Jornalistas Livres

Tag: poesia

  • Conheça ClarinhaMar, jovem poeta PcD que fala de enfrentamento e persistência

    Conheça ClarinhaMar, jovem poeta PcD que fala de enfrentamento e persistência

    ClarinhaMar falava de enfrentamento, de vida, de persistência, de ponto e vírgula. Postei o vídeo no meu face e a repercussão foi enorme. Resolvi pesquisar até encontrá-la. E a encontrei no Instagram @ClarinhaMar. Essa é a entrevista dela, mulher, poetiza, universitária e palestrante que fala de muita coisa. Podemos encontrá-la também no Facebook Clara Marinho.

    Por Janete Chargista, especial para os Jornalistas Livres.

    E aqui uma canja da poesia que ClarinhaMar recita:

    “O Oceano do Mundo Concreto
    Nada sei dizer sobre grandes egos

    De grandes feitos meu corpo tem vão
    Não me atrevo a contar do que sou cego
    Nessa sombra feita clara ilusão
    Nunca entendi, mas sempre me calaram

    Minha sã poesia não diz de amor
    Deste, todas as bocas já falaram
    Crucifixo de corações, torpor
    E do oceano que sobrevivi

    Tão real que me dói imaginar
    Mundo, fel de ódio num doce servir
    Tua boca fala do vazio, teu ser

    E meu oceano se deixa afogar
    Na palavra que luta com o morrer.”

    Veja abaixo a entrevista exclusiva com ClarinhaMar

    Veja mais entrevista da Janete Chargista: Delegado Antifascista Fernando Alves

    Veja mais: Carta Denúncia, por Helena Zelic



    AJUDE OS JORNALISTAS LIVRES A CHEGAR MAIS LONGE Se inscreva no nosso canal e não deixe de ativar as notificações no sininho para não perder nada * Siga os Jornalistas Livres nas redes: Instagram: https://www.instagram.com/jornalistas… Facebook: https://www.facebook.com/jornalistasl… Twitter: https://twitter.com/J_LIVRES Site: www.jornalistaslivres.org

  • Poesia: Angústia da certeza

    Poesia: Angústia da certeza

    Esta poesia que dá luz a realidade da população em situação de rua, é de Fábio Rodrigues (@prazer.poeta) – poeta e morador do território da Cracolândia.

    Fábio decidiu viver de sua poesia, – poesia de rua, do fluxo. E agora, em tempos de pandemia, vê-se em quarentena a força criadora da poesia. Sem poder transitar e manguear, sua sobrevivência está em xeque.

    O poeta necessita do apoio de corações carinhosos para que possa continuar ajudando, escrevendo e sobrevivendo em meio ao caos.

    “Qual a saída para o poeta

    que prioritariamente se apoia no comunicar,

    se o momento pede distância –

    até pelo simples ato de falar.

    E o mais urgente premente,

    onde poder recluso ficar,

    se esse mesmo poeta,

    por sinal mambembe

    não dispõe do advento de um lar”

    Ajude Fábio na caminhada, por mais poesia e informação nas ruas.
    Qualquer quantia é válida!

    Conta:
    Pedro Bernardino Martine S
    Bradesco: 237
    Agência: 1236
    C/c: 4603-5
    CPF: 391.666.828/51

    Texto: @prazer.poeta
    Vídeo: @gustavoluizon, @_pedrosanti, @tarikelzein
    Áudio: @606gama606

    Fábio Rodrigues
    Fábio Rodrigues

  • ELISA LUCINDA: Cadê o futuro que estava aqui?

    ELISA LUCINDA: Cadê o futuro que estava aqui?

    Tudo cancelado. Era março e, de repente, o futuro não estava mais ali, a ação nas ruas exigindo saber quem mandou matar Marielle,  minha apresentação no teatro São Pedro em POA, o curso de literatura viva para professores que participarão da primeira Festa da Palavra em Itaúnas… tudo se pulverizou em materialidade imaginada só e sem o “quando”. Estávamos todos ansiosos indo para o futuro quando o mundo parou de ir. Se bem que eu andava reclamando de gastar tanto o meu verbo ir. A vida vai levando a gente num frenesi que, muitas vezes, não se tem tempo nem de desfazer as malas porque uma viagem se sobrepõe à outra. E o pior, isso era bom, isso era o “sucesso”.  

