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Tag: manifestação

  • Taxistas pedem mais segurança

    Taxistas pedem mais segurança

     

    Ato foi motivado pela morte de Wanderley Nunes, assassinado do último domingo (22) enquanto trabalhava

    Na tarde dessa sexta-feira (27), 200 motoristas se reuniram, às 14h no Estádio do Pacaembu, em protesto pela morte de Wanderley Nunes, taxista assassinado na madrugada do último domingo (22), enquanto trabalhava na Vila Brasilândia, Zona Norte de São Paulo.

    Foto: Mídia NINJA

    O ato, que pedia mais segurança para a categoria, seguiu para a Secretaria da Segurança Pública (SSP), no Centro da capital, onde foi finalizado.

    Dois suspeitos já foram detidos. Nunes levava passageiros da Av. Paulista para a Vila Brasilândia, quando foi abordado por dois homens em uma moto. Os assaltantes não concluíram o assalto, mas um dos homens disparou contra o motorista, que acelerou e bateu em um poste. Nunes foi levado para o Hospital do Mandaqui, mas não sobreviveu. Os passageiros passam bem.

    É a segunda manifestação da categoria, no próprio domingo (22), cerca de 40 taxistas se reuniram na Avenida Paulista, em frente ao vão do MASP por volta das 19h40, e bloquearam duas faixas da via. O ato foi pacífico e terminou às 21h15.

    Foto: Mídia Ninja

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  • Apenas muda, Brasil

    Era uma manifestação, mas lembrava muito uma micareta: ganhava seguidores o carro de som mais animado e a figura mais ilustre era o politicamente ‘engajado’ Ronaldo Fenômeno.

    Na falta de uma figura de peso que representasse o movimento, acabou sobrando para o apresentador Fausto Silva, a tarefa de ser a “grande voz” da manifestação e líder do protesto do domingo, 15 de março. Sem colocar os pés na avenida, Faustão elogiou os manifestantes em seu programa, chamou a adesão aos atos anti-Dilma, disse que era uma apoteose democrática.

    Menos, Fausto Silva!

    Fomos para a Avenida Paulista para o que achávamos que iria ser uma manifestação convocada por diversas organizações, como os Revoltados Online, Movimento Brasil Livre, Vem Pra Rua (que apesar do nome trabalha preferencialmente de maneira digital). Entretanto, fomos surpreendidos ao descobrir que havia vários atos, e não apenas um.

    Foto: Caio Palazzo / Jornalistas Livres

    Ao longo da avenida que é símbolo da pujança financeira da maior capital do Brasil, diversos carros de som disputavam a atenção dos manifestantes que, por sua vez circulavam entre eles, parando um pouco para ouvir um discurso sobre o golpe bolivariano em curso, a necessidade de intervenção militar, a federalização do país (misturada com separatismo de alguns estados), pedidos de impeachment, reforma política e até de dissolução dos partidos atuais e abertura de concurso para profissionais capacitados em administração pública.

    Foto: Caio Palazzo / Jornalistas Livres

    A cacofonia dos carros de som era ecoada pela multidão na avenida, que entoava cantos de arquibancada, refrões de Roberto Carlos, rocks de protesto neoliberais e gritos de ordem. Alguns carros de som tinham condutores com mais experiência ou mais traquejo no palco, e assim atraíam mais atenção ou envolviam mais a plateia, animando a disputa por público naquilo que começou a parecer com um festival de trios elétricos, uma espécie de Loollapalloza da direita brasileira.

    Foto: Caio Palazzo / Jornalistas Livres

    Durante as cinco horas que caminhamos pela Avenida Paulista apenas em poucos momentos parecia haver concordância entre trios e manifestantes. Era quando gritavam “Fora PT”, “Fora Dilma” e “Fora Lula” (que apesar de não ser presidente há cinco anos, ainda tem lugar cativo no rol de “inimigo público número 1″ de parte da classe média).

    Havia uma clara disputa entre as atrações da manifestação. Elas eram como palcos “independentes” e “mainstream” de grandes festivais, com trios menos populares, com menos recursos e frontmans menos ou mais carismáticos, carros pequenos e outros maiores, com som mais potente, além de “subcelebridades”.

