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Tag: Brasil

  • Será verde o que sabia verde, hoje terra limpa, sangue vermelho de floresta

    Será verde o que sabia verde, hoje terra limpa, sangue vermelho de floresta

    É quase noite no sábado.

    Sabá é palavra alegre.

    Triste fico e refaço o dia, pois onde era verde o que via,

    agora terra crua segue, tal carne das mortas,

    minhas amadas,

    velhas enrugadas.

    Árvore tem mais não,

    mas será verde a terra,

    um banco verde.

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/786659515035064/

     

    Imagens por Patrícia Rech©

     

  • A tempestade de raios na ecologia de saberes

    A tempestade de raios na ecologia de saberes

    Sei a dor de me encontrar.

     

    É um acinte a negação do golpe militar, assim começou a quaresma. Buscava nessa manhã de sexta-feira uma ecologia de saberes, tão cansado sigo na lógica fascista dos dias desse momento.

     

    Nana, ah Nana, caminho de ferro mandaram arrancar.

     

    Minha Sentinela, meu Cais, minha Ponta de Areia, o que te ocorre para quem quer se soltar?

     

    Invento o amor?

     

    Oh, minha amada.

     

    A casa vazia.

     

  • Saúde indígena

    Saúde indígena

    Lideranças indígenas protestam contra as palavras do atual Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), que anunciou sua pretensão de extinguir a SESAI – Secretaria Especial de Saúde Indígena. Mandetta se pronunciou na Comissão de Constituição e Justiça, dizendo que transformará a SESAI em departamento, inserido numa  Secretaria de Atenção Primária.

     

    A assistência à saúde dos povos indígenas está na hora do caos, anunciam as lideranças dos índios, após ouvirem o pronunciamento do ministro Mandetta. Um grande retrocesso e negação de direitos aos povos indígenas, dizem as lideranças,  será uma grande batalha, a luta continua, pois os povos indígenas foram , são e serão sempre resistência às barbaridades de um sistema cruel e perverso, que ao invés de dar uma melhoria na qualidade de vida dos povos originários do país, promove o retrocesso e a negação dos direitos adquiridos dos povos indígenas. As CASAIs (Casa de Saúde Indígena) da cidade de  São Paulo  e Brasília já suspendem o acolhimento a indígenas que necessitam de abrigo nos grandes centros urbanos, para procedimentos e tratamento. Trabalhadores da saúde indígena estão a três meses sem receber salários.

     

     

    O Brasil conta com 34 DSEIs (Distrito Sanitário Especial Indígena), divididos por critérios territoriais, para adotar medidas qualificadas de atenção à saúde dos povos originários. No Brasil, os povos indígenas compõem 305 etnias, falam 274 línguas e totalizam, aproximadamente, 897 mil indivíduos a serem atendidos pela SESAI.  No atual modelo de saúde indígena, por meio da SESAI, o governo federal desenvolve ações de atenção integral à saúde indígena – sobretudo atenção básica – em consonância com programas do SUS (Sistema Único de Saúde) e práticas de saúde tradicionais indígenas em todo o país.

     

     

    Trata-se de um Subsistema de Saúde Indígena no interior do SUS articulado pela secretaria especial em parceria com órgãos vinculados ao Ministério da Saúde e voltados à atuação local, como os 34 DSEIs espalhados pelo território.

     

     

     

                                                                                                                                                                                Mariana Vick, do Nexo Jornal, escreve:

     

    A política de saúde indígena

     

     

     

     

    O QUE É O SUBSISTEMA

     

    Atribui-se a sigla SasiSUS ao Subsistema de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, rede específica de serviços de saúde em âmbito federal. O SasiSUS foi criado em 1999, por meio da Lei Arouca, como forma de atender às especificidades sociais e epidemiológicas das populações indígenas. Desde 2010, a Sesai coordena o subsistema.

     

    COMO ELE SE ARTICULA

     

    Uma das principais características do atual modelo de gestão de saúde indígena são os DSEIS, unidades gestoras locais divididas a partir de critérios territoriais, com base na localização de comunidades indígenas. No total, são 34 em todo o país. Além dos DSEIS, a estrutura de atendimento local para a população indígena abrange postos de saúde, polos base (administrativos) e as chamadas Casas de Saúde Indígena.

