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  • Marcha Mundial das Mulheres faz 24 horas de ação global contra as empresas transnacionais

    Marcha Mundial das Mulheres faz 24 horas de ação global contra as empresas transnacionais

    Nesta sexta-feira, dia 24 de abril, a Marcha Mundial das Mulheres (MMM) promove uma ação global contra as empresas transnacionais. Neste ano, as 24 Horas de Solidariedade Feminista serão realizadas exclusivamente pela internet, devido à pandemia do novo coronavírus e às recomendações de isolamento social. As atividades denunciam os ataques das grandes corporações sobre a vida das mulheres e sobre a natureza, ao mesmo tempo em que buscam visibilizar as alternativas feministas, construídas cotidianamente por mulheres em movimento no mundo todo.

    No Brasil, a Marcha realizará uma transmissão ao vivo, das 12h às 13h, com militantes de diversos estados do país. Os diálogos podem ser acompanhados pelas redes da organização (Youtube e Facebook). A atividade será repercutida nas redes por meio do uso da hashtag  #SolidariedadeFeminista. Pelo mundo todo, haverão manifestações semelhantes, quase sempre das 12h às 13h. Por conta do fuso horário de cada país, a soma de todas as manifestações resultam em 24 horas de ação global.

    A data foi escolhida para relembrar o desabamento do edifício Rana Plaza, em Bangladesh, no ano de 2013, que matou 1138, sendo que 80% eram mulheres. Nesse pŕedio funcionavam confecções de grandes marcas de roupa, como Walmart, Benetton, H&M e C&A. Um dia antes do desmoronamento, uma imensa rachadura se abriu sobre os andares da edificação, fazendo com que trabalhadoras e trabalhadores das oficinas têxteis se negassem a trabalhar. Contudo, diante da ameaça de perda de empregos, acabaram cedendo. O crime feriu mais de 2.500 pessoas. Desde então, a data marca a luta feminista contra a impunidade das empresas transnacionais que precarizam o trabalho e a vida das mulheres.

     

    5ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres

     

    As 24 Horas de Solidariedade Feminista fazem parte do calendário da 5ª Ação Internacional da MMM, que foi lançada no dia 8 de março. A cada cinco anos, uma Ação Internacional conecta os processos organizativos do movimento e lutas a nível local. Neste ano, “Resistimos para viver, marchamos para transformar” é o lema da Ação. De 08 de março a 17 de outubro, a Marcha mobiliza uma intensa agenda de lutas no Brasil e no mundo.

    As informações sobre o calendário estão disponíveis nos sites da MMM nacional e internacional.

    Acesse: www.marchamundialdasmulheres.org.br/

    marchemondiale.org

  • Hoje, o movimento feminista se despede de Helena Nogueira, militante incansável

    Hoje, o movimento feminista se despede de Helena Nogueira, militante incansável

    Por Helena Zelic, da Marcha Mundial das Mulheres, para os Jornalistas Livres

     

    Nesta manhã de março, com muita dor e saudade, nos despedimos de nossa grande companheira Helena Nogueira. Helena era uma feminista incansável, batalhadora, amiga, solidária… sempre que podia, estava nas ruas de São Paulo contra as injustiças do mundo. No último 8 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres, aconteceu a última grande mobilização antes da quarentena. Nós estávamos lá, mas parecia que tinha uma peça faltando… já estávamos sentindo muita falta da Helena, que se resguardava, com a saúde frágil demais para sair.

    Helena foi diagnosticada com leucemia há poucos meses. Foi internada em um hospital em Indaiatuba. Foi preciso muita organização entre a família, em São Paulo, junto com as companheiras de Campinas e da capital, para contornar as precariedades desse sistema desigual, que impõe às mulheres negras e pobres uma saga para salvar a própria vida. Há poucas semanas voltou para casa, para fazer o tratamento fora da internação. Depois de muitos dias de espera por uma vaga, ela começaria hoje seu tratamento. Nesta manhã, seu corpo, depois de tanta luta, não aguentou.

    A companheira Lourdes Simões, de Campinas, que ajudou no período de internação, destacou “a coragem da Helena em enfrentar o desconhecido. Ali, naquele momento, ela enfrentou algo que não tinha controle, mas com coragem. Dentro do hospital, ela, de novo, foi muito solidária, dessa vez com sua companheira de quarto”.

