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  • Exposição em São Paulo discute consumo e sustentabilidade

    Exposição em São Paulo discute consumo e sustentabilidade

    A arte é o principal instrumento humano de reflexão sobre a realidade desde quando vivíamos nas cavernas. Atualmente, pensar as ações cotidianas e seu impacto sobre o planeta é uma das tarefas dos artistas. Wilton Garcia sabe disso: “experimentar é arriscar, por isso a arte contemporânea torna-se uma enorme aventura de subjetividades, ao prevalecer a produção de efeito. Entre estética, técnica e ética, os trabalhos desta exposição vasculham o resto, a sobra, para debater nossa (re)dimensão representacional de sujeito contemporâneo. Gosto de propor desafios. Provocar reflexão faz parte da minha proposta”.

    Nesse aniversário de São Paulo, sábado 25 de janeiro, às 11 horas, na CAIXA Cultural São Paulo, próximo ao Metrô Sé, a cidade vai ganhar de presente uma exposição com entrada gratuita ao público que aborda arte, meio ambiente e consumo.  A Exposição instalação XXX_, de Garcia, apresenta trabalhos que utilizam técnicas mistas (colagem, desenho, escultura, fotografia, pintura), ao (re)utilizar materiais descartáveis para criar experimentações poéticas. Essas experimentações apostam no exercício criativo de reapropriação e reuso de diversos materiais precários, sensíveis, que exploram o debate sobre sustentabilidade. De fato, são trabalhos estéticos que evidenciam o objeto, sua representação (desenho, fotografia) e colocam em discussão o limiar do consumo.

    Para os interessados em conhecer mais sobre arte contemporânea alinhada ao meio ambiente e ao consumo, o artista e o curador Luciano Maluly (professor de jornalismo na ECA-USP) oferecerão uma visita guiada também no dia 25 de janeiro, às 13 horas; e um workshop criativo no dia 22 de março, às 13 horas.

    Garcia fez mestrado e doutorado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e, atualmente, é professor e pesquisador na FATEC Itaquaquecetuba e na Universidade de Sorocaba (Uniso). Desde 2000, participa de exposições coletivas e individuais, em São Paulo, Rio de Janeiro e Nova York. Como artista e pesquisador, trabalha com imagem, fotografia e objeto que compreendem estudos contemporâneos. Alguns de seus projetos podem também ser vistos em www.devoradigital.wordpress.com

    Com produção de Rosa Maria Esteves Migotto, a mostra reúne dez conjuntos produzidos pelo reaproveitamento desses materiais. A instalação XXX_, do artista visual Wilton Garcia, estará em exposição até o 22 de março de 2020, das 13 às 19 horas e conta com o apoio da CAIXA Cultural São Paulo e da Fundação para o Desenvolvimento das Artes e da Comunicação (FUNDAC).

  • Exposição – Jornalismo Independente do Analógico ao Digital – 15 anos da MediaQuatro

    Exposição – Jornalismo Independente do Analógico ao Digital – 15 anos da MediaQuatro

