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  • Juventude hitlerbolsonarista? Governo quer formar milícias armadas em escolas militarizadas

    Juventude hitlerbolsonarista? Governo quer formar milícias armadas em escolas militarizadas

    Por: Roberto Ponciano

    Walter Benjamin, um judeu alemão, que se suicidou para escapar à perseguição do nazismo, quando fugia, na fronteira entre França e Espanha, foi um heterodoxo crítico literário/filosófico marxista, que previu o desastre nazista. Prever o desastre, não é, de maneira derrotista, sucumbir preventivamente a ele. Ao anunciar a falência da ideia de progresso e a esterilidade das oposições democráticas de esquerda ao nazismo na Alemanha, Walter virou o profeta do imenso genocídio que viria a se configurar diante dos olhos de quem não acreditava que o país mais culto e letrado de Europa fosse capaz de gestar o mal absoluto: o nazifascismo.

    Venho falando de fascismo no Brasil desde 2013. Eu alertei que a Lava-Jato, o macarthismo brasileiro, era um movimento de fundo fascista, que queria judicializar a política no Brasil, criminalizando toda a esquerda. O bolsonarismo é um passo além. O movimento tem tendências paranoicas e psicopatas que vão um grau acima, chegam ao nazismo. Entre o nazismo e o fascismo, irmãos siameses, há uma questão de gradação. Mussolini (admirado e, no princípio, copiado por Hitler) era o líder do Partido Nacional Fascista italiano e um genocida, mas não criou pogrons (perseguições específicas contra uma etnia) e nem campos de concentração. O festim diabólico apelidado de reunião ministerial, que mas parecia o set de filmagem de Saló de Pasolini, revelou ao Brasil, abertamente, o pensamento, mais do que fascista, nazista de Bolsonaro, Weintraub e Damares.

    Estes intentos nazistas são corroborados pelas falas golpistas e tirânicas do General Heleno, que conseguiu açular alguns militares de reserva. O perigo do nazismo em Bolsonaro é que, ao contrário da ditadura militar de 1964, ele não tem nenhum projeto de país. Braga Neto na reunião parecia alguém que quisesse ensinar balé aos símios. Um governo que perde rapidamente sua base de apoio e que aposta cada vez e mais na radicalização, apelando para um exército de fanatizados, que, no entanto, por todas as pesquisas, deve atingir entre 20% e 30% do eleitorado brasileiro, o suficiente para gerar o caos, o confronto, um conflito civil e dar as desculpas para rasgar as últimas garantias constitucionais.

    Não, eu não mudei de posição. Quem alerta para o desastre não diz que o desastre é inevitável. Pessimismo em análise não é derrotismo. “Pessimismo na análise, otimismo na ação”, diria Gramsci. Reitero: alerto para o avanço do fascismo desde 2013. E desde 2016 mostro elementos nazistas nas falas de bolsonaro. O ódio às mulheres (misoginia, pulsões anais sadomasoquistas reprimidas são características da histeria em massa nazifascista), homofobia, racismo, desejo de exterminar o inimigo imaginário, Bolsonaro nunca escondeu isto em seus discursos. Assustador e revelador foi vê-lo falar de seus intentos abertamente em uma reunião ministerial.

    Passos para montar um exército de milicianos nazistas, Bolsonaro e seus filhos metralha já tem dado de maneira aberta. O motim nazifascista no Ceará teve a participação aberta do bolsonarismo. Durante a ditadura militar, militares de baixa patente, praças e paramilitares eram apenas uma linha auxiliar do regime. Não acertamos a conta com nosso passado. A anistia perdoou os criminosos e, sadicamente, perdoou as vítimas. Igualou quem matou e quem morreu. Anistiou criminosos igualando suas vítimas aos torturadores. Os esquadrões da morte, as milícias, todas as organizações paramilitares são herança da ditadura.

    Todavia, a história não se repete. A primeira vez ela acontece como tragédia, a segunda vez, como farsa. Se na ditadura militar, o imenso contingente de oficiais de reserva, praças e baixas patentes, tanto das forças armadas, quanto das PMs, era uma linha auxiliar controlada facilmente pelo regime, com Bolsonaro (que no máximo teria atuado em 64 como algum torturador do delegado Fleury), esses homens tornam-se constituintes de um poder que se organiza de maneira subversiva e paralela, e chantageia e pressiona todo o tempo o Estado Democrático de Direito.

    A finalização de um golpe, com a tirania pessoal de Bolsonaro não é o único perigo para a democracia. Já vi várias análises dizendo que este golpe é inevitável (não concordo com este fatalismo, embora também alerte para o perigo golpista). Com certeza Bolsonaro tem esta aspiração e força os limites de nossa pálida democracia toda semana. Mas, como ele mesmo diz, se vê limitado pelos, cada vez em menor número, alucinados com seus cartazes pró AI5 que consegue reunir na frente do Palácio do Planalto. Basta ver as imagens aéreas em comparação com, por exemplo, as manifestações contra a PEC 95.

    Imagem distribuída pelo próprio Bolsonaro da manifestação a seu favor em 24 de maio de 2020
    Protesto contra a PEC do Teto dos Gastos em 29/11/2016. Foto: www.mediaquatro.com . Ver mais em https://jornalistaslivres.org/cronica-de-um-dia-tragico-em-brasilia/

    Enquanto não consegue finalizar seu intento de uma tirania pessoal, vai financiando e armando suas milícias pessoais. Já conseguiu emplacar até o advogado do escritório do crime como assessor no ministério da saúde. Não temos ideia de quantos mais milicianos estão nomeados em cargos de terceiro, quarto ou quinto escalão pelo país. O nazista disse abertamente na reunião ministerial que quer armar o povo (suas milícias) para derrotar o “inimigo”. Quem for considerado inimigo, ele já declarou diversas vezes, deve ser expulso do país ou sofrer as consequências. E quem pensa que é delírio, é bom lembrar que Bolsonaro aumentou o limite de compra de projeteis de 200 munições por pessoa/ano para 500 por mês (6.000 por ano), o que dá para montar pequenos exércitos milicianos. Junte-se a isto a medida que afrouxa a marcação controle de munições por parte do exército e para a qual chegou a exonerar um general e colocá-lo na reserva. Todos estes movimentos aconteceram sob nosso olhar complacente, sem nenhuma reação nossa.

