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  • ELAS ESTÃO DE VOLTA. E QUEREM DERRUBAR BOLSONARO

    ELAS ESTÃO DE VOLTA. E QUEREM DERRUBAR BOLSONARO

    Elas sacudiram as ruas do país em 2018 com protestos gigantescos do “Ele Não” durante a campanha presidencial, que tinham o objetivo de salvar o país das mãos do autoritarismo com a eleição de Bolsonaro. Seu grito estrondoso contra o encorajamento do feminicídio e do racismo pelo candidato provocou a ira dos fascistas que invadiram sua página no Facebook quando já somava quase nove milhões de integrantes e promoveram um ataque de fake news nas igrejas neopentecostais para desmoralizar o movimento. Elas não se abateram com a derrota nas eleições: criaram o Movimento Mulheres Unidas Com o Brasil  e foram à Assembleia da ONU denunciar os ataques aos direitos humanos pelo governo eleito na base de disparos milionários de notícias caluniosas nas redes sociais.

    Agora, elas estão de volta e com sua luta fortalecida para derrubar o governo que, embora eleito, provou que age de forma inconstitucional e representa de fato uma ameaça real para a democracia e para todas as minorias políticas articuladas pelo movimento feminista. Neste domingo, 14, mulheres do país inteiro se unem num grande levante para derrubar Bolsonaro. Elas escrevem o Manifesto Levante de Mulheres e avisam: “Ele cai”.

    Mulheres concentram sua força de articulação na queda do governo fascista. Foto: Lienio Medeiros

    A primeira ação será pelo Twitter, a partir das 14h, por meio da hashtag #MulheresDerrubamBolsonaro. Às 14h30, acontecerá uma live no canal do Levante no Youtube e na página no Facebook. Da iniciativa fazem parte milhares de mulheres que vivem no Brasil e no exterior, representando, com seus coletivos, movimentos e organizações, 15 áreas da sociedade civil.

    O Levante das Mulheres é provocado pela desastrosa política de Bolsonaro, que mata diariamente mil brasileiros por Covid-19, amplifica a necropolítica e o genocídio de jovens negros. Segundo o manifesto, em plena pandemia, o Governo Federal aumenta a desigualdade e o empobrecimento, retira direitos, quer armar a população, espalha mentiras e ódio, faz apologia à ditadura, ao racismo e ao fascismo. Tem o objetivo de pressionar as instituições da República para que seja consumado o processo de impedimento e derrubada deste presidente que dissemina ideias e ações destrutivas e inconstitucionais.

    Por que é preciso derrubar Bolsonaro?

    inúmeros pedidos de Impeachment foram impetrados na Câmara dos Deputados, e, no TSE, diversas ações pela cassação da chapa Bolsonaro/Mourão por fraude eleitoral. O STF precisa responsabilizar o presidente, que segue descumprindo a Constituição, atentando contra as liberdades e produzindo a morte de brasileiros e brasileiras, diz o manifesto. A jornalista Patrícia Zaidan, uma das impulsionadoras do Levante, ressalta que o mundo político é machista. Da mesma forma, o Congresso, o Supremo, o TSE são instituições pautadas por uma lógica masculina, elitista, sexista e branca. “As mulheres só têm voz quando se juntam e fazem barulho e pressão”, diz.

    Foi assim contra a violência doméstica, no “Quem Ama não Mata”, pela volta da democracia, no “Diretas Já”, pelo fim do feminicídio, com o grito “Nenhuma a menos”, nas Marchas das Margaridas, na “Marcha das Mulheres Negras”, no “Fora Cunha”, “Fora Temer”, e, nas últimas eleições, com o “Ele não”, lembra. “Agora, as brasileiras se juntam para dizer: Ele cai”, sintetiza a jornalista.

    Ludimilla Teixeira, idealizadora do Mulheres Unidas Contra Bolsonaro (MUCB), que criou o #EleNão, fala sobre a importância da continuidade da articulação neste momento: “Depois de acender o fósforo com a criação do MUCB, a chama da indignação coletiva feminina cresceu, ganhou força criando o #EleNão e agora somou-se a muitos outros coletivos de mulheres para explodir todas as formas de opressão derrubando Bolsonaro!”. Empenhadas em demovê-lo do poder, a partir de domingo (14/6), o Levante das Mulheres vai inundar as redes sociais e o Brasil com um estrondoso #MulheresDerrubamBolsonaro”. Para conhecer o conteúdo do manifesto e assinar, as mulheres entram neste link aqui: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLScy4S3ofcagrZ-2tWNSxwR6S4ZDCIqBjxik4H0pb9drYsZ2uA/viewform

     