    A esperada grande exposição de fotografias, vídeos, documentários e reportagens dos Jornalistas Livres Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá já tem data marcada: 7 de fevereiro a 8 de março de 2019. Além dos trabalhos retratados no livro homônimo lançado em 2017, a exposição Jornalismo Independente do Analógico ao Digital – 15 anos da MediaQuatro, traz ainda, em comemoração aos 300 de Cuiabá e aos 40 anos da Universidade Federal de Mato Grosso, coberturas de eventos realizados esse ano na cidade e fotografias especialmente preparadas pelos alunos da disciplina de Fotojornalismo I do curso de Jornalismo da UFMT Campus Cuiabá. Na mostra estarão à disposição do público histórias de luta, superação, violência, injustiça, mobilização e esperança coletadas na África, Ásia, Europa, Estados Unidos e América Latina, incluindo, claro, Brasil e Mato Grosso.
    29ª Romaria dos Trabalhadores e Trabalhadoras e da 1º Romaria da Terra e das Águas – Cuiabá 2018 – https://www.mediaquatro.com/single-post/2018/05/02/%E2%80%9CDireitos-n%C3%A3o-se-pede-de-joelhos-exige-se-de-p%C3%A9%E2%80%9D
    Por mais de uma década e meia, Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá têm trabalhado, desde a produção até a distribuição, em meios impressos e na Internet, em mídia analógica e digital, temas como o fim da guerra em Angola, o preconceito racial na Europa, os movimentos separatistas na Caxemira, a violência urbana na Colômbia, a tragédia das minas terrestres, as manifestações políticas no Brasil… Esses trabalhos, reconhecidos, premiados e expostos no país e no exterior, são inéditos em Cuiabá e seguem o que a dupla chama de cobertura das Realidades e Invisibilidades Midiáticas: problemas que atingem de forma profunda imensos contingentes populacionais sem receber os holofotes da imprensa hegemônica. Para eles, o verdadeiro sentido da Comunicação Social, capturada na película ou no pixel e divulgada no papel ou na internet, é reportar a vida real. É mostrar ao mundo, e de volta aos atores da trama humana enfocada, que juntos podemos construir um mundo melhor.
    O conflito de 80 anos na Caxemira é um dos temas ausentes da m;idia tradicional – Srinagar – 2004 – http://mediaquatr.dominiotemporario.com/caxemira-cc.html
    Serviço:
    Exposição Jornalismo Independente do Analógico ao Digital – 15 anos da MediaQuatro
    Visitação:07/02/2019 a 08/03/2019 – 7:30 às 11:30 e 13:30 às 17:30
    Museu de Arte e de Cultura Popular  da UFMT – Av. Edgar Vieira, 513-549 – Boa Esperança, Cuiabá – MT
    Entrada Franca
    Contatos: Vinicius Souza – (11) 9931-0666 / (65) 99635 3376 http://www.mediaquatro.com
    As minas terrestres seguem fazendo vítimas em alguns dos 11 países da América Latina com campos minados – Colômbia 2005 – http://mediaquatr.dominiotemporario.com/minas-folha.html
  • Decolonize! Terra Brasilis: o agro não é pop

    Decolonize! Terra Brasilis: o agro não é pop

    Por Arthur Imbassahy para os Jornalistas Livres

    Na exposição Terra Brasilis: o Agro não é pop! de Denilson Baniwa, o artista apresenta a luta em um país cortado pelo colonialismo: o latifúndio em oposição aos povos indígenas que há séculos continuam resistindo e existindo apesar de todos os ataques. A exposição começa com duas pinturas, como se por escolha dos curadores esse conflito ficasse mais evidente. De um lado, um jovem índio com cruzes e grafismos na pele. Frases em nheengatu evocam o longo processo de silenciamento que indígenas viveram por toda América nas reduções jesuíticas e continuam vivendo até os dias de hoje com as missões evangélicas. As pinturas seguintes neste lado da exposição fazem uma crítica contundente ao agronegócio. Denilson Baniwa situa a monocultura do agronegócio junto com outros frutos do colonialismo, que também tentam exterminar a diversidade para a afirmar uma só espécie, um só Deus, uma só língua. Do lado contrário, a prova que o colonialismo não conseguiu silenciar a língua e a criatividade de um povo. Na pintura chamada Waferinaipe ou os antigos heróis do universo que abriram o umbigo do mundo, Denilson Baniwa torna presente uma cena fundante: a origem da humanidade.

    O Minotauro ou Mánhene (O veneno do mundo)

    Na legenda desta imagem, o artista conta que só mesmo um golpe publicitário conseguiria fazer o agronegócio (latifúndio modernizado, o que há de mais velho no Brasil) passar por pop. Também formado em publicidade, Denilson Baniwa revela o que se esconde por trás dos slogans: o minotauro, tal como o agronegócio, prende o Brasil em seu labirinto de suposta salvação econômica. Enquanto isso o devora. O deserto verde de um campo de soja aparece em outra pintura como uma “terra envenenada com odor de morte”, plantas crescendo com agrotóxico sobre um cemitério de floresta. Mas a resistência se faz presente. Em uma Amazônia cada vez mais destruída, as terras demarcadas são um oásis. Denilson Baniwa presta uma homenagem a todos ativistas indígenas que lutam para reverter a situação e garantir o direito à terra, como fez a liderança guarani Marçal Tupã até ser assassinado em 1983 no Mato Grosso do Sul.

