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  • Pai, caminhoneiro, herói!

    Pai, caminhoneiro, herói!

    Por Stéfanni Meneguesso Mota, especial para os Jornalistas Livres

     

    Era 1995, uma operária metalúrgica e um caminhoneiro começavam uma família, em uma casa de dois cômodos e um banheiro na periferia da Grande São Paulo. Ali começava a história da Stéfanni, esta mesma que agora, como uma jornalista formada, escreve para vcês para contar como foi ser criada pela potência de uma sindicalista e o carinho de um caminhoneiro dentro de uma boleia.

    Esta é com meu pai e irmã no trancamento na Anchieta, no domingo, 27/5

    É domingo à noite, dia 27 de maio, 9 dias após o início da paralisação dos caminhoneiros contra o aumento abusivo do combustível, sobretudo do diesel. Pego uma carona para me encontrar com meu pai, no km 23 da Rodovia Anchieta.  Uma fila de caminhões no acostamento, os grevistas fizeram fogueiras para segurar o frio. “Comprei umas pizzas aqui, quem quiser é só chegar” grita um deles, provavelmente um dos caminhoneiros de São Bernardo do Campo, cidade de muitas montadoras e transportadoras.

    Travar a Rodovia na cidade em que se mora e trabalha é difícil. Cortar o transporte de combustível mexe diretamente na economia e vida cotidiana do povo, mas também dificulta a mobilidade do próprio movimento, que se segura na coletividade. Quem pode traz pão com manteiga, água, comida. “Seu padrinho conseguiu um ônibus pra levar o pessoal pra ir usar um banheiro, tomar um banho”, meu pai me conta ao me ver chegar.

    Olhei para os lados e num breu não vi patrões ou empresários. Vi homens, trabalhadores em uma das profissões mais insalubres de que tenho conhecimento cruzando os braços em uma greve tão legítima quanto qualquer outra. Veio em minha cabeça um filme do que levou aqueles homens àquele momento, um roteiro que se confunde com a história de meu próprio pai.

    Claudio começou a dirigir muito cedo. Ainda menor de idade, aprendeu o ofício com seu próprio pai e outros caminhoneiros amigos. Na raça. Aos 17 anos foi emancipado, depois que meu avô sofreu um acidente. Passou a ser responsável pelo sustento dos pais e três irmãos mais novos. Quando nasci, a casa tinha um único fogão portátil de duas bocas, que meu pai levava com ele para cozinhar na estrada, nas longas viagens levando carros para a Argentina.

    O frete pequeno não permitia comer na estrada. Minha mãe, muito guerreira, comia na fábrica e eu comia na creche. Na volta pra casa, sobrava saudade, mas o que trazia no bolso não pagava as contas. Nos anos de governo progressista, meu pai passou a transportar carros em território nacional, o frete melhorou, mas não houve rompimento com a rotina insalubre. Além do óleo diesel, o pedágio e os gastos com manutenção também aumentaram, as estradas continuaram péssimas e perigosas.

    Para fechar com saldo positivo no fim do mês, continuava necessário rodar por dias a fio sem dormir. Por falar nisso, você consegue pensar em outra profissão que obrigue o trabalhador a se drogar para ficar acordado e produzir à exaustão?

    Ninguém me contou, eu vi e vivi tudo isso em 23 anos acompanhando meu pai em suas viagens nos fins de semana, enquanto minha mãe fazia hora extra na fábrica. Depois da escola, eu ia para a casa da minha avó que cuidava de mim até minha mãe chegar, então ele me ligava: “Alô, o pai pegou carga! Quer ir comigo ou ficar na Vó?”. Daí era uma listinha de tarefas que eu conhecia bem: ligar para a minha mãe e avisar, pedir a minha avó que me levasse em casa para fazer uma malinha com roupas para o fim de semana, esperar pelo meu pai que chegava lá pelas 21h.

    Era pegar a carga na sexta, para rodar centenas de quilômetros parando só para descarregar. Passávamos a noite acordados, ao som de música sertaneja, Elvis Presley e Balão Mágico. “Filha, separa 10 reais”, e eu sabia que estávamos chegando a outro pedágio. Sempre que tinha sede, era eu quem lhe dava água. Eu tinha 7 anos e era tratada por ele com muito carinho e respeito. Tínhamos longas conversas na noite escura da rodovia, o assunto não acabava nunca. Garça, Pompéia, Marília, Presidente Prudente, Osvaldo Cruz, Dracena…

    Sempre que o caminhão parava para descarregar, eu separava as notas e levava as chaves dos carros, pulava do caminhão e pedia insistentemente para ser seu chapa. Então ele me deixava dobrar e guardar as cintas que amarravam os carros à carreta. Quando não fazia hora extra, minha mãe nos acompanhava e a viagem era melhor.

