quando uma árvore grande iria cair, tocava-se a buzina tradicional, tudo no respeito, pedindo licença para poder derrubar a árvore e não prejudicar ninguém, ao contrário, poder fazer a roça de toco como dizem. Na hora de botar fogo, toda a comunidade se organiza e todos a postos ao redor da derrubada para o fogo não espalhar para dentro da mata, e ali era mata amazônica. Não se pode mais ficar nos preconceitos tão grosseiros, que não conseguem olhar para essa sabedoria dos povos tradicionais que valorizam cada árvore, cada fruto, cada planta e cada animal. Todos têm nome, não é uma floresta a ser derrubada para plantar pasto para o gado.
Chiquitana assumida, Miraci falou como Abelha Rainha na live da Comissão Pastoral da Terra a respeito das queimadas, como tradicionalmente os indígenas e os sem-terra cuidam do fogo e o usam para fazer comida, para preparar a roça e nunca provocaram os incêndios que atualmente está o agronegócio provocando no nosso meio para espanto de todos. E ainda tem um governo louco que acusa os indígenas e caboclos de serem eles os que provocam essa devastação sem precedentes na floresta amazônica, no Pantanal e no cerrado.
Todos os biomas no mundo e no Brasil (Pampa, Mata Atlântica, Caatinga, Pantanal, Cerrado e Amazônia) possuem a ação do fogo, contudo não é essa a questão que me ocupa aqui. Desde os inícios as civilizações utilizaram o fogo para preparar seu alimento, para se proteger dos animais, para iluminar nas noites com um tição de fogo (ver filme A guerra do fogo). Os fogos numa casa indígena representam claramente as unidades de produção de alimentos para núcleos menores das famílias mais extensas que podem formar um clã, uma etnia numa aldeia. O controle do fogo tem sido uma preocupação tradicional dos povos indígenas e isso aparece nos seus mitos relacionados ao fogo. Contudo, o dilúvio de fogo na cosmologia Chiquitana é parte desses incêndios descontrolados feitos pelos fazendeiros que não se importam com o quanto queime, ou melhor, desejam que queime o máximo para que se possa jogar depois as sementes de pasto e não ter custos maiores com essa atividade de formação de pastagens. Assim, os incêndios que estamos presenciando estão diretamente relacionados ao desmatamento descontrolado levado avante pelo agronegócio, dado que até o ministro do meio ambiente propõe fazer a boiada passar enquanto estamos ocupados com a pandemia. Assim, as gigatoneladas (bilhões de toneladas) de dióxido de carbono jogadas no ar aumentam e tudo se torna um círculo vicioso no aquecimento global. [1]
A cruz com os nomes dos 4 chacinados na capela de San José de la Frontera (01/10/2020) | (Fotos enviadas pelo autor)
No primeiro dia do mês missionário, os Chiquitanos levaram a cruz esculpida na madeira de ipê roxo (tahivo) por Conrado Ardaya para a capela da comunidade e ali rezaram pelos falecidos. Perguntei por que não foi de aroeira e eles explicaram que a aroeira não permite gravar os nomes dos falecidos na madeira, é muito dura. Quanto à cor das flores do ipê, o roxo é porque ainda estão de luto. Mas chegará o dia da Justiça e os ipês amarelos, rosa, branco vão florescer junto com o roxo. Toda vez que virem um tahivo florir nesse cerrado, no Pantanal ou na floresta, vão lembrar das flores de ressurreição que os sacerdotes do templo de Jerusalém tinham enterrado para que ninguém encontrasse. Mas Santa Helena mostrou como encontrar a cruz de Jesus Cristo mais ao fundo, cavaram e primeiro encontraram a cruz do mau ladrão, depois a cruz do bom ladrão, São Dimas, só bem mais profunda é a fé para encontrar a cruz de Cristo. Lembrei também dos Xoklem e dos cafusos de Santa Catarina que fazem a cruz com cedro para brotar e, quando brota, é sinal que a pessoa por quem rezam ressuscitou.