    A cerimônia de cremação será realizada amanhã, dia 25, às 10:30 no  Memorial Parque Paulista, em Embu das Artes, com duração de quarenta minutos. Devido aos riscos de exposição ao COVID-19 de muitas companheiras que estão no grupo de risco, faremos também uma homenagem virtual durante estes quarenta minutos. Apesar da situação de isolamento, não iremos deixar esta triste perda passar batido.

    Helena, uma vida de luta

    Militante da Marcha Mundial das Mulheres e também do PT, não faltava a uma reunião, atividade, encontro, manifestação. Participou das Marchas das Margaridas e de todas as caravanas para Curitiba por Lula Livre. Não tinha como não gostar da Helena, com sua animação, coerência, companheirismo e sensibilidade.

    “A história de Helena se mistura com a história da Marcha Mundial das Mulheres, que ela ajudou a construir diariamente, nunca abrindo mão da luta radical, feminista, antirracista, socialista, por um mundo novo”, diz a nota do movimento. As militantes estão, todas, muito tristes com essa grande perda, e o isolamento imposto pela pandemia torna o consolo à distância mais difícil. “Nesse estranho momento do mundo, não sabemos bem o que o futuro nos reserva. Mas sabemos que a luta continua e que, na próxima vez que formos para as ruas e nos encontrarmos todas, da forma como gostamos, com nossas bandeiras e batuques, não haverá uma militante que não sentirá a falta de Helena, sempre presente”.

    A Marcha das Mulheres Negras também expressou seu pesar: “Que o Órun a receba em festa! Virou nossa ancestral e fará imensa falta na luta”. No ano passado, Helena fez uma fala pública muito emocionante sobre sua ancestralidade, durante o ato do Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, dia 25 de julho.

    No ato de homenagem e denúncia no marco de um ano do assassinato de Marielle, Helena também fez uma fala poderosa: “Marielle representava a voz preta da comunidade, a voz das pessoas pobres, das mulheres e pessoas LGBT. Nós estamos aqui para honrar o nome de Marielle Franco. Ela não tinha medo, como nós aqui. Nós não temos medo”.  E continuou: “as armas e o ódio estão no Brasil. Nós, mulheres negras, mulheres de luta, estamos aqui para combater esse ódio. Nosso trabalho é trazer a paz, a luta e a coragem”. E, por tudo isso e muito mais, seguiremos, levando o jeito único de Helena na lembrança.

    As companheiras da Marcha Mundial das Mulheres enviaram algumas mensagens homenageando Helena e recordando grandes momentos. Vou começar e passo a palavra para as outras:

    “Este é um dia triste. Daqui de casa, sem saber quando vamos poder nos aglomerar de novo, me sinto desorientada, sem entender direito o que realmente significa perder uma pessoa como essa, uma mulher que tinha, ao mesmo tempo, muita luta pela frente e também muita história pra contar. Uma perda enorme. Sei que não vou ouvir mais o “e aí, xará?” de praxe, de toda vez que a gente se encontrava… e como era bom ouvir, e como é triste só poder lembrar.”

    “Perdemos mais uma. Helena juntava um alto astral, uma indignação, a radicalidade bem própria, olhava pro que a maioria não vê, baita mulher. Que energia e disposição militante para mudar o mundo, ensinar, aprender. Linda, linda.” Tica Moreno

    Uma frase sobre a Helena: alegria de viver. Em todas as vezes em que me relacionei com ela, nas atividades da Marcha e também no hospital, ela sempre via o lado bom das coisas. Alegria de viver de quem enfrenta a dificuldade com esperança. Aquela risada boa, gostosa, que ela dava. Ela sabia que a dificuldade estava vindo, mas não abaixava a guarda.” Lourdes Simões

    “Hoje perdemos uma companheira gigante. Helena estará sempre conosco em nossas lutas. Uma vida inteirinha de luta para nos inspirar.” Fabiana Oliveira

