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Tag: politica

  • Siga lendo, Lula. Esteja livre.

    Siga lendo, Lula. Esteja livre.

    A mais nova modalidade de ataque contra Lula, protagonizada por pessoas analfabetas inclusive moralmente, é levantar dúvidas sobre a possibilidade de o ex-presidente ter lido 21 livros em 57 dias.

    Isso parte de pessoas que enxergam a leitura de livros como se fosse um daqueles campeonatos para ver quem come mais hambúrgueres em menor tempo, ou quem bebe latas de cerveja mais rápido, sem respirar.

    Só pode.

    Do hábito da leitura não se exige nada além da disposição para ler e certa concentração, mais nada.

    A leitura não requer nenhuma habilidade especial, nem tampouco talento.

    Da leitura se exige dedicação, se exige interesse pelo teor do livro que se tem às mãos.

    Em minha juventude, no final dos anos 80, época de vacas muito magras, o país atravessava um crise econômica gravíssima.

    Naquela época eu cheguei a morar numa garagem, onde havia apenas uma cama e uma torneira. Não havia energia elétrica, logo não havia televisão, rádio ou qualquer outro tipo de distração.

    Naquela época lembro-me de ter lido, à luz de velas, praticamente todos os livros de Jorge Amado e Monteiro Lobato, retirados por empréstimo da biblioteca do Centro Cultural do Jabaquara, em São Paulo,

    A leitura daqueles livros naquele instante, como uma espécie de bálsamo, atenuou a minha dor, tirou-me daquela situação degradante.

    A leitura, como uma espécie de máquina do tempo, me transportava para outros lugares, longe dali, onde era feliz enquanto aprendia sobre as belezas da Bahia, lendo São Jorge dos Ilhéus, ou me divertindo com as invencionices do Visconde de Sabugosa, enquanto lia “O Poço do Visconde”.

    A leitura daqueles livros me libertou.

    Num país onde o hábito da leitura não tem lugar de destaque, onde certos setores da sociedade, que hipocritamente fingem cultivar esse hábito, tentam “glamourizar “ o hábito de ler, numa tentativa cruel de excluir as pessoas mais humildes do universo maravilhoso composto pelos livros, cabe a cada um de nós defendermos Lula e o seu direito de ser quem ele é, do jeito que é, lendo o que quiser ler, dispondo do tempo que achar necessário dispor para isso.

    Numa sociedade em que muitos se informam através de postagens mentirosas nas redes sociais, através de artigos caluniosos, de vídeos violentos, de programas policialescos e matérias sensacionalistas veiculadas por jornais e revistas cujo único propósito é perpetuar a exclusão das pessoas mais humildes, relegando às tais apenas tarefas onde não precisam de predicados intelectuais adquiridos com a leitura, numa sociedade bárbara assim se faz mais do que necessária a defesa da honra e do legado do homem que, enquanto presidente, foi quem mais investiu em Educação nesse país.

    Siga lendo muitos livros, presidente Lula.

    A leitura não é uma competição, a leitura é prazer, a leitura é uma bandeira de liberdade.

    Os livros que o senhor está lendo representam a liberdade que, tenho certeza, o senhor voltará a desfrutar mais cedo do que tarde.

    Siga livre, Lula.
    Siga lendo.

  • NÃO É SÓ FUTEBOL

    NÃO É SÓ FUTEBOL

    O futebol, provavelmente a maior fonte de entretenimento do brasileiro, significa muito mais do que um jogo de “22 homens correndo atrás de uma bola”. O futebol salva vidas, gera esperança, resgata jovens sem nenhuma perspectiva de futuro e os transforma em estrelas: Em ídolos nacionais e mundiais.
    Entretanto, não podemos considerar o esporte favorito do brasileiro simplesmente como uma diversão para alguns e “trampolim” social para outros. É necessário analisá-lo como um reflexo da sociedade e assim, apontar seus problemas, interpretá-los e corrigi-los. Em tempos onde o jogo é tão usado para fazer referência ao momento político brasileiro, vale a análise dos últimos acontecimentos do esporte preferido dos brasileiros.

