Do you want to prevent the Brazilian people from choosing who to vote for?
I have been in jail for over 100 days. Out there, unemployment increases, more parents have no means to support their families, and an absurd fuel pricing policy led to a truck strike that has depleted Brazilian cities. As a consequence, the number of people injured when cooking with alcohol has increased because low income families can’t afford cooking gas. Poverty is growing, and the country’s economic prospects are getting worse every day.
Brazilian children are separated from their families in the United States, while our government humiliates itself in front of the American vice president. Embraer, a high-tech company built over decades, is being sold for such a low price capable of amazing the market.
An illegitimate government has been in a hurry in the last months to liquidate as much patrimony and national sovereignty it can – reserves of the pre-salt, gas pipelines, energy suppliers, petrochemicals – besides opening the Amazon for foreign troops. As hunger comes back, the vaccination of children falls, part of the judiciary fights to keep its housing assistance privileges and, who knows, to gain a salary raise.
Last week, Judge Carolina Lebbos ruled that I can not give interviews or record videos as the Worker’s Party (the largest political party in Brazil) pre-candidate for the upcoming presidential elections. It appears that incarcerating me was not enough; they want to silence me.
You who do not want me to speak, what do you fear I will say? What is happening to the people today? Don’t you want me to discuss solutions for our country? After years of slandering me, do you want me not to have the right to speak up for myself?
Is that the reason why you, the powerful without votes and without ideas, overthrew an elected president, humiliated the country internationally and imprisoned me without proof, based on a sentence of “indeterminate acts” after four years of investigation against me and my family? Did you do all this because you are afraid that I’ll speak up?
I remember when the president of the Federal Supreme Court said “shut up is already dead” [a Brazilian popular saying meaning “I am not going to shut up just because your are telling me to”]. I remember Globo media conglomerate not worrying about such an obstacle to freedom of the press – on the contrary, they celebrate it.
Jurists, former heads of state from many countries and even political opponents recognize the absurdity of the process that condemned me. I may be physically in a prison cell, but it is those who have condemned me that are bound to the lie they have set. Powerful interests want to turn this ludicrous situation into a political fait accompli, preventing me from running for president, which conflicts with recommendations of the United Nations Human Rights Committee.
I have lost three presidential races – in 1989, 1994 and 1998 – and I have always respected the results by getting ready for the next elections.
I am a candidate because I did not commit any crime. I challenge those who accused me to show evidence of what I did to be in a cell. Why their allegations have “undetermined acts” instead of pointing out what I did wrong? Why do they say “assigned property” instead of presenting a proof of ownership of the Guarujá apartment, which belonged to a company that had given it as a form of guarantee to a bank? Will they disrupt the trajectory of democracy in Brazil with such absurdities?
I say this with the same seriousness with which I told Michel Temer that he should not embark on an adventure to overthrow President Dilma Rousseff, that he would regret it. Those who do not want me to be president should be the most eager that I run for office.
Do they want to defeat me? Do this cleanly at the polls. Discuss proposals for the country and take responsibility, even more at this time, when the Brazilian elites come up with authoritarian proposals endorsed by people who openly defend the murder of human beings.
Everyone knows that, as president, I exercised the dialogue. I did not seek a third term when I had a rejection rate as small as Temer’s current approval rate. I worked to guarantee that social inclusion was the engine of the economy and that all Brazilians, not only on paper, really had their rights to eat, to study and to have housing guaranteed.
Do they want people to forget that Brazil has had better days? Do they want to prevent the Brazilians – from whom all power emanates, according to the Constitution – from choosing whom they want to vote in the October 7th elections?
What are they afraid of? The return of the dialogue, the development, the time in which there was less social conflict in this country? When the inclusion of the poor made Brazilian companies grow?
Brazil must restore its democracy and free itself from the hatred that was created to take PT out of government, to implement an agenda of withdrawal of the rights of workers and retirees, and bring back the unbridled exploitation of the poorest. Brazil needs to find itself again and be happy again.
You can imprison me. You can try to shut me up. But I will not change my faith in the Brazilian people, in the hope of millions and in a better future. I am also sure that this faith in ourselves against the inferiority complex is the solution to the crisis we are experiencing.
Luiz Inácio Lula da Silva
Former President of the Republic (2003-2010)
*Translated from Portuguese by César Locatelli, revised by Amanda Lisboa.
Durante o primeiro dia da Copa do Mundo na Rússia, a TV Globo anunciou, diversas vezes, durante a programação, que estavam entrando ao vivo direto da Praça Vermelha – a famosa praça de Moscou que ficou conhecida pelos gigantescos desfiles militares durante a União Soviética. A praça, que separa o Kremlin do bairro histórico Kitay-gorod (Cidade Chinesa, em tradução literal), é considerada o principal espaço público central de Moscou, palco de grandes pontos turísticos como o Gum (a maior loja de departamentos da União Soviética), o Mausoléu de Lenin e a Catedral de São Basílio.
Reparando nas imagens exibidas pela emissora, é possível notar que o estúdio da Globo está montado atrás da Catedral de São Basílio, próxima à ponte Bolshoy Moskvoretskiy Most.
No final do ano passado estive na Rússia para o calendário de comemorações do centenário da Revolução Russa e registrei em fotos a parte traseira da Catedral.
Fotos revelam mentira da Globo : a da esquerda foi feita em novembro de 2017, a da direita, em junho de 2018
Quem circula pela Praça Vermelha tem esta visão (abaixo) e não faz ideia de que existe um estúdio na região
Fui tentar descobrir a razão da hashtag #JornalNacional estar entre as mais citadas no Brasil na noite de sexta-feira (25/05). Vejam o que encontrei:
Pedro V.
Nem a previsão do tempo do jornal nacional é verdadeira #JornalNacional
RBS:
Até ontem vivíamos no paraíso, mas hoje devido aos caminhoneiros vivemos no meio do caos, é isso que o Jornal Nacional mostrou hoje. Foi patético ver ônibus lotados, eu enfrento isso sempre e a culpa não é dos caminhoneiros. Levanto às 5 h para ir trabalhar e a culpa não é deles também
Marco:
Avisa p produção do Jornal Nacional q busão lotado e filas empurra-empurra pra entrar no busu acontece todo dia com greve ou sem greve
Diana:
Globo não entende que nós temos internet e que sabemos que a maioria está a favor da greve!
