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  • Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #59 – Claus Lehmann: Ouroboros

    Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #59 – Claus Lehmann: Ouroboros

    Ouroboros, 2020

    A suspensão social, como tema, me remeteu ao ‘ouroboros’, imagem da serpente devorando a própria cauda: um círculo onde o fim é também o começo.

    Transpondo a metáfora para a quarentena, um dia termina em outro que começa (quase) igual.

    Inspirado nas sequencias fotográficas do americano Duane Michals, proponho uma série na qual a origem de cada imagem se revela na imagem seguinte. Como se uma estivesse dentro da outra. A última, enfim, nos devolve à primeira. Ou quase.

    Embora a rotina pareça uma eterna repetição, cada dia é novo e guarda em si a possibilidade de evoluirmos a novos pontos de consciência e presença no mundo. E quiçá, novos valores a serem postos em prática, quando voltarmos a nos relacionar socialmente.

    Ouroboros simboliza justamente o ciclo da evolução voltando-se para si.

    Claus Lehmann
    Claus Lehmann
    Claus Lehmann
    Claus Lehmann
    Claus Lehmann
    Claus Lehmann
    Claus Lehmann
    Claus Lehmann
    Claus Lehmann
    Claus Lehmann

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    Série desenvolvida e produzida por Claus Lehmann e Luisa Micheletti.

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    Conheça mais o trabalho do artista

    www.clauslehmann.com

    https://wonderfulmachine.com/photographer/claus-lehmann

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    O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.

    Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente

  • Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #58 – Maneco Magnesio: Vida Que Segue

    Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #58 – Maneco Magnesio: Vida Que Segue

    Vida Que Segue

    É a vida que segue. É a vida que segue, apesar do COVID-19. É a vida que segue para os que permanecem. É a vida que segue para aqueles que tiveram perdas, grandes ou pequenas. Toda vida importa, toda vida deveria importar. Mas quem perdeu alguém muito próximo, sente que a vida já não segue como deveria, aquela lacuna, aquele vácuo deixado ocupa muito espaço, é o vazio o que permanece. 

    “E daí? Não sou coveiro!” ele respondeu com ironia. É certo que a vida deste ser abjeto segue em frente. Sem lacunas, sem conviver com o vazio das famílias que são obrigadas a seguir apesar de suas perdas. Não tenho como aceitar essa realidade sem indignação, não tenho como encontrar fôlego depois de mergulhar no mar de mortos que poderiam ter sido poupados. Não tenho como respirar e prosseguir da mesma forma, como se nada estivesse acontecendo. Mas prossigo. Meu trabalho é conviver com o cheiro de medo nas ruas e encarar a “nova realidade”. 

    É a vida que segue. A “nova realidade” é a velha realidade usando máscara. Muitas vezes na testa, no queixo, ou tirando para atender o celular ou fumar. A “nova realidade” tenta seguir as novas regras sanitárias de manter distância de 1,5m, usar álcool-gel e lavar sempre as mãos com água e sabão. Mas dificilmente consegue, “demora pra gente se acostumar”.

    A “nova realidade” quer uma vacina que “resolva isso tudo o mais rápido possível” para voltar para a velha realidade, para que os filhos possam voltar logo para escola, senão vão ter que mandar “nem que seja de burca!”. Na “nova realidade” não existem mais as outras doenças, “só tem gente morrendo de corona! Vc já reparou? Ninguém morre mais de outra coisa!”. 

    É a vida que segue. E eu sigo com minha câmera. Aos poucos registrando o cotidiano que se renova. Apesar de tudo. 