    MANIFESTO MULHERES DERRUBAM BOLSONARO

    Neste domingo, 14 de junho, será lançado um manifesto que faz um chamado a um Levante Virtual das mulheres. O manifesto e o levante foram iniciativas de mulheres que já estiveram juntas, em unidade, pelas “Diretas Já”, pelo “Fora Temer”,  pelo “Fora Cunha”, e, principalmente, pelo histórico #EleNão. Não temos dúvidas que foi o movimento do EleNão que possibilitou que o Bolsonaro não fosse eleito já no primeiro turno e que o movimento, formado por diversas mulheres de todo país, com diferentes origens, organizações e atuações, demonstrou sua importância por desde antes da eleição já denunciar o caráter genocida deste governo.
    Já afirmávamos desde lá que o discurso racista, machista e LGBTfóbico deste governo nunca foi cortina de fumaça, mas é parte de sua ideologia neofascista. A reunião ministerial divulgada demonstrou todo o ódio deles contra negros, mulheres e povos indígenas. Se hoje, por conta da pandemia, lembramos da necessidade de colocar a vida acima dos lucros, se por conta dos assassinatos racistas precisamos reafirmar que #VidasNegrasImportam, com Bolsonaro no poder e sua política da morte, essas são bandeiras fundamentais para salvar nossas vidas e por isso queremos o “Ele Cai!”.Nós, da Resistência Feminista, junto com mais de 100 companheiras de dezenas de espaços políticos e estados diferentes, assinamos esse manifesto feminista e participaremos do Twittaço e da live do levante.A primeira ação será pelo Twitter, a partir das 14h, por meio da hashtag #MulheresDerrubamBolsonaro.Às 14h30, acontecerá uma live no canal do Levante no Youtube e na página no Facebook. Nós, a partir das páginas do Esquerda online, também a transmitiremos. Como dito no manifesto “A política do (des)governo Bolsonaro – que mata diariamente cerca de mil brasileiros por Covid-19, amplifica a necropolítica e o genocídio de jovens negros, aumenta a desigualdade e o empobrecimento da população, retira direitos e faz apologia à ditadura e ao fascismo – mobilizou o Levante das Mulheres a produzir este manifesto”Se “As mulheres só têm voz quando se juntam  e fazem barulho e pressão” vamos inundar as redes sociais e o Brasil com um estrondoso #MulheresDerrubamBolsonaro”.

     

    Redes sociais do Levante das Mulheres:

    Youtube https://www.youtube.com/channel/UCb_RgLPdiOOYtZ9a695CcPg

    Instagram: @mulheresderrubambolsonaro

    https://www.instagram.com/mulheresderrubambolsonaro/ Twitter: @Derrubam

    Facebook http://www.facebook.com/mulheresderrubambolsonaro

    As imagens das artes do Levante das Mulheres estão neste link: https://www.dropbox.com/sh/uydgbbiryub9qhz/AAC6MH4PIeB-HWXJlmMB8D8Za?d l=0

    E-mail: levantedasmulheres@gmail.com Contatos: Gisele Figueiredo Oddi – (51) 98141-0079 Bianca Fuentes – (22) 98108-7722 Heloísa Aun – (11) 99287-8052

  • #8MCuiabá – Pela vida das mulheres

    #8MCuiabá – Pela vida das mulheres

    Por: Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com

    Debaixo de muito sol e com uma sensação térmica acima dos 40 graus, dezenas de mulheres da Grande Cuiabá se reuniram hoje na Praça Ulisses Guimarães para protestar contra o feminicídio e exigir direitos iguais.

    Com uma tenda para atender as crianças que acompanhavam as mães, carro de som para as falas e shows e produtos artesanais, as manifestantes distribuíram um Manifesto Pela Vida das Mulheres. Nele, realçaram as conquistas históricas, como o direito ao voto, e as lutas atuais, como o fim da violência de gênero, sexual e estrutural.

    Além das pautas próprias, as manifestantes também exigiram a revogação das reformas da previdência e trabalhista e a garantia de acesso à saúde e educação, incluindo as creches, já que apenas 30% da demanda por esse serviço é atendida pelos governos do estado.

    O manifesto acusou, ainda, o governo federal:

    Temos o direito de viver uma vida livre de qualquer tipo de violência, agressão física, violação e abusos sexuais, mas o Estado Brasileiro, através do atual governo (Jair Bolsonaro), e sua prática machista, racista, misógina e LGBTfóbica, nos expõem e nos coloca num “lugar frágil” e, por isso, vulnerável.

     

    Outra figura de destaque no Manifesto foi a ministra Damares que, com suas falas alucinadas e sua arbitrariedade de atitudes, quer “negar essa violência e a nossa necessidade de igualdade: temos um governo que tenta destruir os direitos que conquistamos com muita luta”.

    Para a professora e coordenadora de imprensa da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso – Adufmat, Lélica Lacerda, conta em vídeo, os motivos das manifestações: a criação de uma nova cultura, política e economia que promovam a igualdade entre os gêneros.

