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  • MTST vai ocupar a Câmara de São Paulo

    MTST vai ocupar a Câmara de São Paulo

    O MTST (Movimento Trabalhadores Sem Teto) se propõe a mais uma ocupação de peso em São Paulo, mas desta vez sem lonas, buscando uma construção coletiva para a câmara municipal da maior cidade do país. A chapa, formada por três mulheres negras do movimento, é um dos maiores desafios lançados depois de o coordenador nacional do movimento, Guilherme Boulos, ter saído pelo PSOL para a presidência, em 2018.

    Débora Pereira, Jussara Basso e Tuca (Valdirene Cardoso) formarão a chapa que vai ser lançada pelo PSOL. O anúncio de que pretendem concorrer aconteceu no Teatro Oficina, região central de São Paulo, no dia 11 de dezembro de 2019, e contou com a presença de Guilherme Boulos e Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL, entre outros.

    As três candidatas coordenam ocupações em diferentes regiões da cidade e, com isso, buscam trazer experiências de cada um desses espaços das “periferias de São Paulo que são, quase, municípios diferentes” e que, distantes e diversos, compõem a cidade. Cada uma trilhou um caminho diferente, mas chegaram até o MTST buscando encontrar sua casa. Ao que parece encontraram mais do que isso, como espaço para falar e serem ouvidas “nesse movimento que empodera mulheres”.

    Na cidade que tem hoje uma câmara municipal com 9 vereadoras entre 55 cadeiras, a chapa coletiva tem conceito similar à chapa coletiva estadual na Assembleia Legislativa de São Paulo, (Alesp), a Bancada Ativista, formada hoje por vinte uma pessoas. A novidade da chapa proposta pelo MTST é que Débora, Jussara e Tuca são do movimento e buscam trazer “aquilo que a gente aprendeu dentro do MTST, todas as nossas lutas, é o que vamos procurar garantir para nosso povo. Não só o povo do MTST, como todo o povo comum, que luta. Todo o povo periférico, trabalhador”.

    A câmara tem sido, desde o começo dos mandatos atuais, em 2016, um espaço de forte apoio para o prefeito Bruno Covas (PSDB), que no final de 2018 conseguiu aprovar a reforma da previdência no município e tem visto diversos projetos seus aprovados  Dos 55 vereadores apenas nove são do PT e dois do PSOL.

     

    Quem são

    MTST vai ocupar a Câmara de São Paulo
    Débora Pereira durante ato no Teatro Oficina
    Foto de Lucas Martins / Jornalistas Livres

    DÉBORA

    “Meu primeiro contato com MTST foi em 2007. Em uma ocupação perto da casa dos meus pais, em uma região construída com mutirão. Meu pai foi ver como se organizava e depois de conhecer fiquei um tempo, mas depois me afastei. Já em 2012 eu resolvi entrar no movimento para fazer minha luta por moradia, na ocupação Novo Pinheirinho do Embu, que levou o nome por conta do massacre que aconteceu no despejo violento do Pinheirinho original, em São José dos Campos. Eu fui somente como acampada, na época eu trabalhava no E.C. Banespa como cozinheira e à noite eu fazia minha faculdade. Nessa ocupação, eu queria ser coordenadora, mas as condições não permitiram, porque tinha meu filho e as questões da faculdade. E algo me encantou muito nessa ocupação: eram as mulheres que tocavam, mulheres que cumpriam o papel da coordenação, mulheres que faziam assembleia. Eu fui com objetivo da moradia, mas fazíamos lutas diversas: lutávamos por vaga na creche para crianças da região, por melhoria de transporte e por melhoria de saúde. Isso me instigou, chamou minha atenção. Em todas as lutas que a gente foi, nessa ocupação, a gente saiu com alguma conquista, resultado. Isso me encantou no MTST. Eu queria muito, muito mesmo, entender direito o movimento. Em 2013 terminei minha faculdade e a gente foi ajudar uma galera em outra ocupação, na região do Campo Limpo, a ocupação Dona Deda. E decidi que queria ser coordenadora, nesse movimento que empodera mulheres. Antes de conhecer o MTST eu não falava, era travada. A gente vive numa sociedade que fala ‘lugar de voz, lugar de liderança, não é de mulher’ e nas rodas de conversa nas ocupações sempre o movimento empoderava isso. Hoje eu organizo a ocupação Marielle Vive, na zona norte. Essa ocupação é um grande orgulho, foi o povo que escolheu esse nome, já que a ocupação aconteceu pouco tempo depois da morte da Marielle e todo mundo estava muito revoltado. Escolhemos o nome porque Marielle seria o exemplo da luta para a gente. Uma mulher, mulher negra, que veio da periferia e lutava pela periferia. Que denunciava o genocídio, o massacre do povo negro. O povo todo clamou para que o nome fosse Marielle Vive, pra que a gente não deixasse cair no esquecimento a luta dela e que a ocupação fosse uma semente de Marielle.”

    Jussara Basso durante ato no Teatro Oficina
    Foto de Lucas Martins / Jornalistas Livres

    JUSSARA

    “Entrei no movimento buscando minha moradia, em 2012, na ocupação Novo Pinheirinho de Embu das Artes. E identifiquei com as propostas políticas do MTST e estou até hoje. Acho que o que me seduziu a permanecer foi essa construção coletiva, essa ideia de você fazer parte de algo muito maior do que você mesmo.”

