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  • O Brasil, a imprensa e as ilustrações

    O Brasil, a imprensa e as ilustrações

    Uma pessoa escreveu algo mais ou menos assim: “por que a imprensa não estampa simplesmente que Bolsonaro MENTIU na ONU?”. Seria um grande avanço, pensei, nivelar de uma vez por todas as informações entre as centenas de progressistas em ação nesse país (ah, são milhares e milhares de militantes? perdão, não sabia!) sobre o fato de a imprensa brasileira ser parte do problema.

    Fabianna Freire Pepeu

    A Folha, Grupo Globo, Estadão, as revistas de grande circulação (ainda existe isso?), além dos grandes portais, alimentam uma cadeia de comunicação por todo o país, construindo e destruindo realidades, mantendo pessoas em alta conta ou jogando no ostracismo temas e outros nomes e, assim, a vida das notícias medíocres (ou distorcidas, ou pouco investigadas, ou pouco checadas, ou superficiais, ou mesmo sem cabimento) segue como se as coisas fossem isso mesmo.

    A Folha, o Grupo Globo, o Estadão, as revistas de grande circulação (ainda existe isso?) e também os grandes portais de notícias alimentam uma cadeia de comunicação por todo o país, construindo e destruindo realidades, ora mantendo pessoas em destaque ora jogando no ostracismo. Assim, a vida das notícias medíocres — ou distorcidas ou pouco investigadas ou sem nenhuma checagem ou superficiais ou mesmo sem cabimento — segue como se as coisas fossem desse jeito mesmo.

    A imprensa comercial, grande imprensa, imprensa dominada, PIG, mídia golpista — ou como você preferir apelidar —, pertence, e é administrada, ao mesmo grupo de pessoas responsável por estarmos onde estamos.

    Estou me controlando para não usar uma partícula que, dependendo da sua função gramatical, não nos salva de nada, mas não tem outro jeito.

    Como estariam as coisas hoje, apenas como um mero exemplo das distorções regulares, SE a imprensa não tivesse dado espaço para a falsa dúvida de Aécio Neves sobre a legitimidade da vitória de Dilma Rousseff? Não é demais sublinhar que não havia um único indício de falta de lisura naquele processo eleitoral.

    Uma fake news foi amplamente divulgada pela mídia — mas, deve ter sido porque, naquela época, o consórcio de veículos não checava a veracidade do que publicava. Uma notícia falsa foi criada por um grandíssimo maloqueiro sem nenhum caráter — e, talvez, ele seja algo muito pior, mas isso são não será nunca devidamente investigado. 

    E, de mais a mais, a própria estrutura midiática que deu espaço à “dúvida eleitoral” de um pulha é a mesma estrutura que o largou de mão para sempre, amém.

    Essa volta ao mundo das coisas, agora até já antigas, para dizer que a tal grande imprensa, SE quisesse, derrubaria Bolsonaro com a mesma brevidade que dura uma partida de futebol americano.

    A grande imprensa não tem um apreço especial por Bolsonaro. Muito pelo contrário. Não perde a oportunidade para mostrar o lado violento, tosco, dissimulado, oportunista, populista, desrespeitoso, indisciplinado e intelectualmente limitado desse sujeito. Porque, acreditem-me, a situação poderia ser ainda pior, caso essa mesma imprensa enaltecesse o nome desse miliciano perverso e medonho.

    A grande imprensa não gosta de Bolsonaro, mas há Mourão, Guedes, Salles, Tereza Cristina, que, individualmente e juntos, vão dando vida a um projeto com o qual essa mesma grande imprensa está envolvida até o pescoço, desde sempre, porque essa tem sido a história do Brasil.

    E que projeto é esse? A essa altura do campeonato, toda pessoa de orientação mais à Esquerda (ou pelo menos atenta e honesta) sabe que o projeto, dito de modo bem simples, é o de manter os poucos ricos, ricos; e os muito pobres no mesmo lugar para onde foram, desde o fim da escravidão mais explícita.