    Veja abaixo a rápida entrevista

    Outras fotos do evento

    #8MCuiabá – Foto: Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com
    #8MCuiabá – Foto: Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com
    #8MCuiabá – Foto: Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com
    #8MCuiabá – Foto: Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com
    #8MCuiabá – Varal com mulheres vítimas de feminicídio em MT – Foto: Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com
    #8MCuiabá – Varal com mulheres vítimas de feminicídio em MT – Foto: Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com
    #8MCuiabá – Varal com mulheres vítimas de feminicídio em MT – Foto: Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com
    #8MCuiabá – Varal com mulheres vítimas de feminicídio em MT – Foto: Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com
    #8MCuiabá – Varal com mulheres vítimas de feminicídio em MT – Foto: Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com
    #8MCuiabá – Varal com mulheres vítimas de feminicídio em MT – Foto: Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com
    #8MCuiabá – Lélica Lacerda, da Adufmat, fala às mulheres – Foto: Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com

     

     

  • Mulheres Unidas Contra Bolsonaro denunciam à ONU violação de direitos humanos

    Mulheres Unidas Contra Bolsonaro denunciam à ONU violação de direitos humanos

    Marcha do #EleNão em Florianópolis. Foto: Alice Simas

    Duas integrantes do grupo Mulheres Unidas Contra Bolsonaro, também conhecido como #EleNão, estão em Genebra desde a véspera do Dia Internacional da Mulher para entregar à Comissão de Direitos Humanos da ONU um Dossiê com denúncias sobre os atentados à vida das minorias no atual governo. Em 67 páginas, o documento expõe relatos sobre a violação de direitos das comunidades indígenas, negra, quilombola, sem terra, sem moradia e atingidos por barragens. Aponta os retrocessos impostos às conquistas constitucionais das mulheres e grupos LGBTQI+ e mostra o aumento acentuado da violência de gênero com os discursos de ódio promovidos por políticos e governantes. Reforça o assassinato impune de Marielle Franco com o envolvimento de filhos do presidente em milícias apontadas como responsáveis pela execução da vereadora. Salienta a violação à democracia com as ameaças de morte a intelectuais, artistas, ativistas e parlamentares da oposição, a exemplo do deputado federal Jean Wyllys, cuja renúncia ao mandato foi comemorada por Bolsonaro. Cita ainda o caso da antropóloga da UnB, Débora Diniz, que teve de deixar o país por ser vítima de linchamento virtual e ameaças de morte por defender a descriminalização do direito ao aborto. O pacote anticrime do ministro Sérgio Moro é denunciado como uma licença para matar que vai agravar o extermínio dos jovens negros. No dia 14 de março, a líder do movimento, Ludimilla Teixeira, fará uma palestra no painel do Festival Internacional de Cinema e Fórum de Direitos Humanos, a convite da direção do evento, ao lado de duas outras líderes feministas da Itália e Filipinas.

    Ludimilla Teixeira, líder do MUCB: união internacional das mulheres para derrotar o fascismo

    Elas conseguiram mobilizar quatro milhões de mulheres criando nas redes sociais uma comunidade feminista unificada pelo grito do “Ele Não!”.  Surgido espontaneamente no dia 31 de agosto, da ânsia de barrar o candidato que incentivava a violência machista e o ataque aos direitos das minorias, o grupo Mulheres Unidas Contra Bolsonaro (MUCB) provocou uma onda gigantesca de levantes nas ruas do Brasil e de vários países do mundo. Não conseguiu evitar a tragédia temida por todo o mundo defensor dos direitos humanos, mas seu grito continua ecoando país afora. Na véspera do Dia Internacional das Mulheres, Ludmilla Teixeira, a líder negra e nordestina do MUCB e sua assessora de comunicação, Gisele Figueiredo, chegaram à Genebra com um Dossiê de Denúncias sobre os atentados à vida de mulheres e outros grupos vulneráveis pelo governo Bolsonaro que será protocolado na Comissão de Direitos Humanos da ONU, onde têm reunião no dia 12 de março, durante sua estada na Suíça. Por conta da repercussão do movimento que liderou no Brasil, Ludmilla foi convidada a participar como palestrante de uma mesa-redonda do 17º Festival Internacional do Cinema e Fórum dos Direitos Humanos (FIFDH), mais importante evento mundial dedicado ao tema, que acontece paralelamente ao Conselho dos Direitos Humanos da ONU.

    Convite enaltece a repercussão da luta das mulheres contra a eleição de Bolsonaro

    De 8 a 17 de março, a brasileira participa em Genebra de um fórum de discussão sobre os desafios geopolíticos planetários, onde são denunciados os atentados à dignidade humana e saudados os trabalhos dos que lutam contra essas violações. Ela terá um momento de fala no dia 14 de março, quando a partir das 20 horas, na Grande Salle do Espace Pitoëff, integra o painel com o instigante título “Para o povo, contra o populismo”. Nesse painel que abre com a exibição de um filme, debaterá sobre a ascensão dos regimes populistas e os ataques às instituições democráticas, ao lado da filipina Ninotchka Rosca, escritora, romancista e ativista social e da italiana Annalisa Camilli, jornalista investigativa, especializada em migração e direitos humanos. Elas farão uma leitura feminista desse populismo liderado por “homens fortes” que se alinham pelos retrocessos no campo democrático e ataques às mulheres e minorias. Moderada pelo professor do Instituto de Ciências Políticas de Paris (Sciences-Po), Bertrand Badie, a mesa tem a tarefa de debater sobre como esses regimes prosperaram no século XXI e buscar possibilidades de responder à onda de ódio e medo que eles alavancam.

