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Tag: Polícia Militar

  • Debate “As mulheres nas instituições de segurança e o seu atendimento”, veja como foi

    Debate “As mulheres nas instituições de segurança e o seu atendimento”, veja como foi

    Por Bárbara Louzada

     

    Na última terça feira, 5 de fevereiro, aconteceu, na sede do PSOL em São Paulo, um debate organizado pelo “Santa Cecília Sem Medo” com participação do Movimento Policiais Antifascismo, que contou com a presença de integrantes da Policia Civil e ex-integrantes da Policia Militar, sobre o tema “As mulheres nas instituições de segurança e o seu atendimento”. Como integrantes da mesa estavam Gisele, advogada e ex-policial militar, e Lola, policial civil. A roda se deu com grande participação do público, que contava com militantes, simpatizantes e outros policiais. Nas falas, uma policial civil preferiu não dizer o nome.

    A conversa se desenrolou em várias frentes, fazendo também uma análise da conjuntura atual, com temas levantados com inquietações dos ouvintes.

    Confira abaixo algumas falas dos principais temas debatidos:

    ENTRADA DE MULHERES NAS FORÇAS POLICIAS

    Gisele: “Por que que a mulher, a ideia do gênero feminino, é mal vista? Porque eles ainda vinculam a atividade policial, a uma coisa necessariamente violenta, agressiva e letal. E aí você tem dois erros: achar que a polícia tem que ter necessariamente esse viés e segundo achar que a mulher não é capaz de precisar ser firme, agressiva ou qualquer coisa. E você ainda coloca o homem dentro do problema do machismo, que é você falar que por ser homem você é obrigado a ser violento, truculento e não pode chorar também.”

    MACHISMO NA POLÍCIA

    Integrante da polícia civil: “Mulher não é chamada pra operação. Você só é considerada uma “puta polícia” se você matou alguém. Piadas constantes. Tem a história dos fetiches, dentro e fora.”

    Gisele: “Na PM, as mulheres precisam marchar de saia, tem padrão pra cor de esmalte, cor de batom, cor de cabelo… Existe uma norma de padrão a ser seguido.”

    Lola: “Tem piada, assédio, “brincadeirinha”. é difícil. A polícia civil é centenária, e em 113 anos nós estamos na segunda delegada geral adjunta. Ou seja, depois de mais de 100 anos, nós só tivemos duas mulheres no segundo cargo mais alto.”

    ASSÉDIO DENTRO DA POLÍCIA

    Lola: “Teoricamente é pôr no papel. Na prática,22 é só em situações muito graves. Porquê da mesma maneira que em qualquer lugar da sociedade, se eu disser que alguém pôs a mão no meu ombro de maneira inadequada, me segurou pela cintura, ou alguma coisa assim, vão dizer que foi só uma brincadeira e que eu sou exagerada. Não é diferente lá dentro.”

    Gisele: “Tem muito caso de mulher que já foi assedia por Coronel, por exemplo. É muito difícil. Só se ela tem uma relação muito boa com a chefia dela, ela consegue ser ‘protegida’ de alguma maneira. As vezes eles até recomendam não ir pro papel e desloca pra um outro lugar, pra tentar proteger… Porque até mesmo os homens, que se sentem mal, se revoltam com essa situação, sabem que é bem difícil ir pra frente. Só casos muito graves.”

    ATENDIMENTO OCORRÊNCIA DE MULHERES

    Gisele: “Chamamos na polícia de ‘ocorrência de desinteligência”, pode ser qualquer briga, brigada de vizinho, mas 80% são problemas de marido e mulher, e é o tipo de ocorrência que dificilmente policial quer pegar. Principalmente aquele policial matador, que quer pegar tráfico. Ele não quer pegar ‘problema de família’. Eles tem um estereótipo de que chegando na ocorrência, ou é tiroteio e eles não estão preparados, porque acontece de chamar ocorrência de desinteligência e chegar lá e ser tiroteio entre vizinhos, ou chega lá e eles reportam que levam horas no atendimento da ocorrência, leva pra delegacia, porem depois de duas semanas, a mulher voltou pro marido. Então, no meu ver, o que falta trabalhar com os policiais, é o porquê que aquela mulher de periferia volta pra casa? Será que ela tem opção de não voltar? Quantos filhos ela tem? Quantos lugares ela tem de possibilidade para ir? Às vezes, com medida cautelar e tudo contra o marido… Será que ela tem muita opção de estar em outro lugar?”

