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  • Bolsonaro fez cocô na sala, mais uma vez

    Bolsonaro fez cocô na sala, mais uma vez

    Brasil, em se plantando tudo dá

     

    Bolsonaro defeca na Assembleia Geral da ONU - Foto: Alan Santos / Presidência da República / Reprodução
    Bolsonaro defeca na Assembleia Geral da ONU – Foto: Alan Santos / Presidência da República

    Como era de se esperar, a verborragia indecorosa, o discursivo corrosivo, o grotesco, o inadmissível, o escatológico, o inominável, o irrepresentável foram alguns dos fios que enovelaram a fala de estreia do “presidente da República Federativa do Brasil”, na abertura da Assembleia Geral da ONU, neste 24 de setembro.

    Das grosseiras que ele cultivou no solo brasileiro, e que foram irrigadas por diversos setores da população, floresceram tiques autoritários, instintos nazi-fascistas, uma índole anti-indígena, racista e homofóbica, um “liberalismo imoral e um moralismo obsceno”, como disse Jorge Coli, oferecidos para degustação em escala planetária na tradicional Assembleia. Provisoriamente, as lideranças mundiais tiveram que digerir o “indigerível”. Numa espécie de “quem tiver ouvidos para ouvir ouça” (e estômago também), Bolsonaro rasgou literalmente o verbo.

    Destaquemos algumas das aberrações: anunciou que não haverá demarcação de terras indígenas, criticou a política que fez a demarcação em passado recente; classificou como falácia a consideração de que a Amazônia é um patrimônio da humanidade e pulmão do mundo; negou a devastação (“A Amazônia não está sendo devastada e nem sendo consumida pelo fogo, como diz a mídia. Não deixem de conhecer o Brasil. Ele é muito diferente do que é estampado pelos jornais.”); comunicou de forma desrespeitosa que “acabou o monopólio do senhor Raoni” (liderança indicada por indigenistas e entidades de direitos humanos ao prêmio Nobel da Paz); atacou organismos de direitos humanos…

    Neste diapasão permaneceu pondo em primeiro plano tantas outras de suas obsessões (estas, sim, falaciosas): afirmou combater veementemente a ideologia de gênero que tenta destruir a família brasileira e perverter nossas crianças (se preocupa tanto com família e crianças que até hoje não foi capaz de enviar uma linha sequer de solidariedade à família de Ágatha, brutalmente assassinada no Complexo do Alemão); atacou o politicamente correto; decretou o fim dos sistemas ideológicas que seduziram, tal como o canto da sereia, nossas mentes e corações (sic); defendeu novamente a ditadura militar; declarou que salvou o Brasil do abismo socialista; fez duras críticas à Venezuela e a Cuba…

     

    De Luis XIV a Bolsonaro: o cocô como etiqueta protocolar de Estado

    Parece inescapável o paralelo entre a fala de Bolsonaro e a célebre cena do filme O fantasma da liberdade, de Luis Buñuel (1900-1983), tido como um dos mais importantes cineastas surrealistas, um crítico da psicologia moral da burguesia. Ironia, cinismo,  refinamento filosófico, fantasmagoria das revoluções são elementos que sempre comparecem na cinematografia de Buñuel e nos fazem pensar, a cada tempo, no nosso tempo.

    A cena inverte a liturgia dos atos de comer e defecar: as pessoas sentam-se à volta da mesa em suas privadas e conversam amistosamente; quando sentem a necessidade de fazer as refeições, discretamente dirigem-se ao mordomo e perguntam:  — “Por favor, onde fica aquele lugar de…?” e, ato contínuo, evadem-se para um quartinho nos fundos para comer.

    Bolsonaro vem defecando sistematicamente na sala sem que apareça um adulto sequer no recinto para dizer-lhe que a sala não é lugar para isso (a não ser que a cena de Buñuel tenha prefigurado uma rotação de perspectiva nesta regra inviolável desde que a privacidade da alcova e dos gabinetes deu às latrinas um lugar de absoluta discrição). O fato de o filme servir como ilustração do que vem acontecendo no mundo dos pronunciamentos políticos (o filósofo esloveno Slavoj Zizek fez semelhante comparação com os discursos de Donald Trump) nos faz pensar mais uma vez e sempre na política das formas.