    A mídia é parte dessa engrenagem que mantém a estrutura sem fendas. A gente não pode esperar que uma borboleta relinche porque sua natureza é outra. A gente não pode perder tanta energia, como hoje faz a ultradireita, xingando a Folha de ‘Falha’ e gritando ‘Fora Globo’.

    Esse é um ativismo que não dá mais conta da complexidade do cenário político nacional.

    Também, me perdoem, mas vou precisar dizer isso: não é verdade que Bolsonaro não caiu ainda porque as pessoas não puderam, em função da pandemia, ocupar as ruas em protesto com faixas e cartazes nos quais é possível ler que o “Povo Unido Jamais Será Vencido”.

    Levei muito tempo para entender isso, mas, eu lhes asseguro, a gente só consegue caminhar verdadeiramente quando perde certas ilusões. O certo é que a estrada é longa e é melhor apressar o passo.

  • Oposição de esquerda joga parada guerra de informação e disputa pelo domínio da comunicação

    Oposição de esquerda joga parada guerra de informação e disputa pelo domínio da comunicação

    Por Yuri Silva*

    As ‘fake news’, elemento definidor das eleições presidenciais de 2018, exploradas principalmente pelo então candidato Jair Bolsonaro (à época no PSL) e pelos seus asseclas, continuam sendo parte marcante do dia-a-dia da sociedade brasileira, quase dois anos depois do resultado eleitoral.

    Desta vez, as crises política, sanitária e social, provocadas pela pandemia do Coronavírus e pela gestão pública controversa sobre o assunto, são os temas prioritários dos conteúdos que circulam nas redes sociais digitais.

    Numa intensa disputa de narrativas envolvendo questões como a eficácia da utilização (ou não) da Hidroxicloroquina, a demissão sequencial de ministros da Saúde, a crise envolvendo a demissão do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro, as formas de tratamento contra o COVID-19 e até mesmo a necessidade do isolamento social, bolsonaristas novamente aparecem em vantagem no placar dos debates contra as forças de oposição, aqui incluídas muito mais as forças de esquerda (desintegradas e vacilantes nesse quesito) e muito menos os setores da direita e da ultradireita que mostram-se anti-Bolsonaro.

    Defendendo a abertura dos comércios e serviços não-essenciais e fúteis como se essenciais fossem, o uso de remédios sem comprovação científica e absurdos outros semelhantes no campo das pautas ideológicas, informações compartilhadas pelas milícias digitais relacionadas a Bolsonaro — e comandadas no topo da cadeia pelo filho do presidente Carlos Bolsonaro, vereador e chefe do Gabinete de Ódio — têm surtido efeito práticos que, ainda que se queira, não podem ser negados.

    O nível de isolamento social no país tem sido reduzido dia após dia, conforme dados oficiais; as mortes devido à contaminação pelo vírus também têm chegado a patamares cada vez maiores; e o número de casos cresce vertiginosamente, aproximando o Brasil do posto de epicentro da doença.

    São esses apenas alguns dos claros elementos que apontam o triunfo das ‘fake news’ – nome estrangeiro utilizado nos últimos tempos para denominar as mentiras propagadas por grupos neofascistas que ganharam espaço (aparentemente permanente) na disputa sociopolítica e ideológica nacional.

    Enquanto isso, na era da pós-verdade, as “bolhas” da esquerda seguem transmitindo e alimentando outro sentimento sobre o placar desse jogo, completamente ilusório. Fechados em nossas redes repletas de posicionamentos próximos, iludimo-nos sobre quem está em vantagem. Divulgamos memes de humor contra o presidente e sua trupe da ópera-bufa do Palácio do Planalto; compartilhamos artigos bem escritos e que parecem pensados para serem consumidos (e elogiados) por outros intelectuais, pseudo-intelectuais, militantes e mais gente já convertida às nossas teses; arrotamos argumentos com linguagem pouco acessível, com citações acadêmicas, sociológicas ou filosóficas; e nos regojizamos com leituras que têm a função exclusiva de reafirmar aquilo no que já cremos.