    Waferinaipe ou Os antigos heróis do universo que abriram o umbigo do mundo

    Já no outro lado da entrada, a obra Waferinaipe mostra que cinco séculos de colonização não foram capazes de silenciar as expressões cosmológicas de um povo e a criatividade de um artista. Talvez seja esta a obra de maior força da exposição, uma força capaz de afirmar outra origem para o mundo. Denilson Baniwa é um dos principais nomes de uma geração de artistas que afirmam a diferença no mundo da arte. Posições minoritárias que sempre existiram, mas como disse o poeta, ensaísta e tradutor Haroldo de Campos foram “objeto de sequestro” pela historiografia oficial. Este resgate feito por Denilson Baniwa, também realizado pela Rádio Yandê da qual é um dos coordenadores, se aproxima de uma estratégia bastante usada no Brasil ao longo do século XX, por nomes como o próprio Haroldo de Campos. Trata-se de incorporar o que pode ser positivo no Ocidente (suas tecnologias de comunicação, por exemplo), negar seus aspectos negativo (neste caso o agronegócio), e a partir daí afirmar uma outra posição, mas desta vez bem armado. Tudo isto, é claro, afirmando a contemporaneidade dos povos indígenas. No vídeo do Instituto Socioambiental, “#menospreconceitomaisíndio, uma voz baniwa se pergunta: se tudo mudou desde 1500 e o homem branco continua branco, por que os indígenas não podem mudar e continuar indígenas?

    awá uyuká kisé irumu, ta uyuká kurí aé kisé irü (quem com ferro(faca) fere, com ferro(faca) será ferido)]

    A exposição Terra Brasilis: o agro não é pop! de Denilson Baniwa com curadoria de Wallace de Deus e Pedro Gradella vai até terça-feira (01/05, até as 22h) e é parte do projeto Brasil: a Margem, que aconteceu no mês de abril no Centro de Artes da UFF, Niterói – RJ. O projeto também contou com uma apresentação de Nelson Sargento, a exibição do filme Híbridos, a exposição Devotos, e um debate sobre a intervenção militar no Rio de Janeiro, dentre outras atividades.

     

  • MAM unido contra o fascismo e a censura

    MAM unido contra o fascismo e a censura

    #CulturaResiste

    #CulturaReflete

     

    Meu nome é Andrea Lombardi e trabalho no MAM-SP há quase sete anos na área de parceiros corporativos e nas mídias digitais. O que eu e meus colegas do museu passamos na sexta 29 de setembro durante a invasão (sim, foi uma invasão – eles pagaram os R$6 de entrada, mas não estavam interessados na exposição e nem no museu) de pessoas ligadas ao MBL, Alexandre Frota e movimentos conservadores, mostra o quanto estávamos firmes e resistindo à barbárie. Se existia alguma beleza nisso tudo, foi ver o museu unido contra essas pessoas que claramente não estavam interessadas no debate e sim na histeria coletiva.

    Desde quinta-feira (28), por volta das 20 horas, de forma sistemática, ativistas neoliberais iniciaram uma série de ataques sob acusação de pedofilia, nas redes do museu, após uma mulher postar um vídeo em que sua filha manipulava o artista Wagner Schwartz durante a performance “La Bête” na abertura do 35o Panorama da Arte Brasileira, na última terça-feira (26).

    Eu estava lá, participei da performance, assim como outros colegas. O trabalho apresentado na ocasião não tem conteúdo erótico e trata-se de uma leitura interpretativa da obra Bicho, de Lygia Clark, historicamente reconhecida pelas suas proposições artísticas interativas. O artista se deixava manipular pelo público sem sequer trocar palavras ou olhares com quem interagia na obra, como se ele fosse apenas um objeto a ser manuseado pelo público. A sala estava devidamente sinalizada sobre o teor da apresentação, incluindo a nudez artística, seguindo o procedimento regularmente adotado pela instituição de informar os visitantes quanto a temas sensíveis.

    A histeria nas redes continuou pela madrugada afora. A maioria replica as acusações à performance sem terem visto o que de fato ocorreu, sem entender seu contexto, apenas deixando-se levar pelas ondas de ódio que as redes sociais tão facilmente criam e repercutem.

    Ontem pela manhã as caixas de e-mails de todos os funcionários estavam cheias de mensagens violentas e nossos telefones não paravam de tocar. Algumas raras pessoas que nos ligavam estavam interessadas em saber o que ocorreu, a maioria apenas ligava para xingar ou nos ameaçar. Sim, todos sofremos ameaças! Estão todas documentas.