    Sem perceber, como escravos robotizados, entramos na doida corrida do ouro, porque dentro do sistema capitalista de altos lucros para os senhores, tudo nosso é muito caro. Então tem que se ganhar muito dinheiro pra se viver com a mínima dignidade: saúde, escola boa, comida, roupa, transporte. Tudo caro. Tudo escrotamente caro. E quem mais trabalha, menos ganha. A comida é cara. Uma passagem de avião, comprada na hora de viajar, despudoradamente te cobra mais porque sabe que você precisa, que é uma emergência. Aproveita-se o momento do desespero, é escancaradamente a taxa desespero! É isso que o capitalismo não quer que pare. Uma máquina de moer gente para transformar em dinheiro! É isso! Estávamos sendo moídos por dentro, lutando pesado para achar um canto para nossa necessária aula de Yoga, de música, um telefonema para os amigos. Congestionadíssimo, o tempo presente, ia sempre acumulado das tarefas de ontem, impossíveis de serem cumpridas num só dia, e as de hoje que, se não fosse a vida on line não pertenceriam ao tempo presente  simultaneamente. Esperávamos cartas por dias. Agora, elas chegam de toda parte do mundo dentro do mesmo “agora” em que apenas se esperavam cartas há vinte anos atrás. O agora não mudou de tamanho. É certo que pode ser imenso, mas é um agora apenas.

     

    O novo vazio: São Paulo confinada pela lente de Victor Moriyama
    O novo vazio: São Paulo confinada pela lente de Victor Moriyama

            A verdade é que desembarcamos dentro de nossas casas violentamente.

    Não tem mais aquela reunião física, aquele trabalho foi pra onde ninguém sabe, nem quando. Fora comprar comida, pra que comprar um vestido agora? Pra quê? Aonde vamos? Não vamos. Há uma hora em que o dinheiro vai acabar. O que faremos? É só uma questão de prazo. Isso me aflige e ao mesmo tempo me leva para o espaço da ignorância. Aquele em que fico quando ainda não sei o que eu vou fazer, que cena vou escrever, qual poema, que arco dramático terá esse romance ou essa  peça. É profícuo esse lugar. É vazio. Mas é nele que vai brotar o que houver. Estou perdida. Triste e estranhamente feliz. Tenho alguns compromissos virtuais, reuniões, aulas, mas, de cara, uma vida inteira voltou pra mim sem horas marcadas. Molho as plantas, cozinho, malho, amo, namoro meu amor, e as coisas estão todas animadas sabendo que voltei. No ateliê, recentemente organizado por uma especialista, a fofoca dos lápis, purpurinas, colas, tesouras e papéis de texturas e cores diversas é imensa. Também me aguardam roupas para tingir, revista da biblioteca, esculturas para colar, e muitos cadernos com seus manuscritos decifráveis e a serem digitados. O negócio é animado. Os livros, meu Deus, tantos livros se assanhando pra mim. Lerei todos? 

    Tudo se conecta e implora pela empatia, pelas correntes virtuais de solidariedade, pelo mundo desintoxicado de seu modo egoísta. Esse é o momento para a gente distribuir, olhar para aquilo que não usamos, compartilhar. Os dias de isolamento da humanidade precisam nos levar a uma nova sociedade. Estávamos isolados antes. Vivendo para derrotar o outro. 

    Creiam-me: o mundo muito torto conseguiu chegar aqui até com a fé sendo um produto de manipulação e de grana ao mesmo tempo. Ou seja, um mundo miserável, do ponto de vista espiritual. Amaldiçoado seja o templo que cobra prestação dos fiéis, e o pior,  que tem a má fé de os aglomerar em tempos de contágio onde o ser humano é o único e perigoso hospedeiro e transmissor da devastadora doença. E o presidente chamando o povo para a morte. Será que é ideia dele matar esses crentes? Já que ele sabe que não são todos atletas. Ou esse Deus tem preferências, é injusto, e só vai proteger do vírus os que pagarem o dízimo? Será que é por motivo comercial que os templos não podem parar? Se eu fosse evangélico, ia achar que o presidente está de má fé comigo. O Deus que faz tal distinção não pode ser chamado de Deus. Este é um tipo de cargo que não aceita injustos. Sem citar ainda os produtos vendidos nos templos e tudo isso é negociado, passa de mão em mão entre fiel e vendedor. A verdade é que a grana é que não pode parar. Muitos templos são negócios. Quem quer que não fiquemos isolados agora está apavorado em ficar sem dinheiro, perder o seu altíssimo lucro e fala-se em economia e como se essa pudesse existir sem a mão do trabalhador. Como se não fosse uma produção humana. Quem tem mais dinheiro está achando que tem mais direito à vida do que seu empregado doméstico que ele não liberou na quarentena. 

