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  • Diário do Bolso: o Messias da cloroquina  e o Trump

    Diário do Bolso: o Messias da cloroquina e o Trump

     

    Pô, Diário, esse negócio de cloroquina é o seguinte: o Trump falou que era bom, tem apoiador meu que produz a bagaça e eu tinha que arranjar uma cura milagrosa, porque afinal de contas eu sou o Messias, pô!

     

    Juntei as três coisas e eu apostei firme. Disse que isso aí ia curar aquilo lá e virei garoto-propaganda da cloroquina. O Bolsoquina! Até mandei o exército fazer um monte dessa droga de droga.

     

    Eu achava que ia ficar com fama de milagroso e o exército podia posar de bonzinho na história toda.

     

    Mas aí as pesquisas avançaram e desmentiram o milagre, o Trump deu pra trás, um monte de gente começou a morrer (o que as pessoas não fazem pra me prejudicar…), e o pessoal percebeu que a cloroquina não tirava ninguém da cova. Pelo contrário.

     

    Só que eu já tinha dado a minha palavra e o exército estava produzindo o negócio à toda, torrando dinheiro público.

     

    O que eu ia fazer? Voltar atrás? Dessa vez não dava. E olha que eu volto mais atrás que caranguejo.

     

    Decidi que essa porcaria ia ser usada e ponto final. Se salvar unzinho só, a gente vai lá, filma e põe no programa eleitoral de 2022. A minha turma e os meus robôs espalham pra meio mundo pelo zap-zap e pronto: vai fazer mais sucesso que a mamadeira de piroca. Aposto que os bispos até vão dizer nos cultos: “Messias é o messias!”

     

    O Mandetta e o Teich, que não quiseram cloroquinar comigo, mandei pro olho da rua.

     

    Mas, como eu não sou bobo, já fiz uma Medida Provisória garantindo que “possíveis equívocos” cometidos por agentes públicos durante o combate à Covid-19 não podem ser punidos. Assim, eu e os médicos que usarem a cloroquina vamos ser que nem o 007: “com licença para matar”, kkk!

     

    Só preciso achar um ministro da Saúde que assine o novo protocolo. Pelo jeito vai ser o general Pazuello mesmo. Ele não é médico e não vai manchar o currículo dele se morrer um montão de gente.

     

    Eu acima de tudo! Cloroquina em cima de todos!

     

    Por José Roberto Torero, autor de livros, como “O Chalaça”, e vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S.Paulo entre 1998 e 2012.

    @diariodobolso

     

    Leia mais Diário do Bolso em:

    Diário do Bolso: as meias do Guedes

    Diário do Bolso: enganando Moro e provocando a demissão

    Diário do Bolso: coloquei o coveiro para cuidar da saúde

     

  • URGENTE: Por uma Frente Ampla para evitar que Bolsonaro nos leve para o abismo

    URGENTE: Por uma Frente Ampla para evitar que Bolsonaro nos leve para o abismo

    Por Humberto Mesquita*

     

     

    Não sei por onde começar! Pelo Corona Vírus ou pelo Demônio que está vomitando monstruosidades contra o povo brasileiro? Pela capacidade de destruir dessa maldita pandemia ou pela desenfreada ação de um grupo cujo líder foi eleito por milhões de desinformados —inocentes ou não.

    Mas os dois fatores se unem num mesmo objetivo que é a destruição. Comecemos então pelo vírus que foi menosprezado pelo outro “vírus”.

    O Brasil tinha tudo para se livrar da peste, porque ela não chegou de surpresa aqui. Ela começou na China, ainda em janeiro, se espalhou pela Europa em fevereiro e deu sinais claros de que chegaria aqui tão furiosa como lá.

    Mas, o Brasil como os Estados Unidos, ambos governados por idiotas, menosprezaram a sanha devastadora do novo vírus. “Era um simples resfriado” gritaram os dois. E se mostraram presentes em espaços públicos como a desafiar a pandemia. O resultado veio em março e hoje estamos assistindo a uma verdadeira hecatombe, a um massacre de milhares de brasileiros, seja dos castelos ou dos barracos.

    Desprezo pela Ciência e pela vida

    E o “asno” que governa o Brasil, investindo-se da condição de ditador, isolando-se até mesmo do seu “I love you Trump”, que reconheceu seu erro,  continua a minimizar o vírus, pregando receituário negado pela ciência, e  condenando  a solução médica do isolamento. Para coroar suas arbitrariedades demitiu o Ministro Mandeta, da Saúde, nomeou outro médico, Nelson Teich, que não suportou mais do que 29 dias no cargo e se demitiu.