    Tamanho vexame não diz somente da ignorância raivosa, da falta de qualquer polidez de Bolsonaro e do entorno que o assessora, mas revela o núcleo duro das concepções de um governo pensado para não deixar pedra sobre pedra. À ferocidade de um projeto antinacional, antipovo, excludente, ultraliberal, devem corresponder formas discursivas igualmente brutas e violentas. O defecar na sala é a metáfora bem acabada daquilo que um presidente da República não pode fazer. E se ele o faz na frente de todo o mundo é porque tem coragem de ir muito mais além.  Eis onde mora o perigo de um discurso sem nenhuma estatura: na fusão entre forma e conteúdo, algo comum nas práticas totalitárias e absolutistas, que indicia e prefigura modos inomináveis de ação.

    Pode-se lembrar das formas de apresentação e adoração de figuras como Luis XIV (1638-1715), que sacralizava o próprio poder por meio de sua ostensiva visibilidade; ser visto, contemplado e reverenciado evidenciava e exaltava a supremacia de quem manda e de quem pode. O cerimonial das fezes do rei era uma etiqueta protocolar de Estado que se expôs ao olhar e à adoração de um público numeroso, como bem descreveu Mauricio Paroni de Castro:

     

    Todas manhãs de Versailles principiavam com a disputa e o suborno de funcionários pela honra de segurar uma suave baixela de frescas fezes reais; passavam-na de mãos para ser cheirada e reverenciada como de origem divina.  O nobre cocô era alegorizado no século em que o teatro e todas as formas de representação valiam mais que o ouro: valiam o poder. O Rei-Sol se acomodava sobre um buraco estratégico na sua “chaise d’ affaires” (cadeira de negócios). Era tudo público e transparente. Problemas de Estado eram então discutidos. (…). Fazer cocô e o cocô em si eram uma coisa só quando se tratava do Rei de França pela graça de Deus. Loucura? Nem tanto. A encarnação real sob forma divina o autorizava a legislar, governar e julgar sobre o que bem entendesse.

     

    Dos modos de apresentação dos reis-governantes absolutistas às formas contemporâneas dos líderes democráticos e republicanos se colocarem no mundo, muita coisa mudou, principalmente no que tange à prática de defecar.  Mas algo neste final de manhã de 24 de setembro me fez pensar, por uns instantes, que parecíamos estar no espetáculo das fezes de Luis XIV. Li e reli no Twitter diversas manifestações de apoio e  reverência ao discurso de Bolsonaro na ONU: “Orgulho de ser brasileiro”. “Mitou, novamente”; “Bolsonaro falou a verdade, doa a quem doer”. “Estamos cada vez mais com Bolsonaro, uhuuuu!” “Meu presidente, orgulho da Nação, Brasil, força e coragem!” “Goste-se ou não, Bolsonaro fez um discurso de estadista”…

    Embora saibamos que muitas dessas manifestações são irradiadas de bots, não se tem como negar que as fileiras que se formam para defender o capitão nestes espaços são numerosas. Tais exaltações me pareceram a reprise do momento ritualístico em que a plebe passava de mão em mão a baixela abarrotada de cocô do rei para ser cheirada e reverenciada como se divina fosse.

    Para não parecer tão anacrônica, logo procurei outra correlação mais atual para tentar argumentar sobre o famigerado discurso de Bolsonaro e imediatamente me dei conta que tal associação não era assim tão fora de esquadro: uma vez que vivemos uma quase autocracia, com uma dinastia comandando o país (não temos uma cadeira presidencial, mas um sofá em que pai e filhos mandam e desmandam), a etiqueta protocolar dos Bolsonaro nos ensina que, a exemplo da forma de governar de Luis XIV, o fazer cocô e o cocô são uma coisa só,  que enquanto fala do absurdo, do inaceitável e do inominável, figurações da política assumem a  forma do grotesco, autorizando-o  a governar e a julgar sobre o que bem entende, e da forma que bem entende.

    A quem se aferra a ideia de que Bolsonaro não tem como destruir a combalida democracia por conta do manto institucional que tecemos nos últimos anos, ele dobrou a aposta, foi para ONU e disse com todas as letras que, sob o seu comando, tudo e um pouco mais é possível nos tristes trópicos. Quem dá mais?