    Fiquemos em casa, reinventemos a vida. Há muito o dinheiro está em luta com o amor. Usando o seu nome em vão. Até bancos falam levianamente de amor e felicidade e lucram trilhões nos emprestando dinheiro a juros cruéis de dar inveja à mais alta agiotagem, fazendo refém a humanidade. Agora é hora de eles enfiarem as mãos nos próprios bolsos e tirarem as mãos dos nossos. É bom que a reparação tão logo aconteça. Urge.

    Enquanto isso sinto que a Natureza está gostando. As praias estão desertas. Ouvem-se mil vozes de pássaros em Copacabana. Espécies em extinção voltaram a dar as caras. Os céus estão mais azuis e estrelados em toda parte, de Pequim a Sampa, e o número de desastres automobilísticos nas estradas despencou geral. Golfinhos aparecem nas orlas, brincam. O planeta  respira, desocupamos seus poros. Parece que a Terra descansa de nós. Eu sinto, ela está farta de nós, da nossa presença tóxica, predatória, destruindo e pisando afoitos com a bota da pressa querendo fazer o tudo. Seguíamos vorazes, velozes e furiosos, em busca do pseudo próximo novo. De repente, aquele futuro imediato não será mais daqui a pouco. Vai demorar e será outro. Estamos sem quando. Esse importantíssimo advérbio de tempo que nos guiava como uma estrela na noite escura do inédito. Sabemos que a ciência deve ser ouvida, a arte compartilhada para nutrição geral e que o Estado, representante do povo que é, tem que segurar a estrutura e nos manter vivos até chegarmos à nova ordem. Que encontre esta grana. Que milionários usem os altos lucros agora para nos manter viáveis se quiserem ter gente viva consumindo quando o futuro voltar a ser possível.

    Abaixo os neoliberalistas, abaixo separatistas, abaixo a vida escrota e competitiva até o talo. Coisa tensa. Pois o jogo mudou. O mundo todo se tornou contaminador e contaminável. Neste momento constatamos que paz, igualdade e sobrevivência não são assuntos particulares. Renomados indígenas afirmam que o futuro é um delírio branco pois, no encalço cego deste futuro desprezamos passado e presente, que são simplesmente o seu chão. Estivemos todos muito tempo fora de casa. A mãe Terra nos  botou pra dentro. Que nos seja lição. O que do que fomos servirá para o novo mundo que surgirá depois da guerra? Já não somos mais os mesmos.

     

    Coluna Cercadinho de  palavras, Elisa Lucinda, outono inusitado, 2020

     

    LEIA OUTRAS COLUNAS DE ELISA LUCINDA:

    HTTPS://JORNALISTASLIVRES.ORG/ELISA-LUCINDA-PARA-QUE-REGINA-DUARTE-SE-VISTA-COM-AS-ROUPAS-E-AS-ARMAS-DE-MALU-MULHER/

     

    ELISA LUCINDA: AOS FILHOS DA LIBERDADE

    ELISA LUCINDA: A MÃO QUE BALANÇA O BERÇO

    ELISA LUCINDA – “SÓ DE SACANAGEM, VOU EXPLICAR: LULA É INOCENTE, LIMPO”

    ELISA LUCINDA: QUERO A HISTÓRIA DO MEU NOME

    ELISA LUCINDA: CERCADINHO DE PALAVRAS

    ELISA LUCINDA: QUERO MINHA POESIA

  • Poesia contra a barbárie na obra de Lorca e Neruda

    Poesia contra a barbárie na obra de Lorca e Neruda

     

    O que existe em comum entre Federico Garcia Lorca e Pablo Neruda além de estarem entre os poetas mais amados da língua hispânica? A luta contra o fascismo e a morte trágica: Lorca, uma das primeiras vítimas franquismo espanhol, executado por suas idéias e orientação sexual, e Neruda morto no hospital 11 dias depois do golpe contra Allende, no Chile, sob fortes suspeitas de ter sido assassinado com uma injeção letal. Muito dessas histórias, resultado de longa pesquisa do mestre em Filosofia e Letras Neolatinas, Roberto Ponciano, pode ser lido agora no Brasil com o lançamento do livro Neruda e Lorca, dois poetas rojos.

