Jornalistas Livres

Tag: Comunicação

  • CNN BRASIL, A TRAMOIA ANUNCIADA

    CNN BRASIL, A TRAMOIA ANUNCIADA

    Por Ricardo Melo, especial para os Jornalistas Livres

     

    Colunistas de mídia com pouco assunto, mas talvez muitos interesses, têm se esmerado em festejar a provável estreia da CNN Brasil nos próximos meses. Estreia adiada várias vezes, é bom lembrar.

    Ninguém nega. A marca internacional é uma grife, inaugurou um jeito novo de fazer TV, constituiu-se num marco ao transmitir notícias 24 horas com uma amplitude até então inédita. Um sucesso, descontados os limites do conteúdo de suas coberturas. Mas será isso suficiente para repetir o mesmo no Brasil?

    Vamos pelo início. Por aqui, a CNN tropical tem como seus manda-chuvas duas figuras singulares. O sócio “jornalístico” é Douglas Tavolaro. Quem vem a ser o cidadão? Durante anos e anos, foi braço direito de Edir Macedo, que dispensa maiores comentários.

    Ocioso também falar do “jornalismo” da TV Record nestes tempos da Igreja Universal, cuja independência e imparcialidade sempre foram medidas em dízimos e favores governamentais. Lulista e Dilmista até outro dia, hoje é porta-voz escancarado do neo-fascista Jair Bolsonaro.

    Douglas Bolsonaro andava por lá nessa época, sempre é bom lembrar. Sua “saída” da Record até hoje é um mistério –será que abandonou mesmo as bênçãos do padrinho Edir Macedo? Silêncio ensurdecedor.

    Já o “sócio-capitalista”, Rubens Menin, é o dono da construtora MRV. Para quem não sabe, Menin tornou-se bilionário com o programa Minha Casa, Minha Vida dos governos petistas. Quando o governo Dilma começou a adernar, Menin rapidamente mudou o curso em direção a Michel Temer e depois Jair Bolsonaro. Nesse intervalo, abriu um banco, o Inter, que hoje é um dos campeões de reclamações de clientes por mau atendimento.

    Para não deixar dúvidas sobre quais interesses impulsionam a nova empreitada “jornalística”, basta ver a foto que abre este texto…

    A foto diz tudo. Pelo menos na teoria (embora no Brasil ela não valha nada), o primeiro papel da imprensa deveria ser a independência diante dos governos. Aqui, como se vê é o contrário. O primeiro passo é ir ao Planalto beijar a mão do mandante de plantão, seja ele fascista no conteúdo, defensor da censura, liberticida e inimigo da informação desimpedida. Precisa desenhar o que acontecerá no noticiário?

    Descendo mais um pouco. A cada contratação da CNN Brasil há um foguetório dos colunistas sem assunto. Mas até agora observa-se apenas gente da série B ou C. Não há nenhum nome de peso, com trajetória jornalística de respeito, credibilidade, seriedade. Na cúpula, gente de segunda linha, arrivistas conhecidos, profissionais timoratos, desde expelidos da Record até rejeitados pela RedeTV! e Empresa Brasil de Comunicação.

    Reinaldo Gottino, um dos Datenas da Record, é tratado por essa mídia como se fosse um Peter Jennings, Dan Rather, Paulo Henrique Amorim, Ricardo Boechat. Que desgraça. Dejetos de Edir Macedo, personagens dispensados pela Globo —um deles agora garoto propaganda de uma empresa financeira caça-níqueis—, âncoras que infelizmente incineraram suas carreiras expondo opiniões neo-racistas, casais juvenis sem nenhuma expressão até para propaganda de shopping-centers e por aí afora são considerados medalhões.

    Detalhe: para todo jornalista que se depara com um mercado cada vez mais estreito, em tese é bom saudar novas oportunidades de emprego. Mas também é bom saber que oportunidades são essas. Já vimos aventuras como a do Jornal do Brasil na época de Nelson Tanure; da RedeTV! que até hoje esfola funcionários, mas é financiada pelo dinheiro público para bancar o enriquecimento e aventuras amorosas indecentes dos donos; e das demais “redes” da mídia oficial subservientes aos governos de plantão.

    A CNN Brasil tem o mesmo cheiro. E ele não é bom. Cabe a cada um escolher aquele que mais lhe agrada.

