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  • “Colapso já era. Estamos indo pra Mad Max”, diz presidente da CUFA

    “Colapso já era. Estamos indo pra Mad Max”, diz presidente da CUFA

    Essa semana, o líder comunitário Preto Zezé, presidente da Central Única das Favelas, deu uma longa entrevista ao site Unidade na Diversidade sobre os impactos da pandemia do novo coronavírus nas comunidades por todo o Brasil. Ele aponta a tragédia anunciada das ações do governo federal, a impossibilidade do isolamento social em determinados territórios, mas também o ressurgimento forte de agendas como a Renda Mínima Social, a taxação das grandes fortunas, a diminuição da desigualdade social, etc.

    Um bate-papo descontraído com Rudá Ricci, Tânia Dornellas, Eugênio Peixoto e Osires Gianetti O relatório completo sobre a situação pode ser encontrado em nosso site: https://unidadenadiversidade.com.br/

     

    Perfil do Preto Zezé no twitter https://twitter.com/pretozeze

    Sobre a CUFA (Central Única de Favelas) http://www.cufa.org.br Mães da favela https://www.maesdafavela.com.br

     

    Veja a entrevista completa em: https://www.youtube.com/watch?v=u4dB1lFH8MM

  • Lula avisa: “Tenho muita coisa para fazer ainda”

    Lula avisa: “Tenho muita coisa para fazer ainda”

    “Não vou deixar a solidão tomar conta de mim, não vou deixar o ódio tomar conta de mim, não vou desanimar, não vou ficar deprimido. Não conheço a palavra depressão. Se já tive, não sei. Tenho muita coisa para fazer ainda”, relatou ex-presidente Lula em entrevista ao jornal “Brasil De Fato”. Confira a seguir o que contou o ex-presidente:

    “Uma coisa que me interessa muito é ler sobre a escravidão. Estou aprendendo porque o Brasil é do jeito que é, porque ainda existe preconceito. Sempre gostei muito de música e estou ouvindo bastante, recebo um pendrive com músicas. Gosto muito de samba, ouço Chico, ouço Caetano, o Gil, ouço muitas músicas daquelas, como chama, cânticos gregorianos. Às vezes, eu durmo com cantos gregorianos.
    Eu recebo muita coisa. E muito debate também. Peço a alguns companheiros que gravem análises de conjuntura para mim. Então, às vezes o João Paulo (do MST) grava uma análise de conjuntura, às vezes o Genoíno me grava, a [Marilena] Chauí me grava, o [Luiz] Dulci me grava, a Gleisi [Hoffmann] me grava, o Jessé [de Souza], o Eduardo Moreira, o Aloízio Mercadante. Eu vou pedindo às pessoas, que vão gravando.
    Como não tem o que fazer, sento para ler, ou sento e fico vendo as pessoas falarem, fico discutindo sozinho com as pessoas, discordando das pessoas. Às vezes, fico puto como as pessoas falam bobagens a meu respeito. E não estou lá para dizer: “Não é assim, rapaz”. Assim vou vivendo.
    Eu vou dormir por volta de meia-noite, 1h da manhã. Acordo todo dia às 6h30, faço meu café, faço um café de qualidade. Acho que não tem ninguém que faça um café melhor do que eu.