Antônio:
Dr. Enéas já dizia: “Desconfiem SEMPRE do que noticia a imprensa escrita e falada!
A caneta de um mau jornalista pode fazer tanto mal quanto o bisturi de um mau médico!”
Adonias:
Foi ótimo a corneta tocando olê olê olá no ao vivo do JN.
A cara da repórter, sem saber o que fazer.
Billy:
#JornalNacional jornal maldito!!! Joga o caos para ajudar governo corrupto.
Neemias:
#JornalNacional Como sempre, a Globo contra o povo brasileiro.
David
#JornalNacional vocês distorceram os fatos falta tudo no Brasil e os caminhoneiros tão sendo culpado vocês traem o povo brasileiro
Princess:
Os caminhoneiros não estavam impedindo os medicamentos, como carga viva e laticínios! PELO AMOR DE DEUS ! QUEM VOCÊS QUEREM ENGANAR?
Júnior:
Povo descobrindo o Lixo que a Rede Esgoto de televisão é. Como diz o velho deitado: Antes tarde do q nunca. 😉
Iago:
Jornal Nacional esse lado ruim que vocês mostraram acontece todos os dias, agora neguim tá nervoso que afetou os ricos.
Lopes:
Esse @jornalnacional tá inacreditável, difícil de engolir esse papinho, hein?
Vanessa:
#JornalNacional Rede Globo para, porque tá feio já. Todo mundo já percebeu a tentativa de jogar a população contra os caminhoneiro
Adriano:
Claramente o #JornalNacional é a favor do Governo.
Viviane:
Gente é o cúmulo o que o #jornalnacional está fazendo!!! O Brasil está há muito tempo sem tantos recursos e tudo o que foi mostrado na reportagem é exatamente a situação presente do país. Agora tentar manipular a população contra a manifestação, me poupe.
Eddie:Só observo o sensacionalismo nos telejornais pra colocar o povo contra a greve. Estão dramatizando a falta de alimentos.
Daniela:
#jornalnacional Ué, tá faltando insumos nos hospitais por causa da greve??? Que eu saiba isso ocorre durante todo o ano!!!
Xavier:
Estão colocando situações corriqueiras no país como excepcionalidades. #JN #JornalNacional
Sueli:
Engraçado que essa superlotação acontece TODOS OS DIAS nos trens e metrôs de São Paulo! Os trabalhadores são MASSACRADOS! É muita hipocrisia!
Damie:
Como um jornalista se orgulha de trabalhar nesse jornal? Indo contra todo seu juramento… Jornal de merda! #JornalNacional
André:
Alô @RedeGlobo , exames desmarcados e transporte público lotado não é culpa dos caminhoneiros não, acontece todos os dias!!! #jornalnacional
Átila:
Vergonha dessa matéria, colocando a sociedade contra os caminhoneiros
Não se preocupem ESTAMOS COM VCS GUERREIROS #JornalNacional
Cezar:
Impressionante. Tem meia-hora de #jornalnacional da @RedeGlobo e até agora não falam do porquê da greve. Mas o sensacionalismo do caos impera.
Sol:
#JornalNacional vocês são uma vergonha. Estão sempre do lado do governo. Estamos zerados, mas continuamos apoiando.
Fabinho:
Hoje eu entendo o desserviço de uma mídia comprada, manipuladora. Que vergonha! #JornalNacional. Nojo de vcs.
Sara:
Nojo, Nojo! Não sei de quem eu tenho mais nojo do embupeste do Temer o do Jornal Nacional 🤢🤢🤢
Nati:
A Globo tentando colocar a população contra a greve dos caminhoneiros, que emissora tendenciosa, nojo! #jornalnacional
Thiago:
Lá vem a rede globo @RedeGlobo querer culpar os caminhoneiros pela vergonha que se transformou este país #jornalnacional
Pry
#JornalNacional parem de divulgar mentiras!
Andressa:
@RedeGlobo não cansa de passar vergonha! O país aos poucos tá acordando! Pare de lançar nota falsa! N teve acordo nenhum com os caminhoneiros da GREVE! Não tente tapar o sol com a peneira. A luta VAI CONTINUAR. Cubra a matéria corretamente.
Evaristo:
Para quem gosta de simpatia, ouvi dizer que se você bater panela 10 vezes na hora do #JornalNacional e der 5 voltas em torno de um pato amarelo usando a camisa da #CBF o seu tanque de gasolina passa a se encher sozinho, como em um passe de mágica!!!
Clarissa:
Gente, só PAREM de assistir ao jornal da Globo. Veneno puro! E eles vão te hipnotizar.. nojo…
#JN #jornalnacional
O Jornal Nacional de segunda-feira (14/5), dedicou um minuto e onze segundos à morte de 58 palestinos num protesto contra o reconhecimento americano de Jerusalém como capital de Israel. A entrevista ao vivo com o técnico da seleção brasileira Tite durou onze minutos e oito segundos. A desproporção já permitiria inferir a escala de valores ($$$) da Globo. Mas tem mais. Logo depois da abertura do telejornal, como se grande furo fosse, a apresentadora Renata Vasconcellos disse: “O Jornal Nacional teve acesso a conversas gravadas em que a coordenadora de um prédio invadido no centro de São Paulo cobrou dinheiro dos moradores, e com ameaças.”
Os flagelados do incêndio e desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida ainda jazem ao relento na praça da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, ao pé de uma escultura dramática, que mostra uma mulher negra, seminua, oferecendo o peito farto de leite ao bebê branco. Os cadáveres dos gêmeos Wendel e Werner, de apenas 10 anos, negros filhos da auxiliar de limpeza Selma Almeida da Silva, negra também, desaparecida nos escombros, ainda nem foram enterrados, e o Jornal Nacional já se assanha. Em vez de responsabilizar o poder público, que ignorou laudos e mais laudos atestando que o prédio do Largo do Paissandu, no centro de São Paulo, estava condenado, lança-se contra o movimento que luta por moradia. Culpa as vítimas pela sua tragédia.