     

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  • Homenagem a José Marques de Melo, o Guerreiro Midiático

    Homenagem a José Marques de Melo, o Guerreiro Midiático

    José Marques de Melo, jornalista e pesquisador alagoano autor de dezenas de livros sobre jornalismo, faleceu hoje em sua casa, em São Paulo, aos 75 anos. Primeiro Doutor em Ciências da Comunicação por uma universidade brasileira, criador do Centro de Pesquisas da Comunicação Social da Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero (a mais antiga do Brasil) e fundador da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP, onde lecionou e foi diretor por vários anos, também foi idealizador e co-fundador da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – Intercom. No texto abaixo, seu amigo e também professor de jornalismo na Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, Paulo da Rocha Dias, faz uma homenagem poética ao homem que formou gerações de jornalistas brasileiros e inspirou tantos outros no exterior.

    Zé Marques, querido

    Como se explica o teu último almoço? Foi mesmo um ato final de despedida? Ah, foi o mal de Parkinson. Não… Um infarto fulminante. Zé Marques desanimou em questão de minutos. Isso foi hoje pela tarde. Depois do almoço.

    Imaginar-te desanimado, isto é, sem alma, traz à minha memória a tua maior exuberância, a tua alegria de homem bem disposto, animado e otimista. No campo dos estudos de comunicação, eras o mais conhecido pesquisador brasileiro. Aqui dentro e lá fora. Na existência, uma alma nordestina. Um coração brasileiro. Uma perspectiva mundial.

    Teria esse almoço se transformado numa cerimônia pungente e absurda? Sabia de teus sofrimentos e andava satisfeito com a certeza que me dera inda há pouco o Marcelo Marques de Melo de que a cada dia os superavas a todos. Ao receber a notícia do teu encontro com a dona da casa, senti-me aturdido e inconformado, sem saber se duvidava.

    Tu sempre foste um pai para mim. E, tenho certeza, tenho tantos irmãos que não os posso contar. Além do fato material, não tenho, Zé Marques, nenhuma razão para crer que morreste e acho que no fundo insondável estás vivo como é razoável e justo. Cobre-me a neblina e nada de bom consigo vislumbrar através do seu véu. Parece que estou boiando dentro de um pesadelo. Que esse pesadelo é a vida, que tudo é real. Irreconhecivelmente real. Não há dúvida que tu morreste.

    Agora que já não te encontras mais entre nós, é fácil dizer que o teu destino era justamente esta existência caracteristicamente sequente, ligada e contínua que tanto bem fez àqueles que despontavam em tuas mãos para sondar as coisas, investigar, pesquisar, ensinar. Uma existência que sucedeu de êxito em êxito, trabalhando e vencendo, plantando e colhendo, espalhando sementes e ajuntando frutos. E hoje, a noite do tempo te recebe fatigado nos seus braços.

    A tua falta traz à minha memória teus diversos setores de atividade. Na pesquisa em Comunicação e Jornalismo, eras a força polarizadora dos nossos interesses comuns. Devemos-te o congraçamento desta tribo inquieta e belicosa que é a dos jornalistas e dos pesquisadores do fenômeno jornalístico, quase todos guiados por tua mão. Os teus esforços, a tua admirável pertinácia, a tua presença, a tua cultura infinda haviam estabelecido entre todos uma harmonia que receamos agora não saber conservar.

    Guardaremos, Zé Marques, a tua memória como a de um homem de boa vontade e de bom coração. Continuarás por certo a ser na eternidade esta mesma criatura generosa e acolhedora. Veremos se assim é oportunamente, pois todos temos intenção de acompanhar-te. Podes ir preparando um congresso amistoso como aqueles que aqui preparavas. Todos nós, teus amigos, compareceremos. Uns antes, outros depois, alguns com atraso, mas todos estarão, um dia, de novo, reunidos contigo. Adeus, Zé Marques.

     

    PS: Se quiser conhecer melhor a vida e a obra do professor Marques de Melo, baixe aqui a segunda edição do livro Guerreiro Midiático, de seu biógrafo Sérgio Mattos, lançado em 2014 pela editora eLivros da Intercom.

