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  • Protestos na pandemia: vá apenas se puder, mas o silêncio também é um risco

    Protestos na pandemia: vá apenas se puder, mas o silêncio também é um risco

    Via Blog das Mulherias

    Flávia Martinelli

    05/06/2020 04h00

    Manifestante durante protesto no último fim de semana em São Paulo. Novos atos antifascitas e anti racistas estão marcados para o domingo em diversas cidades do Brasil (Foto: Miguel Schincariol/Getty Images)

    Não existe “manifestação segura” com pandemia e repressão violenta da polícia. Mas se omitir também é um perigo. Veja como tomar todos os cuidados necessários para ir às ruas ou dar o suporte de casa 

    Com reportagem de Ariane Silva e Jéssica Ferreira, especial para o blog Mulherias

    Seja por causa da Covid-19 ou da violência policial, vidas negras estão se perdendo por motivos que poderiam ser evitados. No cenário brasileiro, soma-se ao racismo institucional a explícita manifestação de ideias e símbolos fascistas e neonazistas de pequenos grupos de apoio ao presidente Jair Bolsonaro que, há meses e sem pudor, defendem a intervenção militar no sistema democrático, como fechamento do Superior Tribunal Federal (STF).

    “Tudo tem limite, né?”, diz a arte-educadora e produtora cultural Queren Pereira, de 29 anos, mulher negra e periférica de São Paulo. Ela esteve na Avenida Paulista no último domingo e vai novamente ao local no próximo dia 7 participar do protesto “Vidas Negras Importam”, marcado para as 14h. “Se está ocorrendo uma manifestação no meio da pandemia é porque é extremamente necessário, ninguém sai de casa para arriscar a vida por nada.”

    Queren:

    Queren:”Fui em nome dos que não podiam estar lá e se sentem lesados. O copo encheu, transbordou. Quem faz descaso com a dor dos que perderam familiares ou defende um golpe militar precisa ter vergonha disso. Foi urgente reagir. Quem pode ir, vá antes que seja tarde!” (Foto: Arquivo pessoal)

    Torcedora do Corinthians, a educadora ressalta que sua ida à manifestação não pode ser confundida com passar por cima do isolamento social, defendida pelas instituições de saúde para evitar a propagação do novo coronavírus. “Não! Fui para a rua com a urgência necessária, porque posso fazer isso, porque não sou do grupo de risco e porque é preciso reagir a esses discursos de ódio apoiados por autoridades que deveriam dar bom exemplo. Isso não pode ser naturalizado”, explica Queren.

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    Sobre o grupo que defende o presidente Bolsonaro ela é taxativa: “Essas pessoas que quebram o isolamento com bandeiras de ódio, com taco de beisebol e com discursos antidemocráticos se sentem confortáveis pois estão amparadas pelo sistema do atual governo e da segurança pública”. Reagir, diz a militante, é “exigir um posicionamento dessa máquina de matar preto, pobre e favelado. É preciso dar um basta nisso”.

    (Miguel Schincariol/Getty Images)

    A morte de George Floyd pela polícia dos Estados Unidos foi um dos estopins para os atos no Brasil. “Aqui somos mortos até em casa, caso do menino João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos“, lembra Queren. O garoto foi baleado durante uma operação policial no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio de Janeiro, e mais de 70 furos de bala perfuraram a casa onde ele brincava com os primos.

    Assim como o último protesto reuniu torcedores de times de futebol rivais, como Palmeiras, São Paulo e Santos, a corinthiana espera nova união de forças nas ruas. “As pessoas brancas e não periféricas que podem precisam se manifestar também. Precisam estar na linha de frente nos protestos porque o povo preto vive esse enfrentamento diariamente. Estamos exaustos desse papel.”

    Ser antirracista não é apenas usar uma hashtag no Facebook. “Mas agir como linha de frente empregando pessoas pretas, apoiando na prática, cedendo seus privilégios para promover equidade e a igualdade.”

    Mas é seguro protestar durante a pandemia? 

    Não. Um protesto em condições normais já traz algum risco. Você pode se perder das pessoas que estão com você, passar mal por conta do sol, frio ou caminhar mais que o planejado sem comida. Nada disso é motivo para ficar em casa e é possível se preparar bem para imprevistos com uma mochila com água, lanches, agasalho e sapatos confortáveis. A pandemia, porém, traz novas preocupações.

    Ir ou não aos protestos de domingo deve ser uma escolha pensada com extrema seriedade, considerando a própria saúde e condições de vida dos familiares que vivem na mesma casa. Além disso, o momento político exige reflexão diante da repressão violenta.