O principal telejornal da Globo de Ali Kamel, diretor geral de Jornalismo e Esportes, autor do livro “Não Somos Racistas” (aham, só que não!), promoveu o passe de mágica que fez desaparecer os flagelados, os mortos, os desaparecidos do prédio sinistrado no dia 1º de Maio (não mereceram nenhuma fração de segundo do telejornal). Talvez porque, se continuasse a falar sobre o assunto, teria, inevitavelmente, de mostrar as fotos em que o chefão do edifício que desabou, Ananias Pereira, aparecia, alegre e sorridente, há um ano, ao lado do ex-prefeito e pré-candidato a governador de São Paulo pelo PSDB, João Doria Jr., durante comemoração do aniversário do atual prefeito, Bruno Covas (PSDB), que também posou com ele.
Ananias Pereira é dirigente do autodenominado Movimento de Luta Social por Moradia (MLSM), responsável por sete ocupações de prédios no centro de São Paulo, uma delas sendo a do prédio que ruiu. Afoito como sempre, o ex-prefeito João Doria Jr., fez-se de esquecido sobre a festa de aniversário de Covas e sentenciou: “O prédio foi invadido e parte desta invasão financiada é ocupada por uma facção criminosa”. Ananias, ressalte-se, foi à festa de Covas como convidado, e não como penetra.
A fala de Doria visava a esconder as responsabilidades da Prefeitura na tragédia.
Doria, o gestor das mil e uma fantasias, precisava mesmo achar um bode expiatório. Documento da Secretaria Municipal de Licenciamento, datado de 26 de janeiro de 2017, gestão Doria, apontava os seguintes problemas no prédio Wilton Paes de Almeida:
Ausência de extintores;
Sistema de hidrantes inoperante;
Ausência de mangueiras;
Ausência de luzes de emergências;
Ausência de sistema de alarme;
Instalações elétricas irregulares: fios sem isolamento adequado e expostos, além da entrada de energia improvisada;
Elevadores inoperantes e fechados por tapumes;
Ausência de corrimão nas escadas;
Instalações do sistema de para-raios não puderam ser avaliadas, porque o acesso estava bloqueado.
Depois de apontar tantas falhas, o documento concluía: “A edificação não reúne condições mínimas de segurança contra incêndio.” Mesmo assim, o poder público não tomou providência alguma para atender as famílias que se encontravam sob risco de tragédia iminente e que de lá não saíram por absoluta falta de opção. Ou alguém acha que é melhor dormir na rua?
Agora, que há mortos, feridos, desaparecidos, a TV Globo opera para ocultar a responsabilidades do poder público (de Doria principalmente, porque era o prefeito até o dia 06 de abril de 2018, cargo ao qual renunciou para disputar o governo do Estado de São Paulo pelo PSDB). Para isso, lança mão de acusações falsas e infundadas contra movimentos sociais. A primeira e mais surrada acusação é a de que os movimentos por moradia são associados à facção criminosa Primeiro Comando da Capital – foi isso o que fez João Doria. Para dar foros de realidade a essa acusação, o procedimento tem sido denunciar a cobrança de taxas de contribuição nas ocupações. (ninguém explica o que tem a ver uma coisa com a outra, mas serve para lançar um tsunami de suspeitas sobre todos os movimentos de moradia).
O alvo da denúncia, entretanto, não foi Ananias, o “amigo de Doria e Covas”, que mantinha famílias em situação de extrema vulnerabilidade dentro de um prédio bagunçado, com fios desencapados, sem extintores, sem mangueiras de incêndio, com áreas inteiras inundadas, como atestado pela própria Prefeitura.
Carmen Silva com as cineastas Eliane Caffé e Daniela Thomas
Foi Carmen da Silva Ferreira, coordenadora do Movimento dos Sem-Teto do Centro (MSTC), líder da luta por moradia e pela Reforma Urbana na cidade de São Paulo, cérebro das iniciativas mais criativas, inclusivas e inovadoras de requalificação de áreas degradadas da megalópole, e responsável pela conquista da moradia pelos sem-teto que ocuparam o antigo Hotel Cambridge, localizado no centro de São Paulo. O prédio, agora desocupado, passará por uma reforma e será então entregue aos pobres que lutaram por ele. A experiência foi tão bem-sucedida que se tornou base do roteiro do premiado filme “Era o Hotel Cambridge“, da diretora Eliane Caffé (2016).
A trajetória do Hotel Cambridge é exemplar das forças mais terríveis e das mais generosas que atuam sobre o espaço urbano. Fincado em prédio de estilo modernista na avenida Nove de Julho, o Hotel Cambridge foi inaugurado em 1951. Era famoso pelo bar elegante com poltronas vermelhas, onde se apresentou, em 1959, o músico Nat King Cole, quando ele veio ao Brasil. “Stardust“, a canção que fala sobre os encantos do amor que passou, embalou a noite. Poeira estelar.
Daqueles brilhos, o Cambridge desabou no buraco negro da decadência tão logo o centro econômico e financeiro da cidade deslocou-se para a região da avenida Paulista e, depois, para a Faria Lima e Berrini. Hotéis com nomes chiques e estrangeiros, como o próprio Cambridge, o Othon Palace, o Hilton, o Paris e o Cad’oro, entre outros, viveram em agonia, até o apagar definitivo das suas luzes.
Carmen da Silva Ferreira, 58 anos, foi quem reacendeu as luzes do prédio de 17 andares e 120 apartamentos. Em vez dos engravatados de antes, ela capitaneou um exército de pobres miseráveis, gente que não tinha nem sequer um teto pra dormir em paz… e eles ocuparam o Hotel Cambridge, então tomado por ratos, baratas, escorpiões, lixo, entulho. Toneladas de dejetos foram retirados dos andares.
Detalhe: As centenas de edifícios abandonados do centro da cidade são como tumbas de histórias e recordações. Como tumbas, os proprietários lacram-lhes portas e janelas com tijolos e cimento. É para evitar a invasão de animais ou de quem queira questionar a posse do imóvel — o prédio sufoca sem ar e nem luz.
Felizmente, não é nada que algumas marretadas não resolvam.