     

     

     

     

  • Bolsonaro faz discurso ideológico, paranoico e mentiroso na ONU

    Bolsonaro faz discurso ideológico, paranoico e mentiroso na ONU

    Do Mídia 4P

    O presidente Jair Bolsonaro abriu, na manhã desta terça-feira, 24, os debates gerais da 74ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Pressionado pela má repercussão que o seu governo acumulou em nove meses, especialmente após as queimadas na Amazônia, Bolsonaro chegou vestindo um colar indígena. Mas, em seu discurso de meia hora, fez mais do mesmo: destilou sua paranoia com o socialismo, atribuiu os problemas enfrentados pelo país à esquerda, elogiou a sua gestão, exaltou Moro, citou a Bíblia, classificou a cobertura da mídia sobre o seu governo como mentirosa e não perdeu a chance de mandar uma indireta ao presidente da França, Emmanuel Macron, e nem de bajular Donald Trump.

    “Apresento vocês ao novo Brasil, que ressurge depois de estar à beira do socialismo”, disse logo nos primeiros minutos de fala. “No meu governo, o Brasil vem trabalhando para reconquistar a confiança do mundo, diminuindo o desemprego, a violência e o risco para os negócios por meio da desburocratização, desregulamentação e pelo exemplo”, acrescentou.

    Bolsonaro disse que o país esteve próximo do socialismo, o que o colocou em grave recessão econômica, com corrupção generalizada, altas taxas de criminalidade e “ataques ininterruptos aos valores familiares”. Elogiou seu governo por ter parado de contribuir com a “ditadura cubana”, através do fim da cooperação com os médicos cubanos, que segundo o presidente faziam trabalho escravo no Brasil. Ele ainda culpou o socialismo pela crise na Venezuela e elogiou o exército brasileiro pela operação de acolhimento aos venezuelanos, “elogiada internacionalmente” segundo ele. Bolsonaro ainda destacou o trabalho que vem desenvolvendo com os americanos quanto a crise no vizinho sul-americano.

    O presidente do Brasil não esqueceu de citar o Foro de São Paulo, segundo ele uma conspiração de Fidel Castro, Lula e Hugo Chávez para espalhar o socialismo pela América Latina. “Ainda continua vivo e tem que ser combatido”, alertou.

    Economia reagindo e Amazônia intacta

    Bolsonaro disse que o objetivo do seu governo é se aproximar de outros países que se desenvolveram e consolidaram as suas democracias. Ele também defendeu o livre mercado, afirmando que não é possível haver liberdade política sem liberdade econômica. “O livre mercado, as concessões e as privatizações já se fazem presentes hoje no Brasil”, anunciou à plateia, garantindo que a economia brasileira está reagindo. “A abertura, a gestão competente e os ganhos de produtividade são objetivos imediatos do nosso governo”, ressaltou.

    O presidente ainda garantiu que o governo dele tem compromisso com a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, sendo o Brasil, segundo ele, um dos países que mais protege o meio ambiente. “A Amazônia está praticamente intocada”, afirmou, responsabilizando o clima da época e os índios pelas últimas queimadas. Disse que o país não vai aumentar as áreas indígenas demarcadas e que a visão de uma única liderança indígena, Raoni, não representa os índios como um todo, servindo a interesses internacionais na Amazônia, com a cumplicidade de pessoas apoiadas por ONGs.

    Ele ainda classificou como sensacionalista a cobertura da mídia internacional sobre as queimadas na Amazônia e mandou uma indireta a Macron. “Um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da mídia e se portou de forma desrespeitosa e com espírito colonialista”, criticou.

    Repercussão nas redes

    Entre memes, clipes de melhores momentos do discurso e vários comentários de aprovação e principalmente de desaprovação, algumas personalidades comentaram, em suas redes sociais, o conteúdo do pronunciamento do presidente brasileiro.