    RACISMO

    O ódio e a intolerância são dois sentimentos fixados não só na cultura brasileira, mas também em quase todo o mundo. Logo, ódio nas ruas, há ódio nos estádios; intolerância nas ruas, intolerâncias nas torcidas. Vejamos alguns exemplos:

    Caso Grafite, em 2005; caso Tinga e Aranha, em 2014 são apenas alguns dos famosos exemplos de atos racistas envolvendo jogadores brasileiros. Inclusive, todos eles apresentam a mesma trajetória: repercussão durante dias na grande mídia, esperança de punição aos agressores, repressão dos clubes envolvidos, e, no fim, liberdade ao criminoso. O então atleta do Cruzeiro Esporte Clube, Tinga, foi chamado de “macaco” por torcedores do Real Garcilaso, do Peru, em 2014. No mesmo ano, o goleiro que estava no Santos Futebol Clube, Aranha, foi ofendido pelo mesmo apelido por uma torcedora do Grêmio.

    Alguns dirão que o caso Grafite foi diferente. O atacante brasileiro, quando jogava no São Paulo, foi ofendido por ser negro pelo atleta da equipe do Quilmes, da Argentina, durante uma partida pela Copa Libertadores em 2005. Desábato, acusado de racismo, ficou preso durante duas noites, mas após pagar uma fiança de R$10 mil foi liberado pela polícia. (“Ahhh o dinheiro!”)

    Foto: Rafael Ribeiro/ CBF

    Anos depois, o atacante brasileiro chegou até a confessar que se arrependia de ter acusado o argentino, em razão da “espetacularização” do acontecimento sem o devido foco ao combate ao racismo.

    Outro caso semelhante foi o de Daniel Alves em uma partida pelo Campeonato Espanhol, em 2014. Após um torcedor do Villareal lançar uma banana em direção ao jogador, o então lateral do Barcelona pegou a fruta e a comeu. O gesto do brasileiro repercutiu em toda mídia brasileira e até virou campanha publicitária: “SomosTodosMacacos”. Na ocasião, a agência publicitária Loducca foi a responsável por criar o slogan que gerou alguns milhares de reais à empresa.
    Dias depois, o lateral da seleção brasileira questionou o rumo que a campanha tomou e se declarou contrário a ela.

     

     

     

    POLÍTICA

    O futebol brasileiro também costuma acompanhar a situação política do país e em algumas vezes, até mesmo segue algum movimento de resistência.
    Em 1980, em meio a ditadura militar, o sociólogo e então diretor de futebol do Sport Club Corinthians Paulista, Adilson Monteiro Alves, instaurou no clube de futebol uma gestão altamente democrática, na qual todos os funcionários do clube tinham o mesmo poder de voto, independentemente do cargo que ocupava. Além disso, o Corinthians estampava em seus uniformes frases de defesa ao movimento “Diretas Já” e contrárias a Ditadura instaurada no país naquela época. Esta Era no clube ficou conhecida como “Democracia Corinthiana”.

    Ainda sobre futebol e política no Brasil, é importante apontar mais dois exemplos: Em meados de 2013 – ano de grandes manifestações contra o aumento de passagens de ônibus em diversas cidades e protestos contra os desvios de dinheiro público -, foi criado o Bom Senso F.C., movimento organizado por jogadores de diversos times brasileiros que defendia melhorias nas condições do futebol local.

    Por fim, os escândalos de corrupção na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), estão diretamente envolvidos com os crimes investigados na Operação Lava Jato, acarretando a prisão de vários poderosos da entidade, como o ex-presidente da CBF, José Maria Marin.

    Portanto, é necessário que haja mais manifestações políticas dentro do futebol, tanto por parte dos clubes mas também principalmente pelos torcedores. Em pleno século 21, as arquibancadas brasileiras não podem mais ser palcos de cantos homofóbicos, xenofóbicos e racistas. É preciso denunciar e reprimir todo tipo de ação fascista, em qualquer ambiente que seja. Em tempos de ódio, a luta é a melhor resposta.

     

     

    *Editado por Agatha Azevedo

  • Celebração 56 anos da morte de João Pedro Teixeira

    Celebração 56 anos da morte de João Pedro Teixeira

     

    Segundo Genaro Ieno, no último sábado dia 07 de abril à tarde, no Memorial das Ligas e Lutas Camponesas da Paraíba, na comunidade Barra de Antas, Sapé, Paraíba. Celebração pelos mártires da luta pela terra, no 56 anos do assassinato de João Pedro Teixeira, o Cabra Marcado para Morrer. No enterro de João Pedro Teixeira, em 1962, Raimundo Asfora, deputado estadual na PB, falou: “Não estamos enterrando este homem. O estamos plantando. Assim foi.

     

     

     

    Elizabeth Teixeira, companheira de João Pedro, mulher em destaque na foto acima, está com 94 anos. Mulher marcada para viver.

