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  • Davi Kopenawa vai à ONU denunciar risco de genocídio de Povos Indígenas Isolados

    Davi Kopenawa vai à ONU denunciar risco de genocídio de Povos Indígenas Isolados

    A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos D. Paulo Evaristo Arns estará presente na 43ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, na Suiça, no dia 03 de março de 2020. Em evento paralelo, a Comissão Arns, o grande líder indígena Davi Kopenawa, premiado pelo Prêmio Right Livelihood 2019, e o Instituto Socioambiental (ISA), irão denunciar à comunidade internacional o risco de genocídio de povos isolados no Brasil

    Desde sua criação, a Comissão Arns trabalha pela proteção dos povos indígenas, principalmente, os  isolados ou de recente contato. O apoio ao povo Waimiri-Artroari (Kinjá), vítima de violação ao direito de consulta prévia nas negociações do Programa de Interligação Elétrica Manaus-Boa Vista, foi declarado logo no início nas atividades do grupo. Em novembro de 2019, junto ao Coletivo de Advocacia em Direitos Humanos (CADHu), a entidade protocolou uma representação contra o presidente da república Jair Bolsonaro, no Tribunal Penal Internacional (TPI), por incitar o genocídio e promover ataques sistemáticos contra os povos indígenas do Brasil.

    O discurso que o governo federal adota sobre as populações tradicionais será importante ponto de discussão no “evento paralelo” realizado no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Também cabe destacar o retrocesso nos marcos legais, que visam a proteção desses povos como o desmantelamento da Fundação Nacional do Índio (Funai), e o assassinato de diversos líderes indígenas brasileiros. Segundo Laura Greenhalgh, diretora executiva da Comissão Arns, a falta de diálogo na gestão Bolsonaro deixa a entidade ainda mais alerta. “Este governo não quer ouvir os setores da sociedade que estão trabalhando com os povos indígenas para lhes garantir o direito constitucional da autodeterminação. Não há interesse em diálogo com a sociedade, com a Academia, com os cientistas e, muito menos, com os indígenas. Por esse motivo, sempre que possível, a Comissão Arns vai ocupar espaços de esclarecimento e alerta, dentro e fora do Brasil”, explica. A jornalista estará na mesa ao lado do líder indígena Davi Kopenawa, porta-voz do povo Yanomami e presidente da Hutukara Associação Yanomami e do pesquisador Antonio Oviedo, do Instituto Socioambiental (ISA).

    O “evento paralelo” é uma das formas de ONGs e instituições da sociedade civil credenciadas poderem participar das sessões do Conselho de Direitos Humanos da ONU.  Para o pedido ser aprovado, é necessário que a temática traga questões relevantes, que inclui o fortalecimento da promoção e proteção dos direitos da pessoa humana em todos os lugares do mundo e a elaboração de recomendações para abordar as violações, incluindo as graves e sistemáticas.

  • O Nobel Alternativo e os povos indígenas do Brasil

    O Nobel Alternativo e os povos indígenas do Brasil

     

    O líder indígena Yanomami, Davi Kopenawa, e a Hutakara Associação Yanomami, foram laureados com o Right Livelihood Award 2019, em Estocolmo, Suécia. O prêmio, conhecido como o Nobel Alternativo, foi-lhes concedido pela determinação corajosa em proteger as florestas e a biodiversidade da Amazônia, e as terras e a cultura dos povos indígenas.

     

    Davi comentou estar muito feliz em receber o prêmio, vem na hora certa e é uma demonstração de confiança em mim e na Assossiação Hutakara e em todos aqueles que defendem a floresta e o planeta Terra. O prêmio me dá forças para continuar a luta para defender a alma da floresta amazônica. Nós, os povos do planeta, precisamos preservar nossa herança cultural, como Omane ( o Criador) ensinou a viver bem, cuidando de nossa terra, para que gerações futuras continuem a usá-la, concluiu.

     

     

    Os diretores da Hutakara, em reunião com Gate Gilmore, Alta Comissária Adjunta para Direitos Humanos, no escritório da ONU, em Genebra, comunicaram denúncias de garimpo ilegal e contaminação por mercúrio na Terra Indígena Yanomami, e o desflorestamento da Amazônia por não indígenas.

    Animatou Haidar e Davi Kopenawa durante a premiação.