    A surpresa ficou por conta do governador de São Paulo, João Dória (PSDB), que à coluna de Mônica Bergamo classificou a performance de seu ex-aliado nas eleições de 2018 e possível adversário em 2022 como inadequada, inoportuna e de péssima repercussão internacional. “O mundo inteiro repercutiu pessimamente a intervenção do presidente na Assembleia Geral da ONU (…) faltou bom senso e faltou humildade”, disse.

    influencer e diretor jornalístico da Rádio Jovem Pan, Felipe Moura Brasil, fez piada com a fala de Bolsonaro. “O socialismo está dando certo na Venezuela. Todos estão pobres e sem liberdade”, atribuindo as aspas ao presidente. Outro apoiador do governo, Luciano Hang, elogiou o presidente porque “apresentou o novo Brasil”. “Ressurgimos das cinzas após estar à beira do comunismo. Estamos no caminho certo”, disse o dono da Havan.

    Para o professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Oliver Stuenkel, a China se beneficiará desse discurso do presidente brasileiro: “Quanto mais o Brasil se isolar do Ocidente, onde a sociedade civil o considerará um vilão global pelo restante da sua presidência, mais Pequim se beneficiará dessa oportunidade para aprofundar os laços”, opinou. Na avaliação do jornalista Ricardo Noblat, os filhos do presidente estiveram por trás desse pronunciamento. “Discurso de um radical, até aqui, que a ONU não esperava ouvir. (…) O ´gabinete do ódio´ (Carlos Bolsonaro e garotos como ele) ditou o tom do discurso e venceu mais uma vez”, afirmou em sua conta no Twitter.

    Aos políticos de esquerda só restaram a vergonha e a indignação com a fala de Jair Bolsonaro. O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) criticou a falta de postura enquanto presidente da nação e disse que Bolsonaro se comportou como um líder fanático que só se dirige aos seus seguidores. “É um falso patriota. Mentiu no discurso da ONU, ofendeu o cacique Raoni e os indígenas, atacou a imprensa. Confirmou ao mundo que é inimigo da democracia”, enumerou Freixo. A deputada federal e líder da Minoria na Câmara dos Deputados, Jandira Feghali (PCdoB/RJ), foi irônica. “A gente até acha Trump moderado depois de ouvir Bolsonaro”, escreveu em sua conta no Twitter.

  • Ativista do movimento negro participa da Assembleia da ONU e é recebido por Bill de Blaiso

    Ativista do movimento negro participa da Assembleia da ONU e é recebido por Bill de Blaiso

    O debate da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) para a construção de um Fórum Permanente de Afrodescendentes ligado ao Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC) terá a participação do ativista do movimento negro brasileiro, historiador e mestre em Gestão e Desenvolvimento Social Marcos Rezende.

    Além disso, Rezende irá jantar com o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, um dos principais opositores políticos do presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PSL) nos Estados Unidos, responsável por várias críticas duras ao conservadorismo representado pelo capitão da reserva.

    A viagem à Nova York, conta Marcos Rezende, tem o objetivo de promover o encontro de uma comissão de ativistas negros que já atuam junto à ONU com diplomatas, líderes políticos globais e políticos influentes para defender a criação do fórum sobre questões negras das Nações Unidas.

    A ideia é que esse espaço seja ligado ao ECOSOC, e não a outros espaços decisórios da ONU, por causa do poder político e econômico do conselho, além da maior capacidade de influenciar em decisões da Assembleia Geral.

    A ação está alinhada à agenda da Década Internacional dos Afrodescendentes, proclamada pela Assembleia Geral da ONU para o período entre 2015 e 2024 com a finalidade de tomar medidas eficazes contra o problema do racismo pelo mundo.

    “Estamos construindo algo indispensável nos dias de hoje, que é o diálogo. O diálogo com lideranças que podem influenciar nesse espaço de decisão importantíssimo, que é a ONU, para que o Fórum Permanente dos Afrodescendentes esteja dentro de um mecanismo das Nações Unidas com poder de decisão e ação, como é o caso do Conselho Econômico e Social, o ECOSOC. Então é esse o objetivo da nossa ida aos Estados Unidos. Encontrar com o Bill de Blasio, nesse contexto, é uma ação ainda mais simbólica, por ele representar a resistência contra o bolsonarismo, o conservadorismo e o fascismo, e por sua esposa, Chirlane McCray, que é ativista feminista e bissexual, também ser um símbolo dessa luta e uma lutadora guerreira por um mundo mais justo e igualitário”, afirmou Rezende.

    O ativista ainda aproveitará a viagem aos Estados Unidos para encontrar com a vice-prefeita da cidade de Newark, a maior do estado de Nova Jersey, Lígia de Freitas, a fim de discutir parcerias para o financiamento e execução de projetos junto a comunidades negras brasileiras.