    “Ela nos deixa um grande legado a seguir, um misto de combatividade e alegria, ela não se curvou nunca! Ela seguirá conosco, em nossa luta, até que todas sejamos livres! Temos que nos apegar às coisas boas que a Helena nos ensinou. Coerência, essa força que ela emanava por onde passava… cada sorriso largo… as lembranças incríveis… lembram quando ela deu umas porradas no capanga do Alexandre Frota? E ela ia nas padarias da região para retirar alimentos e distribuir para os moradores de rua em Pinheiros. Muito solidária. Lembram que na Marcha das Margaridas comemos um super lanche coletivo? Comemos salgadinhos e bolos de uma dessas coletas.” Fátima Sandalhel

    “Ela era livre, tão livre e forte. E esperançosa. Vai ser muito difícil seguir em frente nessa despedida.” Vick Rocha

    “E no dia do golpe da Dilma, que ela subiu a rampa do planalto? Helena nos lembrava todo dia que precisamos ser rebeldes!” Carla Vitória

     “Que tristeza, companheiras! A Helena foi mulher muito batalhadora, engajada, divertida. Se envolvia com tudo. Fará muita falta!” Jéssika Martins

    “Que triste essa notícia. Era uma pessoa rara. Estava sempre disposta a compartilhar sua energia, alegria e capacidade de luta quando se tratava de ajudar as pessoas.” Maria Luiza Costa

    “Helena fará muita falta para nós pessoalmente, para o feminismo e para o PT, ela era uma militante de esquerda no PT, sempre muito disposta na luta, não faltou em nenhuma caravana por Lula livre. À Helena, toda nossa gratidão. Por ter lutado por mundo mais justo, feminista e antirracista.” Sonia Coelho

    “Ela era muito solidária. Lembro que, na primeira vez que fui a Brasília com a Marcha, ela me deu uma marmita e água, com todo cuidado comigo porque eu estava ali pela primeira vez. Jamais vou esquecer como ela me recebeu pra de braços abertos.” Salete Borges

    “A Helena era dessas pessoas que a gente não precisa nem conhecer para saber que são fundamentais. Se percebe pelo jeito que os outros falam dela. A Helena sabia que feminismo não tem nada a ver com obediência. Nada. E lembrava a gente disso. Ela não titubeava, não pedia licença. O peito dói muito de tristeza, mas dá muita alegria lembrar destes momentos e saber que a vida é tão maior que esse projeto de morte que pretendem pra nós. A Helena nos ensinou isso. A não aceitar o inaceitável. Não aceitar que a vida seja uma coisa miserável. Não pode ser que seja.” Natália Lobo

     

     

     

     

  • Construção estratégica de movimento é discutida em seminário internacional da MMM

    Construção estratégica de movimento é discutida em seminário internacional da MMM

    Por Marcha Mundial das Mulheres

    Nesta quarta-feira (19), último dia do seminário internacional “Resistência e construção de movimento: confrontando o neoliberalismo desde a economia feminista e os comuns”, que teve início no dia 17 de junho, feministas de diversos países discutiram construção estratégica para o feminismo. A atividade, organizada pela Marcha Mundial das Mulheres (MMM), reuniu militantes das das Américas, Europa, África, Ásia e Oriente Médio.

    Nesta reflexão, conduzida por Miriam Nobre, da MMM do Brasil, e Cindy Wiesner, da Glassroot International (EUA), as mulheres buscaram pensar sobre as especificidades do atual momento histórico e os desafios para a construção política de uma agenda internacionalista para o feminismo. A discussão foi dividida em três momentos diferentes: no primeiro, Tica Moreno, militante da Marcha no Brasil e Carmen Diaz, da MMM do México, compartilharam reflexões sobre a economia feminista. No segundo, Nalu Faria e Clarisse Paradis, da MMM no Brasil, falaram sobre democracia e Estado. Por fim, houve um momento de discussões em grupos, que foram coletivizadas em seguida.

    Tica afirmou que a economia feminista é uma aposta política e teórica, uma ferramenta de construção de imaginários da nova sociedade que queremos construir, tanto quanto é a base das práticas que estão sendo empreendidas pelas mulheres nesta construção. Neste sentido, o feminismo faz uma crítica a ideia reducionista de economia como aquilo que é passível de monetarização. A economia é o conjunto de trabalhos, processos e relações que sustentam a vida.