    Junto com esses, o demônio já havia demitido o Sérgio Moro porque queria interferir nos rumos da Policia Federal, “para proteger a família e amigos”. Sérgio Moro também escolheu o momento para se desentender com ele, quando percebeu que seu “patrão” não lhe presentearia  mais com uma  vaga no STF, depois de  já ter recebido de presente, por serviços prestados durante as eleições presidenciais, o Ministério da Justiça.

    O “chefe”, aos gritos de que “quem manda aqui sou eu”, ou que “ministro que não seguir minha cartilha vai para a rua”, entrou definitivamente em cena para desafiar a tudo e a todos. Fez manifestações contra Congresso, contra STF, pregou um novo AI-5, xingou jornalistas, pouco se importando com as consequências de seus atos, porque acredita que tem a guarda dos militares que o rodeiam.

    Formou-se uma contraposição, constituída pela Rede Globo de Televisão, pelos novos desafetos do “rei Bolsonero” e pelo “herói Sergio Moro”.

    Agora, surgiu um novo ator que é o empresário Paulo Marinho, um homem que foi muito próximo do Bozo e seus filhos, com denúncias contundentes contra ele, os filhos e membros da Policia Federal.

    Num momento como esse, ninguém pode se colocar como única oposição

    A Frente Ampla, no passado, foi formada por Carlos Lacerda, Jango Goulart e  Juscelino Kubitschek,  independente de ideologias.  “Diretas Já” teve em seu bojo Lula, Ulysses Guimarães, FHC, Tancredo Neves, Orestes Quércia, entre outros, com as mais variadas tendências políticas. Tanto na Frente como nas Diretas existia um inimigo comum.

    Hoje nós temos um inimigo comum, e não vejo razão para não se unirem outra vez, o Lula de ontem e o Lula de hoje, com FHC, o governador Dória, Flavio Dino, Boulos, Ciro Gomes, e todas as forças que se opõem a esse governo semi-ditatorial que aliciou os militares para tentar dar o golpe definitivo na democracia e implantar, possivelmente, a mais sangrenta ditadura.

    Está faltando reação: a sociedade civil precisa se engajar nessa luta.

    OAB, ABI, entidades ligadas à cultura, sindicatos, associações de classe, membros do Congresso Nacional e do Judiciário precisam sair dessa modorra e enfrentar o inimigo. Somos todos covardes, esperando um milagre que não acontecerá se as forças vivas dessa nação não se manifestarem. Hoje o que estamos vendo são notas vazias de repúdio, nada mais do que isso.

    Nem o povo pode ir às ruas por conta dessa maldita Covid-19, que mesmo menosprezada pelo “grande vírus” tem sido, neste caso, sua aliada. As multidões não podem protestar pelas ruas.

    Como a única maneira de se manifestar em protesto, atualmente, é o panelaço, o povo tem se debruçado sobre o parapeito das janelas. Tudo nos incomoda, tudo nos aflige e nossas armas limitam-se ao som estridente, mas passageiro, dos panelaços que também não bolem com a estrutura criada por esse verdadeiro anticristo.

    “Deus, salve o Brasil”, suplicamos.  Mas não adianta. Deus não é mais brasileiro. Só a Frente Ampla pode livrar o País do pior.

     

    *Humberto Mesquita é jornalista e escritor, repórter e apresentador de debates na TV.

     

  • Morre o ministério de Teich, mas os negócios não podem parar

    Morre o ministério de Teich, mas os negócios não podem parar

     

     

     

    Mateus Pereira e Valdei Araujo são professores de História na Universidade Federal de Ouro Preto, em Mariana*  

     

    #Sextou. Falecimento. Viemos informar que hoje, 15 de maio de 2020, veio a óbito o ministério do senhor Nelson Sperle Teich à frente da pasta da Saúde. Mais uma sexta-feira de exonerações. Nesse ano, desde a Sexta-Feira da Paixão, esta é a segunda Sexta-Feira da Exoneração. Mandetta quase sai na sexta, pois saiu na quinta à tarde. Será que Bolsonaro cairá numa sexta-feira? Brasileiro: profissão esperança.