    Fundador do Coletivo de Entidades Negras – CEN, o historiador e ativista antirracista Marcos Rezende já tem atuação extensa em vários fóruns da ONU. Foi ele quem entregou ao relator especial sobre liberdade religiosa e de crença da Organização das Nações Unidas, Ahmed Shaheed, um extenso relatório dos casos de racismo, ódio e intolerância religiosa no Brasil. A entrega aconteceu em maio deste ano, durante consulta feita a organizações da sociedade civil em Buenos Aires, na Argentina.

    Em 2018, o CEN e outras instituições denunciaram o Brasil à Organização dos Estados Americanos (OEA), por meio do mesmo relatório. O documento com as denúncias estão em fase de análise pela Comissão de Direitos Humanos da OEA. Por causa desse relatório, Rezende foi convidado pela organização internacional para participar de uma Consulta Pública sobre a temática em Santo Domingo, na República Dominicana, onde novamente os dados colhidos foram apresentados.

  • Porque temem Vitória

    Porque temem Vitória

    Em março de 2016, Victoria Tauli-Corpuz, relatora das Nações Unidas sobre direitos dos povos indígenas, visitou várias aldeias em regiões diversas, no Brasil.

    Victoria Tauli-Corpuz segura a mão de Valdelice Veron e seu povo ameaçado, dançam em volta de mais um túmulo que brota em antigas terras tradicionais dos Guarani.

    Repudiou assassinatos e ataques constantes às comunidades do Mato Grosso do Sul, pedindo providências urgentes das autoridades.

     

    Naquele momento, Dilma Rousseff ainda estava no governo e o assassinato de  indígenas Guarani Kaiowá estarrecia a nação, denúncias de longa data. O governo de Michel Temer nada fez contra o genocídio denunciado. 

    Victoria Tauli-Corpuz recebe documentos de velhos caciques, relatos fartos dos que padecem.

    Jair Bolsonaro, insensível à questão tão grave, esforça-se para o enfraquecimento de Victoria Tauli-Corpuz, segundo notícia publicada no UOL,  esse enfraquecimento da relatoria minaria a capacidade de grupos indígenas de levar suas denúncias à entidade internacional. O argumento seria que, com a ampliação do mandato de outros mecanismos dentro da ONU, não haveria a necessidade de manter uma relatora exclusivamente ao tema.

     

    A relatora das Nações Unidas dançou e chorou com os indígenas brasileiros, visitou seus túmulos cavados em terra vermelha, encaminhou as denúncias recolhidas entre os povos à ONU. 

    Às vésperas da abertura da Assembléia Geral, em Nova York, onde o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sequer foi convidado para um evento paralelo, a Amazônia Possível, os povos indígenas do Brasil estão perplexos com os gestos e palavras a serem ditas na tribuna em astucioso momento.

     

    As maracas tocam nas aldeias, cantam para espantar os maus espíritos.

     

     

    imagens por helio carlos mello©

     

    Leia também:

     

    https://jamilchade.blogosfera.uol.com.br/2019/09/18/indigenas-denunciam-manobra-de-itamaraty-para-esvaziar-seus-direitos-na-onu/

     

    O Martírio dos índios Guarani Kaiowá segundo Vincent Carelli

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  • Filme sobre MST e agroecologia ganha prêmio da ONU

    Filme sobre MST e agroecologia ganha prêmio da ONU

     

    O curta-metragem “O que é agroecologia” venceu o Concurso Global de Vídeos da Juventude sobre Mudanças Climáticas – TVEBioMovies 2019, promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU). O filme foi produzido pelos jovens Rafael Forsetto e Kiane Assis, e ganhou a categoria “alimentação e saúde humana”. O resultado oficial foi comunicado pelos organizadores aos jovens nesta terça-feira (9).

    Em três minutos, o vídeo apresenta a produção agroecológica dos agricultores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do assentamento Contestado, localizado na Lapa (PR), a 60 quilômetros de Curitiba.

    O vídeo será apresentado no dia 23 de setembro na sede das Nações Unidas, em Nova York, e também na Conferência de Mudanças Climáticas da ONU (COP 25) em dezembro, no Chile.