    Por volta das 17 hs horas, Alexandre Frota e seus amigos chegaram ao museu. Acho que nunca tinham entrado, pois abriam as portas dos setores administrativos achando que iriam encontrar pessoas peladas ou algo do tipo. Depois de 20 minutos chegaram mais pessoas, mas que não passavam de 30. Algumas carregando a bandeira do Brasil, outras gritando Bolsonaro 2018, questionando “o que vocês estão fazendo com as nossas crianças?”, jogando pedra da Geni – aka Lei Rouanet, etc. Aquele discurso cansaaaaaado do MBL que consegue, tristemente, impactar muitos por aí.

    Não existia diálogo. Era só gritaria. Eu tentei duas vezes argumentar com duas senhoras descontroladas, mas é difícil manter a calma com se trata de falsos moralistas, que em nome dos bons costumes querem acabar com a diversidade. Quanto me vi, estava com as pernas tremendo e com o coração batendo forte.

    A “manifestação” durou em torno de 1 hora. Em meio aos recentes acontecimentos foi reconfortante saber que existe uma união do setor cultural. Todos os diretores e curadores das grandes instituições culturais de São Paulo estavam conosco. Os mesmos que levantam taças em jantares de colecionadores, eram os que recebiam xingamentos de maneira indignada mas pacífica. Todos se posicionaram e apoiaram a equipe do MAM-SP naquele momento.

    Foi bom saber que o museu não irá se calar. Assim, como todas as instituições declaram apoio público ao MAM. Para esse fim de semana convoco todos para levarem seus filhos, amigos, namorados, namoradas para virem ao museu e declarar seu apoio.

    http://mam.org.br/

    Aqui, deixo o texto de abertura da exposição que está na parede do 35º Panorama da Arte Brasileira, escrito pelo curador Luiz Camilo Osório:

    BRASIL POR MULTIPLICAÇÃO

     

    Da adversidade seguimos vivendo. Em 1967, Hélio Oiticica escreveu um texto determinante para se pensar a arte e o Brasil. Intitulado “Esquema Geral da Nova Objetividade”, há nele um desenho panorâmico da cena artística àquela altura e dos desafios a serem enfrentados. Escrito em um momento politicamente tenso, com desalentadoras perspectivas de futuro, para dizer o mínimo, ele destaca seis características da arte brasileira: (1) vontade construtiva; (2) tendência para o objeto; (3) participação do espectador (corporal, tátil, semântica); (4) abordagem e tomada de posição em relação a problemas políticos, sociais e éticos; (5) tendência para proposições coletivas; (6) ressurgimento e novas formulações do conceito de antiarte.

    Uma pergunta, ainda atual, perpassava a escrita do Esquema Geral: como apostar em uma relação nova entre singularidade local e inserção global. No caso da cultura brasileira – e isso foi colocado de modo muito original pela geração tropicalista sob a influência da Antropofagia – nossa singularidade foi sendo construída pela mistura de diferentes matrizes culturais. Ou seja, não temos uma essência própria, uma marca de origem a ser depurada de qualquer contaminação indesejada, vivemos da apropriação constante do outro, somos uma colagem de influências que não para de se transformar. Como escreveu Oiticica, estamos sempre “à procura de uma caracterização cultural, no que nos diferenciamos do europeu com seu peso cultural milenar e do americano do norte com suas solicitações superprodutivas”.

    As seis características apontadas acima seguem valendo – não obstante as diferenças de contexto – para se pensar a arte produzida hoje. Buscamos evidenciar isso neste Panorama. Sem qualquer tematização daquelas tendências, elas perpassam indiretamente os trabalhos aqui apresentados. A despeito da falência da ideia de progresso e de uma avassaladora crise urbana e ambiental, ainda resiste uma vontade construtiva entre nós. Uma construção que se sabe frágil, mas crucial para enfrentar os riscos de uma informalidade desagregadora. Nota-se também uma crescente abertura do fazer artístico para problemas sociais, éticos e políticos, ou seja, para um engajamento, nada simplificador, que acredita nas brechas em que a arte quer se infiltrar para tentar mudar as coisas – sabendo-se que querer mudar não basta e que sua impotência pode ter desdobramentos imprevistos.