    DDM’s (Delegacia de Defesa da Mulher)

    Integrante da Policia Civil: “Os policiais não querem ir para as DDMs. Normalmente quem vai, é ‘chutado’ pra lá. Uma delegacia da mulher não é assim: ‘ah eu quero ir pra lá’. Não existe um banco de talentos na polícia. Então gente que de repente poderia estar fazendo um trabalho legal, está escondida num canto. E pra você conseguir ir pra um lugar que você tem facilidade, você tem que fazer politicagem, ficar pedindo permuta… E a nós, toda hora que troca os dirigentes, também troca também os nossos chefes. No meio do ano entrou o Marcio França, então trocaram todos os delegados gerais, ai eles trocaram os delegados diretores, os titulares, trocou todo mundo. Tem muito pouco dialogo pra você escolher onde você quer trabalhar. Você é colocado ali. Sobre o atendimento a vítima, quando chega na delegacia, não tem o menor cuidado e preparo pra lidar com as situações. Se você começa a fazer diferente, talvez você contamine os outros. Ou vire piada, ou um incomodo, que são mais comuns. Estamos com menos policiais, em todos os lugares. Não tem gente pra colocar em DDM’s 24 horas. Vão deslocar pessoas que não querem estar ali, sem preparo e vai ser um péssimo atendimento.”

    MANIFESTAÇÕES

    Gisele: “Quem faz as manifestações de rua é o CHOQUE. O CHOQUE é doutrinado pra ser assim. Precisa a consciência de que a polícia é usada muito como manobra política, como cão de guarda do Estado, e o policial precisa levantar a bandeira de que ele é trabalhador e sai dos mesmos estratos sociais de grande parte da população. E de que hoje em dia, 80% do trabalho da polícia militar, você não precisa de força bruta.”

    Lola: ‘Quando você está em confronto, você percebe o policial que tem pensamento diferente, porque ele vai cumprir a obrigação dele. Ele vai fazer a segurança, ele vai fazer a contenção. E ele não vai passar disso. Ele vai estar ali, vai cumprir a ordem do que ele tem que fazer, mas ele não vai extrapolar o que ele tem que fazer. E aí você percebe qual é o policial que pensa diferente. Na atitude.”

    Gisele: “Você tem ali as normas que punem os policiais por não estarem dentro dos parâmetros. Eu sinceramente não sei por que meios isso (falta de identificação dos policias) corre.”

    BOLSONARO E A SEGURANÇA PÚBLICA

    Lola: “Já me perguntaram se eu acho que o Bolsonaro vai resolver o problema de segurança pública. Eu digo que não, porque se não ele teria resolvido o problema no Rio de Janeiro, onde ele foi deputado por quase 30 anos. Me perguntam se o fato dele ser um militar não tem a ver, eu digo que não porque exército é uma coisa e segurança pública é outra. Então assim, não tem argumentos ao presidente que digam que ele vá melhorar a segurança, há não ser que ele componha alguma coisa no plano de governo dele. Que não teve até hoje. “

     

    As falas das palestrantes não representam um posicionamento oficial das organizações.

  • Marielle: símbolo internacional da luta por justiça social e pela democracia

    Marielle: símbolo internacional da luta por justiça social e pela democracia

     

    Em Lisboa, onde aconteceu o maior ato, lideranças políticas lembraram que esta execução é consequência do golpe de Estado em curso no Brasil, desde a derrocada da presidenta Dilma, enfatizando o fato de ter sido um crime político, relacionando sua morte à intervenção militar, além de lembrar do assassinato do estudante Edson Luiz, que completa 50 anos no dia 28 de março.

    A manifestação contou com a presença da Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Rosa Monteiro, além das deputadas do Partido Socialista, Isabel Moreira; do Bloco de Esquerda, Joana Mortágua; e do Partido Comunista Português, Rita Rato. Entre os organizadores estava o Coletivo Andorinha, formado por brasileiras e brasileiros residentes em Lisboa desde 2016, em defesa da democracia no Brasil.

    Acreditaram que calariam a mulher negra, de comunidade, lésbica, de esquerda. Acharam que amedrontariam a militância, com o aparato repressivo de Estado. Erraram: Marielle se tornou símbolo internacional da luta por justiça social e pela democracia.

    Fotos e vídeos, Bruno Falci; edição, Maíra Santafé; texto Bruno Falci e Maíra Santafé

     

  • Terror na Cracolândia

    Terror na Cracolândia

    Na tarde desta quinta (1), tivemos mais uma tarde de terror na região da Luz, em São Paulo.