    O perigo das milícias nazistas é maior que o do golpe. O Brasil se transformar na Colômbia, onde bandos paramilitares agem livremente assassinando opositores à luz do dia. Já temos isto feito de forma aberta no campo brasileiro. Já houve uma experiência de terror controlado, executada pelo mesmo escritório do crime ligado ao bolsonarismo, no caso Marielle. Devemos tomar as medidas democráticas legais para que o crescimento e o poder armamentício das milícias não avance mais do que avançou. Lembrando que o Rio de Janeiro, território onde o bolsonarismo foi criado, já tem bairros inteiros dominados por ela, às claras, e com a total omissão do poder público. E a maior apreensão de armas de guerra de última geração no estado, 117 fuzis modelo M-16 vindos dos EUA, foi feita na casa de um amigo/sócio do vizinho de Bolsonaro, o miliciano Ronnie Lessa, acusado de ser o assassino de Marielle.

    O passo mais descarado e ostensivo para isto foi dado por Paulo Guedes. Espanta-me que a esquerda tenha protestado apenas contra o “trabalho escravo”, quando Guedes tem a coragem de anunciar que quer treinar jovens nos quartéis e depois usá-los para cavar buracos, pagando 200 reais por mês.

    O menos ruim aí é o trabalho escravo. Creio que a maioria das pessoas nem se deu conta de que Guedes sugeriu criarmos a guarda nazista, a juventude hitlerista bolsonarista, com dinheiro público. O problema é que a esquerda introjetou o absurdo. Alguns estados governados pela esquerda aceitaram a excrecência que são as escolas cívico-militares, colégios de “pedagogia” militar em plena democracia. Algo não previsto em lugar nenhum da nossa constituição, mas que diante da falta de verbas, quando condicionadas a elas, foram aceitas avidamente de norte a sul. Mas, muito pior do que isto é a proposta de milícias estatatais bolsonaristas feita por Guedes.

    O governo financiaria jovens que iriam para os quartéis serem doutrinados com “OSPB” e, depois, por 200 reais por mês, estariam disponíveis para “ações governamentais”. A disciplina Organização Social e Política do Brasil, nem matéria escolar é mais. Tenho 49 anos, portanto, sou da geração que teve OSPB e Educação Moral e Cívica na escola. Cada estabelecimento de ensino dava, nessas matérias, aquilo que desejava. Além de ensinar o hino nacional e o que representava cada estrela da bandeira, podiam incluir a estrutura do estado e até história. Obviamente que, usando-se as forças armadas para amestrar jovens, através de OSPB, não vai se ensinar hoje a eles “direitos humanos”. Jovens pobres (nenhum jovem de classe média vai se alistar para ganhar 200 reais por mês) que serão doutrinados e estarão ao dispor do Bolsonarismo, para qualquer ação por uma ninharia, e tudo pago com dinheiro público.

    Óbvio que temos que evitar isto! E uma das formas é denunciar que a maior tragédia é que de maneira clara e aberta o bolsonarismo tenha coragem de propor a criação de uma milícia paga com dinheiro público, sem acobertamentos, sem subterfúgios.

    O anjo da história, tese IX de Benjamin, olha para o passado, para a sucessão de tragédias e catástrofes, para o sofrimento dos humilhados e derrotados, mas é impelido por um vento irresistível para o futuro. É impossível parar a roda da história. Mas é possível SIM evitar as catástrofes, as tragédias, antes que elas aconteçam. O bolsonarismo já desdenha ocultar que declarou uma guerra de morte à frágil democracia brasileira. Temos que estar alertas e desarmar seus planos, destruir sua tentativa de criação de um gigantesco exército paramilitar. Ou paramos esta construção, o autômato do mal absoluto e estrutural, ou ele ficará maior que Bolsonaro. Um exército de paramilitares, milicianos, armados até os dentes, de jovens alistados e mal pagos para cumprir tarefas de uma seita nazista, lutando contra um inimigo imaginário, é uma séria ameaça à democracia, que está sendo arquitetada, tijolo por tijolo, frente a nossos olhos complacentes.

     

    Roberto Ponciano é escritor, mestre em Filosofia e Letras, especialista em Economia.