    Na prática, contudo, pouco refletimos sobre como atingir de fato a massa da população, que ainda segue correndo riscos sanitários, por dureza financeira ou por ter sido alcançada e convencida pelas mentiras propagandeadas pelo outro lado. Pouco ou nada nos movemos para alcançar a “ralé brasileira” que continua nas filas da Caixa Econômica Federal em situação de exposição, sub-humanidade ou subcidadania e, ainda assim, acredita piamente que está sendo beneficiada por causa do esforço do Governo Federal dirigido pelo ser ignóbil eleito nas últimas idas às urnas. Nada ou pouco fazemos para dialogar e mudar o pensamento daqueles que seguem acreditando na necessidade de realizar-se o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) mesmo em condições de desigualdade do tamanho de um abismo, ou para trazer para o nosso lado aqueles que defendem a volta ao trabalho por medo dos crescentes desemprego e desalento que afligem o Brasil há pelo menos quatro anos.

    Fato é que produzimos conteúdo para nós mesmos e somos tímidos “café-com-leite”, como dizíamos na infância, na batalha da comunicação. Evitamos engrossar a audiência dos canais da grande imprensa, pois discordamos da linha editorial destes, mas sequer somos capazes, enquanto partidos políticos e movimentos sociais, de construir alternativas de massa pra substitui-los.

    Jogamos para a pequena audiência que consideramos, nas nossas cabeças preconceituosas, qualificada. E é nesse ponto que somos derrotados pelas ‘fakes news’, pela pós-verdade, pelas mentiras ou seja lá o nome que queiram adotar para esse fenômeno. Pois elas são feitas para a massa e consumidas por ela, pelo povão que tem pouco hábito de leitura e aprendeu a se comunicar prioritariamente pelo zap (e não por textões, como esse que você lê, publicados em GGN’s, Brasil247’s e outras plataformas afins).

    Ao aderir a essa prática, dando volume a ela por meio de seus grupos de WhatsApp que funcionam como pirâmides de transmissão de inverdades, o bolsonarismo coloca em prática, mas de forma muito mais eficaz (embora criminosa) o que sempre desejamos fazer na esquerda: desintermediar a informação, a comunicação, o poder de pautar a sociedade.

    O que seria isso? Explico: desintermediar a informação trata-se do ato ou da capacidade de comunicar-se, produzir conteúdo, sem que este conteúdo/informação precise de órgãos tradicionais de imprensa/comunicação para que seja chancelado ou tidos como verdade. Inverte-se, aqui, a lógica tradicional pela qual tal fato só é verdade se há um veículo ou um profissional de comunicação por trás daquela informação. O bolsonarismo fez isso com brilhantismo: o zap é o canal de transmissão de comunicação e conteúdo e ele mesmo, por si só, dá teor de verdade ao que é compartilhado, sem necessidade de quasiquer chancelas.

    É verdade que até tentamos (acredito que de forma mais tímida e pela metade) colocar em prática um processo semelhante de desintermediação (que mais era uma tentativa de mudança dos intermediadores da comunicação). Criamos e “vitaminamos” veículos progressistas que até hoje produzem qualificados materiais jornalísticos e opinativos para a reflexão sobre política, economia e também sobre comunicação e a necessidade de democratizá-la. Mas, repito, falamos quase sempre para nós mesmos, fincados em certa arrogância e em “intelectualismos” embranquecidos, eurocêntricos e pequeno-burgueses.

    Veículos de informação negros e periféricos, a exemplo deste Mídia 4P (mais jovem) e de outros (mais antigos), também tentaram esse caminho, mas igualmente pela metade e esbarrando nas bolhas constituídas involuntariamente e dentro da qual ecoam seus escritos e registros audiovisuais — que reafirmo serem de qualidade, mas que, não digo isso com prazer, atingem apenas os cerca de 35% que já compõem nosso campo ideológico.

    Por mais incrível que possa parecer, são justamente os veículos de mídia considerados tradicionais e ideologicamente alinhados ao neoliberalismo e à direita tradicional brasileira que, neste contexto de crise sanitária e sociopolítica, conseguem melhor combater as ‘fake news presidenciais’ e colocar-se como alternativa na batalha da informação. Movidos obviamente pelo poder econômico, pelo alcance de massa e pelo prestígio que já detêm e pelo desejo de encrustar no poder uma alternativa “civilizada” de direita, derrubando assim Jair Bolsonaro do Planalto, grupos empresariais como Rede Globo, Folha de S. Paulo e outros tratam de “re-intermediar” a comunicação.

