Jornalistas Livres

Tag: pandemia

  • Veja como participar das redes de solidariedade contra a covid-19

    Veja como participar das redes de solidariedade contra a covid-19

    Com Ariane Silva, especial para o blog MULHERIAS

    Que a periferia está sozinha na luta contra o coronavírus não é novidade. Quando o presidente Bolsonaro foi a  público contrariar as recomendações da Organização Mundial da Saúde e colocar-se contra o isolamento da população para defender a economia, deixou evidente que vidas pobres não importam. Ao bancos, o governo já concedeu R$ 68 bilhões. Para a população, foi aprovado ontem (26/03) o Projeto de Lei da Câmara dos Deputados que estabelece uma política de Renda Básica Emergencial. O projeto ainda vai passar pelo Senado e o texto em discussão estabelece o auxílio de R$ 600 mensais por pessoa adulta sem emprego formal e R$ 1.200 mensais para mães solo, por 3 meses de duração.

    Enquanto o assunto segue em trâmites políticos, a periferia age com urgência, como sempre, se virando, como pode, mais uma vez. A tecnologia do “nós por nós” está em plena atividade e o blog MULHERIAS  foi atrás de quem está nos corres das mais de 200 iniciativas em andamento pelo Brasil. É possível colaborar com trabalho voluntário, doações, divulgação e até plantões de whattapp para tirar dúvidas. Confira ainda um guia para orientar a criação de novas redes de solidariedade. O método pode ser implantado na sua rua, prédio, bairro, comunidade, escola… e por qualquer pessoa disposta a ajudar. A hora é essa. 

    De comitês políticos aos comitês de solidariedade

    A ideia de se organizar de maneira autônoma, sem depender de governos ou órgãos públicos, é antiga, e parte de um princípio chamado de “auto-organização” pelos movimentos sociais. A funcionária pública Marcela Menezes, de 29 anos, o colocou em prática assim que soube da história de uma manicure que ficou sem renda porque o salão onde trabalhava fechou. “Mãe solo com 3 crianças, ela já estava sem comprar alimento e eu precisava fazer alguma coisa”, conta.

    Na última semana, Marcela, então, foi conversar com lideranças da comunidade e conseguiu mapear casos de outras pessoas que, assim como a manicure, perderam a renda e já estavam em apuros. Aproveitou para reunir voluntários  para ajudar. Nas mídias sociais, soltou o apelo e o coletivo Balaio se organizou, assim, às pressas em um grupo do Whatsapp.

    Marcela Menezes, 29, mora em Justinópolis, região de Ribeirão das Neves. O município na região metropolitana de Belo Horizonte já tem 140 casos suspeitos da doença e o isolamento é fundamental. Como ainda não há apoio para trabalhadores autônomos, ela criou um grupo para doar alimentos aos que já precisam (Foto: acervo pessoal)

    “A gente começou numa segunda-feira com três pessoas e quatro dias depois já eram 15 voluntários. E tem mais gente chegando.” Fora do grupo de risco e com todos os cuidados, ela mesma foi comprar mantimentos com as primeiras doações e o grupo foi fazer a entrega a pé na favela, batendo na porta dos mapeados e deixando as doações ali, sem contato físico. A iniciativa é exemplo de que dá para começar rápido e com pouca gente e recursos e ainda dar conta de demandas urgentes que fazem a diferença.

    Quarentena sem água e comida

    Enquanto os órgãos de saúde orientam lavar as mãos várias vezes ao dia, em favelas e periferias há falta de água até das grandes capitais, com comunidades inteiras sofrendo com o desabastecimento. São peculiaridades que não passaram despercebidas do Fórum de Mulheres de Pernambuco, que criou coletivamente um manual de higienização contra o vírus para quem tem pouca água em casa e precisa economizar recursos. Entre as dicas, estão as que recomendam o uso de garrafas pet de 2 litros com água limpa à mão para retirada de sabão e banho em bacia e de cócoras para economizar água.

    “Nos organizamos online para falar demandas reais pois as orientações do Ministério da Saúde levam em consideração uma classe média que tem recurso para comprar álcool em gel e tem água todos os dias”, conta a advogada Elisa Aníbal, de 25 anos, militante do movimento. “Além disso, fizemos cards informativos sobre sintomas leves e prevenção da transmissão comunitária. Todos eles acompanham áudio com o texto para que as mulheres com dificuldades de leitura possam se informar.”

    Em Belo Horizonte, Recife, São Paulo ou Rio de Janeiro também foram voluntários que ouviram as necessidades da população de rua. Sem os serviços assistenciais de alimentação oferecidos pela prefeituras, como o Restaurante Popular e postos de atendimento, foi necessário organizar às pressas marmitas para atender os mais vulneráveis.

    “Como ainda não há um projeto de isolamento social para quem está em situação de rua, as pessoas estão aglomeradas de qualquer jeito e passando fome”, lamenta Claudenice Rodrigues Lopes, de 46 anos, assistente social da Pastoral de Rua, entidade ligada à Igreja Católica. A situação está grave. A orientação é ficar em casa, mas como fico se sei que pessoas seguem nas ruas nas condições mais precárias, sem lugar pra higiene e pra se alimentar?” questiona.

    Claudenice reforça que as pastorais de rua cobram dos governos municipais a responsabilidade por esse trabalho. Mas, enquanto isso, os grupos diariamente articulam contatos para matar a fome imediata. “É o mínimo. Porém, estamos repensando em como fazer, por que não dá para seguir com a gente se expondo e expondo as pessoas.”

    Em Belo Horizonte a população de rua passa fome e voluntários se arriscam para tentar remediar a omissão do Estado

    Dos sem terra para os sem teto: movimento distribui marmitas para população em situação de rua

    Em Recife, o ponto de apoio é o Armazém do Campo, loja de produtos orgânicos e naturais do MST (Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais Sem Terra). A região central da cidade, onde fica o Armazém, concentra muitas pessoas em situação de rua e os grupos de atendimento cessaram atividades. “Resolvemos abrir a cozinha industrial para fazer marmitex numa ação articulada com a arquidiocese de Olinda, equipes voluntárias de cozinhas de sindicatos e ONGs que já faziam esse trabalho”, conta.

    O trabalho é dividido em diferentes equipes. Uma busca doações, outra fica isolada na cozinha preparando os alimentos e a terceira, na rua, faz a distribuição usando equipamentos de proteção para prevenir a contaminação. Toda a organização é feita por aplicativos no telefone.  

    Apoio para mulheres em situação de prostituição de SP 

    Com a sede fechada e as responsáveis, idosas, em quarentena, a entidade Mulheres da Luz não conseguiu manter as atividades como ponto de apoio para as mulheres em situação de prostituição no centro de São Paulo, que ficaram sem ter onde buscar preservativos gratuitos, comer e procurar ajuda. O jeito foi organizar o apoio pela internet e colocar apoiadoras jovens para nas tarefas de rua como separar e distribuir doações.