O plano era no dia seguinte, o dia dos anjos da guarda, ir plantar a cruz com o nome dos quatro mártires no chão sagrado onde eles foram mortos covardemente pelo Gefron, pois ali, dizem eles, foi derramado sangue inocente, uma mancha pesada que clama aos céus por Justiça. Assim pensam que as bênçãos de Deus vão proteger os que ficaram. Esperam que suas orações, por meio da cruz que pendurou o corpo de Jesus que foi elevado para o Céu, também leve os quatro Chiquitanos a um bom lugar. Quando eles chegarem na porta dos céus estarão com essa cruz para abrir a fechadura que foi colocada ali para que os maus policiais não entrem. Alguns acontecimentos cuidadosamente lidos e interpretados pelos Chiquitanos vão mostrar os meandros dessa história. Já fora denunciado que Mato Grosso carece de uma produção jornalística independente e que não é saudável simplesmente repetir palavras vazias e preconceituosas como essa: Gefron mata mais quatro mulas bolivianas [2]. Isso é quase pior que matar, pensar as pessoas abaixo de animais, pois a qualidade desses animais específicos é a mais cruel. E quando vamos ver do que se trata nessa Operação Hórus/VIGIA, não há possibilidade de refletir a complexidade de uma tal notícia, baseada num BO sem reflexão:
“… quando a equipe policial realizava patrulhamento rural nas margens do Rio Jauru, em local conhecido por travessia de ‘mulas humanas’, a equipe abordou pessoas armadas carregando mochilas. Que no momento em que os policiais abordaram e verbalizaram se identificando como policiais os suspeitos começaram a desferir disparos contra os policiais. Por sua vez, os policiais revidaram a injusta agressão com disparos de arma de fogo no intuito de resguardar as suas vidas e após cessar o confronto armado, os policiais fizeram varredura de segurança no local, onde encontraram 04 suspeitos caídos ao solo e alvejados, cada um portando arma curta e mochila. […] os suspeitos foram encaminhados para o pronto socorro mais próximo, porém não resistiram aos ferimentos e vieram a óbito.”
A imagem que aparece no noticiário mostra dois Chiquitanos de San José de la Frontera e dois aliciadores brasileiros que provocaram mais essa tragédia. Os policiais não sofreram nenhum arranhão, todos os 4 morrem para não contar outra versão dos fatos. E o comando do Gefron, logo em seguida anuncia que um dos falecidos é irmão de outro assassinado no dia 11/08. Em reunião no dia 28/09 com o Tenente Coronel Fábio R. de Araújo que comanda o Gefron no Mato Grosso, esclarecemos que o César não era irmão de nenhum dos outros assassinados. Mesmo assim essa notícia continuou vinculando os dois fatos de forma equivocada. [3]
Jesus orienta que não adianta jogar pérolas aos porcos porque eles não sabem o que fazer com elas. O contraditório tem que sempre ser considerado, principalmente nesses casos tão complexos. Quem contratou o brasileiro que estava casado com uma pessoa da comunidade a fim de aliciar os dois Chiquitanos para o trabalho de mula humana? Somente um jovem e um adolescente se prestou a esse trabalho e a mãe de Carlos Socoré (16 anos) disse que o filho falou ao sair que iria fazer um trabalho porque queria comprar uma roupa nova, mas ela não pensava que era para levar droga para Cáceres. Foram mortos depois, pois os policiais já sabiam onde estavam, o que faziam e assim poderiam querer livrar a pele da atrocidade ocorrido no dia 11/08, dando a impressão que ninguém é inocente como afirmou o Secretário de Segurança Pública (ver adiante). César Alvarez Lopez (27 anos) era filho de Adelina Lopes e Romelio Martinez; Carlos Socoré Algarañaz (16 anos), era filho de Carmelo Socoré Bautista e mãe Úrsula Algarañaz; os dois brasileiros são pouco conhecidos e uma pessoa da comunidade pensa que se chama Tiago Silva (34 anos) e o outro era genro do César, e deixou a esposa grávida. A comunidade reconhece nesse caso que “faziam coisas erradas, mas não precisava logo matar, não andam armados!”, disseram. ”Assim fica mais difícil de saber a verdade!”