    Além de Davi, o Nobel Alternativo, em sua quadragésima edição, em 2019 também premiou Animatou Haidar ,  por sua firme ação não-violenta, apesar da prisão e tortura, em busca de justiça e autodeterminação para o povo do Saara Ocidental. Guo Jianmei, por seu trabalho pioneiro e persistente na garantia dos direitos das mulheres na China e Greta Thunberg, Suécia, por inspirar e ampliar demandas políticas por ações urgentes que reflita fatos científicos do desequilíbrio do clima no planeta.

    Cerca de 120 índios formam com seus corpos a expressão ‘Fora Garimpo’, na Terra Indígena Yanomâmi, – Victor Moriyama©
  • O silêncio do mundo

    O silêncio do mundo

     

     

     

    Com a vontade de penetrar a fundo nas origens indígenas brasileiras, pensar e (re)conhecer o nosso país e o nosso povo a partir de outras perspectivas, o 26ºPorto Alegre em Cena, Festival Internacional de Artes Cênicas, concretizou na noite de quinta-feira (19) a primeira etapa deste projeto em parceria com o SESC-RS, que abarca grandes nomes como Ailton Krenak, ambientalista e líder indígena, Davi Kopenawa, xamã e embaixador indígena, Levi Yanomami, xamã, e Andreia Duarte, performer. A pesquisa parte da percepção da natureza em sua mais complexa existência, tendo como guia reflexões acerca do que nos é invisível, como as luzes que possibilitam a fotossíntese, os sons surdos do mundo e o respiro da floresta que devolve ao ar o oxigênio.

    O silêncio do mundo é a aniquilação dessa diversidade, dessa riqueza toda / imagem helio carlos mello©

     

    Com a colaboração de artistas locais — a diretora teatral Jezebel De Carli, o músico Felipe Zancanaro e a artista plástica Isabel Ramil —, a montagem integra um projeto que continuará a ser desenvolvido em residências pelo país. Além de Duarte e Krenak, participam do núcleo criativo de O Silêncio do Mundo outro importante líder indígena — Davi Kopenawa — e o xamã Levi Yanomami. Estes chegaram a ter sua vinda a Porto Alegre anunciada, mas não estavam presentes devido ao luto pela morte do sogro de Kopenawa.

    No intervalo de um ensaio no Sesc Centro, na capital gaúcha, acompanhado pela reportagem do GaúchaZH, Ailton Krenak explicou o fundamento que embasa O Silêncio de Mundo: o conflito entre os humanos — ou melhor, aqueles que se elegeram como representantes do que é “humano” — e os não humanos, ou seja, os animais, rios, enfim, tudo que faz parte do que se conhece como natureza.

    — Todo esse acervo que chamamos de cultura do Ocidente só faz uma coisa: predar o planeta. Se por algum tempo ele foi coabitado por uma humanidade vasta, que incluía os não humanos, teve uma hora em que um raio partiu a árvore, e uma banda dela se tornou dominante, justamente essa que está predando o planeta. 

    É nos termos dessa humanidade vasta, que inclui humanos e não humanos, que existe a possibilidade de negociar a recriação de vida no mundo. O silêncio do mundo é a aniquilação dessa diversidade, dessa riqueza toda.

    Andreia Duarte, Davi Kopenawa e Ailton Krenak.

     

    Diálogo

    Krenak entende que, depois de tanta predação, houve um momento em que a Terra cortou a conversa com os humanos. Agora, ela responde por meio de tsunamis, terremotos e outros fenômenos que provocam tragédias, com milhões de excluídos e refugiados. O espetáculo, assim, pretende indicar um novo caminho, ou melhor, um caminho mais antigo que foi deixado de lado:

    — Considerando que não existe uma única escolha, nos atrevemos a apontar algumas alternativas a esse paradigma de que o Ocidente ficou prisioneiro. O diálogo que esperamos abrir é entre essa humanidade que não ouve e os não humanos que falam. É como se estivéssemos estabelecendo um novo processo, em que essa humanidade pode parar para pensar se está bem assim ou se ela quer pensar em outra hipótese.

    A performer Andreia Duarte acrescenta que O Silêncio do Mundo leva não apenas ideias para o palco, mas vivências:

    — Tanto Ailton como eu, falando de lugares diferentes, temos não apenas a experiência intelectual, mas a de vida. Morei cinco anos em uma aldeia no Parque Indígena do Xingu (no Mato Grosso). Vivo há 20 anos no meio indígena. Essa não é uma causa, é minha vida.