    “As mulheres lá no maior perrengue, a gente não podendo ir lá…  Mas gente está conseguindo ajudar”, conta Cleone Santos, de 62 anos, uma das coordenadoras da entidade. Ela comemora doações mas conta que ainda precisa de apoio financeiro para atender, no mínimo, 50 mulheres. Só assim poderá evitar que elas se arrisquem recorrendo à prostituição durante o período de quarentena e consigam se manter. As assistidas pela ONG têm entre 40 e 70 anos de idade, o que coloca quase todas no grupo de risco do COVID-19.”Além de cesta básica, algumas precisam de gás, outras de remédio ou pagar pensão ou contribuir no aluguel de onde moram”, explica Cleone. “Alguém tem que olhar para esse grupo.”

    Cleone Santos é coordenadora da Mulheres da Luz, ONG paulista que dá assistência a mulheres em situação de prostituição e luta pelo fim da exploração sexual. “Em dias normais elas já não conseguem se sustentar com os programas de R$ 20 ou 30 a que se submetem. Com a pandemia, precisam ainda mais da nossa ajuda” (Foto: reprodução Facebook)

    Saem os panfletos e entra o carro de som
    Moradores da Pedreira Prado Lopes, favela de Belo Horizonte, estão diariamente se mobilizando para protegerem uns aos outros durante a pandemia. Nos próximos dias um carro de som vai circular com informações sobre o novo coronavírus para conscientizar a comunidade. “A Pedreira tá bem vazia, mas tem muita gente na rua ainda. As pessoas parece que não tão acreditando muito”, conta Valéria Borges Ferreira, de 50 anos, que emprestou a voz para alertar os vizinhos do perigo. Muitos, sob pressão de pastores, continuam frequentando cultos presenciais mesmo com a orientação de permanecer em casa.

    “As igrejas da comunidade tão todas abertas e o pastor faz um apelo muito covarde para os fiéis estarem ali, colocando a fé deles em cheque. E brigar contra um vírus, brigar contra o Bolsonaro é fácil, mas brigar contra Deus é impossível”, resigna-se. Para Valéria, pastores mal intencionados têm se aproveitado da falta de informação na comunidade para manter os fiéis na Igreja.

    A preocupação com a falta de renda também afeta a comunidade, com muitas trabalhadoras e trabalhadores sem saber como vão se manter sem auxílio. “O que tá pegando mesmo aqui na Pedreira é a preocupação daqueles que trabalham informal. A minha cunhada mesmo. Ela é faxineira e três patroas já dispensaram ela. Hoje ela me falou: ‘Valéria, eu tô sem saber que faço. Ou  morro de fome dentro de casa ou eu morro do coronavírus”, conta.

    Valéria mora na comunidade da Pedreira Prado Lopes, em Belo Horizonte. É dela a voz que vai circular em carros de som alertando sobre o coronavírus. O serviço foi contratado pelos próprios moradores que fazem parte do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), que organiza a Ocupação Pátria Livre, instalada na região. O áudio foi gravado por uma moradora da comunidade com ajuda de comunicadores populares da região. Abaixo, o cenário da comunidade. (Fotos: acervo pessoal)

    MAIS DE 200 INICITIAVAS PARA PARTICIPAR, FORTALECER E AJUDAR. ENCONTRA SUA E COLABORE!

    Veja como entrar em contato com quem já está fazendo campanhas nas periferias 

    Planilhas colaborativas ponteAponte – Mais de 80 ações periféricas de mapeamento, arrecadação e campanhas solidárias estão reunidas nas planilhas abertas que estão sendo consolidadas diariamente pela empresa de avaliação de projetos sociais ponteAponte, que tem como objetivo promover encontros e conexões transformadores. O documento, muito simples em uma planilha de Google, é feito de maneira colaborativa e traz contatos de responsáveis pelas iniciativas, endereços e abrangência das atividades. “Decidimos organizá-la ao notarmos que havia muitas iniciativas incríveis surgindo espontânea e velozmente (felizmente!) e que o próximo passo seria ter uma visão macro para realizarmos ações mais integradas e coordenadas, com impacto coletivo”, avisa a entidade. Qualquer pessoa inserir comentários ou enviar sugestões de alterações, correções ou inclusões para leticia@ponteaponte.com.br e leticiacardoso@ponteaponte.com.br. Porém, importante ressaltar, não se trata de uma lista de recomendações e cabe a cada usuário entrar nos devidos links e realizar suas análises dentro de interesses próprios.

    Grupo autônomo contra o coronavírus de Ribeirão das Neves – Atua na região de Justinópolis,e está recebendo doações no Centro Cultural Di Quebrada, na Rua Cenira Gurgel de Carvalho, 137, perto da Escola João de Deus Gomes. Para doações em dinheiro, entre em contato nos números (31) 99999-6536 ou (31) 3638-1697.

    Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte – A entidade busca doações na quadra do Colégio Santo Antônio, Rua Santa Rita Durão, 1033. Também precisam de voluntários. Informações pelos telefones (31) 98374-5587 ou (31) 99402-6451. As doações serão encaminhadas para a população em situação de rua da cidade.

    Mulheres da Luz – A ONG paulista que atende mulheres em situação de prostituição recebe doações de produtos alimentícios (como cestas básicas) e de higiene (sabão, sabonete, pasta de dente e álcool líquido ou em gel) na Companhia de Teatro Pessoal do Faroeste, na Rua do Triunfo 301 e 302, e na Rua General Osório, 23. Para doações financeiras, o contato é (11)9824-99713.

    Marmita Solidária de Recife (PE) – As marmitas servidas no Armazém do Campo para a população de rua de Recife contam com doações para acontecer. O endereço é Av. Martins de Barros, 387. Contato: (81) 99855-3121.

    Quarentena Solidária – As comunidades Pedreira Prado Lopes e Vila Senhor dos Pastos, na região Noroeste de Belo Horizonte, solicitam doação de sabonetes, toalhas de papel, produtos de limpeza e alimentos não perecíveis, e também recebem doações de dinheiro. Para doar, mande mensagem para (31) 99591-3234 (Carol) ou (31) 99901-7623.

    UniãoSP contra o coronavírus – Grupo diverso formado por diferentes entidades que já desenvolvem trabalhos com as periferias de São Paulo, entre elas estão Agora!, Comunitas, Cufa, Educafro, GK Ventures, Instituto Locomotiva, Movimento Bem Maior, Península, Periferia Sem Corona, Pinheiro Neto Advogados, Rede Mulher Empreendedora, RenovaBR, Grupo Tellus e Vella Pugliese. No site https://www.uniaosp.org/ é possível fazer doações de cestas básicas e entrar em contato com o grupo que já arrecadou mais de 55 mil cestas e mais de R$ 3 milhões.