    O assentamento Contestado é reconhecido como referência em agroecologia. Em 2010, as famílias assentadas criaram a Cooperativa Terra Livre, que atua exclusivamente com alimentos sem agrotóxicos. Toda semana são entregues 8 toneladas de verduras, frutas, legumes e temperos agroecológicos em 105 escolas municipais da região, via Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Em 2018 foram comercializadas 270 toneladas de alimentos orgânicos e agroecológicos.

    Para Rafael Forsetto, o vídeo ganha maior relevância diante do contexto brasileiro atual, por apresentar a agroecologia e alternativas à agricultura dependente dos agrotóxicos. “O filme mostra que o MST, movimento tão demonizado pelo atual governo, está na vanguarda desse movimento que visa produzir alimentos saudáveis e proteger o meio ambiente. Sendo reproduzido numa escala tão grande, o filme pode combater a imagem negativa que alguns pintam sobre o MST, através do belo trabalho que seus pequenos agricultores vem fazendo em prol da biodiversidade”.

    Entre as imagens mostradas pelo filme está a produção agroecológica do casal Antônia e Antônio Capitani, moradores do assentamento e integrante do MST. “Nunca imaginamos que o nosso trabalho pudesse ser apresentado na ONU e para o mundo. É uma vitória para a nossa família, mas principalmente para a família do MST, aqui do Contestado e para todas as famílias que desenvolvem a agroecologia”, comemora Antônio.

    O agricultor conta que os resultados conquistados pelo assentamento são fruto de 20 anos de debate e construção coletiva, desde quando as famílias ainda estavam acampadas. “O que o Movimento quer e o que nós queremos é ter o acesso à terra para plantar, cuidar da natureza e de todos os seres vivos. Isso é a prova de que há outro caminho e não esse de se matar através do veneno”, garante Antônio Capitani, que faz parte da coordenação na Cooperativa do assentamento.

    Rafael Forsetto relata como foi a experiência de conhecer de perto a organização da comunidade integrante do MST: “A experiência que tivemos no Assentamento foi inesquecível. Quando marcamos de ir visitar, tínhamos uma ideia completamente diferente do que era o MST e o que eles defendiam. Após passar um dia no Assentamento do Contestado e ver o trabalho de seus moradores, mudamos completamente de opinião. Além de terem sido recebidos com tanta gentileza e alegria pelos residentes do Contestado, vimos que o trabalho que é realizado no Assentamento beneficia tanto o meio ambiente, como também as pessoas. Os membros do movimento agem de maneira exemplar em tudo que vi no Assentamento, desde a merenda escolar orgânica que é produzida para escolas públicas, até a própria educação de qualidade oferecida no Assentamento”.

    A multiplicação das práticas agroecológicas se mantém com a formação oferecida pela Escola Latino Americana de Agroecologia, quem tem sede no próprio assentamento. A instituição foi criada em 2005, em articulação com a Via Campesina, e oferece cursos em parceria com o Instituto Federal do Paraná (IFPR).

  • Coletivo de Entidades Negras denuncia violações de liberdade religiosa durante consulta temática da ONU na Argentina

    Coletivo de Entidades Negras denuncia violações de liberdade religiosa durante consulta temática da ONU na Argentina

    A convite do relator especial sobre liberdade religiosa e de crença da Organização das Nações Unidas (ONU), Ahmed Shaheed, o Coletivo de Entidades Negras – CEN participará, entre os dias 14 e 15 de maio, em Buenos Aires, na Argentina, do workshop ‘Freedom of Religion or Belief and Gender Equality – Regional Consultation’ (Liberdade de Religião ou Crença e Igualdade de Gênero, em tradução livre para o português).

    O evento, que acontecerá na Embaixada da Inglaterra na Argentina, conta com o apoio também da INCLO – International Network Of Civil Liberties Organizations, do CELS – Centro de Estudios Legales y Sociales e do Raplh Bunche Institute for International Studies.

    Essa será a terceira vez, nos últimos três anos, que uma representação do CEN participa de evento convocado pela ONU. Em 2016, o coletivo, organização nacional do movimento brasileiro com atuação também em países da América Latina, foi a Viena e a Nova York para debater a política de drogas no fórum das Nações Unidas responsável por discutir esse tema.