O Boletim de Ocorrência do dia 11/08 é semelhante ao do dia 27. Está com esses nomes: 3º SGT PM dos Santos; 3º SGT PM Sílvio; SD PM Cristiano; SD PM Marcos Aurélio. Contudo, a execução pode ter sido feita por um grupo e o BO ter sido registrado por outros. Nessa semana a comunidade ficou desesperada porque o Gilson Macaúba, do Gefron ameaçou as pessoas de San José, dizendo que vão matar mais uns dez, isso em dois momentos, com pessoas diferentes, segundo testemunhos da comunidade. Michel de Foucault (in Vigiar e Punir) já analisou que as instituições como as polícias que vivem do monopólio e controle da violência. A raiz do problema está no tráfico, e sabemos que que o tráfico é possível se existe agente do Estado envolvido, nesse caso ninguém está imune, pois é um negócio que dá muito dinheiro. O certo é que os Chiquitanos não inventaram o tráfico, mas são vítimas de uma situação cruel na Fronteira. Mesmo que são utilizados como “mulas humanas” para terem um dinheiro mais fácil, já sugeri quebrar as pernas do tráfico em outro texto, ou seja, muitos estão sendo mortos sistematicamente e os traficantes enriquecem soltos por aí.
O dia 30/09 foi o dia mais quente dos últimos 100 anos em Cuiabá, segundo o Instituto Clima Tempo, que marcou 44°C por volta das 15 horas, o terceiro recorde histórico de calor em Cuiabá registrado no mês de setembro. As causas são uma cortina de fumaça que encobre ainda a cidade por causa das queimadas no Pantanal e uma bolha de calor sobre a região que impede o avanço das frentes frias e das massas de umidade da Amazônia que poderiam formar as chuvas. Cuiabá bate recorde de calor no domingo dia 4, com 46°C e uma sensação térmica extenuante por causa da fumaça. O secretário de Segurança Pública de Mato Grosso, em entrevista nesse dia 30/09 falou coisas que interessam para a corporação. Evidente que o espírito de corporativismo é gritante e vergonhoso, pois o que deveria ser a segurança pública virou algo privado e a morte do povo brasileiro pouco importa por esses que tomaram os governos: “Independente se é índio, branco, negro, chiquitano…Traficante que atirar em polícia vai levar bala de volta. E é assim que está acontecendo na fronteira”, afirmou o secretário. Como prova o Secretário essa afirmação descabida: “Nenhuma dessas vítimas aí estava carregando flores. Todas estavam carregando cocaína. As apreensões são na ordem de 400 quilos, 500 quilos.”[4] Nem inquérito policial foi feito como pode dizer que nenhuma das pessoas mortas em confronto com o Gefron na região da fronteira era inocente? Onde estariam os 400 ou 500 quilos que estavam com os quatro Chiquitanos mortos no dia 11/08? Como pode ser tão enfático em afirmar que eles não são inocentes ou será que um crime justifica o outro?
Por isso fomos nesta sexta (02.09) como Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Humana de Mato Grosso à SESP para conversar com o Secretário de Segurança Pública de Mato Grosso, Alexandre Bustamante, para tratar das investigações sobre a morte dos quatro Chiquitanos, ocorrida no dia 11 de agosto, no município de Cáceres. O Ouvidor Geral de Polícia de Mato Grosso, Lúcio Andrade, apresentou a preocupação em relação à letalidade que aumentou em diferentes ações do Grupo Especial de Fronteira: “O problema do tráfico de drogas é real, a dificuldade de lidar com o problema é sabida em tantos quilômetros de fronteira seca, mas a letalidade das ações é preocupante. Cobramos uma investigação isenta desse caso, que tem repercussão internacional, por se tratarem de indígenas e cidadãos bolivianos” [5]. Pensa o Secretário ser urgente os militares que estão nos Quartéis da fronteira terem a incumbência de auxiliar o Gefron a coibir o tráfico, pois não tem sentido ficar esperando que a Bolívia ataque o Brasil. Parece que a fala do Secretário incentivou mais a agressividade dos policiais na Fronteira e os Chiquitanos não estavam conseguindo dormir na noite de quinta-feira:
“Estou com um grande aperto no coração como si tivesse algo acontecendo […] sinto no meu coração como si tivesse levando os tiro que meu irmão levo. É um medo grande. […] teve um policial que paro meu tio e disse que são 10 pessoa padre que eles vão matar ainda na nossa comunidade. Isso me deixa cada vez mais preucupada. Não sei si esse policial quer amedrontar a gente para tipo agente retirar o caso” (01/10/2020).
