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  • Em dois anos, 400 ações foram ajuizadas na justiça trabalhista contra o McDonald’s do Brasil

    Em dois anos, 400 ações foram ajuizadas na justiça trabalhista contra o McDonald’s do Brasil

    Manifestação dos funcionários do McDonald’s, nessa quarta-feira (15), denuncia exploração no trabalho e péssimas condições de serviço

    Quem trafegava pelos arredores do MASP por volta das 10h da quarta-feira (15), já podia ouvir o carro de som emitindo uma série de palavras de ordem. Era o ato mundial em defesa dos funcionários da gigante do fast food, o McDonald’s. A mobilização foi uma iniciativa do Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Restaurantes e afins de São Paulo (Sinthoresp), da Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST) e Confederação Nacional de Trabalhadores de Hospitalidade e Turismo (Contratuh). Outras entidades também estiveram presentes em apoio à causa, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a União Geral dos Trabalhadores (UGT).

    Em grande número, as camisas amarelas do Sinthoresp traziam os escritos #SemDireitoNãoÉLegal, nome adotado para a versão brasileira do movimento. Alguns Ronalds McDonald’s, presos em uma jaula, dava o tom performático da manifestação. Por volta das 11h30 da manhã, a manifestação saiu em marcha pela Avenida Paulista em direção a uma das unidades da lanchonete, que fica a algumas quadras do MASP, local caracterizado pelo grande número de artistas de rua.

    Não houve atrito com a Polícia Militar, apesar do pequeno cordão de isolamento feito por policiais e seguranças na entrada da lanchonete, que permaneceu aberta a clientela. Cerca de uma hora depois, um ato simbólico cremou, sem muito sucesso, o caixão de Ronald McDonald’s, carregado pelos manifestantes. Dentro da lanchonete, alguns transeuntes paravam para olhar a movimentação, curiosos. A maioria, no entanto, fazia sua refeição tranquilamente.

    Foto: Victor Santos

    Resultado do encontro entre representantes sindicais de todo o mundo — ocorrido em maio do ano passado em Nova York — o evento foi marcado em 40 países e reuniu, em São Paulo, cerca de 1.000 pessoas segundo os organizadores. Já nos cálculos da PM, foram 300 participantes. A mobilização buscou chamar a atenção para as agressões trabalhistas sofridas pelos funcionários da lanchonete. Em especial, a questão dos baixos salários, que ganhou força em 2012, nos Estados Unidos, e passou a ecoar em muitos outros países.

    No Brasil, contudo, a exploração dos funcionários do McDonald’s também não é nova. De acordo com as entidades, entre 2012 e 2014, quase 400 ações foram ajuizadas na justiça trabalhista contra a rede em todo o país. As principais ocorreram em 23 de fevereiro e 18 de março deste ano. Na ocasião, a empresa foi acusada de pagar salários inferiores ao mínimo, promover acúmulo de funções, não remunerar horas extras, desrespeitar intervalos de descanso e não pagar o adicional de insalubridade.

    Leia também: A mobilizaçao das redes de Fast Food em Nova Iorque

    Umas das questões mais polêmicas se refere à jornada móvel variável, método proibido em 2013, pelo qual o trabalhador “fica lá a disposição pra trabalhar só na hora do pico, e receber aquilo de acordo com as horas trabalhadas”, como explica Francisco Calasans Lacerda, presidente do Sinthoresp. Segundo ele, o McDonald’s ainda estimulou a criação de um sindicato específico para os trabalhadores de redes de fast food (Sindifast), na tentativa de driblar o piso salarial de R$ 1.050 estipulado pela Sinthoresp.

    Apesar dessas condições, uma parcela ínfima da manifestação era composta de atuais funcionários da empresa. Os únicos dois que conseguimos entrevistar não quiseram revelar seus nomes com medo de represálias. Perguntado sobre os motivos de estar na manifestação, um dos jovem, de 23 anos, ressalta os baixos salários, o não pagamento de horas extras e o esquema de banco de horas. “Você fica até mais tarde hoje!Amanhã você pode sair mais cedo”, dizem os chefes aos funcionários. No entanto, nem sempre é respeitado, segundo o jovem. Ambos estão na empresa a 7 anos e dizem que recebem aumento anual de apenas alguns centavos.

    Já a ex-funcionária Ana, 26, foi além dos salários e apontou para o assédio moral. “Não tratam a gente com dignidade! Só usam palavras de baixo calão!”, denuncia a trabalhadora.