    ÉDITODOS – Nascida em 2017, a aliança de organizações reúne vários atores do ecossistema de empreendedorismo negro no Brasil que já atuam coletivamente afim de apoiar as experiências de empreendedores e empresas que souberam transformar sua cultura em inovação para produtos e serviços voltados para o consumo da população negra e não negra. Atualmente, a coalisão é formada pelas organizações: Afrobusiness, Agência Solano Trindade e Pretahub (São Paulo); Fa.vela (BH) e Vale do Dendê (Salvador). A meta atual é impactar 250 mil pessoas, atender a 130 projetos, fomentar mais de 500 novos empreendimentos em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belem, Maranhão, Minas Gerais e Bahia. Para isso, precisam arrecadar um fundo emergencial de R$ 1 milhão que serão destinados 500 empreendedores e R$ 300 mil para retomada econômica de pequenos negócios por 5 meses.

    GUIA DO VOLUNTÁRIO – Como montar um grupo de solidariedade na sua rua, prédio ou comunidade

    1 Faça o mapeamento das necessidades:
    _É preciso cuidar especialmente das pessoas idosas e das que têm problemas de saúde e estão em grupos de risco. Na atual conjuntura, são comuns os grupos de vizinhos que estão se organizando com listas de compras para evitar que idosos saiam de casa. Cada voluntário pode fazer a compra para vários vizinhos. O aplicativo Amigo Vizinho ajuda a colocar em contato quem quer ajudar e quem precisa de auxílio.

    _A saúde mental das pessoas também merece cuidados: organizar grupos para as pessoas se manterem próximas mesmo à distância e propor atividades coletivas a partir de casa também é uma boa. Por todo o país, diferentes clubes do livro estão funcionando pelo facebook.

    _No caso de distribuição de alimentos, é possível organizar um grupo para recolher doações, outro para comprar os donativos e ainda um terceiro para distribuí-los. Quando a comida é distribuída para pessoas em situação de rua, existe ainda a equipe da cozinha. 

    _O foco de atuação também ser voltado para tirar dúvidas via Whatsapp. É uma maneira de combater o pânico e as fake news, desde que feita com extrema responsabilidade, amparando-se em fontes fidedignas de informação como reconhecidos portais de comunicação, a Agência Nacional de Segurança Sanitária, Anvisa, o Ministério da Saúde ou secretarias de saúde de estados e municípios.

    _Grupos para pressionar o poder público podem cobrar de prefeituras e governos a assistência adequada para suas comunidades. 

    2 Chame mais gente
    _Seja qual for a frente de atuação ou necessidade a ser atendida, fica mais fácil e seguro atuar coletivamente e em rede.

    _Poucas pessoas podem fazer muita diferença: você pode fazer um grupo com a sua família, pessoas que moram no mesmo prédio ou quarteirão. A ideia é também dividir as funções por encarregados ou equipes, de forma que possam ajudar sem ter contato físico entre si.

    _Sabendo com quantas pessoas contar, é possível criar metas de atendimento do tipo de ajuda oferecida. 

    _Caso o grupo esteja coletando cestas básicas, busque locais de armazenamento e montagem dos kits ou entre em contato com outros grupos que estejam fazendo o mesmo tipo de ação.

    3 Cuidem-se
    _Para você e outros voluntários ajudarem precisarão se cuidar. Saibam em detalhes como se proteger para diminuir riscos de contágio ao ir fazer compras ou distruibuição de donativos. Busque informações de fontes seguras como a Agência Nacional de Segurança Sanitária, Anvisa, o Ministério da Saúde ou as secretarias de saúde de estados e municípios. O grupo de solidariedade de Ribeirão das Neves, na região metropolitana de BH, criou o “Protocolo Diquebrada de solidariedade contra o corona” para voluntários:

    • Use luvas + álcool líquido + máscara de proteção para trabalhar com as doações e higienizar TUDO
    • Não tenha contato direto com as pessoas doadoras. Crie um local para deixem os produtos, que serão recolhidos e higienizados posteriormente para distribuição
    • A distribuição deve ser feita com máscara + luva de proteção na porta das casas das famílias
    • Alimentos e produtos serão distribuídos em sacolas próprias

    São ações simples que fazem toda a diferença. É importante ir ajustando o protocolo conforme as necessidades do grupo, as tarefas que realizam e as áreas em que atuam. O grupo de Neves mudou o protocolo após ler a recomendação de que máscara é só para quem está contaminado ou trabalha com saúde, pois estão em falta. Para alguns grupos, por exemplo, o álcool em gel vai ser fundamental, pois vão atuar em locais onde não há água para lavar as mãos. 

    4 Tenha um plano
    _
    O planejamento de um grupo de solidariedade pode ser simples, com uma listinha de tarefas dividida por poucas pessoas, ou mais complexa com maior organização e detalhes para o grupo dê conta do recado.

    _Esse é o momento de dividir quem faz o quê, qual o prazo para ser feito, onde vão ser recebidas e mantidas as doações e tudo mais que precisar ser definido para fazer acontecer.

    _O grupo Periferia Sem Corona no Facebook tem várias iniciativas diferentes que estão trabalhando conjuntamente para alcançar mais pessoas e resultados. Por ali, também é possível conhecer e copiar boas práticas que estão surgindo em todo o país. Troque figurinhas, peça conselhos, busque os mais experientes. Todos querem ajudar.

    5 Divulgue a campanha
    Sua mensagem precisa chegar em quem pode  ajudar. Crie uma imagem de divulgação para dar visibilidade e circular bem nos grupos de Whatsapp e outras mídias sociais. Descreva nas redes a região em que o grupo atua, o que ele faz e como recebe as doações.

    6 Em ação!
    Com tudo preparado, chegou a hora de dar início à atividade. Alguns grupos planejam mais, outros reúnem as pessoas mais próximas bem rápido, já se organizam e começam a atuar no dia seguinte. É hora de agir rápido, então se precisar comece pequeno e vá somando mais gente e mais recursos no caminho. 

    7 Avalie e replanejar sempre
    Com tudo mudando tão rápido, inclusive as orientações do que fazer e o que evitar, é importante prestar atenção nas necessidades da comunidade atendida. Faça avaliações coletivas  para garantir que os protocolos são eficazes e a ajuda está chegando em quem precisa.

  • Guerra pela vida na Itália: “Para resistir, temos que acreditar que coronavírus há de passar”

    Guerra pela vida na Itália: “Para resistir, temos que acreditar que coronavírus há de passar”

    Por Raquel Moysés*, do isolamento em Matera, na Itália

    *Jornalista, professora e servidora aposentada da UFSC/ Instituto de Estudos Latino Americanos

    É como se toda a população de uma cidade como Garopaba, em Santa Catarina, tivesse morrido: de um “resfriadinho”!

