Jornalistas Livres

Tag: Padre Julio Lancellotti

  • Missa de Domingo de Ramos, vira ato pelas vítimas da favela do Cimento

    Missa de Domingo de Ramos, vira ato pelas vítimas da favela do Cimento

    Domingo, 14 de abril de 2019, o Padre Julio Lancellotti junto com representantes da Comunidade do Cimento, de Movimentos de Moradia, e do Movimento de Povo de Rua, fizeram uma caminhada da Capela São Miguel à capela da faculdade São Judas Tadeu, onde foi feita uma missa do Domingo de Ramos, em homenagem aos moradores da favela do Cimento, que foram vitimas de um incêndio, poucas horas antes da reintegração de posse do terreno da favela, no dia 23/03.

    Algumas famílias, sem ter para onde ir, alojaram-se em um galpão na Rua do Hipódromo, o ato também chama atenção para a data determinada para reintegração de posse do galpão ocupado, no dia 23/04, um mês após o incêndio que matou um homem e que dificultou a vida já sofrida de dezenas de famílias.

     

     

    A Comunidade do Cimento estava instalada às margens da Avenida Radial Leste, no entorno e abaixo do Viaduto Bresser, até a Avenida Pires do Rio, na Móoca, abrigava cerca de 215 famílias. O Incêndio ocorreu de maneira “misteriosa”, depois da chegada da GCM, CLIQUE AQUI para saber mais.

     

    O ato continuou até a favela do Cimento onde foi plantada um árvore em homenagem ao morador que morreu em decorrência das queimaduras em 70% do seu corpo.

    O ato foi chamado de Árvore da Resistência Popular – Comunidade do Cimento, e teve também o apoio do grupo Muda Móoca e de representantes das Igrejas Batistas da região.

    Aqui imagens do incêndio que atingiu a favela do Cimento:

    https://www.youtube.com/watch?

     

  • Parabéns às autoridades: o homem morreu queimado porque era pobre!

    Parabéns às autoridades: o homem morreu queimado porque era pobre!

    ACABA DE MORRER O homem pobre, sem nome, sem casa, sem direitos, que vivia na Favela do Cimento, na Avenida Radial Leste, incendiada na tarde de sábado (23), quando agentes da GCM entraram na comunidade tocando o terror.

    A GCM apareceu antes do término do prazo dado pela juíza para a saída dos sem-teto, que expirava às 6h de hoje, domingo, gerando uma grande revolta entre os pobres.

    Um homem morreu. Como a Prefeitura não providenciou nem sequer ambulâncias para a reintegração, o homem foi andando, sua pele queimada pendurada como se o corpo fosse um varal de trapos. As solas dos pés dele, em carne viva, deixaram um rastro de sangue pela rua.

    O motorista da ambulância estacionada em frente ao hospital contou aos Jornalistas Livres que nunca viu cena igual. As pessoas na porta do hospital gritavam de horror ante a passagem do morto-vivo.

    Hoje o coração parou de bater.

    Vocês não fizeram nada para evitar a tragédia. Mas podem pelo menos tentar ajudar os demais moradores da favela, inclusive várias mulheres grávidas e crianças e bebês, que estão espalhados, assustados e sem assistência alguma andando pelas ruas da Mooca, na zona leste de São Paulo.

    A crise humanitária está aqui, bem ao lado de nós!

     

    Um homem pobre, miserável, morreu hoje à tarde, vítima de uma Justiça, de uma Prefeitura, de uma polícia, que não olha para a realidade triste dessas vítimas de um País sem Esperança!

    Nota oficial:
    O Hospital Salvalus informa que na noite deste sábado (23), às 20h31, registrou a entrada de um paciente sem qualquer identificação, vítima do incêndio que atingiu a favela no entorno do Viaduto Bresser. 
    O paciente com queimaduras foi prontamente assistido por nossas equipes e ficou internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em estado grave. No início da tarde deste domingo a vítima não resistiu e faleceu em decorrência de complicações das queimaduras. O corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal. 
    O Hospital Salvalus se solidariza e lamenta o ocorrido.

  • OS TRAPALHÕES VIOLENTOS DA GCM E O SANTO GUERREIRO DESARMADO

    OS TRAPALHÕES VIOLENTOS DA GCM E O SANTO GUERREIRO DESARMADO

     

    A incrível história de uma arma calibre 38 deixada/esquecida por um

    Guarda Civil Metropolitano em um carro; a pancadaria dos guardas em cima

    dos moradores de rua para reaver o revólver; e como o padre Júlio Lancellotti

    ajudou a recuperar a arma que, se caísse em mãos criminosas,

    poderia ser usada para matar inocentes

    Guarda Civil Metropolitano esqueceu ou deixou jogada, na tarde de sábado (26), uma pochete com arma, munição, distintivo e seus documentos em uma viatura descaracterizada. O veículo estava estacionado na rua Jaibarás, altura do número 260, na zona leste de São Paulo. Trata-se de uma área com alta densidade de moradores de rua.