    Em nota pouco esclarecedora, o McDonald’s diz ter “convicção do cumprimento da legislação, seguida pela companhia desde a abertura do seu primeiro restaurante brasileiro, há 36 anos”.

     

  • Novos dados sobre ato “Fora Dilma” expõem opiniões dos manifestantes

    Novos dados sobre ato “Fora Dilma” expõem opiniões dos manifestantes

    Segundo a pesquisa, mais de metade acha que o PCC é um braço armado do PT e outros 42% concordam que o partido trouxe 50 mil haitianos para votar em Dilma

    As mobilizações contra a presidenta Dilma Roussef (PT) voltaram à Avenida Paulista. A onda verde e amarela esteve nas ruas, mais uma vez, no último domingo (12). Apesar de reduzida, a manifestação somou 100 mil cabeças, segundo o DataFolha.O perfil dos manifestantes não mudou: predominância da elite e forte presença da classe média; alto grau de escolaridade e faixa etária acima de 36 anos.

    Nessa terça-feira (14), novos dados, coletados em pesquisa coordenada pelo professor da USP, Pablo Ortellado, e Esther Solano, da Unifesp, trouxeram a tona uma classificação mais detalhada daqueles que estiveram na Avenida Paulista no último domingo. Confira a pesquisa.

    Após as mobilizações do dia 15, Otellado, em entrevista à Vaidapé, já havia sinalizado para a homogeneidade dos atos e da predominância da classe média alta.

    O professor também apontou para o isolamento político da presidenta Dilma Rousseff: “Se os grupos de direita conseguirem consolidar esse nível de mobilização, que é o esforço deles, ela vai estar em uma situação muito mais difícil do que a do Maduro, por exemplo. Porque, se você olhar, o Maduro está em uma situação extremamente polarizada, mas com apoio da esquerda e dos grupos populares. Ela está perdendo as duas coisas.”

    Pesquisa

    A pesquisa buscou novas informações que elucidam o perfil dos manifestantes. Foram levantadas questões como a confiança em partidos, movimentos sociais, comentaristas políticos e veículos da imprensa, além de opiniões sobre programas governamentais.

    Os dados apontam para um claro descontentamento com as atuais legendas. Mais de 98% dos manifestantes disseram confiar pouco ou nada nos partidos políticos.

    O PT e o PMDB tiveram grande reprovação: 96% e 81,8%, respectivamente, não confiam nos dois gigantes do planalto central. Já o PSDB se destacou como o partido que gera menos desconfiança — apesar de o número ainda ser alto. Dos perguntados, 47,6% não confiam nos tucanos, menor número entre os partidos levantados na pesquisa.

    Único partido da Câmara sem ligação com as empreiteiras investigadas na Lava Jato, o PSOL, não passou despercebido e pouco mais de 93% dos entrevistados afirmaram não confiar ou confiar pouco na legenda.

    A maioria dos manifestantes também se dizem contrários às cotas em universidades e ao Bolsa Família. 60,4% acham que o programa iniciado na gestão do ex-presidente Lula (PT) só financia preguiçosos. Apesar de 77,4% dos entrevistados se dizerem brancos, 70,9% acreditam que a implementação do programa de cotas gera mais racismo.

    Algumas suposições mais delirantes também reinaram no ato na Avenida Paulista: 53,20% vêem o PCC como um braço armado do PT e outros 42,6% concordam que o Partido dos Trabalhadores trouxe 50 mil haitianos para votar na presidenta Dilma Rousseff nas últimas eleições.

    O levantamento também apontou o blogueiro da Veja, Reinaldo Azevedo, e a apresentadora, Raquel Sherazade, como os comentaristas políticos que passam mais confiança aos manifestantes, sendo que 39,6% disse confiar muito em Azevedo e 49,4% em Sherazade.

    Apesar da forte cobertura às movimentações nos últimos atos, a aprovação da imprensa foi baixa. Enquanto 21% confia muito nos veículos, 78,6% dos entrevistados disseram confiar pouco ou nada.

    Os veículos de mais confiança foram a Veja e o Estado de S. Paulo. Respectivamente, 51,8% e 40,2% dos entrevistados afirmaram confiar muito nas duas mídias. Outros, como a Carta Capital, ficaram no esquecimento: 30,7% disseram nem conhecer a revista.

    A pesquisa foi feita com base em 571 entrevistados por toda a extensão da Avenida Paulista, entre às 13h30 e 17h30 do último domingo. A margem de erro é de 2,1%.