    Quero que vocês saibam que essa história de eu falar que vou casar é verdade. Na verdade, encontrei uma meia cara que está me ajudando a vencer essa barreira aqui. Então, não vou deixar a solidão tomar conta de mim, não vou deixar o ódio tomar conta de mim, não vou desanimar, não vou ficar deprimido. Não conheço a palavra depressão. Se já tive, não sei. Como fui corintiano e fiquei 23 anos sem ganhar um título, perdendo para o Santos 15 anos consecutivos, vendo Pelé humilhando o Corinthians – eu ia ao estádio, chegava lá e dava 3 a 0, 4 a 0 –, então acho que não vou ter depressão. Tenho certeza, posso dizer para vocês comunicarem o pessoal lá fora, que vou sair mais maduro, mais preciso naquilo que quero fazer. Vou sair mais lutador do que fui. Estou bem fisicamente. Obviamente que sei que a natureza é implacável, mas como me decidi que vou viver até os 120 anos, que a “Caetana” não venha bater na minha porta, que não tem espaço para ela entrar [referência ao livro “A Moça Caetana – A Morte Sertaneja”, de Ariano Suassuna]. Tenho muita coisa para fazer ainda.
    Então, estou assim, nesse momento da minha vida. Obviamente, fico sonhando em sair daqui, decidir onde vou morar. Quando deixei a Presidência, tinha vontade de morar no Nordeste, vontade de voltar para meu Pernambuco, vontade de morar não perto da praia, mas num lugar em que pudesse ir à praia. Pensava em ir para Bahia, Rio Grande do Norte, mas a Marisa não quis ir porque ela nasceu em São Bernardo [do Campo], e o mundo dela era São Bernardo. Eu não tenho mais o que fazer em São Bernardo. Não sei para onde ir, mas quero me mudar para outro lugar. Quero viver. Espero que o PT me utilize, espero que a CUT me utilize, espero que os sem-terra me utilizem, espero que os LGBT me utilizem, espero que os quilombolas me utilizem, espero que as mulheres me utilizem, espero que todo mundo me utilize para fazer com que eu tenha utilidade nessa minha passagem pelo planeta Terra. Vou sair daqui tranquilo. Não vou dizer que cumpri minha missão, mas vou sair daqui tranquilo, como cidadão consciente do seu papel na história.
    Sou muito agradecido às manifestações dos artistas. Tenho visto pelo pendrive shows no mundo inteiro. Aliás, acho que o PT e os movimentos sociais deveriam fazer da questão cultural uma das bandeiras mais importantes. A gente não pode deixar que esses caras destruam a cultura. A cultura não tem propriedade do Estado. A cultura é uma prioridade da sociedade – ela que se aproveite da cultura e a criatividade que o nosso povo tem nesse país. Não podemos abdicar disso.
    É isso que vocês vão levar daqui. Quero que vocês digam para todo mundo que estou bem, estou muito disposto a brigar. Tenho certeza de que o Moro não dorme com a consciência tranquila como durmo. Tenho consciência de que o Dallagnol está precisando tomar remédio para dormir, talvez tarja preta, porque ele sabe que é mentiroso, ele sabe que foi canalha no meu processo. Estou aqui, para a raiva deles. Porque acho que eles ficam com mais raiva quando eles percebem que estou bem.
    Então, muito obrigado. Quero que vocês transmitam um abraço a todo mundo. Quando sair daqui, espero que a gente faça uma boa entrevista – e um churrasco. Há um livro que li que me impressionou muito, chamado “Um Defeito de Cor”, de uma moça chamada Ana Maria Gonçalves. Eu li “Escravidão”, do Laurentino Gomes, muito bom. Eu tenho lido muito. Li, da escravidão, “O Alufá Rufino” [de Flávio dos Santos Gomes, João José Reis e Marcus J. M. de Carvalho]. É muito bom. É um tema que me apaixonou, porque nunca consegui entender.
    Não sei se vocês lembram, quando eu era presidente, a gente tentou, foi aprovada uma lei, o Fernando Haddad [então ministro da Educação] deve se lembrar disso, para ensinar a história africana no Brasil, que era umas formas que eu achava que a gente iria vencer o preconceito nesse país. Não sei se aconteceu. Pelo que estou vendo, até universidade afro-brasileira está sendo destruída lá em Redenção (CE). Acho que eles estão desmontando isso. Mas estou aprendendo muito.
    As pessoas são muito generosas, as pessoas mandam muitos livros, muito material importante. Esses dias, recebi uma cartinha bonita daquela menina que está em Oxford e participou da equipe daquele médico que ganhou um prêmio Nobel de Medicina; uma menina do Rio Grande do Norte que está com ele, é brasileira. Ela mandou uma cartinha bonita. Eu recebo muita coisa bonita, muita gente generosa. Eu não sei se vou ter força para abraçar todo mundo quando eu sair daqui. Se a minha bursite não voltar…”

     

  • Tariq Ali: “Você olha para Sergio Moro e não vê a cara da Justiça”

    Tariq Ali: “Você olha para Sergio Moro e não vê a cara da Justiça”

