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Tag: Lava Jato

  • Lava Jato pode ter violado Lei brasileira e tratados internacionais para beneficiar investigação norte americana

    Lava Jato pode ter violado Lei brasileira e tratados internacionais para beneficiar investigação norte americana

    Via The Intercept, em parceria com a Agência Pública.

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    CONVERSAS VAZADAS de procuradores do Ministério Público Federal revelam o funcionamento de uma colaboração secreta da operação Lava Jato com o Departamento de Justiça dos EUA, o DOJ, na sigla em inglês. Os diálogos, analisados em parceria com a Agência Pública, mostram que a equipe liderada pelo procurador Deltan Dallagnol fez de tudo para facilitar a investigação dos americanos – a tal ponto que pode ter violado tratados legais internacionais e a lei brasileira.

    A Lava Jato é notória por sua estratégia midiática: raramente uma ação de busca e apreensão ou condução coercitiva foi realizada sem a presença das câmeras de tevê. Mas a equipe de Dallagnol fez de tudo para manter sua relação com procuradores americanos e agentes do FBIno escuro.

    Veja reportagens na íntegra em:

    https://theintercept.com/2020/03/12/lava-jato-driblou-governo-ajudar-americanos-doj/

    https://apublica.org/2020/03/como-a-lava-jato-escondeu-do-governo-federal-visita-do-fbi-e-procuradores-americanos/

  • “Denúncia do MPF contra Glenn é mais um ataque à liberdade de imprensa”

    “Denúncia do MPF contra Glenn é mais um ataque à liberdade de imprensa”

     

    A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) vem a público repudiar a decisão do Ministério Público Federal (MPF) de denunciar o jornalista Glenn Greenwald pelos crimes de associação criminosa e interceptação telefônica.

    Lamentavelmente, o MPF ignora a Constituição Brasileira, que assegura a liberdade de imprensa. Ignora também decisão de 2019 do Supremo Tribunal Federal (STF) que determinou que o jornalista não fosse investigado no âmbito da Operação Spoofing, da Polícia Federal, destinada a investigar invasões de celulares de autoridades.

    A FENAJ reitera que o jornalista cumpriu seu dever profissional de divulgar informações de interesse público, ao noticiar, por meio do site The Intercept Brasil, diálogos do então juiz federal Sérgio Moro, atual ministro da Justiça, e procuradores do MPF que atuavam na força-tarefa denominada Lava Jato.

    Mesmo sem ter sido investigado e, portanto, sem ter sido indiciado, o jornalista foi denunciado pelo procurador da República Wellington Divino de Oliveira, que atua na Procuradoria da República no Distrito Federal. Segundo o procurador, surgiram indícios contra Greenwald, a partir das apurações sobre os hackers que invadiram os celulares das autoridades.

    A FENAJ alerta para o perigo das restrições à liberdade de imprensa, principalmente quando elas partem de autoridades constituídas. No caso do Ministério Público Federal, uma instituição criada para zelar pela legalidade e pelos interesses da sociedade, é incompreensível a decisão de denunciar um jornalista que nada mais fez do que exercer o seu ofício. A denúncia do MPF é, portanto, uma forma de intimidação ao jornalista e uma ameaça à atividade jornalística.

    É preciso, mais uma vez, deixar claro que Glenn Greenwald e toda equipe do site The Intercept Brasil estão fazendo Jornalismo ao denunciar as irregularidades cometidas no âmbito da Lava Jato.

    Ao jornalista não cabe o papel de recusar ou não divulgar informações de interesse público, porque obtidas de fontes anônimas e/ou sigilosas.
    Igualmente, não é dever do jornalista atestar a legalidade da obtenção das informações e, sim, verificar a veracidade das informações, antes de divulgá-las à sociedade.

    O interesse público e a busca da informação verdadeira são os motores da atividade jornalística e nenhum profissional pode ser denunciado como suspeito de ter cometido um crime, justamente por honrar o compromisso de sua profissão.

    Brasília, 21 de janeiro de 2020.

    Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ.

  • POR QUE A LAVA JATO QUER LULA LIVRE?

    POR QUE A LAVA JATO QUER LULA LIVRE?