    Os moradores de rua afirmam que o policial esqueceu a pochete em cima do capô do veículo. O guarda civil metropolitano disse que a pochete estava dentro do porta-malas do carro. Afirmou que se passaram apenas seis minutos quando, ao retirar o veículo de onde o havia estacionado, percebeu que o porta-malas estava aberto e dele havia sido retirada a pochete.

    O fato é que um dos moradores de rua pegou a bolsinha e levou-a, sem saber que o carro era de um policial. Ao abrir, a surpresa: surgiu um vistoso revólver da marca Taurus, calibre 38, arma de propriedade da Prefeitura de São Paulo, acompanhada de 6 cartuchos íntegros, munição codificada da GCM de São Paulo.

    Trata-se de uma máquina mortífera que, no mercado legal de armas, é vendida por mais de R$ 3 mil. E essa máquina mortífera pode virar um tesouro para um morador de rua, se for vendida no mercado informal (lembre-se que se trata de pessoa sem roupa, sem cama, sem casa, sem comida, sem nada).

    No próprio sábado, iniciou-se uma verdadeira caçada ao revólver sumido. No boletim de ocorrência lavrado sobre o desaparecimento da arma, consta a versão do guarda civil metropolitano. Segundo ela, o furto teria ocorrido às 15h21. Mas a comunicação do fato (o registro do B.O.) deu-se apenas 3,5 horas depois, mesmo estando a delegacia a apenas 2 minutos de carro do local dos fatos.

    Dezenas de moradores de rua nas imediações do Parque da Moóca relataram aos Jornalistas Livres que foram espancados, ameaçados, enfiados em viaturas e coagidos a contar o que sabiam (e o que não sabiam) sobre a arma desaparecida.

    “Os guardas queriam informações para chegar aonde estava a arma. Diziam que viriam nos matar e que matariam o padre Julio Lancelotti, se o revólver não aparecesse imediatamente”, afirmou à reportagem um jovem, dependente de álcool e drogas, morador de rua há cinco anos e que não será identificado por razões de segurança.

    Na madrugada desta terça-feira (29), as ameaças tornaram-se mais severas e os espancamentos também. Apavorado, um morador de rua procurou o padre Júlio Lancellotti, famoso defensor do povo pobre e oprimido, para lhe dizer que havia encontrado e levado a pochete, mas que entrou em pânico ao saber que ela pertencia à GCM, tropa com uma larga ficha de abusos e violência contra a população sem teto.

    O homem resolveu devolver a arma à guarda, e pediu ao padre que avisasse ao comando que havia arremessado a pochete em um terreno pertencente à Eletropaulo, em que funciona a Estação Transformadora de Distribuição do Hipódromo, na mesma rua Jaibarás.

    Eram 13h46 da terça (29) quando dois agentes altamente qualificados da GCM (trabalham diretamente com o Comandante Geral – Inspetor Superintendente Carlos Alexandre Braga) chegaram à modesta Paróquia São Miguel Arcanjo, cujo pároco é o padre Júlio Lancellotti. Ele os levou até a estação da Eletropaulo.

     

     

    No caminho, o padre Júlio Lancellotti foi a todo momento abordado por moradores de rua. Um lhe pediu ajuda para tirar os documentos; outro queria apenas um aperto de mão. O padre chama cada um pelo nome, sorri, conversa. Ele é o protetor daqueles seres totalmente desvalidos.

     

    Perigo de Morte na Estação Transformadora da Eletropaulo

    A estação da Eletropaulo estava fechada. Ameaçadora, uma placa advertia: “Perigo de morte. Não ultrapasse”. O jeito era esperar. Por uma portinhola aberta no imenso portão de ferro, viam-se condensadores gigantescos, capazes de criar campos magnéticos poderosos. Havia perigo mesmo.

    Logo apareceu o inspetor Hernane Pereira Meleti, homem de pouca conversa, bigodes fartos, uniformizado com o fardamento azul típico da guarda, pistola Glock no coldre, cercado por três motociclistas da GCM, um dos quais, franzino, logo começou a praguejar contra “esses esquerdistas protetores de bandidos”.

