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  • Em ato político, Lula, Dilma, Mujica e Vagner ressaltam a importância da integração latinoamericana

    Em ato político, Lula, Dilma, Mujica e Vagner ressaltam a importância da integração latinoamericana

    por Vitório Tomaz, com fotos e vídeos de Ana Carolina Barros, especial para os Jornalistas Livres


    Na última terça-feira (13/10) no Palácio de Convenções do Parque ANHEMBI em São Paulo aconteceu a abertura do 12 Congresso da Central Unica dos Trabalhadores (CONCUT), evento que acontece em momento histórico da democracia no Brasil e que reuniu a Presidenta da República Dilma Rousseff, o Ex-Presidente do Brasil Luis Inácio Lula da Silva, e o Ex-Presidente do Uruguai Pepe Mujica além de representantes de centrais sindicais de 72 países, distribuídos pelos 6 continenentes, representantes de diversos movimentos sociais, da CSI e da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Em todas as falas de abertura o tom foi em defesa da democracia, da soberania e integração latinoamericana e contra o avanço do poder corporativo e da direita em todo o mundo. Frente as atuais circuntancias os líderes pontuaram a necessidade iminente da união dos trabalhadores para fazer frente aos retrocessos forjados pelo capital. Falaram em ordem a Presidenta Dilma Rousseff, o Presidente da CUT Vagner Freitas, o Ex-Presidente do Uruguai Pepe Mujica e encerrando a noite o Ex-Presidente Lula.

    Dilma discursando durante a abertura do 12.o CONCUT

    Em seu discurso, a Presidenta Dilma Rousseff afirmou que os ataques golpistas não estão direcionados a ela e sim ao que ela representa. Dilma se colocou como a representante das mudanças sociais que vem ocorrendo no pais desde que o ex-presidente Lula foi eleito, enfatizando que o golpe que insistentemente vem sendo articulado pelas mídias e setores da direita não é contra a presidente da república, mas contra todos os cidadãos brasileiros e as conquistas dos últimos anos.

    “Nós neste momento estamos fazendo um grande esforço para manter as conquistas que tivemos” — Presidenta Dilma Roussef

    Colocou que as tentativas golpistas que tem sofrido por parte da oposição, que tenta a qualquer custo criar um ambiente artificial para o golpe, seja por meio do Tribunal de Contas da União ou por meio da crise,não vingaram. Segundo Dilma, ao tentar promover o golpe, a oposição tem se esquecido de questões importantes como o fato de que na sua gestão e na do ex-presidente Lula foi se injetado nos bancos públicos aproximadamente 500 bilhões de reais e que apesar disto a oposição prefere se fixar apenas nas retiradas feitas para subsidiar o programa “Minha casa, Minha vida” que em muitos casos de famílias de baixa-renda financiou 90% do valor integral do imóvel.

    Dilma com bandeira da Marcha da Mulheres Negras

    Concluindo sua fala, enquanto a platéia entoava falas como “No meu pais eu boto fé, porque ele é governado por mulher” e “Não vai ter golpe” a Presidenta deixou a seguinte pergunta no ar:

    “ Quem tem força moral, reputação ilibada ou biografia limpa o suficiente para atacar minha honra?”.

    Dando sequência a abertura o Presidente da CUT, Vagner Freitas, abordou o avanço da direita como um fenômeno de amplitude mundial que atinge a todos e todas da classe trabalhadora, ressaltando a importância da unidade entre a classe trabalhadora para fazer frente aos avanços e garantir a permanência dos direitos já conquistados.

    Vagner Freitas falou também sobre a sua categoria (bancária), que está atualmente mobilizando greves em todo o país. ressaltando a proposta obscena feita pelos banqueiros de oferecer aos seus trabalhadores um aumento de apenas 50% sobre o valor da inflação. Defendeu ainda a realização de uma campanha extensiva a favor da repatriação do dinheiro desviado pela corrupção, saída que, segundo o mesmo, poderia evitar o ajuste fiscal. Concluiu sua fala com a promessa de apresentar na próxima sexta-feira proposta assinada pela CUT como saída alternativa ao ajuste fiscal. Tema que mais a frente também foi explorado pelo presidente Lula em seu discurso.