    Ou seja, em meio à enxurrada de mentiras, brigam pela retomada de parte do poder que possuíam e que perderam ao longo da última década: o poder de dizer o que é verdade e o que é mentira. Combatem o discurso anti-ciência, desmentindo o presidente, seus filhos e seus aliados constantemente; constroem plataformas de checagem de informações junto a parceiros do jornalismo nacional e internacional; e, ainda que vivam dificuldades financeiras antes mesmo da COVID-19, conseguem avançar na disputa de ideias na sociedade.

    Em resumo, aqueles que sempre falsearam as informações ao bem querer dos seus interesses agora emergem como opositores da mentira. Contradições?! Temos.

    Redes sociais como Instagram e Twitter, que ostentam milhões de usuários e até então foram tubos de transmissão de informações falsas sem mover-se do lugar, também seguem a mesma estrategia dos meios tradicionais: apostam em ser novos intermediadores da informação ao passarem a dizer, por meio de novas tecnologias recém-lançadas, se um conteúdo publicado pelos usuários é mentira ou verdade.

    Não fica atrás o WhatsApp, canal principal das ‘fake news’, que, embora tenha fechado os olhos para as disseminações de inverdades que influenciaram em eleições presidenciais nos Estados Unidos e no Brasil, agora limitam envio de mensagens em massa para combater essa prática.

    Essa trata-se de uma guerra muito maior e mais importante para a disputa política e ideológica do que parece. É a guerra para definir quem deterá o poder da comunicação, no mundo, quando esse “caos da desinformação” passar ou mesmo que ele siga como parte constituinte dos processos sociais. Nós da esquerda, até agora, continuamos perdendo esse jogo. E parece, para mim, que usamos a estratégia de jogar parados.


    *Yuri Silva é jornalista formado pela UNIJORGE, especialista em mídias sociais digitais, consultor de comunicação e política, editor-chefe do portal Mídia 4P eassessor de comunicação. Já atuou como repórter freelancer de veículos como o jornal O Estado de São Paulo (Estadão), The Intercept Brasil e Revista Piauí. É ex-repórter do jornal A TARDE e ex-correspondente do Estadão na Bahia. Também é ativista antirracista, ocupando as funções de coordenador nacional do Coletivo de Entidades Negras (CEN) e de conselheiro de Direitos Humanos do Estado da Bahia.

  • Folha não teve coragem de publicar manchete real: “Lava Jato induziu Léo Pinheiro a mudar versão duas vezes até incriminar Lula”

    Folha não teve coragem de publicar manchete real: “Lava Jato induziu Léo Pinheiro a mudar versão duas vezes até incriminar Lula”

    Yuri Silva*

    A Folha de S. Paulo publicou neste domingo, 30, em parceria com o site The Intercept Brasil, a reportagem até agora mais impactante e contundente da Vaza Jato, sem sombra de dúvida.

    O conteúdo é incisivo ao mostrar que os procuradores da operação Lava Jato induziram o empresário baiano Léo Pinheiro, da construtora OAS, a incriminar o ex-presidente Lula.

    O jornal mostra como a delação da empreiteira, até hoje não homologada, foi sendo postergada (e ameaças de prender o empresário foram sendo feitas) para forçar que ele citasse Lula como participante de esquema de corrupção, a fim de condenar o líder petista.

    Somente após fazer isso, Léo Pinheiro passou a ter a “credibilidade” entre os procuradores da força-tarefa, mostram as trocas de mensagens entre os prepostos do Ministério Público.

    A manchete do jornal da família Frias, contudo, é pura vacilação jornalística.

    Na reportagem mais relevante desde que fechou parceria com o The Intercept para analisar as conversas conjuntamente com profissionais do site, a Folha saiu nas suas primeiras páginas dominicais (tanto no jornal impresso quanto na versão digital) com a tímida manchete “Lava Jato via com descrédito empreiteiro que acusou Lula”.