     

    QUAIS SÃO SEUS SERVIÇOS

     

    A atenção básica (ou atenção primária) está no primeiro nível de atenção dos sistemas de saúde. Caracteriza-se por ações no âmbito individual e coletivo voltadas à promoção da saúde (como programas de educação) e à prevenção, ao tratamento e à reabilitação de agravos.

     

    O atual modelo de gestão atende a parâmetros da Política Nacional de Saúde Indígena, documento de 2002 que garante aos povos indígenas atenção integral à saúde, contemplando sua diversidade sociocultural e admitindo a participação das comunidades para controle dos serviços.

     

    Algumas facilidades do modelo são a proximidade das unidades de saúde com comunidades indígenas, a presença de equipes aptas para lidar com esses grupos e a manutenção dos trabalhadores nos DSEIS, mais resistentes a mudanças políticas que estados e municípios.

     

    Além de ações voltadas à atenção em saúde, a Sesai coordena ações de saneamento e edificações em regiões onde vivem grupos indígenas. É responsável também por articular com estados, municípios e ONGs outras ações em saúde e fortalecer o controle social sobre o setor.

     

    Por que a saúde indígena é diferente

    A política diferenciada de saúde indígena baseia-se no princípio constitucional de que cabe ao Estado assegurar aos povos originários suas culturas, cosmovisões e organizações sociais – devendo garantir, portanto, um sistema de saúde adequado a seus modos de vida.

     

    “Os povos indígenas têm direito a suas próprias medicinas tradicionais e a manter suas práticas de saúde, bem como desfrutar do nível mais alto possível de saúde, e os Estados devem tomar as medidas necessárias para atingir progressivamente a plena realização deste direito”

    Organização das Nações Unidas na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, documento aprovado em 2007

     

     

     

    “Para os povos indígenas, a saúde está intimamente relacionada com a Mãe Terra e uma relação equilibrada entre os seres vivos e a natureza. […] [seus sistemas de saúde] articulam diversos aspectos da sua organização social e da sua cultura, a partir do uso das plantas medicinais, dos rituais de cura e das práticas de promoção da saúde”

     

     

     

     

     

    Conselho Indigenista Missionário em encarte educativo sobre saúde indígena, de 2015

     

    No Brasil, a constituição de uma política diferenciada deve se basear na troca de experiências entre equipes médicas e comunidades e na gestão participativa no sistema de saúde, segundo lideranças indígenas. O modelo também estaria relacionado à demarcação de terras, consideradas essenciais para “a vida em seu sentido pleno”.

     

    A gestão da saúde indígena foi transferida ao governo federal tanto pela capacidade técnica da União, maior responsável pela política indigenista, quanto por seu montante de recursos – necessários, por exemplo, para a manutenção de ações permanentes em áreas geralmente remotas. Além disso, o governo não está envolvido em conflitos fundiários que afetam indígenas e lideranças políticas locais.

    As particularidades do atendimento de saúde indígena

     

    CULTURA

     

    O atendimento médico em comunidades indígenas caracteriza-se pelo que se chama de uma “situação de transculturação”, a partir do contato entre o sistema médico oficial e sistemas tradicionais de cura desenvolvidos pelas populações originárias. A “sobreposição” de ambas as medicinas envolve conflitos de compatibilização entre a equipe médica e o grupo atendido, diz artigo de 1989 da Fiocruz. Nesses casos, é importante haver mediação antropológica tanto no acompanhamento de programas de saúde quanto na formação de pessoal na área.

     

    GEOGRAFIA

     

    A maior parte das comunidades indígenas está no Centro-Oeste e na Amazônia, vivendo em aldeias distantes, esparsas e de baixa densidade demográfica. Isso implica dificuldades de acesso que, somadas à deficiência de recursos e de infraestrutura, exigem a articulação de um sistema de comunicações permanente, a fim de dar continuidade a ações (em saúde, por exemplo) voltadas a essas populações.