    Estiveram presentes o ex-roqueiro Lobão, o longevo Juca Chaves, o cover sem graça do Jô Soares, Danilo Gentile, Bolsonarinho, filho do homônimo, e o petista arrependido Eduardo Jorge. Sem contar a filha do filho de Francisco, Zezé di Camargo, Vanessa Camargo. Coube à rainha do playback a tarefa de cantar o Hino Nacional Brasileiro.

    Foto: Reprodução

    A principal atração da tarde foi uma rápida aparição do ex-jogador Ronaldo, usando a camiseta de R$ 130 do estilista paulistano Sérgio K. com os dizeres “A culpa não é minha. Eu Votei no Aécio”.

    Se os trios, carros de som, barracas, estandes e palcos disputavam sem sucesso a hegemonia de uma narrativa sobre as manifestações deste domingo, outro ator conseguiu isso sem se fazer notar na rua.


    Se houve uma narrativa vencedora neste domingo foi a contada pela grande mídia, dizendo que é aceitável culpar um partido e colocar o ódio como instrumento político. Resta esperar para ver se esta conversa vai ser a que fica.

    Talvez pertença ao rotundo Ronaldo, ex-Fenômeno, a análise que melhor sintetiza o consenso rocambolesco da manifestação. Questionado inúmeras vezes se apoiava o impeachment da presidente, a reforma política, a redução da desigualdade, ele foi sucinto: “o Brasil precisa mudar. Muda Brasil”. E mais não disse.

    Foto: Caio Palazzo / Jornalistas Livres

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  • Afinal, o que eles querem?

    Afinal, o que eles querem?

    Milhares foram às ruas em todo o Brasil pedindo Impeachment, a saída do PT e até intervenção militar. Em comum: a ausência de propostas

    O dia 15 foi marcado por manifestações contra o governo em 25 estados, no Distrito Federal e no exterior. Esta que vos fala acompanhou o ato em São Paulo. Conversei com dezenas de pessoas, homens e mulheres, brancos e negros (embora em expressiva minoria), a favor e contra a intervenção.

    Afinal, o que eles querem?

    Logo ao chegarmos à Paulista, por volta das 13h, pudemos sentir o clima da manifestação. A atmosfera era de final de copa do mundo, as pessoas chegavam em grandes grupos, vestindo camisas do Brasil, enrolados em bandeiras e munidos de suas vuvuzelas. “Contra a corrupção e com uma camiseta da CBF, amigo?” perguntei, em tom de brincadeira, ao advogado Alexandre. “Poxa, é verdade”, respondeu, sem graça.

    A ausência de coerência política foi uma constante. E, para além das milhares de camisetas da CBF, ela ficavam clara no discurso. Alexandre, por exemplo, não é a favor da intervenção militar. Ele acha que é na democracia que a crise institucional encontrará sua saída.

    Foto: Renato Stockler

    “A Dilma devia renunciar, mas, se ela não sair, sou a favor do impeachment”. Alexandre, no entanto, não conseguiu me responder o que deveríamos fazer após a saída de presidenta.

    A ala da Intervenção Militar do grande carnaval da democracia — pois, SIM foi uma manifestação democrática — não era majoritária. Mas soube fazer barulho. Paulo Baldi, aposentado, podia até passar despercebido. Ficava quieto em um canto da calçada, sem interagir muito, sem gritar as palavras de ordem. No pescoço, um cartaz com os dizeres: “Saudades da Ditadura. Democracia só para roubar…”. Ele é filiado ao PPS (?) e acha que não existe solução para a corrupção dentro da democracia.

    No carro de som S.O.S Forças Armadas, que liderava a trupe, gritavam “Novamente, na história do Brasil, São Paulo dá o exemplo”. José Edson, militar (tira, é melhor colocar funcionário público), também é a favor da intervenção militar. “No momento, o mais indicado é a intervenção militar. Ninguém pode fazer a verdadeira revolução que precisamos”. Ele tem 55 anos e diz se lembrar da ditadura militar “As pessoas de bem estavam nas ruas e os bandidos estavam presos, agora, é o contrário”. Pergunto se ele é a favor da separação de São Paulo do restante do país:

    “Não, acho que o progresso tem que chegar a todos os estados. São Paulo não pode mais levar o país nas costas. Os nordestinos tem que parar de precisar vir para São Paulo. Afinal, na nossa bandeira diz Ordem e Progresso. Cadê a ordem? Cadê o progresso?”, indaga. A intervenção seria para sempre? “Não, só até convocar novas eleições e estabelecer a ordem”. Também não conseguiu assegurar que uma nova eleição resolveria o problema da corrupção.