    À dir. está o meu pai, numa greve em S.Bernardo; vê-se que ele tem uma marca de bala de borracha nas costas

    Lembro que um dia antes de ir pra escola minha mãe me chamou. “Tá tudo bem, mas seu pai sofreu um acidente.” Durante a aula, eu não conseguia parar de pensar no que poderia ter acontecido. À noite ele chegou em casa. Só tinha machucado a mão, mas os custos para consertar o caminhão tombado sairiam do bolso dele. Foram meses de aperto. Também me lembro de estar na casa da minha avó, quando meu pai chegou em casa sem camisa, com um machucado grande nas costas. “Isso é tiro de borracha mãe, não é nada”, mas era alguma coisa sim. Meu pai tem marcada na pele a prova de que a polícia nem sempre foi pacífica com caminhoneiros grevistas.

    Em 2018, meu pai completa 34 anos de estrada, rodando sobre 5 eixos que custam caro por um frete que só consigo chamar de injusto, mesmo sendo um dos melhores do seguimento. Trabalhando por noites a fio, meu pai não concluiu o ensino médio, não esteve presente em todas as fases de minha vida e perdeu boa parte do crescimento de minha irmã mais nova. Mas rodou da Bahia até São Paulo sem parar, para estar presente no dia 4 de dezembro de 2017, o dia da apresentação do meu trabalho de conclusão de curso. Aquela foi a primeira vez que meu pai pisou numa faculdade e foi para ver sua filha conquistar o primeiro diploma universitário da família. Costumo dizer que, colocando em números eu fiz 30% do esforço, todo o resto foi trabalho duro dos meus pais.

    Por tudo isso, mesmo tendo uma posição político-ideológica que me impede de levantar algumas das bandeiras daqueles caminhoneiros, tenho por eles um profundo respeito. Nutro uma admiração enorme por estes homens e mulheres que, sem um sindicato organizado para defender seus direitos, organizaram uma série de paralisações e trancamentos, usando a força da comunicação de motorista para motorista. A luta dos caminhoneiros está longe de acabar, pois é grande, é importante e é solitária. Não é só pela redução do preço do diesel, mas é também por mais segurança, postos de parada, direitos trabalhistas e condições para cumprir a lei. A luta é minha e de cada filha de caminhoneiro, para que possamos saber que nossos pais voltarão para casa e nos verão crescer, estarão lá nos nossos primeiros passos, aniversários e diplomas também.

     

    Leia mais informações sobre a greve dos caminhoneiros no link

     

     

  • Os caminhoneiros e o mercado

    Os caminhoneiros e o mercado

    Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História da UFBA, com charge de Bira Dantas

    Na última semana, todos assistimos o desenrolar de um novo capítulo da crise brasileira, talvez aquele que até aqui mais tenha feito a sociedade civil sangrar. Cada vez mais fica claro que golpe é aquele tipo de coisa que custa caro para todos, para golpistas e legalistas.

    Os golpistas sofrem por serem golpistas e os legalistas por serem covardes. O golpe não é um evento. É um processo que ainda não terminou.

    É óbvio que estou falando da “greve dos caminhoneiros”, que no país inteiro bloqueou as principais estradas e rodovias, causando um gravíssimo problema de abastecimento.

    Hoje, quando o movimento dá sinais de esvaziamento, talvez seja possível visualizá-lo com mais clareza e compreender o seu lugar na crise brasileira contemporânea. É isso que tento fazer neste ensaio, reconstruindo a cronologia dos acontecimentos, analisando com cuidado as agendas que foram apresentadas, os interesses envolvidos.  

    O que o tempo inteiro esteve em jogo foi a disputa pelo Estado. Nesse jogo, os caminhoneiros entenderam o poder que possuem sobre a sobrevivência material da sociedade. De posse desse poder, eles acuaram o governo o golpista, estrangularam a nação e venceram. Mas não foram os únicos vencedores.

    O mercado também venceu, já que Pedro Parente, presidente da Petrobras e grande responsável pelo colapso energético que estamos vendo no Brasil, não teve o nome citado por aqueles que ocuparam as estradas brasileiras.

    Sem dúvida, a grande derrotada foi a sociedade brasileira, que perdeu sorrindo, gozando. A sociedade brasileira comemorou a própria derrota, aplaudindo os caminhoneiros, num surto de masoquismo coletivo.

    É importante acompanhar com cuidado a cronologia dos acontecimentos, fato a fato, passo a passo. Crônica factual é igual a canja de galinha: sempre ajuda.

    Divido a greve dos caminhoneiros em três momentos distintos:

    1° momento – O protagonismo da ABCAM

    O marco inicial do movimento se deu no dia 18/5, uma sexta-feira, quando a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (ABCAM) fez uma representação ao governo, exigindo o fim dos impostos sobre o diesel e agendando o início da greve para o dia 21/5.