    Hoje prenderam Lula. Haveremos de semeá-lo. Assim será.

  • #SouLULA

    #SouLULA

    #SouLula

    Por: Vinicius Souza – www.mediaquatro.com – Jornalistas Livres

    Nunca fui petista de carteirinha. Ainda assim, tenho votado majoritariamente em candidatos do PT desde a primeira eleição em que votei (e que pude cobrir ainda estudante de jornalismo) em 1989 (abaixo, comício na Praça Charles Miller com um Serra e um FHC que ainda sabiam de que lado se colocar na história).

    Lula, Serra e FHC em comício final da campanha petista de 1989. Foto: www.mediaquatro.com

    Em 2002 comemorei a vitória de Lula como a maior parte da população, apesar de não perdoar a expulsão da Luiza Erundina do partido. Lembro do meu pai chorando enquanto assistia o discurso de posse. De lá pra cá, fui lentamente me afastando do partido, frustrado com as políticas de alianças com a direita e a quebra de compromissos históricos como a auditoria da dívida e a democratização dos meios de comunicação, ao mesmo tempo em que via, trabalhando profissionalmente em 2006, os resultados de políticas como o Fome Zero. Apesar dos pontos altos, como a política de ampliação dos investimentos em educação que permitiram minha formação como professor, houve também pontos extremamente baixos nessa relação, como a desconsideração absoluta das Conferências da Comunicação em 2009 (nas quais também trabalhei) e a famosa foto do aperto de mão entre Haddad e Maluf patrocinada por Lula em 2012.

    Em 2014 não estava no Brasil pra votar na Dilma. Apesar de torcer por ela, o único candidato para quem pedi explicitamente votos aos parentes e amigos foi o Suplicy. Mas quando vi o palanque da vitória repleto de velhos canalhas com Lula meio que de escanteio, percebi que não ia dar boa coisa e não tive estômago para comemorar. O golpe tão injusto e misógino contra uma presidenta honesta, no entanto, me fez rever a posição que havia declarado publicamente de nunca mais votar no PT se uma ex-guerrilheira torturada durante a ditadura aprovasse uma lei antiterrorismo em um país onde não havia, ainda, terrorismo. Eu já havia coberto (e sofrido com bombas, gás e balas de borracha) manifestações de todos os lados entre 2012 e 2014, tinha visto o Pinheirinho, o Moinho, a Cracolândia e sabia o que significaria deixar solta a coleira da cadela do fascismo. Uma delas, em 15 de março de 2014, com seguranças skinheads, faixas de “nossa bandeira jamais será vermelha” e Comando de Caça aos Comunistas (ops, Corruptos) prenunciava o que viria um ano mais tarde, infelizmente com alegre e equivocada presença de muitos amigos vestindo a camisa da mais que corrupta CBF achando que lutavam contra a corrupção . Em 2015, de volta ao Brasil, me junto aos Jornalistas Livres para tentar oferecer ao público um lado diferente da manipuladora cobertura da grande mídia.

    manifestante com o logo do DOPS na camiseta ao lado dos racistas skinheads fazendo a “segurança” da Marcha com Deus e a Família de 2014 em São Paulo

    Acompanhando a cobertura ontem da prisão de Lula pelo Jornal Nacional e vendo hoje a capa do Estadão, tenho certeza de ter tomado a decisão correta. A foto do dia, se é que entendo alguma coisa disso, não é a escura e granulada imagem do Lula chegando a Curitiba, mas a colorida repleta de povo em São Bernardo do Campo tirada pelo muito jovem Francisco Proner Ramos (abaixo).

    Manifestantes carregam Lula nos braços depois de discurso no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. 07/04/2018. Foto: Francisco Proner Ramos

    Em 1989 tive de convencer minha saudosa avó Zilda que, se ganhasse, o Lula não iria botar outra família na casa dela. Em 2002 acreditei na promessa, afinal cumprida, de garantir três refeições por dia a todo brasileiro, mesmo sabendo que só isso não era o suficiente. Em 2018, assim como a velha militante Erundina, que voltou a apoiar o ex-presidente, e os jovens ativistas como o Guilherme Boulos (a quem já tive o prazer de fotografar e ouvir), também eu escolhi, novamente, um lado da história. E escolhi acreditar na nova promessa de Lula: a tão adiada democratização dos meios de comunicação. Assim como fui em 1989, 1994, 1998, 2002 e 2006, em 2018 novamente #SouLULA.Porque Lula somos muitos. Porque, se quisermos e lutarmos por isso, O Lula é muitos de nós. E NÓS somos a maioria do povo. E por isso para poucos é tão importante calar o homem Lula, da forma que for.