    As horas passavam e nada de aparecer um funcionário da Eletropaulo para abrir o portão de ferro e garantir o acesso seguro ao interior do terreno. Por volta das 17h, chegou um outro veículo da GM/Classic Life, branco, viatura descaracterizada da GCM, pilotada por agente à paisana, que se apresentou como membro da “Inteligência” da GCM. Junto vieram mais quatro agentes sem fardamento, que o policial da “Inteligência” explicou serem P-2, agentes secretos, segundo a gíria policial:

    “Eles estavam infiltrados nas manifestações da avenida Paulista [contra o aumento das tarifas e por moradia, que ocorreram nesta terça] e foram trazidos para cá, para acompanhar esta ocorrência”, disse, como se nada fosse.

     

    Interessante notar que, para o setor de inteligência da GCM, um sujeito, para ser “esquerdista”, tem de andar de bermudas, camisetas, tênis e boné.

    Confraternização geral entre os GCMs fardados e os vestidos com bermudas. Eram amigos.

    Logo, os policiais se puseram a defender a tese de que não havia nada demais em um agente armado esquecer/deixar sua arma em cima do capô ou dentro de um carro estacionado na rua.

    “Você nunca esqueceu o seu celular no carro?”, perguntou um deles, barbado, o mais nervoso do grupo, como se o potencial letal de um celular pudesse ser comparado ao de um revólver. Ao perceber que estava sendo gravado pelos Jornalistas Livres, o agente à paisana resolveu afastar a reportagem da porta da Estação Transformadora, alegando a criação de uma “área restrita” imaginária, que ia até uma árvore na calçada. Para imprimir autoridade, já que era difícil levar a sério imposição emanada de uma pessoa que parecia um hippie no túnel do tempo, ele mostrou o distintivo: tratava-se de um sub-inspetor da GCM.

    Por volta das 18h30 havia nada menos do que 11 agentes da GCM defronte à Estação Transformadora –quase uma manifestação. Os quatro P-2, assim identificados pelo seu superior hierárquico, atravessaram a rua e foram esperar do lado de lá pela abertura do terreno. Impacientes, telefonavam toda hora para o homem “da Inteligência”, que atendia o celular, dizendo ser um chamado “do Comandante”…

    O disfarce era pífio.

    Um dos agentes disse que, caso a arma fosse encontrada, o padre Júlio Lancellotti teria de “entregar” quem lhe dera a informação. Padre Júlio, paciente como é, ensinou que a informação lhe fora confiada “em confissão”, sacramento secreto fundamental para o perdão divino, cuja violação é passível de excomunhão.

    Passava das 20h quando, enfim, a Estação Transformadora foi aberta. A arma estava lá, conforme a informação passada ao padre Júlio Lancellotti. Ainda estava dentro da pochete, com a munição e o documento do guarda.

    O revólver não foi parar nas mãos de assassinos perigosos, mas poderia ter ido.

    Poderia ser usado para resolver uma briga de bar, uma crise de ciúmes, para roubar, para sequestrar. Para matar, que é para isso que uma arma de fogo serve.

    A prefeitura de São Paulo provê cursos de capacitação periódicos, para que os guardas aprendam como lidar com suas armas. O objetivo é prevenir, entre outras coisas, que as armas acabem nas mãos de bandidos. Faltou dizer que não pode deixar uma delas sobre o capô ou sozinha dentro do carro.

    Agora, se isso aconteceu com um GCM, imagine o que poderá ocorrer com as armas que estarão com pessoas comuns, depois que Jair Bolsonaro flexibilizou a posse de armas de fogo!!

    Não é sempre que surge um padre Júlio Lancellotti para resolver as confusões em que se mete uma tropa tão trapalhona quanto violenta, como é a GCM. Que pelo menos nesta noite cesse a violência contra os moradores de rua da Moóca.


     

    OUTRO LADO:

    Jornalistas Livres encaminharam perguntas à Assessoria de Imprensa e Comunicação da Secretaria Municipal de Segurança Urbana, à qual está subordinada a Guarda Civil Metropolitana de São Paulo. Aqui as respostas obtidas:

    Jornalistas Livres: Qual o procedimento padrão de um GCM para manter sua arma protegida? Quais as punições que podem ser aplicadas ao policial que deixou sua arma desacompanhada, no bairro da Moóca?

    Resposta: O comando da GCM informa que foi aberta apuração para investigar a conduta administrativa do agente, em virtude do furto de sua arma. As punições podem ser desde advertência até eventual demissão.

    Jornalistas Livres: O comando da Guarda pretende abrir uma investigação sobre as violências praticadas pelos GCMs contra a população de rua, incluindo ameaças ao padre Júlio Lancellotti, para obtenção de informações sobre a arma perdida/furtada?