    Força Política

    Para Ortellado a queda no número de manifestante não significa um fracasso dos protestos anti-governo. “100 mil pessoas na Paulista é o dobro do que a esquerda tem conseguido colocar na rua, quando se une e quando se esforça”, afirmou o professor em seu perfil do Facebook.

    No contexto do último ato, o coordenador da pesquisa já havia apontado a força política da mobilização: “Se eu tenho 200 mil pessoas de classe média mobilizadas na rua, isso é extremamente assustador. Porque elas são muito mais poderosas do que 200 mil trabalhadores. São pessoas que tem acesso a recursos, tem influência política. Isso não é uma fraqueza, isso é uma força do ponto de vista político”.

     

     

  • ♥ O coração é vermelho ♥

    ♥ O coração é vermelho ♥

     

    Foto: Márcia Zoet

    ♥ O coração é vermelho ♥

    por Tatiana Pansanato, para os Jornalistas Livres

    Dia 12 de abril, no coração da Avenida Paulista, decidimos realizar uma intervenção artística em pleno território inimigo. Caracterizadas como manifestantes e paramentadas com a camisa da CBF, nosso objetivo era entregar corações vermelhos para os participantes daquilo que parecia uma micareta, Nosso propósito? Saber se a turma verde-amarela ficaria chocada com a cor do coração.

    Foto: Márcia Zoet

    Nossa ação basicamente era abordar os passantes enquanto se manifestavam e pedir licença para colar corações vermelhos do lado esquerdo do peito. Vermelho?

    Começamos pelo bloco da Intervenção Militar. Ali estava concentrada a terceira idade, saudosa dos anos em que os governos dos milicos fizeram calar milhares — e pararam, de verdade, alguns corações na tortura. Conseguimos colar corações nas senhoras, que ficaram orgulhosas da nossa atitude e diziam que somente os jovens poderiam mudar esse país. Onde estavam os jovens? Aqueles que na ditadura foram perseguidos, torturados e mortos? Aí foi a primeira grande contradição que ouvimos, e foi assim que nos demos conta do que nos esperava.

    Foto: Márcia Zoet

    Seguimos com nossa intervenção pela Paulista, rumo à Consolação, provocando com nossos corações e começou a negação à cor vermelha. Quando abordávamos as pessoas, dizíamos que era uma intervenção por uma manifestação sem hostilidade e, por isso, estávamos nessa função de entregar tais adesivos de coração. A pergunta que não conseguia ficar presa na garganta da grande maioria era: “E por que vermelho?” É realmente interessante essa aversão que as pessoas da micareta verde-amarela têm pela cor do sangue, pela cor que representa o amor, a paixão. Nossa resposta era simples: “Mas o coração é vermelho, não é?” Como respostas ouvimos de tudo: “meu coração é verde-amarelo”, “até aceito esse coração vermelho, mas meu coração fica na direita”; uns diziam que isso era coisa do PT e por aí seguia a imaginação.

    Foto: Márcia Zoet

    Uma parte que recebia nossos corações de peito aberto, geralmente famílias com seus filhos, tomando sorvete e comendo pipoca, como se estivessem na saída da matinê do carnaval do interior. Entregamos muito para “os marias vai com as outras” que viam que estávamos distribuindo corações e se aglomeravam para conseguir um, mas quando viam que era vermelho entravam em conflito, mas acabavam aceitando, claro, uma vez que esses “maria vai com as outras” são sem opinião. Nesse momento chegamos ao maior bloco de todos os carnavais, digo, de todas as manifestações, o bloco Vem pra Rua. Estava cheio de patricinha e mauricinho (como diz meu pai) e para esses que vinham com o abadá completo foi impossível a missão de entregar corações. Paramos próximo ao trio elétrico e ouvimos por uns instantes o que determinado representante da OAB pronunciava e tivemos que sair às pressas porque esquecemos que estávamos na terra do inimigo e começamos a gritar palavras contrárias as que todos estavam repetindo. Gostaria de ressaltar que nesse momento a companheira Maira teve seu celular roubado e a fotógrafa Márcia que acompanhava nossa intervenção ficou sem sua lente, detalhe importante é que as duas estavam com seus objetos dentro da bolsa.