    Na continuação, o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, em concordância e complemento aos discursos que o antecederam, denunciou o avanço da direita e das forças corporativas no mundo, tendo ressaltado a necessidade de avançar na luta para criar um mundo com menos pobreza, com mais saúde e mais dignidade. Mujica enfatiza que tem consciência do momento difícil que o Brasil está atravessando e convida o povo brasileiro a nutrir a esperança e não deixar de lutar pela liberdade e pela democracia. O ex-presidente uruguaio afirma que nenhum país da América do Sul conseguirá vencer o capitalismo sozinho e portanto pede a integração latinoamericana.

    “Compatriotas, sonhava com um mundo sem classes, porém tenho que navegar em um mundo que tem classes” — Pepe Mujica — ex-presidente do Uruguai

    Finalizando a noite, o ex-presidente Lula iniciou sua fala contextualizando o momento em que ocorreu sua eleição no Brasil e destacando que a América Latina viveu um período de grandes avanços para a esquerda ao eleger presidentes progressistas no Uruguai, Argentina, Venezuela, Bolívia, além de outros na América Central.

    Ex-presidente Lula discursando durante o 12.o CONCUT
    Em defesa da Presidenta Dilma Rousseff, elogiou o discurso da mesma, ao afirmar que, como líder política e nao como presidenta, Dilma havia feito um discurso histórico. Ressalta que a presidente mostrou o “coração valente” que lá estava na campanha que a elegeu em 2014.

    Pró integração, Lula elogiou o discurso de Vagner Freitas ao dizer que o mesmo, apesar de ter apresentado as dificuldades que o Brasil vive atualmente, se colocou como um critico positivo, ao cobrar e ao mesmo tempo dizer que a CUT está ao lado da democracia e sabe que o momento demanda proposições de soluções.

    Criticando o ajuste fiscal proposto pelo Ministro Joaquim Levy, Lula ressaltou que não existiu um único país no mundo que melhorou sua economia ao realizar ajuste fiscal.

    E que apesar de existir o movimento recente da FIESP contra a volta da CPMF, o sistema S foi beneficiado com recursos do governo por meio do PRONATEC para financiar seus cursos técnicos.

    Presidenta Dilma Rousseff e Ex-Presidente Lula conversando antes do discurso da Presidenta

    Em recado a Presidenta Dilma, Lula defendeu que o governo precisa ter mais ousadia, pois para o povo brasileiro, está dada a impressão de que o discurso feito pela oposição nas eleições é o discurso que o governo adotou e vice-versa. Enquanto o mesmo discursava ouvia-se a platéia gritar

    “Fora Levy”.

    Por volta das 23h40 deu-se o encerramento da plenária, sob o som de Calle 13 — Latino América, postado logo abaixo para vocês.

     

  • Ao invés do ódio, sorrisos eram vistos na manifestação da “esquerda”

    Ao invés do ódio, sorrisos eram vistos na manifestação da “esquerda”

    Em várias cidades brasileiras, milhares de pessoas saíram às ruas. Só que ao contrário do último domingo, essas não carregavam aquela raiva estampada no rosto.

    Nada da manifestação ser no mesmo horário em todas as cidades. Teve ato durante a manhã, à tarde e à noite. Será que é por que o “povo “ é muita gente? E não minoria como os abastados de dinheiros e pobres de alegria e sorrisos?

    Ao menos nas últimas manifestações da direita e oposição ao governo, o que se via era um ódio estampado nos dentes, olhos e boca da maioria da pessoas, e claro, a falta de argumentos sólidos, e não somente lúdicos. O que ao mesmo tempo causava espanto ou fazia dar algumas risadas.

    Em Belo Horizonte, cerca de 12 mil pessoas saíram às ruas no fim da tarde de ontem, uma quinta-feira de inverno , já quase fim de agosto. Da Praça Afonso Arinos, seguiram até a Praça Sete, passando pela Avenida Afonso Pena. Empunhando faixas e cartazes que diziam: “não vai ter golpe”, “prefiro as vaias da democracia do que o silêncio da ditadura”, “não à mídia manipuladora”, “descriminaliza STF”, dentre outros pedidos em prol da sociedade e não somente de interesses privados. Bem diferente do dia 16, onde ouvia-se aos brados alguém afirmar que “a ditadura militar irá garantir que você possa ter seu carro zero e não ser roubado”.