    No meio da multidão uma faixa me chamou a atenção “Grandes Companhias escolhem os Candidatos nos Partidos e mandam fortunas para os Partidos que Recebem x 100 pelas Obras Superfaturadas”. Pergunto ao rapaz que segurava a ponta esquerda da faixa: “Você é contra o financiamento privado de campanha? Defende alguma plataforma da reforma política?” “Na verdade moça, quem fez a faixa foi aquele moço da ponta. Acho melhor falar com ele”. Sigo até a ponta direita e faço a mesma pergunta. Giovani Zimovstic, gráfico, me responde: “Sim, sou a favor da reforma política” “E como essa reforma política deveria ser feita?” “Mudando as leis” “Mas quais leis?” “Moça, coloca aí: defendo que todos os políticos deveriam ter suas contas abertas”. Legal, eu também. Mas isso não é uma reforma política.

    Foto: Larissa Gould

    Ao fundo escuto uma voz masculina dizer em um megafone: “Essa é a marcha da Família Brasileira e dos cidadãos de bem”. Ao mesmo tempo, vejo passar uma faixa “Contra o Fanatismo e Populismo”, atrás da faixa uma multidão gritava “A Dilma morreu!”.

    Claudia e Felício Vital, um casal de senhores aposentados simpáticos, estava nesse momento. Eles são a favor do impeachment, mas não da intervenção militar. Também não são a favor de Michel Temer “mas se não tiver jeito, melhor que a Dilma”. Eles não souberam indicar qual a solução para a corrupção do Brasil.

    Quase que imediatamente Reginaldo Lopes, consultor de segurança, me aborda: “Você é jornalista?” “Sim” “Posso dar o meu depoimento?” “Claro”. Em seguida, Reginaldo dá o seu depoimento:

    “O Problema do Brasil é o Foro de São Paulo. Nos anos 90’ Lula e Fidel Castro criaram o Foro e o PSDB foi conivente. De 2 em 2 anos eles se encontram e junto com o Unasul querem criar um bloco da América Latina”. Ele não é a favor da intervenção militar. Na verdade acha que intervenção militar é coisa do PT “Já financiaram a guerra, agora chamam o exército do MST” e ironiza “O nosso professor de filosofia Olavo de Carvalho — conhece? — tinha razão! Exército? Eles vão nos atacar com picaretas e enxadas?”. E finaliza “Você vai usar a entrevista né? Essa é minha contribuição”. Vou, asseguro. Ele também não me apresentou propostas para depois do Impeachment.

    A verdade é que entre as dezenas de pessoas que falei, nenhuma delas conseguiu me dar uma proposta para a crise institucional. Elas estavam todas perdidas, insatisfeitas, mas perdidas. Talvez a pessoa mais sincera que eu tenha conversado tenha sido a Dona Rosa, que vendia churrasquinho enquanto as milhares de pessoas iam à Avenida Paulista pedir mais direitos. A moradora do Jd. Santa Margarida, extremo Zona Sul, contou que ficou sabendo da manifestação pela TV, no jornal, ela não sabia se era a favor ou contra. “Não sei moça, eu fico na dúvida” “Por quê?” “Eu acho que não importa quem entrar, não vai mudar” “A senhora não vê nenhuma saída?” “Não” “E a senhora votou em quem?” “Eu votei na Dilma”.

    Poderia contar outras muitas conversar e citar outros tantos cartazes. Mas a verdade é que a insatisfação é geral e legítima. No entanto, estão todos tão confusos quanto Dona Rosa. Ao mesmo tempo em que se vangloriam por não ter lideranças, não sabem que rumo tomar.

    Foram milhares nas ruas do Brasil. Eles podem até saber o que não querem, mas, definitivamente, não sabem o que querem.

     Foto: Renato Stockler

     

  • O que está por trás da contagem de pessoas nos protestos?

    O que está por trás da contagem de pessoas nos protestos?