    Comunista e apaixonado por literatura, Ponciano, dono de uma alma ´roja´ latino-americana, destrincha as mútuas influências na arte, na coragem e na militância pelas causas populares de Lorca e Neruda. Já disponível na Editora Martins Fontes e nas livrarias Travessa, Saraiva, Cultura e na Amazon, pela internet por apenas R$ 39, Neruda e Lorca, dois poetas rojos faz o leitor mergulhar num mundo de reflexão e magia, mais do que necessárias, nos tempos sombrios de ascensão das ideias nazi-fascistas, da intolerância e da homofobia. Num tempo em que a arte e cultura, em quase todas as suas nuances, têm sido demonizadas.

    Para Ponciano, “urge ler, reler e debater a obra Lorca, expressão da um dos momentos mais gloriosos da literatura hispânica –a geração de 27– e de Neruda, Prêmio Nobel de Literatura em 1971. Esse novo livro  é o resultado, mais que oportuno, do meu mestrado em Letras Neolatinas, concluído em 2015, na UFRJ, quando me dediquei à pesquisa sobre a confluência entre os dois poetas”.

    Apesar de já estar disponível via internet, Ponciano vai realizar no dia 15 de março, quando acontece o SAMBA PELA DEMOCRACIA, no Baródromo (Lapa), o lançamento oficial de Neruda e Lorca, dois poetas rojos com toda a cultura, resistência e militância que a obra merece.

    Ponciano é ex-presidente do Sindicato dos Servidores da Justiça Federal, no Rio de Janeiro, além de professor, tradutor e filósofo. Outros livros do autor são: Feitiços-contos eróticos (2003), Notas Políticas (2008), Cosmópolis (2012), sobre a utopia comunista e Marxismo e Filosofia Contemporânea (2016).

    O livro está disponível em https://www.martinsfontespaulista.com.br/dois-poetas-rojos-neruda-e-lorca-635795.aspx/p

    E logo estará disponível na Saraiva, Cultura, Travessa e Amazon.

    Veja abaixo o convite para o evento oficial de lançamento:

    Samba pela Democracia!
    Venha festejar a democracia e dizer não ao avanço do fascismo!
    O evento é aberto a tod@s democratas antifascistas.
    Compartilhe, divulgue!
    Lançamento do livro Neruda e Lorca, dois poetas rojos, de Roberto Ponciano.
    Venda do livro e tarde de autógrafos.
    Shows de Dorina e conjunto Zambelê.
    Couvert artístico de 10 reais.
    A casa servirá uma feijoada (não incluída no couvert, paga à parte) e diversas outras opções.
    Quem comprou o livro na pré-venda, receberá, in loco, no dia. https://www.facebook.com/events/614657439298586/?notif_t=plan_user_joined&notif_id=1580074384314271

  • Outro tijolo na parede

    Outro tijolo na parede

    Em momento tão diverso das expectativas

    de minha geração,

    quando tantos seres saíram do armário depois

    e vingam,

    praguejam, cobiçam,

    implodem cultura, educação,

    o meio ambiente em suas relações;

     

    a flor paralisa, me pára.

     

    É flor?

    Das delicadezas sei que surpreendem a cada dia,

    individualmente, cada humano.

     

    Hoje 

    planta antiga desvalida, árida, sequestrou meu dia. 

    Em protesto, mostra seu anúncio, tão vivo, durante algumas horas:

    existo! Grita.

     

    O sol, no céu de hoje, tal uma Carmen Miranda,

    um sol na cabeça,

    o interior da flor. 

     

     

    Amanhã finda, não estará mais lá.

    O cacto deu flores, tão belas, amarelas, fortuna momentânea.

    Rebelião é seu nome.

    Nosso couro é espinho, nosso rumo é flor.

     

    Compartilho aqui seu pudor,

    que por não tê-lo, é impura

    desafia, resiste

    tal Manuel e seu barro,

    tal Pink Floyd.

  • Livro de poesias com críticas sociais é censurado em São José dos Campos

    Livro de poesias com críticas sociais é censurado em São José dos Campos

    Essa semana, o autor do livro de poesias “Beirage”, George Furlan, teve todas as ações promocionais de seu projeto aprovado e em execução, suspensas pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo – FCCR, após uma repercussão negativa de dois poemas inseridos no livro, “Segunda-Feira” e outro sem título, com críticas à Ditadura e a favor da liberdade de gênero. O movimento contrário à obra foi instigado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e demais movimentos conservadores da cidade de São José dos Campos, no interior de São Paulo.