Jornalistas Livres acompanham desde abril de 2015 algumas ocupações coordenadas por Carmen, desde os seus instantes iniciais. Trata-se de uma mulher forte, dotada de determinação e coragem ímpares. É ela que está no centro de uma possante organização que restaura vidas, acolhe os derrotados da cidade, os idosos, as mulheres espancadas, as pessoas que perderam tudo e as que sempre ganharam muito pouco ou quase nada (os trabalhadores informais, os camelôs, cuidadores de enfermos, faxineiros, garis, pedreiros, eletricistas, operários da construção civil, balconistas, cozinheiros, seguranças, operadores de telemarketing, artesãos, auxiliares de enfermagem, protéticos etc. etc. etc.). Carmen gosta de dizer que as pessoas vão ao movimento em busca de direitos (o direito à moradia está impresso na Constituição de 1988), e aprendem que direitos vêm junto com deveres.
Vida cármica
Baiana, mãe de oito filhos, Carmen nasceu na Cidade Baixa de Salvador, filha de empregada doméstica e de militar. Foi o pai que a criou e é indelével a marca deixada pela disciplina da caserna no espírito da mulher. Os prédios sob coordenação dela rebrilham de limpeza, fruto de mutirões bem-organizados. Não se consomem drogas, respeita-se o horário de descanso, funcionam projetos profissionalizantes, crianças não podem ser deixadas sozinhas nos apartamentos, homem não bate em mulher nem com uma flor. E por aí vai.
Tudo isso é fruto de uma sólida hierarquia, resultante de assembléias e reuniões com quórum e representatividade de mais de 80% dos moradores. Começa pelos coordenadores de andares, que atuam como mediadores de conflitos, pelos líderes de projetos comunitários, passa pela Linha de Frente (os fiéis escudeiros da ocupação), e chega até a liderança incontestável de Carmen –a Dona Carmen, como é respeitosamente chamada. Depois das 22h, é tudo silêncio.
Carmen Silva fala com moradores
Neste caso, trata-se de autoridade conquistada. Carmen casou-se aos 17 anos e conheceu a violência doméstica, espancada que era pelo marido truculento e cheio de ciúmes. Com 16 anos de união, 8 filhos, ela jogou tudo para o ar e fugiu para São Paulo. Sem teto, conheceu a dura rotina e a solidariedade das ruas. Morou em albergues, um administrado pela Igreja Universal do Reino de Deus, e outro, público, sob o viaduto Pedroso, que atravessa a avenida 23 de Maio, no centro da cidade.
Rotina dura. No albergue, um humano é só corpo que precisa de pouso e banho. Tem de sair tão logo o dia nasce. E voltar assim que a noite cai, senão não entra. Carmen lembra-se de passar horas e horas, esperando o tempo passar, dentro do templo da Universal na avenida Brigadeiro Luis Antonio. Andou muito, conheceu todas as entidades que serviam comida, em busca de emprego, as quebradas. Virou cozinheira, mas achou pouco…
A rua é cruel e louca. Ela resistiu ao desespero porque seu único objetivo era trazer todos os filhos para viver sob suas asas (conseguiu). Já viu muita gente forte desabar ante o peso da própria dor.
Carmen iniciou-se no movimento dos sem-teto quando morou, por seis anos, num antigo prédio do INSS, na avenida Nove de Julho. De lá para cá, participou de dezenas de ocupações. Hoje, é uma profunda conhecedora da cidade que escolheu para viver. Quem está devendo IPTUs milionários, quem são os maiores latifundiários urbanos, quantos imóveis possuem, quem são os habitantes tradicionais de cada bairro. É respeitada na Prefeitura, acaba de ser convidada a lecionar em uma grande Escola de Arquitetura. Urbanista prática, discute altivamente com autoridades dos setores público, privado e acadêmico. Recentemente, foi uma das organizadoras de duas rodas de conversa dentro do Ministério Público de São Paulo, com a presença do próprio Procurador-Geral de Justiça do Estado, Gianpaolo Poggio Smanio, sobre políticas públicas voltadas para Moradia Social e Gênero.
A hora H
Junta gente de todos os jeitos na hora de ocupar. A velhinha louca que perdeu tudo na jogatina, a jovem crente desempregada, o dependente de drogas, o estudante de medicina que foi expulso de casa porque o pai descobriu que ele é gay, o pastor, a sambista, o poeta, o militante, o refugiado palestino, sírio e congolês, sobreviventes de tragédias humanitárias, os imigrantes bolivianos, haitianos, a prostituta. Um dos grandes insights do movimento de moradia deu a liga entre todos esses espécimes da grande biodiversidade humana que viceja no centro elétrico da metrópole:
“Somos todos refugiados: os estrangeiros aos quais a própria pátria tornou-se ameaçadora; e os nacionais, aos quais o Brasil dos privilégios virou as costas”, conforme epifania de Carmen.
Nem precisa dizer que é difícil alinhar na vida intensamente coletiva da ocupação as pirações individuais de pessoas tão diversas. Mas, avessos aos vitimismos, embora motivos não faltem, os sem-teto cultivam mesmo é a solidariedade. É o que permite a elaboração coletiva de uma poesia lavrada na esperança de dias melhores.
Movimento de pobres, de pretos, de pardos, a luta pela moradia no centro de São Paulo é intensa na construção de novíssimos quilombos, dirigidos e habitados em sua maioria por mulheres tão fortes quanto delicadas, capazes de enfrentar as maiores violências enquanto cuidam dos mais fracos e desamparados. É preciso entendê-las, porque elas resgatam para a cidadania aqueles a quem o poder público fecha a cara e os cofres.