    Dividida entre a dor pelo Brasil e pela Itália, repórter escreve diário da luta contra o vírus indignada com a irresponsabilidade do governo brasileiro. Foto: Arquivo pessoal

    Meu coração está em lágrimas…
    Dividido entre os meus dois mundos de afetos íntimos, separados pelo oceano e agora unidos pela pandemia do coronavírus.
    Assisti, paralisada, o desvelamento das imagens dos caminhões do exército italiano levando, de Bergamo, os corpos solitários daqueles que deixaram seus queridos, sem direito a um beijo, um abraço, um olhar, um aperto de mão.

    A cidade da Lombardia mais dilacerada pelo coronavírus nas últimas semanas não pode mais dar um lugar de descanso aos seus “paesani” (aldeões) e eles precisam ser sepultados ou cremados fora de casa, em outras cidadezinhas do território de Bergamasco.

    Até a última viagem eles fizeram isolados, exatamente como haviam vivido seus últimos dias na UTI de um hospital. São anônimos nas notícias, apenas citados como cifras que aumentam todo dia e não contam a história de alguém que era sujeito de uma vida até ter tido a desventura de um encontro imprevisto com um mal invisível.

    A doença contagiosa impede a presença, nas áreas de isolamento, de sacerdotes para oferecer conforto espiritual aos doentes e para dar a extrema-unção aos que se vão. Afinal, os sacerdotes também são vítimas da pandemia.

    A igreja católica ainda não tem a dimensão exata da ferida no seu corpo religioso, mas já se sabe que há mais de 50 vítimas entre os padres, 20 apenas na diocese de Bergamo

    O próprio Papa Francisco e os bispos a pediram a médicos e enfermeiros que ofereçam consolação aos doentes. E muitos deles, na hora mais difícil, abençoam o paciente com um sinal da cruz na testa e rezam junto com ele, quando é possível.

    Itália enfrenta crise humanitária histórica,: corpos levados para as Igrejas devido à super lotação dos cemitérios. Foto: Pleno.News

    Hoje os italianos são os mais afetados pela pandemia depois dos chineses e isso me parece um pesadelo. O preço mais alto até agora paga a Lombardia, onde se concentra mais de 45 % dos infectados e o número maior de vidas perdidas.

    É também na Lombardia, na sua cidade mais ferida, Bergamo, que está hoje o maior número de jovens na faixa dos 30 anos internados com pneumonia intersticial, num total de 1800. Isso comprova mais uma vez como o novo coronavírus pode contagiar e adoecer qualquer um de nós.

    Nesses dias sombrios, a Espanha também faz o seu caminho dramático, pois é o segundo país europeu mais atingido. Nesta quarta-feira, 25 de março, já são quase 48 mil infectados, com um aumento de 8 mil casos em 24 horas e mais de 3.400 mortos que não encontram lugar onde descansar, pois o sistema como um todo já está em colapso. Faltam inclusive caixões.

    O vírus faz mais de uma vítima a cada 15 minutos em Madrid, disse, alarmado, o prefeito da capital espanhola, em uma entrevista na Radio Televisione Italiana, a Rai.

    Mas a realidade já superou as suas palavras.

    Esse mundo de números que escondem vidas entra pela minha porta trancada aumentando a minha agitação interior. Assombrada por esses fantasmas, me perco entre os afazeres, não concluo nada por inteiro. Está sendo difícil para mim contar à minha família, a amigas e amigos, à gente que pulsa de vida no meu Brasil, os sentimentos que experimento nestes dias em que quase toda a nação italiana está em quarentena, enquanto um pingo de gente continua a trabalhar.

    A trabalhar, para cuidar de nós, para tentar nos curar, para tomar decisões difíceis sobre o destino do país, para nos dar de comer, para nos prover de medicamentos, para fabricar respiradores, máscaras…

    São pessoas comuns, não heróis quase por milagre, como muitos agora parecem enxergar esses trabalhadores.

    Não são heróis os que trabalham por todos, expondo seus corpos fora de casa enquanto, para o bem de todos, nos refugiamos em nossos lares.

    São apenas pessoas como nós, cheias de falhas. Humanas, tão humanas em sua fragilidade.

    Soa triste, quase cruel, elevar trabalhadores à categoria de heróis em momentos de dor ou durante eventos catastróficos.

    Todos os dias seria preciso que enxergássemos os anônimos que fazem seu trabalho em silêncio. Fazem o bem sem fazer barulho, sem levantar a voz…

    É um ato bem simples, miudinho, invisível, escondido no simples gesto de nos preparar na lanchonete um café, uma média, um pão com manteiga…

    É apenas o movimento de nos servir um prato de comida nos restaurantes populares, de nos dar gotas de remédio para aliviar uma dor forte.

    Muitos deles fazem isso com um sorriso, talvez depois de passar uma noite sem dormir, cuidando de uma criança com febre ou vigiando um doente de Alzheimer.

    Geralmente recebem uma miséria no fim do mês. Trabalham sem saber se vão continuar a ter o emprego amanhã e uma aposentadoria no futuro, ou se na velhice vão precisar juntar moedas para comprar o pão ou fazer bicos para pagar a conta da água, da luz, comprar remédios.

    Apesar do desconforto que me invade, insisto em escrever, na tentativa de compartilhar algumas das minhas impressões e para registrar esse momento de sombras, em que a “paúra”, o medo, se mescla com a nossa esperança ameaçada.

    Durante este primeiro mês em que a emergência explodiu na Itália (tudo começou em 21 de fevereiro), a esperança, ainda que medrosa, teima em sair do esconderijo e observar o mundo das sacadas, das varandas, do teto de um prédio onde um padre reza a missa, nos concertos on line (cada músico ou cantor tocando ou cantando na própria casa), nos aperitivos e conferências de família compartilhados pela Web.

     

    Mas há quem critique as manifestações ecoadas desde terraços e janelas. Os críticos, inclusive o grande compositor de trilhas sonoras para o cinema Ennio Morricone, dizem que cantar, bater palmas, tocar, nessa hora de dor, é um desrespeito com os mortos e seus familiares aflitos pela perda.

    Parece difícil para os críticos entender que nessa hora incerta ressurge o nosso grito ancestral, que escapa da prisão da dor, elevando vozes e tocando instrumentos para celebrar as vidas dos que amamos.

    Sábado, 21 de março, noite silenciosa, estava tentando me distrair vendo um filme quando a cena foi interrompida por um novo pronunciamento do Primeiro Ministro Giuseppe Conte, que anunciou a “serrata” (fechamento) quase total da Itália, até 3 de abril.

    Agora fecham, em todas as regiões do país, inclusive fábricas, indústrias e todo tipo de atividade não considerada indispensável ao funcionamento da saúde, a prover alimentação, a fornecer água, energia… Em resumo, só ficam abertos os serviços essenciais.