    Nelson Teich teria sido apresentado ao presidente pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Além da relação com Guedes, o médico também tem outras proximidades com a economia, a ver pelo seu currículo: além de ter se formado na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, em Medicina, e ter se especializado em oncologia no Instituto Nacional de Câncer (Inca), ele possui especialização em Economia da Saúde pela Universidade de York, na Inglaterra, e vários cursos de formação complementar em economia ou administração na área da saúde. Atualmente é diretor executivo da empresa de consultoria MedInsight – Decisions in Health Care e presidente da COI – Clínicas Oncológicas Integradas. Foi sócio do Secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Denizar Vianna, na empresa MDI Instituto de Educação e Pesquisa, que funcionou entre 2009 e 2019, empresa esta que, de acordo com uma reportagem da BBC Brasil, trabalhava com “pesquisa e desenvolvimento experimental em ciências sociais, humanas, físicas e naturais e treinamento em desenvolvimento profissional e gerencial”.

    Já na época da campanha, o médico apoiou Bolsonaro, atuando como seu consultor na área de saúde. Era um nome bem cotado para o Ministério, já no início do mandato, mas acabou sendo preterido em favor de Luiz Henrique Mandetta – a quem mais tarde substituiria. Tornou-se ministro com o apoio de nomes importantes como o de Meyer Nigri, dono da empresa Tecnisa, que atua no mercado imobiliário, e de Fábio Wejngarten, secretário de Comunicação do atual governo.

    Em seu discurso de posse, Teich havia dito que não haveria nenhuma mudança brusca e que as decisões deveriam ser tomadas com base em informações sólidas, não em emoções. Também disse que saúde e economia não competem entre si, mas se complementam. Defendeu um grande projeto entre o SUS, o empresariado e o governo, para se realizarem os testes e mais pesquisas sobre o novo coronavírus. Por fim, disse que havia um “alinhamento completo” entre ele e o governo e que pretendia fazer de tudo para que o país possa voltar o mais rápido possível à normalidade, com o fim do isolamento.

    Pelo jeito o “alinhamento completo” não era tão completo assim. Teich e Bolsonaro discordavam em relação ao uso da cloroquina: para o primeiro, a substância ainda deveria ser melhor estudada; para o segundo, o tratamento com este medicamento deveria ser imediatamente ampliado e já começar a ser utilizado no princípio da doença. Além disso, os dois divergiram em relação ao isolamento social: Teich só descobriu que o presidente havia permitido que salões de beleza, barbearia e academias voltassem a funcionar durante uma coletiva de imprensa, quando foi perguntado por um repórter sobre a medida. A resposta, um tanto desconcertada, e depois de muito balbuciar, foi a de que esta decisão não havia partido do Ministério da Saúde.

    As redes sociais continuam não perdoando e, parafraseando a letra de uma canção sertaneja, soltam um meme onde se lê: já foram três os que caíram na ilusão de exercer um cargo “técnico”.

    Atualização da situação da pandemia, em números, durante a curta vida do ministro: em 17/4 haviam 34.221 casos confirmados e 2.171 mortos no Brasil; em 15/5 são 218 mil casos confirmados e 14.816 mortos no Brasil. Os dados deixam claro que o fim do isolamento só aumentará o número de mortes, que crescem, a cada dia, dada a crise política e a flexibilização do isolamento, que é a única política efetiva, comprovada para redução do número de vítimas. É bom lembrar que diversas pesquisas têm mostrado a ineficácia da cloroquina para o tratamento da Covid-19.

    Mas, por que o genocida mantém a sua “convicção”?

    No momento, é possível pensar nessa pergunta por meio de uma outra: o que a “morte” desse empresário da saúde, como ministro, pode revelar?

    A historiografia profissional já demonstrou, amplamente, que a ditadura de 1964 só foi possível pela aliança criminosa entre empresários e militares. Os primeiros sempre se direcionaram em busca de vantagens e maiores lucros para os seus negócios, e os segundos, sempre em busca de fama e protagonismo, mas também de dinheiro e poder. O resultado foi um dos episódios mais sombrios de nossas história, repletos de casos de corrupção e violência, que comprometeram a democratização da sociedade brasileira e aprofundaram as desigualdades sociais que nos impedem, até hoje, de progredir em direção a um mundo mais sustentável e justo.

    Mas, como bem nos mostra Maria Victória Benevides, “Os empresários acreditavam que os militares agiriam como ‘restauradores da ordem’ e depois desalojariam o poder em seu benefício, no papel de eficientes “leões de chácara” das grandes finanças. O que, obviamente, não ocorreu”. Será que haverá uma reatualização da história em breve?

    Ainda não é possível saber. O que se sabe é que, ao contrário do que pensam alguns intelectuais, essa conjunção entre empresários e grupos políticos para saquear a sociedade e o Estado está longe de ser uma jabuticaba. Em um certo sentido, as elites brasileiras estavam na vanguarda das mutações mais recentes do capitalismo global.