    Natural da Bahia, publicitária, feminista, servidora previdenciária da APS de Itapuã, 36 anos, Ludimilla é reconhecida na carta-convite por seu compromisso pessoal com a promoção dos direitos humanos no Brasil a partir do lançamento do #EleNão durante a campanha eleitoral, que fez dela “uma figura emblemática da resistência ao populismo do novo presidente brasileiro”.  Assinada pela diretora geral, Isabel Grattiker e pela produtora do Fórum, Carolina Abu Sa’da, a carta enfatiza que no evento a brasileira terá a oportunidade de compartilhar a sua experiência como liderança deste movimento, fazer suas análises sobre a situação do Brasil e apontar perspectivas de luta pelos direitos humanos. “Não podemos pensar em uma representante melhor para esta discussão”, referendam as anfitriãs em nome das instituições estrangeiras que cobrem todas as despesas da viagem, hospedagem e subsistência das brasileiras. O Festival é apoiado pela Anistia Internacional, Human Rights Watch e Médicos sem Fronteiras, Ministério das Relações Exteriores da Suíça, entre muitos outros defensores dos direitos humanos da sociedade civil.

    POPULISTA DE DIREITA PARA OS DOMINANTES, FASCISTA PARA AS MINORIAS

    Recebido pelo grupo com muita vibração, o convite foi visto como uma forma de reconhecimento ao seu trabalho de mobilização contra o fascismo, que segue com 2,5 milhões de mulheres, mesmo após o resultado das urnas. Ativista pelos direitos humanos e animais, ela conta que ao ler a proposta do evento teve dificuldade de entender a relação entre o governo Bolsonaro e o tema da ascensão mundial do populismo. Em entrevista de vídeo para os Jornalistas Livres produzida pela jornalista Gisele Figueiredo logo ao chegar em Genebra, Ludmilla relata que precisou estudar a literatura internacional na área de ciências políticas para entender que os europeus associam o populismo a governos da nova direita e não aos governos de esquerda ou centro-esquerda, que exploram medidas econômicas de caráter mais assistencial para manter o carisma popular, como a mídia brasileira propagou durante os governos Lula e Dilma.

    Populistas são políticos como Trump (EUA), Viktor Orbán (Hungria), Mateus Morawieck (Polônia), Sebastian Kurz (Áustria), Conte e Salvini (Itália), Duterte (Filipinas) e Erdogan (Turquia), que mobilizam a população mais conservadora com apelos moralistas contra os direitos das minorias, sobretudo dos imigrantes, para obter o seu apoio em medidas econômicas antipopulares. “Então entendi que nessa visão europeia, Bolsonaro seria um populista, mas não para as minorias, ele tenta se tornar popular para os que estão no poder, que são na maioria homens brancos, heterossexuais, de classe média ou alta para quem ele oferta um pensamento conservador e preconceituoso, mas para nós, as minorias étnicas, ele não é populista, eu o consideraria um fascista”, afirma, com a ressalva de que na Europa o conceito de fascismo é menos aplicado do que na América Latina.

    DOSSIÊ DENUNCIA VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS EM DOIS MESES DE GOVERNO

    Aceito o convite, começou a mobilização para elaborar coletivamente o Dossiê de Denúncias que será protocolado na próxima semana na Comissão de Direitos Humanos da ONU. Em 67 páginas, o documento traz um diagnóstico dos ataques às conquistas feministas, das minorias de gênero, do crescimento da violência contra a mulher e do atentado à vida das comunidades indígenas, negros, quilombolas, militantes sociais, sem-terras, sem-teto e atingidos por barragens, com os crimes de Mariana e Brumadinho. Está organizado em seis tópicos principais: 1. Questão indígena e ambiental; 2. O caso das mineradoras; 3. Questão LGBTQI+;  4. Violência contra ativistas e a lei antiterrorismo; 5. Feminicídio, estatuto do nascituro e proibição de anticoncepcionais e 6. Racismo, violência contra quilombolas e assentados.

    Embora o #EleNão tenha sido o único coletivo feminista convidado para o evento, elas fizeram questão de envolver outros movimentos sociais na elaboração do Dossiê, como o Movimento Atingidos por Barragens, Comunidade Indígena dos Tupinambá da Serra do Padeiro, Comunidade LGBTQI+ Brasileira, Movimento Negro, Shayana Busson, mestre em Sociologia e ativista do parto humanizado. O tópico referente à violência contra ativistas, por exemplo, foi elaborado com a contribuição de militantes do 8M SC em Florianópolis. Nessa questão, o próprio MUCB se inscreve como vítima das milícias digitais, que ao ver a potência de mobilização do grupo, começaram a atacar a página, chamando as administradoras de “putas” e “vagabundas” e acusando-as de fazer campanha para candidatos de esquerda. No auge da sua repercussão, em 14 de setembro de 2018, a página do Facebook foi hackeada por eleitores antifeministas que a renomearam para Mulheres Unidas com Bolsonaro, obrigando a organização antifascista a mudar de endereço. Muitos comentários incitavam a violência, afirmando que as integrantes deveriam ser espancadas e estupradas. Temendo por sua vida, a administradora do grupo chegou a desativar sua conta no Facebook. Por conta da lei antiterrorismo, o grupo também está sendo obrigado a mudar seu nome oficial para Mulheres Unidas com o Brasil, embora na prática preserve a definição original da sigla.