Esse encontro com o Secretário foi para procurar convencer, pressionar até, porque parece que sua postura de defesa dos seus policiais foi superficial, segundo o que foi anunciado nos meios de comunicação. O policial Macaúba passou a ameaçar as pessoas da comunidade, falou lá: “matamos mais quatro… vamos matar mais uns dez!” O fazendeiro Fabinho, patrão de José Mário Oliveira também foi parado pelo Gefron e avisado que eles não iriam parar por aí. Realmente, o caso está pegando fogo, pois as mentiras inventadas no BO não se sustentam. Vamos ver alguma forma de pedir proteção para as famílias da comunidade de San José de la frontera. Eles pedem também orações, pois os policiais que mataram os 4, no dia 11/08; no dia 27 mataram mais 4 e estavam ameaçando que vão matar mais uns 10. A comunidade estava especialmente amedrontada no dia 01/10 e não conseguiam dormir… pois alguns sinais foram dados: uma coruja passou por cima da casa de uma das viúvas como que zombando deles e depois voltou com a mesma forma de cantar. Perguntaram se seria o demônio que tomou conta dos policiais. Explicaram que também estão aparecendo mariposas marrons e entrando nas casas das famílias: “Tudo mau presságio. Hoje o filho mais novo do Yona chorou desesperado e só acalmou com banho com água benta!”
Yona de vermelho e o seu Zé, o gerente, de camiseta azul carneando porco na fazenda do Japonês
Seu Zé, o gerente da fazenda do japonês Getúlio mantinha amizade e procurava os Chiquitanos para trabalhar na fazenda, “sempre convidava para auxiliar quando precisava de nós por lá” disse um morador da comunidade. Essa prática de chegar alguém na aldeia San José de la Frontera buscando trabalhadores é comum. E nem sempre os pais conseguem segurar os filhos diante das propostas de trabalho mais avantajadas, pois quando o milagre é grande demais, até o santo desconfia, disse uma moradora.
Rezaram para São Miguel Arcanjo e Melânia conseguiu dormir. Acordou sobressaltada com o sonho: o seu fogão estava em chamas e ela conseguiu desligar o gás para não explodir a casa. Nisso, o filho mais velho de Yona (5 anos) pediu água que estava com muita cede e Melânia lhe deu. Estava refletindo sobre a sabedoria dos nossos pais. Meu pai chamava de patente, o lugar onde a gente ia cagar, pois ele estava cagando e andando para as patentes dos militares que oprimiam o povo já no tempo da ditadura militar. Quando meu pai queria xingar alguém chamava de alcalde. E agora na Bolívia observei que o alcalde é o prefeito. Havia uma crítica velada até na forma de nomear as coisas. A árvore toda cravejada de balas pela polícia do Gefron no dia 11/08.
Rezador que foi professor de Yona (03/10/2020)
Foram para o local da chacinagem o pai de Yona (+) os rezadores Carmelo Candia da paróquia e da comunidade, Antônio Tosube e sua esposa; o irmão e a irmã de Ezequiel (+), a viúva e o filho de Pablo (+); Kênedi, Melânia e seu esposo, João Camilo, que reza o rosário todos os dias para que pare toda violência contra os Chiquitanos. Em vários lugares do país a comunhão cósmica foi grande com esse momento de oração. Ressalto a oração pela arte de Lucilene França de Belo Horizonte, MG. [6]
José, pai de Yona, o guardião da cruz (03/10/2020)
O ato ritualizado de fazer a cruz e levar ao lugar do massacre é uma dedicação que direciona os corações dos Chiquitanos na direção certa. Ali rezaram para Jesus que também derramou seu sangue por nós, para que tenha piedade de toda a comunidade, pois agora já perceberam que a polícia está reagindo com mais violência e intimidação, uma vez que estão pedindo justiça de forma sistemática, algo inusitado nesses últimos anos, pois a lei é sofre calado. A naturalização das mortes das “mulas humanas” a que chegamos na fronteira é algo dramático. E o Gefron tem um histórico de não passar nenhum arranhão na sua imagem, algo que já é um sinal de uma opressão sem limites. E quem terá coragem de enfrentar o Golias?