  • Juventude do PT em Mato Grosso faz moção em defesa da candidatura própria

    Juventude do PT em Mato Grosso faz moção em defesa da candidatura própria

    Moção em defesa da candidatura própria do PT em Mato Grosso
    O golpe liderado pelas forças reacionárias do país vem submetendo o povo brasileiro a um violento processo de empobrecimento e perdas de direitos. Desde a fraude do impeachment que tirou da presidência nossa companheira Dilma Rousseff, presidenta eleita e legítima do país, o governo golpista vem desmontando o Estado, dilapidando nossa soberania e destruindo todas as conquistas populares conseguidas através de lutas históricas e das políticas dos nossos governos.
    O golpe jurídico, parlamentar e midiático suspendeu nossa democracia, cassando direitos e garantias fundamentais e mergulhando o país num Estado de Exceção já conhecido pela população periférica, especialmente pela juventude negra, hoje materializado na perseguição infame e autoritária ao presidente Lula.
    A juventude brasileira é uma das principais vitimas desse golpe. Os golpistas interromperam um ciclo histórico de acesso a emprego, educação e a uma vida mais digna para as juventudes.
    Hoje voltamos aos recordes de desemprego entre os jovens; hoje as universidades fecham novamente as portas aos jovens trabalhadores, negros, indígenas; hoje voltam subempregos e precarização extrema da vida das juventudes na periferia. A geração de hoje e a da próxima década poderão estar submetidas a um sucateamento nunca antes visto da educação, da saúde e ao fim, na prática, da previdência.
    Aqueles que empenharam todas as suas forças para referendar o impeachment fraudulento da presidenta Dilma elegeram ali, conscientemente, o projeto criminoso derrotado nas urnas que hoje arrasa a vida dos brasileiros e das brasileiras.
    Em Mato Grosso assim como na conjuntura política nacional, aqueles que em 2016 foram entusiastas do golpe, não conseguem se aglutinar em somente uma candidatura. O que não significa na prática que todos esses setores pertencentes ao agronegócio genocida têm interesse direto na continuidade e consolidação da Ponte para o Retrocesso.
    Enquanto Pedro Taques (PSDB) foi o primeiro governador do Brasil a se posicionar favorável publicamente no decorrer do processo de impeachment da Presidenta Dilma, Wellington Fagundes (PR) foi um dos principais articuladores entre os parlamentares mato-grossenses na comissão do golpe, instaurada no Senado Federal. Posteriormente, ambos aplicaram na íntegra a cartilha do Imperialismo contra nossos direitos. Emenda Constitucional que congela os investimentos nas áreas sociais (tanto nacional, quanto estadualmente), contrarreforma trabalhista, lei da terceirização irrestrita, reforma do Ensino Médio e assim por diante.
    É notável a movimentação desses setores golpistas (que no fim das contas são todos farinha do mesmo saco) uma estratégia de inviabilizar o PT-MT eleitoralmente. Afinal, em nosso estado, cerca de ⅓ do eleitorado diz que vota no candidato a governador(a) que o Lula apontar.
    A juventude do PT em Mato Grosso considera inconcebível uma aliança com setor que aplicou o golpe nos direitos da juventude e de toda classe trabalhadora.
    Tal fato destruiria todo o esforço de reaproximação da nossa base social e política no estado, esvaziando a possibilidade de reaglutinação do campo popular em torno do PT, e saúda com muito entusiasmo militante as pré-candidaturas ao governo do estado da Professora Edna Sampaio e da Professora Enelinda Scala ao Senado, pois são pré-candidaturas percebidas como legitimas candidaturas das forças que enfrentaram o golpe e defendem a volta de Lula à presidência da República. Abrir mão disto em nome de uma aliança com setores que não tem compromisso algum com nossa defesa de Lula Livre e Lula Presidente significaria trocar a possibilidade de excepcional protagonismo pela condição de partido vazio de significado político, convertido em legenda palaciana por um bom tempo.
    A juventude do PT em Mato Grosso entende que qualquer aliança que não se enquadre com as apontadas no último PED (setores antiimperialisatas, anti-latifundiários, anti-monopolistas e radicalmente democráticas) nos diluiria numa coligação que em nada se comunica com nossa base social e que jamais terá como prioridade a defesa de Lula e a luta contra o golpe em suas mais profundas dimensões.
    A juventude do PT em Mato Grosso acredita que a vontade política da base do partido deve ser respeitada. Não compreendemos a insistência de setores do partido numa aliança que nos rebaixa politicamente no estado sem oferecer nenhum ganho político consistente ao PT, contraposta a uma pré-candidatura petista que defenda Lula Presidente como uma verdadeira saída política contra o golpe, tendo consequentemente reais chances de vitória. Não aceitamos qualquer tipo de veto ao exercício da liderança política por parte de jovens filiados e filiadas, compreendemos que a juventude petista tem autonomia política de ter posição.
    O Partido dos Trabalhadores não tem dono, pertence à sua militância e aos sonhos dos bravos e bravas trabalhadores e trabalhadoras que o constroem diariamente com a força de seus sonhos.
    Convocamos toda a juventude petista para seguir mobilizada e firme em defesa da candidatura própria do PT ao governo do estado, atualmente posta na pré-candidatura de Professora Edna Sampaio, para enfrentarmos no nosso estado as forças golpistas com seus diversos palanques e garantirmos aquilo que para nós é central: a defesa de Lula, do nosso projeto, para mudar, novamente, o Brasil e a vida da juventude mato-grossense.
    XXXXXXXXXXX
    Resolução do Congresso Extraordinário da JPT (ocorrido em junho, em Curitiba)
    1) Dois anos de golpe arremessaram o Brasil no caos social e ameaçam o presente e o futuro da juventude e dos trabalhadores.
    2) Lula é há mais de 100 dias é um preso político, numa prisão oriunda de um processo sem provas, organizado pela operação lava jato com a anuência do STF e as ameaças do exército. O mesmo acontece com nossos companheiros presos injustamente, José Dirceu, João Vaccari Neto e Delubio Soares, vítimas de processos fraudulentos, alimentados pela indústria da delação premiada.
    3) Essas prisões aprofundaram o Estado de Exceção no Brasil e se combinam com a política do governo golpista de Michel Temer. Ambos atendem diretamente aos interesses do capital financeiro internacional, do Imperialismo (principalmente dos EUA) que, frente a crise do capital para garantir a sobrevivência do sistema, desenvolve uma ofensiva contra todos os povos ao redor do globo.