  • Como a execução de Marielle se encaixa na crise

    Artigo de Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História da UFBA, com ilustração de Genildo

    Um dos maiores desafios para quem tentar interpretar a realidade no calor das circunstâncias é a compreensão do processo.

    Analisar um evento aqui e outro acolá não é exercício dos mais difíceis. A dificuldade está em conectá-los, em perceber relações de causa e consequência, em entender o “princípio orientador do processo”.

    Por exemplo, não é necessário ser um grande estudioso da política brasileira para saber que a execução da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), em 14 de março de 2018, foi um crime político motivado pela militância da parlamentar em defesa dos direitos humanos e pelas suas denúncias contra a violência policial.

    Mas qual é o lugar do assassinato de Marielle Franco na crise institucional que desde 2013 desestabiliza o sistema político brasileiro?

    Essa é a pergunta que tento responder neste ensaio e, para isso, reconstruo parte da história da crise brasileira, com o objetivo de destacar aquele que, na minha interpretação, é o seu aspecto mais elementar, o seu princípio orientador: a ofensiva do neoliberalismo contra o Estado.

    A quem deve servir o Estado? À sociedade civil ou aos interesses de uma elite financeira que descobriu ser mais lucrativo especular na Bolsa de Valores do que investir na cadeia produtiva?

    O mercado financeiro é instável, perigoso. Do dia para noite fortunas são acumuladas e perdidas. Quem coloca muito dinheiro nessa roleta russa precisa de segurança, de garantia. É por isso que o capital especulativo quer o Estado com contas públicas equilibradas, atuando como fiador da especulação. O rentismo é conservador, não gosta de correr riscos.

    Está aí o núcleo duro da crise, de uma crise que não é apenas brasileira, que é mundial.

    Ainda que a crise seja mundial, não tenho dúvidas de que o Brasil é o seu principal palco de manifestação. Hoje, o Brasil é um laboratório para o experimento neoliberal 3.0. Em nenhuma parte do mundo, os ataques do capital especulativo ao Estado foram tão violentos e chegaram tão longe como aqui.

    É por isso que a presidenta Dilma foi golpeada.

    É por isso que Lula foi condenado e, provavelmente, será preso.

    É por isso que Marielle foi executada.

    O golpe parlamentar que destituiu a presidenta Dilma, o rito jurídico viciado que condenou Lula e a execução de Marielle são partes de um mesmo processo. Não é possível tratá-los como eventos isolados.

    Começamos pelo golpe parlamentar travestido de impeachment.

    Muitas críticas podem ser feitas à presidenta Dilma Rousseff. A desonestidade e o envolvimento com práticas de corrupção não estão entre elas. Mas de nada serviu a conduta pública ilibada da presidenta, pois desde 2011 Dilma estava apostando muito alto.

    Ou, na feliz formulação de André Singer: Dilma “cutucou onças com vara curta”.

    Dilma provocou o sistema financeiro, onça raivosa, na famosa “batalha dos spreads”, quando mandou os bancos públicos reduzirem os juros operacionais.

    Resultado?

    Os bancos privados, para não perderem mercado, tiveram que competir com os bancos públicos e em meados de 2013 a economia brasileira tinha a menor taxa de juros em anos.

    Em setembro de 2013, Dilma sancionou a lei que destinava 75% dos royalties do petróleo para a educação e 25% para a saúde. O texto determinava ainda que 50% do Fundo Social do Pré-Sal seria direcionado para educação.

    Com Dilma, o Estado brasileiro foi longe demais nas suas pretensões de tutelar o desenvolvimento nacional. Soma-se essa ousadia à insistência da presidenta em combater à corrupção da classe política e teremos a explicação para o golpe parlamentar de agosto de 2016.

    O motivo do impedimento foi falacioso, uma invenção, mas bem representativo dos interesses do neoliberalismo. Dilma foi criminalizada por fazer política econômica anticíclica, por preservar a função social e civilizatória do Estado em um momento de crise de acumulação.

    E Lula?

    Por que o golpe neoliberal o persegue tanto se ele foi bem mais tímido que Dilma no confronto aos interesses do neoliberalismo nacional e internacional? Não podemos esquecer que Henrique Meirelles, ministro da Fazenda do governo golpista e principal liderança do neoliberalismo brasileiro, foi presidente do Banco Central durante toda a “Era Lula”.