    Tuca durante ato no Teatro Oficina
    Foto de Lucas Martins / Jornalistas Livres

    TUCA

    “Tenho 46 anos. Nasci em São Paulo. Sou de uma família de sete irmãos, comigo. Filhos de pais mineiros. Conheci o MTST em 2014 quando se instalou aqui em Itaquera a [ocupação] Copa do Povo. Em 2014 tivemos a conquista do terreno e lutamos ate hoje para a conquista da obra. Em 2 de junho de 2015 foi fundada a ocupação Dandara dos Palmares, no Jd Alto Alegre. Nisso fui até lá com companheiros e passamos a tocar aquela ocupação. Que já tem o empreendimento pronto, para ser entregue no próximo ano. Para 216 famílias.”

    O que é a mandata do MTST?

    Tuca: “Tudo aquilo que a gente aprendeu dentro do MTST, todas as nossas lutas, é o que vamos procurara garantir para nosso povo. Não só o povo do MTST, como todo o povo comum, que luta. Todo o povo periférico, trabalhador. É o que a gente pretende buscar, fazer a mudança, dentro da câmara. Ocupando a câmara enquanto mulheres. MTST ocupando. Mostrar o valor que nós mulheres temos, nós do MTST, nós que lutamos. Até onde podemos chegar e revolucionar em cima disso tudo. É um mandato coletivo de mulheres, pra isso mesmo. A câmara não foi feita para as pessoas ficarem lá. Se aposentarem lá dentro, ocupando a bancada, sem ao menos darem os nossos direitos. Chegou a hora de a gente chegar lá e fazer essa mudança, com o mandato coletivo de mulheres. Estamos lá para ocupar, não para ocupar por um espaço de tempo indeterminado, mas sim pra fazer a mudança e renovação.”

    Jussara: “A principal ideia, principal bandeira, é a representatividade. A gente tem apenas nove mulheres vereadoras hoje na câmara. Nenhuma delas é negra. A principal experiência que surge de tudo isso é que nós três atuamos na construção coletiva. Na desconstrução dessa cultura de colocar a mulher em segundo plano na sociedade. A experiência de luta do MTST traz esse sentido do coletivo, da construção da unidade. Da solidariedade. O dialogar com a quebrada e saber o que rola e quais são as mazelas. Aquilo que dói na pele de quem mora do lado de cá. Isso é uma característica muito nova e principal. E retomar o trabalho de base, que foi abandonado por uma parte da esquerda, que é você estar nas bases, estar com as bases e, a partir disso, construir propostas de políticas que atendam reinvindicações que estão esquecidas. Você anda na quebrada e vê a falta de segurança e aqueles que deveriam garanti-la são os primeiros a oprimir, violentar e assassinar jovens. Você anda na quebrada e vê a falta de saneamento básico, de iluminação, de lazer, de cultura. Vê que a saúde pública está cada vez mais sucateada. Vê que as pessoas estão se virando como podem pra gerar renda para suas casas e que não existe uma política que realmente incentive isso. Tem muita coisa para fazer. Muita coisa. E ouvir as pessoas vai trazer elementos para a construção de políticas públicas muito efetivas e potentes. Eu acredito que, sinceramente, ocupar a câmara vem no sentido de ocupar a política com consciência. Consciência social – é isso que significa. Imagino que seja muito necessário que, no debate eleitoral de 2020, a gente traga muita qualidade a discussão sobre esse avanço neoliberal, que vem retirando direitos. E esse avanço de uma direita radical que persegue o pobre, o preto, o favelado, a mulher, o homossexual. A gente precisa ser a resistência dentro dos espaços institucionais. É um grande desafio, sem dúvida, mas acho que tudo que a gente construiu até aqui, enquanto MTST, vai ser uma ferramenta importante pra dentro da instituição.”

    Débora: “O que as pessoas podem esperar é que haverá vereadoras que, de fato, vão representar os seus interesses. A gente sabe que a luta não vai ser fácil, mas estando lá dentro vamos dar voz ao povo da periferia, vamos pontuar as dificuldades e trazer melhorias para a periferia, porque na maioria das vezes grande partes dos políticos que estão lá, não estão para representar o interesse da maioria do povo da periferia. Estão lá para representar interesses individuais ou de uma minoria. Se a gente chegar lá, com certeza, na câmara vai ter voz da periferia. Vai ter voz dos sem teto. Vai ter voz das mulheres. Vai ter voz do povo negro.”

    Projetos

    Débora: “Existem questões que são diferentes e outras que são iguais. As questões da violência policial contra a periferia e de falta de creche são iguais. Mas, conversando entre nós três, percebemos que outras questões manifestam-se de forma diferente. Por exemplo. Na zona leste e norte temos um problema sobre algumas escolas que estão sendo fechadas por conta do argumento de não ter demanda e a gente que mora na região sabe que tem muita demanda. Muitas pessoas que tinham escola do lado de sua casa estão tendo que procurar escola em lugares mais distantes, por conta do fechamento. Outra coisa que é muito forte na zona norte é a questão da saúde, da falta de médicos ou cada dia um médico diferente, além de remédios faltando, da falta de saúde voltada para mulher ou conseguir consultas especializadas. A infraestrutura também é outra falta grave. Na sul, a Ju pode comentar melhor, a questão muito forte na luta da mobilidade e o trânsito para chegar ao centro. Não é que na Norte não exista essa luta, mas sem tanta força. E na Leste, pelo que já escutei da Tu, tem muito da questão da saúde e fechamento de escola. O legal de serem três regiões diferentes é que as lutas que têm em comum a gente pode pegar as experiências de uma região para a gente tentar aprender e nos fortalecer. Ver que a gente vive numa mesma cidade, com regiões diferentes e vários problemas diferentes.”