    Foto: Márcia Zoet

    A partir desse momento ficamos indignadas e, mesmo assim, seguimos por uma Paulista já dispersa. Diante dos carros de som, já não se aglomerava quase ninguém e os que o faziam já não se expressavam. Era tamanha a desorganização, tanta gente falando, que imagino que as pessoas perderam suas referências, já não sabiam se estavam ali pelo fora Dilma e/ou se estavam para festejar o dia nacional da coxinha. Terminamos com os corações entregues e os nossos próprios corações partidos, por ver parte dos cidadãos e cidadãs gerando ódio e tornando-se cada vez mais fascistas sem saber e manipulados sem querer.


    Assista o vídeo realizado pelos Jornalistas livres

     

  • Protestos contra Dilma perdem o fôlego e número de manifestantes é abaixo do esperado

    Protestos contra Dilma perdem o fôlego e número de manifestantes é abaixo do esperado

     

    Os protestos contra o governo de Dilma Rousseff marcados em cerca de dez Estados e no Distrito Federal, para este domingo (12) tem número de manifestantes abaixo do previsto pelos movimentos que os organizaram. As manifestações começaram às 9h30.

    Em São Luís, a organização do movimento “Brasil Livre” informou a presença de pouco mais de 60 pessoas na concentração. Por falta de quórum, eles aguardavam a chegada de mais integrantes para iniciar a passeata. O protesto estava marcado para iniciar às 8h30.

    Em Belo Horizonte, a o protesto ocupou a praça da Liberdade e às 12h, havia cerca de duas mil pessoas, segundo a PM. A expectativa dos organizadores era de pelo menos 5 mil participantes. No Rio de Janeiro, cerca de 800 manifestantes se concentram em Copacabana, mas a PM do Rio disse que não fará estimativas de público do ato na capital fluminense.

    No Amazonas, a PM informou que a manifestação na Praça do Congresso, no Centro de Manaus, tem número pequeno de pessoas. O movimento estava marcado para às 10h, no horário de Brasília, mas até ao 12h não passava de 20 pessoas.

    Em Alagoas, o protesto deste domingo começou em Arapiraca. Segundo organizadores do Movimento Brasil Livre, 150 pessoas participam de caminhada pelas ruas do centro de Arapiraca. A PM ainda não divulgou estimativa do número de manifestantes na cidade.

    Aguardando São Paulo

    Para os organizadores, a maior movimentação deve acontecer em São Paulo. Na avenida Paulista, na capital, os manifestantes começaram a chegar por volta das 12h30. Até agora, somente em Brasília e Salvador o número de pessoas presente nos protestos foi significativo, cerca de dez e quatro mil respectivamente.

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  • Direito à dignidade

    Direito à dignidade

     

    Boletim Nº1 do grupo de trabalho de Formação dos Jornalistas Livres

    Car@s companheir@s,
    Estamos vivendo um momento muito triste. A violência policial ultrapassou há tempos o limite do suportável. Só que agora acertou a cabeça de um menino de 10 anos — e todo mundo viu. Há raiva, revolta, medo. Mas há também uma força gigante que move mães, pais, irmãos, avós, tios, tias e envolve todos nós na busca pela esperança.

    A constatação de que a justiça é seletiva, de que o extermínio da juventude negra e pobre é uma escolha da polícia, uma diretriz de segurança pública e, portanto, uma responsabilidade do Estado, nos impõe, enquanto rede de veículos de jornalismo independente focado em direitos humanos e democracia, o dever de assumir uma posição.

    Estamos do lado de quem é mais oprimido. De todas essas mulheres que não param de velar seus jovens. Somos parte do enfrentamento e da luta, não só no Alemão, mas junto com todos que passam diariamente por essas graves violações de direitos humanos. Diante disso, precisamos fazer o nosso trabalho com a maior qualidade possível.

    Ao mesmo tempo, como é uma situação de comoção coletiva, é fácil ultrapassarmos a linha tênue que divide jornalismo e sensacionalismo. Como estamos lidando com vida e morte, com violência e muita dor, precisamos ser cuidadosos na cobertura. Nesta cobertura e em tudo o que diz respeito aos direitos humanos. Ainda mais quando há crianças envolvidas.

    É preciso estar atento e forte.

    Por conta da nossa natureza, sabemos cobrir bem o ao vivo, as manifestações. Essa é uma parte fundamental do nosso trabalho. Registrar o ponto de vista de quem está no chão, na caminhada. E obrigar a que essa história esteja contada. Isso é muito bom. Estamos também nos preparando para aprofundar nas reportagens, para mostrar o contexto em que as violações acontecem, como se dão, onde nascem, a responsabilidade das forças de segurança do Estado, as políticas públicas, as histórias das pessoas, os dados, as opiniões. A maneira com que faremos essa narrativa é igualmente importante.