    Publicado originalmente em  Pública – Agência de Jornalismo Investigativo   l  Por Natalia Viana no dia 11 de julho de 2019          

     

    Defender Julian Assange é defender o direito que as pessoas têm de saber como estão sendo governadas. É essa a opinião de Tariq Ali, intelectual e escritor paquistanês que lança em agosto o livro “Em Defesa de Julian Assange” (In defence of Julian Assange), que reúne textos de Noam Chomsky, Daniel Ellsberg, Chelsea Manning, Ai Weiwei e Slavoj Žižek, entre outros autores, analisando a situação do australiano fundador do Wikileaks. A autora desta entrevista também colaborou para o livro, que está em pré-venda, em inglês, no site da editora ER Books. Toda a renda será revertida para a organização Courage Foundation, que auxilia Assange e apoia pessoas que vazam informações.

    Julian está atualmente preso na Inglaterra e aguarda o desfecho de uma batalha na justiça britânica sobre um pedido de extradição feito pelos Estados Unidos com base em seu trabalho de divulgação de documentos referentes às guerras do Iraque, do Afeganistão e das embaixadas americanas pelo mundo.

    Nessa entrevista à Pública, Tariq Ali associa a perseguição a Assange à reação de governos contra os movimentos revoltosos que se seguiram à crise de 2008, e afirma que sentiu que era preciso fazer algo para mostrar que ainda hoje há pessoas que não acreditaram nos repetidos ataques à reputação do criador do Wikileaks. “Eles querem punir as pessoas que fornecem informações para as pessoas comuns, porque as elites que controlam nosso mundo hoje tratam as pessoas como crianças. Então o motivo principal é criar um exemplo e deixar as pessoas com muito medo, dizendo, se você vazar algo é isso que vai acontecer”. Tarik também comentou a polícia brasileira e o atual momento do país. Para ele, a vitória de Jair Bolsonaro “foi o crime mais devastador da direita e ultradireita Latinoamericana”.

    Sobre a política brasileira, que eu sei que você acompanha. Qual sua visão sobre o governo Bolsonaro?

    A vitória de Bolsonaro foi o crime mais devastador da direita e ultradireita Latinoamericana. Não se pode dizer que Bolsonaro faz parte da direita tradicional que existe no Brasil. Ele é um personagem cujas ideias vêm da ultradireita, que defende a ditadura militar, e o mais chocante é que a Justiça brasileira participou disso. Pelo amor de Deus, Lula não é nenhum santo ou anjo, mas a maneira em que armaram para ele e o trancaram para não haver nem um candidato confiável no Brasil é parte da tendência de fechar os espaços para o dissenso, e as vozes dissonantes na mídia. Está ligado a tornar extremamente difícil para líderes de esquerda questionarem o sistema. Especialmente líderes como ele, que aprendem com seus erros, pelo menos é o que ele diz. E a coisa interessante é que a maioria dos brasileiros que não são ricos ainda confiam em Lula mais do que em outros políticos, e confiam em Lula mais do que no PT, como um partido. Então prender o Lula foi a única maneira de se livrar dele e isso agora foi exposto.

    Eu me lembro, por exemplo, a maneira como Sergio Moro foi tratado pela mídia, as manchetes na Globo, o apoio da Folha e outros jornais. E agora sabemos o que estava acontecendo. Você olha para a cara de Sergio Moro e não vê a cara da Justiça mas de um político envergonhado, corrupto e enganador, que é o que ele sempre foi. Acho que o PT pagou um preço muito alto assim como o país ao não fazer nenhuma tentativa séria de alterar, de fato, as estruturas políticas e constitucionais do Brasil.

    Então você acha os últimos governos não mudaram o país?

    Acho que a única coisa significativa foi o Bolsa Família, um subsídio para os pobres, e isso foi muito importante, mas não foi estrutural. Ninguém consegue formar uma maioria, então o que você faz? Você compra políticos. E foi um grande erro que Lula e os outros líderes do PT fizeram ao decidir seguir como antes, administrar o mesmo sistema, mas quem iria administrar seriam eles. E toda essa política fracassou. Mas para mim a chave agora é essa: pode o PT ser ressuscitado? Eu não sei.