    Na entrevista, a militante afirma que o grupo continuará se mobilizando, articulado a outros coletivos feministas e movimentos sociais na luta pelos direitos das mulheres e das minorias. Ela considera prioridade a luta para deter o extermínio da população indígena e negra, e para manter os avanços das conquistas feministas, a democracia, os direitos trabalhistas e previdenciários. Defende o caráter apartidário do movimento como forma de alcançar a unidade das mulheres para derrotar o fascismo que pode se estender como rastilho de pólvora, sobretudo a unidade internacional.  “Estamos representando uma população tratada como minoria, mas se juntarmos todas essas minorias elas se tornarão maioria e irão derrotar este governo que está indo contra nossa própria existência”.

    TRECHOS DA APRESENTAÇÃO DO DOSSIÊ DE DENÚNCIA À ONU

    “É triste constatar que a ascensão de governos como o de Bolsonaro só estimula o avanço do discurso do ódio contra as minorias e ataques aos direitos humanos, o que gera concordância com sua analogia a governos fascistas de outrora. A liberdade é questionada e o autoritarismo avança, gerando sinal vermelho para aqueles que lutam na defesa da democracia e na Proteção do Estado Democrático de Direito.”

    “O repúdio ao machismo, à misoginia, ao racismo, à xenofobia e a todos os outros tipos de preconceitos se tornou a principal pauta de reivindicação da sociedade brasileira, assim como a luta por liberdade, feminismo, demarcação de terras indígenas, reforma agrária, direito à moradia e reforma urbana”.

     

     

     

     

  • Manifestação pacífica em defesa da Democracia acaba com bombas e detidos em SP

    Manifestação pacífica em defesa da Democracia acaba com bombas e detidos em SP

    Por Kátia Passos e Lucas Martins

     

    ATUALIZAÇÃO 01.11.2018 O maior, Rudson, foi liberado ontem, sem fiança, condicionalmente, em audiência no Fórum da Barra Funda . Os quatro menores passaram a noite na fundação CASA e as 13h de hoje, 01, tem oitiva com o Ministério Público pra avaliar se existem elementos suficientes pra representacão, definindo se será aberta ou não uma ação contra eles.

    30.10.2018 Desde ontem, após o término do 1º ato em defesa da Democracia, convocado pela frente Povo Sem Medo, que contou, segundo a organização, com 50 mil pessoas, cinco pessoas ainda continuam detidas e outras dezenas sofreram repressão da Polícia Militar na dispersão da passeata.

    Muitas bombas e balas de borracha foram desferidas contra pessoas que estavam na Praça Roosevelt e imediações da Rua da Consolação. O número de armamento e o efetivo policial se mostraram completamente desproporcionais à quantidade de manifestantes que ainda permaneciam no local ou que voltavam para o Metrô.

    Entre os cinco presos, quatro são menores de idade e há um maior de idade. De acordo com a advogada Maira Pinheiro todos foram detidos após a dispersão do ato, enquanto se refugiavam das bombas. Outros três deles foram presos logo após as primeiras bombas. Um deles está ferido por uma bala de borracha no abdômen. O quarto preso não participava da manifestação, mas foi preso enquanto ia para o Terminal Bandeira, terminal municipal de ônibus mais parto da praça. O quinto foi detido dentro do terminal, de forma violenta pela PM.

    Segundo a advogada, que acompanhou o caso durante toda a madrugada, não foi possível ter acesso aos depoimentos dos policiais com os motivos pelos quais as prisões foram feitas. O único depoimento policial dado para advogada, de maneira extra oficial, dizia que “todos estavam acusados de arremessar pedras contra a polícia, depredar as agencias bancárias e utilizar coquetel Molotov.”. Eles foram imputados por dano qualificado, incêndio e desacato.

    O maior passará hoje, 31/10, por audiência no fórum  da Barra Funda e os menores podem ser apresentados para a justiça ainda hoje, também.

    Mobilização

    O ato foi convocado pela frente Povo Sem Medo, logo que o resultado das eleições foi confirmado, por conta da vitória de Jair Bolsonaro para a presidência do Brasil. Resultado: uma gigantesca manifestação uniu estudantes e trabalhadores, motivados pelo histórico de preconceitos, agressões e absurdos enunciados por Bolsonaro e, também, em repúdio ao clima de medo e violência que seus seguidores instalaram no país ao longo da campanha eleitoral, com pelo menos 50 ataques e 2 mortes causadas por bolsonaristas. A pacífica e aguerrida manifestação foi um momento também para o povo já se posicionar contra as principais bandeiras anunciadas pelo futuro presidente, como a Reforma da Previdência, as privatizações, o projeto do Ensino à Distância desde o nível fundamental, a supressão da liberdade de cátedra (Escola sem Partido) e outras ações anti democráticas.

    Na concentração do ato, enquanto as pessoas se juntavam no Vão Livre do Masp, já aconteceu a primeira pessoa detidas: era o jovem Victor Meneguim .
    A justificativa alegada para a detenção foi o porte, por parte do jovem, de uma máscara de gás e uma blusa, que segundo um dos policias que acompanhou a ação, mostrava um desenho de uma briga em que um dos personagens dizia “com fascista sem ideia”, como mostra a apuração da Ponte Jornalismo. Ele foi encaminhado para a 78DP, na Rua Estados Unidos e logo liberado.