    O modelo hegemônico que propõe uma separação artificial entre o trabalho produtivo e reprodutivo o faz hierarquizando, explorando e invisibilizando a esfera dita reprodutiva, da qual as mulheres seguem sendo as principais responsáveis. Ao colocar a vida e a sustentabilidade no centro do debate e da ação política, a economia feminista nos coloca em uma outra posição, não hierarquizada, mas de interdependência entre as pessoas e ecodependência em relação à natureza.

    Carmen organizou os elementos que já haviam aparecido durante o Seminário e que tem relação com este debate sobre economia feminista. Falou sobre a crise internacional, o ataque às democracias e as falsas soluções que estão sendo apresentadas neste cenário pelas empresas e forças de direita. Embora o atual momento político guarde características que são de fato novas, muitas contradições que hoje estão aparentes para o conjunto da sociedade são, na verdade, características intrínsecas do capitalismo heteropatriarcal e racista. Hoje falamos em “plataformização” do trabalho e destruição do vínculo laboral. Há muito falamos da precarização do trabalho e da vida das mulheres e homens.

    “Extrativismo, megaprojetos, cortes em educação, saúde, privatização dos comuns, do Estado e mudança climática são todas manifestações concretas da lógica predatória que organiza o neoliberalismo”, listou. Desde territórios diversos, as mulheres denunciam há tempos que esta organização é incompatível com a vida.

    Nalu reafirmou que temos a tarefa militante de refletir, historicamente, sobre o papel e a formação do Estado. Neste momento, é preciso considerar a anormalidade da conjuntura. Forjar uma suposta normalidade democrática nos coloca de frente para falsos dilemas e, sobretudo, falsas soluções. “Não há como estar nos espaços de poder sem um processo de construção de poder popular, de organização e mobilização permanente”, nos lembra.

    Ela completa dizendo que o capitalismo se consolidou com um discurso de liberdade que falseia a realidade, o que não significa que a liberdade e a democracia não sejam uma luta de quem quer superar este sistema econômico e político. “Somos quem melhor podemos falar de liberdade e democracia, porque queremos construir condições para que elas aconteçam. Queremos acumular forças para uma mudança mais forte e transformadora”, afirma Nalu.

    Para Clarisse, “a ideia dos comuns vem como um instrumento de enfrentamento ao processo de mercantilização e de esvaziamento da política”. Os comuns dizem respeito à natureza, à nossa comunicação feminista, à luta contra-hegemônica, aos nossos espaços auto-organizados e populares. São, portanto, uma das chaves fundamentais para nossa organização, que precisa “cumprir seu necessário papel diante dos ataques do capitalismo”.

    Cindy, da MMM dos EUA, refletiu sobre as sínteses e convergências na construção da economia feminista como alternativa e estratégia de luta e de força popular para transformar as estruturas de poder e as bases que sustentam a vida.

  • Desafio de organização de feminismo anticapitalista é discutido pela Marcha Mundial das Mulheres

    Desafio de organização de feminismo anticapitalista é discutido pela Marcha Mundial das Mulheres

    Por Marcha Mundial das Mulheres

    Na tarde desta terça-feira (18), o seminário internacional “Resistência e construção de movimento: confrontando o neoliberalismo desde a economia feminista e os comuns”, organizado pela Marcha Mundial das Mulheres (MMM), que reúne militantes feministas de países das Américas, Europa, África, Ásia e Oriente Médio no centro de São Paulo, entre os dias 17 e 19 de junho, discutiu os desafios do movimento feminista na nova ordem neoliberal.

    O debate coletivo partiu de grupos em que as participantes refletiram sobre as dinâmicas do feminismo em seus países e regiões, identificando questões comuns e desafios para a construção de um feminismo antissistêmico. É comum a avaliação de que as mulheres são a principal força de resistência e confrontação ao ascenso da extrema direita em diferentes partes do mundo.

    Mas também é comum a percepção da tendência de mercantilização e instrumentalização do feminismo, com a apropriação fragmentada de slogans despolitizando os conteúdos. Isso é perceptível tanto na atuação de grandes empresas transnacionais, que passam uma maquiagem lilás em sua atuação de exploração do trabalho e acaparamento dos territórios – estratégia também encontrada no âmbito da luta socioambiental – como pela forma como a Organização das Nações Unidas (ONU) tem reformatado os discursos de gênero e defesa dos direitos das mulheres.