Manipulação escancarada e tombo no Mc Donald’s
A TV Globo, que nunca simpatizou com as ocupações de imóveis abandonados, feitas por pobres sem teto, não hesitou em invadir um terreno público para instalar seus estúdios de São Paulo, às margens da Marginal Pinheiros. Mas disso, obviamente, os telejornais sob o comando de Ali Kamel não falam. O que lhe importa é operar, com o concurso sempre ativo de promotores inquisitoriais, e com a Polícia Civil, a transmutação da verdade em farsa:
Uma reportagem do SP2, também da Globo, veiculada no mesmo dia 14 afirmou o seguinte:
“Depois que o edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, desabou, a Polícia Civil abriu um inquérito para investigar a cobrança das taxas nessas ocupações. Até agora identificou três núcleos que agem de forma parecida em ocupações diferentes: uma comandada por Carmen [da Silva Ferreira], outro por Ednalva Franco e uma terceira, por Ananias Pereira dos Santos, apontado por moradores como coordenador da ocupação do prédio que desabou. A reportagem não conseguiu falar com Ednalva Franco nem com Ananias Pereira.”
É Fake News em estado puro.
O repórter Bruno Tavares, autor do texto, sabe que são ocupações distintas, lideradas por pessoas absolutamente diferentes, oriundas de movimentos que mantêm autonomia entre si. Seria o mesmo que dizer que todo o jornalismo do planeta é ruim porque o que o Bruno Tavares faz é um lixo.
Sim, há diferenças gritantes entre as ocupações.
Em sua “reportagem”, Bruno Tavares cita investigação do Ministério Público, iniciada em 2016, a partir da denúncia de uma ex-moradora do Hotel Cambridge. Essa moradora disse que já pagava R$ 200 pelas despesas de manutenção do prédio e que estava sendo “vítima de extorsão”, a exemplo dos outros moradores, para desembolsar mais R$ 20, referentes a uma multa por ligação de água clandestina, dividida entre as famílias.
Apesar do segredo de Justiça em que corre o processo, a Globo “teve acesso” ao processo (claro! de novo, são os tais vazamentos a que a emissora dos Marinho sempre “tem acesso”). Pois deveria ter aproveitado o tal “acesso” privilegiado para informar aos telespectadores que no Cambridge havia 120 famílias, que decidiam coletivamente em assembléias qual o valor das taxas e contribuições que caberiam a cada uma.
O repórter disse ainda que “ao falar com os promotores, a coordenadora da ocupação não apresentou documentos para comprovar que o dinheiro arrecadado era gasto com a manutenção do prédio.” Engraçado! Em entrevista coletiva no último dia 11, da qual participou uma equipe da Globo News, Carmen apresentou documentos e comprovantes de despesas das ocupações que coordena. Mas isso não interessou ao Jornal Nacional.
Carmen da Silva Ferreira
A reportagem mencionou taxas de R$ 200 mensais, e uma taxa extraordinária única de R$ 20, para pagar multa da Sabesp. Vinte Reais. Isso é muito ou é pouco? A reportagem maliciosa não diz. Se fizesse bom jornalismo, Bruno Tavares teria investigado a contabilidade do condomínio. Ou alguém acha o Hotel Cambridge estava “pronto pra morar”, como aqueles apartamentos dos folders e dos anúncios imobiliários que forram as páginas dos jornais impressos?
Sem água, sem luz (muitos andares tiveram toda a fiação roubada), os encanamentos entupidos ou simplesmente arrancados, sem elevadores, sem extintores ou mangueiras de incêndio, repletos de lixo (só do antigo hotel Cambridge foram retirados 15 mil quilos de entulho!), os prédios dos sem-teto eram sucatas podres antes de serem – aos poucos - revitalizados pelo movimento social.
E quem paga por isso? O poder público é que não é. A iniciativa privada é que não é. Muito menos a TV Globo. Então, sobra para os ocupantes, na forma das taxas de contribuição. Aliás, a reportagem de Bruno, se não estivesse atrás de escândalos inexistentes, poderia investigar como as novas tecnologias sociais estão ajudando a baratear os custos de manutenção dos edifícios ocupados. Exemplos? No Hotel Cambridge, os moradores fizeram parceria com a Escola da Cidade e desenvolveram uma horta comunitária para ocupar toda a cobertura com verduras e legumes sem agrotóxicos. Foi da mesma parceria que se originou o lindo e inovador mobiliário que decorava as áreas comuns do prédio — creche, biblioteca e oficinas de costura e maquiagem feitas com material de reciclagem. Dessa parceria também vem a idéia de ressuscitar um antigo poço artesiano abandonado no subsolo do prédio, a fim de utilizar a água para lavagem do chão e descarga das privadas.
Mas não.
Em vez da inteligência coletiva do movimento, a reportagem preferiu contemplar, como se verdadeira fosse, a denúncia de uma ex-moradora do Cambridge, apresentada como “testemunha Alfa”, que disse ter sido ameaçada por Carmen. O repórter Bruno Tavares teve acesso inclusive aos vídeos que a tal “testemnha Alfa” gravou com as supostas ameaças. Aliás, esses vídeos também constam no processo que corre em Segredo de Justiça (segredo de Polichinelo…)
Eis a transcrição das tais ameaças:
Carmen:A senhora que vai na Sabesp fazer o acordo porque não pagou aqui.
Alfa:Eu? Tanto dinheiro que você pega dos outros.
Carmen:O que foi que a senhora falou?
Alfa:Sai de cima de mim, sai de cima de mim que eu te coloco atrás das grades.
Carmen:Sem vergonha, caloteira.
Carmen:A sra. vai sair por bem ou mal. Por bem eu já tomei a providência, agora, se a senhora quiser por mal, vai por mal também.
Carmen:Contestam porque pagam contribuição. Vocês acham que vão morar de graça na Avenida Nove de Julho?
Carmen:Daqui a pouco vem a conta de luz aí é outra briga para pagar.
Leia bem e se quiser veja os vídeos no site da Globo. O que se vê? O que se entende?
O Cambridge era uma ocupação organizada e legal, reconhecida pela Prefeitura. Pagava a conta de água. Pagava a conta de luz. Como é que se pagava isso? Com a colaboração dos moradores, decidida em assembleia. Quando Carmen afirma que Alfa terá de sair “por bem ou por mal”, refere-se ao cumprimento de decisão da assembleia dos moradores, que não acharam justo pagarem por alguém que queria folgada e graciosamente usufruir a água da Sabesp custeada pelo alheio. Foram os moradores que decidiram pela exclusão de Alfa da ocupação. E caso ela se recusasse a sair, a polícia seria chamada.