    Em livro esclarecedor, publicado em 2016, com o título “Dinheiro Sombrio: a história secreta dos bilionários por trás da ascensão da direita radical”, a jornalista Jane Mayer revela, com detalhes, como os grandes empresários sequestraram a democracia para promover políticas públicas que só atendem aos seus próprios interesses. 

    A autora descreve, logo no começo de seu livro, um encontro promovido pelos bilionário Charles e David Koch, em 2009, enquanto Barack Obama tomava posse como presidente dos Estados Unidos. A agenda do encontro, que reuniu um seleto grupo de bilionários e representantes políticos conservadores, era impedir que o novo presidente democrata, eleito em um clima de grandes expectativas, pudesse implementar políticas que contrariassem os interesses desses grandes capitalistas.

    Charles e David Koch são donos da Koch Industries, a segunda maior companhia privada dos EUA que possui negócios envolvendo petróleo, carvão, produtos químicos e outros. Em 1980 David Koch concorreu à vice-presidência dos EUA pelo Partido Libertário, mas recebeu apenas 1% dos votos. Esse fracasso reforçou a ideia de que a forma de chegar ao poder seria promovendo intelectuais e políticos que apoiassem a sua agenda “anarco-totalitária”. Nas eleições de 2016, em que foi eleito Trump, o grupo Koch investiu 886 milhões de dólares em seus candidatos.

    Com amplo apoio financeiro de diversos outros grupos econômicos, os irmão Koch aceleraram uma agenda ideológica que vinha sendo construída desde os anos 1970. Essa agenda propagava a ideia de um governo limitado, menos impostos, assistência social mínima, menos supervisão e regulação das atividades industriais, especialmente em relação ao meio ambiente.

    Se achou tudo isso muito familiar, você não está confundindo, essa versão de um capitalismo sem freios é a mesma defendida pelo governo Trump e adaptada ao Brasil por setores empresariais, que podem estar representados por Dória, pelo Partido Novo, por Luciano Huck, por Nelson Teich ou mesmo Bolsonaro. A estratégia empresarial é fazer valer sua agenda, indireta ou diretamente, pouco importando quem estiver à frente do governo. Mas, por vezes, o interesse militar pode falar mais alto, ainda que ele não seja excludente em relação à agenda atualizada do capitalismo.

    Ao tornar evidente a necessidade de políticas públicas e de um Estado organizado, a pandemia da Covid-19 colocou em xeque diversos elementos da ideologia do anarco-capitalismo, mas por si só não será suficiente para quebrar sua força discursiva e o poder político e econômico acumulado. No Brasil, em particular, nas últimas décadas empresários e grupos políticos locais descobriram como mobilizar a guerra ideológica e cultural para chegar ao poder.

    Assim, a cultura do empreendedorismo, a celebração heroicizante de empresários do passado e do presente, a glamourização do risco e da precariedade abriram caminho para uma adesão inédita de novos setores sociais à falsa utopia do anarco-capitalismo. As grandes transformações no mundo do trabalho, com a expansão da terceirização e da gig-economy ou uberização, contribuiu para a ilusão de que somos todos capitalistas. De que o grande inimigo é o estado cobrador de impostos.

    É apenas com a crise que o motorista de aplicativo pode descobrir que no fim das contas ele vai precisar do Estado, do SUS, do cheque de 600 reais etc. As relações precarizadas de trabalho geram a ilusão de não ter patrão. Na verdade, em um mundo em que no meio de uma grande crise estamos às vésperas ver o primeiro ser humano a acumular sozinho 1 trilhão de dólares, Jeff Bezos, da Amazon, é muitas vezes difícil experimentar individualmente a extensão das desigualdades e injustiças sociais.  

    Esses grandes empresários, que os letrados da direita tentam transformar em grandes heróis, são, muitas vezes, herdeiros mimados, acostumados com todo tipo de ilegalidades e mamatas, que odeiam o Estado e a política sempre que se tornam forças que ameaçam seus interesses comerciais. Uma das estratégias desses homens é o segredo, o agir nas sombras enquanto os letrados e empresas que estão em suas listas de beneficiados fazem o debate público. Teich parece que fracassou nessa missão, pois há um obstáculo frente a essas ‘demandas’, a saber: o projeto de poder autoritário de Bolsonaro.