    Não sem polêmica por parte de empresários e até mesmo ameaças de greves de trabalhadores, que não chegaram ainda a um acordo sobre o que é essencial.

    Por exemplo: para continuar produzindo remédios, as indústrias farmacêuticas necessitam de embalagens de vidro, tampas plásticas. Mas isso não seria produto essencial, avaliam alguns.

    Confesso que na hora que o filme parou para dar voz a Conte, eu estremeci. Sábado tinha sido um dia de “banzo”, como os africanos chamavam o sentimento de melancolia dos escravizados longe da África. “La giornata più buia”, o dia mais escuro, como diriam os italianos, desde que a pandemia estourou na Itália.

    Os números divulgados ao anoitecer pela defesa civil não davam margem a qualquer otimismo.

    Num só dia haviam morrido quase 800 pessoas, e o número de contagiados tinha superado a marca de 53.500, numa escalada de mais de cinco mil em 24 horas.

    Tenho tentado aparentar calma, principalmente para dar coragem a meu filho, que teve suas aulas interrompidas no Conservatório e tem apenas um professor que dá aulas on-line.

    Ele está agitado, ansioso.

    Sabe que o estado de emergência nacional foi declarado até 31 de julho e que as medidas de contenção podem ser renovadas mês a mês até aquela data, se for necessário, o que comprometeria de vez o ano letivo.

    Ele teme pelos dois lados onde pulsa seu coração, exatamente como eu. Agora está preocupado também com o amigo-irmão, que poderia ter que ir para a linha de frente das batalhas da saúde.

    Os estudantes de medicina estão sendo chamados a colaborar com a campanha de vacinação que se inicia esta semana no Brasil, mas o amigo conta que nos postos de saúde, UPAs 24 horas e hospitais faltam todos os tipos de equipamento de proteção e inclusive não há kits para testar se uma pessoa foi contagiada por coronavírus.

    É uma penúria, não tem quase nada, faltam até máscaras, se preocupa
    o amigo, que se forma este ano e está amedrontado com o que vem pela frente. Até agora, os jovens estão sendo poupados no Hospital Universitário, pois a UFSC decidiu não colocar os estudantes em risco de contágio, já que não pode oferecer os equipamentos de proteção.

    É um momento complicado para a juventude, com a vida travada, sem perspectiva imediata de recomeçar de onde parou.

    Mas a incerteza dessa juventude é ainda incomparável ao drama dos que já estavam travados antes mesmo de nascer, pela condição social a que estão submetidos com suas famílias.

    Nas favelas do Rio de Janeiro, pessoas das várias comunidades denunciam que não têm em casa nem sabão para lavar as mãos.

    Do outro lado do Atlântico, a República do Níger, que acolheu 220 mil refugiados nesses tempos de novos êxodos forçados pelas guerras e a pobreza, se prepara para enfrentar a batalha da pandemia com o mesmo produto prosaico que falta nas favelas do Rio.

    Escutei no Programa “Radio 3 Mondo”, da Rai Radio 3, uma das três emissoras de rádio públicas da Itália que ouvimos o dia inteiro (a tevê só ligamos de noite), que parte dos refugiados, ajudados por ONGs humanitárias, começaram esses dias a fabricar sabão.

    É um gesto de agradecimento por parte de quem foi recebido naquela nação africana entre as mais pobres do mundo, com alto índice de analfabetismo.

    Em Níger, onde 49% da população tem menos de 15 anos, o sistema de saúde conta com apenas dez leitos de terapia intensiva.

    Assim, absolutamente desprotegida, a Mãe África, origem de todos nós, começa sua impensável batalha contra o coronavírus, que ameaça a vida dos mais frágeis entre os fracos.

    Agora que a pandemia se esparrama como uma mancha de óleo pelo planeta, na Itália desde domingo se reduz um pouco o número de contágios, mas voltam a subir as mortes.

    Nesta quarta, 25 de março, as vítimas foram 683. Um total de 3.489 pacientes estavam em terapia intensiva.

    Foram esses números elevados que determinaram a decisão do governo italiano, apoiado pela comunidade científica, a promover a nova “serrata” no país, chegando desta vez às fábricas.

    A leve queda do número de contagiados não faz ninguém cantar vitória.

    Nenhuma autoridade política ou sanitária arrisca-se a afirmar que a corrida do contágio começa a descer a ladeira num cenário desalentador de 7.503 mortos, bem mais que o dobro das vidas perdidas na China (3.283).

    Certamente o número de contagiados é bem superior àquele divulgado todo dia, às 18 horas, por Angelo Borrelli, coordenador nacional da Proteção Civil italiana, na coletiva de imprensa, pois os dados se referem apenas aos que fizeram o teste e sabem ser positivos. Os que não sabem que estão infectados pelo coronavírus podem ser mais algumas dezenas de milhares. Ninguém pode afirmar com certeza.

    É provável que os contagiados hoje na Itália sejam pelo menos 600 mil, afirma Angelo Borrelli, embora os números oficiais sejam de 74.386 casos, pois se referem apenas aos positivos confirmados.

    Para cada doente certificado pelo teste, devem existir pelo menos dez outros contagiados não conhecidos.

    A alternativa de fazer testes em massa para ter dados talvez mais precisos, como fez a Coreia do Sul, também não convence diversos epidemiologistas e virologistas, pois isto poderia ser apenas a fotografia de um instante.

    A pessoa poderia não aparecer infectada ao fazer um teste hoje. Mas depois de 12 horas, se o fizesse de novo, o resultado poderia ser diferente, positivo, pois o vírus incubado já estaria ativo e apto para o contágio.

    Um dos problemas de fazer muito mais testes na população, além de ser de difícil realização em todo o país, seria o de dar uma falsa sensação de segurança.

    A verdade é que o vírus está colocando o mundo científico numa sinuca de bico. Há muitas visões contrapostas e ainda muita incerteza quanto ao novo coronavírus.

    Alguns virologistas levantam a hipótese de que o coronavírus que atinge a Lombardia possa ser mutante, pois não se entende porque é tão agressivo ali.

    O que se nota é que a maioria dos contagiados escapa, mas os que adoecem levam o sistema de saúde ao colapso. E ficam muito tempo internados, mais de 20 dias, se tudo correr bem.

    Em meio a dúvidas e incertezas, esperamos que a curva de contágio comece a cair de modo nítido, principalmente na Lombardia.
    Outra expectativa é de que no sul a situação não fuja do controle. Por isso foram proibidos os deslocamentos de uma cidade para outra.

    Dividida entre meus dois mundos em perigo, percebo que nesses dias pouco se fala do horror das guerras, que não pararam, apesar dos apelos da ONU de que cessem as hostilidades em todas as zonas de conflito.