  • Resistência e emancipação para democratizar a comunicação

    Resistência e emancipação para democratizar a comunicação

    Por Henrique Faria, para os Jornalistas Livres

    No dia 21 de Outubro, aconteceu na ocupação Carolina Maria de Jesus, em Belo Horizonte, a Roda de conversa “Web, Mídia e Resistência”, protagonizada por Florence Poznanski, do FNDC, pela Deputada Federal Margarida Salomão (PT/MG), pelo hackativista Lucas Oliveira, e pelas vereadoras de Belo Horizonte Áurea Carolina e Cida Falabella (PSOL), da Gabinetona. O debate fez parte da programação da Semana da DemoCom, organizada pelo FNDC.

    Após o golpe de 2016, a liberdade de expressão e de comunicação vem sofrendo, junto com os brasileiros. Um dos primeiros atos do ilegitimo governo foi atacar a EBC (Empresa Brasileira de Comunicação, responsável pelas emissoras públicas, que em Minas Gerais são a Rádio Inconfidência e a Rede Minas de Televisão) acabando então com seu conselho curador, com a mídia pública e com o ministério das comunicações.

    Esse desmantelamento da comunicação pública cria uma lacuna no país, encoberta pela mídia comercial, ou seja, mantém-se o monopólio das grandes famílias que dominaram o cenário midiático durante anos, e desincentiva-se que a comunicação pública e as mídias independentes avancem. Temos hoje no país um cenário onde 50% da população ainda não tem acesso a internet, e com o fim do Plano Nacional da Banda Larga, ficará ainda mais dificil ainda alcançar essa população.

    Este debate nos mostra que a comunicação deveria ser central nas lutas políticas, pois de seu poder é que emana a emancipação dos povos, já que a mesma influencia e muito a população. Lucas Oliveira, hackativista, comenta: “se você comparar a informação que uma criança pobre pode acessar na Internet e a informação que uma criança rica acessa, não é a mesma coisa”

    Outro ponto debatido foi a atrocidade do projeto “Escola sem partido”, que retira das escolas o debate sobre política, raça, gênero e preconceitos que continuam matando milhões de brasileiras e brasileiros, todos os anos. A censura está tentando silenciar os meios de comunicação, as escolas e nos últimos meses, está atacando também as artes com as tentativas de fechar exposições em todo o país, cujosconteúdos não agradam à classe dominante, conservadora e burguesa.

    É das mídia hegemônicas a decisão de o que as pessoas irão assistir em seus televisores e rádios, e é papel dos novos meios pautar outra agenda cidadã, para quebrar estereótipos e narrar o novo. Revivendo os argumentos da deputada Margarida, se a escrita foi uma invenção revolucionária guardada para as elites que sabiam ler e escrever, a internet tem o potencial de transpôr barreiras e reescrever a história através da democratização da comunicação.

    Com este debate, o comitê mineiro do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação se preparou para sua plenária final, que aconteceu no domingo (22) e pautou quais seriam as principais ações mineiras na luta por voz no país e no estado.

    Revisado por Agatha Azevedo

  • Seminário no MA discute comunicação pública

    Seminário no MA discute comunicação pública

    Em São Luís, MA, uma das discussões mais importantes da política nacional toma espaço. No seminário “Os Desafios da Comunicação nas Administrações Públicas”, organizado pelo Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé, nos dias 25 e 26 de agosto coloca em pauta os erros e acertos dos governos progressistas ao buscarem, no exercer de seus mandatos, os caminhos de uma comunicação que consiga quebrar a influência da grande mídia.

    O encontro junta além de pesos pesados da política blogueiros e jornalistas como Paulo Henrique Amorim, Eduardo Guimarães, Renato Rovai entre outros.

     

    Seminário Os Desafios da Comunicação nas Administrações Públicas.
    Flávio Dino, Clécio Luís e Edmilson Rodrigues na mesa de apresentação do evento

     

    A questão da Mídia

    A primeira mesa iniciou o debate com importantes políticos do campo progressista que compartilharam suas experiências e como suas gestões enfrentaram e enfrentam a questão da comunicação. A mesa contava com Flávio Dino (PCdoB) governador do Maranhão, Fernando Haddad (PT) ex-prefeito de São Paulo, Clécio Luís (Rede) prefeito de Macapá e Edmilson Rodrigues (Psol) deputado federal a mesa era diversa no espectro político.

    “Estamos aqui por que somos amantes da liberdade de imprensa e se assim somos, queremos a regulação da mídia”.