    ARTIGO

    RODRIGO PEREZ OLIVEIRA, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia

     

    Não é novidade pra ninguém que desde 2014 a Lava Jato é a mais poderosa força em atuação na cena política brasileira. A fonte desse poder todo é a energia política liberada em junho de 2013. À esquerda e à direita se disseminou um consenso anti-sistêmico que denunciava os limites e as deficiências do regime de poder forjado na redemocratização.

    Corrupção, baixa qualidade de vida nas grandes cidades, precariedade nos serviços públicos, violência urbana. Ecoava um desejo de mudança, de rejeição aos partidos políticos tradicionais. Tudo isso influenciou diretamente os resultados das eleições municipais de 2016, o golpe parlamentar que, também em 2016, derrubou Dilma e as eleições presidenciais de 2018.

    Essa atmosfera anti-sistêmica pariu dois filhos gêmeos, potencialmente rivais entre si, como Esaú e Jacó: o lavajatismo e o bolsonarismo, que durante algum tempo foram aliados. Não mais. Acabou o amor.

    Bolsonarismo e lavajatismo entenderam que, hoje, seu grande adversário não é o PT.

    Bolsonarismo e lavajatismo estão disputando o controle da energia disruptiva que foi liberada em 2013. Nessa disputa, Lula é trunfo estratégico para ambos. Vale mais solto, fazendo política, do que preso.

    No começo do ano, o lavajatismo era o fiador do bolsonarismo. Moro era o superministro, maior que o próprio Bolsonaro. O jogo mudou. Muita coisa aconteceu nos últimos meses. Nas crises, o tempo passa mais rápido.

    Pela primeira vez na cronologia da crise, a Lava Jato está nas cordas.

    O inferno astral da Lava Jato começou em junho, com os vazamentos feitos pelo “The Intercept Brasil”. Não foram pequenos os efeitos da “Vaza Jato” na crise brasileira. Sérgio Moro perdeu capital político, tornando-se uma espécie de elefante branco, sendo diariamente desautorizado por Bolsonaro.

    Bolsonaro é ingrato, não reconhece dívida com o homem que pavimentou seu caminho rumo ao Palácio do Planalto.

    Na última quinta-feira, 26 de setembro, o STF impôs uma grande derrota à Lava Jato: por 7 votos a 3, a corte decidiu que o rito mobilizado pela Lava Jato é inconstitucional porque não permite que o réu conheça o conteúdo das delações premiadas antes de apresentar suas alegações finais.

    Os processos que não cumpriram o devido rito devem ser anulados, o que pode beneficiar todos que foram condenados no âmbito da Lava Jato, incluindo o ex-presidente Lula.

    Mas esse não foi o único revés sofrido pela Lava Jato: no Congresso Nacional há quem queira organizar a CPI da Lava Jato. A defesa de Lula pede ao STF que julgue a suspeição de Moro. Bolsonaro peitou o MP para nomear Augusto Aras para a chefia da Procuradoria Geral da República (PGR) com o objetivo explícito de colocar um freio nos bacharéis de Curitiba.

    A sabatina de Aras no Senado, realizada em 25 de setembro, traduziu perfeitamente a força dessa aliança: a classe política e o bolsonarismo se uniram pra confrontar um inimigo comum. A classe política quer reparação, vingança mesmo. O bolsonarismo quer reinar sozinho como força organizadora da energia anti-sistêmica liberada por junho de 2013. Cabe a Aras coordenar o projeto por dentro do MP. A ver se o plano vai dar certo.

    A Lava Jato reagiu e, com a ousadia de sempre, dobrou a aposta. Em 27 de setembro, Deltan Dallagnol, Roberto Pozzobon e Laura Tessler solicitaram ao STF a progressão da pena de Lula para o regime semiaberto.

    Sim, leitor e leitora, os mesmos que há pouco tempo tentaram mandar Lula para um presídio comum, agora querem que ele vá pra casa. O pretexto ganha forma de argumento jurídico formal: como Lula já cumpriu 1/6 da pena tem direito à progressão. Como se a Lava Jato respeitasse os direitos fundamentais.

    É óbvio que a soltura de Lula é gesto político, assim como a prisão foi gesto político. Tudo que envolve Lula é gesto político. Lula é a mais importante instituição política da história do Brasil.