    Tudo isso nos dá a oportunidade de estabelecer novos padrões de cobertura. Se todos estiverem de acordo, gostaríamos de iniciar este crucial debate propondo três deles para hoje e os próximos dias:

    • Jornalistas Livres não publicam imagens em que pessoas — especialmente crianças — são retratadas em situações degradantes.

    • As exceções se impõem quando essas imagens forem denúncias e única prova de que determinada injustiça ocorreu. No entanto, se o vídeo ou a foto já estiver circulando pela rede (ou se a Globo, ou outra TV, já tiver exibido), não nos interessa. De qualquer maneira, essas imagens precisam necessariamente de cuidado, tratamento, contexto. Sabemos que é uma contra-mão da dinâmica de rede. Mas é importante assumir esse cuidado.

    • Nenhuma vida vale mais que outra. Não faremos comparativo entre o assassinato do menino Eduardo e a morte do filho do governador, essa última tratada com muito mais cuidado pela mídia convencional. Não colocaremos uma em contraposição à outra. Porém, a morte causada por um agente do Estado é nosso foco de cobertura. Trataremos dela.

    Devemos ser coletivamente responsáveis diante das graves violações de direitos humanos, agindo como ombudsmans uns dos outros e, sobretudo, de nós mesmos. Acreditamos no debate franco e aberto entre nós e com o público leitor, como instrumento de aprendizado coletivo.

    Lembramos que nesta segunda-feira, dia 6 de abril, às 20h, acontecerá a oficina sobre a cobertura de “adolescentes em conflito com a lei/maioridade penal”. Muitos aspectos acerca dessas questões poderão ser abordados nessa conversa. E assim vamos alinhando a cobertura e imprimindo a nossa identidade. A oficina será transmitida ao vivo via internet, pel@s canais d@s #JornalistasLivres.

    @s integrantes do GT de Formação se colocam à disposição para qualquer diálogo a respeito desses temas. Um abraço a tod@s.

    Força, coragem e alegria para nós.

    GT de Formação

     

  • Protesto pela paz e contra a violência policial mobiliza Comunidade do Alemão

    Protesto pela paz e contra a violência policial mobiliza Comunidade do Alemão

    A manifestação que contou com mais de mil pessoas ocorreu em resposta ao assassinato de quatro moradores em menos de 48 horas

    Mais de mil pessoas realizaram um protesto na manhã deste sábado (4) no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro (RJ), pedindo por paz na comunidade, que tem mais de 15 mil habitantes. A manifestação ocorreu em resposta à violência policial e ao assassinato de quatro moradores em menos de 48 horas nesta semana, entre eles Eduardo de Jesus Ferreira, de apenas 10 anos.

    Com cartazes que diziam “- Bala + Amor”, “Merecemos viver sem medo de morrer” e “Pobreza não é caso de polícia”, os moradores e militantes de direitos humanos saíram em marcha pelas ruas da comunidade vestidos de branco.

    Foto: Mídia NINJA

    “A minha filha mais velha não quer ir pra escola com medo de morrer. Estou caminhando hoje porque a nossa luta é pela vida. A gente quer viver”, relatou Camila, moradora do Complexo do Alemão e mãe de duas crianças, em entrevista à reportagem da Mídia Ninja, que transmitia ao vivo a mobilização.

    Vanessa, que sempre viveu no Alemão, criticou as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que foi instalada no local em 2012. “A UPP vem só para destruir. O caso do Eduardo não é inédito, já vem acontecendo. Um dia antes uma mãe morreu. Esses policiais são covardes. Só vem para matar, tirar a vida dos outros”, disse. Apesar de não possuir nenhuma história de assassinato na família, Vanessa afirmou que “cada sangue de inocente que é derramado, sangra na gente. Aqui no Complexo do Alemão todo mundo é uma família”.

    Outra declaração veio de um morador, que não quis se identificar por medo de represálias, assim como muitos que a reportagem da Mídia Ninja buscou ouvir. Aos gritos em meio ao protesto, ele sentenciou: “O maior investimento de dinheiro público é na UPP. Mas a gente precisa de creche, de posto de saúde. Policial só oprime! Fora UPP!”. Mais um morador que não se identificou disse: “Eu não tenho muito pra falar, eu só quero é paz…”

    Para Raul Santiago, morador do Alemão e comunicador do Coletivo Papo Reto, “o policial puxa o gatilho, mas quem assina o atestado é o Estado, a mídia comercial, essa mídia escrota. A gente da mídia alternativa tem que disputar isso. Se a gente ficar parado, o rolo compressor passa por cima. Por isso a gente tem que ir par rua, protestar, lutar.”