    E, para efetivar esse projeto autoritário, pelo menos nesse momento, há um grupo com bastante experiência: os homens de farda, tendo as polícias militares como retaguarda, bem como as milícias digitais. Como se vê, olavismo e militarismo são as duas faces da mesma moeda. O artigo publicado ontem por Mourão deixa isso bem evidente. O serviço pode ser feito via golpe ou apenas assegurando a continuidade do governo. Enquanto isso, o governo é edificado em cima de milhões de cadáveres. O que também parece ser uma atualização negativa de um passado que não enfrentamos como se deveria.

    Por outro lado, Bolsonaro precisa do apoio empresarial para se sustentar no poder. A atual dissociação entre capitalismo e democracia não significa que projetos autoritários, dentro, nas margens e fora da própria democracia, se sustenta apenas pela força, violência e por “pequenas maiorias”. É preciso apoio do grande capital e, também, dos “pequenos”, isto é, os precarizados: como barbeiros, donos de salão, motorista de uber etc. 

    Há ainda esperança. A análise das redes e as pesquisas mostram que cada vez mais Bolsonaro perde apoio. A sociedade civil e os setores democráticos precisam reagir rápido e em meio à pandemia.  De todo modo, se Deus for mesmo brasileiro ele deve estar escutando Elis Regina cantar para ele:

    Cai o rei de espadas

    Cai o rei de ouros

    Cai o rei de paus

    Cai não fica nada

     

    (*) Autores do livro Atualismo 1.0: como a ideia de atualização mudou o século XXI

    Esse artigo contou com a colaboração de Mayra Marques, doutoranda em História pela UFOP

  • Mandetta é demitido, serviçal de Bolsonaro assume

    Mandetta é demitido, serviçal de Bolsonaro assume

    As jornalistas Kátia Passos e Laura Capriglione, dos Jornalistas Livres, comentaram ao vivo a demissão do Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e o anúncio do presidente Bolsonaro da posse do novo ministro, Nelson Luiz Sperle Teich, para a pasta. A demissão ocorre em meio a possibilidade de agravamento da crise do coronavírus, com previsões de aumento de casos e mortes para maio e junho.

    Depois de cerca de três semanas de conflitos públicos entre o presidente e Mandetta, que envolveu provocações contra o ministro em redes televisivas por parte de Bolsonaro, desrespeito às recomendações da OMS que o ministério da saúde adotou e ensaios de demissão a novela chegou ao fim, nesta tarde. Ao mesmo tempo em que o ministro anunciava sua saída, falando do ministério, o presidente anunciava seu substituto, falando do palácio do planalto. 

    Para Laura a demissão demonstra, contrariando as avaliações que colocam o presidente como líder decorativo substituído pelo alto escalão  militar do governo, que o poder ainda permanece em parte com Bolsonaro, a situação “deixou claro que Bolsonaro não está com a bola toda, mas não está isolando daquilo que é a espinha dorsal de seu governo: os militares, que continuam sustentando o governo”. Já Mandetta voltará a posição de político local, segundo Laura, por conta dos contrapontos que ele apresentou ao posicionamento do governo como “aparecer com a camisa do SUS”, contraria os planos estabelecidos do neoliberalismo palaciano que tem como grande plano privatizar o SUS.

    Em sua avaliação o substituto, Nelson Teich, vem para defender os interesses das empresas de saúde privada. Teich, que já foi consultor do hospital Albert Einstein em São Paulo, integra a comitiva de Bolsonaro desde a campanha. Ele é “um cara que nós podemos temer muito pelo que virá. A tendência é que agora Bolsonaro consiga alinhar o que não estava alinhando. Você tem o Paulo Guedes, um fundamentalista da retirada de dinheiro dos serviços públicos com um cara que defende o SUS [Mandetta]. Agora você tem um alinhamento”. O mercado e a economia serão colocados em prioridade e “dias piores virão”.

    Para Kátia, Nelson Teich é o “cara que está em consonância com as ideias do Bolsonaro e as ideias do mercado e é óbvio que alguém que não esteja em consonância com as ideias do presidente vai ser demitido. E se existir algum que não concorde com as ideias do presidente, fatalmente, vai estar fora”. O papel de Moro e Paulo guedes, respectivamente ministros da Justiça e Economia, também foi lembrado. “Esse monstro moral, que se travestiu durante um longo tempo como juiz, mas é o lado bonitinho e cheiroso dos milicianos que cercam a família Bolsonaro. Esse é o Sérgio Moro” que se disse contrário aos presos que não cometeram crimes violentos ou que cumpriam progressão de penas a saírem em meio a crise. Já Paulo Guedes, que representa o mundo financeiro, mas consegue ser mais radical do que símbolos  dos neoliberalismo como economistas do FMI (Fundo Monetário Internacional), que hoje defendem intervenções pesadas na economia. 