    E aí? Devo ou não ir à manifestação?

    Se você for de algum grupo de risco, divide moradia com pessoas idosas ou tem sintomas de Covid-19, é melhor ficar em casa, viver e lutar por seus ideais outro dia. O blog Mulherias elaborou um guia a quem pode apoiar as manifestações de casa e também aos que decidirem participar dos protestos. Leia antes de tomar a sua decisão.

    Importante: as orientações de saúde foram baseadas em protocolos da Organização Mundial da Saúde e dicas da professora de epidemiologia da Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston Ellie Murray, traduzidas para o português pelo blog.

    A especialista americana tem usado seu Twitter com sugestões para minimizar os riscos da pandemia em manifestações. “Sim, eu fui contra os protestos antiquarentena. Sim, eu apoio o #VidasNegrasImportam. Não, essas visões não são contraditórias. A Covid é uma emergência de saúde pública. O racismo também. Precisamos lutar contra os dois”, posicionou-se a especialista.

    E se eu for, como faço para me cuidar?

    •  Escolha sapatos confortáveis e use roupas simples, sem estampas, que sejam difíceis de identificar numa foto. Esconda piercings, tatuagens e outras marcas de identificação, e prenda os cabelos.
    • Prepare uma mochila com seus documentos, dinheiro vivo para voltar para casa, agasalho, água (se possível numa garrafa com canudinho, para por debaixo da máscara) e comida. Assim você fica com as mãos livres para segurar faixas e cartazes e também para se proteger em caso de conflitos com a polícia, mas carrega com você tudo que precisa para cuidar de você durante o ato.

    Dicas da Frente Povo Sem Medo: a organização reúne diversos movimentos sociais e populares que participam das manifestações antifascistas

    Dicas da Frente Povo Sem Medo: a organização reúne diversos movimentos sociais e populares que participam das manifestações antifascistas

    • Avise alguém que você vai à manifestação e combine um horário para entrar em contato novamente e avisar que já está em casa em segurança. Se levar o celular, coloque senha numérica forte e desative o desbloqueio por  reconhecimento facial ou impressão digital. Anote em um papel o contato de alguém para o caso de você perder seu celular, ficar sem bateria ou ter o aparelho apreendido ou furtado.
    • Use máscara o tempo todo. Coloque antes de sair de casa e só retire depois que retornar. Cuide dos seus olhos também, use óculos de proteção para barrar o contato com eventuais gotículas de saliva suspensas no ar. Eles também protegem das bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha que podem ser usados pela polícia.
    • Gritar espalha gotículas de saliva no ar, então prefira usar cartazes, caixas de som, tambores e outras formas de se manifestar.
    • Fique próxima a um pequeno grupo de pessoas próximas para ter menos contato com pessoas desconhecidas.
    • Evite aglomerações: mantenha a distância de pelo menos 2 metros das outras pessoas durante a manifestação.
    • Evite maquiagem, pomadas ou cremes na pele, pois eles ajudam partículas como gotículas de saliva a grudarem na pele e intensificando os efeitos de gás e spray de pimenta.
    • Ao chegar em casa tire as roupas que usou e coloque para lavar. Tomar um banho assim que chegar também ajuda a descontaminar tanto de vírus que possam ter ficado em contato com a pele quanto de gás e spray de pimenta, se você tiver sido atingida. Lembre de lavar bem os cabelos.
    • Se possível, fique em casa pelas duas semanas seguintes ao protesto. Seguindo essas dicas você diminui mas não elimina o risco de contaminação por coronavírus. Os sintomas da Covid-19 demoram de 3 a 14 dias para aparecer (e você pode contaminar outras pessoas antes mesmo de ter qualquer sintoma). Isole-se.

    Advogados populares: a Comissão de Direitos Humanos da OAB estará atenta para possíveis violações. 

    Se eu ficar em casa, como ajudar?

    • Compartilhe esse guia com as pessoas que conhece e que vão às ruas para ajudar na segurança delas.
    • Doe kits com máscaras, álcool gel, lanches e água a quem vai ao protesto.
    • Procure os grupos que estão organizando as manifestações, eles certamente precisam de ajuda na divulgação ou em outras tarefas.
    • Use as mídias sociais para se manifestar e ampliar o alcance das manifestações: é preciso amplificar a luta por justiça e pelas vidas negras.