     

    O número divulgado de participantes nas manifestações do fim de semana mostra quem é quem na fila do pão, mais conhecida como política

    Se depender dos resultados sobre o número de participantes nas manifestações que tomaram a Avenida Paulista na sexta-feira, 13, e no domingo, 15, deste mês de março de 2015, a situação da educação brasileira não poderia ser mais assustadora: somos os piores do mundo em matemática.

    Afinal, o que mais explicaria o fato de a Polícia Militar do Estado de São Paulo dizer que mais de um milhão de pessoas foram às ruas protestar neste domingo, enquanto o Instituto DataFolha estima não mais que 210 mil pessoas? Uma diferença superior a 450% na solução de uma mesma equação.

    Foto: Mauricio Lima para Jornalistas Livres

    Na sexta-feira foi ainda pior. Na manifestação a favor da democracia e em defesa da Petrobras, a PM fechou a conta em 12 mil pessoas, a organização (formada por movimentos sociais e sindicais) cravou 100 mil. O DataFolha chutou na coluna do meio: 41 mil. A discrepância entre um ponto e outro beira 1000%.


    Mesmo sem um diploma de exatas ousamos ponderar que em ambos os dias, a verdade numérica deve estar no meio desses extremos. O problema é que cada lado adota para si o que lhe é mais conveniente.

     


    De acordo com o DataFolha, no auge da manifestação deste domingo por volta das 16 horas, havia 188 mil pessoas reunidas. Pouco antes, às 15h40, a Polícia Militar havia informado que o número passava de um milhão de manifestantes na Avenida Paulista e adjacências, protestando contra o governo da presidente Dilma Rousseff. Segundo a PM, o cálculo levou em conta a informação de que a cada dois minutos chegavam quatro mil pessoas pelo pela estações de metrô da região.

    Foto: Renato Stockler para Jornalistas Livres

    De acordo com o professor de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo, Renato Janine Ribeiro, para caber tanta gente nos cerca de 2,6 quilômetros de extensão, com cerca de 30 metros de largura da avenida, ocupados pelos manifestantes, é necessário que haja de 15 a 17 pessoas por metro quadrado. “Nem naquela apresentação do circo chinês, onde os artistas de se equilibram um em cima do outro é assim”, ironiza. A PM rebate afirmando que usa imagens aéreas e tecnologia de ponta nos cálculos.

    Davi e Golias – O que está por trás da contagem de pessoas nos protestos?

    Para quem compareceu às manifestações, resta uma certeza: Nem de longe, a multidão que marchou por quilômetros da Paulista a Praça da República, embaixo de chuva torrencial (confira aqui) na sexta-feira, 13, era o Davi que sugere a polícia. Ao passo que nem o mais crédulo cidadão pode concordar que para o protesto contra a corrupção, a favor do impeachment, intervenção militar, e pelo menos mais meia dúzia de reinvindicações, mais de um milhão de pessoas saíram de casa neste domingo em direção a avenida mais famosa de São Paulo. Um Golias para metáfora bíblica nenhuma botar defeito.

    Policiais monitoram manifestação na Av. Paulista no Domingo, 15 de Março. Foto: Caio Palazzo para Jornalistas Livres

    A discrepância absurda merece análise, mas não para se discutir as operações básicas da matemática — que ao que parece ninguém sabe como funciona em São Paulo — e sim as motivações para tal. O governo paulista, a quem a polícia é subordinada, tem claro interesse de inflar o resultado de domingo e mitigar o de sexta, assim como o tratamento dado pela imprensa tradicional, que solenemente ignorou o ato da sexta, mas tratou o do domingo como um carnaval, já mostra onde estão depositados os seus interesses. O mesmo acontece com o perfil dos presentes nos dois dias.

    Sexta-feira, a cor e a cara dos manifestantes não escondia o cansaço e nem a origem dos mesmos, ao passo que domingo, a alegria, a camisa da seleção, e as babás uniformizadas também não. Isso deslegitima a maior parte das reinvindicações? Não, mas deixa claro as motivações de cada um.


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  • Um dia de ninja (*)

    Um dia de ninja (*)

     

    Parece que eu estou dentro de um filme. Quando me dou conta, estou no meio da cena. Do alto do carro de som, e ecoando pelo asfalto, os militantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) entoam com força o manjadíssimo slogan de manifestações ”o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!”.