    Coletivamente, reafirmamos que o feminismo que queremos é aquele que muda a vida das mulheres para mudar o mundo, e muda o mundo para mudar a vida das mulheres, em um só movimento. Este feminismo tem no centro um compromisso profundo com a transformação da sociedade, com a luta pelo fim do capitalismo, do patriarcado e do racismo, porque entendemos que estes sistemas de exploração são base da opressão que vivemos. Não nos basta representação nesta sociedade. Queremos uma sociedade inteira nova.

    Para construí-la, é preciso acumular os aprendizados e experiências, e também participar da organização do tempo presente, como refletiu Sandra Morán, da MMM da Guatemala, que compôs a coordenação da mesa. Nesse sentido, é preciso construir sínteses políticas e organizativas considerando as diferentes gerações políticas que se encontram no feminismo.

    E por isso o foco do debate foi o desafio da organização permanente, para além de grandes datas de mobilização. Apostamos na auto-organização das mulheres, como sujeito político e no processo de reorganização das relações econômicas, e portanto, da vida em âmbito local. Esta nova organização social vem sendo construída, cotidianamente, pelas mulheres, a partir de seus territórios. Questionamos a violência e o fazemos ao mesmo tempo em que criticamos e apontamos o sistema que possibilita que essas violências sejam reproduzidas e naturalizadas. Para nós, transformar a sociedade é romper com a divisão sexual do trabalho, com o extrativismo e a militarização dos corpos, vidas e territórios. Para Nalu Faria, da MMM do Brasil, que também coordenou a mesa, “muitas vezes, as experiências concretas das mulheres já confrontam o patriarcado. O processo é importante. É um desafio nosso conseguir que a palavra ‘feminismo’ reúna esse conjunto de experiências, que são muito mais do que as ideias reduzidas e banalizadas que se espalham”.

    Desde o nosso feminismo, reafirmamos que é preciso fazer uma crítica integral ao sistema capitalista, patriarcal e racista. O desafio é conectar as lutas por autonomia sobre o corpo, a sexualidade e a vida, com a resistências as novas estratégias de colonização dos nossos corpos e territórios. As participantes afirmaram o feminismo como um movimento social, não apenas como um comportamento e um discurso, ou seja, como um processo político de um sujeito coletivo. A classe é uma dimensão central nesse movimento, assim como é o reconhecimento de que as mulheres trabalhadoras, camponesas, negras, quilombolas e indígenas tem sido sujeitos coletivos, capazes de grandes mobilizações e de confrontos cotidianos ao capitalismo racista e patriarcal. Um desafio – que também é resistência – é não permitir que essas lutas sejam apagadas e ocultadas do presente como já foram na história. Sobre isso, Nalu concluiu: “é urgente que sejamos capazes, desde o campo antissistêmico, de construir uma força que possa inspirar outros setores para que participem desse processo”.

    “Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres” é o nosso lema e horizonte. O repetimos sempre porque reconhecemos nossa diversidade e ela é nossa potência. Somos muitas e só seremos livres quando todas forem.

  • Seminário internacional feminista segue com discussão sobre resistências nos territórios

    Seminário internacional feminista segue com discussão sobre resistências nos territórios

    Por Marcha Mundial das Mulheres

    Nesta terça-feira (18), tem continuidade o seminário internacional “Resistência e construção de movimento: confrontando o neoliberalismo desde a economia feminista e os comuns”, organizado pela Marcha Mundial das Mulheres. Nesta manhã, o debate intitulado “Resistências nos territórios: acúmulos, lições e desafios” contou com a participação de Alessia Dro, que é membro do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e integra o Movimento de Libertação das Mulheres do Curdistão, Sophie Ayoo Ogutu, que é militante da MMM no Quênia e atua na articulação de organizações populares feministas em seu país, e Osawa Binesh Albert, que é membro do conselho da Rede Indígena de Meio Ambiente (IEN) dos Estados Unidos. A discussão foi mediada por Chung-Wha Hong, diretora da Grassroot Internacional.