    Kátia também pontuou que, por mais que o Mandetta tenha tido certa liderança pouco antes de ser demitido, ele “no início da pandemia patinava sobre o isolamento social. Fora o histórico dele, de ter sido um dos caras que voltou contra o fomento e o engrandecimento do SUS”. Enquanto deputado Mandetta votou pelo PEC do teto dos gastos e foi favorável a expulsão dos médicos cubanos. 

    O papel da comunicação, que tem sido um contraponto ao Bolsonaro, e o comportamento das igrejas, que têm realizado campanhas para o fim do isolamento, em meio a pandemia também foi abordado. 

    Veja o debate

  • Mandetta se finge de bom-moço pra rifar SUS e ganhar eleição futura

    Mandetta se finge de bom-moço pra rifar SUS e ganhar eleição futura

    Todos os dias assistimos a imagem de um Ministro vestindo colete do Sistema Único de Saúde (SUS) reafirmando que tomará todas as medidas baseado em critérios científicos. É esse o mesmo que acabou com o Programa Mais Médicos, deixando milhões de pessoas desassistidas em todos os cantos do país. Está também entre seus colegas o incapaz e recalcado que chamou as universidades públicas de “balbúrdias” e cortou substancialmente verbas das Universidades Federais e do fomento da pesquisa no país. Cortaram também verbas do Bolsa Família, colocando milhões de pessoas em situação de extrema pobreza. Essas, entre outras inúmeras asneiras e crueldades, nos faz perguntar todos os dias: porque Bolsonaro ainda não caiu?

    Por Silmara Conchão* e Eduardo Magalhães Rodrigues**, especial para os Jornalistas Livres

    A atitude pública do ministro de colete azul do SUS na TV está coerente com as recomendações mundiais no enfrentamento ao Covid-19. Este comportamento, contudo, não passa de um trampolim para a disputa eleitoral. Faz do ministro um sucesso na carência nacional de líderes. Esperamos que depois dessa glória Mandetta desista de privatizar o SUS, pois, sabemos, é um dos que mais defende essa ideia e até por isso está onde está. Patrocinado pelos planos de saúde, ele é um vendilhão e não um herói.

    Em um país pautado por uma cultura colonialista e servil ao grande capital, a retrógrada e velhaca elite econômica, aliada à políticos entreguistas e religiosos fundamentalistas, fomenta o esquecimento e o ocultamento histórico.

    Inversamente, a realidade copia a arte. Parecemos viver sob o governo do paranoico, falso moralista e conservador Odorico Paraguaçu, prefeito da fictícia cidade de Sucupira. Na admirável telenovela de Dias Gomes, “O Bem Amado” (Globo, 1973), o político possui a ideia fixa de realizar sua grande obra, a inauguração do cemitério municipal. O projeto se tornou obsessivo e para isso o tosco e medíocre governante não mede esforços. Por exemplo, em uma epidemia de Tifo, sumiu com vacinas e medicamentos. Acreditava que tudo e todos conspiravam contra ele.

    Mentalmente transtornado, o paranoico crê em suas concepções, mesmo que contrárias à razão. Consegue expressar abertamente loucuras e delírios, porque não acredita serem absurdos, mas sim fatos concretos. O coronel Odorico e o ex-capitão Bolsonaro estão apegados a suas verdades únicas e irreais. Somos todos povo de Sucupira liderados por um genocida.

    Enredados em uma ditadura, escolhida pelo voto, naturalizamos o machismo, o racismo, o extermínio de jovens pobres e a lgbtfobia em nome de Deus. Além da prática fascista do governo e sua alucinada e violenta manada de apoiadores, carinhosamente denominados “bolsominions”, que dizem não ter ideologia, a pandemia chega ao Brasil e desnuda o capitalismo perverso do Estado-Mínimo. No entanto, a crise mostra a importância do SUS, das Universidades públicas e da ciência.

    O eleito Bolsorico-Paraguaçu, hoje sem partido, não tem apoio do Congresso; do Supremo Tribunal Federal (STF); dos militares graduados; da mídia comercial (salvo Edir Macedo e Silvio Santos); de organizações internacionais (ONU, OMS etc); dos movimentos sociais e até mesmo de parte dos grupos de direita. Assiste sua popularidade derreter. Segundo pesquisa do Datafolha, (08/04/2020) 64% reprova a conduta do Presidente em relação à pandemia.