    Passam correndo por mim um, dois, três, não sei quantos homens vestidos de preto e munidos de câmeras de filmagem e outros equipamentos midiáticos. Saio correndo atrás do último deles, e ouço a galera ao redor rachando o bico de dar risada — mais que tensa, a cena tem um quê de filme d’Os Trapalhões.

    A cena é mesmo digna de um exército de Brancaleone: a) equipe da Rede Globo, com microfones e câmeras tampados sem identificação e roupas camufladas todas pretas, como se estivessem de luto, b) militantes de vermelho vaiando, hostilizando, rindo e passando corridão nos homens de preto, c) euzinho no final da fila.

    Eu, no caso, sou Pedro Alexandre Sanches, 46 anos de idade, jornalista profissional há 20, dez anos de estrada de rodagem na Folha de São Paulo (1995–2004), mais quatro na CartaCapital (2005–2009), ou últimos seis vividos na vida frila, capenga, mal das pernas, empregado-e-patrão de mim mesmo (e do irmão e colega uspiano de faculdade de jornalismo Eduardo Nunomura, parceiro de todas as aventuras deste FAROFAFÁ).

    Mas por que corro atrás da Rede Globo? Estaria eu também em busca de um emprego cheio de mordomias e salários regiamente depositados em paraísos fiscais BRITÂNICOS pela família Não-Marinho?

    Não, não é o caso. Aqui no asfalto da marcha pela democracia de 13 de março de 2015, eu, além de ser eu mesmo, estou também transmutado em Midia NINJA por um dia. Estou atrás dos globais porque tenho uma ideia na cabeça e uma câmera-celular na mão e posso, eu mesmo, sozinho, filmar e transmitir ao vivo para você o bem-humorado passa-fora dos trabalhadores vermelhos braSileiros em seus irmãos trabalhadores azuis da multinacional braZileira Globo.

    Tento explicar o contexto. Menos de 24h atrás, atendemos à convocação da colega Laura Capriglione, uma das mais completas repórteres do BraSil com S (ex-colega de Folha, por sinal), e participamos de uma reunião que culminou na criação do grupo colaborativo #JornalistasLivres (procure saber, caro colega, #ProcureSaber!), com o objetivo inicial específico de fazer uma cobertura ANTIGOLPE das manifestações pró e anti-Dilma Rousseff de, respectivamente, 13 e 15 de março.

    Enquanto discutimos animadamente o que fazer, algo incrédulos de estarmos testemunhando um ensaio de nossa própria organização desorganizada, um lampejo me vem à cabeça enquanto observo Gabriel Ruiz e Rafael Vilela, amigos e companheiros mais-que-jornalistas do controverso coletivo Fora do Eixo: eu também quero ser NINJA por um dia.

    Um dia de ninja (*)

    Em poucos minutos euzinho, dinossauro tecnológico que tenta-mas-não-consegue estar antenado com as transformações por minuto dos meios de comunicação, baixo o aplicativo Twitcast, aprendo o básico de seu uso com o Gabriel, volto pra casa me perguntando se daqui a bem menos de 24 horas vou ter coragem de entrar numa aventura dessas.

    Entro. Entro por uma razão simples. Desde as manifestações de junho de 2013 trago a convicção de que mais uma revolução dentro das muitas revoluções que vivemos começou quando, hostilizadas expulsas pelos manifestantes, as câmeras da Rede Globo e de outras redes de mídia televisiva tradicional subiram para os helicópteros (os “robocops”, “globocops”, “heliPÓpteros”, qualquer desses tipos de monstrengos hollywoodianos). Ao subirem a céus olímpicos, nossos antigos Big Brothers abriram passagem para que, praticamente no mesmo instante, os NINJAs (e outros cinegrafistas-cidadãos) se materializassem no asfalto e se tornassem tradutores das manifestações vividas de dentro, não das beiradas, muito menos do céu.

    O jornalista, ali, começava a se transformar no que sempre foi: um participante ativo, e não mais aquela garatuja de observador ~isento~, alienado e alienador dos acontecimentos preconizado por seus patrões.

    (E, gente, que emocionante ver e ouvir a população discutindo política enfática e efusivamente, apenas cinco meses depois da mais recente eleição! Como diz o colega de #JornalistasLivres e de mídia televisiva Rodrigo Vianna, que bem nos tem feito a direita conservadora e reacionária ao tentar nos destruir!).