    4) São estes mesmos interesses do capital financeiro que estão por trás dos bombardeios à Síria, do inaceitável massacre de crianças palestinas – e o impedimento ao retorno de seu povo.
    5) É o que está por trás da manutenção da miséria no continente africano, da ofensiva contra os direitos trabalhistas na Europa, da ofensiva estadunidense contra a China e Rússia e suas tensões com a Coréia do Norte, das tentativas de ingerência na Venezuela, com um bloqueio econômico, enfrentado bravamente pelo povo venezuelano que reelegeu Maduro recentemente, além da assembleia constituinte.
    6) É o que está por trás do golpe no Brasil. Um golpe parlamentar, jurídico, midiático, que retirou do governo a presidenta Dilma e o Partido dos Trabalhadores, mas foi muito além, avançando o desmonte da soberania nacional, a manutenção do caráter dependente da economia aprofundando, a precarização do trabalho e a desindustrialização, o ataque as liberdades democráticas e a retirada dos direitos da classe trabalhadora, que são objetivos estratégicos que unificam a coalizão golpista.
    7) Começou por reverter a lei do Pré Sal, importante conquista dos governos Lula e Dilma, cujos royalties estavam destinados à saúde e educação, para entregar o Petróleo brasileiro para as multinacionais e visa ainda atacar a soberania nacional com projetos de privatização da própria Petrobras, da Eletrobras e demais empresas públicas estratégicas.
    8) Acabou com a sequência de ampliação dos investimentos em saúde e educação nos anos de governos do PT para aprovar a emenda Constitucional 95 que congela os investimentos em áreas sociais, deixando estranguladas as universidades públicas, paralisando a expansão de universidades e escolas técnicas, diminuindo as verbas para o FIES e, mais recentemente, colocando fim ao programa Farmácia popular.
    9) Acabou com a valorização do salário mínimo. Aprovou uma reforma trabalhista que rasga direitos dos trabalhadores e com a queda no investimento social provocou a ampliação do desemprego que já chegou a casa dos 13%, que na juventude já alcança os 30%, enquanto 1 em cada 4 jovens está sem trabalhar e sem estudar, o que é demonstrado pela ampliação da evasão em escolas, os quase 200 mil jovens que deixaram as faculdades privadas, os 2 milhões a menos de candidatos no ENEM e a enorme e revoltante volta da fome e da miséria que vem assolando o país, colocando novamente no cenário social o trabalho infantil.
    10) A lista do pacote de maldades do governo golpista não termina por aí, ameaça reverter cada conquista da classe trabalhadora em décadas de luta.
    11) É da subserviência desse governo ao capital internacional que deriva a atual política de preços da Petrobras e a preparação de sua privatização, o que resultou em aumentos consecutivos do preço do combustível e do gás de cozinha, levando milhares de pessoas a cozinhar com lenha e gerando a mobilização dos caminhoneiros que desabasteceu o país e, agora, a dos petroleiros, que acertadamente exigem uma mudança dessa política.
    12) É importante salientar, que em meio a essa ofensiva o povo brasileiro busca resistir de diversas maneiras.
    13) Ainda em 2016 os estudantes secundaristas brasileiros protagonizaram o importante movimento de ocupação das escolas. Estudantes universitários realizam constantemente greves e manifestações, como recentemente na UNB e na UFMT.
    14) Os trabalhadores, organizados por seus sindicatos, a CUT e demais centrais, realizaram a maior greve geral da história desse país – com apoio enfático da juventude – que conseguiu impedir a aprovação da reforma da previdência e dividir os golpistas.
    15) Vem dessa resistência do povo brasileiro a necessidade deles de prender Lula e perseguir o PT e seus dirigentes históricos.
    16) Afinal, passados dois anos, liderando a resistência popular contra o golpe e suas consequências, o PT voltou a ter a preferência de 20%, enquanto Lula chega aos 40% e pode vencer as eleições no primeiro turno. Nesse processo milhares de jovens participaram das manifestações, compareceram às caravanas de Lula pelo país e diariamente dezenas de jovens se filiam ao Partido dos trabalhadores.
    17) A Juventude do PT tem uma enorme responsabilidade pela frente. Nascido da força da juventude sindical, estudantil, militante rural e das comunidades eclesiais de base, o PT ainda se depara hoje proporcionalmente com níveis muito menores de filiados jovens, fruto não apenas do envelhecimento da população, como também da dificuldade objetiva de absorver as demandas e as organizações de juventude atuais.  Nós temos a obrigação de organizar amplamente essa juventude que se dirige ao PT e com ela, ajudar os jovens brasileiros a se ligar às lutas da classe trabalhadora para resistir e virar esse jogo!
    18) Nesse caminho não podemos repetir erros do passado. A situação exige reafirmar a candidatura de Lula. Não há plano B. Eleição sem Lula é fraude!
    19) Lula é o único que pode derrotar a coalizão golpista e todos os seus representantes e as falsas saídas que representam.
    20) A intervenção militar não é solução como bradam grupos de extrema direita ou pessoas manipuladas. A ditadura militar perseguiu trabalhadores, prendeu, torturou e matou. Dilapidou o patrimônio nacional, arrancou direitos e precisou ser vencida com o suor e sangue de milhares de militantes que dedicaram suas vidas à democracia em meio a um processo que resultou na criação do próprio PT e da CUT.
    21) O fracasso da intervenção militar no Rio, com prisões ilegais, ataque as liberdades democráticas, a incapacidade de solucionar a execução de Marielle (Mais de três meses depois!) são outra expressão disso. É preciso, aliás, por um fim nessa intervenção e impedir a constante utilização do exército como meio de repressão do povo, como se viu novamente na greve dos caminhoneiros.
    22) A única solução para a crise do país passa por Fora Temer e pela realização de eleições livre e democráticas, com Lula Livre e candidato, para que o povo possa escolher quem deseja.