    Mulheres insurrecionárias

    Alessia apresentou reflexões sobre a resistência das mulheres curdas e propôs um questionamento coletivo sobre o que é a política para as mulheres. A área de atuação do Movimento de Libertação das Mulheres do Curdistão corresponde ao norte da antiga mesopotâmia, que foi dividida pelos colonizadores. De acordo com ela, apesar desta divisão, o povo curdo sempre teve uma tradição de organização junto de outros povos e, sobretudo, uma tradição de insurreição popular. A última – das 29 que ela contabiliza – ainda está em curso.

    Hoje as mulheres estão organizadas em comunas feministas e decidem coletivamente quem irá participar de comunas mistas. Elas resistem tanto ao poder do Estado quanto das corporações. Alessia defende que a organização social deve ter como base a comunidade e não a nacionalidade. Em sua visão, tanto o capitalismo quanto o estado-nação são projetos masculinos e patriarcais. “Precisamos ver a história não desde a civilização hegemônica dos Estados, mas sim desde a civilização democrática dos povos”, afirma. A partir destes princípios, as mulheres curdas resistem à militarização, ao autoritarismo e à intervenção religiosa.

    Feminismo em comunidade

    Sophie falou sobre a experiência de auto-organização das mulheres em comunidades no Quênia, resultado da resistência a diversas opressões. Como colônia britânica, o povo queniano foi muito explorado, sobretudo as mulheres. Ela relata que as mulheres caminham muito nas florestas por água, lenha e comida e que no caminho são violentadas sexualmente pelos colonizadores. Quando o estupro resulta em gravidez, após o nascimento os homens decidem se as crianças são mortas, e nestes casos as mulheres são banidas das comunidades.

    “Que tal se nos reuníssemos e vivêssemos juntas?” foi uma das questões que impulsionaram a aliança entre mulheres, a fim de sobreviver e transformar suas vidas e o mundo.  Atualmente “Umoja Uaso Village” (palavra que significa “juntas”) é o nome desse primeira comunidade, onde toda a economia, política e vida são organizadas coletivamente pelas mulheres. Depois dessa experiência exitosa, outras comunidades auto organizadas de mulheres tem sido construídas no país, como alternativa de sobrevivência e exercício de uma vida sem violência. Sophie afirmou a importância da articulação dessas experiências à luta feminista de resistência ao capitalismo, que concretizam o que é a economia feminista no âmbito local e se potencializa na construção da Marcha Mundial das Mulheres. “Resistimos para viver, marchamos para transformar” é justamente o tema da 5ª Ação Internacional da Marcha, que acontece em 2020. Esta é uma realidade vivenciada por mulheres diversas, em lugares também diversos do mundo.

    O capitalismo destrói a vida e a natureza

    Binesh contou sobre a resistência das mulheres indígenas nos Estados Unidos. Ela falou sobre a cosmologia de seu povo, que é conflitante com a visão ocidental. Para elas, proteger a terra e as águas é algo muito sério e importante, porque visualizam uma relação de dependência entre as pessoas e a natureza e, portanto, a responsabilidade com o cuidado – ao contrário do sistema capitalista, que calcula, banaliza e destrói os bens comuns. “Eles acham que é certo saquear a terra e varrer seu povo de lá”, diz ela. Uma das lutas das mulheres indígenas nos EUA é contra o desaparecimento e assassinato das mulheres, que acompanha a violação e expropriação das terras e dos territórios pelo chamado “progresso” do capitalismo.

    Ela também comenta que o governo Trump acirra a violência e as contradições, mas que, mesmo assim, a ideia de desenvolvimento cumpria este papel. “O desenvolvimento ataca as mulheres e a Mãe Terra”, critica. Há muito tempo, as mais de 500 nações indígenas dos EUA lutam contra o controle das corporações nos territórios.

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    Resistência é vida

    A força dessas experiências de construção de resistência e auto-organização popular e feminista inspiram os debates dessa manhã, que contribuem para a construção do imaginário político do mundo onde queremos viver, dos desafios e contradições que encontramos no caminho de sua construção. A discussão coletiva afirmou a centralidade de empreender lutas que ao mesmo tempo resistam à violência e exploração do capitalismo racista e patriarcal, mas que construam simultaneamente sociedades baseadas na igualdade, justiça e solidariedade. A expressão curda “Berxwedan Jiyane” (“resistência é vida”) sintetiza essa visão política que orienta o feminismo internacionalista da Marcha Mundial das Mulheres.