    Tuca: “O contraponto agora é o olhar da periferia, trazendo as pautas da periferia pra cidade. Como a da saúde, educação, transporte e segurança. Esse é nosso ponto de vista, trazer as pautas periféricas enquanto MTST.”

    Jussara: “Existe uma diversidade nas periferias de São Paulo que são, quase, municípios diferentes. Não dá pra você pautar a periferia de São Paulo, sem singularidade. É muito diferente. As pautas de reivindicações basicamente são as mesmas. Mas as pautas prioritárias dessas regiões diferem. Se pegamos o extremo sul, já mais pro Jd Ângela, é muito forte o debate sobre a mobilidade urbana, lá tem um afunilamento do trânsito local, na estrada do M’Boi Mirim que liga, inclusive, as cidades da região metropolitana (Embu, Embu-Guaçu, Itapecerica da Serra) ao município de São Paulo e a região central. Por outro lado, é uma região extremamente populosa, com a necessidade de transporte público muito grande o que causa problemas gravíssimos. São debates muito antigos, como a duplicação da M’Boi e as remoções necessárias para essa duplicação, já que famílias inteiras vão perder suas casas e precisam ser indenizadas. Outro debate antigo, como o Metrô JD Angela, e as remoções necessárias para a ampliação necessária da linha Lilás do Metrô. E se você for para a zona leste o debate é muito grande sobre os fechamentos dos cursos noturnos das escolas. Houve uma mobilização muito grande dos estudantes, nesse sentido. Lá também é crescente a discussão sobre saúde pública, sendo uma região superpopulosa. Já na região norte você tem outras caraterísticas de debate, que também traz as suas prioridades mais locais. As companheiras vão poder trazer elementos que eu não tenho acúmulo suficiente. Mas você percebe que existe essa diversidade e mesmo aqui na sul, onde moro, você tem três extremos (Grajaú, Jd Angela e Macedônia, que está no limite da cidade, o que traz mais carências porque o poder público não alcança os limites municipais). A cidade de São Paulo tem uma diversidade de debates e necessidades muito grande e de prioridades. A gente precisa trazer essa pluralidade para dentro do institucional. Os vereadores, os políticos de carreira, essas pessoas que estão sentadas há décadas na cadeira do poder público, elegem a sua região, seu curral eleitoral, e ali eles fazem políticas de acordo com seu eleitorado, mas sem atender toda a população local. E só se pautam no período eleitoral, depois esquecem. Outra questão é o orçamento que vem das emendas parlamentares e muitas vezes é destinada para um grupo específico e não atende a população. Precisamos, realmente, democratizar a política. Para além da candidatura do companheiro Guilherme Boulos, ano passado, essa nova candidatura, esse novo período eleitoral traz pra nós a possibilidade de trazer pra pessoas, claramente, o que é o cargo, quais são as competências do cargo.”

    Como vai ser a pauta da moradia e a relação com o MTST?

    Tuca: “Isso vai depender de nós mesmos, MTST, enquanto ocupação lá dentro da câmara. Tudo vai depender de nós. A influência vai ser muito forte e positiva. Vai fortalecer mais ainda os movimentos sociais, não só o MTST. Estaremos lá por todos.”

    Débora: “No nosso programa político uma das pautas principais vai ser a questão da moradia. A gente está vivendo uma situação em que não existem mais políticas habitacionais. O foco na nossa mandata vai ser a questão de moradia”

    Jussara: “O município lançou agora uma proposta de COHAB faixa 1, que vai seguir os mesmos métodos do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), no sentido de produzir habitação no município. Uma grande questão é pautar as leis de zoneamento, como temos áreas municipais que podem se tornar ZEIS [Zonas Especiais de Interesse Social], que podem atender a moradia popular. Existem famílias cadastradas há mais de trinta anos e nunca foram atendidas. Você precisa produzir habitação de acordo com o déficit. Também a questão do número de imóveis na cidade que permanecem vazios e precisam ser discutidos – de que forma a gente consegue estabelecer políticas públicas de combate à especulação imobiliária para que tenha casa para quem precisa de casa? A população de baixa renda precisa acessar os espaços centrais da cidade. Entrar na discussão do direito à cidade é de extrema importância. O exemplo do que aconteceu em Paraisópolis, aquilo que aconteceu com aqueles jovens, está ligado a essa ausência de acesso. Um transporte caro que as pessoas não conseguem acessar a cultura, o lazer, que estão mais presentes na região central. Assim procuram da forma que podem morar, se divertir, estudar, trabalhar. Essa mandata não pode e não vai ser um mecanismo exclusivo do MTST, mas sim um mecanismo de discussão de todas as políticas necessárias para atender todas as pessoas que precisam de políticas sociais. É de fundamental importância que a gente tenha interlocução com diversos movimentos, com diversos personagens que atuam no sentido de trazer mais direitos para as pessoas.”

