Jornalistas Livres

Tag: eleição 2018

  • O Brasil figadal

    O Brasil figadal

    Desfez-se, de uma vez por todas, o mito de um Brasil cordial. Nossa sociedade não é afável, sincera, calorosa ou franca, no sentido que dá Houaiss ao adjetivo cordial. O Brasil votou com o fígado, com o sentimento visceral de rancor. E elegeu Jair Messias Bolsonaro presidente do Brasil para os próximos quatro anos. A marca histórica de um país que impõe pesado sofrimento aos pobres evidenciou-se novamente.

    Como é possível achar que um deputado, que habita a Câmara dos Deputados há 28 anos, represente o “novo” na política? Como aceitar sua proposta de armar a população para aumentar a segurança? Por que apoiar seu desprezo pelas mulheres? Por que o país elegeu um sujeito que reverencia a tortura e o mais funesto torturador?

    A caminhada do Brasil está repleta de eventos e práticas que fazem corar a todos que julgamos que nascemos iguais e devemos ter os mesmos direitos. Nesse último período, no entanto, há conformações que é preciso salientar. O poder executivo, eleito pelo povo em 2014, foi destituído por uma conjunção do poder econômico, do poder dos meios de comunicação, do poder legislativo, do poder judiciário e do poder dos outros integrantes do sistema de justiça: ministério público e polícias. O silêncio, revelando aparente neutralidade do poder militar, foi quebrado em momentos decisivos em apoio ao objetivo maior.

    A desmoralização e demonização da política vêm desde o início da Ação Penal 470, conhecida como “mensalão”, em 2006. É público que Joaquim Barbosa escondeu provas e evidências que mudariam o rumo do julgamento. Inúmeros juristas denunciaram as ilegalidades desse processo. Suas vozes não foram, contudo, ouvidas. Sucumbiram, sob intenso apoio, e aliança, dos meios de comunicação aos desmandos do Supremo Tribunal Federal, Os mesmos jornais, canais de televisão, rádios e revistas que hoje se espantam com a aberração que gestaram.

    Mal sabíamos que as artimanhas do STF visavam tornar inelegível a maior liderança popular do país. E assim fizeram. Condenaram Luiz Inácio Lula da Silva sem provas de que o apartamento de classe média no Guarujá fosse seu. O futuro ministro do STF, Sérgio Fernando Moro, o condenou por uma matéria de jornal e uma delação de criminosos que declarariam o que fosse preciso para se verem livres da prisão. O Tribunal Regional Federal da Quarta Região confirmou, em tempo recorde, a condenação. O Supremo Tribunal Federal autorizou sua prisão, antes de terminadas as possibilidades de apelação do ex-presidente. E o Tribunal Superior Eleitoral o tronou inelegível.

    O bloco no poder tentou viabilizar outros nomes “novos” na política. Não teve êxito. Não conseguiram se unir em torno de um nome. Todos os balões de ensaio foram bombardeados por frações do poder, quando não pela simples falta de apelo popular. Afinal, a farsa de que teriam sido escolhidos pelo povo em voto livre precisava prevalecer.

    O Brasil de 2014 tinha o menor desemprego da história recente do país, tinha o maior salário-mínimo desde 1964 e tinha saído do mapa da fome elaborado pela Organização das Nações Unidas. A incerteza política gerada pelos inconformados com o resultado da eleição, o contágio de uma débil economia mundial e erros cometidos pelo governo de Dilma Rousseff redirecionaram a economia brasileira, desde 2015 até hoje, para a recessão e o desemprego.

    Em meio a esta grave crise, o país levou ao poder executivo um grupo que promete aprofundar o corte de gastos públicos, a retirada de direitos, as privatizações e a abertura aos produtos estrangeiros. Um conjunto de ações que, diminuindo o consumo e o investimento, debilitará, ainda um pouco mais, a economia do país.

    A retirada de direitos sociais e a autorização para que as forças da repressão policial matem quem julgar adequado tornaram nossa sociedade ainda mais insegura. Tememos pelos mais pobres e por todos aqueles que precisam da proteção do Estado.

    Os Jornalistas Livres, formado exclusivamente por voluntários, nascemos em 2015 para mostrar o que era invisível para os meios de comunicação hegemônicos. Denunciamos inúmeras falcatruas e mentiras, com frequência beneficiadas ou mesmo veiculadas pelos próprios meios de comunicação. Denunciamos perseguições, violências e mortes de pobres, de pretos, de índios, de sem terras, de gays, de trans. Ajudamos alguns a verem com clareza a luta pelo poder que se desenrolava.

    Gritamos “não vai ter golpe, vai ter luta”. Teve golpe e não teve luta. Gritamos “Marielle, presente”. Ela está morta e seus algozes livres. Bradamos “Mestre Moa vive”. E ele está morto. Bradamos “machistas, fascistas, não passarão”. E eles passaram. Clamamos “ele não”. E as urnas disseram “ele sim”. Clamamos “Lula livre”. E ele está preso e “apodrecerá na cadeia” a prevalecer o desejo do presidente ontem eleito.

    Junto com o povo brasileiro mais sofrido, nós perdemos esta batalha. Estamos de luto.

  • Milhares de fotógrafos assinam manifesto pela democracia, liberdade e direitos

    Milhares de fotógrafos assinam manifesto pela democracia, liberdade e direitos

    Fotógrafos brasileiros entregaram ao candidato a presidente Fernando Haddad, no Rio de Janeiro, o manifesto “Fotografia brasileira pela democracia, liberdade e direitos”, no qual reafirmam estarem do lado da história que defende a democracia. O manifesto já passou de mil assinaturas. Assine em:
    bit.ly/FotografiaPelaDemocraciaAdesãoManifesto

    Fotografia brasileira pela democracia, liberdade e direitos.

    Nós, fotógrafas e fotógrafos, professores, pesquisadores e editores, reafirmamos nosso lado na história. A fotografia nasce com e para a democracia e hoje não poderíamos estar em outro lugar.

    De um lado está o fascismo. A candidatura de Bolsonaro usa do ódio, clama pela volta dos armários, correntes, cassetetes e paus de arara para impor ao povo brasileiro uma única foto: o retrato de identificação policial.

    Aqui estão os que lutam pela vitória do bom senso, dignidade e civilização. A chapa Haddad e Manuela é a que tem compromisso com o pluralismo, a liberdade e com os investimentos em cultura e educação para que o Estado garanta os mínimos direitos sociais ao nosso povo.

    Só na democracia que podemos fazer justiça ao verso de Drummond e empunhar nossa “arma de amor, justiça e conhecimento”. Essa é nossa luta e hoje ela tem nome e número. É Haddad, é 13.

  • Tucano preso pode votar, Lula é impedido.

    Tucano preso pode votar, Lula é impedido.

    Na manhã de hoje, Eduardo Azeredo, do PSDB, ex-governador de Minas Gerais, foi escoltado da prisão para a sua zona eleitoral. Votou sem algemas e sem farda prisional do Estado. Ele foi autorizado pelo juiz da Vara de Execuções Penais, Marcelo Augusto Lucas.

    Azeredo está preso em cela especial no Batalhão do Corpo de Bombeiros, na Avenida Afonso Pena em Belo Horizonte. Ele foi condenado por sua participação no que ficou conhecido como “Mensalão Mineiro”, ou “Mensalão tucano”, um esquema de financiamento irregular na sua campanha de re-eleição ao governo de Minas Gerais em 1998. A condenação é de 20 anos e um mês de prisão.

    A Justiça Eleitoral garante o direito ao voto de presos que não tiveram sua condenação transitada em julgada, ou seja, se ainda couber recurso.

    É o caso de Lula, preso sem provas na Polícia Federal de Curitiba, após uma condenação em segunda instância. Ainda cabe recurso. Lula, portanto, tem o direito a votar.

    O direito, no entanto, lhe foi negado.

    A defesa de Lula apresentou recursos ao Tribunal Regional Eleitoral dentro do prazo e o seu direito ao voto foi reconhecido pelos magistrados. O Juiz Pedro Luís Sanso Corat, do TRE-PR, afirmou porém que haveria uma “inviabilidade técnica”, um “obstáculo intransponível”, e admite que a Justiça Eleitoral falhou em não fornecer ao preso as garantias para o seu direito constitucional ao voto:

    “Se assim o tivesse feito, a Justiça Eleitoral estaria viabilizando o direito constitucional ao voto do ex-Presidente Lula, cabendo a outra esfera verificar os meios de deslocamento e a segurança de todos os envolvidos”

    Haveria a possibilidade de instalação de uma urna eletrônica na própria Polícia Federal de Curitiba. O juiz afirmou que seria necessário que pelo menos 20 presos manifestassem o desejo de votar. A Polícia Federal, porém, não informou quantos presos o fizeram.

    O juiz admite ainda que Lula protocolou o pedido dentro do prazo correto.

    Lula apóia publicamente a candidatura de Fernando Haddad à presidência da república.

    É um caso de justiça que tarda e falha. Resta saber porque tardou e falhou contra Lula, mas foi ágil e eficiente na concessão a um Tucano.

  • Festival Lula Livre movimenta milhares de pessoas na Avenida Paulista

    Festival Lula Livre movimenta milhares de pessoas na Avenida Paulista

    Ocorreu hoje (16), na Avenida Paulista (SP), a segunda edição do Festival Lula Livre. Segundo a organização do evento, composta pela Frente Brasil Popular (FBP), artistas e produtores independentes, passaram mais de 30 mil pessoas pelo festival.

    A primeira edição foi realizada no Rio de Janeiro, em 26 de Julho deste ano, e contou com a participação de artistas consagrados como Chico Buarque e Gilberto Gil. Segunda Ana Flávia Marx, da FBP, o evento tem como missão denunciar as arbitrariedades no processo contra o ex-presidente Lula e exigir a retomada da democracia. “O presidente é um preso político, ele foi barrado na disputa eleitoral porque estava em primeiro nas pesquisas. A mídia esconde essa situação do país, o nosso Estado está longe de ser democrático e de direito, então a gente tem todos os motivos para ir pra rua fazer a nossa manifestação”, declara.

    O Festival contou com a presença de Chico Cesar, Ana Cañas, Otto, Marcelo Jeneci e muitos outros artistas.

    Confira algumas fotos de nossa cobertura:

  • Manuela D’Ávila desafia homem que a chamou de mentirosa a se apresentar no microfone e dizer onde está a mentir

    Manuela D’Ávila desafia homem que a chamou de mentirosa a se apresentar no microfone e dizer onde está a mentir

    O caso aconteceu em frente a PanMetal, em São Paulo, enquanto Fernando Haddad e Manuela D’Avila conversavam com os metalúrgicos.

    Manu: O Lula tá preso porque toda essa elite aqui não gosta do povo, não gosta de gerar trabalho, que não gosta da educação pública que construímos com Fernando Haddad quando era ministro da educação. Lula tá preso porque ele ia ganhar em primeiro turno, por isso que não divulgaram a pesquisa ontem.

    Homem: MENTIRAAAAAA

    Manu: É verdade! Aqui não tem quem mente, aqui tem que luta pra mudar o Brasil e fazer do Brasil um país dos trabalhadores e da trabalhadoras. E eu não sei teu nome mas se tu quiser vir aqui se apresentar e tentar provar qual de nós disse uma mentira, tu pode se apresentar. Eu sou Manuela D’Avila, sou deputada há 12 anos, a mais votada do Brasil nas últimas eleições e não é porque o povo acha que eu minto, mas é porque o povo sabe que eu sou dessa turma que luta pra desenvolver o Brasil e valorizar o trabalho. E não tenho medo de homem que aponta dedo pra mim, companheiro. Abaixa esse dedo que a gente pode construir um Brasil com respeito e dignidade!

  • Uma conversa sincera sobre alianças

    Uma conversa sincera sobre alianças

    por Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História na UFBA


    O jogo da política é esporte coletivo. Ninguém faz política sozinho, nem mesmo nas tiranias, nem mesmo nos regimes de poder mais autoritários. As alianças sempre são importantes, estão sempre sendo costuradas, em todos os lugares onde podemos encontrar seres humanos praticando política.

    E os seres humanos, leitor e leitora, praticam política em tudo quanto é lugar, estão sempre costurando alianças. É isso que nos humaniza.

    Costuramos alianças no trabalho, quando nos aproximamos de determinados colegas e nos afastamos de outros. Costuramos alianças até mesmo em casa, na família, quando construímos relações de afinidade e afeto mais intensas com um irmão e não com o outro, com um primo e não com o outro, com a mãe, ao invés do pai.

    Os políticos profissionais, como não poderia deixar de ser, têm na costura de alianças o fundamento do seu ofício.

    Neste ensaio, falo sobre alianças, tomando como objeto de reflexão as tratativas que envolveram PT e PDT visando uma aliança progressista nas eleições presidenciais de 2018.

    Ao que parece, essa aliança não vai acontecer, pelo menos não no primeiro turno. Acho difícil que aconteça depois também.

    Meu objetivo aqui é examinar a movimentação dos atores envolvidos fora do clima de histeria que tomou a militância de ambos. Quero reconstruir as estratégias acionadas pelas lideranças petistas e pedetistas, examinando as suas expectativas.

    Vamos lá, passo a passo, começando por Ciro Gomes.

    A estratégia de Ciro foi coerente com sua leitura da crise. A leitura, talvez, tenha sido equivocada, mas a estratégia foi coerente. Explico.

    Em outubro de 2016, na ocasião das últimas eleições realizadas no Brasil, todos os dados disponíveis apontavam para o colapso do Partidos dos Trabalhadores: redução drástica no número de prefeituras ocupadas, de mandatos parlamentares, sem contar a derrota acachapante em São Paulo, onde Fernando Haddad, em exercício do mandato e com o controle da máquina, foi batido ainda no primeiro turno por João Dória.

    Por aqueles tempos, não seria um absurdo decretar a morte do PT. Foi essa a aposta de Ciro Gomes, que viu aí a chance de inaugurar um outro equilíbrio de forças dentro do campo progressista.

    Durante quase dois anos, Ciro investiu nessa estratégia, criticando duramente os governos petistas. Ora o alvo de críticas era Lula, acusado de não ter feito nenhuma mudança estrutural, “a não ser a tomada de três pinos”, pra lembrar a ironia feita numa entrevista a Lázaro Ramos. Em outros momentos, era Dilma quem estava na alça de mira, acusada de “não ser do ramo”.

    Em entrevista a Paulo Moreira Leite, Ciro chegou a chamar Lula de ladrão, endossando parte das acusações feitas pela operação Lava Jato.

    Tudo isso pode ser somado à ausência de Ciro Gomes nos palanques petistas, tanto em Monteiro, na ocasião da inauguração da transposição do Rio São Francisco (março de 2017), como nas manifestações que aconteceram em São Bernardo do Campo, na ocasião da prisão de Lula (abril de 2018).

    A mensagem estava clara: Ciro estava disputando a hegemonia dentro do campo progressista. Lendo a conjuntura, Ciro achou que poderia vencer, e apostou alto.

    O caminho para a vitória passava pela costura de alianças, e Ciro Gomes sabia perfeitamente disso. Ciro investiu, então, na aproximação com o tal do “centrão”, antigo aliado do PT, especialmente durante a era Lula.

    Foram meses de conversas, de promessas recíprocas. Mas a conjuntura mudou (em momentos de crise, as conjunturas mudam muito rápido) e Ciro Gomes sofreu um duplo revés:

    1°) A recuperação do lulismo

    A agenda do golpe neoliberal se tornou extremamente impopular. O governo de Temer não conseguiu se apropriar da narrativa de combate à corrupção. Além disso, o desmonte do Estado, o ataque à CLT e a tentativa de destruir a previdência pública, colocaram Temer em confronto direto com o imaginário popular, que desde os anos 1930 é atravessado pela ideia de que cabe ao Estado prover direitos sociais e amparar os mais pobres.

    Direitos trabalhistas e previdenciários são coisas sagradas para os brasileiros e brasileiras. O golpe neoliberal foi inábil, afobado e pode até ter colecionado vitórias institucionais (a PEC dos gastos e a reforma trabalhista, por exemplo), mas se desgastou na opinião pública.

    Com esse desgaste, o capital político de Lula foi reabilitado. Lula se tornou o grande antagonista do golpe neoliberal, ainda que quando presidente tenha sido dócil com os interesses neoliberais.

    Lula passou a ser representado no imaginário popular como o novo “pai dos pobres”, personificando a função social do Estado.

    No imaginário dos mais pobres, a imagem de Lula lembra o prato mais cheio, lembra o crédito facilitado, a energia elétrica, a cisterna. A imagem de Lula lembra a “vidinha digna”, que nos valores populares significa comer três vezes por dia e ter algum conforto material para “criar os meninos”.

    Só isso que explica aquele que, ao menos na minha avaliação, é o dado mais impressionante da crise brasileira contemporânea: mesmo preso, mesmo sendo alvo do mais violento ataque midiático da história do Brasil, Lula ainda venceria as eleições presidenciais, talvez em primeiro turno.

    Ciro Gomes subestimou a capacidade do lulismo de sobreviver à crise. Ninguém faz política no campo progressista sem reivindicar o legado de Lula. Ciro achou que dava pra superar Lula. Errou.

    2°) O conservadorismo do “centrão”

    O centrão é conservador, se alimenta da fisiologia e, por isso, diferente do que fez Ciro Gomes, escolheu apostar baixo. Lendo a conjuntura, o centrão acredita que a polarização ideológica que marcou a história política brasileira nos últimos 25 anos irá se manter nas eleições de outubro: PT x PSDB.

    É com esse cálculo, de que a crise não alterou profundamente a sensibilidade do eleitor brasileiro, que o centrão se divide entre um apoio formal a Geraldo Alckmin e um apoio informal a Lula.

    Os partidos do centrão escolheram Alckmin, mas lideranças importantes flertam com Lula, como é o caso de um Edson Lobão, de um Renan Calheiros, de um Eunício Oliveira.

    Ciro queria o apoio do centrão para isolar o PT e, depois, ditar os termos da aliança. Ciro ficou a ver navios. O centrão lhe disse: “Não vamos trocar o certo pelo duvidoso”.

    Depois do “não” do centrão, Ciro reorientou sua estratégia, adotando um tom mais simpático a Lula e ao PT, como ficou claro na sabatina da Globo News, que aconteceu na semana passada. Quando teve que criticar, Ciro criticou Dilma. É redundante criticar Dilma. É fácil criticar Dilma. Com Lula, Ciro foi gentil, elogioso, bem diferente do que fez ao longo de todo esse tempo.

    Por seu lado, o PT, nas cordas e com o seu grande líder preso e inelegível, pensou seriamente na possibilidade de coligar com Ciro Gomes. Hoje, Ciro é mais forte do que qualquer quadro interno do PT. Todas as pesquisas mostram isso.

    O PT abocanhou o PCdoB e o PSB, para isolar Ciro Gomes e forçá-lo a uma aliança tutelada.

    Entendem, leitor e leitora? As duas partes queriam a mesma coisa: isolar o adversário e depois construir uma aliança tutelada.

    Quem perdeu e quem venceu?

    Por ora, só dá pra responder parcialmente.

    Dá pra cravar que Ciro Gomes já perdeu. O PT ainda não perdeu. Pode perder, mas também pode ganhar.

    Ciro apostou alto, foi ousado e corajoso ao confrontar o capital político mais valioso da história do Brasil. Se tivesse dado certo, seria uma vitória épica que refundaria o campo progressista brasileiro. Não deu certo e, se nada mudar, se as lideranças dos dois partidos mantiverem suas posições atuais, Ciro Gomes será o primeiro derrotado nas eleições de 2018.

    Já o PT vai apostar na estratégia da transferência de votos que já deu certo com Dilma. A diferença é que agora Lula não estará solto por aí, fazendo campanha.

    Mas Lula ainda precisa fazer campanha? Ele já não é conhecido, amado e respeitado o suficiente para transferir votos para qualquer poste sem precisar pisar no palanque?

    O PT acha que sim. Só o tempo dirá.

    Verdade, verdade mesmo é que ninguém é mocinho nessa história, tampouco vilão. Tanto Ciro como PT são players se movimentando no tabuleiro da política. Na política, aliado bom não é aquele com quem tenho afinidade ideológica. Esse pode até ser meu amigo, mas pra ser meu aliado precisa trazer algo. Pra que serve um aliado que só traz ideias, que não tem voto, que não tem mandatos no Congresso? Esse aliado não serve pra nada.

    Aliado bom mesmo é aquele que é forte o suficiente para agregar capital político, mas não é forte o bastante para ditar os termos da aliança. É esse o aliado com quem todos eles sonham: a esquerda, a direita e o centrão.