    Na Líbia prosseguem os bombardeios, enquanto refugiados sírios continuam espremidos entre duas fronteiras, sem ter para onde ir, expulsos pela Turquia e rejeitados pela Grécia.

    Eram famílias que tinham uma casa, uma vida. Agora amontoadas em um não-lugar, no meio do lixo, enquanto a epidemia
    ameaça entrar sorrateira entre elas, mesmo sem ter uma porta onde bater.

    Parece só questão de tempo.

    Saber que pelo menos os Estados brasileiros tomam algumas providências me conforta de algum modo.

    Mas não dá para esperar do desgovernante que ameaça tudo o que toca apenas horror. É nojento tudo o que ele diz e faz.

    Para resistir, temos que acreditar que há de passar… Só nos resta esperar que passe.

    E vai passar. Toda epidemia/pandemia tem seu ciclo e passa. Nosso conforto é conhecer o passado. A história nos ensina.

    Meu irmão, que é um professor e sanitarista, diante da minha tristeza e assombro, me abre uma janela de esperança.

    Ele me escreveu, em duas mensagens lúcidas:

    –  O essencial quando medidas de contenção já não são suficientes, e as medidas de mitigação se impõem na fase de transmissão comunitária, é “achatar” ou alongar no tempo a curva de distribuição de casos, para dar fôlego aos sistemas de saúde.

    Do confinamento em Matera, no Sul da Itália, repórter escreve o diário da guerra: “Esperança medrosa”. Foto: Raquel Moysés

     

    Vivemos ciclos pandêmicos muito, mas muito, piores. Traduzir como “circo dos horrores” não deve corresponder à realidade. Imagine no passado com milhões de infectados e mortos, sem ciência e sem tecnologia, sem entender o agente causal…
    O importante é manter também a racionalidade, buscar de algum modo em nosso centro espiritual a calma e aguardar.”

    Também aguardava o fim deste pesadelo a gente de Zagabria, capital da Croazia quando um terremoto de magnitude 5,5 atingiu a cidade e obrigou a sair às ruas uma multidão em quarentena.

    Uma garota de 15 anos morreu, 27 pessoas ficaram feridas, 18 delas gravemente, tantas outras não puderam voltar para suas casas com perigo de desmoronamento e tiveram que ir para um abrigo arrumado às pressas, para evitar dar asas ao contágio no país. Diante de dois inimigos, um invisível e outro imprevisível, o que pode fazer a gente? Em Zagabria certamente ninguém tem a resposta.

    Ninguém no mundo tem, pensava eu, na madrugada em que me chegavam ecos de panelaços no Brasil, em protesto a um pronunciamento entorpecido, de quem certamente não ama o próprio povo, ao afirmar, na mais absoluta má-fé, que o Covid-19 é apenas uma “gripezinha”, não passa de um “resfriadinho”.

    O “resfriadinho”, no dia em que o inominável pronunciou essas palavras tão irresponsáveis, causara (apenas dados oficiais, sem considerar os não documentados) um total de: 39.827 novos casos e 1.722 mortes. Globalmente havia 372.757 confirmados e 16.231 mortes. Hoje, 25 de março, somente 24 horas depois, os casos confirmados já são
    414.179 e os mortos 18.440.

    É como se toda a população de uma cidade como Garopaba, em Santa Catarina, tivesse morrido, de “resfriadinho”!
    “E tem quem ache ‘histeria’, porque ainda não aconteceu na própria família”, escreve o meu irmão.
    Há dez mil quilômetros de distância, as suas palavras
    se abraçam às minhas…

     

    Edição: Raquel Wandelli

  • População em situação de rua necessita URGENTE 7.000 vagas para acolhimento

    População em situação de rua necessita URGENTE 7.000 vagas para acolhimento

    #FicarEmQualCasa? #AcolheARua  #NaRuaSomosUm

    Em todo mundo minimamente civilizado, a principal estratégia para achatar a curva de contágio do coronavírus de modo a garantir o atendimento médico aos casos graves é isolar as pessoas em casa. Mas e quando não há casas? Ou os poderes públicos provêm abrigo emergencial com condições de higiene e alimentação, ou estarão nas ruas disseminando o vírus. No momento, a sociedade não pode contar sequer com as entidades que trabalham com essa população mais vulnerável, pois os próprios voluntários passariam a ser vetores do contágio nas ruas e em casa. 

    Pensando nisso, Christian Francis Braga (@chrismuchacho) coordenador geral do Instituto GAS (@institutogas), que assiste milhares de pessoas em situação de rua na capital e região metropolitana de São Paulo, gravou um vídeo com um apelo ao poder público para evitar que o impacto do coronavírus seja catastrófico nas ruas.

    Essa semana os coletivos que agem nas ruas se uniram no Movimento Na Rua Somos Um, pra poder ecoar mais forte este pedido pelo abrigo e isolamento de no mínimo 7.000 pessoas em situação de rua. Ao todo, são 16 entidades aliadas, com centenas de voluntários, nesse apelo, que precisa ser ouvido HOJE! 

    Amanhã será tarde demais.

    Assista o vídeo, compartilhe, pressione.

    Conheça, abaixo, os coletivos participantes da inciativa:

    1. Instituto GAS: 300 voluntários

    2. Sementes de Amor: 10 voluntários

    3. Instituto Ninho Social / Projeto Lavanderia: 10 voluntários

    4. Café dos Amigos: 60 voluntários

    5. Alimente-me: 25 voluntários

    6. Atim: 30 voluntários

    7. Doadores de Alegrias: 15 voluntários

    8. Anjos da Cidade: 150 voluntários

    9. Mãos na Massa: 60 voluntários

    10. Projeto Superação 100 voluntários

    11. Irmãos em Cristo: 100 voluntários

    12. Abayomi- 40 voluntários

    13. Os Invisíveis- 12 voluntários

    14. Aliados do Bem – 23 voluntários

    15. SP sem Fome – 80 voluntários

    16. SP Invisível – 2 voluntários

  • Cadernos da quarentena – Não maltratem a Mãe Terra

    Cadernos da quarentena – Não maltratem a Mãe Terra

    Por: Dennis de Oliveira

    Fiquei isolado aqui pelo litoral de São Paulo. A quarentena imposta pelas autoridades para combater a disseminação do coronavírus obriga a gente a mudar as formas de viver. Imagina ficar em uma cidade do litoral, verão, sol a pino e não poder ir à praia, ou tomar uma cerveja no boteco.

     

    Esta minha ida era por poucos dias, mas por conta da quarentena tive que ficar muito mais tempo. Aí bateu a preocupação: não trouxe roupa suficiente para mais que quatro dias. E como diz o ditado, a necessidade faz o ladrão. Diante da situação, foi possível sim viver com o que trouxe, só ir lavando a roupa que tinha, usando o que era possível sem qualquer vaidade consumista.