    Agora falando do livro, por que você decidiu fazer? Quando você começou, no final do ano passado, Assange ainda não tinha sido preso….

    Eu senti que Julian estava sendo isolado globalmente, a combinação dos ataques contra ele de diferentes senadores e políticos nos EUA, o fato que a mídia liberal havia efetivamente deixado de cobrir as suas condições dentro da embaixada… O ex-secretário da embaixada do Equador me disse que as condições estavam muito ruins para ele na embaixada. Então sentimos que tínhamos que fazer algo. Alguma coisa precisava ser feita, dramaticamente e publicamente, para Julian. Também em nome da solidariedade, para mostrar que ainda havia alguns de nós que não tínhamos sido convencidos pelos ataques à sua reputação, pelas calúnias. E nesse sentido o Ministério Público sueco teve um papel extremamente ruim, e o livro demonstra isso, acusando ele de estupro quando havia evidência muito limitada, se é que havia alguma, depois se recusando a vir entrevistá-lo em Londres, insistindo que ele fosse extraditado para a Suécia. Tudo isso foi usado para difamá-lo e prejudicar sua reputação.

    Me deixou muito bravo que ele tenha sido levado para a prisão de Belmarsh, que é uma prisão de segurança máxima, onde são levadas pessoas acusadas de terrorismo. E agora, o governo aceitou que a Justiça britânica poderá julgá-lo e decidir se ele deve ou não ser extraditado para os Estados Unidos. A situação é extremamente séria e acho que as pessoas têm que perceber isso. Mesmo aquelas que não gostam de Julian por razões pessoais têm que ver isso de maneira política e o fracasso em fazer isso é chocante.

    Como as pessoas deveriam ver esse pedido de extradição?

    Basicamente que o governo dos Estados Unidos quer fazer de Assange um exemplo, quer trancá-lo em isolamento como fizeram inicialmente com a Chelsea Manning, e o principal propósito disso, como eu explico na introdução do livro, é criar um efeito dissuasório. É para dizer para as pessoas novas ou velhas que trabalham em agências governamentais: “isso é o que acontece se você vazar ou publicar informação sem permissão legal”. Acho que eles não conseguiram fazer isso com o Snowden, que é diferente de Julian, que jamais trabalhou para governo americano – ele era um jornalista online. Por sorte, Snowden está na Rússia, e eles não vão permitir que alguém o retire de lá. Eles querem punir quem fornece informações para as pessoas comuns, porque as elites que controlam nosso mundo tratam as pessoas como crianças. E como os adultos dizem uns para os outros: “Shhh… Não diga isso na frente das crianças”. Eles não querem que os cidadãos saibam toda a verdade. E a grande imprensa, que publicou algumas coisas do Wikileaks, se afastou muito rapidamente e não publicou todas as revelações, como nós sabemos. Então o motivo principal é criar um exemplo e deixar as pessoas com muito medo, dizendo, se você vazar algo é isso que vai acontecer.

    Você acha que a ideia é também desincentivar jornalistas que publicam material vazado?

    Sim, muito. Mas a maioria dos jornalistas que trabalham para a grande imprensa fazem algum tipo de autocensura. E até mesmo pessoas muito boas. Eles sabem até onde podem ir, mas não vão além. Jornalistas investigativos sérios, online, ainda têm um grande papel a cumprir, mas querem desencorajá-los.

    Das 18 acusações contra Julian na Justiça americana, 17 são relacionadas a publicar o material das embaixadas, da guerra do Afeganistão e do Iraque. Além disso, Assange não estava nos Estados Unidos e nem é cidadão americano. Essa busca por ele pelo governo americano significa um novo patamar?

    Usualmente, governos locais punem jornalistas que fazem isso em seus países. O que é novo é que o governo americano está alvejando jornalistas agora, e não importa a nacionalidade ou de onde eles são. Mas eles já fizeram isso, sob as leis de terrorismo, em toda a Europa. Por exemplo, eles arrancaram pessoas das ruas de muitos países europeus e levaram para países árabes para serem torturados, e depois para Guantánamo. Esse princípio, uma vez aceito que governos podem fazer isso, pode ser usado para tudo. Agora estamos em uma situação em que cada vez mais as elites globais tendem a considerar a liberdade de expressão e a liberdade da imprensa como dispensáveis. Então, o autoritarismo tem crescido nos últimos 20, 25 anos. E afeta até mesmo a imprensa liberal.