    Já há uns bons seis meses que estavam tensas as relações entre o governo federal e a ABCAM. Mas como o governo federal tinha problemas mais urgentes, como salvar o coro de Michel Temer das duas flechas disparadas por Rodrigo Janot, a poeira foi sendo varrida pra debaixo do tapete.

    A atuação de Rodrigo Janot na crise brasileira ainda precisa ser estudada com mais cuidado. Não é isso que faço. Não aqui.

    Não custa lembrar que a ABCAM apoiou o golpe parlamentar que destituiu a presidenta Dilma. Ninguém apoia um golpe de Estado se não alimenta expectativas de ganhar algo com o novo regime de poder. O governo golpista de Michel Temer frustrou as expectativas da ABCAM.

    No início, portanto, a “greve dos caminhoneiros”, tão celebrada à esquerda e à direita, foi conflito travado entre golpistas.

    Percebam, leitor e leitora: a ABCAM, entidade que representa também os donos das transportadoras, protestou contra a carga tributária. Nada mais coerente e óbvio do que patrão protestar contra imposto.

    A essa altura, não existia agenda política clara nas reivindicações do movimento. Não tinha “fora Temer”, não tinha “Lula Livre”. Também não tinha “intervenção militar já”. A pauta era pela redução de impostos. Apenas isso.

    A ABCAM também não questionou a forma como Pedro Parente vem administrando a Petrobrás. A pauta era liberal e exigia redução de impostos.

    Em 19 de maio, aconteceu mais um aumento no preço dos combustíveis, o que azedou ainda mais as relações entre a ABCAM e o governo.

    Esse aumento já estava previsto no plano de operação da Petrobrás. Mesmo com uma crise grave, a empresa não mudou o plano. Segundo Pedro Parente, a estatal deve ser autônoma e agir por “motivações técnicas e não políticas”. Como se existisse motivação técnica que não seja também política.

    Ou seja, para Parente, a empresa pública criada para controlar um setor estratégico para o desenvolvimento nacional deve obedecer às leis do mercado e não ao interesse público.

    Isso gerou um problemão para o governo, já que exatamente no momento em que estava acontecendo a negociação com a ABCAM a Petrobrás, agindo por conta própria e obedecendo a “lei do mercado”, aumentou o preço do combustível.

    É claro que Michel Temer tentou impedir o aumento, adiá-lo. Provavelmente telefonou para Pedro Parente e ouviu um sonoro “não se meta aqui no meu feudo”. Quando o governo é ilegítimo acaba não sendo respeitado nem pelos aliados.

    É irônico que o governo que desregulamentou a Petrobrás tenha se tornado refém das “leis do mercado”. O mercado é ingrato com os seus provedores.

    A ABCAM, então, radicalizou sua posição e a greve começou no dia 21 de maio. Ou melhor: até aqui não se tratava de greve. Era lockout mesmo.

    2° momento – A horizontalidade do WhatsApp e o protagonismo das bases da categoria

    Já no dia 21 de maio foram registrados bloqueios em estradas e rodovias em todo território nacional. Começaram os transtornos: falta de combustível nos postos e produtos nos supermercados.

    Percebendo que a situação era grave, o governo decide sentar-se à mesa com aqueles que eram considerados os líderes dos caminhoneiros. Um acordo foi fechado, assinado, suas resoluções publicadas em edição extraordinária do Diário Oficial.

    Pra “ajudar”, Pedro Parente autorizou um pequeno desconto no preço do diesel, deixando claro que era uma concessão pontual e que isso não voltaria a acontecer. Afinal, segundo ele, a Petrobrás deve atender às leis do mercado.

    Os representantes dos caminhoneiros saíram da reunião dando-se por satisfeitos e prometendo o fim do movimento. O governo veio a público dizer que a situação estava resolvida.

    As estradas continuaram bloqueadas e o desabastecimento se aprofundou. O governo ficou com cara de bobo, desmoralizado.

    A essa altura, a ABCAM não pautava mais as estradas.

    A ABCAM puxou o movimento, mas perdeu o controle sobre ele. A base se autonomizou e aprofundou suas reivindicações: diminuição dos impostos, redução dos pedágios e intervenção militar.

    Não dá pra saber se a bandeira da intervenção militar estava sendo levantada por todos os caminhoneiros. Até acredito que não. Porém, é inegável que os grupos intervencionistas foram fortes o suficiente para vincular a greve dos caminhoneiros à narrativa da intervenção.

    Parte considerável dos caminhoneiros se achou legítima para exigir a renúncia do presidente da República e reivindicar uma intervenção militar saneadora, assim, sem dialogar com o restante da sociedade.

    Enquanto isso, a nação sofria o drama do desabastecimento: pequenos produtores perdendo a colheita, motoristas de uber perdendo a semana de trabalho, escolas e universidades sem funcionar. Hospitais tendo sua rotina prejudicada. A cadeia produtiva parada.