Onde está a ilegalidade? Quem quer que já tenha tido de lidar com condôminos inadimplentes em um prédio de classe média sabe muito bem o que é ter de pagar taxas maiores porque alguns simplesmente se recusam a cumprir suas obrigações com o coletivo.
É incrível o ministério público se meter numa briga entre vizinhos. É incrível uma briga entre vizinhos ocupar o lugar de uma real investigação sobre as causas do incêndio, desabamento e mortes do edifício Wilton Paes de Almeida. Mas o mais incrível é a TV Globo prestar-se a tal jogo ilusionista, baseando-se na denúncia da “testemunha Alfa”, tristemente famosa na ocupação do Hotel Cambridge por ter tentado – sem sucesso, diga-se – aplicar o golpe do “escorrego” no Mc Donald’s.
Sim! A mulher que acusa Carmen de cobrança indevida de uma taxa que visava unicamente cobrir as despesas de manutenção do Edifício Cambridge, tentou garfar indenização de 200 salários mínimos (R$ 190.800 em valores atualizados) por um tombo que diz ter sido causado por falta de corrimão em uma loja do Mc Donald’s. Só que o corrimão estava lá! Então, em 25 de junho de 2014, a 5ª Câmara Extraordinária de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, negou o pedido de Alfa.
É claro que os movimentos de moradia incluem alguns oportunistas e exploradores (categoria de que, aliás, o meio jornalístico está cheio). Isso poderia ser uma boa pauta. Mas a preguiça e a desonestidade levaram a “reportagem” de Bruno Tavares a transformar a pauta em texto final e a suspeita em tese.
Incrivelmente, a grande mídia que está em busca de culpados de araque esquece-se todo o tempo de mencionar a existência de 290 mil imóveis não-habitados na cidade de São Paulo, segundo levantamento da Secretaria Municipal de Habitação, a partir de dados do Censo de 2010. São imóveis deixados vazios para a especulação. O movimento exige que eles tenham função social. Mas isso não tem importância para os empresários, empreiteiros e especuladores. E nem para os seus serviçais dentro da grande mídia, que não hesitam em jogar no lixo os principais fundamentos do jornalismo para atacar uma das mais generosas e preparadas lideranças do movimento social no Brasil: a mulher negra Carmen da Silva Ferreira.
O avançar do processo contra o presidente Lula traz consigo uma dialética inicialmente imprevista: na medida em que se aproxima o seu aniquilamento jurídico, crescem o apoio popular e o sentimento de que ele é, em verdade, vítima de persecução política.
Essa contradição se intensificou a partir do próprio movimento do real, ou seja, do desenvolvimento dos fatos: a crença inicial de que Lula, ao ser acusado de corrupção, responderia a um julgamento como qualquer outro cidadão, foi desmanchando-se no ar com o decorrer das ações penais.
Em consequência, quanto mais visível se tornava a politização do judiciário, maior era a politização por parte de Lula e movimentos sociais.
Assim, a linha política majoritária do PT, que defendia intransigentemente a independência, a autonomia e a credibilidade, foi sendo alterada ao longo desses anos.
Refiro-me ao período Eduardo Cardozo no Ministério da Justiça, quando um ideário republicano e conciliador orientava a ação de amplos setores das esquerdas e reduzia seus horizontes para o simples “fortalecimento das instituições”.
Cardozo era o símbolo máximo dessa estratégia.
Especialmente nas vésperas e logo após o golpe de Estado – ou seja, em momento dramaticamente tardio –, percebe-se uma guinada estratégica, em que, pela primeira vez, começa a tornar-se nítido no debate de tais setores de esquerda que, em verdade, estava havendo uma exasperação da luta de classes e que a institucionalidade era parte central daquela.
Depoimentos em juízo voltados à população e não apenas ao processo, coletivas de imprensa, e, finalmente, após a condenação em primeira instância, as Caravanas de Lula pelas regiões do país, surgem como mecanismo de mobilização popular e enfrentamento à perseguição jurídico-política.
Aquela crença original, que mesmo após 2014 permeava as mentes de setores das esquerdas (quanto a acreditar no funcionamento das instituições, na prevalência dos direitos e garantias individuais, da legalidade, nas possibilidades de novas composições e alternativas conciliatórias, em ser um golpe de Estado algo anacrônico), corroeu-se no tempo.
Agora, olhando retrospectivamente, até Reinaldo Azevedo admite: a Lava Jato atuou completamente fora da legalidade.
Condução coercitiva sem prévia intimação para depor; vazamento para a Rede Globo de áudios da presidenta da República – um crime, e contra a soberania nacional – com fins de criar a atmosfera política para o golpe de Estado; denúncia apresentada pelo Ministério Público através de um PowerPoint, em um hotel de luxo locado para o fim de apresentar o presidente Lula como chefe de organização criminosa que quebrou a Petrobrás, enquanto sua condenação se deveu ao Triplex do Guarujá, etc.
Tais elementos seriam suficientes para demonstrar a parcialidade do juízo em curso.
Mas cada um desses eventos, acumulados no tempo histórico, possibilitava novas interpretações da população que, ao balançar-se em favor de Lula, levava a Lava Jato a necessitar de nova radicalização.
E foi assim que o TRF-4, furando a fila de 257 processos, inclusive alguns relativos à corrupção.
O furo da fila, em pleno janeiro, antes do carnaval, não foi por acaso: era simbólico marcar a sua condenação para um ano após a morte de Dona Marisa, bem como era necessário apressá-la para impedir o desenvolvimento de sua antítese, a mobilização popular.
Lula e as esquerdas, mais uma vez, foram convocados a responder.
A resposta foi uma gigantesca mobilização em Porto Alegre, construindo uma atmosfera de mobilização popular pela cidade apenas vista nos Fóruns Sociais Mundiais, em contextos outrora completamente favoráveis.
O TRF-4, então, arriscou. Os desembargadores poderiam:
a) absolvê-lo;
b) condená-lo mediante placar de 2 x 1;
c) manter a condenação, mas reduzir a dosimetria da pena; ou
d) determinar o cumprimento da sentença apenas com o trânsito em julgado.