    Resposta: Em relação aos questionamentos de violências praticadas por guardas da corporação à população de rua ou ao padre Júlio Lancellotti, o comando da GCM informa que não recebeu nenhuma denúncia ou reclamação, sendo que adotará as medidas de apuração se receber a notificação do fato por alguma testemunha.

    Jornalistas Livres: A GCM trabalha com infiltração em manifestações? Desde quando? Qual é o dispositivo legal que permite esse tipo de atuação por parte da GCM?

    Resposta: A GCM não atua com guardas infiltrados em manifestações, nem possui em seus quadros agentes P-2.

  • Em defesa dos moradores de rua, em defesa dos nossos refugiados urbanos!

    Em defesa dos moradores de rua, em defesa dos nossos refugiados urbanos!

    Por Padre Julio Lancellotti, especial para os Jornalistas Livres

    Neste ano, tem aumentado em muito os ataques da Polícia Militar à população de rua em São Paulo. Muitos já foram os confrontos em remoções, como as ocorridas na Cracolândia da Luz, na região do viaduto Bresser e Alcântara Machado. Em todos esses locais, verificaram-se ataques da Tropa de Choque, bombas de gás e efeito moral, repressão e violência com prisões e tumultos .

    O que tem agravado é a violência cotidiana do “rapa”, operado pelas sub-prefeituras, com a GCM (Guarda Civil Metropolitana) e PM coligadas. Mas a repressão contou também com a Força Tática da PM, que tem atuado de maneira truculenta e abusiva nas áreas de concentração da população de rua .

    A população de rua na cidade de S.Paulo é alvo da PM, da GCM e das sub-prefeituras, na chamada zeladoria urbana, dos seguranças privados e dos seguranças clandestinos. É por isso que hoje em dia é possível dizer que a população de rua vive em condições análogas às de REFUGIADOS URBANOS .

    Expulsa de todos os lugares, tratada com violência pela segurança pública , suspeita e rejeitada pelos Consegs (Conselhos de Segurança ditos Comunitários), essa população de rua sobrevive e resiste, sofre e chora — abandonada e humilhada.

    A vida do povo de rua é pública, devassada e muitos são seus juízes e algoses .

    Nos últimos 15 dias, tenho estado presente em ações da sub-prefeitura juntamente com PM e GCM, nas remoções de grupos de rua no Belém e na Mooca.

    O rapa das sub-prefeituras arranca o pouco que esses refugiados urbanos têm: remédios, documentos, roupas, cobertas, colchões, alimentos — tudo feito com requintes de crueldade. Em tais operações, além dos veículos da Prefeitura estão viaturas da GCM e da PM e os caminhões e funcionários da INOVA ,empresa contratada pela prefeitura para a limpeza pública. Nunca vi representantes da Assistência Social.

    O tratamento cruel e desumano é a prática. Desde arrancar cobertas de quem está dormindo, descobrir mulheres, insultar e provocar .

    Nos baixos do viaduto Guadalajara, um PM queria saber:

    “Quem é você ? dirigindo-se a mim. E o que está fazendo aqui ?”

    Respondi:

    “Sou o padre Júlio da Pastoral de Rua.”

    Então, ele me encarou e gritou, em tom desafiador:

    “E daí ?? Tudo vai ser retirado mesmo!”

    O Capitão logo chegou, perguntando o que havia ocorrido. Disse que o PM era comandado seu. Quando perguntei se ia tomar alguma providência, o oficial levantou o dedo em riste e em tom ameaçador vociferou :

    “Não vou fazer nada! Te conheço muito bem!”

    Na Bresser, também , as ações da Força Tática são diárias. Nesta sexta-feira, logo após a minha visita, chegou a viatura da PM. Avisaram-me e voltei. Encontrei dois PMs dando geral e intimidando os moradores, crianças chorando e mulheres acuadas. Todos calados e paralisados de medo.

    Logo percebi que um morador do local não estava mais por ali e comecei a andar entre os barracos. Notificados os PMs de que eu estava em busca desse morador, o morador apareceu. Estava sendo torturado dentro de uma barraco — os PMs queriam que ele apontasse os traficantes e onde estava a droga .

    Novamente incomodados com a minha presença, os PMs perguntaram-me:

    “Quem é você? O que faz aqui?”

    Respondi:

    “Sou o padre Júlio da Pastoral de rua.”

    Furiosos, me perguntaram:

    “Você é auxiliar dos traficantes?”

    Quiseram meu documento de identificação e anotaram meu RG. Um dos PMs pisava nos pés dos que estavam sendo averiguados, e dizia:

    “Vocês estão no seguro do padre?”