    23) Nessas eleições buscaremos eleger os candidatos do PT para assembleias, câmara e senado, além dos governos do Estado. Mas acima de tudo vamos eleger Lula pois ele é o único capaz de impulsionar um programa e uma estratégia de transformações políticas sociais e econômicas profundas no país, em favor da classe trabalhadora. Para isso é necessário revogar as medidas do golpe através da convocação de uma Assembleia Constituinte Soberana (pois com um congresso com as atuais regras não dá), como afirma a resolução do 6° Congresso do PT e como afirmou Lula no histórico discurso de São Bernardo do Campo: “A prioridade é garantir a que este país volte a ter cidadania. Não vão vender a Petrobras! Vamos fazer uma Constituinte! Vamos revogar a lei do Petróleo que eles tão fazendo!” (Lula)
    24) De fato é preciso revogar a lei do Petróleo, recuperar a Petrobras e outras empresas privatizadas a preço de banana, voltar a financiar a saúde e a educação com o Pré Sal.
    25) É preciso combater o genocídio e o encarceramento da juventude. Este genocídio que aflige a juventude negra brasileira tem como base o racismo estrutural que é marca da nossa sociedade. Ele se alimenta da vulnerabilidade extrema na qual se encontram nossos jovens. Para enfrentar essa situação é preciso ter a juventude negra como centro das políticas públicas dos governos petistas, especialmente na Educação, e construindo perspectivas de bem viver para essa população. Precisamos ainda, apresentar um projeto alternativo de segurança pública que passe por desmilitarizar a polícia militar e mude a política punitiva de hiperencarceramento que lota nossos presídios com jovens.
    26) É preciso legalizar o aborto, cuja proibição mata mulheres todos os dias.
    27) É preciso revogar a emenda constitucional 95, voltar a investir em educação, expandir universidades e escolas técnicas, aprofundar o debate sobre federalizar o ensino médio como prometeu Lula, combatendo as falsas soluções da militarização de escolas civis ou de terceirização de escolas públicas.
    28) É preciso colocar um freio no obscurantismo crescente, acabar com os projetos de escola sem partido, enfrentar o machismo e a LGBTFobia crescentes.
    29) É preciso revogar a reforma trabalhista, recuperar direitos dos trabalhadores e empregos para o povo brasileiro.
    30) É necessário um programa de reformas democráticas e populares capazes de superar este modelo econômico conservador e neoliberal em curso no país. E garantir um desenvolvimento com soberania nacional, democracia e garantia dos direitos para a classe trabalhadora, com a reforma agrária, urbana, a reforma tributária progressiva, reforma política, do sistema judiciário (estabelecendo controle social) e democratização da mídia.
    31) Para isso é necessária uma política de alianças com os movimentos sociais e com setores que aglutinem quem partilhe de uma perspectiva anti-imperialista, anti-monopolista, anti-latifundiária e radicalmente democráticas. O PT não deve se aliar com os setores golpistas que são os responsáveis por colocar o país na condição de exceção democrática e pelos retrocessos que afligem a classe trabalhadora.
    32) Essa conjuntura coloca a necessidade de reafirmar o nosso projeto político e nossa identidade partidária. Por isso a JPT defende a centralidade em lançar e fortalecer candidaturas próprias ou a aliança eleitoral que defenda a liberdade e eleição presidencial de Lula. Repudiamos movimentações que busquem abrir mão de nossas candidaturas por acordo que não contribuem para a disputa programática tampouco para os resultados eleitorais e a defesa da candidatura do Lula.
    33) Para garantir Lula Livre, Lula presidente e voltarmos a garantir um futuro para a juventude e os trabalhadores brasileiros temos uma enorme luta pela frente. Temos o desafio de transformar uma luta que até agora foi de milhares numa luta de milhões de homens e mulheres. Precisamos ter firmeza e ousadia!
    34) Buscando enfrentar esse desafio a JPT resolve:
    Organização e lutas
    35) Construir uma grande campanha de filiação para apresentar a militância partidária às jovens e aos jovens dispostos a enfrentar o neoliberalismo e o desmonte de direitos.
    36) Incentivar a organização de atividades de recepção para jovens filiados, principalmente os recentes filiados online.
    37) Organizar e impulsionar núcleos de jovens petistas em bairros, faculdades, escolas e locais de trabalho!
    38) Apresentar a unidade na ação para aprofundar relações entre a JPT e a juventude dos movimentos sociais ou que tem referência no PT e Lula, discutindo os métodos adequados para aprofundar tais ações.
    39) Criar uma plataforma que unifique as candidaturas jovens do PT para contribuir com as campanhas. Deste modo, saudamos as pré-candidaturas da companheira Ana Carolina a Deputada Estadual e do companheiro Adriano Plácido a Deputado Federal, bem como a de qualquer outro jovem que venha disponibilizar seu nome.
    40) Organizar uma campanha de auto financiamento da JPT e manter a defesa de 5% do fundo partidário para a juventude.
    41) Orientar o acompanhamento sistemático da frente Brasil Popular em todos os níveis.
    42) Promover intercâmbios de experiencias com os movimentos sociais e sindicais sobre as diferentes táticas de luta.
    43) Organizar a parceria com a mídia alternativa e popular.
    44) Buscar organizar que todas as candidaturas majoritárias do PT tenham uma coordenação de campanha de juventude.
    45) Organização a jornada de formação da juventude do PT, junto da secretaria nacional de formação.
    46) Buscar organizar os jovens petistas do movimento sindical, em especial da CUT.
    47) Orientar a impulsão e ação de comitês Lula Livre, Lula presidente por todo o país
    48) Organizar uma grande Marcha da Juventude à Brasília no dia 15 de agosto para registrar a candidatura de Lula como candidato a presidente do país.
    49) Organizar uma campanha permanente pela Liberdade dos nossos presos políticos, Lula, José Dirceu, Vaccari e Delubio.
    50) Organizar, enquanto Lula estiver preso, em todo dia 13 de cada mês um dia nacional de mobilização da JPT, com orientação para que secretarias estaduais, municipais, núcleos da JPT organizem panfletagens e manifestações (com panfleto próprio da JPT a ser produzido pela executiva nacional da JPT)
    51) Garantir a realização do 4° congresso da juventude do PT no primeiro semestre de 2019 com etapas municipais, estaduais e nacional, propiciando discussão e participação democrática com a eleição de delegados na base garantindo ampla mobilização, a legitimidade e representatividade na renovação das instâncias da direção da JPT, cujo cronograma e regimento será divulgado até dezembro de 2018.
  • NO BECO QUE A CIMEIRA NÃO VIU

