Comitê Científico propõe contratação de médicos intensivistas, regulação de vagas em UTI, planejamento de lockdown e afirma: “é fundamental ampliar a proteção aos profissionais de saúde.”
O Comitê Científico do Consórcio Nordeste para o enfrentamento da COVID-19, com base nos trabalhos dos subcomitês e de colaboradores em todo o Brasil e no Exterior, publicou nesta semana, um novo boletim com recomendações aos governadores e prefeitos dos Estados e municípios do Nordeste.
Além das informações do boletim o programa “O Mundo de Nicolelis nos Jornalistas Livres”, desta terça (5/5) debateu a manutenção das medidas de isolamento social, critérios quantitativos para lockdown e outros temas.
Em seu boletim semanal, realizado com os Jornalistas Livres, no último dia dez o pesquisador Miguel Nicolelis conversou com a repórter Kátia Passos sobre a situação nos estados do nordeste, no país e no mundo. Também contou como tem sido realizado o trabalho do comitê científico do Consórcio Nordeste.
Nicolelis apontou os avanços realizado pelo comitê em seus primeiros dias de atuação. Ao mesmo tempo em que foi lançada a articulação que envolve cientistas dos nove estados da região já “pegou o avião voando”, como definiu. Para ele foi importante ressaltar que o isolamento social é uma das medidas mais essenciais no combate ao coronavírus e que se não houver uma ação séria para garantir seu funcionamento haverá um desastre, uma vez que esse isolamento é “a única grande arma que nós temos neste momento global, para evitar uma catástrofe que evite um número de casos que o sistema de saúde brasileiro não daria conta”.
A situação vivida por Manaus, que neste momento já conta com 1.295 e o Amazonas com 1.484 casos confirmados e 90 mortes no estado, e tem seu sistema de saúde colapsado. Sem EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), respiradores insuficientes para o número de casos e com quase lotação de leitos de UTIs.
Outro ponto importante que foi discutido pelo comitê, apontado por Nicolelis, foi sobre o uso de máscaras caseiras como forma complementar de prevenção. A discussão sobre as máscaras foi principalmente sobre os materiais que podem ajudar na montagem da máscara e na a forma de usá-la corretamente, que terá um artigo publicado no site do comitêabrangendo a conclusão da discussão nos próximos dias.
Ainda contou sobre a necessidade que o consórcio tem de profissionais da mais diversas áreas, desde medicina até comunicação, para auxiliar nos trabalhos de pesquisa, divulgação de estudos e checagem de fatos e como o subcomitê de comunicação tem realizado esta busca.
Nicolelis também se posicionou sobre o uso da hidroxicloroquina “não existe evidência clínica ou crível, testada ou comprovada de que a hidroxicloroquina e a cloroquina funcionam”. ele citou um editorial publicado pelo British Medical Journalque, além de não indicar a eficácia dos medicamentos, aponta potenciais riscos da automedicação. Sobre o coronavírus, explicou que a versão genética do vírus no Brasil é mais agressiva no trato respiratório e na possibilidade de contágio, do que outras versões encontradas em países como a China. O cientista reforçou a importância das “medidas sociais e econômicas, enquanto saúde pública, para reforçar o isolamento e garantir a alimentação das pessoas.
O neurocientista Miguel Nicolelis, em conjunto ex-Ministro da Ciência e Tecnologia Sérgio Rezende, está, de forma voluntária, coordenando uma comissão científica para ajudar o Consórcio Nordeste a enfrentar o coronavírus. O convite foi feito no último dia 31 pelo coordenador do Consórcio, o governador Rui Costa (PT-BA), “É uma satisfação saber que ainda existem governadores e grupos de políticos estaduais que põe a ciência em seu devido lugar, em meio a uma emergência dessas” contou o cientista, de forma exclusiva para os Jornalistas Livres ao aceitar o chamado, no mesmo dia.
O Consórcio é uma iniciativa dos noves Estados que compõem a região do país, formado após a eleição de Jair Bolsonaro para elaborar projetos de cooperação interestadual entre os entes da região, que foi várias vezes atacada por ser identificada como um reduto petista pelo presidente. O consórcio já buscou estabelecer parcerias internacionais sem a participação do governo federal e durante a crise do coronavírus tem buscado trabalhar com outros países, como foi com o pedido de insumos feito para a China.
Nicolelis, que é tido no meio acadêmico como um dos maiores nomes da ciência nacional tendo sido o primeiro brasileiro a ter um artigo publicado na capa da revista Science, é médico formado pela USP e professor titular da universidade de Duke (EUA), Já Sérgio Rezende que é físico e engenheiro, doutor em engenharia pelo MIT (EUA), e foi ministro de no segundo mandato do ex presidente Lula.
O comitê
O principal objetivo do comitê é o assessoramento científico e tecnológico para os estados do Nordeste. Composto por médicos, virologistas, sanitaristas, engenheiros, físicos, cientistas da computação, matemáticos e diversos outros especialista, vai elaborar políticas públicas de atuação para “mitigar ou reduzir efeitos da pandemia” como definiu Nicolelis. Para ele o grupo é “um estado maior de Guerra”, mas que não vai ficar contido à região “vamos compartilhar tudo isso com estados e municípios que queiram participar ou só ter acesso a o que vamos começar a produzir, nisso que é um comitê científico de guerra.”
Com uma sala de situação centralizando o comitê em salvador, mas distribuído remotamente pelos estados é composto por nove Subcomitês Temáticos: Sala de situação.
Protocolos médicos
Equipamentos
Interação entre indústria, startups e laboratórios, e unidades de pesquisa locais
Fomento
Contatos nacionais e internacionais
Virologia, vacinas e diagnóstico laboratorial
Políticas públicas de intervenção
Epidemiologia, modelos matemáticos e medidas de enfrentamento
Ele ainda contou como foi o convite e a relação com os governadores “O que eu senti foi um abertura total de nos ouvir. Minha sensação é que tudo na vida é política. As pessoas se enganam quando acham que a política é só para os profissionais” por isso estou com “a expectativa de ser ouvido. Poder ser um porta voz do que a ciência pode oferecer”
Nicolelis vê o comitê como um legado para o Brasil pós corona “me emocionei profundamente em ver a qualidade do trabalho intelectual, científico, médico. A dedicação das pessoa em Pernambuco, Sergipe, Fortaleza. Foi uma coisa muito emocionante ver que ainda temos sim, esse espírito solidário e este espírito de humanidade que é generoso para abrir seu tempo, sua experiência e esquecer dos papers, patentes, todas essa essa bugiganga que criamos na área de ciência”.