    Foto: Isis Medeiros

    Entoavam-se cantos, puxados pelos diversos movimentos que fizeram parte do ato: ali haviam pessoas negras, pardas, brancas, jovens, adultos e algumas crianças com os pais. Letras criativas e questionadoras e gritos por direitos ouviam-se vários. Bateria, estilo escola de samba (composta por jovens desejosos por menos injustiças sociais); mega-fone e apitos somavam-se ao som que ecoava das caixas dos trios elétricos, com falas de dirigentes dos movimentos que participavam da manifestação.

    Todos ali eram patriotas e defensores de um país justo e democrático. Estavam vestidos, em sua maioria, de vermelho e não de verde/ amarelo. Tinha gente com bandeira do Brasil também. Mas ontem, as bandeiras não tiveram serventia como nas Copas do Mundo: enroladas ao corpo nos estádios de futebol e nas ruas. Ao contrário, via-se a agitação de bandeiras vermelhas, brancas e do Brasil. Via-se o sorriso em cada um que balançava sua bandeira, seja por direitos já conquistados ou outros tantos ainda a conquistar.

    Foto: Isis Medeiros

    A maior manifestação na capital das gerais, chamada pela esquerda neste ano de 2015, não só passou pelas ruas e avenidas. Foi realizada duas paradas estratégicas antes de chegar à Praça Sete. “Agora vamos fazer um escracho em frente ao prédio da Receita Federal”, bradou a coordenadora da CUT, Beatriz Cerqueira. Lindo som… “Temos que nos indignar com a política fiscal que eles estão fazendo”. Logo após foi a vez da Prefeitura Municipal, onde a administração atua em total desrespeito aos anseios da população e garantia dos direitos, seja no aumento da tarifa de ônibus ou na prática de estratégias para viabilizar o despejo das ocupações urbanas.

    No trajeto não se via selfies com policiais, mas sim, fotos de pessoas comuns e felizes por ali estarem empunhando suas bandeiras, cartazes ou vestidas com suas camisetas de protesto. Da Praça Sete desceram até a Avenida Amazonas rumo à Praça da Estação. E por incrível que pareça, dois senhores entoando xingamentos contra os manifestantes surgiram quando o ato cruzava a Rua da Bahia, já quase na Avenida dos Andradas. Mas a alegria está em quem sabe dividir o pão, assim como acontece em locais periféricos, assentamentos e ocupações. E muita gente que vive nesses locais estavam ali, no meio das milhares de pessoas, que a essa hora já chegavam à Praça da Estação, sorrindo e bradando.

    Foto: Isis Medeiros

    Em meio a sorrisos, pulos, gritos e música, artistas se apresentaram na Praça da Estação. Tudo em ritmo de protesto, mas com alegria, pelo direito de lutar por aquilo que acreditam e não deixar que o país seja representado por uma minoria que vai às ruas somente aos domingos.

    No Ato pela Democracia parecia ter poucos infiltrados, a não ser a emissora plim-plim que enviou seu “time” sem uniforme e crachá, o que nunca acontece em outras pautas. E de repente, sorrindo, uma servidora pública que participava da manifestação, disse: “Uai, eles acham que a gente não conhece essas caras de pitbull deles¿ Vem cá, vem! Vem filmar a manifestação e também a nossa greve.”

    Foto: Isis Medeiros
  • Contra a crise: a saída é pela esquerda

    Contra a crise: a saída é pela esquerda

    Centenas de milhares de pessoas se mobilizaram em todo o país nessa quinta-feira (20). Contra o ajuste fiscal e em defesa da democracia, os movimentos populares deram o recado: que os ricos paguem a conta!; e Não vai ter golpe!

    O dia amanheceu frio, as nuvens anunciavam a chuva — tão desejada em São Paulo -, mas não me surpreendi com a virada inesperada do tempo. A água é companheira de lutas do povo que ocupa a cidade na terra da garoa.

    O dia 20 de agosto foi a data escolhida pelos movimentos sociais para saíram às ruas em defesa da democracia e contra o ajuste fiscal. No Brasil, 19 capitais e o Distrito Federal realizaram mobilizações, além de cidades como Caxias do Sul, Campinas e Juiz de Fora. Centenas de milhares foram às ruas. Na capital paulista a concentração estava marcada para as 17h no Largo da Batata, região do bairro de Pinheiros, e seguiu em caminhada pela Av. Rebouças, até a Av. Paulista. O ato foi encerrado no vão do MASP, por volta das 10h, e contou com 100 mil pessoas, de acordo com a CUT, e 40 mil de acordo com a Polícia Militar.