    Perguntas para humilhar, pois sempre dizem:

    “Vocês são da turma do padre? Pode chamá-lo. Avisa o padre!”

    Um deles me chamou a atenção, pois, durante todo o tempo, falava ao celular e dizia:

    “O padre tá aqui!”

    Depois de muito tempo foram embora contrariados. O morador de rua que tinha sido torturado no barraco vomitou e desfaleceu .

    O sofrimento deste povo é demais. Vê-los pisados pelas botas da PM é uma situação que clama por Justiça!

    Justiça que não virá pela Corregedoria, por identificação dos agressores e das vítimas, pelas secretarias de Segurança Pública, de Direitos Humanos, de Coordenação das Sub Prefeituras, pela Assistência Social, pelo comando da PM, pelo Ministério Público e pela Defensoria, pois todos sabem muito bem o que acontece e as propostas burocratizadas nunca chegam na calçada.

    Todos temos que cobrar e exigir que a violência do Estado cesse e nos manifestarmos solidários aos mais fracos estando ao lado deles e ecoando a sua dor .

    PS: Depois da polêmica envolvendo o governo paulista, a prefeitura de São Paulo decretou o sigilo de uma série de informações da GCM (Guarda Civil Metropolitana), como por exemplo o sigilo das imagens das câmeras da GCM. Querem esconder o quê? A truculência da GCM contra os moradores de rua? A covardia do rapa? As ações violentas da PM? As remoções? Os acertos do poder público com os traficantes? As propinas pagas para os agentes de segurança? Como age o crime organizado? O serviço reservado da PM e da GCM infiltrado nas manifestações? O submundo da cidade nas madrugadas? O extermínio que acontece nas quebradas? O crime organizado com participação de agentes públicos?

    A proibição foi conhecida a partir do pedido de imagens sobre a Cracolândia , o que o poder público esconde embaixo dos Braços Abertos e do Recomeço que a cidade não pode conhecer !

  • Padre Julio Lancellotti: Olha o RAPA!

     

    A desumanidade do atendimento aos que vivem o drama de serem considerados indesejáveis

    Um assunto espinhoso e incômodo na cidade de São Paulo é o RAPA, nome dado à ação das sub-prefeituras, com a GCM (Guarda Civil Metropolitana), apoiada pela PM, retirando os pertences dos moradores de rua, verdadeiros refugiados urbanos que vivem pelas ruas da cidade de São Paulo.

    Segundo o censo de 2015, nas ruas de São Paulo e Centros de Acolhida há 15.900 pessoas em situação de rua — ao nosso ver, trata-se de registro bem abaixo do real . A quase totalidade dessas pessoas já sofreu a ação truculenta do RAPA .

    Os fiscais, guardas e PMs chegam em comboio e de armas nas mãos. Levam colchões, cobertores, roupas, alimentos, remédios, documentos, utensílios e tudo o que têm para sobreviver .

    O que afirmo é como testemunha ocular de muitas destas ações, que são realizadas por toda a cidade de maneira sistemática, contínua e permanente .

    A população de rua tratada com truculência vai acumulando sofrimento e revolta. Quando esboça reação é submetida pela força e criminalizada.

    Os agentes de pastoral e militantes de movimentos ou pessoas que, sensibilizadas, manifestam desacordo com as ações são intimidados. Os que fotografam ou filmam, ameaçados .

    Pelas redes sociais temos denunciado com fotos e depoimentos as ações de remoção e apropriação dos bens dos refugiados urbanos que vivem pelas ruas de São Paulo Paulo.

    Muitas vezes comunicamos de imediato à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e algumas vezes fazemos contato telefônico com o secretário Eduardo Suplicy, que ouve os lamentos e indignação dos atingidos pelo RAPA.

    A secretaria de Direitos Humanos está convocando uma reunião com a presença do prefeito e dos secretários envolvidos para tratarem do assunto , mas mais uma vez sem a presença dos que sofrem tal iniquidade .

    O sofrimento deste povo parece não ter fim. Já vi chutarem a comida, jogarem a água potável no chão, tirarem as cobertas mesmo no frio, deixarem as pessoas desabrigadas e ao relento.

    O prefeito não quer barracas, nem coberturas, nem colchões ou qualquer coisa que possa significar proteção.

    Os centros de acolhida não são suficientes, não há lugar para todos e nem para os grupos familiares. E não há, principalmente, respostas construídas com a participação dos que vivem o drama de serem considerados indesejáveis.

    Enfim, ações desumanas não constroem uma cidade mais humana, que mesmo, na sua complexidade, diversidade e pluralismo, não pode jogar no desalento os mais fracos e descartáveis de um sistema injusto e opressor.