    Protestos marcados para o próximo domingo (7/6):

    Outras manifestações estão sendo marcadas e há algumas cidades com diferentes pontos de encontro. Pesquise, fale com amigos e organize-se para apoiar virtualmente os atos pelas vidas negras, contra o fascismo e em defesa da democracia.

     

  • COMO SERÁ O DIA SEGUINTE?

    COMO SERÁ O DIA SEGUINTE?

     

     

    ARTIGO

    Prof. Dr. Alexandre Santos de Moraes, do Departamento de História e do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Fluminense

     

                Em quase tudo que faço, preocupa-me como será o dia seguinte. Não adianta realizar grande feito sem avaliar as consequências. O futuro, feito de abstração, fica longe demais. Mais que isso, é rebelde e vadio, e estou farto de tentar arrancar dele qualquer previsibilidade. O dia seguinte, não. O dia seguinte é logo ali. Ainda que também seja inesperado, sobretudo em um país que é vocacionado a surpresas desagradáveis, é mais seguro especular a seu respeito do que fazer longas digressões sobre um porvir edênico, para os otimistas, ou apocalíptico, para os pessimistas. Perguntar como será o dia seguinte mantém nosso pé no chão. Ele é próximo demais para alimentar grandes (des)ilusões.

                Vamos imaginar que Bolsonaro caiu. Não sei como caiu. Há muitas formas de cair e todas elas me convêm. Sei que ele vai cair um dia, e torço para estar vivo quando isso acontecer. Torço para que caia logo, de qualquer maneira, porque Bolsonaro é sujeito ruim. Ele é mau. Ele não se importa com a vida. Ele desdenha os mortos. Ele se diz cristão e faz o contrário do que reza o cristianismo. É tanta maldade que consegue até enganar quem não é como ele. Os brasileiros outorgaram a uma pessoa cruel e sádica os poderes necessários para praticar a crueldade e sadismo. Mas tudo passa, e ele passará. Como será o dia seguinte?

                O dia seguinte pode ser de pura euforia. Com ou sem coronavírus, pessoas decidem ocupar as ruas comemorando a queda do fascista. A alegria pode ser tanta que, por decreto ou não, vai parecer feriado nacional. Naturalmente, muita gente vai se doer. Alguns vão chorar a derrocada do ídolo. Talvez decidam ir às ruas se o medo de represálias não for maior que o luto. Pode ser que façam o perfeito oposto do que fazem hoje e fiquem em casa. Pode ser que, simplesmente, nada aconteça. Pode ser que acordemos tarde e tomemos café sonolentos. Pode ser que respeitemos religiosamente a rotina, como se nada tivesse acontecido. Pode ser que faça sol, pode ser que o tempo feche. O dia seguinte pode ser excepcional ou banal.

                No dia seguinte, muitos vão querer saber o que se dará no governo. Pode ser que o vice-presidente assuma. Assumindo, pode optar por moderação, dissimulando o caráter que Bolsonaro, por absoluta falta de opção, não conseguiu dissimular. Pode ser que ele seja ainda mais austero, pois sabemos que o Brasil aprendeu a piorar o que já parece deveras ruim. Alguns podem olhar o novo presidente com desconfiança; outros podem nele depositar suas utopias mais belas. O dia seguinte pode ser dos realistas ou dos inocentes. No dia seguinte, podemos ter o ânimo altivo pela vitória conquistada ou o cansaço de perceber que a luta não termina nunca. No dia seguinte, caso cassada a chapa, pode assumir o presidente da Câmara dos Deputados, que não sabemos quem será. Pode-se começar a falar em eleições diretas ou pode-se deixar tudo como está, apenas esperando passar o tempo para que as pessoas votem novamente.

                No dia seguinte, pode ser que sejamos tomados pela conclusão que derrubamos um fascista sem derrubar o fascismo. Afinal, o fascismo não é só bravata e discursos autoritários, mas prática política. Foi o fascismo que emplacou essa cruel reforma da previdência. Foi o fascismo que jogou no lixo várias conquistas históricas dos trabalhadores. Foi o fascismo que nos colocou no abismo da Terra Plana e nos fez sentir vergonha do acaso de migrações que fez com que nossas mães nos parissem por aqui. Foi o fascismo que ignorou o racismo, que fechou os olhos para os Direitos Humanos, que nos privou da esperança, que nos fez desconfiar de quem é próximo, que rompeu amizades de longa data, que nos tornou objeto de descrédito internacional, que trouxe de volta à luz doenças outrora erradicadas, que tirou de nós parentes que não pudemos nem mesmo velar, que promoveu genocídios e ignorou os massacres cotidianos. No dia seguinte, muitos de nós vão querer que tudo isso seja passado a limpo; outros vão defender que viremos a página e sigamos adiante sem lavar com álcool em gel nosso déficit civilizatório.