Melânia disse que Deus tocou no seu coração para deixar água no pé da cruz para eles e ela deixou como uma bênção de Deus para que eles também peçam chuva, principalmente nessa secura. Nesse dia dos mártires Ambrósio e André, agora também lembrará os Chiquitanos. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) alerta para o aumento exponencial da violência contra povos indígenas e esses casos das mortes dos Chiquitanos preocupa o mundo inteiro, pois tem pessoas sofrendo em todo lugar Tem cruz plantada de Oiapoque ao Chuí, apesar de sermos todos irmãos, uma verdade óbvia que ganha relevância na Encíclica Fratelli Tutti do Papa Francisco.
Notas:
[1] No Acordo de Paris, aprovado em 1992 por 195 países que participaram da Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) para reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEE) em vista de um planeta sustentável, foi estabelecido o compromisso de manter o aumento da temperatura média global em menos de 2°C. acima dos níveis pré-industriais. Contudo, Cuiabá está pegando fogo.
[3] OPERAÇÃO HÓRUS/VIGIA-MT | GEFRON/SESP/SEOPI-MJSP/DEFRON/6°CR/PMMT/CÁCERES-MT | Fato: Tráfico ilícito de drogas / Associação para o tráfico / Porte ilegal de armas; Data: 27/09/2020; Horário: 00h20min; Local: Proximidades do Rio Jauru; Autor: 04 (quatro) pessoas; Antecedentes Criminais: 01 Suspeito com uma passagem por tráfico de drogas e uma por homicídio; 02 Suspeito com uma passagem por tráfico de drogas, com mandado de prisão em aberto e fuga de presídio; 03 Após ocorrência verificou-se que esse suspeito de nacionalidade boliviana era irmão de um suspeito que confrontou com equipe do GEFRON no dia 11/08/2020, onde quatro suspeitos de narcotrafico vieram a óbito, conforme bo n° 2020.188027. Histórico: Durante Operação Hórus/VIGIA, em força tarefa entre GEFRON, DEFRON e 6°CR/PMMT, com foco no combate ao tráfico de entorpecentes na região de fronteira entre Brasil e Bolívia, equipe policial realizava patrulhamento rural nas margens do Rio Jauru, em local conhecido por travessia de “mulas humanas”, onde a equipe abordou pessoas armadas carregando mochilas. Que no momento em que os policiais abordaram e verbalizaram se identificando como policiais os suspeitos começaram a desferir disparos contra os policiais. Os policiais revidaram a injusta agressão com disparos de arma de fogo no intuito de resguardar as suas vidas. Após cessar o confronto armado, os policiais fizeram varredura de segurança no local, onde encontraram 04 suspeitos caídos ao solo e alvejados, cada um portando arma curta e mochila. No interior das mochilas os policiais encontraram substâncias aparentando ser pasta base de cocaína e alimentos. Foi solicitado apoio policial no local. Os suspeitos foram encaminhados para o pronto socorro mais próximo, porém não resistiram aos ferimentos e vieram a óbito. Apreensão: 90kg Substância análoga a pasta base de cocaína; 3,2kg Cloridrato de cocaína; 5kg Ácido bórico; 01 Pistola calibre 9mm; 01 Pistola calibre .22; 02 Revólveres calibre .38. Prejuízo ao crime: R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais); B.O. N°: 2020.231526; Anexo: 01 (uma) foto e 01 (um) vídeo. Disque Denúncia 08006461402 GEFRON, há 18 anos os olhos da fronteira!!! Servir e Proteger. Fronteira!!!
Em 4 de outubro de 1501, uma expedição comandada por Américo Vespúcio chegou à foz do rio São Francisco, assim batizado pelos portugueses, que escolheram esse nome por ser o dia 4 de outubro, o dia do santo. Os povos indígenas o chamavam e chamam de Opará (rio-mar).
Rasgado por grandes empreendimentos, como usinas hidrelétricas e a Transposição, o rio sempre foi alvo da megalomania desenvolvimentista de inúmeros governos. A mais recente investida envolve a construção de uma usina nuclear no município de Itacuruba (PE).
O agronegócio também chegou às margens do rio aumentando a pressão já histórica contra as populações indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e de agricultores familiares, expulsando-as das terras e impedindo o acesso à água para consumo e irrigação de plantações.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Nordeste e o Movimento Negro Unificado produziram o vídeo abaixo em homenagem ao Velho Chico, ao Opará dos povos indígenas.