    A origem disso foi a Guerra ao Terror e os ataques de 11 de setembro?

    Acho que foi uma desculpa usada para isso. No Reino Unido eu estava escrevendo artigos no Guardian regularmente, apontando que era previsto que os Estados Unidos seriam atacados. Então nos primeiros dias depois de 11 de setembro era possível debater e aguentar, mas devagar esse espaço começou a ser reduzido, e a nossa visão começou a ser menos importante. E o mesmo aconteceu na imprensa brasileira, eu escrevia para a Folha, era entrevistado pela Globo sobre esses temas. Mas como se tivesse sido combinado internacionalmente, por comum acordo, o espaço para vozes dissidentes se tornou cada vez menor.

    Qual a sua visão sobre a cobertura sobre Assange pela imprensa?

    O descrevem como hacker e como uma pessoa acusada de estupro, e a palavra jornalista é raramente usada. E o fato de que o Wikileaks foi criado para publicar material que as pessoas enviavam para eles e que era, efetivamente, uma organização de jornalismo investigativo — e que continua a ser — sumiu da narrativa oficial. Então o direito das pessoas saberem quem está governando seu mundo e o que estão fazendo está sendo deixado de lado.

    Por que essa narrativa mudou tanto?

    Por causa da crise capitalista de 2008, quando muitos grupos se formaram e questionaram quase tudo. E não se quer que isso seja incentivado. Então uma coisa que eles [as elites] preservam de maneira muito forte é o monopólio da informação. Para eles isso é muito importante, por causa da digitalização do mundo. Quem controla o monopólio? Essa é uma questão muito importante. Então todas as vozes alternativas, em especial aquelas que têm acesso a materiais importantes, têm que ser neutralizados, e há diferentes maneiras de lidar com eles. E lidaram com o Julian de uma maneira específica, que estamos vendo agora: a prisão. E com “eles” não quero apenas dizer o establishment americano, mas o Europeu também. Fora a Alemanha, o apoio tem sido muito fraco dos outros países europeus. O Reino Unido é virtualmente um estado cliente dos Estados Unidos, os italianos e franceses não estão interessados na questão de Assange, o único país onde há ainda algum debate sobre Assange é a Alemanha, e até ali está se enfraquecendo. Em Berlin erigiram uma estátua para Snowden, Assange e Manning, então fizeram algumas coisas. Mas o serviço de inteligência alemão está completamente envolvido com as outros serviços de inteligência europeus e com os americanos. Eles agem coletivamente.

    Como se estruturou essa campanha de assassinato de reputação contra Assange?

    Acho que não há dúvida de que os representantes dessas agências de inteligência se reúnem regularmente para discutir qual é a ameaça, onde está, e eu acho que, especialmente, durante a campanha eleitoral dos Estados Unidos [2016] em que disseram que Assange havia vazado informações para Trump, a grande maioria disso foi baseada em mentiras, segundo o que descobrimos. Então “hackeamento” e “hackers” se tornaram grandes questões recentemente. Eu não concordo com Putin na maior parte das coisas, mas transformar a campanha pós-eleição nos Estados Unidos na qual Trump venceu, e dizer que se não fosse pelos Russos ele não teria vencido é um esforço dos Democratas para dizer que foram derrotados por forças externas e não internas. Eles não aceitaram que Trump ganhou, e o desespero político e psicológico foi culpe Assange, culpe os russos, culpe todo mundo menos você mesmo! Porque se eles tivessem culpado eles mesmos, teriam que olhar suas políticas, que são neoliberais, pró-guerra.

    Então tudo isso acabou misturado na questão do Julian Assange, e a campanha contra ele é execrável. É assim que eles operam. E agora os Estados Unidos são muito abertos sobre isso — exigir que ele seja extraditado para os EUA para ser questionado pelo FBI — e se fizeram isso com Assange eles farão com outros jornalistas também! Como pode Assange violar a segurança nacional americana quando ele não está naquele país e nem é um cidadão americano. É bizarro!