    De volta às ruas: desde junho de 2013, a mídia global-hollywoodiana não controla mais a transmissão das manifestações públicas de massa no BraSil. Eis por que eu saí, por mero instinto, correndo atrás dos colegas da Globo: para ajudar a demonstrar uma vez mais que a mídia corrupta não é bem-vinda onde os trabalhadores estão, e que onde o povo está a Globo (& suas foquinhas amestradas) não pode(m) estar. Quem é contra a corrupção, afinal de contas?, o BraZil ou o BraSil?

    Quando chego em casa, vejo no Jornal Nacional imagens daquele repórter de elite que é a cara do Fernando Color (como é o nome dele?) narrando a passeata de dentro da passeata, todo-todo, dono da razão como eles sempre são. Me lembro imediatamente de um vídeo que, pouco antes, o companheiro de #JornalistasLivres Ivan Freitas me mandou (e me fez, de início, me perguntar quem diachos era aquele policial militar de capacete e farda parecido com o governador tucano Geraldo Alckmim). Espia:

    https://youtu.be/JmyOyy12VT0

    Não sei se foi esse mesmo sósia de Collor que persegui na corrida atrás dos ninjas PM globais. De todo modo, minha experiência pessoal, neste dia aventuroso, é oposta à que o Collor Cover Global viveu. Por onde passo com meu celularzinho, seja me identificando ou não como NINJA e/ou #JornalistasLivres, sou acolhido com sorrisos, olhares afetuosos, abraços, desejos de bater papo. O manjado grito de “abaixo a Rede Globo” não é contra os jornalistas ou contra a mídia — é contra AQUELA mídia, aquela que mente para os enganar 24 horas por dia, sem parar, em seus muitos (quase todos) canais.

    Minha conclusão, ao final dessa primeira jornada, é que… ser um NINJA é difícil pra caralho! Para quem se acostumou a carregar só contate (e olhe lá), em pouco tempo o pequeno celular começa a ficar pesado (a transmissão, fora algumas folhas, digo, falhas ~técnicas~, é ininterrupta durante o trajeto todo). Além de energia, é preciso ter muito assunto, e como não tenho tanto assunto assim, menos ainda retórica, fico sem palavras e emudeço durante longos trechos de trajeto.

    Ao contrário do que todos tememos e quase esperamos, a manifestação transcorre 100% pacífica, festiva, sem confrontos, sem depredações (a própria #GloboGolpista reconhece isso em reportagens de rabo entre as pernas). A propósito, este aprendiz de NINJA sairia de banda rapidamente se se visse no meio de confusão (viu, Nina Lemos?!), mesmo sabendo que esse seria um comportamento antiprofissional, antijornalístico — pô, meu, antes de jornalista eu sou gente — prezo por minha integridade física antes de qualquer coisa — é um contraponto de eu jamais esconder meu nome e minha cara atrás de rótulos-clichês do tipo black bloc, anonymous ou outras sub-invenções da indústria POLÍTICA de Hollywood para ludibriar jovens e tiozões de países, er, menos desenvolvidos.

    Minha incursão como NINJA é uma provocação aos próprios amigos da Mídia NINJA (fui eu que me ofereci para entrar na transmissão e na página deles, até receoso de não ser aceito). Gosto dos NINJAs quando eles mostram a cara (no célebre Roda Viva de 2013, por exemplo, que tanto dissabor causou à época aos também amigos Pablo Capilé e Bruno Torturra — e Lino Bocchini, acrescento aqui), não gosto quando resvalam para antiquíssimos subterfúgios subterrâneos ditatoriais. O erro não são os erradores, e quem nunca erramos que atiremos a primeira câmera na mão e a primeira ideia na cabeça.

    Certamente, falei um monte de bobagem durante minhas muitas horas de transmissão — bobagens que um NINJA talvez não falasse e que um jornalista profissional a serviço da mídia tradicional jamais falaria. Falei da minha sexualidade, do meu lado, das minhas posições políticos, do meu apoio sempre entusiasmado aos governos petistas de 2003, 2007, 2011 e 2015.