    Foto: Mídia NINJA

    Os atos tiveram duas bandeiras principais: a defesa da democracia e da legitimidade do governo eleito e da presidenta Dilma Rousseff (PT), em resposta as recentes manifestação puxadas por setores conservadores que pedem o Impeachment e a Intervenção Militar; e a denúncia aos ajustes fiscais que punem a classe trabalhadora e favorecem os empresários. Que os ricos paguem a conta! Era uma das palavras de ordem.

    A unidade do ato em São Paulo foi uma construção trabalhosa. Vale lembrar que no histórico 13 de março desse ano, quando 60 mil foram às pela Reforma Política, contra o Ajuste Fiscal e a Terceirização e em defesa da Petrobrás, movimentos como MTST, centrais sindicais como a Intersindical e partidos como o PSOL, não entraram em acordo sobre a participação na ação.

    Dessa vez foi diferente. O momento de crise e a ameaça de golpe mudaram a conjuntura. A unidade foi crítica, um lembrete à presidenta Dilma. Algo como: “Dona Dilma, foram os movimentos sociais e populares que te elegeram. E te elegeram com um programa de esquerda. É para eles e com esse programa que você deve governar. Honre seus compromissos com a Classe Trabalhadora”.

    Adriana Magalhães, secretária de Imprensa e Comunicação da CUT/SP, conta que para construir o ato foi necessário um exercício de encontrar as bandeiras unitárias “O que nos unifica é a pauta de que é possível uma outra política econômica que não prejudique os trabalhadores, como vimos com os recentes ajustes fiscais, que vêm sendo conduzidos pelo Levy”.

    A Classe Trabalhadora vai às Ruas

    A Classe Trabalhadora então foi às ruas. E não tem nada mais bonito que a classe trabalhadora nas ruas. Bonito porque a luta é bonita e diversificada. Diferentemente de domingo, as caras não eram todas iguais, brancas, bem postas. Cada rosto de cada pessoa que estava na rua, na noite dessa quinta-feira embaixo de chuva, trazia uma história de luta.

    Foto: Ennio Brauns
    Foto: Ennio Brauns

    Eram homens e mulheres, e também crianças, camponeses e camponesas que traziam as marcas de sol de uma vida de luta e de trabalho no campo e pelo direito à terra. E também os trabalhadores e trabalhadoras da cidade, que junto de suas famílias trazem as cicatrizes da luta pela moradia. Eram mulheres de luta, que trazem no sangue a sanha pelos direitos dos quais são privadas desde sempre. Eram negros e negras, quantos negros e negras, que até hoje vivem as sequelas de uma escravidão que ainda assombra a nossa sociedade. Os moradores das periferias que sofrem com a violência de uma polícia militar assassina e vivem a chacina dos jovens negros todos os dias. Eram os LGBTTs que são privadas e privados até de amar. Eram @s jovens, @s estudantes, que vem a ameaça de perda dos direitos conquistados a duras penas, mas que traziam na face a esperança e a gana da juventude. Eram as centrais sindicais e junto de suas bases, por nenhum direito a menos, com a experiência que consolida a luta. Também eram imigrantes e refugiados que encontraram no país a possibilidade de recomeçar, indo às ruas contra a xenofobia e a intolerância… Foram tantos.

    Foto: Mídia NINJA
    Foto: Mídia Ninja
    Foto: Mídia Ninja



    E o ambulante Fernando Gouveia, de 33 anos, que esteve nos dois atos notou essa diferença entres os dois grupos de fregueses. “Os de domingo gastavam bem mais, os de hoje são mais mão fechada, nem abaixando o preço”, brinca. E o que você acha do pessoal de domingo e de quem está aqui hoje? “Ah… vir fazer manifestação no domingo de sol é fácil né. Quero ver sair do trabalho em uma quinta-feira à noite e vir manifestar em baixo de chuva”. E você? Se identifica mais com qual dos dois grupos? “Com os de hoje né, porque se a Dilma sair e gente fica sem casa, acaba o minha casa minha vida”, conclui.