    Qual é o legado do WikiLeaks, em sua opinião?

    Acho que o legado do Wikileaks é 100% positivo. Qual é a principal coisa que eles fizeram? Publicaram documentos relativos às relações do império americano em relação ao resto do mundo! E o que é muito interessante é que em privado, muitas embaixadas americanas no exterior enviavam mensagens para o Departamento de Estado admitindo coisas que nós da esquerda estávamos falando em público. Nesse sentido, tornar públicas essas mensagens privadas é incrivelmente importante para democratizar a política. Como uma população vai decidir em quem votar se não tem nem 50% da informação? Desse ponto de vista todo o Wikileaks foi positivo. E grupos online como Intercept etc nasceram da experiência do Wikileaks.

    Qual é sua expectativa do impacto do livro?

    Quem sabe? Eu espero que circule, seja traduzido em todo o mundo. É um livro muito forte. Espero que alerte as pessoas para que defendam Assange e façam campanha em seu nome.

  • A PEDAGOGIA DE LULA

    A PEDAGOGIA DE LULA

    Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História da Universidade Federal da Bahia, com charge de Aroeira 

     

    Há mais de um ano afastado das câmeras e microfones, Lula reapareceu em vídeo em 26 de abril, quando recebeu no cárcere os jornalistas Florestan Fernandes Jr. e Mônica Bergamo.

    Qual foi o impacto político da entrevista?

    Como a principal característica das crises é a redução drástica do território de consenso, a resposta para essa pergunta também está sendo disputada. Lideranças políticas alimentadas pelo anti-petismo desqualificaram o fato, negando a importância da entrevista: João Dória disse que Lula está “esclerosado”. Jair Bolsonaro chamou o ex-presidente de “cachaceiro”.

    Já as esquerdas em geral, e os petistas em particular, entraram em uma espécie de catarse virtual coletiva, como se a entrevista, por si só, fosse capaz de promover uma reviravolta no cenário político.

    Nem tanto ao céu e nem tanto ao inferno.

    Nada sugere mudanças no curto prazo na realidade política nacional. Porém, a entrevista está longe, muito longe mesmo, de ser fato político irrelevante.

    Antes de qualquer coisa, a realização da entrevista, por si só, é a manifestação mais clara do atual momento da crise brasileira, quando está instaurada uma guerra total no núcleo jurídico da coligação golpista que tomou o poder de assalto em 2016. O Supremo Tribunal Federal, que vinha chancelando todos os arbítrios cometidos pela Operação Lava Jato, sentiu o sopro dos menudos de Curitiba na nuca.

    Já há algum tempo que a Lava Jato deixou de ser o braço do PSDB para se tornar, ela mesma, a força política motora do pós-petismo. Hoje, a Lava Jato é mais poderosa que a base política de Jair Bolsonaro. É sempre importante lembrar que os vínculos de Bolsonaro com a Lava Jato não são orgânicos. A Lava Jato tem seu próprio projeto para o Brasil e Bolsonaro e seus milicianos não estão nele.

    Queiroz, o laranjal do PSL, o assassinato de Marielle e Anderson. Nada disso foi esquecido. Tudo está guardado, esperando o momento certo. A Lava Jato é seu próprio partido político e, como tal, está disposta a engolir adversários e aliados. É assim que os partidos políticos agem.

    Como a Lava Jato se tornou mais suprema que o próprio supremo, o STF decidiu tentar restabelecer a hierarquia. Lula é o grande troféu da Lava Jato. É impossível soltá-lo sem reconhecer que as impressões digitais dos ministros da Suprema Corte estão na farsa jurídica que fraudou as eleições de 2018. A entrevista se tornou, então, um recado enviado a Curitiba.

    Sempre que a aristocracia da toga se sentir ameaçada pela Lava Jato, Lula será usado como munição. Uma diminuição da pena aqui, uma entrevista acolá.

    Mesmo preso, Lula continua bastante ativo na política. Na verdade, a cela é um gabinete de trabalho. Lula passa o dia despachando, lendo, recebendo aliados e liderando o Partido dos Trabalhadores. Lula está muito bem informado, sabe com clareza o que está acontecendo, tem total percepção de que se existe alguma possibilidade de sair da cadeia ainda em vida, ela passa pelo acirramento do conflito entre o STF e a Lava Jato.