    Maneco Magnesio
    Maneco Magnesio
    Maneco Magnesio
    Maneco Magnesio
    Maneco Magnesio
    Maneco Magnesio
    Maneco Magnesio
    Maneco Magnesio
    Maneco Magnesio
    Maneco Magnesio
    Maneco Magnesio
    Maneco Magnesio
    Maneco Magnesio
    Maneco Magnesio
    Maneco Magnesio
    Maneco Magnesio

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    Minibio

    Maneco Magnesio Guimarães

    Nasceu em 1974 em Manaus, desde 2003 vive e trabalha em São Paulo. Graduou-se na Bahia onde em 1997 concluí curso de arte na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. Já em São Paulo, cursa fotografia com Marcelo Vitorino no MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo, desenvolve projeto gráfico e identidade visual do Ateliê OÇO do qual participa. Atualmente desenvolve projeto de fotografia urbana tendo ministrado em janeiro de 2019 workshop sobre o tema da Fotografia de Rua na Faculdade de Belas Artes de São Paulo. Recentemente foi pré-selecionado para concorrer no Festival Paraty em Foco na categoria Foto Única. Durante o mês de agosto participou da mostra coletiva Mirares 2019 –Cultura da Paz, em São Paulo, em cartaz na Unibes Cultural. Foi premiado com a Medalha de Bronze no Paris Street Photography Awards 2019, na categoria fotografia de rua/urbana. Foi convidado para participar com uma obra na mostra SALON des Refusés da Luz, na Casa da Luz (Luz, São Paulo) no período de dezembro 2019 a fevereiro de 2020.

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    Para conhecer mais o trabalho do artista

    https://www.instagram.com/magnesio/

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    O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.

    Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente

  • Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #57 – Renato Bolelli Rebouças: Entre a Devastação e a Contaminação

    Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #57 – Renato Bolelli Rebouças: Entre a Devastação e a Contaminação

    Entre a devastação e a contaminação
    Entre o fim da cidade e o começo da mata
    Depois do urbano, do periférico e do rural
    Lá onde não vemos e nem queremos ver
    Lá onde os morros são devastados para dar origem a novas ruas e bairros
    Lá onde almeja-se o desenvolvimento
    Lá-aqui para milhões de pessoas, minerais, animais e vegetais
    É lá para onde é arrastado um rastro sem igual
    Um rastro de lixo, de plástico, de gente e seus eventos
    Seus cotidianos e celebrações
    Que vão sendo depositados pouco a pouco, dia a dia, um a um, no solo
    Na água, no ar, dentro da terra da folha da alface
    Que o agricultor orgânico planta
    O rastro desse lixo contamina fungos, bactérias, pessoas
    Que trabalham para ter acesso ao consumo deste mesmo plástico
    E depois descartá-lo
    Que protestam pelo fim dos agrotóxicos mas pegam aviões
    Que são vegetarianos mas usam adesivos
    Que jogam seus restos na lixeira correta e acreditam que ele será reciclado
    Que não tem como deixar, em suas vidas, de consumir e destruir tudo a sua volta
    Que fingem que acreditam
    Eles sou eu
    Somos este conjunto de predadores ensimesmados e ávidos por lembrancinhas
    Souvenirs, festinha personalizada, papel de presente, lojinha de 1 real cenografias
    Tememos nossa morte e gastaremos quanto plástico for preciso para salvar nossas vidas
    Mas todos os outros seres não precisam ficar, só nossa miséria melancólica tem importância
    Que morram todos, que se destrua a cadeia alimentar
    Precisamos – e vamos – manter nossa superioridade e alegria material-tecnológica em suposta evolução
    Só não esqueçamos depois, diante da asfixia de toda a Terra, que são também e ainda eles que nos mantém de pé.

    Renato Bolelli
    Renato Bolelli
    Renato Bolelli
    Renato Bolelli
    Renato Bolelli
    Renato Bolelli
    Renato Bolelli
    Renato Bolelli
    Renato Bolelli
    Renato Bolelli
    Renato Bolelli
    Renato Bolelli
    Renato Bolelli
    Renato Bolelli
    Renato Bolelli
    Renato Bolelli
    Renato Bolelli
    Renato Bolelli
    Renato Bolelli
    Renato Bolelli

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    Conheça mais o trabalho do artista

    www.bolellireboucas.com

    https://www.instagram.com/bolellireboucas/

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    O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.

    Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente

  • Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #56 – Guilherme Gandolfi: Laranja Invisível

    Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #56 – Guilherme Gandolfi: Laranja Invisível

    Laranja invisível. Apesar dos uniformes chamativos, elas parecem transparentes. Estavam lá antes do virús, permaneceram quando as ruas se esvaziaram. Estarão lá quando tudo isso passar.

    Na interminável tarefa de limpar São Paulo. Não, não são parte da paisagem. São homens e, na maioria das vezes, mulheres, que trabalham dia a dia recolhendo o que outros deixaram para trás. Conhecem as ruas como ninguém e talvez sejam a principal linha de defesa sanitária da metrópole. Apesar de tudo isso, dos carros, calçadas e janelas, as pessoas parecem olhar através delas, sem enxergar 

    Caminhamos para o futuro pisando o chão limpo por quem, muitas vezes, é invisível, mas que está na linha de frente no combate ao novo coronavírus.

    Guilherme Gandolfi
    Guilherme Gandolfi
    Guilherme Gandolfi
    Guilherme Gandolfi
    Guilherme Gandolfi
    Guilherme Gandolfi
    Guilherme Gandolfi
    Guilherme Gandolfi
    Guilherme Gandolfi

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    Minibio

    Guilherme Gandolfi é comunicador popular, fotógrafo e militante do Levante Popular da Juventude. Junto com a jornalista livre Larissa Gould, tem um podcast sobre fotojornalismo: Por Trás da Foto

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    Conheça mais o trabalho do artista

    https://open.spotify.com/show/7mMMSaaPk7N7ak86h1yXlV

    https://www.instagram.com/guifrodu/

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    O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.

    Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente

  • Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #55 – Renata Armelin: O Inimigo Invisível

    Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #55 – Renata Armelin: O Inimigo Invisível

    O Inimigo Invisível. Estar em quarentena é tomar um porre de si mesma. E como qualquer porre, o que mata é o excesso. Todo dia ter que lidar, dezenas de vezes, com o próprio reflexo no espelho – da cara maltratada, do corpo maltrapilho e do peito em frangalhos. E ter que lidar com a dor de descobrir que isso que nos afunda não se deve apenas ao isolamento. O que nos faz peso também são as pedras que carregamos voluntariamente em nossos bolsos há muito tempo e ouso dizer que, algumas delas, fomos nós mesmos que colocamos lá. Estar isolada é ser, ao mesmo tempo, aquela que se atira da ponte com os bolsos cheios de pedras e aquela que impede a suicida da morte certeira. Vez ou outra é também ser o rio faminto que aguarda, de boca aberta, a moça desesperançada, pronto para tragar mais uma alma.

    Nunca estive trancada em mim por tanto tempo e são notáveis os efeitos colaterais. São tantos os demônios que tem dias que vivo no inferno e minha vida tem se resumido a álcool, ora em gel, ora etílico. Dou o devido valor às máscaras que, além de me proteger do vírus, tampam mais da metade do meu rosto nos dias em que estou derrotada. E não há vergonha na falha, na fraquejada. Também não há vergonha na queda. Chega um dado momento da vida em que mostrar os joelhos ralados é motivo de orgulho por ter conseguido, mais uma vez, se levantar. Hoje, penso que não podemos ser fortes todos os dias e não podemos nos cobrar isso. Olhar o poço de outra perspectiva nos faz ter uma noção mais precisa do quão fundo chegamos. E, apesar de uma saída parecer absolutamente impossível, ter noção real da profundidade que atingimos nos dá a possibilidade de traçar uma estratégia de fuga. O importante é não deixar de buscar caminhos.