    Concomitantemente, seu Ministro da Saúde já está sendo anunciado como o grande líder da nação: um médico seguro, calmo, informado e político conciliador. Todavia, na votação do impeachment de 2016, ou melhor dizendo, golpe contra a Presidenta Dilma (sobre a qual nenhuma corrupção se provou), o Deputado Federal Mandetta empunhava ironicamente uma placa “Tchau querida”. E no início de sua gestão, demitiu os médicos cubanos. Sabemos que o resultado disso envolveu mortes evitáveis dos mais pobres por causas básicas, o que será agravado no atual contexto.

    Por Simch

    As falas e as atitudes desatinadas de Bolsorico-Paraguaçu minimizam a pandemia e fazem pobres e explorados acreditarem que a doença ameaça grupos mais vulneráveis. Estamos no meio do caos. Comunidades sem voz como a indígena, quilombolas, periferias e favelas sofrerão mais pela falta de assistência médica, fome e desemprego. Será que um dia conheceremos o quadro real da devastação ora anunciada e subnotificada? Enquanto isso o palanque eleitoral segue. Bolsorico é um inconsequente oportunista enganando cegos e desvairados que não querem ver, muito menos dar o braço a torcer.

    De qualquer forma o neoliberalismo desnudado revelou para o mundo que só sobrevive com a mão de obra explorada e recursos públicos. Autocentrados em resguardar seus interesses privados, burgueses protegidos nos seus carrões foram às ruas em carreatas exigir que seus empregados voltassem a trabalhar para gerar riqueza. Riqueza para quem? A quem os fundos públicos devem socorrer?

    Nesse precipício em que nos encontramos, parte da esquerda não aproveita o momento político de graves erros do desgoverno para encaminhar mudanças efetiva. Continua apática e frouxa. Titubeia, vacila e se apresenta dividida entre o “Fora Bolsonaro” e o “Fica Bolsonaro”.

    Algumas lições já se mostram óbvias: não devemos mais cair na cilada elegendo dementes e necropolíticos, cabendo ainda ao Estado garantir proteção, igualdade de oportunidades e serviços básicos como a educação e a saúde públicas, universais e gratuitas. Pessoas estão morrendo e morrerão devido à leviandade governamental. Podemos morrer a qualquer momento. A vida que já era frágil virou um sopro. O Coronel Odorico tinha como única meta inaugurar o cemitério que o daria palco. Nosso Bolsorico Paraguaçu não se importa em produzir milhares de cadáveres em nome de uma falsa salvação econômica do país. Salvação sim do grande capital que o elegeu, num plano macabro onde sabemos que os mais pobres morrerão nas portas dos hospitais. A Europa depois da Peste Negra, saiu da Idade Média e entrou no Renascimento, em que passou a valorizar muito mais as ciências, a cultura e as artes. Também houve separação total do Estado e da Igreja e a noção de que a razão leva ao conhecimento. Nossa opção será voltarmos ao passado obscurantista ou sairemos mais fortes para superarmos e avançarmos enquanto civilização? Quem sobreviver, que nunca mais se esqueça de lutar por nosso SUS, pelas Universidades públicas e por investimentos na ciência brasileira.

     

    *Silmara Conchão – Socióloga, feminista e professora universitária da Faculdade de Medicina do ABC. Mestra em Sociologia e Doutora em Ciências da Saúde.

    **Eduardo Magalhães Rodrigues – Sociólogo e pesquisador da Universidade Federal do ABC. Mestre em Relações Internacionais e Doutor em Planejamento e Gestão do Território.

     

    Veja mais: Vidas ou lucro? Modelo capitalista neoliberal entra em xeque com pandemia do Novo Coronavírus

  • Vaza documento secreto da Abin com projeção de 5.571 mortes no Brasil

    Vaza documento secreto da Abin com projeção de 5.571 mortes no Brasil

    logomarca abin

    Para quem não sabe, a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) é um órgão da Presidência da República, vinculado ao Gabinete de Segurança Institucional, responsável por fornecer ao presidente da República e a seus ministros informações e análises estratégicas, oportunas e confiáveis, necessárias ao processo de decisão. ABIN tem por missão assegurar que o Executivo Federal tenha acesso a conhecimentos relativos à segurança do Estado e da sociedade, como os que envolvem defesa externa, relações exteriores, segurança interna, desenvolvimento socioeconômico e desenvolvimento científico-tecnológico.