    As futuras candidatas durante ato no Teatro Oficina
    Foto de Lucas Martins / Jornalistas Livres
  • Alunos da UFMT conquistam primeiras vitórias na luta contra aumento no Restaurante Universitário

    Alunos da UFMT conquistam primeiras vitórias na luta contra aumento no Restaurante Universitário

    Texto e fotos por: Tylcéia Tyza e Vitória Gomes, especial para os Jornalistas Livres

    Devido aos recentes cortes nos repasses do governo para as universidades federais, muitas instituições estão buscando cortar custos. Na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus Cuiabá, a proposta da atual reitora Myrian Serra era aumentar os valores pagos pelos alunos no Restaurante Universitário (RU). O movimento estudantil se organizou em protestos que duraram toda a última semana de abril e acabam de conquistar uma primeira vitória: o reajuste programado para maio está adiado. Mas a luta deve continuar até a revogação total da proposta.

    O DCE ocupou o prédio da reitoria do principal campus da UFMT

    A reitoria afirma que o objetivo da mudança é reduzir os gastos com a alimentação, que no ano passado chegou a R$ 15 milhões, sendo R$ 3 milhões acima das despesas. Atualmente os alunos pagam R$ 0,25 pelo café da manhã e R$ 1,00 para almoço e janta. Com a aprovação da nova política os valores passariam a ser R$ 2,50 pelo café da manhã e R$ 5,00 para almoço e janta. A reitoria alega também que os alunos que não possuem renda suficiente (1,5 salário mínimo) e que atualmente são auxiliados pela Pró-reitoria de assistência estudantil (PRAE), deixarão de receber essa renda, tornando-se isentos de qualquer custo no Restaurante Universitário. Entretanto, os alunos assistidos alegam que o valor recebido da PRAE não só custeia o valor do RU, como também custeia suas refeições dias de domingo e feriados, quando o Restaurante Universitário não funciona.

    Estudantes de Várzea Grande ocuparam o Bloco Didático II no Campus Cuiabá

    Ao saberem desse ajuste os estudantes logo começaram a se organizar para impedir que a proposta fosse estabelecida definitivamente. Na terça-feira (24/04), um dia após a audiência pública para tratar da nova política de Alimentação Estudantil, os alunos do Campus de Cuiabá bloquearam a principal entrada que dá acesso à Universidade (Guarita I) em forma de protesto, já que na audiência da data anterior os administradores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) mantiveram a proposta do reajuste nos preços.

    Outros Campi da UFMT que também sofrerão com o reajuste no valor do Restaurante Universitário abraçaram a causa e se posicionaram contra a nova política de alimentação. Os campi da UFMT de Rondonópolis e Barra do Garças (Araguaia) iniciaram o movimento de ocupação dos espaços da Universidade Federal na sexta-feira (20), e em Sinop, além da ocupação, foi decretada greve estudantil.

    O Reitor em exercício, Evandro Silva, redigiu na sexta (27/04) um compromisso de suspensão do aumento

    No fim da manhã de sexta-feira (27/04) os alunos de Cuiabá conseguiram que o vice-reitor, naquele momento atuando como reitor em exercício, redigisse em uma folha de papel um pequeno texto suspendendo “a implantação da nova política de alimentação da UFMT, para o mês de maio de 2018, em atendimento à reivindicação dos estudantes”. Contudo, na conversa com os alunos, ele afirmou que a implantação da proposta seria retomada em junho.

    O reajuste deixaria os alunos da Universidade Federal em incerteza e medo, tendo em vista que o RU não é apenas uma fonte alimentícia, mas faz parte de uma política maior de garantia da permanência dos alunos na Universidade. Assim, os estudantes da UFMT pretendem continuar mobilizados para ter acesso às planilhas totais de gastos de modo a colaborar para encontrar outras fontes de despesas que não atinjam o direito à universidade pública gratuita. A suspenção temporária do aumento foi uma vitória, mas o objetivo maior é sua revogação total e o fortalecimento das políticas de inserção, inclusão e permanência de estudantes das mais diversas origens.

    Veja mais em:

    http://www.adufmat.org.br/2015/index.php/comunicacao/noticias/item/3014-estudantes-vencem-a-primeira-batalha-mas-a-luta-contra-o-aumento-do-ru-continua

    http://www.adufmat.org.br/2015/index.php/comunicacao/noticias/item/3004-estudantes-tecnicos-e-docentes-da-ufmt-se-colocam-contrarios-as-alteracoes-na-politica-de-alimentacao-propostas-pela-reitoria

    http://www.adufmat.org.br/2015/index.php/comunicacao/noticias/item/3010-nota-de-apoio-a-luta-dos-estudantes-pela-manutencao-do-restaurante-universitario-universal-a-r-1-00

  • Reitoria da Universidade Federal do Pará está ocupada desde ontem

    Reitoria da Universidade Federal do Pará está ocupada desde ontem

    Depois de assembleia dos estudantes, parte dos discentes  ocuparam ontem, 7 de novembrode 2016, o prédio da reitoria da UFPA. Em assembleia confusa parte dos estudantes que não concordaram com a Ocupação impediram o acesso ao prédio dos estudantes pró-ocupação.

    Houve princípio de tumulto com registros isolados de agressão de membros das duas partes.

    A assembleia que estava prevista para dar voz aos representantes de centros acadêmicos inscritos acabou não acontecendo pela falta de organização e por falas terem sido abafadas pela maioria.

    A partir daí a coordenação da plenária decidiu que os pró ocupação deveriam sentar para constar voto e o mesmo foi pedido depois para os contra ocupação que recusaram o método abordado e ainda reivindicando que somente alunos devidamente identificados votassem. Como isso não ocorreu, houve a divergência que se vê no vídeo no ato da ocupação do Prédio da Reitoria.