                No dia seguinte, muitos do que ajudaram a derrubar Bolsonaro fecharão os olhos para seus malfeitos. Eles dirão que há um bem em todo mal, e que nem tudo deve ser desprezado. No dia seguinte, parte dos 70%, que alegam ser todos nós, falarão que não devemos nos apegar ao passado, como se o dia de ontem não fizesse mais qualquer diferença. Afinal, como se diz por aí, Hitler foi cruel, mas recuperou a economia de uma Alemanha falida, ainda que a nossa esteja cadavérica. Serão eles que, de modo oportunista e sorrateiro, após terem se apoiado em nossos ombros, nos olharão com desdém e farão o possível para mudar tudo sem alterar nada. E nós ainda ficaremos felizes, pois aparentemente conquistamos alguma vitória.

                Pudesse viver o eterno presente, gozando a derrota do fascista, o futuro seria perfeito. O problema é que sempre há o dia seguinte. E, para que o dia seguinte não siga me decepcionando, não posso acolher democratas de ocasião com as portas abertas, esses cínicos que falam de união em um país desunido, que defendem a Constituição por conveniência, que lavam suas mãos após terem ajudado a cimentar nossas tragédias cotidianas. Queria não me preocupar com o dia seguinte, mas não sou gado para comer, regurgitar, dormir e comer novamente, como se o tempo fosse escravo de minhas necessidades ordinárias. É por causa do dia seguinte que não me vergo diante de discursos baratos que apostam na febril necessidade de expurgar o mal sem se livrar da maldade. Não é com eles que quero estar no dia seguinte. É só por isso que, hoje, convivo apenas com quem pode qualificar minha biografia. Não divido a mesa com porcos porque tenho apreço pelo futuro, e o futuro está logo ali. O futuro é o dia seguinte.

     

  • Os camisas negras de Bolsonaro

    Os camisas negras de Bolsonaro

    Mais de 1 milhão de crianças, 2 milhões de mulheres e 3 milhões de homens foram submetidos ao assassinato e à tortura de forma programada pelos nazistas com o objetivo de exterminar judeus e outras minorias. Nos primórdios da Itália fascista, os camisas negras – milícias paramilitares de Mussolini – espancavam grevistas, intelectuais, integrantes das ligas camponesas, homossexuais, judeus. Quando a ditadura fascista se estabeleceu, dez anos antes da nazista, Mussolini impôs seu partido como único, instaurou a censura e criou um tribunal para julgar crimes de segurança nacional; sua polícia secreta torturou e matou milhares de pessoas. Em 1938, Mussolini deportou 7 mil judeus para os campos de concentração nazista. Sua aliança com Hitler na 2ª Guerra matou mais de 400 mil italianos.

    Perdoem-me relembrar fatos tão conhecidos, ao alcance de qualquer estudante, mas parece necessário falar do óbvio quando ser antifascista se tornou sinônimo de terrorista para Jair Bolsonaro. Os direitos universais à vida, à liberdade, à democracia, à integridade física, à livre expressão, conceitos antifascistas por definição, pareciam consenso entre nós, mas isso se rompeu com a eleição de Bolsonaro. O desprezo por esses valores agora se explicita em manifestações, abraçadas pelo presidente, que vão de faixas pelo AI-5 – o nosso ato fascista – ao cortejo funesto das tochas e seus símbolos totalitários, aqueles que aprendemos com a história a repudiar. Jornalistas espancados pelos atuais “camisas negras” estão entre as cenas dessa trajetória.

    A patética lista que circulou depois que o deputado estadual Douglas Garcia(PSL-SP) pediu que seus seguidores no Twitter denunciassem antifascistas mostra que o risco é mais do que simbólico. Depois do selo para proteger racistas criado pela Fundação Palmares, e das barbaridades ditas pelo seu presidente em um momento em que o mundo se manifesta contra o racismo, e que lhe valeram uma investigação da PGR, essa talvez seja a maior inversão de valores promovida pelos bolsonaristas até aqui.

    A ameaça contida na fala presidencial e na iniciativa do deputado, que supera a lista macartista pois não persegue apenas os comunistas, tem o objetivo óbvio de assustar os manifestantes contra o governo e de açular as milícias contra supostos militantes antifas, dos quais foram divulgados nome, foto, endereço e local de trabalho.