    A relativa aproximação de Lula com a agenda neoliberal pode ser interpretada de duas formas: como indício de “traição” ou como maturidade política.

    Ou Lula foi um traidor da classe trabalhadora ou foi uma liderança astuta o suficiente para perceber que melhor seria dar os anéis para preservar os dedos. Vale lembrar que Lula não foi golpeado, terminou dois mandatos e elegeu a sucessora.

    Que o leitor e a leitora tirem suas próprias conclusões.

    Mas, seja como for, se por estratégia de sobrevivência política ou se por traição à causa dos trabalhadores, fato mesmo é que nos últimos anos Lula se tornou símbolo de um dos valores fundacionais do imaginário político brasileiro: a definição do Estado como agente provedor de direitos sociais.

    É por isso que Lula é o principal alvo do golpe neoliberal, que com a adesão de parte do Judiciário brasileiro utiliza a narrativa do combate à corrupção como estratégia de perseguição política.

    Ao associar Lula à corrupção, a mídia hegemônica, fábrica de narrativas do golpe neoliberal, pretende vender a imagem de um Estado arcaico que é naturalmente corrupto e corruptor.

    Lula é representado como a personificação desse Estado.

    Se no imaginário popular Lula personifica o Estado provedor de Direitos, na narrativa elaborada pelo golpe neoliberal ele representa um Estado patrimonialista e corrupto.

    E a solução para o problema? Simples: prender Lula e desmontar o Estado, o que na prática significam dois objetivos de um mesmo projeto. Por isso, o golpe neoliberal não fecha sem a completa destruição política e simbólica de Lula.

    Já a execução de Marielle se deu num outro momento da cronologia da crise, quando o golpe neoliberal, nas vésperas das eleições (ao que tudo indica, teremos eleições), tenta ganhar alguma popularidade, visando sua legitimação eleitoral.

    A intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro é a última cartada do governo golpista visando a legitimação eleitoral do golpe neoliberal, que sendo uma conspiração palaciana, em nenhum momento teve a sanção popular, como mostram todas as pesquisas de opinião, segundo as quais a aprovação de Michel Temer é uma margem de erro, algo próximo a zero.

    A população brasileira, cujo imaginário político é atravessado pela ideia de que cabe ao Estado prover direitos, reprova as reformas neoliberais efetivada na marra pelo governo golpista.

    Por isso, a Reforma da Previdência não passou, nem sequer chegou perto disso. Os deputados não quiseram colocar suas assinaturas num projeto tão impopular nas vésperas de uma eleição. A resistência não ocorre apenas nas ruas, fazendo greve e fechando o trânsito. A resistência acontece também no plano do imaginário.

    Por outro lado, as mesmas pesquisas mostram que a “Segurança Pública” já é a principal preocupação dos brasileiros, dado que é mais do que relevante em ano de eleição. As pessoas estão assustadas, querendo respostas.

    Por isso, está acontecendo a tal intervenção federal no Rio de Janeiro. O governo golpista não quis ficar refém do fracasso da Reforma da Previdência, o que o tornaria um cadáver político apodrecendo em praça pública até janeiro de 2019, quando (espero) tomará posse o novo governo, um governo eleito.

    Mas o que o assassinato de Marielle tem a ver com isso?

    Tudo!

    A vereadora Marielle Franco seria a relatora de uma comissão parlamentar destinada a acompanhar os rumos da intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro.

    Como socióloga especialista no tema, Marielle era uma crítica da intervenção, pois sabia perfeitamente que militares na rua só servem para aumentar a violência, sempre mais violenta nas comunidades carentes, sempre mais violenta com pessoas pobres e pretas.

    Como liderança política de esquerda, Marielle sabia perfeitamente o que estava em jogo com a tal intervenção.

    Por isso, Marielle foi morta, com quatro tiros na cabeça, sem nenhuma tentativa de dissimulação.

    Marielle foi silenciada, pois seria uma voz poderosa na denúncia do golpe, na denúncia da estratégia do golpe em utilizar a intervenção no Rio de Janeiro como palanque político, visando transformar Michel Temer num candidato viável ou, no mínimo em um cabo eleitoral influente.

    A morte de Marielle está sendo politizada por todos os lados, como não poderia deixar ser. Afinal, foi uma morte política.