    Nas páginas internas, dizia o diário paulista: “Lava Jato desconfiou de empreiteiro que acusou Lula, indicam mensagens”. Em outra versão, esta no portal digital do veículo, o enunciado para a notícia mais bombásticas do País em muitos anos diferiu levemente do anterior: “Lava Jato desconfiou de empreiteiro pivô da prisão de Lula, indicam mensagens”.

    Em nenhum momento, a Folha de S. Paulo trouxe a manchete “correta”, aquela que cabia ao conteúdo revelado, embora tenha construído lastro para isso no corpo da sua matéria.

    Possivelmente sob o argumento de um pseudo equilíbrio jornalístico, quase sempre evocado nas redações como forma de ‘passar pano’ para poderosos imbricados em denúncias comprometedoras, o jornal fugiu de publicar que a “Lava Jato induziu Léo Pinheiro a mudar versão duas vezes até incriminar Lula”.

    Trata-se de um erro difícil de justificar para quem leu a matéria completa.

    Vários trechos deixam nítido o que a manchete não publicada pela Folha diz/diria.

    Já no segundo parágrafo, sub-lead da reportagem, seus autores dizem: “Enviadas por uma fonte anônima ao The Intercept Brasil e analisadas pela Folha e pelo site, as mensagens indicam que Léo Pinheiro, ex-presidente da construtora OAS, só passou a ser considerado merecedor de crédito após mudar diversas vezes sua versão sobre o apartamento tríplex de Guarujá (SP) que a empresa afirmou ter reformado para o líder petista.”

    Poucas linhas mais à frente, os repórteres Ricardo Balthazar, Flávio Ferreira e Wálter Nunes (da Folha) e Rafael Moro Martins e Rafael Neves (do The Intercept Brasil) fazem a levantada derradeira, que termina de consolidar tanto a força noticiosa da reportagem quanto o erro cometido ao não adotar uma manchete mais precisa em relação ao que diz a reportagem.

    “Léo Pinheiro só apresentou a versão que incriminou Lula em abril de 2017, mais de um ano depois do início das negociações com a Lava Jato, quando foi interrogado pelo então juiz Sergio Moro no processo do tríplex e disse que a reforma do apartamento era parte dos acertos que fizera com o PT para garantir contratos da OAS com a Petrobras. Os diálogos examinados pela Folha e pelo Intercept ajudam a entender por que as negociações da delação da empreiteira, até hoje não concluídas, foram tão acidentadas —e sugerem que o depoimento sobre Lula e o tríplex foi decisivo para que os procuradores voltassem a conversar com Pinheiro, meses depois de rejeitar sua primeira proposta de acordo.”

    A contextualização que segue faz a reportagem ganhar em qualidade e inteligibilidade, deixado bem cristalizado para quem a leu: a Lava Jato induziu Léo Pinheiro a mudar versão duas vezes até incriminar Lula. Uma pena que a Folha tenha optado pela covardia.

     

    Nota: A defesa do ex-presidente Lula publicou nota sobre a reportagem da Folha, que pode ser lida abaixo

    [aesop_document type=”pdf” src=”https://jornalistaslivres.org/wp-content/uploads/2019/06/Nota-Leo-Pinheiro-Folha.pdf”]

     

    *Yuri Silva é jornalista, editor-chefe do portal Mídia 4P (@midia4p e www.midia4p.com), ex-correspondente do Estadão na Bahia e ex-repórter de ‘Cidade’ e ‘Política’ do jornal A Tarde

  • EDITORIAL: SOLIDARIEDADE A PATRÍCIA CAMPOS MELLO

    EDITORIAL: SOLIDARIEDADE A PATRÍCIA CAMPOS MELLO

    Folha de S.Paulo entrou com uma representação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) nesta terça (23) solicitando à Polícia Federal que investigue ameaças contra a jornalista Patrícia Campos Mello, autora da reportagem “Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp“, publicada na quinta-feira (18).