    É a junção dos “camisas negras” com a Polícia Militar, que já se mostrou favorável aos bolsonaristas contra os manifestantes pela democracia no domingo passado em São Paulo e no Rio de Janeiro. E que vem praticando o genocídio contra negros impunemente no país desde sua criação, na ditadura militar, muitas vezes com a cumplicidade da Justiça, igualmente racista.

    Como disse Mirtes Renata, a mãe de Miguel, o menino negro de 5 anos que foi abandonado no elevador pela patroa branca de sua mãe, mulher de um prefeito, liberada depois de pagar fiança de R$ 20 mil reais, “se fosse eu, a essa hora já estava lá no Bom Pastor [Colônia penal feminina em Pernambuco] apanhando das presas por ter sido irresponsável com uma criança”. Irresponsável. Note a generosidade de Mirtes com quem facilitou a queda de seu filho do 9º andar.

    Neste próximo domingo, os antifas vão pras ruas. Espero não ouvir à noite, na TV, que a culpa da violência, que está prestes a acontecer novamente, é dos que resistem como podem ao autoritarismo violento. Quem quer armar seus militantes, e politizar forças de segurança pública, está no Palácio do Planalto. É ele quem precisa desembarcar. De preferência de uma forma mais pacífica do que planejam os fascistas para mantê-lo no poder.

    Por: Marina Amaral, codiretora da Agência Pública

  • Denúncia aponta que PM do DF pretende agir com violência em ato marcado para o próximo domingo (7)

    Denúncia aponta que PM do DF pretende agir com violência em ato marcado para o próximo domingo (7)

    Via Metrópoles 

    A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CDH-DF) encaminhou, nesta quinta-feira (4), pedido de investigação ao Comando Geral da Polícia Militar do DF, sobre a denúncia de que oficiais da PM estariam incentivando ações violentas por parte dos policiais que acompanharão a manifestação antirracista, antifascista e pró-democracia, agendada par o próximo  domingo (7), às 9h, em frente ao Museu Nacional da República.

    Na denúncia há, também, relatos de que o esquema de segurança que será montado para a manifestação do próximo domingo é muito maior do que o que vem sendo usado nos atos antidemocráticos promovidos pelos apoiadores de Bolsonaro, que pedem, entre outras coisas, o fechamento do Congresso Nacional e do STF, além de ataques à imprensa, inclusive com agressões físicas, e sem resposta da PM.

    “Há um risco de que a tropa chegue ao local com ânimos acirrados e que, mesmo com um protesto pacífico, seja empregada violência excessiva. Isso tudo porque, de acordo com os denunciantes, membros da corporação estariam insuflando os policiais contra os manifestantes”, afirma o presidente da CDH, o deputado distrital Fábio Felix (PSol-DF).

    O Receio de Félix, que é presidente da CDH-DF, é de que os policiais estejam com disposição de provocar conflitos com os manifestantes, para justificar uma resposta violenta da PM, segundo apurou a reportagem do Metrópoles, e confirmadas pelos Jornalistas Livres com um membro da CDH.

    “São graves as denúncias e exigimos que o governo adote as providências necessárias para garantir a segurança e a integridade dos manifestantes”, destaca Fábio Felix.

    Ao Metrópoles, a Assessoria de Imprensa da PM-DF, informou que ainda não tinha tomado conhecimento do ofício encaminhado pela CDH-DF, mas que,  “após sua ciência, conhecerá do seu teor e adotará as medidas julgadas oportunas”. A Assessoria disse ainda que, ao planejar suas ações, não considera o viés ideológico das manifestações. No entanto, não foi o que se viu nas manifestações do domingo passado (31/04) em São Paulo, quando claramente a PM-SP provocou os manifestantes pró-democracia e protegeu os apoiadores de Bolsonaro, inclusive uma mulher portando um taco de baseball.

    Ciente dos potenciais riscos que os manifestantes antirracistas, antifascistas e pró democracia correm no domingo, a CDH  disponibilizou um canal de atendimento para os manifestantes que possam vir a sofrer abusos por parte da PM.