    Na guerra fratricida entre o bolsonarismo e o lavajatismo vencerá aquele que conseguir ser a mais radical antítese de Lula. Pra isso, é fundamental que Lula esteja solto, fazendo política, agrupando sua base. No outro polo do espectro político, lavajatistas e bolsonaristas disputarão na unha quem consegue capitalizar mais o ódio que parte da sociedade brasileira nutre por Lula.

    Polarização total. Sem centro mediador. Lula é ativo político também pro lado de lá.

    Cabe ao PT não permitir que Lula seja pintado como o representante do sistema, como o líder da “velha política”. Lula precisa ser visto como o símbolo do Estado provedor de direitos sociais. Nesta narrativa, ele é imbatível.

    É óbvio que Lula percebeu a estratégia e, simplesmente, se recusou a deixar a cadeia. Bolsonaristas e lavajatistas que se matem primeiro, enquanto a crise econômica e social se avoluma, deixando a população cada vez mais mal-humorada.

    Hoje, para Lula, o melhor é ficar onde está: recebendo lideranças mundiais, vencedores de prêmio nobel, dando entrevistas, lendo e assistindo Netflix. A bomba tá na mão deles. Eles governam o Brasil.

    Lula só sai da cadeia por condução coercitiva, arrastado, talvez até algemado. Vai resistir mais pra não sair do que resistiu pra entrar. Definitivamente, o Brasil não é para principiantes.

     

  • Lula: maioria quer anulação ou novo julgamento

    Lula: maioria quer anulação ou novo julgamento

     

    As revelações da Vaza Jato mostradas pelo Intercept Brasil comprovam perseguição ao ex-presidente Lula e mudaram a percepção da sociedade sobre a Operação Lava Jato. Pesquisa Vox Populi divulgada nesta terça-feira (27) em primeira mão pelo site Brasil247 demonstra que a maioria da população considera que o ex-presidente tem direito a um novo julgamento e que sua condenação deve ser anulada.

    A diferença em relação à pesquisa CNT/MDA se explica porque a Vox perguntou se Lula deve ser solto para ter novo julgamento. A CNT perguntou se devem ser soltos os condenados pela Lava Jato (todos e não apenas Lula). A pesquisa foi contratada pelo PT e os resultados gerais devem ser divulgados nesta quarta-feira. Clique no material do site Brasil247 abaixo e confira o teor da pesquisa.

    Clique aqui

     

  • O GRITO DESESPERADO DA LAVA-JATO

    O GRITO DESESPERADO DA LAVA-JATO

    ARTIGO

    Alexandre Santos de Moraes, professor do Instituto de História da Universidade Federal Fluminense

    Não aconteceu nada de excepcional. Nenhum escândalo, nenhuma notícia. Aliás, o encarceramento de Lula estava sendo pouco comentado nos últimos dias por conta de outras tantas polêmicas fabricadas ou produzidas pelo governo. Na quarta-feira, 7, porém, o Brasil foi tomado de surpresa pela decisão da juíza Carolina Lebbos, da 14ª Vara de Curitiba, que decidiu pela transferência do ex-presidente para São Paulo. A magistrada teria respondido a um pedido da Superintendência da Polícia Federal do Paraná, que julgou adequado reduzir os gastos e os recursos humanos que a custódia de Lula exigem, além de reestabelecer a tranquilidade na região. Não custa lembrar – e voltarei a isso – que a Polícia Federal é chefiada pelo ministro Sérgio Moro, o mesmo que decidiu pelo encarceramento de Lula no mais escandaloso processo político do Brasil contemporâneo.

    Carolina Lebbos ganhou visibilidade não apenas por substituir Sérgio Moro, mas por impôr uma série de restrições exageradas, devidamente disfarçadas de tecnicalidades, em relação ao ex-presidente. Em abril de 2018, negou a visita da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, alegando que não havia motivos para inspecionar as condições do cárcere. Negou também visitas de Dilma Rousseff, Gleisi Hoffman, Ciro Gomes, Eduardo Suplicy e vários outros, restringindo o acesso ao presidente apenas a familiares e advogados. O mesmo dispositivo foi usado para negar a visita a Adolfo Pérez Esquivel, vencedor do Prêmio Nobel da Paz. Lebbos também negou a Lula, em diversas ocasiões, a possibilidade de ser entrevistado pela imprensa, além de ter vetado a ida do ex-presidente ao velório do irmão.