    Após a resolução da divergência, os estudantes conseguiram ocupar a reitoria da Universidade Federal do Pará. Lutando contra a PEC 55 (antiga PEC 24, corte de verbas durante 20 anos nas áreas de saúde e educação) e a MP da reforma do ensino médio apoiando os secundaristas.

    Em nota, a UFPA informou que está acompanhado e pretende dialogar com os estudantes contrários a PEC 55 e a reforma e entende que essa é uma manifestação justa e espera que o Governo e o Congresso devem tomar outras atitudes para a crise fiscal mantendo os investimentos na Educação e Saúde.

    Confira a nota divulgada pela UFPA a integra:

    A Universidade Federal do Pará (UFPA) informa que reconhece a legitimidade, respeita e dialoga com os movimentos contrários à aprovação pelo Congresso Nacional da Proposta de Emenda Constitucional 55/2016, que congela por vinte anos os gastos públicos.

    Conforme declarado em Nota Oficial de seu Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão, datada de 25/10/2016, a UFPA espera que o Governo e o Congresso Nacional, em entendimento com a sociedade, construam uma solução para a crise fiscal que preserve a capacidade de investimento público em Educação, Ciência e Tecnologia, garantindo um ciclo de desenvolvimento com inclusão e superação da pobreza e da desigualdade.

    Assessoria de Comunicação Institucional

    Após ocupação, estudantes da OcupaUFPA fazem uma carta aberta aos que apoiam a causa explicando os motivos que os levaram a manifestar-se dessa forma, confira abaixo:

    “Nós, estudantes de pós-graduação da Universidade Federal do Pará (UFPA), nesta Carta Aberta, apresentamos nossa posição à sociedade brasileira ostensivamente contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) agora sob o No. 55 no Senado, antes PEC 241 na Câmara Federal. Nossa oposição incorpora o movimento dos estudantes brasileiros que neste momento ocupam mais de 1.100 instituições de ensino público em nosso país em protesto ao governo ilegítimo que tomou de assalto o Brasil e, com ele, o desmonte do Estado Democrático de Direito através da institucionalização do atraso que nega direitos sociais e coletivos garantidos especialmente nos governos de esquerda.
    Há um movimento político no Brasil em oposição ao golpe, e que hoje tem no movimento estudantil uma de suas principais forças de combate. As ocupações em escolas, institutos e universidades fazem parte da resistência ao desgoverno de Michel Temer. A hora de refiná-la é agora, e isso envolve diversos aspectos, tais como organizar as bases populares e sociais, politizar o debate não permitindo reducionismos e fazer a contra-informação da mídia-mercadoria. Não é possível fazer política hoje no Brasil sem “nacionalizar” o debate. A PEC 55 é um criminoso pé de chumbo no acelerador da crise sofrida pela nação brasileira.
    A própria Universidade Federal do Pará, por meio do seu Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão se declarou, em coro, contrária a PEC 55, por considerar que “a medida encerra graves riscos ao financiamento da educação e da pesquisa científica e tecnológica no país, comprometendo o enorme esforço realizado nos últimos anos com vistas à expansão da educação superior pública e à internacionalização da ciência nacional em patamares de excelência”. Cabe a nós, estudantes, cobrar da Administração Superior um posicionamento mais firme contrário ao governo ilegítimo, é preciso que a UFPA se posicione contra a redução de vagas da Graduação, contra o corte de bolsas e diante de medidas como a PEC discutir o orçamento da instituição de forma PARTICIPATIVA.
    No âmbito da pós graduação diversos retrocessos já foram anunciados como por exemplo, a redução em quase 30% na oferta de bolsas de produtividade, inclusive sobre bolsas ainda em vigência, e que pleiteiam renovação para dar continuidade em suas pesquisa.
    Ao mesmo tempo, que se aprovou tal congelamento de gastos em direitos sociais, visando o estancamento da crise financeira atual, a contrassenso, a mesma Câmara de Deputados aprovou, 8 horas depois, um aumento de salários de servidores públicos federais, que, estima-se, custará em torno de R$ 3,094 bilhões por ano ao Tesouro Nacional. No âmbito internacional, a mídia também noticia o fato e avalia esta PEC como um retrocesso para o Brasil. E mais: um perigo eminente para um projeto de sociedade de um país em desenvolvimento.
    Essas são apenas algumas das incongruências políticas que têm se observado na atual conjuntura, que, quanto mais procurar informar-se poderá ter sua compreensão estendida e, consequentemente, avaliar-se-á preocupantemente. Outras medidas virão e, pior, não só do governo golpista. Do judiciário, por exemplo. Gilmar Mendes acaba de aderir à tese da supremacia do negociado sobre o legislado nas disputas entre o capital e o trabalho. E anulou a jurisprudência que consagra a extensão do acordo anterior em caso de impasse em negociações. ‘Protegia só o trabalhador’, justificou.
    Sabemos que nos encontramos em situação de privilégios em relação aos alunos da Graduação, que vem sendo historicamente sucateada. Realizamos também a auto-crítica em assumir que a Pós-Graduação por muito tempo se manteve apática diante das pautas dos estudantes da UFPA, mas na atual conjuntura assumimos um compromisso de reforçar a luta estudantil por uma Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade.
    Logo, nosso posicionamento será de LUTA. Vamos #ocuparocampusUFPA! vamos #OCUPARBRASIL! E exigimos que nossos representantes, agora do Senado Federal, ouçam nossos gritos e o de milhões de estudantes do País e coloquem sua credibilidade a serviço da defesa da democracia social, do Estado de Direito, da universalização de direitos previstos na Carta Cidadã de 1988, da participação popular na repactuação necessária do desenvolvimento brasileiro e, portanto, contrários a PEC 55.