     

    PERFIL EPIDEMIOLÓGICO

     

    As comunidades indígenas costumam apresentar perfil epidemiológico diferente das não indígenas no Brasil. Incidências maiores de desnutrição, DSTs, doenças negligenciadas e enfermidades preveníveis tendem a ser comuns entre essas populações, devido a más condições sanitárias onde a maior parte delas vive e a dificuldade de acesso a serviços de saúde. Mudanças sociais, econômicas e ambientais também podem levar ao aumento de doenças crônicas (câncer, hipertensão, diabetes) e mentais (alcoolismo, suicídio) entre grupos que têm contato com áreas urbanas. São fatores diretos para esse quadro as transformações aculturativas em seus modos de vida, o estresse social e a marginalidade econômica.

     

    O que diz a experiência

     

     

     

    Antes da criação da Sesai, a saúde indígena era organizada, desde 1999, pela Funasa (Fundação Nacional de Saúde), agência federal responsável por criar políticas na área sanitária, além de atuar por prevenção e combate a doenças e atenção para populações carentes.

     

    Ainda que contasse com a estrutura do Subsistema de Saúde Indígena e os DSEIS – semelhanças com o paradigma atual -, o modelo antigo incluía convênios com municípios e com organizações destinadas a realizar serviços de atenção, prevenção e saneamento. A ideia era considerada uma “solução temporária” para as deficiências em saúde.

     

    Ao longo do tempo, lideranças indígenas consideraram que a manutenção do modelo havia tornado “figurativos” conselhos de participação e “inócuas” deliberações de movimentos organizados ligados à saúde. A falta de controle social resultou em piora da qualidade dos serviços.

     

    Em 2004, a execução direta do atendimento em saúde foi recuperada pelo governo federal, e às conveniadas sobrou o papel de contratar pessoal, fornecer insumos às aldeias e deslocar indígenas de sua residência até equipamentos de saúde distantes, por exemplo.

     

    Além da “falta de controle de recursos” concedidos a ONGs para essas atividades, os problemas de agora, segundo o ministro da Saúde, envolvem o alto volume de indicações políticas nos DSEIS.

     

    Para líderes e organizações do setor, no entanto, o repasse da responsabilidade pela saúde para estados e municípios não resolve problemas como esses – o ideal seria corrigi-los no sistema federal.

    O site do CIMI (conselho indigenista missionário) hoje divulgou porque a proposta de municipalizar a saúde indígena é um erro e está sendo combatida pelos povos indígenas:

     

    Neste momento, passados quase 20 anos da publicação da lei Arouca, que criou o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, os povos indígenas seguem na incerteza e insegurança quanto ao modo como se assegurará a atenção à saúde no governo Bolsonaro. Mesmo depois de terem sido realizadas cinco Conferências de Saúde Indígena, e nelas terem sido estabelecidas diretrizes e propostas para as políticas, pouco se avançou no sentido de consolidação de um modelo de atenção à saúde: diferenciado e participativo. Segue-se por um caminho sem direção determinada, e o mais grave, desconsiderando as discussões já realizadas em etapas locais e distritais da 6ª Conferência Nacional de Saúde dos Povos Indígenas, que ocorreram em 2018, nas quais se priorizou a discussão e elaboração de propostas tendo em vista o fortalecimento do Subsistema de Atenção à Saúde.

    Um dos pilares da 6ª Conferência Nacional de Saúde Indígena será a defesa da saúde como direito de todos, que só poderá ser garantida pela manutenção e fortalecimento do SUS. Entre os objetivos da conferência está a atualização da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, publicada em 2002, e a redefinição das diretrizes, no sentido de efetivamente levar em conta as particularidades étnicas e culturais no modelo de atenção à saúde dos povos indígenas. A conferência tem como tema central: “Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas: atenção diferenciada, vida e saúde nas comunidades indígenas”.

    Lamentavelmente, em meio à realização da 6ª Conferência, cuja etapa nacional se dará em maio de 2019, o governo federal anuncia mudanças nos rumos da política, propondo a municipalização e a estadualização da atenção à saúde aos povos indígenas, sem levar em conta as deliberações das conferências anteriores e, muito menos, as propostas que foram debatidas e aprovadas nas conferências distritais.

     

  • Guerra da mídia com a milícia pode ser a antessala do Brasil distópico

    Guerra da mídia com a milícia pode ser a antessala do Brasil distópico

    Por Gabriel Rocha Gaspar*
    A mídia liberal declarou guerra ao bolsonarismo com a cobertura da prisão dos assassinos da Marielle. E é uma guerra que a mídia dificilmente tem condições de ganhar.
    Essa cobertura pode decretar o fim da mídia como conhecemos e pavimentar o caminho de um estado policialesco fascista de verdade. Uma guerra aberta Mídia x Milícias será feia de ver. E talvez a mídia não esteja levando em conta que o império está com as milícias. Não existe mais império liberal. Se a Globo, por exemplo, conta com uma aura de liberalismo vindo ao resgate, vai dar ruim.
    Os Estados Unidos não têm qualquer compromisso com democracia em colônia e sempre se colocaram ao lado de milícias. Foi assim na Nicarágua, na Colômbia, no Iraque, no Afeganistão, na Líbia. Vai ser assim na Venezuela. E se o passado condena, a perspectiva de futuro do complexo industrial militar é ainda mais assustadora.
    No final de 2016, o Intercept vazou um vídeo interno do Pentágono, que fazia um prognóstico da guerra do futuro. Neste vídeo, países em desenvolvimento – e obviamente ricos em recursos naturais, como Brasil, Venezuela, Angola, Congo etc. – aparecem como Estados falidos pós-institucionais (tipo a Líbia), onde gangues e milícias oferecem as únicas oportunidades de emprego e estabelecem à força regras básicas de controle social.
    As guerras locais acontecem por conta das desavenças e da própria estrutura extra-institucional destes grupos. E as guerras internacionais são operações de ocupação, o que  escancara sua intencionalidade extrativista. Serão provavelmente assaltos militares constantes aos recursos, mirando a manutenção do fluxo de exportação do sul para o norte em meio ao caos.
    É guerra constante, amparada por drones e armamentos robóticos autônomos – o que, por si só, prevê a obsolescência do direito internacional e de organismos multilaterais, como a Organização das Nações Unidas. Basicamente, o que o império antecipa para o futuro – cuja inexorabilidade faz questão de deixar clara, com o uso cínico da máxima thatcheriana “there is no alternative” (não há alternativa) – é capitalismo cru, sem qualquer máscara ideológica.
    Quanto mais desorganizado o Estado subalterno, melhor o funcionamento deste nível de exploração. Basta ver a quantidade de Estados que foi absolutamente destruída pelo império nos últimos anos. Alguém no norte perdeu dinheiro? Só quem já não tinha.
    É uma perspectiva de futuro que escancara o quão desimportantes para o centro do capitalismo são escândalos regionais, infrações de direitos humanos e outras bobagens. Escândalo regional dá trabalho do ponto de vista simbólico, mas o caos facilita o extrativismo – o que é fundamental num cenário de escassez sistêmica de recursos.
    Este panorama de reorganização do capitalismo em sua fase distópica deixa poucas esperanças para postulados liberais como a pluralidade midiática. Aliás, as velhas instituições liberais não são sequer tratadas como algo digno de conservação pela face publicitária da distopia. Donald Trump, por exemplo, chama o conjunto da imprensa de “fábrica de fake news”; Bolsonaro ganhou a eleição com o mesmo discurso.
    Por isso, nesta guerra com a milícia, a balança não é tão favorável aos conglomerados midiáticos quanto parece ser. Até porque, vale lembrar que esta briga parece ter sido instigada pelo lado miliciano: o fato do Jair Bolsonaro ter ameaçado jornalista na véspera da prisão dos suspeitos (em um tuíte que, por sinal, tem a cara do mentor do neofascismo, Steve Bannon) pode bem ter sido uma isca, que a imprensa mordeu. Em 140 caracteres, Bolsonaro atiçou os ânimos para a mídia bater com força total e criar um cenário de animosidade que bem pode aprofundar o ódio de que se alimenta o fascismo.
    Ao invés de assimilar a ofensiva midiática a um iminente desmoronamento do governo Bolsonaro, se empolgar com as capas da Veja e da Istoé ou com a ampla cobertura da Globo News aproximando o assassinato de Marielle do Planalto, a esquerda deveria olhar para cima. As bases do fascismo não estão abaixo da administração, estão acima. Mesmo que o presidente tenha sido respaldado pelo voto, a estrutrura do fascismo é aristocrática e não democrática.
    Talvez essa declaração de guerra seja a deixa que se esperava pro descortinamento de um governo de fato autoritário e a destruição completa das instituições liberais. A tendência é de derrota do liberalismo tupiniquim, porque ele é uma entidade de fachada em um mundo que não precisa mais de máscara. Hoje, o capitalismo não tem nenhuma necessidade de fingir humanismo.
    Para quem acha que milícia não é suficientemente sofisticada para capitanear esta trama, é preciso atentar para o fato de que a questão fundamental não é o nível de organização das milícias, mas de oposição global a essa perspectiva distópica de imperialismo, que vem se consolidando pelo mundo em uma velocidade extraordinária.
    Temos que olhar de perto a reação do governo e de seus asseclas formais e informais a essa cobertura. E, ao mesmo tempo, analisar as ações e reações do judiciário no processo, tanto em questões processuais quanto de narrativa. E, sobretudo, devemos fazer a mais profunda e decidida oposição a uma invasão armada da Venezuela, que configuraria a consolidação deste projeto distópico em um país vizinho, cercado por dois Estados reacionários com forte presença miliciana (Colômbia e Brasil).
    O momento é volátil. E a esquerda, como campo político, tem que se preparar para o pior cenário possível.
    Vídeo do Pentágono:
    *Gabriel Rocha Gaspar é jornalista e mestre em literatura pela Sorbonne Nouvelle
  • O bem que se colhe e o mal que se planta

    O bem que se colhe e o mal que se planta

     

     

    Comi comida de índio e seu gosto era puro, de terra limpa. Indago se é a língua ou a mão do homem que colhe e planta entre a mata, fazendo da vontade a fome vencida, seu sabor. Algo rompeu o elo de corrente ou nó de corda, na necessidade diária de alimento, quando o mercado invadiu o campo e as grandes lavouras ocuparam a paisagem, a monocultura de latifúndios.

    Já não é mais o pé de banana, a mandioca, o pé de milho e uns ramos de coentro que importam aos labores da terra. Os poucos homens do campo que mandam e definem os rumos da agricultura, querem tudo que  podem colher e fazer renda, produzir milhões de toneladas e abastecer o mercado do mundo. Agro é a indústria da riqueza para quem, pergunta minha aorta.

    Todos têm fome, e saúde plena depende de alimento limpo, por mais que neguem ou inventem remédios e novos arranjos genéticos. Denomina-se ingestão diária aceitável (IDA) o veneno que ingerimos dia a dia, e consentido pela agência nacional de vigilância.

     

     

    Mulheres indígenas Kawaiweté removem a terra limpa sobre o forno de pedras quentes, onde por horas assaram as batatas doces, colhidas na roça entre as matas da Terra Indígena do Xingu.

     

    É a vitória da insanidade. Milhões de abelhas morrem todos os dias ou outros tantos milhões de insetos são exterminados, anunciando a vida em desequilíbrio. 

    Os consumidores, em lugares incertos no futuro, não terão meio ambiente algum e a natureza selvagem que nos resta será conhecida nas velhas fotografias. A fome será sanada pela Basf, Bayer, Dow, Dupont, Monsanto e Syngenta, os cavaleiros do apocalipse. Envolvem os alimentos com herbicidas, pesticidas, hormônios e adubos químicos. Expõem a humanidade aos danos da contaminação, engordam contas bancárias, enquanto a humanidade, vulnerável, adoece. Nos dão o ovo da serpente.