    Nesta tarde, as discussões seguem, com o tema “Feminismo em movimento”.

  • Seminário feminista discute enfrentamentos ao capitalismo racista e patriarcal

    Seminário feminista discute enfrentamentos ao capitalismo racista e patriarcal

    Por Marcha Mundial das Mulheres

    A segunda discussão do primeiro dia do Seminário Internacional “Resistência e construção de Movimento: confrontando o neoliberalismo desde a economia feminista e os comuns”, organizado pela Marcha Mundial das Mulheres (MMM), teve o “Enfrentamentos ao capitalismo racista e patriarcal: visões e estratégias de disputa para mudar o modelo de reprodução e consumo” como tema central, na tarde desta segunda-feira (17).

    A mesa de debate teve mediação de Tica Moreno, que é da coordenação executiva da MMM no Brasil, e participação de Graça Samo, que é coordenadora do Secretariado Internacional da MMM, sediado em Moçambique, Karin Nansen, que é fundadora e presidente da rede Amigos da Terra – Internacional, que atua com foco em justiça ambiental, social e de gênero, e Wendy Cruz, que é integrante da Via Campesina, articulação que reúne organizações e movimentos camponeses de todo o mundo.

    Wendy afirmou que estamos vivendo um desaparecimento do estado como garantidor de direitos e que, em contrapartida, há um falso discurso sobre representatividade que faz algumas mulheres se sentirem parte deste sistema que produz ganância e desesperança. Ela alertou que o capitalismo tem maneiras diversas de se recompor e que nós, que lutamos contra este sistema, temos que forjar novas estratégias para enfrentá-lo.

    É preciso, segundo ela, apontar a concretude deste sistema de morte. Os megaprojetos, o agronegócio e a militarização dos corpos e territórios, que são expressões desta organização patriarcal e neoliberal, são atentados contra a vida. Não se pode permitir que estas violências se normalizem. Para ela, as respostas coletivas a esta realidade também têm que ser concretas. Para a Via Campesina, a soberania alimentar e dos povos é esta proposta de resistência. Neste sentido, a economia feminista também é uma aposta de longa data.

    Para Karin Nansen, é sob as bases da economia feminista que se deve construir a crítica à crise econômica, cuja causa é o modo de funcionamento do sistema capitalista, onde os bens comuns e o trabalho das mulheres são compreendidos como fontes inesgotáveis de exploração. Romper com este sistema, portanto, é romper com a divisão sexual do trabalho. Se hoje as mulheres são linha de frente nas lutas socioeconômicas, é porque há um compromisso profundo com a transformação do mundo e da vida das mulheres e não por uma conexão natural.

    Karin lembra que as mulheres também são protagonistas da luta contra a militarização. Em diversos territórios, a militarização tem estreita conexão com as empresas transnacionais, que utilizam o aparelho repressivo do estado para defender seus interesses corporativos. Para ela, a resistência para tantas violências está na construção do poder popular.

    Graça Samo acredita no mesmo. Para ela, é preciso que as mulheres estejam juntas para enfrentar os “gigantes” deste sistema que mata, todos os dias. É a partir das experiências das mulheres que se torna possível pensar em soluções para a espoliação. Graça também defende que o movimento feminista antissistêmico precisa ter agenda própria e valorizar os próprios processos organizativos. De acordo com ela, a cooptação e o ataque às lutas feministas sempre existiram, mas a organização coletiva é capaz de resistir a estes processos.

    Para Tica Moreno, do Brasil, a diversidade de experiências e de mulheres que compõe as organizações feministas antissistêmicas deve ser uma fortaleza, ao invés de fonte de fragmentação. São estas organizações que têm a capacidade de fazer uma crítica integral ao sistema capitalista e colocar a defesa da vida como interesse central.

    Com estas reflexões, encerrou-se o primeiro dia de Seminário Internacional. A atividade reúne militantes feministas de países das Américas, Europa, África, Ásia e Oriente Médio e é um espaço de formulação de reflexões estratégicas.