    Reunir em uma exposição, que se pretende um Panorama da Arte Brasileira, desde a concretude da intervenção arquitetônica até a fluidez da dança, passando pelo audiovisual, pela escultura, pela fotografia e pela palavra, mais que explicitar a diversidade da cena contemporânea, em que a divisão de meios expressivos e de disciplinas parece obsoleta, busca ressaltar a multiplicidade de tempos que compõem nosso momento histórico. O tempo do corpo que dança, da palavra escrita e da imagem projetada respondem a formas de percepção e de experiência plurais. Simultaneamente, é parte de nosso desafio articular os diferentes imaginários que se contaminam e se multiplicam no Brasil entre a cidade e a floresta, as comunidades periféricas e os centros cosmopolitas, entre o caos, a indeterminação e o mito.

    Misturar poéticas conflitantes, trazer outras vozes e gestos para dentro das instituições que constroem as narrativas hegemônicas, revelar antagonismos e diferenças, tudo isso é parte de uma ideia de Panorama e de uma discussão sobre o Brasil. Isso, no exato momento em que o Brasil vive uma de suas piores crises de identidade, quando a promessa de futuro virou uma terrível distopia que constrange as possibilidades do presente, parece propício colocar, mais uma vez, a pergunta sobre o Brasil. O Problema-Brasil é um desafio e uma miragem: aparece como promessa de alegria, mas escapa quando vamos em sua direção. E, a cada passo, parece que vai para mais longe. Entretanto, não dá para virar as costas; há que se encarar a miragem, ao mesmo tempo ilusória e real, fazendo deste enfrentamento o caminho para nos tornarmos menos assombrados com nossa assustadora incompetência coletiva. A arte é o espaço disponível para ampliarmos o campo do possível.

     

     

  • Pensar no passado para questionar o presente: ditadura em pauta

    Pensar no passado para questionar o presente: ditadura em pauta

    “Nos tempos sombrios, se cantará também? Também se cantará sobre os tempos sombrios” – Murilo Mendes, Poesia do Exílio

     

     

     

    A ditadura militar tomou a paz, os direitos e a vida de muitas pessoas no Brasil entre os anos de 1964 e 1985. Com o processo de redemocratização, foram anistiados os bravos lutadores e as bravas lutadoras que, com seu suor e sangue, dedicaram suas vidas a garantir que o futuro da nossa nação fosse melhor.

    Porém, a anistia foi total e irrestrita, e isentou da responsabilidade também àqueles que mataram e torturaram em nome do estado. Anos se passaram, e pouco reviramos os arquivos dos tempos sombrios da ditadura. Somente a partir de 16 de maio de 2012, a Comissão Nacional da Verdade criada pela Lei 12528/2011 foi instaurada no país e as mortes e os desaparecimentos começaram a ser investigados.

    Todas as graves violações de Direitos Humanos ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988 começaram a sair de debaixo dos panos, mas mesmo assim, o silêncio em relação ao tema ainda predominava. Pouco falamos sobre este período de vergonha brasileiro, fingimos que as atrocidades não aconteceram, e pior: fingimos que estas não tem ligação com nosso presente devastador.

     

     

    A exposição, um ato político de resistência por si só, por existir estampada em paredes apesar dos desmandos do governo, nos convida a refletir sobre para onde queremos ir e que lado de nós mesmos queremos refletir em 2017. Ela é parte do projeto Memorial da Anistia, que prevê outras ações, mas está parado pelos embargos e desmandos do Ministério da Justiça de Michel Temer.

    Reproduzo aqui palavras do memorial de abertura, escritas por Leda Martins e Silvana Cóser, da coordenação e supervisão geral:

    “É precisamente por recusar o esquecimento e a cegueira, aos quais os fatos históricos e cotidianos estão sujeitos, e por optar por seguir os rastros da história e da memória que a Universidade Federal de Minas Gerais traz a público, com muito orgulho, compromisso institucional e dever cívico, esta exposição que se propõe a relembrar e reviver um dos momentos mais marcantes e traumáticos da história nacional: o golpe de 1964, o estado de exceção vivido pelo povo brasileiro, a anistia que se seguiu e a longa construção do processo de reparação e justiça.”