    O golpe neoliberal tem uma narrativa para a morte de Marielle, que está sendo difundida pelo seu porta-voz, pelo departamento de jornalismo da Rede Globo: Marielle seria mais uma vítima da violência urbana no Rio de Janeiro, o que justifica a intervenção, o que confirma a necessidade da intervenção. Essa narrativa violenta a trajetória pública de Marielle Franco. É uma segunda execução. O cinismo golpista não tem limites.

    O campo progressista também tem suas narrativas: Marielle era mulher, negra, lgbt, socialista, favelada e, por isso, foi assassinada, executada, simplesmente executada. É como se os assassinos estivessem dando um recado para os iguais de Marielle: “Fiquem nos seus lugares e calados!”.

    A narrativa progressista está incompleta, pois falta a conexão do evento ao processo, da morte da Marielle ao movimento do golpe neoliberal.

    A narrativa progressista falha quando polariza com o bolsonarismo, quando trata o bolsonarismo como o grande inimigo da democracia brasileira.

    Segundo uma pesquisa da FGV, apenas 8% das postagens que na internet comentaram a morte de Marielle tiveram conteúdo ofensivo. Jair Bolsonaro não tem a adesão de 50% da população brasileira. Acredito mesmo que quando as urnas forem abertas, ele não terá mais do que 15% dos votos, o que em si já é um problema civilizacional gravíssimo, mas tá longe de ser uma situação de polarização eleitoral.

    De todos os sentimentos humanos, o ódio é o mais barulhento e, por isso, tendemos a superestimá-lo.

    A polarização é outra: de um lado estão aqueles que defendem o protagonismo do Estado na gerência do desenvolvimento nacional. Do outro lado, estão as forças motoras do golpe neoliberal, estão “os do Mercado”.

    Também não se trata de uma polarização eleitoral, pois a agenda neoliberal é rejeitada pela população brasileira. Hoje, nenhum candidato que defenda explicitamente as reformas neoliberais seria eleito. Disso todos têm certeza, com a exceção de Rodrigo Maia, Henrique Meirelles e Michel Temer, que parecem viver em uma realidade paralela.

    A polarização tem a forma de um conflito, de um conflito violentíssimo, pois o neoliberalismo controla as forças policiais, controla a grande imprensa, controla os três poderes da república. O neoliberalismo golpeia, condena sem provas e mata.

    O impedimento ilegal de Dilma, a condenação de Lula e a execução de Marielle representam o golpe neoliberal em movimento. O golpe neoliberal não é um evento. É um processo.

     

  • Três anos de lutas! VIVA O POVO BRASILEIRO!

    Três anos de lutas! VIVA O POVO BRASILEIRO!

    Em março de 2015, o Brasil navegava em mares turbulentos… As ameaças da direita fascista rugiam em multidões de patos amarelos e monstruosos, desfilando sob os auspícios da mídia golpista. Foi então que construímos os Jornalistas Livres, como uma ferramenta de expressão para o povo que luta pela Democracia e por Direitos.

    Todos juntos e misturados. Outubro de 2017

    Muitos quilolitros de gás lacrimogêneo foram aspirados de lá para cá, muita corrida foi disputada com as bombas de efeito moral das PMs de todo o Brasil, muita conversa, muito amor, muitas lágrimas foram derramadas. E muitas gargalhadas.
    Sem vínculo algum com partidos políticos, sindicatos, governos, mantivemos nossa independência e apartidarismo. Mas sempre ao lado dos explorados e oprimidos.
    Os Jornalistas Livres completam hoje três anos de luta para oferecer à História um ponto de vista diferente daquele da mídia corporativa, enfeudada à herança escravagista do Brasil.

    Queremos agradecer a todos os companheiros de viagem, aos que em algum momento ajudaram na construção dessa mídia livre. Queremos agradecer aos nossos amigos e parceiros, a todos os que curtem, comentam e compartilham nossas publicações. E queremos louvar todos os lutadores sociais, estejam eles nas ocupações de sem-tetos, nas favelas, nas universidades, nas escolas, nos cárceres, nos modernos hospícios em que se internam à força os desajustados e os dependentes de álcool e drogas, nas aldeias e quilombos. Queremos louvar as mulheres, a comunidade LGBTTT, os indígenas, os negros, os pobres e oprimidos que fazem de sua própria sobrevivência um ato de luta e Resistência.

    Quando o país mergulha nas trevas, o sorriso dessas pessoas nos dá a certeza de que é preciso continuar a Luta e a Resistir contra o golpe de cada dia. Parabéns pra todos!

     

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