    Desde às 14h, recebemos denúncias de violência contra os usuários de drogas que formam o chamado “fluxo”, conhecido popularmente em São Paulo como Cracolândia.

    As denúncias estão acompanhadas inclusive, de imagens que compartilhamos aqui.

    A rotina de violência vem sendo noticiada pelos Jornalistas Livres há mais de um ano, como por exemplo em https://jornalistaslivres.org/2018/01/inspetor-bomba-foi-promovido-por-doria-junior-e-volta-atacar-cracolandia/ e em https://jornalistaslivres.org/2017/08/moradores-da-cracolandia-sofrem-com-sitio-violento/.

    Mas para profissionais da Saúde, da Assistência Municipal do Município e voluntários que trabalham na região, a repressão vem subindo o tom violento, conforme obras da prefeitura e Porto Seguro evoluem no local.

    São duas quadras, que incluem as ruas Dino Bueno, Lgo Coração de Jesus, Barão de Piracicaba, Helvétia e Cleveland, onde é possível ver obras adiantadas de torres de prédios de moradia popular que devem ser inauguradas em breve com pompa e circunstância por Doria Jr., já em plena campanha eleitoral para o cargo de governador do Estado.

    Segundo o Padre Julio Lancelotti, da Pastoral da Rua, a repressão violenta deve seguir noite adentro, já que os serviços de Saúde e Assistência Social foram acionados pela prefeitura para funcionar diuturnamente. “Não importa para onde vão. A ordem é dispersar. Só não querem eles ali”, afirmou o Padre.

    Para ele, a repressão tem relação direta com a proximidade da inauguração dos prédios.

    Padre Julio contou ainda que durante o dia houve uma tentativa de negociação para que as pessoas se deslocassem voluntariamente para o final da rua Prates, onde funcionam outros equipamentos municipais, mas a proposta não foi aceita, pois a rua é sem saída, e os o dependentes tem medo de ficarem sem defesa no caso de um novo ataque das polícias.

    A Jornalista Livre Joana Brasileiro também esteve hoje na Cracolândia. Veja abaixo, seu relato da situação:

    “De um lado o desespero a pressão e o abandono. Do outro, a parte do mundo que tem direito a discutir e ter voz.

    Moradores e donos de comércio denunciam que comércios foram fechados, com truculência e repressão e sem intimação ou notificação que valha efetivamente como instrumento legal. Maria, moradora de uma pensão onde paga aluguel, quase foi despejada. Isso só não aconteceu porque ela, como mulher forte que é, reagiu à ação dos agentes da prefeitura, que alegavam que o imóvel onde ela mora era uma ocupação ilegal.

    Na porta de casa. Foto de Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com – 2014

    Além do aparato policial ostensivo e violento, a pressão sobre esta população é gigantesca e os deixa muito desorientados.

    Alice desabafa com os olhos marejados. “Eu fui pegar meu filho na escola e o GCM passou por mim e ameaçou pegar meu filho e levar para a assistência social. Outro dia um policial entrou na minha casa e agrediu meu marido. Eu moro aqui há oito anos, e ele vem e me diz: ‘Vocês é que moram no lugar errado’ “.

    O Fórum Aberto Mundaréu da Luz reúne diversas instituições e pessoas que atuam nas regiões da Luz e Campos Elíseos, formado como reação às ações autoritárias e violentas e com o intuito de orientar moradores do território e monitorar as ações do estado.

    Moradores e usuários no Fluxo da Cracolândia. Foto de Maria Eugênia Sá www.mediaquatro.com 2014

    Hoje foi mais um dia muito intenso, cheio de violência e violações dos direitos, tanto dos moradores estabelecidos há anos em casas, apartamentos, hotéis ou pensões, como dos chamados usuários da região da Cracolândia. Mas uma rede de pessoas da sociedade civil está procurando acionar a defensoria pública e a ouvidoria a cada sinal e denúncia de violências do estado e acionar instrumentos de possíveis ações, inclusive com a presença pontual de defensores e do auditor da polícia. A partir da presença desses representantes, os funcionários da prefeitura e mesmo os agentes da polícia passam a agir de forma menos desrespeitosa. No dia de hoje conseguiram evitar concretamente algumas ações de lacração e interdição.

    Algumas entidades preocupadas com o aumentos das ações nos próximos dias estão elaborando vigílias.