    O ato saiu em caminhada por volta das 19:30 em direção a Praça Roosevelt, seguindo pela Rua da Consolação, acompanhada por um forte contingente policial. Durante todo o trajeto seguiu pacífica sem nenhum relato de conflitos ou prisões. As principais palavras de ordem invocavam o direto à liberdade de expressão e de manifestação e repúdio contra as posturas preconceituosas de Bolsonaro. Por volta das 21h, os manifestantes chegaram na Praça Roosevelt e ali o ato foi encerrado pela Frente Povo Sem Medo. Logo depois a dispersão manteve o clima de tranquilidade do ato.

    Mas por volta das 22h15, a Polícia começou a ação. Argumentando que teria que liberar todas as vias naquele instante. Os manifestantes que ainda estavam se dispersando, trocaram insultos verbais com os policiais e o clima de paz terminou e as primeiras bombas foram lançadas. A Polícia poderia, nitidamente, ter aguardado alguns minutos e tal truculência destinada aos populares poderia ter sido evitada.

    Embora, saibamos que as péssimas condições de trabalho, os maus salários e o constante risco de morrer sejam as características que mais pesam na função da polícia, nada pode justificar o peso da mão forte que foi aplicado ontem em tão poucos manifestantes que estavam indo para suas casas.

    Clima de horror

    Correria. Bombas, gritos. Todos os manifestantes que estavam concentrados na rua se dispersaram, alguns correndo para a Praça Roosevelt e outros, para a Praça da República. A repressão repentina impossibilitou a saída segura. E enquanto fugiam eram bombardeados ininterruptamente.

    Depois, mais tarde, em vídeos, podemos ver a Polícia realizando uma verdadeira caça no centro de cidade. O maior bloco policial, liderado pelo GAEP, seguiu por cerca de 15 minutos pela Consolação até finalizar as operações na Av. São Luís próximo ao Viaduto Nove de julho, e durante o trajeto permaneceu atirando, mesmo com os manifestantes já dispersos. Foi durante esse momento que os foram detidos os jovens, na terminal Bandeira. Quatro deles são menores de idade e continuarão detidos até a próxima quinta (01) quando será apresentada a custódia que está prevista para às 12h, já o maior de idade foi liberado provisoriamente.

    Próxima manifestação

    Os Jornalistas Livres pediram à Secretaria de Comunicação da Segurança Pública os dados de gastos sobre a apoiarão realizada na noite desta terça (30), e mais informações sobre o motivo da operação ter sido realizada com tamanha desproporcionalidade, conforme podemos ver em vídeos que já circulam pelas redes sociais.

    A ideia é que para as próximas manifestações em defesa da Democracia que já estão agendadas para São Paulo, se possa evitar cenas como as que vimos ontem, e principalmente, integrar os policiais à ideia de quem Democracia que está sendo defendida também faz parte da vida deles.

  • Munduruku dizem #EleNão, #EleNunca!

    Munduruku dizem #EleNão, #EleNunca!

    Entre os dias 18 e 21 de outubro, o povo Munduruku do médio e do alto rio Tapajós se reuniu na Aldeia Praia do Índio, em Itaituba-PA, para sua XV assembléia. Os temas centrais da Assembléia foram as ameaças do garimpo de ouro , da extração de madeira terras indígenas, o desmonte da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) e a escalada de violência contra povos indígenas, que pode explodir caso o próximo presidente dos Brasil seja Jair Bolsonaro, candidato de extrema direita que já declarou publicamente sua repulsa aos povos indígenas. Durante a assembléia, cada liderança que falou ao microfone terminou sua fala com. #EleNão #EleNunca. A assembléia gerou uma carta de repúdio do povo Munduruku ao candidato do PSL.

     

    Veja aqui a carta:

    carta de repúdio_AIPariri

  • De antiquado a meme: a trajetória digital de Bolsonaro

    De antiquado a meme: a trajetória digital de Bolsonaro

    Por Jullie Utsch para os Jornalistas Livres

     

    Bolso quem?

    Pouco encontraria sobre Jair Messias Bolsonaro quem pesquisasse seu nome na Internet há dez anos , além de entrevistas explorando sua personalidade em busca de aspas chocantes. Não porque fosse algum político novato; Bolsonaro acumula quase 30 anos de mandatos públicos. Mas foi em 2014 que multiplicou em quase quatro vezes seu montante médio de votos, sendo o parlamentar mais votado no Rio de Janeiro. O político contabilizava, em julho deste ano, mais de 14,3 milhões de menções no buscador Google. Ao longo da campanha presidencial, foi a quase 66 milhões de resultados. Se o candidato hoje conta com uma gigantesca rede, o início de sua trajetória digital deixa a entender que a ascensão desse império foi possibilitada, ao menos em parte, pela mídia tradicional.

    Bombando na Internet

    Em meio a períodos meio apagados nas redes, Bolsonaro teve dois picos significativos de buscas pré 2014, quando solidificou seu crescimento no buscador.

    O primeiro pico de buscas contendo seu nome diz respeito ao episódio de agressão verbal à também deputada Maria do Rosário (PT-RS), em 2008, que rendeu um processo judicial movido pela parlamentar. Ao rememorar o episódio, disse que a parlamentar o chamara de estuprador, mas que ele não estupraria porque ela não merece.

    O segundo pico diz respeito à entrevista concedida em 2011 ao programa CQC, do canal Band. Bolsonaro responde à cantora Preta Gil que não corria o risco de ter uma nora negra, já que seus filhos seriam “bem criados”. Se, por um lado, os episódios causaram revolta e mobilização contrária ao deputado, também lhe angariaram um séquito pela sua pecha de “politicamente incorreto”. O resultado: sagrou-se como deputado federal mais votado da história no Rio de Janeiro, com o menor custo: 0,89 centavos por eleitor.

    O primeiro pico de buscas contendo seu nome diz respeito ao episódio de agressão verbal à também deputada Maria do Rosário (PT-RS), em 2008, que rendeu um processo judicial movido pela parlamentar. Ao rememorar o episódio, disse que a parlamentar o chamara de estuprador, mas que ele não estupraria porque ela não merece.

    O segundo pico diz respeito à entrevista concedida em 2011 ao programa CQC, do canal Band. Bolsonaro responde à cantora Preta Gil que não corria o risco de ter uma nora negra, já que seus filhos seriam “bem criados”. Se, por um lado, os episódios causaram revolta e mobilização contrária ao deputado, também lhe angariaram um séquito pela sua pecha de “politicamente incorreto”. O resultado: sagrou-se como deputado federal mais votado da história no Rio de Janeiro, com o menor custo: 0,89 centavos por eleitor.

    Atualmente com quase 8 milhões de seguidores em sua fanpage, Jair Bolsonaro é o presidenciável do Brasil mais popular no Facebook e nas classes mais abastadas (um público íntimo da Internet). Segundo o Datafolha, era o favorito da população com renda a partir de 10 salários mínimos. E 97% desse público está online de acordo a CGI-Br, o que favoreceu seu primeiro impulso na rede. Entre Junho de 2013 e Junho de 2018, foram 2.4 mil postagens com 5,6 milhões de comentários, em uma média de 2,2 mil por dia, com 2014 sendo um ponto marcante.

    Comentários na página de Bolsonaro ao longo do tempo

    A ‘nova’ política

    Para Levitsky e Ziblatt, professores da Universidade de Harvard e autores de “Como as Democracias Morrem” (Zahar, 2018), há alguns critérios que definem tendências autoritárias. Um deles é o questionamento do rito democrático. Bolsonaro coloca em xeque o processo eleitoral, confrontando-o como ilegítimo. A resistência reforça-lhe a fama de anti-político, tornando-o diferente da classe política aos olhos do eleitorado.

    Esse movimento de deslegitimação do processo eleitoral certamente não foi inventado por ele. Logo após a vitória de Dilma Rousseff, começa o burburinho gerado pelo pedido de recontagem de votos, capitaneado pelo PSDB. Porém, sem a imagem de “novidade” colada em si, o PSDB foi igualmente afetado pela crise representativa que impediu o mandato petista.

    Em 2014, envolvido nos atos capitaneados por MBL, Vem para a Rua e Revoltados Online, Bolsonaro conquistou a simpatia da classe média que foi às ruas de verde e amarelo pedir a saída do PT do poder, questionando a legitimidade eleitoral; por fim, acusando a presidenta Dilma Rousseff de crime de responsabilidade fiscal. 2015 é quando o discurso antipetista chega a um ponto crítico, enquanto os números da economia permanecem a cair. E começa-se a vislumbrar Bolsonaro como uma possível figura para a corrida presidencial.

    Interesse por “corrupção pt” no Google, ao longo do tempo. O pico é de Outubro de 2014.

    Ainda em 2014, os termos Bolsonaro 2018 começam a ser pesquisados no Google, indicando um crescimento no interesse de sua candidatura. Mas é em 2016 que ganham força total, logo após o golpe parlamentar contra Dilma Rousseff.

    Gráfico – trends do termo “Bolsonaro 2018” no Google. O marcador está em Setembro de 2014.

    Em meados de 2014, a pré candidatura ganha força e passa a ser demandada pelo Facebook. O gráfico abaixo mostra o crescimento da expressão “Bolsonaro 2018” nos comentários de sua fanpage.

    “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”

    Bolsonaro adotou o lema “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” que, junto ao nome do autor, é presença constante nos comentários de sua página. Parte significativa das mensagens contém os termos “brasil”, “deus”, “país”, “povo” e “família”. Outros temas se eclipsavam em meio aos bordões.

    Nuvem de palavras: todos os comentários de sua página até Julho de 2018.

    É natural que o termo mais recorrente em comentários de uma página presidencial seja o nome do candidato. Se removemos porém as palavras Jair Bolsonaro, presidente, e outras, compreendemos em torno de que eixos giram as conversas nas caixas de comentários de sua página.

    Sem termos como ‘bolsonaro’, ‘presidente’, ‘brasil’, ‘2018’. De Julho de 2013 a Julho de 2018.

    Ficam evidentes não só os valores propagados pelo deputado (deus, país, povo, “o cara”, mito, família e todos aparecem em destaque) como também um grande antagonismo: lula, esquerda e pt são alguns dos termos mais recorrentes. A beligerância dá o tom: “merda” aparece mais vezes do que “educação”, por exemplo.

    E quanto a Bolsonaro, sobre o quê fala? Apesar de usar e abusar do formato vídeo, deixando pouco espaço para a escrita, é interessante observar quais são as palavras mais usadas nas postagens. O nome do candidato é o assunto mais repetido em suas publicações, como provavelmente o seria na página de outro candidato qualquer.

    Nuvem de palavras: postagens por Bolsonaro, de Junho de 2013 a Julho de 2018.

    Ao removermos o nome a palavra ‘brasil’ da lista de termos, podemos entender em torno de quê giram as suas postagens.

    O parlamentar fala significativamente menos em ‘Deus’ ou ‘família’ do que seu público. Além do PT, menções a Lula e Dilma e à esquerda são significativas. Bolsonaro utilizou o antipetismo como estratégia fundante, e foi em 2014, o ano em que se acirra a polarização política, que sua figura finalmente decola na rede, concatenando o discurso conservador com uma crítica ferrenha ao projeto petista. Uma vez que o Partido dos Trabalhadores (que sempre participou do jogo democrático respeitando as normas, sendo reconhecido por adversários por tal)é colocado em cheque não como adversário político, mas como inimigo nacional, a democracia sai enfraquecida, abrindo frestas para que autocracias se estabeleçam.

    Esse flerte com o autoritarismo é antigo. O militarismo foi a sua pauta ao longo de todo esse tempo, entre frases de efeito e ameaças. Durante o ato de declaração do voto ao Impeachment de Dilma Rousseff homenageou livremente Brilhante Ustra (de quem a ex-presidenta relatou já ter sido vítima em tortura). Recentemente, a campanha de Bolsonaro solicitou ao TSE que vetasse a propaganda eleitoral petista que focava na violência da tortura militar. A propaganda continha trecho de um filme onde era encenado o pau-de-arara. O pedido foi acatado, e a propaganda foi retirada do ar.

    Para arrecadar os votos mais difusos e indecisos, por um lado rejeita a pecha de homofóbico, machista e racista. Por outro continua a incitar a violência. A estapafúrdia polêmica falsa do kit gay, apelido dado à cartilha anti-homofobia sugerida pela UNESCO revela a ponta desse iceberg.

    Interesse pela pesquisa ‘kit gay’ ao longo do tempo, no Google.

    Mesmo tentando se isentar de qualquer responsabilidade, o discurso tem efeitos concretos. Membros da Human Rights Campaign relatam um aumento significativo em bullying envolvendo expressões de ódio após o começo do mandato de Donald Trump, uma das inspirações declaradas de Bolsonaro. Um país comandado por um intolerante parece abrir brechas de intolerância, reforçando uma sensação de segurança ao ser representado por alguém que compartilha dos mesmos valores. Quase como uma profecia, vimos igualmente uma explosão violenta tomando as ruas nas últimas semanas, marcando um período de crimes por motivação político-partidária sem precedentes desde a abertura democrática.

    Os episódios não reduziram o discurso violento. No dia 21/10, declarou que o Brasil conhecerá uma limpeza nunca antes vista. Ante à banalização histórica do regime militar, a cartilha anticomunista disparada anonimamente em massa pelo Whatsapp e o profuso terreno de vulgarização da democracia, há motivos para acreditar que não são somente os petistas que possuem algo a temer.

    Contra tudo o que está aí

    Analisar o discurso de Bolsonaro é concluir que não há propostas, mas sim anti-propostas. Foi, essencialmente, surfando em uma profunda crise econômica e política que Bolsonaro capitalizou em cima do ódio. É o eterno antagonista, que pulveriza-se na ausência de um inimigo unificante.

    Em Eichmann em Jerusalém, Hannah Arendt desnuda a alma simplória de Adolf Eichmann, um oficial medíocre do exército nazista. Surpreende-se, ao acompanhar seu julgamento em Israel, com sua figura, tanto pouco inteligente quanto ordinária. Ao esperar de um nazista que se pareça um monstro, esperamos demais dele; um totalitário, é, antes de tudo, um homem comum. Quem compartilha o mal enquanto projeto não o faz individualmente, mas enquanto coletividade, o que não exime responsabilidades individuais. Banalizá-lo – o mal em suas formas diversas: tortura, violência, racismo, misoginia – em tempos de aprofundamento democrático, enquanto encontra-se resistência (se não estrutural, ao menos política) ganha ares de transgressão.

    Desacostumados ao fazer político, não sabemos coletivamente o que fazer com o flerte que ronda esse perigo. Assim, nos confundimos, e buscamos soluções drásticas no dicionário de palavras visitadas, gastas. De uma profunda falta de vocabulário e de imaginação é que nascem as viagens ao que já é conhecido, quando buscamos soluções (que não funcionaram) simplesmente por não saber fazer diferente.

    Entre os muitos apelidos dados por seu séquito de fãs, a alcunha de “mito” de Jair Bolsonaro é de longe o termo mais popular. Há nele uma atemporalidade arquetípica.
    O futuro, afinal, nunca se pareceu tanto com o passado.

     

    A versão completa do estudo foi publicada no link: leia aqui