    NO BECO QUE A CIMEIRA NÃO VIU

    Após 20 anos da Chacina do Beco do Candeeiro, em Cuiabá, o assassinato de três adolescentes entre 13 e 16 anos continua impune. Ato em memória das vítimas e por JUSTIÇA acontece hoje, 10 de julho, a partir das 17h, no Beco do Candeeiro, na praça Senhor dos Passos. Por Johnny Marcus

    “14 anos, quinze tiros de fuzil, as vísceras esfoladas, expostas, coagulando. O sol assiste em fogo o sonho de viver que ainda pulsa nos miolos”.

    Esse verso dantesco é de autoria do poeta Edson Veóca e faz parte de um projeto de inclusão social chamado “Literatura Marginal”, idealizado e publicado pelo escritor Ferrez, em 2000, em parceria com a revista “Caros Amigos”, da qual é colunista.

    Ferrez é morador da favela de Capão Redondo, na Grande São Paulo, e autor de diversos romances. Os mais conhecidos são “Capão Pecado” (2000) e “Manual Prático do Ódio” (2003). Tive a felicidade de ler ambos tão logo foram publicados.

    Assim que deitei os olhos nas palavras de “No beco que a cimeira não viu”, no ano 2000, senti uma tristeza profunda e foi inevitável não pensar na chamada Chacina do Beco do Candeeiro, ocorrida dois anos antes em Cuiabá.

    Em 10 de julho de 1998, os adolescentes Adileu Santos, o Baby, 13, Edgar Rodrigues de Arruda, o Indinho, 14, e Reginaldo Dias Magalhães, o Nado, 16, foram executados com tiros à queima roupa, na rua 27 de Dezembro, popularmente conhecida como Beco do Candeeiro, no centro histórico da capital.

    O caso ganhou grande repercussão na mídia local e nacional, e gerou grande comoção social. Contudo, as investigações conduzidas pelo Ministério Público levaram a um único suspeito, o ex-policial militar Adeir de Souza Guedes Filho, 49, que acabou absolvido por falta de provas, após submetido a júri popular, em 2014.

    Até hoje, vinte anos depois, as mães dos meninos assassinados buscam por justiça. No local das execuções foi erguida uma estátua, esculpida pelo artista plástico Jonas Côrrea, ao mesmo tempo tributo aos jovens e promessa de que os crimes jamais seriam esquecidos.

    Os autos do processo, com mais de mil páginas, sugerem inépcia por parte do Ministério Público para a elucidação do caso. A investigação trabalhou, primordialmente, com três vertentes: os homicídios teriam sido cometidos por um pistoleiro profissional a mando dos comerciantes da região, supostamente inconformados com sucessivos assaltos, ou como ação de um processo de eugenia implantado na capital e até mesmo como vingança do cabo Hércules de Araújo Agostinho, o pistoleiro de João Arcanjo Ribeiro, porque uma das crianças teria roubado um cordão de ouro de sua esposa enquanto ela voltava de ônibus para casa.

    Cômico se não fosse trágico, essa linha de investigação não pôde ser comprovada porque os cartuchos recolhidos na cena do crime foram “perdidos” dentro do Fórum da Capital, o que inviabilizou um laudo de balística com a arma de Hércules, uma pistola 765, semelhante a arma usada pelo policial militar Sandro Márcio Martines para matar Alinor Santana Pereira, em 1999.

    Toda essa situação não resolvida sempre mexeu comigo e, por conta do peso dos vintes anos passados, resolvi produzir um livro-reportagem sobre o caso. O provável título será “Beco Sem Saída – A Chacina do Beco do Candeeiro 20 anos depois”.

    Pretendo inicialmente mostrar como esses meninos chegaram às ruas. E aqui cabe um esclarecimento importantíssimo: nenhum deles era de fato “menino DE rua”. Ainda que passassem vários dias perambulando pelo centro histórico, eles sempre voltavam às suas respectivas casas.

    O Baby, por exemplo, nem em Cuiabá morava. Residente em Cáceres, estava na capital há uma semana, onde veio passear porque a escola pública onde estudava estava em greve. Quem esclarece a situação é sua mãe, dona Maria Santos.

    Também conversei com dona Albina Rodrigues de Arruda, mãe de Indinho. Segundo ela, o filho estava de férias da escola quando foi assassinado. Ainda não consegui contato com a mãe de Nado. De acordo com relatos, ele não foi criado pela mãe biológica.

    O mais importante desse projeto literário-jornalístico é resgatar a humanidade dessas crianças. Contar suas histórias, relembrar seus sonhos. Em segundo plano está o desejo de esmiuçar ao máximo as investigações conduzidas pelo Ministério Público através de análise dos autos do processo e depoimentos das autoridades competentes.

    Há cerca de um mês tive a felicidade de conhecer o “Psicanálise na Rua”, coordenado pela professora Adriana Rangel, do departamento de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso. O projeto social atende pessoas em situação de vulnerabilidade no centro histórico de Cuiabá e marcou para hoje, 10 de julho, um ato em memória da chacina do Beco do Candeeiro.

    Desde a manhã estão ocorrendo intervenções, como limpeza do Beco, maquiagem das moças e ensaio fotográfico. As fotos serão expostas a partir das 17h, no próprio Beco, quando haverá apresentações artísticas. Dona Albina, mãe de Edgar, e dona Maria, mãe de Adileu, vieram de Lucas do Rio Verde e Cáceres, respectivamente, exclusivamente para participar do ato.

    A companheira Gabriela Rangel, antropóloga e filha da professora Adriana, é quem está à frente da organização. Ela conta que o tributo de hoje vai além da chacina ocorrida há vinte anos e é “uma forma de dar espaço a essas pessoas que de alguma se excluíram ou foram excluídas do meio social. Será um dia de intervenção para dar um presente a essa população de rua como representantes e herdeiros desses meninos chacinados”.

    Também fazem parte deste coletivo a Associação dos Familiares Vítimas da Violência (AFVV), a União de Negros pela Igualdade (Unegro), Instituto Mulheres Negras de Mato Grosso (Imune), A Lente, Outros 300, entre outros parceiros.