    Logo ali, na Rua do Triunfo, no Teatro da Companhia Turma do Faroeste, ocorria o debate “Drogas e Democracia: Desafios em tempos de polarização”, transmitido pela Plataforma Brasileira de Políticas de Drogas (compartilhamos parte do AO VIVO na nossa página do Facebook), que reuniu algumas personalidades entre elas Luciana Boiteux (PSOL) e Preto Zezé (CUFA e FFB).

    Falas bastante importantes sobre o que pode vir a ser a agenda da política de drogas, incluindo aí o combate ao encarceramento em massa. Debates assim são fundamentais, principalmente para os diálogos que devem existir neste período eleitoral. Mas que pareciam estar do outro lado da cidade, isoladas da realidade que passava ali na rua depois de mais um dia da rotina de bomba, porta da e violação de direitos.”

    Após o fechamento inicial dessa matéria, os colegas do @Na_luta pediram para incluir um último parágrafo:

    “São muito os mistérios que permeiam esse esforço do prefeito para aprovar os tais ajustes. Doria sempre afirmou que não era politico. Sim ele é, e dos mais perversos. Higienista e contraditório com os valores da cidade que sempre acolheu a todos. Hoje, com a gestão Doria, a municipalidade se esforça pela em excluir quem não está dentro da sua ‘Cidade Linda’. Aliás, para facilitar, devíamos ler o slogan como ‘Cidade Limpa’, pois o que o projeto pretende de fato é ‘limpar’ as ruas e praças de pobres, negros, moradores em situação de rua, periferia e todo aquele que lhe incomoda a vista do alto do seu quinto andar do prédio da prefeitura de São Paulo“.

    O Terror na sombra. Foto de Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com – 2014
  • Os 18 do presente e o 2018 do futuro

    Os 18 do presente e o 2018 do futuro

    Os 18 manifestantes, que flagram a teia que pune, cerca e tenta destruir os resistentes, denunciam um sistema repressivo que trabalha para inocular medo em todos. Tal sistema atribula as famílias, invade suas vidas e ameaça o futuro daqueles que resistem. O judiciário, como estamos cansados, exaustos de presenciar, cumpre papel central nesse sistema. Estratégias muito bem calculadas são aplicadas sobre pessoas comuns e vários laboratórios de perseguição são criados pelo país.

    As ótimas reportagens da PONTE e do Intercept Brasil, compartilhadas no PPD, relatam o ocorrido, na última sexta feira(22/09), na audiência sobre o caso dos 18 jovens presos com a participação direta de agente infiltrado do exército, Balta, e perseguição de helicóptero a um pequeno grupo de jovens, antes de uma das muitas manifestações FORA TEMER,

    evidenciando mais uma das operações burlescas da polícia militar paulista

    em articulação direta com as forças armadas.

    O episódio demonstra, uma vez mais, as estratégias de intimidação praticadas pelo sistema de segurança e justiça do Governo do Estado de São Paulo que se arrastam inexoravelmente para o cadafalso da falta total de credibilidade. Mas a articulação, sabemos, é nacional.

    O descalabro de nossas polícias não gera mais vergonha ou perplexidade, ela se consagra, a passos largos, apenas como o inimigo que as forças democráticas têm de enfrentar. Atrás das polícias, contudo, o sistema de justiça parece permanecer a reboque dos excessos que são cotidianamente praticados por soldados e oficiais.

    O papel do Ministério Público previsto pela constituição federal

    nunca foi tão urgente, inadiável e necessário

    para controlar o avanço do que representa a corrosão do próprio Ministério Público em suas funções de zelar pela democracia e controlar as forças violentas nas mãos do Estado.

    Se a experiência e a história das polícias brasileiras são de oposição aberta à democracia, caberia ao Ministério Público investigá-las e denunciá-las à Justiça para que, por sua vez, os juízes cumprissem o mesmo papel.

    Mas, como já afirmaram promotores públicos progressistas,

    o controle externo da polícia praticamente inexiste.

    Porém, se não puderem exercer o papel que lhes cumpre, no ponto onde vidas correm risco de serem extintas, famílias desfeitas e redes de sociabilidade esgarçadas ao ponto da ruína, então qual função e dignidade poderão reivindicar?

    Os operadores do direito se encontram no mesmo impasse de cada um dos cidadãos brasileiros. Ou atuarão a favor da democracia e da constituição ou contra elas. Contribuirão para soerguer a democracia brasileira aos pedaços ou, convenientemente, apenas se omitirão; serão cúmplices do ataque sistemático aos que reivindicam direitos civis elementares como o direito de ir e vir, emitir opinião e se manifestar publicamente ou investigarão rigorosamente aqueles que perpetram tais violações.