    Patrícia recebeu centenas de mensagens nas redes sociais das quais participa e por e-mail. Entre sexta-feira (19), dia seguinte à publicação, e terça (23), um dos números de WhatsApp mantidos pela Folha recebeu mais de 220 mil mensagens de cerca de 50 mil contas do aplicativo.

    Trata-se de uma ação orquestrada pelas redes de apoiadores do candidato Jair Bolsonaro, com o claro propósito de intimidar e constranger a liberdade de informação e de expressão. E isso não é por acaso.

    Reiteradamente, Jair Bolsonaro tem se manifestado contrário à Democracia e ao direito de divergir. Como nostálgico da Ditadura e um idólatra de torturadores, ele está ao lado dos assassinos do jornalista Vladimir Herzog e contra a busca da verdade que consiste na própria razão de ser do Jornalismo.

    É esse ventríloquo do Fascismo que estimula as hordas de robôs a atacar os repórteres e os veículos que eles consideram “inimigos”, simplesmente porque ousam expor uma realidade diferente daquela em que eles crêem.

    Nos últimos anos, Jornalistas Livres têm manifestado seguidamente suas críticas à cobertura facciosa da grande mídia, Folha de S.Paulo incluída, que tudo fez para desacreditar e enxovalhar Lula e os movimentos sociais.

    Agora mesmo, a Folha segue considerando a candidatura de Jair Bolsonaro como uma postulação de “direita”, em vez de chamá-la de “extremista” e “radical”, já que abertamente militarista, defensora da Ditadura, da tortura e da violação dos direitos humanos, contrária aos direitos das minorias e adepta da ruptura da ordem Democrática, quando seus interesses são contrariados.

    É uma pena que um jornal impresso como a Folha, para o qual a Palavra em seu sentido preciso deveria ser sagrada, recuse-se a qualificar Jair Bolsonaro e seu projeto político com clareza. Recuse-se a apontar-lhe a covardia de fugir ao confronto de idéias e projetos com seu opositor, Fernando Haddad. Recuse-se a denunciar-lhe a truculência desabrida e o discurso rasteiro e insuflador da violência.

    Bolsonaro é Fascista. Ele quer a Censura. Ele admira torturadores. Ele acha correto propor a morte de seus opositores. E ele precisa ser contido pelas forças democráticas esclarecidas e iluminadas pelo debate franco e aberto. Antes que seja tarde demais.

    Nossa solidariedade à nossa colega Patrícia Campos Mello. Contra a censura e contra o Fascismo.

    #EleNão #HaddadSim

     

  • Ética no Jornalismo

    Ética no Jornalismo

    Por Gustavo Aranda e Vinícius Segalla

     

    Às 20h30 do dia 20 de outubro de 2017, os Jornalistas Livres publicaram a seguinte reportagem: “Caetano processa MBL e Frota por acusação de pedofilia” (https://jornalistaslivres.org/…/caetano-processa-mbl-e-fro…/).

    Foi matéria exclusiva, escrita e ilustrada por nós, jornalistas livres, Vinícius Segalla e Gustavo Aranda, depois que tivemos acesso ao processo em questão, protocolado no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

    Depois que escrevemos e ilustramos, a Laura Capriglione, uma das fundadoras e editoras dos Jornalistas Livres, releu o texto, aprimorou o conteúdo, sugeriu um título melhor, alterações nas artes e reproduções dos documentos que pretendíamos publicar.

    Depois disso, outros jornalistas livres criaram chamadas para o Facebook, cards de divulgação em redes sociais, sugeriram e executaram (executamos) também aprimoramentos no conteúdo a ser publicado.

    Daí, então, publicamos. O fizemos por gosto, não por dinheiro. Ninguém ganha um tostão pra escrever ou editar pros Jornalistas Livres. A gente faz porque faz.

    No dia seguinte (21/10), diversos veículos da imprensa independente reproduziram a matéria – com o devido crédito.

    Às 11h30 do mesmo dia seguinte (21/10), a hashtag #CaetanoPedófilo se tornou trendtopic (número 1) do twitter no Brasil.