    E o ato podia até ter duas bandeiras principais. Mas carregava muitas outras…

    O que quer o povo?

    Nenhum direito a menos!

    Trabalhadores e trabalhadores não aceitarão o ajuste, não aceitarão a terceirização e a precarização do trabalho. Não aceitarão uma crise na qual os bancos e empresas demitem, mas continuam tendo exorbitantes margens de lucro. “São os ricos que tem que pagar por essa crise. No último período vários setores tiveram isenção de impostos, com qual objetivo? Que os empresários fizessem a parte deles, não só de garantir os empregos, mas também investissem em tecnologia e inovação. Eles não fizeram isso. Eles continuaram com a sua grande margem de lucro. Essas isenções causaram um dano às contas. E agora não é fazendo ajustes no seguro dos pescadores, por exemplo, que vamos resolver”, explica Adriana. Uma das alternativas ao ajuste, proposta pelas centrais sindicais, é a tributação das grandes fortunas.

    Reforma Política

    Foto: Lina Marinelli
    Foto: Lina Marinelli
    Foto: Giovanna Consentini
    Foto: Giovanna Consentini

    A unidade também estava em torno da insatisfação com o Congresso Nacional, o mais conservador desde 1964, ano do golpe militar. Para isso muitas placas contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB). Envolvido em 22 processos e, entre eles, três inquéritos, o presidente tem protagonizado os maiores retrocessos de direitos do último período.

    Nesse sentido, o povo pedia reforma política. Mas não qualquer uma, já que Eduardo Cunha aprovou recentemente uma contra-reforma, legitimando o financiamento empresarial de campanha. Quem foi para as ruas pedia uma Constituinte Exclusiva e Soberana para o Sistema Político.

    No mês que vem completa 1 ano que a Campanha Nacional pela Constituinte arrecadou 8 milhões de votos em um plebiscito popular, no qual mais de 90% foi a favor da proposta. Na prática, representantes seriam eleitos para, junto da população por meio de participação direta, fazerem uma Constituinte para o Sistema Político, garantindo maior participação social e representatividade. Ricardo Gebrim, da Executiva Nacional da Campanha, explica por que, passado um ano da Campanha, a bandeira voltou com força às ruas de todo o país: “com uma crise política dessa dimensão, em que nos estamos em uma encruzilhada: de um lado as pressões pelo impeachment da Dilma; do outro as pressões para transformar o seu governo em um governo neoliberal. Tanto um, quanto outro, são terríveis. A saída política, a única saída política que possibilita mexer nesse sistema político e assegurar que rompamos com o neoliberalismo é a constituinte. E nesse momento a Campanha ganha força porque ficou evidente que a Reforma Política protagonizada pelo Congresso é uma farsa, um teatro, que na verdade só que legalizar e constitucionalizar a doação empresarial de campanha”.

    Nesse sentido, placas “Devolve Gilmar” faziam um apelo ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF) que há mais de um ano (especificamente 506 dias nessa segunda-feira 21) impede a votação da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4650, proposta pela OAB, que torna inconstitucional a doação empresarial de campanha. O Supremo Tribunal Federal, por 6 votos a 1, já aprovou a Ação e rejeitou o financiamento, mas Gilmar pediu vistas do projeto para impedir que ela fosse colocada em prática.

    As duas campanhas defendem que o financiamento empresarial de campanha, aprovado por Cunha, é a maior fonte de corrupção do país. Para elas, empresas não fazem doação, e sim investimento, e cobram as contas dos parlamentares eleitos por elas.

    Contra a Agenda Brasil

    Os movimentos também foram denunciar a Agenda Brasil, agenda de medidas apresentadas pelo Presidente do Congresso Renan Calheiros (PMDB) como “saída” para a crise. As propostas foram apresentadas no último dia 10 e representam mais um retrocesso para os direitos da população.

    Foto: Mídia Ninja
    Foto: Mídia Ninja

    A Agenda Brasil é divida em três eixos: melhoria do ambiente de negócios, equilíbrio fiscal e proteção social. Ela tem como proposta transferir para o Senado o papel de liderar a retomada da “animação econômica”. O projeto, no entanto, propõe a regularização da terceirização, a possibilidade de cobrança do SUS, a revisão da regulação das áreas indígenas para “compatibilizá-las com as atividades produtivas”, o incentivo a “investimentos produtivos” na zona costeira, áreas naturais protegidas e cidades históricas e o aumento da idade mínima para a aposentadoria.