Ao final, escolheram outra alternativa: majoraram a pena para:
1) impedir Lula de beneficiar-se da prescrição retroativa quanto ao crime de corrupção passiva;
2) demonstrar, simbolicamente, que Moro não perseguiu ex-presidente, na verdade, teria sido “benevolente”. Ademais, o placar de 3 x 0 impede Lula de opor embargos infringentes e, pela Ficha Limpa, o impõe a condição de inelegível.
Por fim, determinaram o cumprimento imediato da pena, logo após julgado os possíveis embargos de declaração.
Ou seja, o presidente Lula pode vir a ser preso ainda antes do carnaval ou logo após.
Estes desembargadores – o relator, por sinal, consta na dedicatória do livro de Sérgio Moro e com ele cursou mestrado – desconsideraram que, nos embargos de declaração da defesa, Moro disse que em nenhum momento afirmou que a compra do triplex advinha dos contratos da Petrobrás.
Ora, se o processo foi mantido em Curitiba somente por envolver a Petrobrás, tal afirmativa necessariamente deslocaria a competência da ação para São Paulo, sede do tríplex.
Logo, Moro não é o juiz natural de tal caso.
Da mesma maneira, desconsideraram a inexistência de escritura pública ou mesmo posse do tal apartamento – que tem 85 m2, sem vista para o mar. Ou seja, nada à altura “do líder da organização criminosa”, segundo o Ministério Público.
Condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em nenhum momento se provou que Lula detém a propriedade ou gozou um dia sequer de tal apartamento, bem como qual ato executou, como presidente, para beneficiar diretamente a OAS.
Além disso tudo, a condenação se deu com base na delação de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS.
Léo teve sua primeira delação travada, quando inocentou Lula. Ao mudar sua versão, conquistou agora no TRF-4 a redução de sua pena de dez anos para somente três.
Há tempos, portanto, saímos da legalidade burguesa.
Aliás, a história demonstra que assim o é quando as classes subalternas não aceitam o domínio burguês.
Para manter o ataque do capital contra o trabalho – consubstanciado nas reformas trabalhista, da previdência, na Emenda Constitucional do corte dos investimentos (EC95) –, o único caminho é desmontar as organizações dos trabalhadores e inviabilizar seus líderes.
Para responder ao ataque do capital, o único caminho para trabalhadores e trabalhadoras é fortalecer suas organizações e defender suas lideranças historicamente construídas.
E a condenação de Lula somente é compreensível neste contexto.
Acontece que a condenação tornou Lula inelegível, mas não o impede de registrar sua candidatura.
É uma condenação em âmbito penal, não eleitoral.
Em verdade, todos os prazos em âmbito da Justiça Eleitoral permitem que ele seja candidato, e eleito no primeiro turno.
Caso consiga alguma vitória no STF ou STJ, pode vir a ser empossado.
Caso não, o TSE pode cassar seu registro e terá de convocar novas eleições.
Estamos, portanto, perante em uma encruzilhada histórica: uma vez mais as esquerdas são convidadas a usar a institucionalidade para a organização, conscientização e avanço das classes trabalhadoras, ou a declinar e aceitar esta ditadura branda das elites nacionais e internacionais.
Aceitar o enfrentamento implica inclusive entrar em campanha eleitoral com seu candidato preso, demonstrando claramente que o julgamento foi uma farsa e que caberá à população desmoralizá-la.
Após tantas vacilações, tentativas de concertações – que incluíram ilusões como a capacidade de Lula ministro frear o golpe de Estado, ou, pior ainda, a de que acordo com setores de direita “menos golpistas”, quando das eleições para presidência das Casas do Congresso, seria uma via para a superação do golpe –, não há mais tempo para titubear.
O próprio movimento histórico obrigou o PT a corrigir a sua estratégia.
A Lava Jato, ao condenar Lula, impôs a sua candidatura.
Não lançá-lo, é legitimar a fraude.
Submetê-lo ao crivo popular, é convocar as classes trabalhadoras para a maior polarização desde 1989.
Na pior das conjunturas, chegaríamos a uma segunda eleição com um acúmulo político no seio da sociedade capaz de confrontar-se com o conglomerado das classes proprietárias, mesmo que outro seja o candidato ou candidata.
Se vencer e não conseguir ser empossado, a polarização e politização da sociedade jogarão em favor do campo popular quando da nova disputa, e não o oposto.
Portanto, os trabalhadores e trabalhadoras nada têm a perder, a não ser os seus grilhões.
Daniel Araújo Valença professor do curso de Direito da UFERSA e coordenador do Grupo de Estudos em Direito Crítico, Marxismo e América Latina – Gedic.
O que está acontecendo para que o BBB 2018 tenha escolhido pelo menos três mulheres de esquerda e um bolsonarista para reunir em sua casa? É ingenuidade imaginar que a Globo não tenha traçado um objetivo neste ano eleitoral. Como o povo, ela também não é boba. O fato é que, para surpresa geral é isso o que aconteceu e já gera polêmica e mexe com as redes sociais. Elas estariam enchendo a bola de um produto do inimigo ao participarem do BBB?
A cientista política mineira Mara Telles, de 53 anos, por exemplo, que tinha 13.600 seguidores na quinta-feira, 18, quando foram anunciados os participantes escolhidos, viu seu número de seguidores no Facebook saltar para mais de 15.500 poucas horas antes de começar o reality show nesta segunda-feira. Na casa do BBB, a inquieta Helcimara Telles, que passou a se identificar como Mara há algum tempo, certamente vai estreitar amizade com a estudante acreana de Psicologia, Gleiciane Damasceno, a Gleici, de 22 anos, e a jornalista paulista Nayara de Deus, nascida em Santo André, que hoje mora no Centro de São Paulo com um amigo e dois gatos, pois elas têm em comum o fato de serem de esquerda.
Já o simpatizante de Bolsonaro, no caso, é o publicitário paulista Breno Caruso, de 34 anos, que, apesar de ser budista e professor de Muay Thai, já mostrou simpatia pelo deputado federal carioca Jair Bolsonaro em sua página no Facebook. Caçula de uma família com dois irmãos, ele voltou a morar com os pais há pouco tempo. “Comigo não tem tempo ruim, sou pau para toda obra. O problema é que minha sinceridade às vezes afasta as pessoas”, confessa. Há alguns anos ele publicou críticas ao homossexualismo.