    O ex-prefeito de São Paulo declarou que acha necessário compreender que a propriedade dos meios de comunicação não pode ser centralizada e, acima de tudo, deve-se defender a liberdade de expressão da imprensa. Haddad ainda relembrou de uma ação judicial movida pela associação nacional de jornais contra veículos estrangeiros como, por exemplo, o Intercept e o El País e outros, que se distanciam da narrativa dos grandes meios de comunicação nacional e narram o golpe que o país vem sofrendo desde seu início em 2015.

    “Muita gente vai em busca de boa informação crítica nesse país e essa ação no STF pede que eles sejam extintos”

    declarou o ex-prefeito. O problema dos incomodados é que os investimentos, sede e ações desses jornais são no exterior, então, essa é a desculpa para que poderosos realizem um verdadeiro monopólio da agenda política nacional.

    Para o governador do Maranhão, Flavio Dino (PC do B), é necessário reconhecer que sofremos a incidência prática dos fenômenos da comunicação. E essa influência se acirra em alguns momentos. Dino apresentou um estudo que chamou de “Manchetômetro”, baseado na veiculação de notícias de um jornal fundado por Sarney (O Estado do Maranhão), para demonstrar com dados essa incidência e a forma diferenciada de tratamento que a mídia hegemônica dá para a esquerda e a Direita. Nessa disputa mediática os malditos são sempre a esquerda, o PT, o PC do B, o PSOL.

    Ele mostra que em 2014 com o governo da fila de Sarney, Roseana as manchetes positivas era 66%, as negativas 5% e as neutras somavam 29%. Já em 2015, com a entrada de Dino, o cenário virou de ponta cabeça. As manchetes positivas somaram apenas 8%, as negativas subiram assustadoramente e ficaram com 53%, já as neutras conseguiram 39%. Agora em 2017, a coisa só piora. Dino têm 62% de manchetes negativas.

    A mesa de apresentação

     

     

    O prefeito de Macapá, Clécio Luis (REDE) fez um relato fiel sobre sua experiência de comunicação no governo. O desafio foi uma criar uma política de comunicação com base popular nos governos estadual e municipal. Clécio acredita que é preciso “ter sempre uma verdade

    pra comunicar, ter um serviço de interesse publico e a responsabilização pelo cuidado com a cidade.” O povo sofre com a falta de representatividade na política e quando o prefeito diz que é preciso ter “responsabilização pelo cuidado com a cidade”, a população é informada sobre quem deve procurar e cobrar caso suas necessidades não sejam atendidas. ë comunicação direta, é posicionamento claro sobre o que está sendo feito, é o avesso da preguiça da anti-política.

     

    Edmilson Rodrigues também lembrou de sua experiência como ex-prefeito de Belém, na qual implementou radios populares na cidade, mas com grande diferencial de outras experiências, as rádios ficavam sob controle da população local e tratava dos problemas do cotidiano. Para ele o foco da comunicação de esquerda tem que ser na construção de um discurso contra hegemónico sem ser pautado pela grande mídia e sim pelas necessidades do público.

  • Sobre formas e a nova cara do Jornal Nacional

    Sobre formas e a nova cara do Jornal Nacional

    Durante o trabalho noturno de leituras e correção de trabalhos de alunos(as), rendo-me à assistência do JN, agora com nova roupagem. Em meus interesses sobre a forma das coisas, comecei a observar detidamente o cenário, a bancada. E confesso que tive dificuldade em permanecer atenta por uma questão de ótica: o exagero dos (d)efeitos visuais, como bem lembrou Valmir Costa, as luzes que se assemelham aos holofotes de grandes eventos e, assim, vão nos anestesiando com seus efeitos alucinógenos. Letreiro de motel de beira de estrada perde feio. Mas como forma não é mero detalhe, dá pra intuir que essa mudança (mais uma num lapso de tempo relativamente curto) sinaliza para algo de fundo, para a decadência do jornalismo global que tenta nos engabelar por meio de uma duvidosa plasticidade e beleza visual (o termo global aqui tem sentido duplo: planetário e da Rede Globo. Refiro-me, claro, a esse modelo de negócio que se desmancha).