    De acordo com George Furlan, autor da obra, o livro com 103 páginas e 70 poemas propõe uma análise crítica sobre os problemas sociais e estruturais atuais em nosso país. “Até o momento realizei cinco, dos seis lançamentos propostos no projeto. Um deles, que deveria ocorrer na Biblioteca Pública Hélio Pinto Ferreira, foi barrado pela coordenadora do espaço, mesmo sendo autorizado pela Biblioteca Pública Cassiano Ricardo. Essa foi a primeira censura”.

    “Acredito que o ‘Beirage’ incomoda porque parte da inquietação de quem é posto à beira do macrossistema econômico e social por motivos quaisquer e tem como fonte de poesia cenas recortadas do cotidiano, manchetes, reportagens televisivas, ou seja: a matéria prima são os acontecimentos. Se são os fatos a matéria prima, como se omitir diante polêmicas?”, questiona.

    Ainda segundo Furlan, no último dia 15, até mesmo uma entrevista concedida ao Portal Meon, foi alvo de censura e manipulações. “A matéria é sobre minha obra, mas fala sobre a concepção do Movimento Brasil Livre – MBL e do Partido Social Liberal – PSL. Censuram as palavras dos poemas. Não contextualizaram meu projeto e nem a obra. O fato é que meu livro é direcionado a maiores de 16 anos e as palavra utilizadas em poemas específicos estão de acordo com a classificação etária, sem hipocrisia. O livro não é, nem nunca será baseado em Olavo de Carvalho, como está sendo divulgado nas redes sociais por alguns agentes do poder público local. Os comentários hostis decorrentes da publicação são de pessoas que não conhecem minha obra”, diz.

    Segundo o autor, no dia 16, o jornal O Vale também realizou uma reportagem informando que o livro seria retirado das bibliotecas que o receberam gratuitamente como previa o edital público que apoiou sua publicação. “No dia seguinte, me deparei com outra manchete alegando que minha obra seria recolhida das bibliotecas públicas da cidade, como de fato foi”.

    Furlan ressalta que tendo em vista o cenário e a proporção que a censura vêm tomando, ele e diversos coletivos artísticos e culturais estão promovendo ações de resistência. “Estamos nos articulando por meio de um evento gerido pela Casa Coletiva Comuna Deusa (Coletivo LGBT) e outros Coletivos, para tratar desta e outras censuras a projetos culturais e mobilizando assim ações, para o dia 21 de maio, quando a pauta será abordada na Câmara dos Vereadores de São José dos Campos”.

    Furlan também enviou à deputada estadual de São José dos Campos, Letícia Aguiar (PSL), a seguinte mensagem: “Não há criação sem ideologia, não há arte sem ideologia, não há ensino sem ideologia, não há gente sem ideologia, nem matéria de jornal existe sem ideologia. Seu Presidente chama manifestantes de ‘imbecis úteis’ e eu que sofro a censura?”.

    O produtor cultural Murilo Magalhães, um dos organizadores da Casa Coletiva, ambém se manifestou explicando a problemática da censura sobre o poeta: “Existe um edital do Fundo Municipal de Cultura que se chama Primeira Obras, o qual garante a oportunidade para que novos escritores lancem seus livros. Furlan foi contemplado pelo edital. O Fundo Municipal de Cultura é um patrimônio da população de São José dos Campos e uma conquista histórica dos artistas do município, assim como também a Fundação Cultural Cassiano Ricardo. É muito difícil para alguém que esteja começando a ser escritor a publicar um livro. E, sendo a cultura um direito, é importante que o poder público contribua nesse sentido. Arte é expressão opinativa. Arte é expressão de algo. O livro é um conjunto de poemas sobre angústias e críticas sociais a partir da visão do autor. Há um poema de fato com um palavrão. Mas na maioria do livro há poemas com críticas sociais (sem palavrão) ao atual governo, à política, à violência policial, e outros temas sociais. Aqueles que criticam o livro não mencionam somente o palavrão mas também condenam a crítica ao atual presidente”, argumenta.

    “Não estão preocupados com a moralidade e os bons costumes, mas sim com uma produção artística crítica ao conservadorismo e o atual governo. Isso é censura!”