     

    E aí lembrei-me dos livros do Zygmunt Bauman que falava que vivemos em um “capitalismo de excessos”. Tivemos aumentos de produtividade imensos nos últimos 50 anos, graças ao avanço tecnológico. Mas, ao mesmo tempo, estes avanços como foram apropriados para a reprodução do capital e serviram muito mais para reduzir o número de pessoas que trabalham.

    Se produz mais com menos gente empregada.

     

    Só que aí a conta não fecha. Com menos gente empregada, a miséria aumenta e ao mesmo tempo que se produz mais mercadorias, tem menos gente que pode consumir. É aí que Bauman propõe o conceito de “consumo intensivo” ou o brasileiro Muniz Sodré fala do “turbocapitalismo”. O consumo intensivo significa o seguinte: as mesmas pessoas que têm poder de consumo hoje são instigadas para consumir ainda mais. Quem tem um celular, é incentivado a trocar por um outro mais novo a cada seis ou sete meses. Se você tem uma linha, a operadora te empurra uma outra (como se fosse necessária mais de uma linha). Numa casa com três pessoas, cada um tem um carro. A cada ano, os aparelhos eletrônicos ficam obsoletos e o conserto fica mais caro que a compra de um novo e assim por diante. E toda a tranqueirada velha para onde vai? Lixo!

     

    O mesmo Bauman disse que a cidade de Londres produz uma quantidade de lixo por ano equivalente a quatro vezes o tamanho da sua cidade.

    O automóvel, símbolo da modernidade, usa apenas 3% da energia que ele produz para carregar o seu condutor. O resto é para mover metal, plástico, engrenagens e resíduos eliminados para a atmosfera.

     

    Os avanços tecnológicos do capitalismo não são apenas trágicos. Descobertas científicas nos anos 1960 possibilitaram a cura de muitas enfermidades. Hoje a humanidade é muito mais longeva. As tecnologias de informação e comunicação – TICs permitem que esta quarentena forçada de hoje seja atenuada com a possibilidade de conversar com os amigos, familiares. Grupos de psicólogos organizaram terapias em grupo pela internet com pessoas que estão deprimidas. Tem um grupo de amigos que até fez um “churrasco virtual”, cada um na sua casa comendo uma carne e tomando uma cerveja e conversando pelo hangout. Eu mediei um debate sobre o coronavírus e a periferia para um canal da internet com cada um dos participantes nas suas casas. E ainda as informações sobre esta crise chegam de forma instantânea para a gente. Tem as fake news, mas prefiro acreditar que isto são os efeitos colaterais.

     

    Este modelo de sociedade em que cada vez mais se concentra riquezas vai criando mundos à parte. Nem todos podem usufruir de todos estes avanços. Ao mesmo tempo, uma casta de bilionários enriquece como verdadeiros parasitas, sem qualquer contribuição à sociedade: turbocapitalismo. Ganham muita grana sem produzir nada e aplicam no cassino do mercado rentista. Rende mais dinheiro e vai indo neste caminho. E vai turbinando ainda mais o seu consumismo.

    Não basta um palacete, precisa de dois, três. Não basta um carrão, tem que ter três, quatro… “Compra” ilhas, se isola do mundo, viaja de jatinhos e helicópteros.

     

    Na outra ponta, milhões de famintos desesperados vão em busca do mínimo para sobreviver. O mesmo mundo que conectou todas as localidades pela internet e mandou sondas a Marte convive com pessoas em busca de água potável. Como pensar em quarentena para aqueles cuja casa é a rua? No topo, os milionários consomem de forma turbinada e isto exige um consumo predatório dos recursos naturais para produzir os artefatos que usam. Na base, os miseráveis catam latas, papel ou o que ainda resta da natureza para sobreviver.

    E a mãe Terra vai agonizando. Os sábios dos povos originários da América já ensinavam a importância do Bem Viver. Os povos originários do Alto Xingu falavam do perspectivismo. O que é isto? Viver em equilíbrio com os sentidos da vida de todos os seres vivos. Não é preservar a natureza, mas conviver em diálogo com ela, como dizia o mestre Paulo Freire. Conforto não é opulência. Viver bem não é oprimir o outro. A mãe Terra, ou Pachamama, também é sujeito e está alertando.

    Este vírus é a lágrima da Pachamama que está dizendo: “eu não aguento mais!”

    Quem não acha que Deus é cartão de crédito entende o que estou falando. Não adianta acreditar em vida após a morte se nem a vida aqui a gente consegue dar conta.

     

     

  • Gestores estaduais assumem competências diante de incompetência do Governo Federal

    Gestores estaduais assumem competências diante de incompetência do Governo Federal

    Por Marcos Rezende*

    Proibição de transportes interestaduais e implementação de barreiras sanitárias relacionadas a vôos originários de países ou estados brasileiros com transmissão comunitária do COVID-19 foram algumas das medidas tomadas por governadores de estados como Bahia e Rio de Janeiro. Num momento de normalidade se poderia questionar se tais medidas extrapolam a competência dos gestores estaduais. Porém, no contexto de pandemia do COVID-19 e com o crescente número de pessoas que testam positivo para o vírus no Brasil, a pergunta é: diante da omissão e irresponsabilidade do presidente Jair Bolsonaro perante a crise do Coronavírus, o que os gestores estaduais devem fazer, senão assumir a competência de quem se demonstra incompetente?

    O mundo passa por uma situação de anormalidade. Um vírus destrói diversos países, matando milhares de pessoas e extrapolando todos os limites de capacidade de atendimento dos respectivos sistemas de saúde. Dos governos mais conservadores àqueles mais progressistas, todos entendem a dimensão da pandemia do COVID-19 e tentam, em alguma dimensão, se antecipar ao vírus para diminuir seus efeitos e/ou remedia-los da melhor forma possível, colocando a vida das pessoas em primeiro lugar. Somente Bolsonaro, seguindo tudo que vê Donald Trump fazer, como se fosse incapaz de tomar decisões da própria cabeça, entendeu diferente e defende que existe uma “histeria” na forma como se está tratando o COVID-19.

    Somente da comitiva que foi aos EUA com o Presidente Jair Bolsonaro, 22 pessoas estão com Coronavírus. No Brasil, há um ditado popular em alusão ao Santo Católico – São Tomé – que duvidou de seus companheiros, quando disseram ter visto Jesus ressuscitado, e só acreditou após ver com os próprios olhos, que diz: “Fulano é igual a São Tomé, precisa ver para crer”. Poderíamos dizer que Bolsonaro é igual a São Tomé, precisa ver para crer. Mas o problema é quando não se crer naquilo que se apresenta diante dos olhos. E é isso que tem acontecido na gestão de Bolsonaro em relação ao COVID-19. Mesmo que já se tenham mais de 1.000 casos confirmados no Brasil e ao menos 18 mortos, Bolsonaro trata a pandemia como histeria coletiva.