    Os manifestantes podem enviar relatos, vídeos e fotos pelo WhatsApp (61) 99904-1681

     

     

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  • Irmão de Sara Winter torce para que ela seja presa por fabricar fake news

    Irmão de Sara Winter torce para que ela seja presa por fabricar fake news

    Diego Giromini, irmão de Sara Winter, torce para que a irmã seja presa logo por causa das ofensas aos ministros do STF
    Diego Giromini, irmão de Sara Winter, torce para que a irmã seja presa logo por ofensas ao STF

    Heroína da extrema direita brasileira e uma das apoiadoras mais famosas de Jair Bolsonaro, Sara Winter, de 27 anos, foi alvo de um mandado de busca e apreensão da Polícia Federal na operação que investiga as fábricas de fake news e ameaças contra membros do Supremo Tribunal Federal (STF).

    Na quarta-feira (27/5) Sara Winter teve seu celular e computador apreendidos, o que a levou a gravar um vídeo com novas ameaças e mais xingamentos contra o ministro Alexandre de Morais, que havia autorizado a operação. Ela chegou a dizer que pretendia “trocar socos” com Morais, a quem chamou de “covarde”, “filho da puta” e “arrombado”.

    Sara Winter foi uma militante nazifascista na Inglaterra durante a II Guerra Mundial. A atual Sara Winter, na verdade, não tem esse nome. Trata-se apenas do pseudônimo escolhido por Sara Fernanda Giromini —este o seu verdadeiro nome.

     

    Briga em Família

     

    A família Giromini vive em São Carlos, no interior de São Paulo. Mas não é tranquila a convivência de Sara Winter com seus parentes de sangue.

    Diego comenta o post da irmã Sara Winter: "presa logo"
    Diego sobre o post de Sara Winter: “Logo vc vai”

    Irmão dela, Diego Giromini postou no facebook que a PF não deveria ter levado apenas o celular e o computador de Sara. Deveriam levar vc também irmã querida. Mas logo vc vai”.

    No seu perfil no facebook, Diego Giromini se apresenta de uma forma inusitada: “Infelizmente irmão da Sara Winter”. Seguem-se emojis de fezes e de carinhas vomitando.

    Diego Giromini não suporta a irmã Sara. No youtube, ele conta que Sara foi prostituta, diz que ela não vê o filho desde o nascimento, já que o abandonou para que a mãe dela o criasse, denuncia que Sara é usuária de drogas.

    Sara Winter, que foi candidata a deputada federal pelo Democratas do Rio, nas eleições de 2018, afirma ser ex-feminista. Diz que agora está consagrada ao cristianismo, embora seja uma defensora fanática das armas. Ela afirma que pretende criar o filho “com base nos Dez Mandamentos”. Com esse currículo, trabalhou durante sete meses como coordenadora nacional de políticas para a maternidade no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, da ministra Damares Alves.

    Atualmente, Sara Winter organiza o grupo paramilitar chamado “Os 300 do Brasil”, que pretende defender à força de armas o governo de Bolsonaro. O grupo fica acampado na Praça dos Três Poderes.

     

    Diego Giromini: "Infelizmente irmão da Sara Winter"
    Diego Giromini: Infelizmente
  • Juventude hitlerbolsonarista? Governo quer formar milícias armadas em escolas militarizadas

    Juventude hitlerbolsonarista? Governo quer formar milícias armadas em escolas militarizadas

    Por: Roberto Ponciano

    Walter Benjamin, um judeu alemão, que se suicidou para escapar à perseguição do nazismo, quando fugia, na fronteira entre França e Espanha, foi um heterodoxo crítico literário/filosófico marxista, que previu o desastre nazista. Prever o desastre, não é, de maneira derrotista, sucumbir preventivamente a ele. Ao anunciar a falência da ideia de progresso e a esterilidade das oposições democráticas de esquerda ao nazismo na Alemanha, Walter virou o profeta do imenso genocídio que viria a se configurar diante dos olhos de quem não acreditava que o país mais culto e letrado de Europa fosse capaz de gestar o mal absoluto: o nazifascismo.

    Venho falando de fascismo no Brasil desde 2013. Eu alertei que a Lava-Jato, o macarthismo brasileiro, era um movimento de fundo fascista, que queria judicializar a política no Brasil, criminalizando toda a esquerda. O bolsonarismo é um passo além. O movimento tem tendências paranoicas e psicopatas que vão um grau acima, chegam ao nazismo. Entre o nazismo e o fascismo, irmãos siameses, há uma questão de gradação. Mussolini (admirado e, no princípio, copiado por Hitler) era o líder do Partido Nacional Fascista italiano e um genocida, mas não criou pogrons (perseguições específicas contra uma etnia) e nem campos de concentração. O festim diabólico apelidado de reunião ministerial, que mas parecia o set de filmagem de Saló de Pasolini, revelou ao Brasil, abertamente, o pensamento, mais do que fascista, nazista de Bolsonaro, Weintraub e Damares.