    Fora Temer !
    Nenhum direito a menos!

    Ocupa campus UFPA !

    Belém, 07 de novembro de 2016.”

     

     

  • Polícia Militar invadiu Universidade Estadual de Goiás e levou presos professor e estudantes.

    Polícia Militar invadiu Universidade Estadual de Goiás e levou presos professor e estudantes.

    No dia 01 de Novembro, estudantes da Universidade Estadual de Goias decidiram em assembléia ocupar o campus Cora Coralina. A polícia foi chamada e, sem mandado, invadiu a Universidade e prendeu 15 pessoas, entre elas o professor Euzébio Carvalho, que acompanhava a votação (em sua pagina no face ele publicou um relato sobre o que aconteceu naquele dia, veja aqui – Relato da minha prisão). Todos eles foram algemados e presos. No dia 03, mesmo sabendo dos riscos que a polícia militar representava diante das ocupações, os estudantes do campus Eseffego, decidiram em assembléia fazer outra ocupação que resiste até o momento.

    Os estudantes da UEG estão ocupando contra a PEC 55 (antiga PEC 241 que define o corte de investimentos nas áreas da saúde e educação por 20 anos), em apoio aos secundaristas que resistem contra a MP da Reforma do Ensino Médio, a qual retirará as matérias de filosofia, história, artes e educação física. Ainda afirmam que lutam por investimentos na própria universidade, pois há muito tempo as verbas foram congeladas pelo Governo Marconi, deixando os campus sucateados, defasando na contratação de novos funcionários públicos e professores.

    Em nota, o reitor Haroldo Reimer apenas “lamentou” o “constrangimento sofrido por docentes e discentes no Câmpus Cora Coralina e sobre a ocupação do Câmpus Eseffego garantiu que “buscará priorizar o uso dos meios diplomáticos para a superação dialógica e negocial das questões.”

    Vamos esperar, e cobrar do Reitor que cumpra sua palavra e dialogue ao invés de chamar a polícia para invadir a Universidade e prender professores e alunos que lutam pelo não congelamento de investimentos com educação, previsto pela PEC 241 de acontecer pelos próximos por 20 anos.

    Aqui a integra da nota da Reitoria da UEG:

    A Reitoria da Universidade Estadual de Goiás (UEG), em face dos eventos relacionados à ocupação de seus prédios, no contexto das manifestações relativas à tramitação da PEC 241/55 e de outras medidas, vem manifestar:

    A Reitoria da UEG compreende e reafirma que o ambiente de livre pensamento e de livre manifestação das ideias e dos posicionamentos é um aspecto constitutivo da vida acadêmica. A promoção e a manutenção de debates são mecanismos que garantem o exercício desta pluraridade intrínseca à vida universitária. As formas de manifestação, contudo, devem observar outros direitos também assegurados.

    A gestão democrática não é exercida apenas nos processos decisórios, em que toda a comunidade acadêmica tem voz por meio de representantes. Essa gestão democrática deve estar presente, também, na construção de consensos diante das diferenças, com a observância de formas de manifestação conforme o desenvolvimento dos debates.

    O diálogo e a negociação são caminhos para a superação de conflitos, pois a coerção e a repressão não alimentam no ambiente da Universidade o seu fortalecimento institucional.

    A relação e o diálogo com o mantenedor da UEG, o governo do Estado de Goiás, é fundamental para a consolidação e a trajetória da Universidade, sendo compromisso permanente da Reitoria.

    Outros compromissos fundamentais da atual gestão da UEG são a preservação e a garantia da vida acadêmica, com a manutenção das atividades finalísticas conforme planejamento aprovado pelo Conselho Superior Universitário. Os recursos legais serão uma ferramenta utilizada caso as atividades da Instituição sejam comprometidas.

    Em relação aos eventos ocorridos no Câmpus Cora Coralina, a Reitoria da UEG lamenta os constrangimentos sofridos por docentes e discentes.

    Sobre a ocupação do Câmpus Eseffego, salientamos que essas ações comprometem a regularidade acadêmica da UEG e que a Reitoria buscou e buscará priorizar o uso dos meios diplomáticos para a superação dialógica e negocial das questões.

    Anápolis, 4 de novembro de 2016.

    Haroldo Reimer
    Reitor da Universidade Estadual de Goiás

    Veja abaixo o relato do professor Euzebio Fernandes de Carvalho preso na noite durante a ocupação do campus Cora Coralina:

    “Após o término de minhas aulas, às 22h30, me deparei com a movimentação dos estudantes que, de forma legítima, manifestavam-se pacifica e politicamente em defesa da Educação Pública brasileira. Para isto, eles decretaram a ocupação da Universidade Estadual de Goiás (UEG), campus Cora Coralina, na Cidade de Goiás.
    Percebendo a reação contrariada de alguns funcionárixs do campus com a ocupação, argumentei que precisávamos garantir a integridade física dxs manifestantes; que eles não eram nossxs inimigxs e que eram legítima e justa as suas reivindicações. Lembrei-lhes também que a direção do câmpus estava ciente dosacontecimentos pois já tinha repassado algumas orientações para o segurança do prédio e falado com alguns estudantes da ocupação. Portanto, não cabia a mais ninguém qualquer outro encaminhamento, principalmente, chamar a polícia. Alguns argumentaram que a ocupação prejudicaria a realização do ENEM, no próximo final de semana.
    Após xs funcionárixs deixarem o prédio, foi realizada uma assembléia dos manifestantes. Na oportunidade, perguntei sobre a pertinência de minha presença entre eles (já que o movimento era dos estudantes). Ponderaram que a presença de um professor no prédio, principalmente, nas horas iniciais da manifestação, seria importante para aumentar a sensação de segurança além de que isso também favoreceria o movimento.
    Decidi ficar e acompanhá-lxs. Antes do fim da assembléia, contudo, chegaram várias viaturas de polícia, fortemente armados e arrombaram o cadeado que xs estudantes tinham colocado no portão principal.
    Momentos depois, os policiais impediram a entrada do colega professor da unidade que havia chegado para nos apoiar. Depois desse momento de tensão, em que o professor foi empurrado para fora, o tenente coronel Ronaldo Pereira Soares, que comandava a operação, disse que eu deveria pedir “aos alunos para saírem da unidade porque senão nós vamos conduzir todo mundo para a DP”.
    Perguntado sobre o motivo daquela ação, respondeu-me que tinha recebido uma denúncia de invasão do prédio e que, naquele momento se caracterizava o flagrante do crime de esbulho possessório.
    Solicitei a apresentação de algum documento que legitimasse suas ações, tanto a de entrar no prédio quebrando o cadeado quanto de nos retirar à força da UEG. Nenhum documento foi apresentado.
    Recusando seu chamado para sair do interior da unidade, ele ordenou que eu fosse algemado. Um outro PM, bastante exaltado, puxou meus braços para trás e colocou as algemas. Reclamei que elas estavam me machucando e então ele apertou ainda mais, puxando-me pelo braço rumo à viatura. Disse-lhe várias vezes que estava sentindo dor. Sem qualquer resultado. Também avisei que estava sem meus documentos pessoais e pedi para pegá-los. Sobre ambas as coisas fui totalmente ignorado.
    Aleguei que eu era um professor efetivo daquela instituição, um funcionário público estadual, e não um criminoso, e que portanto não se justificava aquele tratamento violento e humilhante.
    Além do ódio que pairava no ar, emanado da grande quantidade de soldados que empunhavam suas armas de grosso calibre, havia naqueles policiais a satisfação e o prazer pelo exercício do poder total ao nos tratar como melhor lhes convinha, independente de qualquer bom senso ou direitos constituídos e garantidos no texto da lei.
    Fui praticamente jogado num porta-malas de um ‘camburão’ sujo e apertado. Carregaram-me como um pacote de carne que deveria se amassar de um lado para o outro do porta-malas nas curvas fechadas e rápidas da viatura. Tudo era feito para machucar o meu corpo e a minha dignidade.
    Chegando na delegacia, demoraram a tirar as algemas, mesmo eu argumentando que já estava dentro da delegacia. Depois de certo tempo, o policial mais graduado (seu colete à prova de balas não continha identificação) me informou que duas pessoas funcionárixs do câmpus denunciaram a invasão do prédio pelos estudantes, pedindo a intervenção da PM (não os nomearei aqui para evitar qualquer exposição desnecessária, mas seus nomes me foram dito, inclusive, perguntou se eu conheci suas funções dentro da UEG).
    Logo depois chegaram os 13 estudantes. Todos os homens algemados, inclusive um que não participava da ocupação, mas que apenas filmava, pelo lado de fora, a ação da polícia.
    Apreenderam todos os seus celulares. Segundos depois, um outro policial tomou de minhas mãos o celular que eu usava para informar as pessoas sobre o que se passava dentro da delegacia, expondo toda a sua ‘autoridade’ masculinamente repulsiva.
    O delegado disse que depois de feito o exame de corpo de delito e registrado o Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) seríamos liberadxs. Por volta das três horas da madrugada do dia de finados, fomos todos liberados com a condição de voltar as nove horas do dia 03 para prestar os depoimentos.
    Muito emocionadxs com tudo, ao sair nos deparamos com uma grande quantidade de pessoas nos esperando: amigxs, professorxs, familiares e outrxs apoiadorxs. Muitos abraços e a sensação de que a luta é justa e cada vez mais necessária.
    Meus punhos ainda doem e apresentam as marcas das algemas. Minha dignidade ainda está marcada com a injustiça. Mas a minha consciência, confortada pelo abraço do Rei da Justiça, diz que a nossa luta é cada vez mais necessária e correta.
    E você? O que você pode fazer diante do meu relato? Da nossa experiência traumática? Procure uma ocupação. Manifeste seu apoio. Conheça os malefícios da PEC do ‘fim do mundo’ (atual 55 e antiga 241) pois ela comprometerá nossos direitos sociais básicos como a educação e a saúde, dentre outros, dificultando ainda mais nossa vida em sociedade e comprometendo a formação com qualidade crítica, reflexiva e propositiva das futuras gerações.
    Todo apoio às ocupações! “Nada a TEMER, senão o fugir da luta”. #ocupatudo.”

    professor-ueg

  • “Vamos voltar pra casa, pessoal!”

    “Vamos voltar pra casa, pessoal!”

     

    O grito de guerra da dirigente Carmen Silva Ferreira, da Frente de Luta por Moradia (FLM), não poderia ter significado mais poderoso. De um lado, foi a senha para que 280 trabalhadores sem teto entrassem no terreno imenso encravado no bairro da Bela Vista, região central da cidade, onde há 30 anos um prédio lindo em estilo art-déco encontra-se abandonado.