    Em todas as suas aparições, Bolsonaro demonstra uma única preocupação, a de não deixar a economia desandar. O que o presidente se esquece é que a economia é impulsionada por pessoas e que se não for garantida a vida destas pessoas, antes de qualquer outra coisa, não existe economia para se cuidar, não existe país, não existe nação. Enquanto todos os países do mundo que estão enfrentando a crise do Coronavírus apontam que o isolamento social é imprescindível para o controle do avanço do COVID-19, Bolsonaro brinca de controlar uma economia e parece não querer economizar defuntos.

    É necessário apontar os bons exemplos e ressaltar os esforços que o governador da Bahia e o prefeito de Salvador, apesar de adversários políticos, têm demonstrado. Rui Costa (PT) e ACM Neto (DEM) fecharam escolas, shoppings centers, proibiram circulação nas praias e reduziram transportes públicos. O governador ainda colocou barreiras sanitárias no Aeroporto de Salvador (apesar dos embargos presidenciais) e proibiu o trânsito entre alguns municípios e entre os estados com contaminação comunitária e a Bahia. Rui Costa, enquanto presidente do Consórcio dos Estados do Nordeste, ainda enviou carta aberta ao Embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, para pedir apoio com respiradores e para estruturar mais leitos de UTI, ao que recebeu o compromissos de esforços da Embaixada em relação ao pleito.

    Sem se importar com os brasileiros, Bolsonaro resolveu “brincar de casinha”, editando Medida Provisória (MP 926/2020) para mostrar o poder de império do governo federal e desfazer de algumas destas ações, o que continua a colocar a população em risco. Difunde fakenews sobre uma cura que, infelizmente, ainda não existe. Na contramão de outros líderes mundiais, inclusive da extrema-direita, Bolsonaro corta salário dos trabalhadores ao invés de apoiá-los em meio à pandemia mundial, desrespeita o isolamento necessário e faz papel de bobo da corte em meio a uma entrevista coletiva, enquanto o seu filho e um ministro desrespeitam o povo chinês, mesmo sendo a China a nossa maior parceira comercial e o primeiro país a enfrentar o Coronavírus no mundo, detendo, portanto, o maior número de informações sobre o vírus.

    É aí, diante desses fatos, que queremos que cada cidadão brasileiro responda ao questionamento que foi feito no início deste texto: o que os gestores estaduais devem fazer, senão assumir a competência de quem se demonstra incompetente? Será Bolsonaro, realmente, o “Messias” que a população brasileira merece? Das janelas de diversos estados do nosso país, as panelas que ecoaram nos últimos dias respondem a essa pergunta e conclamam uma nova ordem nacional? Com a palavra, o povo brasileiro.

     

    Marcos Rezende é historiador, mestre em Gestão e Desenvolvimento Social pela Faculdade de Administração da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e ativista do movimento social negro brasileiro, sendo um dos fundadores do Coletivo de Entidades Negras (CEN)

  • João Doria resolve economizar na pandemia demitindo trabalhadores

    João Doria resolve economizar na pandemia demitindo trabalhadores

    O governador de São Paulo, João Doria Jr. (PSDB-SP), é um escroque infame! Quando várias famílias de classe média estão fazendo sacrifícios para manter o pagamento das trabalhadoras domésticas, apesar de dispensá-las de comparecer ao trabalho (em nome da solidariedade neste momento de pandemia do coronavírus), o Secretário da Educação publicou hoje na página 18 do Diário Oficial do Estado de São Paulo (DOSP) de hoje (19/3) a resolução que suspende os contratos e convênios de prestação de serviços das empresas terceirizadas.

    Desnecessário dizer que os prejudicados serão os trabalhadores terceirizados, como motoristas, merendeiras e faxineiras, jogados ao Deus dará, sem direitos, sem salários, sem dinheiro. São exatamente os trabalhadores mais desassistidos de direitos entre os tantos que prestam serviços ao Estado.

    João Doria Jr resolveu usar a epidemia para fazer “economia” e está pouco se lixando para a dor e o sofrimento das famílias sustentadas pelos contratos das terceirizadas!

    João Doria Jr faz isso como uma demonstração de falta absoluta de solidariedade e compaixão. Faz isso apesar de os países da Europa, sem exceção, darem exemplo em sentido exatamente contrário: estão mantendo os pagamentos porque sabem que o trabalhador continua precisando pagar aluguel, alimentação, remédios e tantos outros gastos que as famílias de trabalhadoras possuem –ainda mais em período de epidemia.

    É inadmissível que João Doria Jr responda às pandemia com o desprezo pelos trabalhadores mais desassistidos da administração pública!

     

    Veja a publicação completa:

    Página 18 da Executivo – Caderno 1 do Diário Oficial do Estado de São Paulo (DOSP) de 19 de Março de 2020

    Resolução SE 27, de 18-3-2020
    Dispõe sobre a suspensão dos contratos e dos convênios de prestação de serviços, e dá providências correlatas
    O Secretário da Educação, no uso de suas atribuições, e considerando o disposto no artigo 1º, inciso II, do Decreto 64862/2020, com redação dada pelo Decreto 64.864/2020, que determina a adoção de providências necessárias visando à suspensão de aulas no âmbito da Secretaria da Educação,
    Resolve:
    Artigo 1º – Suspender, a partir de 24-03-2020:
    § 1º – os contratos firmados entre a Secretaria da Educação e empresas prestadoras de serviços:
    1. contínuos de transporte escolar para alunos com e sem deficiência do ensino fundamental e médio;
    2. contínuos de transporte escolar de alunos do ensino fundamental e ensino médio através de bilhetagem eletrônica;
    3. de preparo e distribuição de refeições para os alunos da rede de ensino público estadual;
    4. contínuos de apoio aos alunos com deficiência que apresentem limitações motoras e outras que acarretem dificuldades de caráter permanente ou temporário no autocuidado;
    § 2º – os convênios celebrados entre o Estado de São Paulo, por intermédio da Secretaria da Educação, e os municípios para o fornecimento de:
    1. transporte escolar;
    2. alimentação escolar.
    § 3º – Na suspensão dos contratos de que trata o § 1º deste artigo, os ordenadores de despesas, gestores e fiscais de contratos deverão zelar para que sejam pagos somente os serviços efetivamente prestados até 23-03-2020.
    § 4º – A suspensão de que trata o “caput” deste artigo vigorará até ulterior decisão em sentido contrário.
    Artigo 2º – As Diretorias de Ensino deverão encaminhar notificação aos municípios e às empresas prestadoras de serviços sobre a suspensão de que trata esta Resolução.
    Parágrafo único – A notificação de que trata o “caput” deste artigo deverá seguir as orientações da Coordenadoria de Orçamento e Finanças.
    Artigo 3º – Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.