    “Esse é um ato contra a Agenda Conservadora que tem avançado no país. Que se manifesta nas ruas, no parlamento e até dentro da administração federal. Por isso é um ato de crítica ao ajuste fiscal e a Agenda Brasil”, esclarece Breno Altman, Diretor editorial do site Opera Mundi e membro da Frente Brasil Popular, umas das forças que chamou o ato desse dia 20.

    A Petrobrás é nossa

    Os recentes escândalos nos quais a maior estatal do país, e uma das maiores petrolíferas do mundo vem enfrentando tem feito com que setores neoliberais voltassem a levantar a possibilidade de privatização da Petrobrás.

    Foto: Lina Marinelli

    Os movimentos foram às ruas em defesa da empresa que representa 13% do PIB do país e que tem em curso um plano de investimentos de US$ 220,6 bilhões para o período 2014–2018 e perspectivas de dobrar a atual produção de petróleo até 2020, para chegar a 4,2 milhões de barris de petróleo produzidos diariamente.

    Defendiam a estatal e os Royalties do Pré-Sal, que destinam 75% dos recursos para a Educação e 25% para a Saúde. O senador José Serra (PSDB) apresentou em março um projeto de lei que pretende acabar com a participação obrigatória da Petrobras na exploração e produção de petróleo nas camadas do pré-sal.

    Contra o Genocídio Negro

    A chacina que matou 18 em Osasco e Barueri na semana passada, cuja principal suspeita é a Polícia Militar, também foi lembrada. Se domingo ninguém falava sobre ela, no ato de ontem ela teve destaque.

    No caminhão, durante a concentração, foi pedido um minuto de palmas para Fernando Luiz de Paula, Eduardo Oliveira dos Santos, Thiago Marcos Damas, Leandro Pereira Assunção, Antônio Neves Neto, Tiago Teixeira de Souza, Jonas dos Santos Soares, Igor Silva Oliveira, Rafael Nunes de Oliveira, Presley Santos Gonçalvez, Eduardo Oliveira dos Santos, Eduardo César, Rodrigo Lima da Silva, Deivison Lopes Ferreira, Wilker Thiago Correa Osório, Jailton Vieira da Silva e Joseval Amaral da Silva.

    Foto: Mídia NINJA
    Foto: Mídia NINJA

    Na rua uma intervenção teatral chamava a atenção para a violência: 18 corpos estendidos ao chão. Durante a passeata, seus nomes foram carregados em cartazes simbólicos. O caso não é único, infelizmente é uma realidade diária: 30.000 jovens são assassinados por ano, desses: 93% são homens e 77% são negros. Os dados são do Mapa da Violência de 2014. Por isso quem foi às ruas nessa quinta-feira pedia o fim do genocídio negro e a desmilitarização da polícia.

    Tamires Gomes Sampaio, 2ª vice-presidente da UNE, reforçou a questão “É importante a gente entender que esse avanço conservador atinge principalmente a juventude, e principalmente a juventude negra, da periferia, da classe trabalhadora, que é atingida pelo trabalho cada vez mais precarizado. É a juventude negra que é encarcerada cada vez mais. Isso quando não está sendo assassinada”.

    Redução não é solução

    E a juventude estava em peso nas ruas. No dia anterior a manifestação, quarta-feira (19), a Câmara aprovou o projeto de redução da maioridade para 16 anos. A PEC 171 agora segue para o senado. E essa juventude, que morre todos os dias, agora ainda estará exposta ao encarceramento massivo.

    Foto: Mídia NINJA
    Foto: Mídia NINJA

    Carina Vitral, presidenta da UNE, criticou a medida e garantiu que os estudantes não deixarão passar barato. “Os estudantes tem que estar nos bancos das escolas, e não atrás das grades”.

    Fica Dilma

    Embora o ato não tivesse como intuito a defesa da Presidenta, não faltaram manifestações de apoio a Dilma.