    Cabe decidir se agirão como no caso da condenação exemplar dos policiais envolvidos na chacina de Osasco, ou como os desembargadores que suspenderam a sentença dos envolvidos no Massacre do Carandiru. Não se trata mais, obviamente, de opção, mas sim da recusa ou aceitação de exercer com convicção o papel que lhes cabe diante da constituição vilipendiada.

    Se Raquel Dodge está falando seriamente em seu discurso de posse

    no Conselho Nacional do Ministério Público,

    quando conclama as procuradorias e MPs

    a atuar contra a escalada dos totalitarismos que invadiram o Brasil,

    sua tarefa não será pouca.

    Num país em que a violência contra manifestantes explodiu; em que policiais militares invadem armados e de forma truculenta e organizada as audiências para defender retrocessos no Plano Estadual de Educação em Direitos Humanos; em que o poder executivo se tornou um balcão de negócios sem qualquer pudor e está afogado no escárnio e na descrença; em que o Congresso se prepara para votar a redução da maioridade penal num dos países que mais tortura e mata jovens e adolescentes no mundo; em que o encarceramento em massa praticado sistematicamente como corolário de uma guerra aberta contra os pobres e miseráveis foi incapaz de mitigar minimamente a violência no país, não há como discordar de Raquel Dodge.

    Sim as PGs e os MPs têm muito a fazer. Farão? Terão força política para agir? Resta saber se não se aproxima o tempo de ficar tarde demais. Se não se aproxima o tempo em que as instituições do direito serão apenas uma figura institucional pusilânime, tardia e a serviço de governos ilegítimos, forças de segurança totalitárias e abusivas e grupos políticos interessados em afundar de vez uma democracia em estado de gênese. Pouco tempo resta para constatarmos isso.

    Sim, Raquel Dodge está certa.

    Forças totalitárias avançam a passos largos e se vencerem,

    os MPs e PGs não serão mais do que figura decorativa.

    Enquanto generais defenderem rasgar a constituição e aplicar o golpe e não forem exemplarmente punidos; deputados federais progredirem em suas aspirações à presidência defendendo publicamente a prática do estupro e da tortura; prefeitos e governadores atacarem populações indefesas de modo escancarado e brutal; partidos que articularam o golpe e grupos de extrema direita se prepararem para tomar dezenas de assentos no parlamento e, novamente, fazerem maioria na câmara; um jornalista praticante do jornalismo ético e democrático for acusado de macular a honra do “honroso” Eduardo Cunha, estaremos todos em risco, sem dúvida, mas os que deveriam zelar pela democracia e pela constituição estarão à beira do escárnio e da inutilidade.

    As frentes de esquerda se fragmentam. Saem das ruas e se concentram na eleição presidencial. Não apresentam uma estratégia única para a eleição de deputados, com uma pauta também única e progressista, e tem enormes dificuldades para projetar os próximos passos. Abandonam o FORA TEMER quando ele já foi adotado por boa parte da população, dos movimentos sociais e pela classe artística. Dão os primeiros passos para refazer alianças nos estados e se mostraram fracassadas.

    Isso indica ainda que o golpe devastador sofrido teve, contudo, um potencial interpretativo fraco, não alcançou os vícios e repetições seculares do Brasil oligárquico, violento e genocida e, mesmo as esquerdas começam a devolver a sociedade brasileira para o mesmo lugar, o mesmo modus operandi, as mesmas fragmentações e acordos que debilitam as forças democráticas e as confundem. Ante a possibilidade mais breve de retornar ou chegar ao poder ninguém cede uma agulha.

    Esse narcisismo cultivado pela saudade do poder em si mesmo embebeda muitos e cega a todos para um impossível 2018. Alguém de cara limpa realmente acredita que caso algum candidato com uma pauta clara de esquerda alcançar chances reais de chegar ao poder tudo transcorrerá na mais perfeita paz?

    É tempo de bola prá frente, rumo às eleições?

    Como uma sociedade pós golpe, com as forças golpistas ativas e fortalecidas como nunca, e no poder, aceitará o espetáculo das eleições livres e justas, caso a direita ou a extrema direita não seja a aposta certa?

    Estamos esquecendo dos 18, que representam hoje cada um dos brasileiros perseguidos, amedrontados, acusados e processados, para pensar só em 2018.

