Líderes de 3 entidades estudantis presentes no Palácio do Planalto, a Associação Nacional de Pós-Graduandos, União Nacional dos Estudantes e União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, falaram aos Jornalistas Livres sobre o movimento de ocupação que acontece agora. “Vamos dizer muito alto pro Michel Temer que ele não vai governar aqui. Esse palácio não é dele. Esse palácio é de quem tem voto!”
A ocupação, que começou nessa manhã após evento da Conferência Nacional de Educação, com presença da Presidenta Dilma Rousseff, é contra o golpe, pela democracia. “Se inspirem na luta dos secundaristas, se inspirem na luta dos movimentos sociais. Ocupa a rua, ocupa a política, ocupa o congresso, ocupa o palácio.”
Movimentos sociais nem aguardaram o término da fala do ministro da Educação para começar uma celebração à possibilidade de derrubada da sessão que aprovou o impeachment na Câmara dos Deputados.
Waldir Maranhão, novo presidente da Casa, acatou pedido da Advocacia Geral da União, que anula validade da sessão do dia 17 de abril, quando deputados aprovaram por 367 votos a abertura de processo de impeachment contra Dilma.
Os movimentos gritaram palavras de ordem dentro do Palácio. “Ocupa, ocupa, ocupa e resiste”, era a ordem coletiva. Em sua fala, durante a reunião Dilma pediu cautela na análise dos efeitos do que chamou de “manhas e artimanhas”.
Neste momento cerca de 150 militantes colam faixas nos vidros da fachada do palácio.
A intenção é manter a ocupação até a votação no Senado ou a derrubada completa do processo.
A caravana a Brasília
Qualquer coisa de maravilha
Que eu pude experimentar
Foi um sonho, foi vivência
Uma libertária experiencia
Com o meio popular
Lindo povo do agitamento
Presente do encantamento
Dos Movimentos Sociais
Foi dizer não às trapaças
Das armações, das farsas
Teatrais, globais
Fomos em ritmo de alegria
Na harmonia da cantoria
Com muita fé
Defender nossa Presidenta
Pois o povo tudo enfrenta
E não é arredar o pé
Nós vimos lá em Brasília
Uma cambada, quadrilha
Mentindo em rede nacional
Se ganhou o primeiro embate
Estamos vivos no combate
Venceremos no final
Se nós fomos derrotados?
Não! Com ânimos redobrados
Jamais iremos desistir
A verdade sempre triunfa
A gente não TEMER bufunfa
Globo e Cunha vão cair
E por falar em derrota
Isso pouco nos importa
De Che é muito bom lembrar:
É de derrota em derrota
Que vamos rompendo portas
Até a justiça triunfar
Apesar da dor da tristeza
O retorno foi, com certeza
Tranquilidade geral
Além da multiplicidades
Vivenciamos solidariedade
E análise conjectural
Desta viagem a Brasília
Lindo foi ver a partilha
Tradução do verbo amar
Vi troca de conhecimentos
O dividir dos alimentos
Um verdadeiro socializar
Ao ver um alegre ambiente
Até me senti adolescente
Entre jovens lindos demais
Grande abraço ao Apolônio
Um companheiro dos sonhos
Irmão de guerra, de paz
Pra não gerar ciumeiras
Cito só uma companheira
Nas saudações finais aqui
Minha belíssima idealista
Professora jornalista
Te amo querida Vivi
Na nossa caravana do Pará tinha um poeta popular. Abençoados os poetas que tornam nossa jornada mais leve.
17 de abril. Um clima de derrota foi tomando conta do Vale do Anhangabaú durante a votação do pedido de Impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Pessoas chorando, jogando seus pertences no chão, gritando e vaiando os deputados se viu de monte. Parlamentares fascistas, racistas, machistas, homofóbicos e transfóbicos, em sua grande maioria homens brancos, héteros e de uma classe social e financeira privilegiada homenageavam seus próprios umbigos, os umbigos de seu estrito meio social, forças divinas (um “Deus” que outrora foi motivo para se perseguirem negros, gays, judeus, mulheres e por aí vai), e torturadores de forma inacreditavelmente assumida e sem limites.
Apesar disso tudo, tem gente que continua lutando, gritando e berrando, talvez agora com mais coragem ainda para sair às ruas dizendo que NÃO serão admitidos retrocessos em uma sociedade que já é tão retrógrada. Dizendo que NÃO será admitida a presidência de uma câmara de deputados por um réu do Supremo Tribunal Federal que fere inúmeros tópicos da constituição. Para dizer que NÃO será admitida impunidade para pessoas que, além de cometerem inúmeros crimes judiciais e fiscais, perseguem a brasileira e o brasileiro quotidianamente, e perseguem uma presidenta eleita de forma justa e que segue até então sem uma acusação consistente acerca de possíveis crimes cometidos.