    A decisão da última quarta-feira, portanto, não é um fato isolado, mas marca de um endurecimento que afaga a sanha punitivista e a cultura de ódio dos setores conservadores, mantendo o público-alvo da Lava-Jato fiel ao seus ídolos de barro.

    Mais do que isso, a decisão de Lebbos foi um aceno, um recado, ou talvez o grito desesperado de um náufrago que luta pela sobrevivência. Vale lembrar que a força-tarefa começou em 2014, no rescaldo das manifestações alucinadas e desconexas do ano anterior, que atiçaram o discurso moralista contra corrupção e foram significadas como o desejo por mudanças no país. A grande mídia acolheu Sérgio Moro e os procuradores como heróis, pois supostamente enfrentavam o poder constituído com a força das leis.

    Muitos perceberam desde cedo que o projeto logrou sucesso pelo acordo íntimo com a imprensa hegemônica e que tinha nítidos contornos políticos, fato confirmado não apenas com a indicação de seu principal líder para ministro da Justiça, mas pela função de cabo eleitoral desempenhado pelo mesmo durante a campanha, especialmente com a divulgação da delação de Antônio Palocci, após ter sido convidado e aceitado participar do governo, caso Jair Bolsonaro fosse eleito.

    Confirmou-se a tragédia e a Lava-Jato deixou de ser uma operação jurídico-midiático-policial, mas uma facção – no sentido maquiaveliano do termo – que começava a ampliar suas redes de ação. Tinham uma agenda própria. O fato se tornou ainda mais escandaloso com a proposta de criação da “Fundação da Lava Jato”, que teria aporte financeiro de R$ 1,2 bi pagos pela Petrobras, além da promessa de emplacar um ministro no Supremo Tribunal Federal, ainda durante a gestão de Bolsonaro. O projeto de poder estava cuspido e escarrado, mas a vida se tornou um pouquinho mais difícil a partir de 2019.

    É fácil entender as razões. O compromisso com o caos foi o que garantiu o sucesso da força-tarefa. O Partido dos Trabalhadores era seu principal adversário, tanto que a influência decisiva no impeachment de Dilma Rousseff e a prisão de Luiz Inácio foram seus feitos mais celebrados. Era, portanto, uma facção que atuava a partir do antagonismo ao governo federal e que dele dependia para assegurar sua popularidade.

    A decisão de abrir novas trincheiras a partir do super-ministério criado por Jair Bolsonaro inverteu a lógica que sempre presidiu sua existência: Sérgio Moro, o déspota desse pequeno império judicialista, deixou de antagonizar em relação ao governo e passou a assumir o ônus de representar o establishment. Seu silêncio vergonhoso diante do caso Queiroz, as tentativas de abafar os escândalos de Flávio Bolsonaro, sua mansidão com a confissão de Caixa 2 de Ônix Lorenzoni e todos os demais esforços para abafar escândalos que atrapalhassem o patrão, tornaram a Lava Jato muito mais frágil do que os membros gostariam.

    Não bastasse o enfraquecimento provocado por essa mudança de posição política, os documentos recebidos pelo The Intercept e partilhados com diversos órgãos de imprensa escancararam as práticas corruptas de seus operadores. A assessoria de imprensa do ministro da Justiça tentou reagir, criando a narrativa burlesca de que o ataque à Lava Jato era uma tática para destruir o combate à corrupção, mas esse discurso barato só cativou os convertidos.

    O problema das facções é que elas podem ser toleradas quando úteis, mas se tornam intoleráveis quando passam a ameaçar. Durante esses anos, o Supremo Tribunal Federal foi lacônico diante de seus exageros. Até mesmo os políticos foram seduzidos pelo canto da sereia, inclusive parte oportunista da esquerda, que flertou com os procuradores na vã ilusão de que o alvo era apenas o PT. No entanto, o jogo virou e a burra unanimidade deixou de existir.

    Os custos da Lava Jato foram altíssimos para a economia, para a política, para os políticos e, sobretudo, para o povo brasileiro, que hoje convive com um governo que declaradamente veio para destruir e que nada tem a oferecer. Os apelos pela renúncia de Moro se avolumam ao longo do tempo e o impeachment de Bolsonaro já entrou no radar dos parlamentares. Os juízes e procuradores da facção reinavam sobre um castelo de areia no meio do oceano, e com a mudança da maré se vêem desesperadamente náufragos.