    Nessa guerra, Lula sabe qual é o seu lado. Por isso, a Lava Jato, citada nominalmente nas pessoas de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, foi atacada do início ao fim da entrevista.

    Mentirosos”, “farsantes”, “criminosos” foram os adjetivos usados. Já Bolsonaro foi tratado como louco e despreparado, como uma caricatura. Entre os adversários possíveis, Lula sabe qual é o mais forte, o mais perigoso.

    Por outro lado, o STF foi tratado como o guardião da democracia, como a instituição que tem histórico comprometido com a defesa dos direitos dos oprimidos. Lula elogiou a “vocação democrática” do STF, citando os posicionamentos da suprema corte em favor da criação da reserva indígena Raposa da Serra do Sol e em favor da implementação do sistema de cotas para o ingresso de negros nas universidades públicas.

    A essa altura do campeonato, pouco importa se o STF chancelou o golpe contra Dilma e a prisão arbitrária de Lula. Pouco importa se essa “vocação democrática” é mesmo um dado da realidade ou não passa de retórica política. Ao associar o STF à defesa dos direitos de índios e negros, Lula conseguiu reunir, numa mesma formulação, a aristocracia da toga e as minorias.

    A operação Lava Jato declarou guerra contra o STF. O governo de Jair Bolsonaro declarou guerra contra índios e negros. Lula quer consolidar sua imagem como o principal antagonista à Lava Jato e como líder da oposição ao governo de Bolsonaro, quer liderar uma frente ampla em defesa da democracia e dos direitos sociais. Foi este foi o objetivo da entrevista.

    Relações internacionais, políticas públicas de assistência social, macro-economia e drama familiar. Lula passou por todos esses temas com desenvoltura, mostrando estar em perfeita forma física e intelectual.

    A entrevista acabou, os jornalistas foram embora e Lula foi reconduzido à sua cela. A reforma da previdência continua tramitando. Treze milhões de brasileiros ainda estão desempregados. Seria ingênuo achar que uma simples entrevista pudesse ser capaz de transformar a realidade.

    Definitivamente, não é.

    Mas a repercussão impressionante, a despeito do silêncio da mídia hegemônica, comprova a importância que Lula ainda tem.

    Em duas horas de entrevista, Lula foi mais eficiente do que Ciro Gomes, Guilherme Boulos e Fernando Haddad, que estão por aí, livres, soltos. A notícia para a esquerda brasileira não é nada boa. A entrevista só veio reforçar o que muitos já sabem: Lula ainda não tem herdeiro. Até aqui, ninguém conseguiu substituí-lo como liderança popular.

    É que quando falam, os outros apenas falam. Falam de números, de dados, mas não afetam e pouco explicam. Mais do que falar, Lula explica, e afeta. Consegue ensinar aos que mal sabem ler. Antes de tudo, Lula é um pedagogo.

  • Ao censurar entrevista com Lula, Luís Fux suspende toda a imprensa brasileira.

    Ao censurar entrevista com Lula, Luís Fux suspende toda a imprensa brasileira.

    Tudo aconteceu em um único dia

    Na manhã de 28 de Setembro de 2018, o Ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski concedeu liminar que autorizava o ex-presidente Lula a conceder entrevista à Folha de São Paulo. Seria a primeira entrevista de Lula desde a sua prisão, no dia 7 de Abril. À noite, foi publicado pelo portal UOL a informação de que a própria procuradoria da Lava Jato teria feito um pedido de que a autorização fosse estendida a outros meios de comunicação na forma de uma entrevista coletiva única.

    Mas ainda antes da meia noite do dia 28, o também ministro do STF Luís Fux suspendeu a liminar de Ricardo Lewandowski. A querela entre dois supremos meretíssimos leva o caso para votação em plenário, mas não há data para votação e estamos a menos de 10 dias do primeiro turno das eleições.

    O pedido de suspensão da liminar foi protocolado pelo partido Novo, do candidato à presidência João Amoedo, que, segundo a última pesquisa do instituto Datafolha, tem apenas 3% das intenções de voto.