    Assim como ocorreu três anos atrás, o historiador e ativista antirracista Marcos Rezende, Coordenador de Relações Internacionais do Coletivo de Entidades Negras, será o representante da instituição na agenda das Nações Unidas.

    Fundador do CEN, Ogã de Ewá e Ojuobá do Ilê Axé Oxumarê, Rezende tem longa atuação em defesa dos povos e comunidades tradicionais de terreiros de candomblé no Brasil. Em 2008, o militante ficou famoso por fazer uma greve de fome contra a Prefeitura de Salvador, que havia promovido a demolição de um templo de matriz africana, o Ilê Oyá Onipó Neto.

    Também abordou, em sua dissertação de mestrado, defendida em 2017 na Faculdade de Administração da Universidade Federal da Baha (UFBA), a falta de investimento dos órgãos nacionais de patrimônio na proteção das edificações religiosas ligadas à cultura afro-brasileira — demonstrando assim que o racismo estrutural, institucional e religioso impregnados na administração pública e no tecido social são os principais responsáveis pela falta de investimento.

    Em 2018, o CEN e outras instituições denunciaram o Brasil à Organização dos Estados Americanos (OEA), por meio de um relatório no qual foram apresentadas inúmeras violações do direito à liberdade religiosa no País. O documento com as denúncias estão em fase de análise pela Comissão de Direitos Humanos da OEA.

    Por causa desse relatório, o ativista Marcos Rezende foi convidado pela organização internacional para participar de uma Consulta Pública sobre a temática em Santo Domingo, na República Dominicana. Na ocasião, os dados colhidos pelo Coletivo de Entidades Negras foram apresentados.

    Durante o seminário da ONU na Argentina, afirma Rezende, serão mais uma vez apresentadas por ele denúncias de violações do direito de liberdade de culto, mas desta vez no âmbito da ONU.

    Diversos casos do tipo que ganharam notoriedade na imprensa foram acompanhados pelo CEN no Brasil, nos últimos anos. “É essencial que as pessoas que passaram ou passam por qualquer situação de violência que desrespeite à sua liberdade de crença religiosa denuncie, para que, desse modo, a gente leve essa situação aos organismos internacionais”, disse.

    “Nós temos acompanhado isso há muitos anos e continuamos abertos a receber esses relatos e encaminhar de forma que fique exposto para o mundo a forma que nossos religiosos de matriz africana são tratados no Brasil”, afirmou o ativista do movimento negro brasileiro.

    A programação do seminário da ONU contará com mesas sobre discriminação das mulheres e da população LGBTTQI+ por motivos religiosos, direito reprodutivo, formas de proteção ao direito religioso pelo Estado e pelos organismos internacionais, além de momentos de debate livre. O encontro será encerrado com o debate ‘Olhando para o futuro: Sinergias e estratégias’.

    Ativistas de diversos lugares do mundo estarão presentes. Entre os países representados, além do Brasil e da Argentina, estarão Reino Unido, México, Colombia, Peru, Chile, Bélgica, Estados Unidos, Nova Zelândia e Paraguai. O representante do Coletivo de Entidades Negras será o único ativista brasileiro presente.

    O encontro, afirmou o relator da ONU sobre liberdade religiosa, Ahmed Shaheed, resultará em trechos do relatório que ele está preparando sobre a intersecção entre o direito à religião ou crença e à igualdade de gênero. O documento será apresentado ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas em março de 2020.

    “Atualmente, estou fazendo trabalho de campo para compreender a natureza do problema em todo o mundo, e para relatar e fazer recomendações sobre como os padrões e ferramentas internacionais podem ser úteis para endereçar as complexidades e sinergias entre liberdade de religião ou crença e igualdade de gênero. Este trabalho envolve consultas regionais e workshops de intercâmbio em seis países e reunirá Processadores Especiais, instituições regionais de direitos humanos, sociedade civil e defensores dos direitos humanos”, explicou Shaheed por e-mail.

    Além de levar denúncias já realizadas de violação da liberdade religiosa e de culto, o Coletivo de Entidades Negras está recebendo novos casos para encaminhar à ONU durante o evento. Pessoas interessadas em encaminhar denúncias podem fazê-lo através do e-mail cenbrasil.comunicacao@gmail.com.