    Ou seja, em seu último pronunciamento, em 24 de março, Jair Bolsonaro já tinha acesso ao Relatório da ABIN 015/2020, concluído no dia anterior (23/03), às 22h10, e divulgado para os integrantes do Centro de Operações de Emergência – Coronavírus (COE-nCoV) com o carimbo “SIGILOSO”, que aponta por meio de estudos e gráficos, o cenário de mais de 5 mil mortes e 200 mil infectados pelo coronavírus no Brasil até o dia 6 de abril. Ainda assim, o Presidente da República criticou em rede nacional, o fechamento das escolas e dos comércios, voltou a minimizar o Covid-19, ao compará-lo com uma “gripezinha” ou “resfriadinho”, atacou governantes que seguem as orientações da Organização Mundial da Saúde para a contenção da epidemia, culpou a imprensa por causar histeria na população e incentivou a população a voltar à rotina.

    Seguindo um caminho para o genocídio de uma parte da população brasileira, Jair Bolsonaro, ignorou protocolos mundiais que garantem a saúde da população, quando disse:

    “Devemos, sim, voltar à normalidade. Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, como proibição de transporte, fechamento de comércio e confinamento em massa. O que se passa no mundo tem mostrado que o grupo de risco é o das pessoas acima dos 60 anos. Então, por que fechar escolas? Raros são os casos fatais de pessoas sãs, com menos de 40 anos de idade”.

    Divulgado em primeira mão pelo The Intercept Brasil, o relatório sigiloso da ABIN diz que a proporção de casos de COVID-19 que ainda aguardam resultados laboratoriais (sejam eles negativos ou positivos) é de cerca de 75% do total de casos notificados ao Ministério da Saúde.

    O estudo dos casos notificados mostra que há um alto número de casos com diagnóstico ainda não definido (área azul do gráfico abaixo).

     

    O relatório ainda deixa claro, que a China só conseguiu diminuição na taxa de crescimento cerca de 10-15 dias depois da adoção de medidas de contenção, inclusive com lockout (fechamento da entrada e saída de pessoas) em municípios e cidades. A partir desse período o número de casos novos parou de crescer na mesma taxa e o número de casos ativos começou a reduzir em função da melhora dos pacientes mais antigos.

    O Ministério da Saúde divulga os casos confirmados e dos óbitos por COVID-19, o que não permite, com base nos dados, fazer projeções mais precisas sobre o crescimento dos casos no País. Em relação aos pouquíssimos casos já confirmados, lembrando que 75% deles ainda esperam uma confirmação dos laboratórios de análises, os dados do Ministério da Saúde já indicam que 10% dos casos exigiram hospitalizações.

    Os gráficos do documento sigiloso da ABIN mostram as projeções da evolução dos casos confirmados de COVID-19 até o fim deste mês, considerando dois possíveis cenários. Até 30 de março o Brasil pode chegar a 35.906 infectados.

    Gráfico: Projeção Casos Covid-19 até 30 de março

    Cenário I (linha laranja) – comportamento semelhante às curvas epidêmicas de Irã, Itália e China.

    Cenário I I (linha cinza) – comportamento semelhante às curvas epidêmicas de França e Reino Unido.

     

    Já quando o estudo considera o horizonte de duas semanas, a situação fica extremamente grave em qualquer hipótese. Segundo os gráficos produzidos pela ABIN, até o dia 6 de abril, teremos, na pior das hipóteses 207.435 casos confirmados (com 5.571 mortes), ou na hipótese menos ruim, 71.735 casos, com 2.062 mortes. A pior hipótese trabalha com uma crise epidemiológica com comportamento semelhante às curvas do Irã, Itália e China. A segunda trabalha com comportamento epidemiológico semelhante às curvas da França e Alemanha.

    Cenário II (linha cinza) – comportamento semelhante às curvas epidêmicas de França e Alemanha.

     

     

    O documento traz a informação de que nova pesquisa científica mostra que duas em cada três infecções do novo coronavírus foram causadas por pessoas que não foram diagnosticadas com o vírus ou que não apresentavam sintomas. Isso significa que as pessoas infectadas que se sentem saudáveis ou têm sintomas muito leves estão espalhando o vírus sem perceber, representando um grande desafio para a contenção da pandemia. Destaca ainda que os cientistas dizem que a probabilidade é que haja entre cinco e dez pessoas sem diagnóstico para cada caso confirmado.

    Esse conjunto de dados eleva o discurso do Jair Bolsonaro à categoria de crime contra a humanidade.

     

    BAIXE a íntegra do documento da ABIN: Abin-Documento-23-Março