    “Existe uma série de livros em bibliotecas públicas com palavrões. Irão esvaziar ou fechar as bibliotecas? Poderíamos questionar o fato dos defensores do atual presidente utilizarem o dinheiro público para realizarem discursos de ódio e promoverem a violência. Porém, defendo a democracia. E na democracia as pessoas têm o direito à liberdade de expressão. Obviamente que deve haver restrições e classificação indicativa a alguns conteúdos. Hoje censuram esse livro. Amanhã, irão querer censurar uma peça de teatro que critique o atual governo. Depois, não poderemos mais ser artistas. Não podemos aceitar essa situação. A cultura é um direito”, finaliza Magalhães.

    O músico Bruno Mantovanni, um dos criadores dos manifestos culturais em São José dos Campos, como o “FestivATO #elenao”, aponta: “Era de se esperar atitudes assim no ambiente social em que vivemos. A censura é um reflexo do que vem acontecendo e do poder predominante no cenário político no país nos últimos anos. O caso do autor George Furlan é o ensejo de mais uma tentativa de desmonte, faz parte de uma estratégia que é contra o financiamento público ao setor cultural e contra a liberdade e o direito de se expressar. É uma sequência que já vem sido pautada diversas vezes pelos movimentos ultradireitistas que buscam destruir a mediação do Estado na política pública de cultura. A arte sempre colocou a sua poética e sensibilidade para refletir o momento contemporâneo. A arte produz um saber sobre a condição humana e expressa a visão de mundo do artista, um reflexo e expressão do seu tempo. O sentido da arte pode ser mais de um, porque o contato com a obra também permite que se crie por meio de suas interpretações. Por isso não há interpretação literal ou absoluta, existe sim um universo simbólico que permite abstrair novos ângulos dentro de um contexto histórico, social, cultural e artístico”.

    “A obra ‘Beirage’, cumpre o seu papel artístico, o de provocar perguntas ao invés de propor respostas, exercendo seu direito crítico”.

    Segundo a coordenadora da Rede Emancipa e Secretária Geral do PSOL em São José dos Campos, Tamires Arantes, o Fundo Municipal de Cultura é uma conquista democrática da classe artística joseense. “O motivo da sua existência é promover as diferentes expressões da cultura popular aqui em nossa região. Fica claro que a suposta questão moral a respeito do conteúdo do livro é, na verdade, uma cortina de fumaça para facilitar que um setor político imponha seus valores sem opiniões contrárias. É essa a essência da polêmica. Não me preocupa que critiquem o governo, me preocupa a liberdade de expressão ser usada para a promoção do racismo, da violência contra mulher, contra a educação e a cultura, em suas diversas formas de preconceito, como faz, sem vetos, Jair Bolsonaro”, ressalta.

    Já, em contato direto com Thomaz Henrique Barbosa, coordenador do MBL no Vale do Paraíba, o recolhimento da obra não é mais viável. “Eu li o livro, fiquei curioso. Ele é muito ruim. Tem que ler Bocage e Gregório de Matos. É Olavo de Carvalho da poesia. Só chama atenção falando palavrão. Muito fraco. Sou contra o recolhimento. Já pagou essa porcaria, agora não adianta”, finaliza.

    A reportagem tentou contato com a deputada estadual Letícia Aguiar (PSL), mas não obteve sucesso. Durante a 31ª Sessão Ordinária na Câmara de São José dos Campos, diferente das vereadoras Amélia Naomi (PT) e Dulce Rita (PSDB), vereadores como Dr. Elton (MDB), Ranata Paiva (PSD), Lino Bispo (PL), Sérgio Camargo (PSDB), Flávia Carvalho (PRB) e CYBORG (PV), criticaram a obra, informando sobre os requerimentos abertos junto à FCCR, para averiguar junto aos avaliadores dos projetos, a aprovação da obra, visando punir os responsáveis. Já a Fundação Cultural Cassiano Ricardo informou que por hora analisa as denúncias realizadas.

     

    Abaixo segue, na íntegra e sem censura, o poema “SEGUNDA FEIRA”:

     

    Abaixo a tirania

    pau no cu da monarquia

    pau no cu da autocracia

    pau no cu da meritocracia

    pau no cu da democracia representativa

    pau no cu do Bolsonaro

    pau no cu da bancada evangélica

    pau no cu da bancada agropecuária

    pau no cu da bancada da bala

    pau no cu dos militares

    pau no cu da milícia

    pau no cu da polícia

    e pau no cu da política que só nos fode