    Luís Fux vai além: ele declara em sua decisão que, caso a entrevista com Lula já tenha sido realizada no ínterim entre as duas liminares, ela está proibida de ser publicada. Isto configura claramente censura prévia, que é expressamente vedada pela constituição. Leia o trecho:

    Trecho da decisão de Luís Fux, Suspensão de Liminar 1.178 Paraná

    A justificativa de Luís Fux é que uma entrevista com Lula não poderia ser realizada antes das eleições, porque poderia influenciá-la. Poderia afetar “a liberdade do voto.” O trecho seguinte é absolutamente terrível:

    Trecho da decisão de Luís Fux, Suspensão de Liminar 1.178 Paraná

    Ora, a liberdade do voto então só é preservada quando a população vota desinformada?

    Que entrevista com qualquer ator político, em véspera de eleições, não influenciaria as eleições?

     

    Isto é dirimir o próprio papel da imprensa, diante do evento mais importante em qualquer democracia. É praticamente suspender a atividade da imprensa brasileira. Um absurdo completo, algo que não pode acontecer numa democracia.

    A decisão do Ministro Lewandowski é inequívoca ao declarar como CENSURA a proibição de entrevistar ou publicar entrevistas com Lula, uma vez que não há qualquer proibição legal da concessão de entrevistas por um cidadão preso em qualquer condição, não é necessário haver a expressão especial de uma permissão. Na Lei de Execução Penal, Artigo 41, inciso XV, consta que o constitui direito do preso o “contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes.”

    Citada por Lewndowski, a ADPF 130/DF foi expedida em 2009 pelo então ministro do STF Ayres Britto, que interdita qualquer censura prévia, nos preceitos da constituição brasileira:

    Do então Ministro do STF Ayres Britto, ADPF 130/DF

    Depois de ser amplamente difamado, agora Lula é censurado.

    O pedido do Partido Novo, acatado pelo juiz Fux, sugere que Lula poderia, em uma entrevista, vir a questionar a legitimidade do seu encarceramento e confundir o eleitor, uma vez que ele era originalmente o candidato do PT e foi impedido de disputar as eleições, como se não fosse claro para o eleitor brasileiro que o candidato do PT agora é Fernando Haddad e que ele tem o apoio legítimo de Lula. Segundo o Partido Novo, portanto, a imagem, a voz, até a palavra escrita de Lula deveria ser proibida.

    É no mínimo irônico, uma vez que os opositores do PT e os veículos majoritários da mídia brasileira usaram amplamente a imagem de Lula por anos para tentar destruir o seu prestígio, atacaram sua honra e a de sua família incessantemente, deram-no como condenado antes do julgamento, divulgou ilegalmente seus grampos telefônicos, apoiaram uma justiça que o condenou sem provas, que o tirou da disputa das eleições quando ele era o candidato preferido do povo brasileiro.

    Agora, esgotadas as armas da difamação, apela-se à censura. Falar de Lula é proibido.

    Porque, a despeito de toda a campanha de difamação contra ele, ainda é o político mais querido do Brasil, o político brasileiro mais respeitado no mundo.

    STF já decidiu contra censura prévia no passado.

    Em decisão de 2014, também ano eleitoral, em petição ligada a entrevistas de candidatos, outro ministro do Supremo, Luís Barroso já decidiu inequivocamente contra a possibilidade de censura prévia. Nas suas próprias palavras:

    MEDIDA CAUTELAR do Minsitro do STF Luís Barroso,RECLAMAÇÃO 18.687/AMAPÁ

     

  • Exclusivo: Jandira Feghali comenta repressão policial em Brasília

    Exclusivo: Jandira Feghali comenta repressão policial em Brasília

    A Deputada Federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) comenta a ação da PM do Distrito Federal, do governador Rodrigo Rollemberg (PSB), que atacou a Marcha pela Democracia, na Esplanada dos Ministérios, usando um tipo de bomba de gás que faz as pessoas vomitarem sem parar. Para Jandira, é de se esperar o fortalecimento de repressões às manifestações e aos movimentos sociais, que estarão cada vez mais presentes na rua, para o desgosto dos golpistas.