Logicamente, imediatamente após serem anunciados os nomes dos participantes, as suas vidas passaram por mudanças e todos se fecharam em copas. Afinal, o BBB tem suas regras, que devem ser obedecidas rigidamente, por isso não puderam falar com jornalistas e suas postagens nas redes sociais dão a entender que passaram por um processo de pasteurização. “Existem regras de convivência que, se forem quebradas…” chegou a dizer Nayara ao Diário do Grande ABC. Mas o polêmico caldo da repercussão da escolha de seus nomes dá bom material para muitos cientistas políticos se debruçarem longamente.
Trending Topic
Tão logo foram anunciados os nomes, Mara Telles começou a bombar nas redes sociais, a ponto de poder anunciar na noite do dia 18 que era Trending Topic no Twitter. Afinal, Mara é uma figura polêmica e parece que gosta de ser assim. O fato é que à medida em que a notícia ia correndo nas redes aumentavam as manifestações em torno de Mara, principalmente entre o público de esquerda. “Sou capaz de ser cientista política, mas também sou capaz de me divertir” disse disse logo após um giro por praias baianas. Formada em História, em Belo Horizonte, ela fez pós-doutorado em Madri e Salamanca, na Espanha. “No BBB pretendo debater temas do universo feminino”, adiantou. Para isso, ela conta com o apoio até de Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação no governo Dilma.
Discussão na rede
Ao anunciar a escolha de Mara em sua página no Facebook o cientista político Rudá Guedes Ricci gerou uma tremenda discussão, com amigos se posicionando a favor ou contra a participação de Mara no BBB. “Foi uma surpresa geral, gerando centenas de curtidas e comentários. Parte significativa apoiou Mara, gente que a conhece. Outros achavam que era uma jogada da Globo para atrair um público de esquerda, e um grupo menor, como o pessoal da Reconstrução Comunista, achou um absurdo o fato de uma professora universitária estar participando do reality show da Vênus Platinada. Querem enquadrá-la. Foi divertido”, contou Rudá, que está acostumado a lidar com assuntos polêmicos.
Não é à toa que ele conta com cerca de 50 mil seguidores e se orgulha de ter conseguido a marca de mais de 2,4 milhões de acessos ao dar furos em sua página num sábado de 2014 durante os momentos mais quentes da disputa eleitoral para a presidência da República.
“A verdade é que a Mara coloca o dedo na ferida, porque a Sociologia é uma coisa muito aristocrática. O impacto de sua presença no BBB vai ser muito grande, porque ela muda a linguagem, não usa o sociologuês e, sim, uma linguagem mais acessível. É o tal negócio, qual a vantagem de escrever para meia dúzia? Qual a diferença entre a exposição e exibicionismo no BBB e a exposição e exibicionismo no Facebook?, pergunta Rudá.
Mara Telles, cientista política pode causar no BBB
Irônica, ácida e crítica
“Mara é uma figura irônica, uma acadêmica assumidamente de esquerda. É bastante respeitada por entender muito sobre o processo eleitoral”, afirmou o jornalista Kerison Lopes, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de MG e ex-aluno num curso de pós-graduação em Marketing Político, criado por ela mesma no Departamento de Ciências Políticas da UFMG, especialidade que abraçou a ponto de ter alguns livros editados sobre assunto. “Ela não é ligada a partido político e é de uma inteligência rara, estudiosa e bastante interativa em suas ações. É uma pessoa crítica e ácida”, acrescentou Kerison ao comentar o que teria levado Mara ao BBB. “Tenho certeza que ela vai causar no BBB com suas tiradas”.
Nayara de Deus, uma ativista social paulista
Nayara, a multifuncional
Outra pessoa bastante crítica é a jornalista e ativista Nayara de Deus, que
participou dos grupos de apoio à Ocupação Mauá, em São Paulo, na luta pelo direito à moradia, e chegou a fazer assessoria de imprensa do Festival Afro Music em maio do ano passado, no Teatro Contêiner, na capital paulista. Orgulhosa, chegou a contar que ajudou a fazer com que todos os envolvidos na produção do evento fossem negros. Nayara gosta muito de escrever, o que, certamente, a levou a produzir artigos e matérias para os Jornalistas Livres. Foi dela, por exemplo, uma matéria sobre a ocupação da Câmara de São Paulo por 48 horas no ano passado, em defesa do patrimônio público dos paulistas. Aqui escreveu também sobre o golpe contra o governo Dilma Rousseff.
Nayara tem 33 anos e trabalha no setor financeiro de uma multinacional francesa e se vira ainda como hostess de um restaurante e revisora de textos. “Ela é uma pessoa que fala o que pensa, mas não é radical”, chegou a afirmar Kauê Moreira, de 34 anos, que divide um apartamento com Nayara.
Gleici não esconde suas preferências políticas
A acreana Gleici
Já a acreana Gleici Damasceno mistura seus estudos na Faculdade de Psicologia em Rio Branco com a militância na Juventude Negra do PT, como ativista dos Direitos Humanos e na defesa do feminismo. Um selfie seu ao lado de Lula, postado na sua página do Facebook, deixa clara sua posição política. “Tudo o que passei na vida não me permite abaixar a cabeça. Entrei no BBB porque quero representar histórias como a minha”, deixou claro.
Globo busca novo estilo
Para o cientista político Rudá Ricci, um paulista radicado em Minas há 25 anos, a inclusão de pessoas de perfil nitidamente de esquerda mo BBB mostra que a Globo vem buscando um novo estilo e, com a posição ousada, mostra que está apostando no ano eleitoral e na polarização entre Lula e Bolsonaro para estimular o debate.
“Ela quer dar uma repaginada. Se tivéssemos a presença de tucanos não seria novidade. Por isso deram um recorte ideológico num momento em que Lula entra firme na campanha, seja qual for o resultado do julgamento no TRF4. Ela aposta no debate e na polarização ao colocar um bolsonarista no meio de mulheres de esquerda”, disse o ex-professor da PUC-Minas e presidente do Instituto Cultiva, uma instituição voltada para a educação e a gestão pública.