    A sua participação é importantíssima. Venha trocar uma ideia com a gente. Vamos discutir essa questão. Ela diz respeito a todos nós.

    Reforçando que o ato acontece hoje, 10 de julho, a partir das 17h, no Beco do Candeeiro, na praça Senhor dos Passos.

  • ID JOVEM: A quem interessa o direito da juventude?

    ID JOVEM: A quem interessa o direito da juventude?

    Revisão de Agatha S. Azevedo

    Criado em 2015, o ID JOVEM tinha a proposta de auxiliar jovens (de 15 a 29 anos) de baixa renda a conseguir viajar pelo país, frequentar ambientes sócio-culturais, como teatro e cinema. Criado no Governo Dilma, o projeto visava dar mais oportunidades aos estudantes porém, uma das medidas golpistas do Governo de Michel Temer foi suspender o projeto.

    Ao procurar os motivos da suspensão no site do projeto, encontramos várias dificuldade, por exemplo a URL da audiência pública é inacessível, ou seja: da erro ao tentar entrar no site. Essa é uma maneira de não explicar, plausivelmente, o motivo da suspensão da ID Jovem. Procuramos também nas redes sociais do Planalto e do Temer mas também não há explicação, além disso tentamos contato com o Whatsapp publicado pelo SNJuventude, porém até o momento não obtivemos resposta.

    Essa é, sem dúvidas, mais uma medida contra a educação dos jovens do país, após a PEC que congela os gastos da educação por 20 anos. O programa ajudava diretamente os jovens a acessar, muitas vezes, programas culturais que sem o mesmo, eles não frequentariam. Carlos Jáuregui, que é professor universitário, do Instituto de Comunicação e Artes (ICA) do Centro Universitário UNA, diz que “em termos de formação profissional, a gente tem que pensar muito bem quando deixamos de investir na juventude, pois estamos criando um problema e um atraso para o país na ordem de 20, 30 até 40 anos. O jovem que tem hoje cerca de 20 anos e não recebe o devido investimento em sua formação, está deixando de ser um cidadão produtivo, engajado e informado nas próximas decadas, que ficarão prejudicadas”.

    Até julho de 2017 havia cerca de 230.991 IDs emitidas no país, até quando que a educação desta, e das próximas, serão sucateadas pelo governo Temer?

  • Juventude Sem Terra participa em peso de vestibular na UFTM

    Juventude Sem Terra participa em peso de vestibular na UFTM

    Por: Luiz Felippe Fagaraz (Brasil de Fato-MG). Fotos e vídeo: Diego Leão (Brasil de Fato-MG)

    Neste domingo (04/09), jovens de diversos estados brasileiros viajaram até a cidade mineira de Iturama para concorrer a uma das 50 vagas do curso de Agronomia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM. O processo seletivo contou com cerca de 350 inscritos, sendo que pelo menos 80% destes é de jovens do MST, outros movimentos de luta pela terra e de comunidades tradicionais, como os quilombolas.

    Aguinaldo Batista, da coordenação estadual do MST, destacou a importância do curso e da participação de estudantes vindos de movimentos organizados, principalmente para a luta dos movimentos na região do Triângulo Mineiro. Aguinaldo reafirmou a motivação da juventude organizada: “Além de marcha do movimento apoiar os jovens, também serve como uma denúncia pela falta de cursos voltados à juventude do campo. Se abrirem 50 turmas de agronomia no Brasil inteiro para a juventude do campo, a gente preenche todas as vagas e ainda vai faltar lugar. Existe a intenção de fazer bem o curso e depois devolver à sociedade com serviços no campo que possam melhorar a terra e o meio ambiente, rompendo com o agronegócio e o uso de agrotóxicos na produção de alimentos”, concluiu.

    O Curso

    Por meio de apoio do PRONERA (Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária) o curso de Agronomia da UFTM na cidade de Iturama foi desenvolvido tendo como público-alvo jovens e adultos de assentamentos da reforma agrária.

    Apesar dessa importante iniciativa, na prática o que se viu foi uma tentativa de excluir os trabalhadores do campo do processo. Conforme pontua a militante Renata Menezes, do Levante Popular da Juventude e do MST, “os movimentos sociais e toda a população do campo repudiam essa tentativa de afastar a gente das discussões do PRONERA e da educação do campo. Precisamos fortalecer esse processo para que seja cada vez mais participativo, como sempre foi e como era a intenção do PRONERA quando foi planejado e criado”.

    Segundo Renata, “o curso é a materialização de um processo que já vinha sendo construído antes. Na região do pontal do Paranapanema, já faz dois meses que a gente está em preparação com a juventude para o vestibular”. Para ela, o compromisso da luta pela terra, também, é um compromisso da luta por conhecimento. “A gente entende que essa é um trincheira, a universidade é um latifúndio que precisa ter as cercas cortadas”, finalizou.

     

  • Terra, vida e juventude – Thais Paz

    Terra, vida e juventude – Thais Paz

    “Terra é vida. É dela que brota tudo, dos alimentos até a cultura camponesa. Por isso a terra jamais deveria ser mercadoria: como base da vida, é um direito de qualquer ser humano ter acesso a ela e aos seus frutos.”

    Thais Terezinha Paz, de 24 anos, nasceu em Água Doce, um município de Santa Catarina, no mesmo ano em que seus pais começaram o trabalho de base que desencadearia no assentamento IX de Novembro.

    Ela começou a participar do coletivo da juventude em 2007, com somente 14 anos. Para ela a luta é normal, nascer lutando por um ideal é algo quotidiano.

    Depois de estudar história na UFSM, e contribuir para a organização do Levante Popular da Juventude e da Escola Nacional Florestan Fernandes, no início de 2016 ela assumiu a coordenadoria nacional da juventude do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST.

    Assumiu a coordenadoria em um momento de crise: a luta contra o golpe. No MST, ajudou nas ações de stencil, muralismo, teatro, música, batucada, intervenções em praças, metros, ônibus, ocupações das escolas, entre tantas outras.