  • Alerta Rio

    Alerta Rio

    A favela da Rocinha, assim como tantas outras do Rio de Janeiro, hoje é a comunidade que mais sofre com a política do jeitinho, que durante anos fez o poder público conciliar com o tráfico para garantir a “tranquilidade” da Cidade Maravilhosa. O prazo de validade dos acordos venceu e o caos se instaurou. Pior que isso, está sendo usado por aqueles que defendem a militarização como solução para a crise de segurança.

    Chovem avaliações imediatistas e inconsequentes que, se consideradas, farão a violência aparentemente dar uma amenizada para piorar muito ali na frente. É um ciclo que nunca acaba, só piora. O agravante é que vivemos justamente um momento em que os saudosistas da ditadura como forma de restabelecer a dita ordem saíram do armário e bradam por mais armas, por mais intolerância e, consequentemente, por mais violência. Mas uma violência de classe, que oprime ainda mais quem é pobre, negro e morador de favela para garantir a “paz” para que os chamados “cidadãos de bem” desfrutem dos seus privilégios.

    Muita atenção ao que está acontecendo no Rio de Janeiro nesse instante! Muita mesmo!
    Daqui estão transbordando ações e reações que dizem respeito ao País todo. E que são perigosíssimas para a sociedade.
    E toda solidariedade à população da Rocinha e das demais favelas. Esse povo não pode pagar a conta da ação negligente e criminosa do Estado. O povo das favelas merece respeito, segurança e direitos.

    Bruno Monteiro é jornalista e ativista de Direitos Humanos

  • Estudantes da UFMG lançam campanha por uma Segurança Humanizada e contra a presença da PM no Campus

    Estudantes da UFMG lançam campanha por uma Segurança Humanizada e contra a presença da PM no Campus

    É possível evitar soluções prontas e modelos falidos de segurança pública no nosso país. Fugir da segurança militarizada racista, que trata a população como inimiga e que é uma das principais responsáveis pelo genocídio do povo negro no Brasil. Pode-se refletir, debater, propor e construir outro caminho para um modelo de segurança.

    Nesse espírito, foi lançada, no dia 12 de setembro, a Campanha Segurança Humanizada SIM, PM no Campus NÃO. O movimento surgiu por parte de estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte (MG), que buscam reforçar a necessidade de boa iluminação, de aumento da ocupação do espaço, de melhores treinamentos para a guarda universitária, bem como a realização de debates, seminários, rodas de conversa e mesas redondas sobre a segurança.

    Apostando em medidas que humanizem as relações de segurança na universidade, que encarem os problemas como sociais e complexos. Mesmo sabendo dos limites de uma possível segurança humanizada, é preciso apresentar ideias além do senso comum. Uma proposta alternativa à (não) solução que é a militarização ostensiva da universidade por parte da Polícia Militar. A campanha é ainda uma resposta à Reitoria da UFMG, que boicotou os Conselhos Universitários, não consultou a comunidade e autorizou o reforço do Policiamento Militar no Campus.

    A iniciativa partiu de estudantes da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG. Está buscando envolver mais setores da universidade: outras unidades, coletivos, grupos e movimentos que atuam dentro e fora da UFMG. Seu objetivo é levantar o debate de segurança de modo positivo e propositivo. Ser um ponto de confluência de possibilidades, de argumentos e das pessoas críticas à militarização e à violência ostensiva representada pela Polícia Militar.

    O Campus Pampulha passou por uma série de problemas de segurança.  Assaltos e furtos seguidos aconteceram em um curto espaço de dias. Essa situação provocou a proliferação de mensagens, posts nas redes sociais -Twitter por Exemplo – e nos chats de WhatsApp. A criação de grupos, o surgimento de rumores e  o sensacionalismo da violência alimentou um clima de terror e insegurança que logo tomou conta da universidade.

    Nesse sentido, a campanha começou e tende a crescer nos próximos dias. Está sendo articulada a produção de materiais gráficos, camisetas, adesivos, cartilhas e painéis que apresentem e levem o debate da campanha para o conjunto público da universidade.  Entidades, coletivos, movimentos, artistas, ativistas, militantes e apoiadores se somam à essa causa.

    Reforça-se nesse momento a necessidade de tratar a questão com a delicadeza precisa, discutindo antes soluções distintas às sempre impostas. Pensando que essas imposições pouco resolvem a segurança, mas, ao contrário disso, fomentam o ciclo vicioso da violência, considerando outros problemas profundos, como a desigualdade social.

     

    *Gabriel Lopo é coordenador-geral do D.A. da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG
    **Pamela Barbosa é  presidente do D.A. da Faculdade de Letras da UFMG