    Carmen e vários daqueles sem-teto conhecem bem o edifício, pertencente ao INSS (governo federal), porque já o ocuparam por mais de seis anos, dele saindo em 2004, sob a promessa de que ele seria reformado e devolvido à cidade como moradia popular. Não foi. “Vamos voltar pra casa, pessoal!” era, ali, literalmente, a convocação à retomada de um lar que um dia, no longínquo governo de Marta Suplicy, ela — ainda petista — prometeu. E não cumpriu.

    O prédio elegante, erguido na primeira metade do século 20, mas hoje gravemente deteriorado, inclusive por um incêndio (foto abaixo), foi um dos dez “alvos” da FLM em uma série de ocupações envolvendo milhares de militantes da luta por moradia, desfechadas na madrugada do dia 31, na zona leste e no centro da cidade.

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    Os ocupantes são gente que sabe como se luta e por que se luta. São babás, cozinheiras, zeladores, eletricistas, faxineiros, cuidadores, enfermeiros, vendedores ambulantes, costureiras, mecânicos e garçonetes…. Gente que sabe o que é trabalhar muito para ganhar R$ 1.500 reais e entregar R$ 1.000 ao proprietário de uma kitinete e ali espremer toda a família. Sobram R$ 500 mensais pra comida, roupa, material escolar e transporte. Dá uma média de R$ 4 por pessoa por dia para dar conta de todas as despesas vitais, além da casa.

    Sabe o que é viver assim?

     

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    Foto: Virginia Medeiros

    Mas o grito de “Vamos voltar pra casa, pessoal!”, saindo da boca de uma petista como Carmen Silva Ferreira, adquiriu um novo significado em um dia marcado por mais uma derrota da esquerda num 2016 coalhado de notícias tristes para quem sonha com um mundo mais solidário.

    É que, neste 30 de outubro, domingo, foram realizadas as eleições municipais em segundo turno. Um total de 57 municípios voltaram às urnas para escolher o prefeito.

    Depois de o PT perder redutos eleitorais históricos, como São Bernardo, Diadema, Osasco e Santo André; depois de fracassar em entusiasmar a periferia preta e pobre de São Paulo com a candidatura do “Homem Novo” Fernando Haddad; depois de encolher eleitoralmente, boa parte das esperanças da esquerda estavam depositadas nas candidaturas de Marcelo Freixo, no Rio de Janeiro, de Edmilson Rodrigues, em Belém, e de João Paulo, em Recife, entre outras.

    Foram apostas perdidas, ao menos eleitoralmente.

    Depressão? Desespero?

    Os pobres não têm tempo para isso.

    O grito parado no ar na noite escura de São Paulo — “Vamos voltar pra casa, pessoal!” — é impossível não escutá-lo como uma senha para as forças democráticas e populares.

    Carmen e seus camaradas da Frente de Luta por Moradia mostravam na prática que a esquerda precisa voltar para casa… reencontrar os seus valores e métodos. Fazer o trabalho de base esquecido por muitos, organizar o povo pobre e oprimido para que ele busque sua emancipação e sonhos.

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    Foto: Sato / Jornalistas Livres

     

    “Vamos voltar pra casa” é um convite para toda a esquerda brasileira voltar para a casa comum em que se encontram os pobres, os trabalhadores, a juventude, as mulheres, os negros, os índios, os artistas, os refugiados da barbárie das guerras capitalistas, o povo LGBTTT, todas as pessoas que, nesta madrugada, não tiveram tempo para ficar deprimidas e tristes com as derrotas eleitorais e foram reescrever juntas, mais uma vez, a história da luta por um mundo mais justo.

    Vamos junto! Viva a luta pela Moradia!

    Nenhum Direito a menos! Quem não luta tá morto!

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  • Arte e educação de mãos dadas em BH rumo ao #OcupaTudo

    Arte e educação de mãos dadas em BH rumo ao #OcupaTudo

    Foto-reportagem de Maxwell Vilela, para os Jornalistas Livres

    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres
    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres

    Os secundaristas de BH não ficam atrás na onda de ocupações do país. Os artistas Flávio Renegado e Pedro Morais estiveram visitando escolas para um bate papo com os alunos, falaram sobre o poder das ocupações e a necessidade e importância delas para o momento político, bem como o impacto delas na opinião publica.

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    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres

    Eles também falaram da atenção das mídias para o assunto, e os próprios jovens se manifestaram com cartazes dizendo da invisibilização da pauta na imprensa tradicional.

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    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres

    Sobre o que está acontecendo no país com a PEC 241, os aulões seguem por todo o país, e na visita os artistas passaram nas escolas Santos Dumont, Jucelino Kubitschek, e Maria Carolina Campos situadas na região de Venda Nova em Belo Horizonte para, entre abraços e apresentações, dar força para os alunos, a maioria entre 14 e 18 anos.

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    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres

    Para eles, os alunos deram um show de responsabilidade e representatividade com agendas organizadas por mulheres, trans, lesbicas e homossexuais.

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    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres

    As ocupações por si só já são uma aula de empoderamento.

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    Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres

    Flávio Renegado explica a visita falando sobre a potência da luta conjunta dos secundaristas com a classe artística. “O sentimento de democracia e liberdade é que nos movimenta e movimenta esse juventude. Isso tem que ser cuidado e incentivado. Seguiremos lutando!”

    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres
    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres