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Tag: Eleições 2018

  • EDITORIAL: É preciso apurar com rigor o ocorrido com o candidato Jair Messias Bolsonaro

    EDITORIAL: É preciso apurar com rigor o ocorrido com o candidato Jair Messias Bolsonaro

    Imediatamente após o ataque, Jair Bolsonaro colocou a mão sobre o local que teria sido atingido pelo instrumento perfuro-cortante. Mas nenhuma mancha de sangue foi vista em milhares de imagens (vídeos e fotos), registradas no local e no próprio instante da agressão.

    O filho de Bolsonaro, Flávio, candidato a senador, disse que o pai foi atingido superficialmente. Posteriormente, via Twitter, Flávio disse que o ferimento teria sido grave e pedia orações. O candidato encontra-se internado na Santa Casa de Juiz de Fora.

    O suposto agressor de Bolsonaro, Adélio Bispo de Oliveira, na delegacia da PF de Juiz de Fora (MG)

    O homem identificado como seu agressor, Adélio Bispo de Oliveira, tem 40 anos e é de Montes Claros, no norte de Minas. Apesar da comoção generalizada que seu ato gerou, ele foi levado para a delegacia da Polícia Federal de Juiz de Fora e ali fotografado, sem que se visse nele qualquer marca de agressões ou maus tratos.

    Na página de Adélio Bispo de Oliveira, dentro da rede social do Facebook, o suposto autor do atentado aparece como “curtidor” de perfis tão díspares quanto República de Curitiba, Israel My Israel, Apoio Policial, Batalhão de Operações Policiais Especiais – BOPE, Ação Nacionalista, O Outro Lado da Coreia do Norte, Anonymous Rio, Midia Ninja, TVT, Ponte jornalismo, PCdoB, Consulado dos EUA, Rachel Sheherazade, Rede Sustentabilidade-Rede, Instituto Militar de Engenharia, Cap PM André Silva Rosa – ROTA, Apoiamos a Brigada Militar, além dos Jornalistas Livres, entre outros. Quem acompanha as redes sociais sabe que essa variedade inconsistente é típica de páginas mantidas por robôs.

    É dramático o quadro político no Brasil. Mais do que nunca, é preciso que todos os democratas coloquem-se de sobreaviso. É imperioso investigar a fundo essa ocorrência. Lembramo-nos da famigerada “bolinha de papel”, um atentado fake que teria sido desfechado contra o candidato José Serra, durante a campanha eleitoral de 2010. Na ocasião, o Jornal Nacional divulgou reportagem onde endossava a versão da agressão com “objeto contundente”. A reportagem terminava com um Serra arcado, interpretando o papel de pessoa fragilizada em luta contra a tal “barbárie política”. Mas as redes sociais e um trabalho investigativo a cargo do SBT mostraram que o tal “objeto contundente” não passava de uma bolinha de papel, que mal fez cócegas na calvície do candidato tucano.

    Importante não esquecer, contudo, que a política no Brasil vem de fato passando por um forte processo de escalada da violência. A execução de Marielle e Anderson, os tiros desferidos contra a caravana de Lula no sul do Brasil, os feridos a bala no acampamento LulaLivre próximo à sede da PF em Curitiba e muitos outros fatos não permitem subestimar os ódios e interesses políticos escusos.

    A Democracia exige o respeito entre as forças políticas em disputa. Exige transparência e honestidade. A cidadania não pode permitir que a violência e as narrativas turvas complexifiquem ainda mais o quadro político já tão crispado por injustiças e ressentimentos, como o que estamos vivendo. Menos ainda, pode permitir que essas narrativas sirvam de pretexto para cassar o direito constitucional de a população brasileira escolher seus governantes. A Constituição precisa ser respeitada.

    Bolsonaro, no momento em que era socorrido após o ataque

     

    Veja abaixo em câmera lenta o momento do ataque:

    https://www.youtube.com/watch?v=0DWIfleIiuw&feature=youtu.be 

  • Telecatch eleitoral, JN e Bolsonaro:  o fascismo sem peias

    Telecatch eleitoral, JN e Bolsonaro: o fascismo sem peias

    O segundo dia de entrevistas do Jornal Nacional na terça-feira (28/08), com a participação do candidato Jair Bolsonaro, do PSL, foi de alta voltagem, como era de se esperar. Não escapando do receituário quando se trata do candidato em questão (provocações temperadas por um ambiente ácido), a entrevista, em seu conjunto, consagrou a fala inicial do entrevistado: “Isso aqui está parecendo uma plataforma de tiro. Estou absolutamente à vontade”. Pelo que se viu, Bolsonaro sabia do que estava falando, não prognosticou à toa.

    Conhecedora, por ofício, do ainda enorme potencial da televisão aberta nas campanhas eleitorais (em junho deste ano, Ibope/CNI revelou que 62% dos 2 mil entrevistados apontaram que devem se informar sobre os candidatos pela TV, e 26% por redes sociais e blogs), a produção do jornal de maior audiência da TV brasileira vem investindo já há algum tempo na chamada “entrevista-paredão”. Neste formato, pouco importa a plataforma de governo dos candidatos. O que parece interessar ao roteiro das perguntas é examinar a perícia dos entrevistados face às declarações capciosas feitas por eles recentemente ou em passado que a memória alcança.

    Esta modalidade propicia aos entrevistadores se metamorfosearem em entrevistado: no primeiro dia da série de “sabatina” do JN, as críticas desferidas contra a dupla Bonner-Renata recariam sobre a verborragia dos dois, em especial a de Bonner. Ciro Gomes teve menos tempo do que Jair Bolsonaro, este com 1 minuto e meio a mais para expor suas posições. Os entrevistadores tiveram responsabilidade decisiva nisso (com Ciro, falaram em torno de 11min30s, contra 10 min com Bolsonaro).

    Dessa anomalia derivam tantas outras, entre as quais estão as que beneficiaram o candidato da extrema-direita no duelo com os apresentadores globais. E o benefício não se deve pelo pouco tempo a mais que Bolsonaro usufruiu, mas pela forma do debate, que se avizinha do beligerante, sem dúvida um prato cheio para extremistas.

    Deve-se lembrar, no entanto, que os debates televisivos no Brasil surgiram na ambiência da primeira eleição direta de governadores na ditadura e se impuseram como uma plataforma de esclarecimento dos propósitos reais dos candidatos, um gesto ímpar de civismo. Brizola, Montoro e Tancredo são invariavelmente lembrados como os candidatos que conseguiram galvanizar seus desempenhos na TV. O modelo começou a degringolar com o inolvidável debate entre presidenciáveis em 1989, quando Collor, sob o beneplácito da Globo (ela de novo), decidiu que tinha como missão exterminar os adversários, em especial o então temido (como é hoje) Luiz Inácio Lula da Silva.

     

    Quem saiu vitorioso(a) do Telecatch?

    Ao contrário do que ocorreu em debates anteriores com seus pares, Bolsonaro não saiu chamuscado da entrevista; firmou-se, sim, todo pimpão como o boçal que confronta a Globo em sua própria casa; dá nome aos bois (ou a Roberto Marinho); manda historiadores às favas; reafirma que quem transgride leis não deve ser visto/tratado como gente; vocifera contra o que chama de kit gay com argumentos que são a mais pura fake news; proclama que atos de violência devem ser resolvidos com mais violência ainda – medidas que transbordam de orgulho seus seguidores-admiradores-eleitores. Muitos dos seus adeptos exibiram trechos da entrevista como troféus de uma vitória acachapante sobre os apresentadores no telecatch do JN.

    Mas há, no extremo oposto, nas fileiras dos que repudiam o candidato racista-homofóbico-misógino-neanderthal, quem enxergou uma vitória dos dois apresentadores, com especial ênfase em Renata Vasconcelos. Vivas e foguetório foram dedicados à apresentadora porque falou de seu direito, como cidadã, de saber do salário do candidato no exercício de atividade pública, arrematando, sem seguida, que, como mulher, jamais aceitaria receber menos que um homem exercendo a mesma função.

    Pronto. Uma resposta certeira, embora simples, foi o bastante para que a apresentadora se tornasse, na linguagem das redes sociais, a lacradora real oficial, o “mulherão da porra”.  Até uma jovem candidata a deputada estadual de um partido de esquerda, que recentemente presidia o movimento estudantil, declarou entusiasmada: “Renata Vasconcelos representou… que classe!”. O viés da confirmação foi adotado conforme os prismas das lupas de análise.

    No lamentável ringue televisivo perdemos todos. O sentimento de perda parece ser aplacado pela capacidade que temos em perceber nesses programas o que eles realmente são:  animadores de plateia. É como  um telecatch a que assistimos, na condição de torcedores.

    A título de lembrança, Telecatch foi um programa da extinta TV Excelsior (RJ) que exibia combates de luta-livre misturados com encenação teatral e circo. Mix que as emissoras utilizam para se beneficiarem da antipolítica, da qual Bolsonaro é o símbolo máximo.

     

    Dever cívico versus interesses outros

                Efetivamente, não temos nada a celebrar com as intervenções/respostas de Renata Vasconcelos para além do reconhecimento de que Bolsonaro não suporta ser interpelado por mulheres (na plataforma de tiros do JN, disparava olhares destituidores e mortíferos a ela, o que não foi sentido com William Bonner, com quem manteve certa tolerância). Para quem acompanha as disparidades salariais na comunicação e no jornalismo, a afirmação de Vasconcelos deve ser matizada.

    Os dados mostram como as diferenças salariais são alarmantes na profissão e que as funções de prestígio (leia-se as de visibilidade televisiva) passam por crivos de gênero e raça que prejudicam mulheres e negros. Ocupando um lugar de prestigio, Renata Vasconcelos faz uma afirmação que mesmo nesse lugar não se verifica em muitos casos pelas estratégias sexistas de abordagem e contratação de muitas profissionais que habitam um universo dominado por 71% de homens.

    Outros acréscimos também cabem para esmaecer os ânimos celebrativos em relação à supremacia de Renata Vasconcelos sobre Jair Bolsonaro: assistimos a dois jornalistas, em tom solene, fazerem perguntas sobre o confisco de direitos que a plataforma de Bolsonaro anuncia. Nas evasivas do candidato em relação ao tema, insistiam com o argumento de que era dever cívico esclarecer para o eleitor em quais aspectos essas propostas o afetariam negativamente.

    Mas, pera. Não foi essa mesma emissora que subscreveu a reforma trabalhista, vocalizando por meio de William Bonner e Renata Vasconcelos (que disse jamais aceitar receber menos que um homem) que a CLT era algo anacrônico, dando visibilidade aos argumentos favoráveis e asfixiando os que se mostravam contrário à medida regressiva? Não foi essa emissora que insinuou não haver outra saída se não a reforma da previdência da forma que foi apresentada pelo governo de plantão, dando de ombros a vozes que apresentavam outras propostas para a questão previdenciária e a reforma fiscal?

    Dever cívico com o eleitor-cidadão não se vê por aqui, cara Rede Globo. Ao que tudo indica, a vênus platinada evita aplicar em sua linha editorial, o que prescreve para os candidatos na bancada do JN. Mais do que formar uma opinião pública qualificada, o ringue, que procura dar ares republicanos de transparência para as trocas de farpas, serviu para vitaminar a agenda restrita de um candidato cuja plataforma de governo se reduz ao armamento da população, à  castração química de homens tarados, à  disciplina nos quarteis e à perseguição da “teoria de gênero”.

     

    E o fascismo com isso?

    Mesmo acreditando  que  Bolsonaro não chegará ao segundo turno porque, entre outras coisas, lhe faltará estrada para atingir a porcentagem de que precisa para poder avançar (o candidato terá magérrimos 8 segundos de tempo de TV e não conta com a plataforma da grande imprensa, duas esferas importantes para a consolidação das candidaturas), deve-se ter estratégias para combater a reafirmação fascista que se impõe no mundo.

    O cientista político João Filho, colaborador do site “Intercept Brasil”, adverte que é preciso saber usar argumentos para confrontar as propostas de candidatos da extrema-direita que têm tirado o sono de boa parte do planeta. Segundo ele, nos EUA, Europa e agora no Brasil, jornalistas tentam descobrir a melhor maneira de entrevistar essa turma sem favorecer a difusão de propostas antidemocráticas. “A experiência americana com Trump indica que confrontar os absurdos racistas e homofóbicos, por exemplo, não funciona e só ajuda a alimentar a fúria dos seus seguidores”. Intelectualmente limitados, continua o cientista político, “esses políticos se perdem ao serem convocados a falarem sobre temas que estão fora da sua caixinha moralista”.

    Já que o reinado do telecatch não apresenta sinais de desgaste, as orientações de João Filho reclamam por mais atenção. Priorizar outros assuntos que estão fora da órbita do arsenal de Bolsonaro e de seus seguidores é terapeuticamente salutar para a democracia.

    Não se trata de flagrar a ignorância do candidato em relação a temas fundamentais (disso todos sabemos: os seus adeptos e os seus adversários), mas de imobilizá-lo pela falta de condições de retrucar o que está sendo exposto. Imobilizá-lo a tal ponto de lhe causar angústia, de fazê-lo patético e desnorteado como o meme do Jonh Travolta (imagem evocada por João Filho), brecando a possibilidade da promessa máscula de renovação do vigor nacional ganhar terreno discursivo por meio de clamores emocionais e antirracionais.

    Tudo que um fascista não quer é sentir-se nu, ser pego a contrapelo, é não ouvir o eco de sua voz em outras vozes também silenciadas frente a uma não correspondência com suas crenças e práticas. A energia psíquica que lhe confere superioridade moral advém de uma coesão de grupos que se sentem ameaçados por uma esquerda “degenerada” que abriga os clamores de um tipo de gente “pervertida” que perturba a “boa rotina dos cidadãos de bem”.

    Sob esse ponto de vista, o franco-atirador Jair Bolsonaro se posicionou na plataforma de tiros e atirou para todos os lados, liberando um fascismo que se insinua, até o momento, sem peias.  Infelizmente, a bancada do JN deu-lhe munição.

    *Rosane Borges é jornalista, professora universitária e autora de diversos livros, entre eles “Esboços de um tempo presente” (2016), “Mídia e racismo” (2012) e “Espelho infiel: o negro no jornalismo brasileiro” (2004).

  • Fake news e eleições 2018: quem é a ONU na fila do pão?

    Fake news e eleições 2018: quem é a ONU na fila do pão?

    Por Rosana Borges

    O recente episódio do comunicado do Comitê de Direitos Humanos sobre o direito de Lula concorrer à eleição até que o caso tramite em julgado era a fagulha que faltava para deixar a contenda ainda mais abrasiva. Uma vez que a nota adveio de um órgão que reza na cartilha da diplomacia, alguns termos, como era de se esperar, deram margem a dúvidas e, mais do que isso, a manipulações de ordem vária.

    Conselho, Comissão, Corte, Tribunal…., todos de Direitos Humanos das Nações Unidas, foram acionados para embaralhar a situação, atribuindo, na maioria das vezes, inferioridade ao Comitê. Para quem adotou esta estratégia discursiva capenga, o Comitê não habitaria, por exemplo, o mesmo patamar de um Conselho, este com força de deliberação, o que tornaria a nota sobre o direito da candidatura de Lula mais um artificio superfaturado pelo PT, “petralhas” e simpatizantes.

    O jornalista Carlos Sardenberg, da Rede Globo, foi um dos que rebaixou o papel do Comitê de Direitos Humanos, pondo-se adiante a sentenciar que a nota do órgão da ONU é simplesmente uma fake News (sic):

    “Fake News não são apenas mentiras deslavadas. Quer dizer, muitas são, mas facilmente desmentidas. As que produzem efeitos fortes são as fake mais elaboradas, com base em algumas verdades e muitas distorções. Há um jeito simples de entendê-las: buscar a história em sua fonte original, ali de onde partiu a informação posteriormente manipulada. (…). O primeiro comunicado é do Comitê de Direitos Humanos, um órgão formado por 18 “especialistas” independentes – acadêmicos em geral – e que não tem nenhum poder decisório ou mandatório. Está lá no site da ONU: a função do Comitê é “supervisionar e monitorar” o cumprimento dos acordos internacionais de defesa dos direitos humanos. E fazer recomendações, sempre em entendimento e consultas com os países envolvidos. (,,,).A nota do Comitê é uma fake news, que originou outras fake news.”