    Adicionando um ponto às provocações, concordo efusivamente com os colegas #JornalistasLivres quando afirmam que precisamos ser sóbrios e antipartidários nessas nossas coberturas. Ao mesmo tempo, discordo respeitosamente dos que ainda guardam dedos medrosos para, enquanto cidadãos/cidadãs, peitar as próprias escolhas e os próprios votos nas mais recentes eleições.

    É algo que me causa espécie desde o primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva: depois de cada eleição, levas e mais levas de eleitores agem como se simplesmente nunca tivessem votado em quem votaram — estou falando especificamente de cidadãos-jornalistas, mas também de quaisquer outros cidadãos. Os próprios políticos o fazem, tal qual fizeram, em seus respectivos tempos, Luiza Erundina, Marina Silva e Marta Suplicy, três mulheres (ex-)petistas aparentemente inconformadas por ser presididas por uma mulher que não elas mesmas.

    O processo é tão daninho que, de tempos para cá, eleitores de Lula e de Dilma se transformam em seus opositores ferrenhos e rancorosos apenas um ou dois ou três meses depois da posse do novo presidenta — quando não antes mesmo desse prazo. Não preciso repetir o rame-rame neoliberal de que todo governo merece e tem de ser criticado — o que me deixa pasmo é que o façam (jornalistas especialmente, para bem de sua própria sinceridade e transparência perante os leitores) primeiro fingindo que não votaram em quem votaram, depois eventualmente combatendo o próprio voto, sempre ameaçando desembarcar de si próprios.

    Isso me cheira a falta de auto-respeito, auto-estima, amor-próprio, qualquer desses termos tão surrados quanto “o povo não é bobo abaixo a Rede Globo”. A indústria jornalística vai ruir — está ruindo — já ruiu por incompetência de patrões ultrapartidários camuflados dentro de peles de cordeiro, mas também (quem sabe principalmente) pela tibieza de nós mesmos, empregados semi-escravizados que latimos pelos patrões enquanto eles se refestelam do alto das sacadas gourmet.

    (As sacadas gourmet, já que mencionei, são a mais ~nova~ manifestação do midiagolpismo de helicóptero e heliPÓptero — trabalhadoras nas ruas sendo xingadas de “vagabundas” por patrões do alto de edifícios de luxa — a mais antiga das profissões de luta de classes).

    Falei pelos cotovelos: é por isso tudo que desejei ser NINJA por um dia, rompendo ao mesmo tempo com normas dos NINJAs e dos patrões de jornalistas que escrevem manuais de redação tão falsos quanto notas de R$ 35. Este texto procura ser leal aos acontecimentos sem fingir imparcialidade; cioso sem deixar de ser transparente; oblíquo, mas nunca dissimulado; ponderado sem jogar no lixo o próprio direito cidadão à manifestação e ao voto; ~antijornalístico~ para quem sabe conseguir um dia ser aquilo que mais quero ser quando crescer: um jornalista.

    Obs.: parabéns a todas as companheiras e companheiros que mandaram ver e fizeram a mais linda das coberturas via a tag #JornalistasLivres — vocês somos FODAS — amanhã tem mais!

    * #JornalistasLivres em defesa da democracia: cobertura colaborativa; textos e fotos podem ser reproduzidos, desde de que citada a fonte e a autoria. Mais textos e fotos em facebook.com/jornalistaslivres.


    Originally published at farofafa.cartacapital.com.br on March 14, 2015.

     

     

  • Intervenção militar não!

    Intervenção militar não!

     

    Se dependesse da vontade de parte da população que ocupa as ruas neste domingo, 15, esta manifestação não aconteceria. Vários cartazes expostos apontam o desejo da volta dos militares ao poder. Uma vontade aparentemente contraditória para quem está se manifestando livremente, já que os militaristas que vão as ruas se beneficiam de um dos principais fundamentos da democracia: o direito à livre manifestação, independentemente das contradições.

    Foto: Mídia NINJA

     

    Intervenção militar não !

    A insatisfação incentivada pela imprensa tradicional, claramente direcionada a um partido e ao governo federal — em meio a denúncias que envolvem nomes de diversos partidos nas esferas municipal, estadual e federal — procura acordar monstros adormecidos nos porões de nossa História. Uma pergunta paira no ar: como um retrocesso poderia ajudar a resolver os problemas políticos e econômicos que o país enfrenta agora?

    Queremos avanços, não retrocessos.


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