    Thaís é uma jovem mulher que representa bem a juventude do MST, com clara formação política sólida, e com a essência da vida que alimenta a terra e também o sonho e ideal dos jovens do movimento: a busca pela igualdade, pelo direito a terra, pela vida, pela liberdade e pela educação libertadora. É uma juventude viva na luta contra desigualdades e injustiças, algo bem raro nos dias de hoje, em que discurso parece prevalecer em relação à ação.

    Confira a íntegra da entrevista:

    Jornalistas Livres: Como entrou para o MST?

    Thais Paz – Minha família é próxima do MST desde a década 90. Em 1993 (ano em que nasci), meus pais se envolveram com o trabalho de base que desencadeou na ocupação de um latifúndio que logo depois virou assentamento (IX de novembro, no município de Água Doce-SC). Hoje minha família é assentada lá. Então estou no MST desde que nasci.

    JL – Qual a sua luta como juventude do MST, tanto no âmbito coletivo como pessoal?

    TP– São muitas questões que nos motivam a lutar: individualmente o que mais me incomoda são as injustiças. Esse sistema explora nosso trabalho, nossos corpos, implica divisões no povo para que não nos reconheçamos como iguais. Sonho com um mundo sem exploração das/os trabalhadoras/es, sem dominação sobre as mulheres, LGBTs, negras/os.  A juventude do MST tem essa capacidade de vincular as lutas por nossas necessidades mais imediatas com a luta por objetivos mais a longo prazo, como a luta por uma sociedade socialista.

    JL – Como você se tornou liderança da juventude do MST?

    TP – Comecei a participar das atividades da juventude do MST em 2007, com 14 anos.  Fiz cursos de formação no meu assentamento, atividades estaduais, e o programa de formação da juventude campo e cidade que terminou em 2008. Neste ano entrei para o coletivo estadual  de juventude em Santa Catarina.  Depois passei 5 anos estudando história em Santa Maria (UFSM), e contribui na organização do Levante Popular da Juventude. No ano de 2015 contribuí na Escola Nacional Florestan Fernandes e no início de 2016 assumi a tarefa de coordenação do coletivo nacional de juventude. Ou seja, são alguns anos participando dos processos organizativos e formativos da juventude, e que aos poucos vão implicando em responsabilidades maiores.

    JL – Quais os maiores desafios que enfrentou, pessoal e coletivamente?

    TP – São vários desafios que permeiam a juventude do MST. Entre todos destaco o acesso a educação.  A luta pela construção de escolas nas áreas da reforma agrária, por uma educação no campo, pelo acesso ao ensino superior, por uma formação comprometida com a luta do povo brasileiro, são partes fundamentais da luta da juventude sem terra.

    JL – Qual característica mais representativa da juventude do MST?

    TP – A diversidade do povo brasileiro e a luta. A juventude sem terra guarda em si a história de resistência do nosso povo, dos camponeses, indígenas, negras/os, trabalhadores rurais expulsos do campo. Essa diversidade é marca de qualquer encontro, é um dos nossos pontos mais fortes. Outra marca fundamental é que a juventude sem terra desde muito cedo aprende que é preciso organizar nossa rebeldia, é preciso dar força a ela, transformá-la em luta, em ação concreta que enfrente nossos inimigos e conquiste direitos.

    JL – Qual o seu principal sonho para a juventude do MST?

    TP – Meu maior sonho  é que conquistemos uma vida digna para todos e todas, que possamos construir uma nova sociedade em que realmente haja igualdade, liberdade, terra, alimentos saudáveis, educação, saúde, cultura, lazer, etc. Desejo que a juventude nunca se acomode, que viva permanentemente enfrentando as desigualdades e injustiças.

    JL – Se pudesse definir a palavra terra, como a definiria e o que ela representa para você?

    TP -Terra é vida. É dela que brota tudo, dos alimentos até a cultura camponesa. Por isso a terra jamais deveria ser mercadoria: como base da vida, é um direito de qualquer ser humano ter acesso a ela e aos seus frutos.

    JL – Como foi sua atuação na luta contra o golpe?

    TP – A juventude do MST construiu todas as agendas de luta do MST, que por sua vez tem na Frente Brasil Popular um espaço de articulação das lutas com outros setores populares. Participamos das lutas, fomos protagonistas principalmente nas ações com agitação e propaganda, usando nossa criatividade em técnicas como stencil, muralismo, teatro, música, batucada, intervenções em praças, trens, ônibus, etc. Participamos das ocupações de escola, ocupando nossas escolas do campo, doando alimentos e apoiando outros processos de luta da juventude.  É um momento intenso de luta e articulação, com a construção da Frente Brasil Popular, as greves, as mobilizações contra o golpe refletem os desafios que são próprios desse momento. O trabalho com a juventude sempre se conecta com os desafios gerais da organização. Esse é um período de intensa mobilização, onde cresce a centralidade das pautas políticas. Nossa juventude tem participado de muitos processos de luta, o que acelera o processo de formação.

    JL – Como você vê a questão das minorias no MST?

    TP -A gente não usa esse termo de minoria, então vou falar mais ou menos o que entendi: a gente tem um setor de gênero, onde as mulheres se organizam historicamente, um setor que não é só auto organizado de mulheres, mas um setor que luta contra o patriarcado, pela desconstrução do machismo. Existe desde 2000, e a novidade tem sido a organização dos LGBTs Sem Terra, que já tinha uma série de iniciativas, mas a gente passa a organizar nacionalmente a partir de 2015, com a realização do primeiro seminário, o MST e a Diversidade Sexual,  e aí a partir de lá tem sido feita uma série de atividades, estamos gestando, construindo um coletivo LGBT Sem Terra. Lá também temos um grupo de estudos do LGBT Sem Terra, que foi onde já fizemos um caderno de formação.

     

    Por Laís Vitória Cunha de Aguiar, especial para os Jornalistas Livres.