    Desprovido de embasamento necessário para julgar a competência e natureza dos comitês da ONU, Sardenberg tomou partido de um assunto sem cumprir o dever jornalístico de efetivamente se inteirar com quem entende do riscado. Contra supostas tendências e enviesamentos, foi tendencioso e enviesado. A rebordosa veio a passos largos.
    Especialistas (mas Sardenberg, como se vê, desdenha desta categoria, flagrando o mau jornalismo do qual é praticante) descortinaram a ignorância e/ou manobra do jornalista global. Para estudiosos e operadores do Direito, a decisão do Comitê de Direitos Humanos tem caráter de cumprimento obrigatório porque no momento que foi ratificado o Protocolo Facultativo ao Pacto de Direitos Civis e Políticos – Decreto nº 311/2009, as decisões do Comitê passaram a ser vinculantes.

    Segundo Leonardo Soares Nader, pesquisador em Direitos Humanos e Política Global na Universidade de Pisa, o Comitê não é um tribunal, “mas o procedimento de petição é considerado “quase-judicial” pela natureza contenciosa do processo. Apesar de não ter mecanismos diretos de sanção ou de “obrigar” o Estado a respeitar suas decisões, as decisões do Comitê sobre a aplicação do tratado são reconhecidas pelos Estados como a jurisprudência mais autoritativa”. (extraído de artigo publicado no site do Justificando).
    O ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, partilhando destas considerações, afirma taxativamente que o Brasil só tem duas opções: “cumprir a decisão ou se tornar um pária internacional”. O chanceler esclarece que o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos assinado pelo Brasil tem força normativa. “O pacto assinado pelo Brasil foi internalizado, a liminar tem que ser cumprida.”

    Tornou-se, assim, exemplo de vergonha alheia (ou nossa) a resposta do Ministro da Justiça, Torquato Jardim, carimbando a medida cautelar do Comitê da ONU de “intromissão indevida”.

    Mas quem é a ONU na fila do pão?

    Esse jogo de braços nos leva a intensificar a polêmica (na verdade, falsa polêmica) para fora dos perímetros das Nações Unidas.

    A despeito de a ONU ser ainda um órgão multilateral que tem como propósito promover a cooperação internacional, muitas das suas orientações e condenações vêm sendo sistematicamente desrespeitadas.

    Relembremos algumas: os conselhos de Segurança e de Direitos Humanos condenam, exigem e reclamam uma solução para a guerra histórica entre Israel e Palestina e são solenemente desprezados; A ONU desautorizou a invasão dos EUA no Iraque e… sequer foi ouvida; a ONU declarou inválida apartar a Crimeia da Ucrânia e o que aconteceu? O Conselho de Segurança da ONU votou, por unanimidade, um cessar-fogo na Síria, mas nenhum músculo foi movido…

    A infeliz e indelicada resposta do ministro Torquato Jardim prepara a cena para a decisão oficial. Além disso, temos um dado suplementar que desenha a nossa ambiência jurídico-política: desde 2016, vivemos na era do “com STF, com tudo”, fazendo-nos concluir o quão será difícil o cumprimento da liminar.

    Analistas insistem, caso a liminar não seja cumprida, que as eleições não serão declaradas ilegítimas, “o Brasil não sofrerá boicote, não será expulso da ONU ou OEA, nem perderá reconhecimento de país democrático”. Ainda com Soares Nader: “a PEC do congelamento de investimentos sociais foi geralmente considerada violadora, denunciada como tal por diversos especialistas e, ainda assim, o Brasil de Temer conseguiu passar incólume por diversos mecanismos internacionais de direitos humanos: elegeu-se para o Conselho de Direitos Humanos da ONU; elegeu Flávia Piovesan para a Comissão Interamericana e passou pela Revisão Periódica Universal como se tudo estivesse na plena normalidade”.

    Ao jogar este balde de água fria sobre as expectativas de muitos em torno do cumprimento da liminar, não quero com isso diminuir seu poder de fogo simbólico: a defesa ganha tempo e fôlego, interesses internacionais sobre a operação Lava Jato aumentam, a narrativa de que há perseguição e que trata-se de uma prisão política se reafirmam (aliás, o maior massacre jurídico e midiático da nossa história). A liminar da ONU tonifica em termos morais e éticos a petição dos advogados de Lula ao Órgão.

    Sabemos o quanto simbolismos mobilizam forças ocultas no imaginário do eleitor (já tem até marqueteiros sentenciando que Haddad e Manuela ganharão [caso Lula seja vetado] simplesmente pela foto dos dois, uma síntese perfeita de alegria e felicidade de um casal jovem, bonito, vigoroso – atributos que mobilizam ideais culturais desde que o mundo é mundo, ou quase).

    Sem entrar no mérito destas análises, podemos contar com um ativo importante: Lula só vem crescendo nas pesquisas; mesmo preso, ele se levanta, para lembrar trecho do lindo poema de Maya Angelou. É preciso fazer desse ativo um combustível para restabelecermos estratégias e táticas para a renovação das esperanças.

    Histórica, certamente a liminar da ONU vem como uma ajuda fundamental, mas será da recomposição de forças que a promessa de sermos felizes de novo se cumprirá. Será com a reatualização das novas formas de vida e de existência que “não deixaremos o samba morrer”. Decididamente, essa missão não está dada a senhoras circunspectas que entoam a música como se colegiais fossem, mas que colaboram para cavar a cova da democracia já combalida e quase morta. Viva a democracia, por um país feliz de novo e com o samba mais vivo que nunca!

  • #AgoraÉOficial #LulaÉCandidato

    #AgoraÉOficial #LulaÉCandidato

    #AgoraÉOficial #LulaÉCandidato

    “Em 15/08/2018 às 17:12:03 foi recebido pela Justiça Eleitoral em conformidade com o art. 22 da Resolução TSE nº 23.548 de 2017, o arquivo digital 403OBR99999CLVCLG20180814H221618.cif, gerado pelo Sistema de Candidaturas Módulo Externo – CandeEx, contendo os dados biográficos, fotos e documentos dos candidatos constantes dos Requerimentos do Registro de Candidaturas – RRC,, assim como o respectivo Demonstrativo de Regularidade de Atos Partidários – DRAP.

    Tipo de pedido: COLETIVO

    Requerente:
    O Povo Feliz de Novo
    13 – Luiz Inácio Lula da Silva
    13 – Fernando Haddad”

     

     

    Veja aqui o momento exato em que os representantes da chapa, incluindo Fernando Haddad e Manuela D’Ávila, assinam a ficha de registro da candidatura: https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/1098521370297541/

     

  • Marcha pela Liberdade de LULA ruma ao TSE para inscrever sua candidatura

    Faltando menos de 2 kilometros acompanhe a multidão que vai até o Tribunal Superior Eleitoral registrar a candidadura de Lula.

     

     

  • “URSAL” – Loucos? Pero no mucho…

    “URSAL” – Loucos? Pero no mucho…

    por Fernando Horta especial para os Jornalistas Livres

    Vladimir Ilitch Ulianov (Lênin), em agosto de 1915, numa revista russa chamada Sotsial-Demokrat, argumentava pela criação dos “Estados Unidos da Europa”. Lênin afirmava que a Europa NECESSARIAMENTE precisaria se unir para sobreviver. Seja em torno de um projeto capitalista, para manter a competição capitalista em mínima igualdade com os EUA, seja em torno do projeto socialista/comunista, a única solução para a Europa, de acordo com Lênin, seria a unificação. Não deixa de ser interessante que, dois anos antes da Revolução de Outubro, o principal pensador socialista do século XX, e também o principal líder revolucionário, tenha dado não apenas o caminho, mas as razões pelas quais a Europa viria a se unir em 1993 pelo Tratado de Maastricht.

    Mapa da União Europeia

    Os projetos de unificação dos espaços geográficos, geralmente passando por cima dos “nacionalismos”, apesar de terem sido uma política internacional de diversos partidos comunistas, não se restringe somente a eles. Desde o século XIX, unificações e uniões dinásticas aumentavam os territórios e acumulavam suas capacidades econômicas para fortalecer as burguesias e o capitalismo. O primeiro exemplo é de Napoleão Bonaparte e toda a reorganização do mapa Europeu com a criação da Confederação do Reno e do Reino da Itália. Não fosse pela oposição britânica e pela fuga de D. João VI para o Brasil, o imperador francês teria unificado também (e de novo) a península ibérica.

    Em 1815, no Congresso de Viena, desfazem-se as unificações de Napoleão, apenas para se criarem outras, como os “Países Baixos”, o “Reino da Baviera” ou o “Reino das Duas Sicílias”. Mais adiante, no final do século XIX, as unificações de Alemanha e Itália, promovem outras formas de associações de estados pequenos em unidades maiores, frequentemente desconsiderando todas as diferenças culturais, étnicas e políticas com o objetivo de criar estados que pudessem resistir às investidas econômicas e militares de outros. No final da primeira guerra e, também da segunda, a mesma ideia foi colocada em prática pelos vencedores criando-se, por exemplo, a Tchecoslováquia e a Iugoslávia.

    Na América, a própria independência dos EUA é um caso de união de unidades administrativas menores em um corpo político maior, cujo objetivo era – ainda que passando por cima de diferenças culturais – fortalecerem-se frente ao imperialismo inglês. Simon Bolívar vai criar a “República de la Gran Colômbia” entre 1819 e 1830, unindo Equador, Colômbia e Venezuela e não escondia o desejo de criar na América “a maior nação do mundo” com o nome “Colômbia”, que reuniria todas as antigas colônias espanholas.

    Cena do filme Libertador, que narra a história de Simón Bolivar, libertador das americas

    No último debate presidencial, a pergunta de um candidato de direita sobre o “plano para criar a URSAL” está movimentando as redes. Segundo o candidato, haveria um planejamento “pela esquerda” da criação da “União das Repúblicas Socialistas da América Latina” e contra tal plano, o candidato asseverou fortemente que seria contra. Afinal, o que é a “URSAL” e contra o quê efetivamente o candidato se insurgia?

    O termo “URSAL” surge entre 2007 e 2008, em postagens de um conhecido colunista de direita de uma revista brasileira para expressar o desespero que este conservador sentia diante da vitória eleitoral de tantos candidatos de esquerda. Álvaro Colom, na Guatemala, Daniel Ortega na Nicarágua, Oscar Árias na Costa Rica, Hugo Chavez na Venezuela, Mauricio Funes em El Salvador, Rafael Correa no Equador, Evo Morales na Bolívia, Michelle Bachelet no Chile, Fernando Lugo no Paraguai, Tabaré Vázquez no Uruguai, Cristina Kirchner na Argentina se juntavam a Lula no Brasil e Raúl Castro em Cuba. Ao invés dos conservadores perceberem este movimento como a negação clara e objetiva do fracassado projeto neoliberal dos anos 90, eles preferiram criar uma teoria da conspiração em âmbito mundial. Aproveitando-se do que foi a guerra de propaganda que os EUA impuseram no mundo a partir dos anos 60, a histeria comunista foi resgatada por uma geração que foi educada sobre esta sombra.

    Não poderia ser o neoliberalismo e seus efeitos a causa da vitória da esquerda. Afinal, na cabeça destes conservadores, os dados objetivos do aumento da fome, da miséria, das dívidas com fundos internacionais e a destruição dos empregos junto com o rebaixamento de países à condição de meros fornecedores de matérias-primas não foram resultado das terríveis políticas neoliberais implementadas. A partir de 2008, após a grande crise do capitalismo mundial, era preciso limpar a história do neoliberalismo. Dizer que tudo o que o Brasil e a América Latina tinha experimentado, nos penosos anos 90, eram fruto de desgovernos e “populismo”, mas não de planos e objetivos equivocados e, entre eles, o neoliberalismo.

    Ali começava um trabalho de reescritura do passado, cujo objetivo era não permitir que a crise de 2008 desse ainda maior espaço para as críticas da esquerda a respeito do capitalismo. Narrativas de conspiração foram criadas, e entre elas, o pânico da integração Latino-Americana ganhava as páginas de revistas conservadoras. A criação da ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América), criada em 2004 e com tratado de comércio em 2006 e a UNASUL, criada em 2008 precisavam ser atacadas. Não pelas iniciativas de cooperação e diminuição de tarifas e barreiras entre os países do sul e, no caso da ALBA, do Caribe, mas pelo risco que este bloco trazia aos interesses capitalistas.

    Do ponto de vista de um colunista conservador, semi-informado, lunático e, provavelmente, sem seus medicamentos neurolépticos, todo este movimento não poderia ser explicado pela negação do povo aos efeitos maravilhosos do capitalismo (entre eles a fome, a miséria, desemprego, inflação, dívida e etc.). Era preciso que se instilasse o medo. Era preciso criar o mesmo gatilho que os pais e avós desta geração vivenciaram. O comunista “comedor de criancinha”, aquele que viria tomar a sua casa e o carro (no caso hoje, o seu Iphone e computador), aquele barbudo fumador de ervas extravagantes que não tinha nenhum apreço pelos valores do ocidente como “democracia”, “liberdade” ou mesmo o salutar banho.

     

    Capa do Dossiê Ursal, que “denunciava” a criação da URSAL, ainda em 2007

    Entre 2007 e 2008, o acrônimo “URSAL” surge ligado a sites de militares (como o “brasilacimadetudo.com”) ou a grupos conservadores (como a midiasemmascara.org) como uma ferramenta para compreender a guinada à esquerda de toda a América Latina. O termo ganha até uma página falsa, feita por conservadores, para parecer real (http://www.socialismobrasil.xpg.com.br/URSAL.html) com direito a banner com letras russas e foto de Karl Marx, Lenin e Che Guevara. O devaneio conta também com a ajuda do presidente Lula que, numa das reuniões do Foro de São Paulo, após a morte de Chavez, afirma que as eleições de progressistas na América Latina “não poderiam ter acontecido sem o Foro de São Paulo”. Pronto! Não apenas os nossos Sherlock Holmes tinham desvendado o mistério, mas tinham agora um vídeo do Professor Moriarty confessando tudo. A URSAL era o plano diabólico final da união entre a ALBA e a UNASUL, trazendo o comunismo soviético de volta e deixando os “homens de bem” em desespero. Era preciso, na visão sem haloperidol, destes colunistas, “acordar a classe média”. Era preciso salvar a família, o capitalismo e a “liberdade”.

     

    O governo Lula sequer foi o primeiro governo a olhar para o Sul com uma visão mais agregadora e cooperativa. Jânio Quadros e João Goulart já haviam feito isto com a PEI (Política Externa Independente). A bem da verdade, até a política externa do ditador militar Ernesto Geisel foi mais voltada para o Sul do que o desastre neoliberal de Fernando Henrique. A subserviência de Luiz Felipe Lampreia e Celso Lafer entraram para a história das Relações Internacionais do Brasil e eram um modelo (a não ser seguido) até os desastres maiores de José Serra e Aloysio Nunes no comando do Itamaraty.

    Por um lado, a URSAL é um delírio de conservadores brasileiros a explicarem porque o povo de toda a América Latina votou massivamente em projetos progressistas de esquerda a partir do fracasso das políticas neoliberais. Por outro lado, a URSAL é a comprovação da incapacidade da equipe do presidenciável que fez a pergunta de, pelo menos, buscar um tipo de ajuda profissional psiquiátrica ou psicológica ANTES de assumirem a responsabilidade do trabalho de assessorar um candidato. Contudo, há também um outro lado nesta história … A URSAL, afinal, nos parece uma grande ideia … Uma ideia de união dos povos que remonta a Lênin e Bolívar. Uma ideia contra a qual o capital internacional desesperadamente gasta milhões para convencer jovens pobres, esfomeados, sem emprego e perspectiva que eles não devem buscar uma mudança política, pois esta mudança lhes resultará num mundo sem, comida, emprego e perspectiva.

    Pois é preciso que digamos: bem-vinda a ideia da URSAL! Que possamos nos unir e nos tornar mais fortes, afirmando nossas peculiaridades e nossa crença que um futuro mais igual, social e economicamente, é possível. Como disse o maior dos comedores de criancinha, na grande “bíblia vermelha” (O Manifesto Comunista): “Os proletários não têm nada a perder, a não ser e talvez, suas próprias correntes. E tem o mundo a ganhar.”