    Apesar de trancafiada dentro das quatro paredes anguladas de casa – e das paredes curvilíneas do meu peito – compreendo e assumo o tamanho do meu privilégio em poder me isolar e, ainda assim, ter teto, comida e água quente. E isso é o que me traz para a razão em muitos momentos. “Apesar de tudo, há teto, comida e água quente”, tenho repetido isso tanto que já tenho essa frase como um dos mantras da quarentena. “Um dia de cada vez” pelo jeito se tornará um mantra para a vida.

    O presente assusta – e muito, mas a incerteza do amanhã deixou de ser uma abstração e parece ter se materializado. Apesar de não fazer sentido, de soar absurdo, a sensação é de que o amanhã nunca foi tão concretamente incerto. E para suportar o porvir, tive que acolchoar meu cérebro para garantir que eu não me machuque dentro de mim mesma. Tão poderoso quanto o imperceptível vírus que nos assombra mundo afora, mora na gente um inimigo invisível que também nos devora por dentro.

    Renata Armelin

    Renata Armelin

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    Trilha Sonora: Johann Sebastian Bach – Toccata and Fugue em D menor

    Minibio

    Renata Armelin, 29 anos, iniciou na fotografia em 2012. Nesse mesmo ano, teve contato com os saraus e movimentos de literatura periférica que mudaram completamente seu ser e a forma como enxerga o mundo. Se orgulha muito em dizer que o que mais fotografou na vida foram poetas. Além de uma vasta cobertura de eventos culturais e literários, documentou diversas manifestações desde 2013 e, atualmente, segue trabalhando com eventos culturais e também sociais e corporativos.

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    Para conhecer mais o trabalho da artista

    http://www.renataarmelin.com

    https://www.instagram.com/renata.armelin.photo/

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    O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.

    Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente

  • Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #54 – Kabila Aruanda: Fronteira Final

    Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #54 – Kabila Aruanda: Fronteira Final

    Fronteira final. O vírus torna em brado retumbante, o sussurro fatal da intimidade brasileira. Desde as eleições de 2018, soam essas ameaças? Não, antes. No princípio, era o verbo: morrerás. Mais indigesta que a aterrissagem do alienígena é aceitar que ele sempre esteve aqui. É família. O novo normal é o gosto de água sanitária dessa cordialidade.

    Estacionamos entre nossas paredes. Não me movo, mas parece que afundo. Afundamos em um país-pântano de ódios movediços. Os índices raciais dos óbitos pandêmicos, os números da violência doméstica, dos feminicídios, os de cima subindo e os de baixo descendo, indicam que os corpos mais matáveis ainda são os mesmos.

    O ódio nacional é pornográfico porque é explícito. Face shields e pronunciamentos presidenciais dão o tom mezzo ficção científica mezzo chanchada à narrativa. Ora, ora, ora, um perdigoto descarrila o mundo e vocês pensando que irão para Marte…

    Não há lado positivo, não há “aquilo de melhor que vou levar desse momento”. Há a lembrança (para quem pode dar-se ao luxo de esquecer) de que a fronteira final é a corpa. Sua capacidade de (re)produzir, sua ousadia de ser improdutiva. Esta guerra é sobre isso. Todas.

    Kabila Aruanda
    Kabila Aruanda
    Kabila Aruanda
    Kabila Aruanda
    Kabila Aruanda
    Kabila Aruanda
    Kabila Aruanda
    Kabila Aruanda
    Kabila Aruanda
    Kabila Aruanda
    Kabila Aruanda
    Kabila Aruanda
    Kabila Aruanda
    Kabila Aruanda
    Kabila Aruanda
    Kabila Aruanda
    Kabila Aruanda
    Kabila Aruanda
    Kabila Aruanda

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    Ficha técnica

    Texto: Monalisa Silva

    Criação e fotografia: Kabila Aruanda (@kabilaaruanda)

    Performers: Juliana Lourenção (@julourencao), Monalisa Silva (@silva_monalisa_), Marina Medeiros (@marinamedeiros09)

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    Conheça mais o trabalho do artista

    https://www.instagram.com/kabilaaruanda/

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    O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.

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