    Estes intentos nazistas são corroborados pelas falas golpistas e tirânicas do General Heleno, que conseguiu açular alguns militares de reserva. O perigo do nazismo em Bolsonaro é que, ao contrário da ditadura militar de 1964, ele não tem nenhum projeto de país. Braga Neto na reunião parecia alguém que quisesse ensinar balé aos símios. Um governo que perde rapidamente sua base de apoio e que aposta cada vez e mais na radicalização, apelando para um exército de fanatizados, que, no entanto, por todas as pesquisas, deve atingir entre 20% e 30% do eleitorado brasileiro, o suficiente para gerar o caos, o confronto, um conflito civil e dar as desculpas para rasgar as últimas garantias constitucionais.

    Não, eu não mudei de posição. Quem alerta para o desastre não diz que o desastre é inevitável. Pessimismo em análise não é derrotismo. “Pessimismo na análise, otimismo na ação”, diria Gramsci. Reitero: alerto para o avanço do fascismo desde 2013. E desde 2016 mostro elementos nazistas nas falas de bolsonaro. O ódio às mulheres (misoginia, pulsões anais sadomasoquistas reprimidas são características da histeria em massa nazifascista), homofobia, racismo, desejo de exterminar o inimigo imaginário, Bolsonaro nunca escondeu isto em seus discursos. Assustador e revelador foi vê-lo falar de seus intentos abertamente em uma reunião ministerial.

    Passos para montar um exército de milicianos nazistas, Bolsonaro e seus filhos metralha já tem dado de maneira aberta. O motim nazifascista no Ceará teve a participação aberta do bolsonarismo. Durante a ditadura militar, militares de baixa patente, praças e paramilitares eram apenas uma linha auxiliar do regime. Não acertamos a conta com nosso passado. A anistia perdoou os criminosos e, sadicamente, perdoou as vítimas. Igualou quem matou e quem morreu. Anistiou criminosos igualando suas vítimas aos torturadores. Os esquadrões da morte, as milícias, todas as organizações paramilitares são herança da ditadura.

    Todavia, a história não se repete. A primeira vez ela acontece como tragédia, a segunda vez, como farsa. Se na ditadura militar, o imenso contingente de oficiais de reserva, praças e baixas patentes, tanto das forças armadas, quanto das PMs, era uma linha auxiliar controlada facilmente pelo regime, com Bolsonaro (que no máximo teria atuado em 64 como algum torturador do delegado Fleury), esses homens tornam-se constituintes de um poder que se organiza de maneira subversiva e paralela, e chantageia e pressiona todo o tempo o Estado Democrático de Direito.

    A finalização de um golpe, com a tirania pessoal de Bolsonaro não é o único perigo para a democracia. Já vi várias análises dizendo que este golpe é inevitável (não concordo com este fatalismo, embora também alerte para o perigo golpista). Com certeza Bolsonaro tem esta aspiração e força os limites de nossa pálida democracia toda semana. Mas, como ele mesmo diz, se vê limitado pelos, cada vez em menor número, alucinados com seus cartazes pró AI5 que consegue reunir na frente do Palácio do Planalto. Basta ver as imagens aéreas em comparação com, por exemplo, as manifestações contra a PEC 95.

    Imagem distribuída pelo próprio Bolsonaro da manifestação a seu favor em 24 de maio de 2020
    Protesto contra a PEC do Teto dos Gastos em 29/11/2016. Foto: www.mediaquatro.com . Ver mais em https://jornalistaslivres.org/cronica-de-um-dia-tragico-em-brasilia/

    Enquanto não consegue finalizar seu intento de uma tirania pessoal, vai financiando e armando suas milícias pessoais. Já conseguiu emplacar até o advogado do escritório do crime como assessor no ministério da saúde. Não temos ideia de quantos mais milicianos estão nomeados em cargos de terceiro, quarto ou quinto escalão pelo país. O nazista disse abertamente na reunião ministerial que quer armar o povo (suas milícias) para derrotar o “inimigo”. Quem for considerado inimigo, ele já declarou diversas vezes, deve ser expulso do país ou sofrer as consequências. E quem pensa que é delírio, é bom lembrar que Bolsonaro aumentou o limite de compra de projeteis de 200 munições por pessoa/ano para 500 por mês (6.000 por ano), o que dá para montar pequenos exércitos milicianos. Junte-se a isto a medida que afrouxa a marcação controle de munições por parte do exército e para a qual chegou a exonerar um general e colocá-lo na reserva. Todos estes movimentos aconteceram sob nosso olhar complacente, sem nenhuma reação nossa.