    Analisando a violência urbana no estado carioca, Santiago apontou que “as favelas do Rio vivem uma guerra há muito tempo. A diferença é que agora o Estado está patrocinando uma facção. A UPP é uma milícia patrocinada pelo Estado”. Na sua opinião, “a saída é investir em saneamento básico, investimento na população, na base. Não é através das armas que vai mudar alguma coisa, mas é investindo no povo.”

    Solidariedade

    Moradores de outras comunidades também foram até o Complexo do Alemão expressar sua solidariedade, como Naldo Medeiros, morador da Maré. Segundo ele, “a única forma de diálogo que o Estado oferece para a favela é a polícia, a Secretaria de Segurança Pública. Ninguém aqui conhece o Secretário de Cultura, o de Educação. A opressão é grande, e não só da violência, você não tem escola, saneamento. Você vê a criança morrendo, o pobre, o preto morrendo, e isso corta o coração.”

    Centenas da famílias foram às ruas do Complexo — Foto: Mídia NINJA

    Participando do protesto também estava o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), integrante da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ). Ele também criticou a falta de diálogo do Estado com as comunidades. “Não dá para olhar para o Alemão como um território a ser conquistado, como numa guerra. Tem que olhar como um lugar onde vivem pessoas, famílias. Enquanto o governador insistir em olhar para o Alemão como um território de guerra, vamos ter que contar os espólios dessa guerra. Vai morrer policial e morador”, disse.

    Freixo ainda relacionou os casos de assassinatos de jovens negros com a recente aprovação da redução da maioridade penal em uma comissão da Câmara dos Deputados, avaliando que isso se trata de um retrocesso social muito grande.

    “A gente já tem uma juventude negra e pobre que está morrendo. O índice de homicídios de um país em guerra não tem índices de jovens mortos por armas de fogo como nós temos. E o resultado disso é que agora o Estado quer criminalizar essa mesma juventude a jogando num cárcere, que já é abandonado. A gente institucionaliza que essa juventude estará no banco dos réus e não no banco das escolas”, criticou.

    O ator Paulo Betti também esteve no protesto e cobrou maior compromisso do poder público. “Acho que as pessoas não têm consciência de que não é colocando na cadeia e punindo que o problema vai ser resolvido. O problema é social, é falta de escola. Não adianta colocar na cadeia, tem que colocar na escola. O que falta do governo é uma definição mais radical em favor dos pobres e não dos mais ricos”, afirmou.

    Considerando como uma questão de justiça o ato pela paz no Alemão, Betti criticou outros protestos que vem sendo feitos pelo país, como aqueles que pedem o impeachment. “Chega a ser ridículo quando eu vejo aqui no Rio e em São Paulo aquelas manifestações de pessoas vestindo verde e amarelo. Política é algo mais complexo do que isso.”

    Trajeto

    O ato iniciou Estrada do Itararé e, pouco antes de terminar, ele parou em frente a Praça 24 de outubro onde foram feitos discursos contra a morte de inocentes na comunidade. Na linha de frente da marcha estavam dezenas de mototaxistas, que abriam caminho para a manifestação. Ao longo do trajeto, a população protestava em uníssono “Sem hipocrisia, essa polícia mata pobre todo dia” e “UPP chegou pra matar trabalhador.”

    No final do protestos alguns moradores discursaram contra a violência policial — Foto: Mídia NINJA

    Acompanhando a caminhada, o som vinha do funk “Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é. E poder me orgulhar, e ter a consciência que o pobre tem seu lugar”. Cornetas, bandeiras e faixas com dizeres pedindo paz eram carregadas pelos moradores, principalmente pelas crianças.

    As vaias vinham sempre quando passavam pela manifestação as viaturas da Polícia Militar, entre elas o chamado “caveirão”, um veículo blindado da PM que tem a aparência de um tanque de guerra. De acordo com o G1, o policiamento na região está reforçado por policiais das UPPs do Alemão e outras unidades, além de agentes do Comando de Operações Especiais, que envolve o Batalhão de Operações Especiais (Bope), além de veículos blindados e helicóptero.

    O ato terminou por voltas das 13h com um anúncio no carro de som informando que mais um tiroteio estava ocorrendo, desta vez, no Morro da Grota.

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