    A ABCAM, rapidamente, se manifestou, criticando o clamor pela intervenção militar e solicitando que os caminhoneiros abandonassem essa pauta. Novamente, os caminhoneiros, ou aqueles que estavam no controle do discurso do movimento, deram de ombros.

    Pedro Parente e sua gestão privatista, outra vez, passaram batidos, não foram sequer mencionados.

    Nesse momento, estava acontecendo, de fato, uma greve relativamente independente do lockout inicial. Mas era uma greve diferente daquela que estamos acostumados a ver no Brasil desde o final da década de 1970. Dessa vez, não existia sindicato, como alguns caminhoneiros falavam, com algum orgulho, em entrevistas à imprensa.

    “Isso aqui não é sindicato. Nós decidimos tudo na estrada”.

    O país foi paralisado durante uma semana por homens organizados em grupos de WhatsApp.

    3° momento – Negociação e refluxo do movimento

    Em dia 28 de maio, finalmente o governo conseguiu negociar com as lideranças corretas e, completamente acuado, entregou até as cuecas. O acordo foi assinado e progressivamente os bloqueios foram sendo desfeitos e o abastecimento retomado.

    Começou a violência.

    Alguns grupos mais exaltados, que, segundo relatórios da Polícia Rodoviária Federal não pertencem à categoria dos caminhoneiros, começaram a atacar os trabalhadores que desejavam retomar suas atividades.

    Não é que a violência, em si, seja um problema. Espero que ninguém aqui seja ingênuo o bastante para achar que reivindicação de trabalhadores pode ser feita sem alguma dose de violência.

    De uns tempos pra cá, quando a classe média conservadora descobriu o caminho das ruas, sendo sempre tratada com docilidade pelas forças policiais, a violência se tornou um elemento de distinção entre as micaretas dos “cidadãos de bem” e os movimentos dos trabalhadores. Se não tem bomba estourando, gás de pimenta no ar, é porque a manifestação não é séria.

    Mas a violência que estamos vendo nas estradas brasileiras é diferente, tem outro teor. O governo atendeu a pauta dos caminhoneiros. Esses que ainda estão nas estradas insistindo nos bloqueios querem outras coisas. Querem derrubar o governo.

    Bom, querer derrubar o governo golpista eu também quero. Mas não sou inocente a ponto de achar que o inimigo do meu inimigo será sempre meu amigo. Não, de forma alguma.

    Também não podemos esquecer que o golpe já conta dois anos.

    Há dois anos Michel Temer governa o Brasil, alterando os fundamentos constitucionais do Estado brasileiro e sacrificando os mais pobres.

    Já teve PEC dos gastos, já teve reforma trabalhista, o preço dos combustíveis subiu mais de 200 vezes.

    Por que só agora, nas portas das eleições, parte dos caminhoneiros tenta derrubar Michel Temer com tanta volúpia?

    O golpe não conseguiu construir uma candidatura viável capaz de defender nas urnas a agenda neoliberal imposta pelo governo de Temer. Até apresentador de TV o golpe tentou transformar em presidenciável.

    Lula ainda lidera com folga as pesquisas eleitorais e se deixarem será eleito mesmo estando preso, mesmo sem fazer campanha.

    A quem interessa a derrubada de Michel Temer a essa altura do campeonato? Justamente agora, quando ele é um cadáver político apodrecendo em praça pública.

    Quem quer derrubar Michel Temer exatamente no momento em que o Congresso Nacional aprova uma PEC que regulamente eleições indiretas em caso de vacância da Presidência da República?

    Ainda não está claro quem são essas pessoas que estão na estrada ameaçando caminhoneiros e impedindo a completa normalização da situação. Há quem diga que se trata de grupos vinculados à campanha de Jair Bolsonaro, que estariam tentando impulsionar uma candidatura que parece ter chegado no seu limite, ali, entre 13 e 15%.

    Por enquanto, não dá pra saber. Mas sou um daqueles sujeitos que acreditam nas conspirações. Afinal, para que exista uma conspiração basta que pessoas poderosas estejam dispostas a conspirar. A ver o desenrolar dos acontecimentos.

    Que tá estranho, ah tá….

    Deixando as especulações de lado, estou muito convencido de que a crise de abastecimento provocada pelo movimento dos caminhoneiros demonstrou, na prática, que a crença neoliberal no livre mercado é falaciosa. É fictícia.

    Os caminhoneiros tiraram do governo a promessa de que o preço nas bombas dos postos será fiscalizado. Nada contradiz mais o princípio do livre-mercado que o controle dos preços.

    Fato, fato mesmo, é que não existe livre mercado em sociedades complexas. O que existe é a disputa pelo Estado: os grupos sociais querem Estado máximo para si e, como o cobertor é curto, isso significa impor Estado mínimo aos outros.

    Nessa disputa, os caminhoneiros venceram.

    O mercado também venceu, já que nenhum dedo foi relado no regime privatista que Pedro Parente vem impondo à Petrobrás.

    Perdemos nós, a sociedade brasileira, pois como não existe mágica no orçamento, o dinheiro que vai subsidiar os caminhoneiros sairá da saúde, da educação, da segurança.

    É possível resumir, portanto, o resultado da greve/lockout dos caminhoneiros em poucas palavras: Estado máximo para os caminhoneiros e para o mercado. Estado mínimo para o resto da nação.

    O mais impressionante é que tudo isso aconteceu com o apoio da classe média conservadora e sob o entusiasmo de partes das esquerdas. A classe média conservadora olhava para as estradas e via ali um movimento saneador, de combate à corrupção. A esquerda via um movimento autônomo dos trabalhadores, um ato de resistência ao golpe.

    Ambos os grupos, como já tinha acontecido em 2013, erraram porque têm o péssimo hábito de fetichezar as ruas, porque olham pra realidade e enxergam somente aquilo que querem. Quem enxerga somente aquilo que quer acaba não vendo coisa alguma.

    Mas como a realidade é dura, teimosa, outra vez mostrou que nem tudo que reluz é ouro.

     

  • A paralisação dos caminhoneiros e a dessintonia entre as esquerdas e suas direções

    A paralisação dos caminhoneiros e a dessintonia entre as esquerdas e suas direções

    A atual mobilização dos caminhoneiros relembra, em parte, os impasses e desafios que a esquerda brasileira enfrentou durante as jornadas de junho. Apesar das várias diferenças entre os dois processos políticos, ambos tiveram, como elemento comum, algum nível de adesão espontânea e disputas de seus sentidos, pela esquerda e pela direita.

    Nas jornadas de junho, no intervalo entre 02 e 20 de junho, as direções majoritárias das esquerdas negligenciaram os acontecimentos, bem como a possibilidade de dirigi-lo politicamente. Consequentemente, as direitas ressignificaram os atos e transformaram o dia 20 em um grande ato de direita, mesmo tendo as esquerdas comparecido ao fatídico dia.

    Agora, na paralisação dos caminhoneiros, as direções foram precisas: a Frente Brasil Popular, as centrais sindicais e os partidos de esquerda declararam apoio ao movimento, e desde o início o politizaram – o problema central estaria na tentativa de privatização e sucateamento da Petrobras, bem como na política de preços de Temer, que atrela reajuste automático dos combustíveis quando da alta do dólar e do petróleo, e não nos impostos.

    Por outro lado, sua base social não as seguiu: foram dias de intermináveis discussões sobre se estaríamos perante uma greve ou locaute, frequentemente pautadas no senso comum e sem nenhuma implicação prática. É como se a esquerda renunciasse a disputar hegemonia – os valores e sentidos comuns que orientam a sociedade – e a luta política; é como se aguardasse a sublevação ideal, existente apenas em nossos cérebros e desvaneios.

    A marxista Rosa Luxemburgo dizia, há um século, que as grandes transformações derivam de explosões populares autônomas, pois apenas elas têm o condão de mobilizar grandes massas. Ao surgir de demandas reais, concretas, econômicas, de sobrevivência, elas arrastam multidões. Mas, por outro lado, é nesse processo de luta que é possível politizar e fazer com que uma reivindicação pontual se transforme em estrutural. Somente lutando e buscando uma direção política é possível politizar-se e, ao mesmo tempo, alterar profundamente a realidade.

    Por enquanto, desperdiçamos as duas últimas mobilizações de massas no Brasil. Não que a paralisação atual  tenha levado milhares às ruas, mas ela irradiou-se pelo país e por toda sua composição social. De imediato, nos resta recuperar a palavra de ordem “O Petróleo é nosso”, nos solidarizarmos com os caminhoneiros e, assim, preparar as condições objetivas para que a greve dos petroleiros transforme-se em greve dos brasileiros em luta pela soberania nacional.

    Porém, a médio prazo, a dessintonia entre direção e base precisa ser superada. É necessário aprofundar a relação orgânica entre a base social e suas entidades representativas, a formação política, a capacidade de agir, em bloco, diante de qualquer mudança de conjuntura. Ou seja, quem se pretende de esquerda – enxerga-se no mundo e quer transformá-lo – tem de reconhecer que não apenas as nossas direções e representantes, mas todos e todas nós ainda estamos aquém do que nos exige o momento histórico do país.

    Por Daniel Araújo Valença, professor do curso de Direito da UFERSA

  • O Jornal Nacional ainda engana alguém?

    O Jornal Nacional ainda engana alguém?

    Fui tentar descobrir a razão da hashtag #JornalNacional estar entre as mais citadas no Brasil na noite de sexta-feira (25/05). Vejam o que encontrei:

    Pedro V.
    Nem a previsão do tempo do jornal nacional é verdadeira #JornalNacional

    RBS:
    Até ontem vivíamos no paraíso, mas hoje devido aos caminhoneiros vivemos no meio do caos, é isso que o Jornal Nacional mostrou hoje. Foi patético ver ônibus lotados, eu enfrento isso sempre e a culpa não é dos caminhoneiros. Levanto às 5 h para ir trabalhar e a culpa não é deles também

    Marco:
    Avisa p produção do Jornal Nacional q busão lotado e filas empurra-empurra pra entrar no busu acontece todo dia com greve ou sem greve

    Diana:
    Globo não entende que nós temos internet e que sabemos que a maioria está a favor da greve!

    Antônio:
    Dr. Enéas já dizia: “Desconfiem SEMPRE do que noticia a imprensa escrita e falada!
    A caneta de um mau jornalista pode fazer tanto mal quanto o bisturi de um mau médico!”

    Adonias:
    Foi ótimo a corneta tocando olê olê olá no ao vivo do JN.
    A cara da repórter, sem saber o que fazer.

    Billy:
    #JornalNacional jornal maldito!!! Joga o caos para ajudar governo corrupto.

    Neemias:
    #JornalNacional Como sempre, a Globo contra o povo brasileiro.

    David
    #JornalNacional vocês distorceram os fatos falta tudo no Brasil e os caminhoneiros tão sendo culpado vocês traem o povo brasileiro

    Princess:
    Os caminhoneiros não estavam impedindo os medicamentos, como carga viva e laticínios! PELO AMOR DE DEUS ! QUEM VOCÊS QUEREM ENGANAR?

    Júnior:
    Povo descobrindo o Lixo que a Rede Esgoto de televisão é. Como diz o velho deitado: Antes tarde do q nunca. 😉

    Iago:
    Jornal Nacional esse lado ruim que vocês mostraram acontece todos os dias, agora neguim tá nervoso que afetou os ricos.

    Lopes:
    Esse @jornalnacional tá inacreditável, difícil de engolir esse papinho, hein?

    Vanessa:
    #JornalNacional Rede Globo para, porque tá feio já. Todo mundo já percebeu a tentativa de jogar a população contra os caminhoneiro

    Adriano:
    Claramente o #JornalNacional é a favor do Governo.

    Viviane:
    Gente é o cúmulo o que o #jornalnacional está fazendo!!! O Brasil está há muito tempo sem tantos recursos e tudo o que foi mostrado na reportagem é exatamente a situação presente do país. Agora tentar manipular a população contra a manifestação, me poupe.

    Eddie:‏Só observo o sensacionalismo nos telejornais pra colocar o povo contra a greve. Estão dramatizando a falta de alimentos.

    Daniela:
    #jornalnacional Ué, tá faltando insumos nos hospitais por causa da greve??? Que eu saiba isso ocorre durante todo o ano!!!

    Xavier:
    Estão colocando situações corriqueiras no país como excepcionalidades. #JN  #JornalNacional

    Sueli:
    Engraçado que essa superlotação acontece TODOS OS DIAS nos trens e metrôs de São Paulo! Os trabalhadores são MASSACRADOS! É muita hipocrisia!

    Damie:
    Como um jornalista se orgulha de trabalhar nesse jornal? Indo contra todo seu juramento… Jornal de merda! #JornalNacional

    André:
    Alô @RedeGlobo , exames desmarcados e transporte público lotado não é culpa dos caminhoneiros não, acontece todos os dias!!! #jornalnacional

    Átila:
    Vergonha dessa matéria, colocando a sociedade contra os caminhoneiros
    Não se preocupem ESTAMOS COM VCS GUERREIROS #JornalNacional

    Cezar:
    Impressionante. Tem meia-hora de #jornalnacional da @RedeGlobo e até agora não falam do porquê da greve. Mas o sensacionalismo do caos impera.

    Sol:
    #JornalNacional vocês são uma vergonha.  Estão sempre do lado do governo. Estamos zerados, mas continuamos apoiando.

    Fabinho:
    Hoje eu entendo o desserviço de uma mídia comprada, manipuladora. Que vergonha! #JornalNacional. Nojo de vcs.

    Sara:
    Nojo, Nojo! Não sei de quem eu tenho mais nojo do embupeste do Temer o do Jornal Nacional 🤢🤢🤢

    Nati:
    A Globo tentando colocar a população contra a greve dos caminhoneiros, que emissora tendenciosa, nojo! #jornalnacional

    Thiago:
    Lá vem a rede globo @RedeGlobo querer culpar os caminhoneiros pela vergonha que se transformou este país #jornalnacional

    Pry
    #JornalNacional parem de divulgar mentiras!

    Andressa:
    @RedeGlobo não cansa de passar vergonha! O país aos poucos tá acordando! Pare de lançar nota falsa! N teve acordo nenhum com os caminhoneiros da GREVE! Não tente tapar o sol com a peneira. A luta VAI CONTINUAR. Cubra a matéria corretamente.

    Evaristo:
    Para quem gosta de simpatia, ouvi dizer que se você bater panela 10 vezes na hora do #JornalNacional  e der 5 voltas em torno de um pato amarelo usando a camisa da #CBF o seu tanque de gasolina passa a se encher sozinho, como em um passe de mágica!!!

    Clarissa:
    Gente, só PAREM de assistir ao jornal da Globo. Veneno puro! E eles vão te hipnotizar.. nojo…
    #JN #jornalnacional

  • UM POUCO DA GREVE EM MINAS

    UM POUCO DA GREVE EM MINAS

     

    Minhas impressões sobre a greve dos caminhoneiros em Minas, depois de conversar com muitos deles, hoje, em Betim, na Grande Belo Horizonte, onde estão instaladas a refinaria Gabriel Passos e a fábrica da Fiat:

    – Enquanto não houver uma redução significativa no preço do diesel eles continuarão parados, principalmente os autônomos. Não vai ser tropa do Exército que vai fazer com que voltem às rodovias. O movimento tem obtido solidariedade e apoio da sociedade. Isso é bem nítido de ser visto nos locais onde há concentração de caminhoneiros parados, das mais diferentes formas.

    – O golpista Temer é o centro da revolta deles, por isso é sempre chamado de “corrupto” e “ladrão”. A TV Globo também é repudiada, finalmente, digo eu. Eles não permitem, por exemplo, que repórteres da emissora se aproximem, ao contrário do que vi, por exemplo, com a equipe da TV Record.

    – Confirmando o que os caminhoneiros me disseram, não vi nenhum caminhão com gêneros alimentícios ou de primeira necessidade retido, muito menos os chamados ‘frigoríficos’. Mas nota-se, também, que eles não estão partindo de suas bases, talvez preventivamente. A ordem é liberar caminhões-tanque com combustíveis para aeroportos, empresas de ônibus, hospitais, polícia etc.

    – A direita está aproveitando o movimento para tirar partido, usando, principalmente o lema “Intervenção militar”, mas isso, felizmente, não está sendo absorvido pelos discursos dos caminhoneiros. Em todos os locais que fui havia faixas pedindo “intervenção militar”, que são colocadas, parece, de forma oportunística pelo pessoal da direita.

    – Todos os postos de Belo Horizonte e região metropolitana estão fechados por falta de combustíveis.

     

  • Um acordo que vende o Brasil

    Um acordo que vende o Brasil

    por Maister F. Da Silva, Leandro Noronha de Freitas, Anderson Barreto Moreira e Lauro Duvoisin

    Anunciado como uma trégua para pôr fim ao caos econômico, na verdade o acordo de ontem vai apenas aprofundar a crise que estamos vivendo. O acordo entre governo, grandes empresários do transporte e capital financeiro internacional é, na verdade, um esquema de saque das riquezas nacionais e de entrega da Petrobras às grandes corporações. Os trabalhadores do transporte de cargas continuarão a sofrer o alto custo do combustível assim como toda a população brasileira, que depende da gasolina e do gás para sobreviver.

    1) Os eventos do dia de ontem (24 de maio) confirmam que houve, pela primeira vez durante este governo, uma fissura na classe dominante. Uma fração da burguesia interna percebeu a fragilidade do governo e apostou na possibilidade de rapina.

    2) Até agora tudo indica que o motivador principal da paralisação patronal foi econômico. Este setor percebeu a sua desvantagem relativa frente à oligarquia financeira internacional e apostou na oportunidade que um governo enfraquecido e desmoralizado poderia oferecer para elevar o tom de suas reivindicações.

    3) Em virtude do cenário econômico e da política energética irresponsável do governo, a burguesia interna passou a contar rapidamente com a adesão massiva dos diversos setores de transporte de cargas.

    4) O governo Temer, que representa sobretudo os interesses da oligarquia financeira, viu-se em situação difícil, pressionado internamente pela possibilidade de caos econômico e perda total da autoridade, e externamente pela posição de mando inconteste da oligarquia financeira que não cederia à burguesia de segunda classe.

    5) A esquerda dividiu-se entre os triunfalistas, que viam tudo isso como uma rebelião popular, e os apavorados, que viam o cenário como uma orquestração fascista para cancelar as eleições de outubro e dar um golpe dentro do golpe. Embora seja fato que há forças de extrema direita aproveitando-se da desordem econômica e da fragilização do governo, e mesmo que o processo esteja em andamento, os desdobramentos até agora permitem afirmar que estas duas posições estão profundamente equivocadas e não permitem enxergar o que é central no cenário atual: o enorme espaço político-ideológico que se criou para fustigar o projeto neoliberal e apresentar uma alternativa para o Brasil.

    6) No dia 24 de maio ao final do dia o que vimos foi um acordo, frágil, entre a burguesia interna e a oligarquia financeira internacional. Por um lado, permanece intocada a política energética antinacional e a estrutura de comando atual da Petrobras, e por outro se cede recursos públicos do Estado para satisfazer a sanha da fração burguesa rebelada. O preço do acordo é, mais uma vez, um assalto aos cofres públicos controlados pelo Estado.
    7) Contudo, não nos enganemos, a oligarquia financeira cobrará a conta dos setores produtivos internos. Este padrão de atuação é o mesmo da Operação Lava Jato: desvalorização de empresas e produtos competitivos no mercado internacional em prol das grandes corporações. Nesse sentido, já se anunciou a possibilidade de quebra de contrato das exportações de soja, carro-chefe da pauta exportadora brasileira. Ou seja, a oligarquia financeira transformará, mais uma vez, qualquer desafio ao seu poder como uma oportunidade de avançar na guerra econômica de rapina contra os interesses nacionais.

    8) A rede Globo, que desta vez se antecipou e desde o início deu o tom, inclusive criando o efeito manada (corrida ao postos e supermercados), aparentemente mudou o discurso na noite do 24/05. Possivelmente perceberam os riscos de perder o controle ao criar uma situação de desabastecimento e caos que certamente dificultaria muito a condução dos rumos da paralisação. Sua postura no acordo foi buscar enquadrar a fração interna rebelada. A repetição de que o acordo é muito bom para os setores paralisados e ruim para o governo e os “acionistas” confirmam sua posição em favor do capital financeiro. Pior, agora se reafirma pela força dos fatos e pela mensagem deste acordo que a Petrobras nada mais é do que uma filial subalterna dos grandes holdings internacionais a quem deve submeter-se custe o que custar. A que ponto chegamos!

    9) A suposta solução proposta pelo governo é apenas um arremedo paliativo para tentar retomar o controle da situação. Não coloca em questão nenhum dos pilares da política energética que produziram a insatisfação atual, ou seja, não resolve o problema central, que é os preços dos combustíveis pagos pelo setor produtivo e pela população em geral: diesel, gasolina, álcool e gás de cozinha.

    10) Visivelmente o acordo excluiu o setor mais precário dos transportes. Ou seja, foi um acordo no alto escalão da burguesia. Como não resolve os problemas do custo dos combustíveis, para os próximos dias é provável um cenário de continuidade das paralisações com ações repressivas por parte do governo para evitar a perda do controle novamente.

    11) O governo sem dúvidas sai ainda mais enfraquecido deste embate. Pela primeira vez ele mostra-se incapaz de aglutinar todas as frações burguesas dentro de um mesmo projeto. Além disso, fica ainda mais evidente que sua força vital vem de fora, vem da natureza entreguista de seu projeto, sustentado a ferro e fogo pela oligarquia financeira.

    12) A rápida adesão à pauta em curso nos últimos dias e a mobilização de setores dos estratos médios da classe trabalhadora e mesmo daqueles mais pauperizados pode levar à perda de controle do “baixo escalão” por parte da burguesia interna. Esta massa pode migrar para a direita, que até agora tem mostrado ter mais capilaridade nestes setores, ou para a esquerda, se alguma força social de peso, como os trabalhadores petroleiros, entrarem com força na luta com clareza, domínio e autoridade sobre a pauta em disputa.

    13) A solução apresentada desvela os verdadeiros interesses em jogo e cria um ambiente propício para a disputa de projeto. O acordo, ao que tudo indica, por atender aos setores já citados, pode ser rejeitado por parte dos que participam da paralisação. O que a esquerda e os setores progressistas podem fazer caso siga a atual situação? Apenas dizer que se trata de um lockout fascista e esperar que uma explosão social de caráter reacionário saia as ruas? Ou buscar fustigar as enormes contradições em jogo: a política neoliberal que drena as riquezas e não traz benefício algum; a denúncia de que esta crise é fruto exatamente da forma privada que conduz a Petrobras; se existe subsídio para os acionistas também podem existir para o gás. Não alimentamos ilusões de que isso possa ser atendido, mas são questões colocadas. A crise desatada pela paralisação trouxe à tona as imensas tensões que estão acumuladas na população. Alguns setores ensaiam paralisações como motoboys e taxistas; em algumas refinarias têm início o que pode se tornar uma greve do setor petroleiro. Continuemos no esforço de encontrar as brechas para colocar um projeto que de fato resolva os problemas do povo brasileiro.

    • Maister F. Da Silva e Leandro Noronha de Freitas (Militantes do Movimento dos Pequenos Agricultores) e Anderson Barreto Moreira e Lauro Duvoisin ( Militantes do Levante Popular da Juventude)