    O perigo das milícias nazistas é maior que o do golpe. O Brasil se transformar na Colômbia, onde bandos paramilitares agem livremente assassinando opositores à luz do dia. Já temos isto feito de forma aberta no campo brasileiro. Já houve uma experiência de terror controlado, executada pelo mesmo escritório do crime ligado ao bolsonarismo, no caso Marielle. Devemos tomar as medidas democráticas legais para que o crescimento e o poder armamentício das milícias não avance mais do que avançou. Lembrando que o Rio de Janeiro, território onde o bolsonarismo foi criado, já tem bairros inteiros dominados por ela, às claras, e com a total omissão do poder público. E a maior apreensão de armas de guerra de última geração no estado, 117 fuzis modelo M-16 vindos dos EUA, foi feita na casa de um amigo/sócio do vizinho de Bolsonaro, o miliciano Ronnie Lessa, acusado de ser o assassino de Marielle.

    O passo mais descarado e ostensivo para isto foi dado por Paulo Guedes. Espanta-me que a esquerda tenha protestado apenas contra o “trabalho escravo”, quando Guedes tem a coragem de anunciar que quer treinar jovens nos quartéis e depois usá-los para cavar buracos, pagando 200 reais por mês.

    O menos ruim aí é o trabalho escravo. Creio que a maioria das pessoas nem se deu conta de que Guedes sugeriu criarmos a guarda nazista, a juventude hitlerista bolsonarista, com dinheiro público. O problema é que a esquerda introjetou o absurdo. Alguns estados governados pela esquerda aceitaram a excrecência que são as escolas cívico-militares, colégios de “pedagogia” militar em plena democracia. Algo não previsto em lugar nenhum da nossa constituição, mas que diante da falta de verbas, quando condicionadas a elas, foram aceitas avidamente de norte a sul. Mas, muito pior do que isto é a proposta de milícias estatatais bolsonaristas feita por Guedes.

    O governo financiaria jovens que iriam para os quartéis serem doutrinados com “OSPB” e, depois, por 200 reais por mês, estariam disponíveis para “ações governamentais”. A disciplina Organização Social e Política do Brasil, nem matéria escolar é mais. Tenho 49 anos, portanto, sou da geração que teve OSPB e Educação Moral e Cívica na escola. Cada estabelecimento de ensino dava, nessas matérias, aquilo que desejava. Além de ensinar o hino nacional e o que representava cada estrela da bandeira, podiam incluir a estrutura do estado e até história. Obviamente que, usando-se as forças armadas para amestrar jovens, através de OSPB, não vai se ensinar hoje a eles “direitos humanos”. Jovens pobres (nenhum jovem de classe média vai se alistar para ganhar 200 reais por mês) que serão doutrinados e estarão ao dispor do Bolsonarismo, para qualquer ação por uma ninharia, e tudo pago com dinheiro público.

    Óbvio que temos que evitar isto! E uma das formas é denunciar que a maior tragédia é que de maneira clara e aberta o bolsonarismo tenha coragem de propor a criação de uma milícia paga com dinheiro público, sem acobertamentos, sem subterfúgios.

    O anjo da história, tese IX de Benjamin, olha para o passado, para a sucessão de tragédias e catástrofes, para o sofrimento dos humilhados e derrotados, mas é impelido por um vento irresistível para o futuro. É impossível parar a roda da história. Mas é possível SIM evitar as catástrofes, as tragédias, antes que elas aconteçam. O bolsonarismo já desdenha ocultar que declarou uma guerra de morte à frágil democracia brasileira. Temos que estar alertas e desarmar seus planos, destruir sua tentativa de criação de um gigantesco exército paramilitar. Ou paramos esta construção, o autômato do mal absoluto e estrutural, ou ele ficará maior que Bolsonaro. Um exército de paramilitares, milicianos, armados até os dentes, de jovens alistados e mal pagos para cumprir tarefas de uma seita nazista, lutando contra um inimigo imaginário, é uma séria ameaça à democracia, que está sendo arquitetada, tijolo por tijolo, frente a nossos olhos complacentes.

     

    Roberto Ponciano é escritor, mestre em Filosofia e Letras, especialista em Economia.