    Vem de longa data a relação forma X conteúdo, todos(as) sabemos. Vistos de maneira dicotômica, quase sempre o segundo levou vantagem sobre a primeira no que diz respeito à produção de sentidos. No entanto, temos uma longa discussão teórica, eu mesma a enfrentei no doutorado, sobre a importância da forma na produção de sentidos. O pensador Mouillaud, já teria afirmado o quanto a hierarquização entre forma e conteúdo não é produtiva: o termo conteúdo remete à metáfora de uma caixa ou de um escrínio nos quais um objeto está, de fato, “contido”. Para esses analistas, a própria língua era apenas um envelope do sentido, do qual era necessário extrair as “categorias”, assim como se separa a amêndoa do caroço. (…). À primeira vista, a embalagem e o objeto podem ser separados sem que o objeto perca sua identidade; entretanto, um perfume continuaria a ser um perfume sem seu frasco? O presente permanece um presente sem as fitas e as graças que os envolvem? A prece é prece sem seu gestual? (MOUILLAUD, 1996: 29).

    Renata Vasconcellos, Roberto Irineu Marinho e William Bonner na inauguração do novo estúdio do Jornal Nacional (Foto: João Cotta/Globo)

    Considerando, então, que forma e conteúdo são indissociáveis, a nova identidade visual deve ser percebida e analisada como um forte indício de que as matérias, os textos também já foram solapados, rebaixados a uma categoria estética e política que de jornalismo não tem nada. A cobertura política da política disso nos dá testemunho. Prospectemos, portanto, novas formas, formatos de notícia. Decididamente, o JN é triste retórica que atrasa o país. Descendo ladeira abaixo, quer nos levar a todos para o precipício.
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    *Rosane Borges, 42 anos, é jornalista, professora universitária e autora de diversos livros, entre eles “Esboços de um tempo presente” (2016), “Mídia e racismo” (2012) e “Espelho infiel: o negro no jornalismo brasileiro” (2004).

    Foto: Divulgação/ Globo
  • Toffoli reconduz Ricardo Melo à presidência da EBC. Decisão é temporária.

    Toffoli reconduz Ricardo Melo à presidência da EBC. Decisão é temporária.

    Na manhã desta quinta (2), o ministro do Supremo Tribunal Federal José Antonio Dias Tóffoli reconduziu o jornalista Ricardo Melo à presidência da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). A decisão suspende a nomeação de Laerte Rimoli pelo presidente interino Michel Temer. O presidente em exercício ignorou a lei 11.652/2008, que autoriza a criação da EBC, e garante mandato de quatro anos a seu presidente, independentemente de troca de governo.

    A ação faz parte do mandado de segurança impetrado por Melo para garantir o cumprimento do exercício do cargo. A decisão diz “suspender o ato impugnado, até decisão final do presente mandado de segurança, garantindo-se ao Impetrante o exercício do mandato no cargo de Diretor-Presidente da EBC. Notifique-se a autoridade coatora para que preste as informações no prazo de lei. Após, voltem-me os autos conclusos, para apreciação da petição nº 26797/2016.”

    Ricardo Melo. Foto: Agência Brasil.
    Ricardo Melo. Foto: Agência Brasil.

    A nomeação de Rimoli foi um ato arbitrário do presidente interino, Michel Temer, no dia 20 de maio. A decisão causou indignação e revolta entre funcionários e servidores da empresa de comunicação pública e reações de seu conselho, com manifestações em diversos dias e locais. A sociedade civil também se manifestou.

    Na ocasião, em nota, o Conselho Curador e a Diretoria Executiva da EBC afirmaram: “Ao longo do intenso debate público que levou à criação da EBC, firmou-se a concepção de que o diretor-presidente deveria ter mandato fixo, não coincidente com os mandatos de Presidentes da República, para assegurar a independência dos canais públicos, tal como ocorre nos sistemas de radiodifusão pública de outros países democráticos”, diz a nota. “A exoneração do diretor-presidente da EBC antes do término do atual mandato viola um ato jurídico perfeito, princípio fundamental do Estado de Direito, bem como um dos princípios específicos da Radiodifusão Pública, relacionado com sua autonomia em relação ao Governo Federal.”

    Em poucos dias no cargo, Rimoli demitiu cerca de 50 pessoas, fez mudanças radicais na grade de programação (extinguiu três programas) e proibiu o uso do termo “presidenta”, um pedido de Dilma Rousseff cujo uso é correto na língua Portuguesa.

    Segundo o manual de redação da EBC, construído coletivamente e em consulta pública, a importância da comunicação pública e sua defesa devem ser superiores aos interesses político-partidários.