É preciso converter o sentimento de derrota em força combativa, em vontade política de ir às ruas discutir e colocar seu ponto de vista. É preciso dar cada vez mais visibilidade ao povo brasileiro, que nunca deixou de lutar. Essa democracia já é frágil demais para ser diminuída mais ainda. Nenhum passo atrás, e sim muitos (e muitos mesmo) passos à frente! AVANTE!
Do lado direito do muro da vergonha, camisetas amarelas estampavam mais que o símbolo da CBF. Manifestantes a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff carregavam no peito mensagens como “quero meu Brasil limpo”, “Cunha, meu malvado favorito”, “Super Moro”, além das tradicionais “Basta” (com a imagem de uma mão com quatro dedos) e “Fora PT”.
Em clima de “já ganhou”, famílias inteiras ocupavam o gramado diante do telão para acompanhar a votação da admissibilidade do impeachment. A cada voto favorável, gritos e comemorações. Quando os deputados votavam “não ao golpe”, ouvia-se vaias e xingamentos como “Dilma, filha da puta” ou “Vai tomar no cu”, seguida de “vendido!”, pelas caixas de som. Isso tudo diante de muitas crianças, várias delas envolvidas pela bandeira brasileira.
“Estou aqui porque quero o impeachment da Dilma”, afirmou Lídia Alves de Faria, 63 anos, bancária aposentada. Ao ser perguntada sobre um possível governo Temer, usou uma metáfora médica: “primeiro você tira o tumor, depois você trata as metástases”. Para ela, Eduardo Cunha e Dilma “sempre negociaram a favor” do governo, estavam de acordo. Lídia acha que Cunha não é responsável por viabilizar o processo de impeachment. “Não foi Cunha, foi o povo na rua, porque de partidos a gente não vive neste país”, completa.
Ao mesmo tempo, do lado esquerdo do muro, um telão também mostrava a votação do processo de impeachment. Milhares de trabalhadores rurais, assistiam a todo o tempo deputados evocando palavras como “sonho”, “família”, “filhos” e “esperança” para, justamente, tolherem as expectativas por um país mais justo.
Os semblantes, muitos deles trincados do trabalho ao sol, foram ficando preocupados. O batuque deu lugar ao silêncio. Mas cada voto contra o impeachment foi comemorado com punhos cerrados e sorrisos de quem sabe o quanto vale a democracia.
Para quem sempre esteve na luta por direitos humanos e sociais, a etapa atual é mais um motivo para resistir. “Estamos aqui felizes, independente de conseguirmos barrar o golpe. Estamos defendendo a democracia”, diz o estudante Sadrak Oliveira, 30 anos, que foi a Brasília de ônibus desde Palmas (TO).
Antonia Eliene Araújo, 30 anos, paraense moradora de Goiânia, foi com filhos e sobrinhos “lutar a favor da Dilma”. A mais nova da família é Gabriele, de 4 meses, filha de Maria Charlene Araújo de Lima, 16 anos. “Minha vida mudou bastante. Ela ajudou muito os pobres”, afirmou, orgulhosa. Antonia recebe Bolsa Família para garantir o mínimo de condições de vida.
Maria Charlene Araújo de Lima. Foto: Carol Trevisan
Ela sabe o que o impedimento é uma ameaça aos direitos conquistados e que a troca de presidentes – cujo programa de governo não é objeto de escolha da população, mas, sim, uma imposição – significa um retrocesso que terá impacto direto sua vida e de seus filhos.
Ao contrário das mensagens das camisas amarelas do outro lado do muro, as pessoas seguravam a Constituição Brasileira, os adesivos pediam “mais emprego, direitos e salários” e avisavam: “meu voto merece respeito”.
Enquanto isso, dentro da Câmara dos Deputados, o jovem do Movimento Brasil Livre Kim Kataguiri acompanhava o voto a voto em um telão dentro do Salão Verde. A sala oval de carpete verde foi hoje um disputado espaço onde normalmente só adentram jornalistas (os que conseguiram a cobiçada credencial com o selo verde) e autoridades. Sinal dos tempos?
Depoimento de Juca Ferreira, Ministro da Cultura, contra o golpe. “Independente do resultado, há uma grande mobilização da sociedade em defesa da democracia”, diz.
Imagens: Marina Baldoni Amaral
Edição: Gustavo Forti Leitão