    Foto: Mídia NINJA
    Foto: Mídia NINJA

    Bandeiras defendendo a democracia, a presidenta e contra o golpe de agitavam por todo o percurso da Rebouças até a Av. Paulista. As camisetas e adesivos que sobraram da campanha foram resgatados e mais uma vez ganharam destaque entre os militantes. Uma senhora carregava sozinha o cartaz “Dilma, eu vim aqui por você”. Um casal também carregava cartazes “Orgulho de ser Petista”. Como é ser petista nesse momento de crise e de tantas ofensivas e tanto ódio: “Um orgulho muito grande, eu morei 13 anos no nordeste e vi a transformação do país”, responde Lúcia Antônia, funcionária pública. “Tenho orgulho de estar aqui para defender um governo popular que foi eleito democraticamente”, concluiu Marcos Alexandre, historiador.

    Foto: Lina Marinelli
    Foto: Lina Marinelli

    A luta continua

    Muitas outras bandeiras foram levadas, entre elas pela Democratização da Mídia, contra os cortes da educação; a seletividade do judiciário, por um estado verdadeiramente laico, contra o discurso de ódio e fascismo.

    Guilherme Boulos criticou a indignação seletiva das pessoas que estavam nas ruas no domingo, que bradam contra a corrupção, mas aplaudem Cunha e deixou claro “Essa não é uma manifestação em defesa do governo.”

    Foto: Mídia NINJA
    Foto: Mídia NINJA

    Para todos os organizadores a marcha foi vitoriosa, mas não acaba por aqui: “a manifestação em SP foi muito expressiva. Foi um passo fundamental para repudiar as saídas da direita e para demonstrar que os trabalhadores não aceitam o ajuste fiscal e a Agenda Brasil. O desafio agora é dar continuidade à unidade e ao diálogo entre os diversos setores, consolidando a resistência popular aos ataques que já estão prometidos”, finaliza Edson Carneiro Índio secretário Geral da Intersindical — Central da Classe Trabalhadora.

    Participaram dos atos em todo o Brasil centenas de movimentos entre eles: de moradia como FLM, MTST, União Nacional de Moradia Popular (UNMP); Populares como CMP (Central de Movimentos Populares), Movimento dos Trabalhadores por Direitos (MTD) e Brigadas Populares; do Campo como: MST — Movimentos dos trabalhadores sem Terra e Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB); de mulheres como a Marcha Mundial das Mulheres e União Brasileira de Mulheres; as centrais sindicais CUT, CTB e Intersindical; movimentos de juventude como o Levante Popular da Juventude, Rua e União da Juventude Socialista (UJS); estudantis como UNE (União Nacional do Estudantes), UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e ANPG (Associação Nacional dos Pós-graduandos); Negro como Unegro e a Marcha de Mulheres Negras; pela democratização da comunicação como o Fórum Nacional pela Democratização da Mídia e o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé; entre outros. Além dos partidos: Psol, PCO, PT e PCdoB.

    Foto: Mídia NINJA
    Foto: Mídia NINJA

  • Um forte grito de não ao PL 4330

    Um forte grito de não ao PL 4330

    Em ato simbólico, mais de 15 mil trabalhadores e trabalhadoras cruzaram os braços, na manhã desta quarta (14), em montadoras do ABC

    Um grito de apelo pelo engavetamento do Projeto de Lei 4330 foi o som que se ouviu nas paralisações em frente as montadoras Volkswagen, Scania e Ford, em São Bernardo do Campo.

    A composição do atual Congresso Nacional é retrógrada e dominada pelos interesses dos empresårios, por isso, aprovou na noite do dia 8 de abril, por 324 a 137 votos, o Projeto de Lei 4330 que retira direitos e precariza as condição trabalhistas.

    De lá para cá, movimentos sociais e sindicais declaram que a carteira de trabalho será literalmente rasgada e queimada, caso o PL seja aprovado. Verdadeira violação dos direitos trabalhistas.

    No ato de hoje, a indignação e a revolta eram evidentes nos rostos dos trabalhadores que cruzaram seus braços em protesto. Para eles, o futuro incerto e sombrio. A situação é muito grave.
    É um verdadeiro retrocesso na história das conquistas da classe trabalhadora.

    Na próxima semana, o projeto será submetido a emendas na Câmara dos Deputados e, posteriormente, encaminhado para o Senado. Em todo esse processo, a CUT e muitos outros movimentos sociais e sindicais intensificarão a luta e a pressão no Congresso e os atos nas ruas não vão parar.