    Às 17h43 do mesmo dia seguinte (21/10), o jornal Folha de S.Paulo publicou a seguinte reportagem: “Chamado de pedófilo, Caetano Veloso processa MBL e Alexandre Frota” (http://www1.folha.uol.com.br/…/1929107-chamado-de-pedofilo-…).

    A Folha de S.Paulo chupinha a informação exclusiva dos Jornalistas Livres. Não traz nenhum fato que avance na história publicada pelos Jornalistas Livres. Simplesmente, após a publicação dos Jornalistas Livres, o jornal entra em contato com a assessoria de Paula Lavigne, dela obtém algumas aspas e publica a matéria, sem nunca citar os Jornalistas Livres.

    Se você não é jornalista e/ou não é iniciado no meio, vai ter que acreditar em mim: esse tipo de postura violenta a ética profissional.

    Se você é jornalista, obviamente sabe disso, mas não deve ter se espantado. Tanto nós quanto os outros jornalistas livres que trabalharam nessa matéria não esperávamos nada diferente da Folha de S.Paulo. É notória a política de “não precisa dar crédito quando o jornal é menor que a gente”.

    Agora, não conhecemos e por isso precisamos respeitar por princípio a Isabella Furtado Menon, que assina a matéria e não dá o crédito da informação que publicou, e que virou a notícia mais lida do jornal em que ela escreve no dia 21/10.

    Por isso, gostaríamos de dar a palavra para a repórter poder explicar melhor como funciona o processo de trabalho na redação da Folha.

    O que aconteceu, Isabella Furtado Menon?

  • O editorial de capa na “Folha de S.Paulo” é a perfeita união da arrogância com a indigência lógica

    O editorial de capa na “Folha de S.Paulo” é a perfeita união da arrogância com a indigência lógica

    Antes de mais nada, é preciso explicar para as pessoas que já não lêem jornal em papel, que a publicação do editorial na primeira página é daquelas iniciativas que se pretendem históricas. Que vem para fazer proclamas à Nação, como foi no célebre editorial da mesma “Folha”, em 30/6/1992, intitulado “Renúncia Já”, contra Fernando Collor de Mello, ou os editoriais do “Correio da Manhã”, “Fora!” (10/3/1964) e “Basta!” (31/3/1964), que operaram como a senha do Golpe de 1964.

    Fotomotagem de Joana Brasileiro, das capas da Folha de São Paulo e do Correio da Manhã/ acervo folha e editoriais colpistas

    Mas a montanha, hoje (3/abril/2016), pariu um rato.

    488 palavras de embromação.

    Primeiro, o texto afirma, exagerado:

    “Depois de seu partido protagonizar os maiores escândalos de corrupção de que se tem notícia; depois de se reeleger à custa de clamoroso estelionato eleitoral; depois de seu governo provocar a pior recessão da história, Dilma colhe o que merece.”

    Forte…

    Mas logo vem a confissão de que tudo é apenas retórica.

    “Embora existam motivos para o impedimento, até porque a legislação estabelece farta gama de opções, nenhum deles é irrefutável. Não que faltem indícios de má conduta; falta, até agora, comprovação cabal. Pedaladas fiscais são razão questionável numa cultura orçamentária ainda permissiva.”

    Capotou na curva.

    Ora, se a República está diante dos “maiores escândalos de corrupção”, como é que nenhum dos motivos para o impedimento é, até agora, “irrefutável”, e –pior!— falta “comprovação cabal”???

    O editorial abusa da crença na estupidez de seus leitores. Pede que Dilma renuncie sem que haja míseras provas dos ilícitos de que é acusada, como admite a própria “Folha“.

    Ah tá!

    De triste tradição golpista, agora renovada, o jornal da alameda Barão de Limeira diz que

    “enquanto Dilma Rousseff permanecer no cargo, a nação seguirá crispada, paralisada. É forçoso reconhecer que a presidente constitui hoje o obstáculo à recuperação do país.”

    Deveria dizer:

    “Enquanto acusarmos sem provas, enquanto formos apenas os reverberadores de um juiz irresponsável, a nação seguirá crispada, paralisada. É forçoso reconhecer que nos constituímos hoje em obstáculo à recuperação do país.”

    Mas isso seria honesto. Não vai rolar.