    A ação de Carolina Lebbos foi, definitivamente, o grito de um afogado. Ela sabia de antemão que Lula não iria para um presídio comum, mas resolveu manter a fórmula celebrada pela força-tarefa e investiu no caos. Logo os robôs do Twitter começaram a agir e subiram hashtgs para estimular o conflito. É o mesmo método prosaico (mas eficaz) que elegeu o patrão de Sérgio Moro. A surpresa talvez tenha sido a intensa mobilização de deputados e senadores de diversos partidos, que identificaram a brutalidade da decisão e foram até o Supremo Tribunal, que decidiu abandonar a passividade de outrora e derrubou a decisão da juíza de primeira instância com uma votação mais do que expressiva.

    No mesmo dia, Gilmar Mendes deu cautelar que impede investigação contra Glenn Greenwald, assegurando a permanência da produção noticiosa que vem enfraquecendo o status ilibado dos protagonistas da força-tarefa semana após semana.

    Como não podem mais antagonizar com o governo federal, o STF se tornou o alvo privilegiado para manter a lógica de antagonismo, mas o inimigo agora é outro: tal como os procuradores e juízes de Curitiba, os ministros do Supremo não foram alçados ao cargo pelo voto popular, de modo que não estão submetidos à instabilidade própria do regime democrático que eles ajudaram a destruir. Sem uma reviravolta autoritária, a Lava Jato vai se tornar comida de peixe, e não deixa de ser curioso que os principais algozes desse imenso projeto político foram seus próprios protagonistas.

  • OAB requer admissão no inquérito da Operação Spoofing e pede medida cautelar para impedir destruição de provas

    OAB requer admissão no inquérito da Operação Spoofing e pede medida cautelar para impedir destruição de provas

    Comunicado da OAB, nesta sexta-feira, após Sérgio Moro dizer a autoridades que os diálogos encontrados com os supostos hackers seriam destruídos.
    sexta-feira, 26 de julho de 2019 às 18h10

    O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil requereu hoje (26), ao juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª. Vara Federal Criminal da Seção Judiciária do Distrito Federal, sua admissão como assistente no inquérito da Operação Spoofing, instalado para apurar os ataques nas contas de Telegram de diversas autoridades. O objetivo, segundo a Ordem, é “postular a adoção de todas as medidas necessárias para a proteção da cadeia de custódia das informações e para garantia de amplo acesso dos advogados aos elementos e prova”.

    Na petição, a OAB também requer que “sejam expedidas ordens judiciais para que as autoridades policiais, o Exmo. Ministro da Justiça e os demais interessados nas investigações se abstenham da tomada de quaisquer medidas que possam levar ao comprometimento da integridade do material probatório coligido na Operação Spoofing.”

    Nas justificativas, a Ordem lembra que o Ministro da Justiça Sérgio Moro teria informado a autoridades também atingidas pela invasão que o material capturado pelo suposto grupo de hackers seria destruído, sob argumento de preservação da identidade das vítimas – fato que teria sido confirmado pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça, Ministro João Otávio Noronha, como amplamente divulgado pela imprensa. E aponta a impropriedade de tal intromissão:

    “Qualquer intromissão do Ministro da Justiça é manifestamente imprópria diante da exclusiva competência do Poder Judiciário para decidir sobre o destino dos materiais coletados, mormente em procedimento investigativo que corre em segredo de justiça. É certo que, se o inquérito é mantido sob sigilo, não cabe ao Ministro da Justiça ter acesso aos dados, quanto menos interferir na sua utilização e destino.

    Por fim, a indicação do Ministro da Justiça de destruição dos elementos de prova também parece atentar contra a competência do Supremo Tribunal Federal, que pode eventualmente ser chamado a apreciar os fatos, uma vez que há possíveis autoridades atingidas pela invasão sujeitas a prerrogativa de foro, como no caso de ministro do Superior Tribunal de Justiça.

    Trata-se, portanto, de inaceitável intromissão de órgão do Poder Executivo na esfera de competência do Poder Judiciário, em direta afronta à administração da justiça e ao pleno exercício do direito de defesa. Não é demais lembrar que a preservação da autoridade do Poder Judiciário constitui exigência do postulado do Estado de Direito, que não sobrevive sem a garantia de independência e autonomia judicial no exercício de suas funções precípuas.”