    É preciso resgatar nossa história, transformar a memória em canto e coro, para que crise, desemprego, violência policial, perda de direitos e tantas outras histórias não se repitam. É preciso não se calar. É preciso conhecer o pior de nossas raízes para renascer do novo. Concluo repetindo as palavras de Fabrício Fernandino, curador da exposição: “Só não sintamos indiferença”.

     

     

     

  • Inédita na América Latina, “Mandela em Cartaz” é atração em Curitiba

    Inédita na América Latina, “Mandela em Cartaz” é atração em Curitiba

     

    A arte gráfica para homenagear o líder da paz mundial, Nelson Mandela. Foi o que inspirou uma dupla de designers sul-africanos a criar, em 2013, um projeto para celebrar os 95 anos do ex-presidente da África do Sul.

     

    O resultado desse projeto — um total de 95 obras originárias de todos os cantos do planeta — pode ser conferido na exposição “Mandela em Cartaz”, promovida pela Caixa Cultural em Curitiba, até 27 de setembro.

    É a primeira vez que a mostra ocorre na América Latina. Depois da capital paranaense, a exposição segue para Salvador, também na Caixa Cultural daquela cidade, onde vai ficar aberta à visitação entre os dias 5 de outubro e 29 de novembro. A entrada, nos dois casos, é gratuita. Entre exposição física e apresentações virtuais, a mostra terá alcançado, até o final deste ano, 12 países, conforme informa o material de divulgação do evento.

    Na exposição em Curitiba, além dos 95 cartazes, expostos no andar de cima da galeria da Caixa Cultural, o público confere, no pavilhão térreo, um painel estilo linha do tempo da vida de Mandela, e ainda livros e revistas, e em entrevistas em curtas-metragens.

    Destaque, nessa seção, para o caderno no qual os visitantes — em especial as crianças — deixam suas impressões sobre a mostra. Por meios de desenhos ou frases, há mensagens de admiração por Mandela, outras em defesa da igualdade, e de repúdio ao preconceito e todas as formas de discriminação.

    VISITA GUIADA E OFICINA

    Durante o período em que “Mandela em Cartaz” vai estar em Curitiba, serão promovidas pelo menos duas visitas guiadas, com a curadora da mostra, Ruth Klotzel, e ainda uma oficina de confecção de cartazes. A primeira visita guiada ocorreu na abertura, no dia 18 de julho. A segunda está marcada para o dia 12 de setembro, às 16 horas.

    Também para o dia 12 de setembro, no período da manhã, está marcada a oficina. De acordo com a gerência da Caixa Cultural em Curitiba, para participar é preciso se inscrever com antecedência, pelo e-mail oficinamandela@gmail.com. As inscrições devem ser feitas até 2 de setembro.

    SOBRE A EXPOSIÇÃO

    Os mentores da mostra são os designers Jacques Lange e Mohammed Jogie. Em maio de 2013, às vésperas do aniversário de 95 anos de Nelson Mandela (18 de julho), a dupla promoveu uma espécie de concurso internacional de cartazes, que fossem desenhados especialmente para homenagear o líder mundial. Para isso, fundaram a Mandela Poster Collective, associada à Universidade de Pretoria.

    Em dois meses de inscrição, a fundação recebeu em torno de 700 trabalhos, de pelo menos 70 países. Desses, foram selecionados os 95, de 37 países, para compor a coleção. A primeira exposição, na Universidade de Pretória, foi aberta em 17 de julho daquele ano. Nelson Mandela viria a morrer quase seis meses depois, em 5 de dezembro de 2013.

    Os cartazes, em sua maioria, são carregados em cores; trazem elementos que fazem referência principalmente à luta contra o apartheid, contra a discriminação racial e pela igualdade de direitos. Alguns mesclam desenhos a imagens fotográficas — incluindo registros de Nelson Mandela mais jovem.

    Até o final da primeira semana de agosto, em torno de 500 pessoas já tinham visitado a exposição. Boa parte do público tem sido formada por crianças e adolescentes, estudantes de escolas públicas de Curitiba e região, que vão ao local transportados pela própria Caixa Cultural, por meio do projeto “Gente Arteira”.

    A Caixa Cultural em Curitiba fica no Centro da cidade, na Rua Conselheiro Laurindo, 280. A exposição fica aberta de terça a sábado, das 10h às 20h, e aos domingos, das 10h às 20h.