     

     

    O Brasil é o maior importador de agrotóxicos do planeta e permite o consumo de substâncias que já são proibidas em vários países e banidas de seus ares e cursos d’água.  Superávits exterminam o cerrado, engolem a Amazônia. 

     

     

    Há novas concessões permitidas pelo novo governo, venenos possíveis ao abismo de nossos pés, tão desejáveis aos negócios do agro sob nova direção.

    Por mais absurdo que seja nesse momento e assunto, recordo-me de Cartola, quando falava do amor e que o mundo é um moinho, aquilo que quando notarmos estaremos à beira do abismo. 

    Querida natureza reduzida a pó, em pouco tempo não serás mais o que és.

     

     

    *imagens por Helio Carlos Mello©

  • Atos por Marielle Franco, assassinada há um ano, se espalham pelo Brasil

    Atos por Marielle Franco, assassinada há um ano, se espalham pelo Brasil

    Por Fabiana Oliveira*

     

    Hoje, 14 de março de 2019, o grito de quem se indigna com o machismo, o racismo, a desigualdade e a violência faz contraste com o silêncio do Estado, da Justiça e dos perpetradores dos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes, que completam um ano.

    No último dia 12, foi decretada a prisão do policial reformado Ronnie Lessa e do ex- policial militar Elcio Vieira de Queiroz, acusados de serem autores dos disparos contra o carro em que estavam a vereadora Marielle, o motorista Anderson e a jornalista Fernanda Chaves, única sobrevivente do atentado, na noite do dia 14 de março de 2018. “Quem mandou matar Marielle?”, entretanto, é uma pergunta que segue sem resposta.

    Em muitas cidades do país e em outras partes do mundo, a população já foi ou vai às ruas pedir justiça por Marielle e reafirmar o compromisso com suas lutas em defesa da população negra e LGBT, das mulheres, dos mais pobres, dos favelados e de quem sonha, luta e constrói, cotidianamente, uma sociedade mais justa.

    O legado que Marielle deixa é a luta contra este modelo de sociedade: violento, baseado em relações de discriminação e exploração, que é um projeto de morte. O Brasil é o país que mais mata defensores dos direitos humanos e socioambientais no mundo e também é considerado um dos que mais mata mulheres, ocupando a 5º posição no ranking mundial. Além disso, a cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no país.

    A memória de Marielle Franco e outras lutadoras e outros lutadores do povo será semente e vai geminar, queiram ou não os seus algozes. Confira a agenda de atos**:

     

    14/03

     

    Rio de Janeiro

    Amanhecer por Marielle e Anderson – RJ, 6h

     

    Festival Justiça Por Marielle e Anderson ::. 14/03, 8h

     

    Zona Oeste por Marielle Franco, Praça do Ringue, Santa Cruz, 10h

     

    Celebração Marielle Semente, 13h

     

    Aula Magna: Eu Sou Porque Nós Somos, Praça Cinelândia, 14h

     

    Carolina, Abdias e Marielle: Vidas, Ancestralidade e Continuação, Centro de Artes da Maré, 15h

     

    Marcha contra o genocídio negro! SOMOS Marielle Franco!, Alerj, 17h

     

    Cabo Frio

    Pela memória e justiça de Marielle!, Praça Porto Rocha, 17h

     

    Campos

    Mesa: Um ano da morte de Marielle Franco – quem matou Marielle?, Instituto Federal Fluminense (IFF Campos), 18h30

     

    Brasília

    365 dias sem Marielle [DF], distribuição de placas Rua Marielle Franco, Praça Zumbi dos Palmares, 12h

     

    Lançamento do livro UPP: a redução da favela a três letras, Foyer do plenário do CLDF, 17H

     

    Sessão solene em Memória de Marielle Franco, Plenário do CLDF, 19h

     

    Campo Grande

    Por que mataram Marielle Franco?, Concha Acústica, 8h

     

    João Pessoa

    Festival Marielle Vive, Parque da Lagoa, 9h30

     

    Natal

    Marielle, presente! O legado dela está mais vivo do que nunca., Auditório do DECOM/UFRN, 13h

     

    14M – Por justiça e pela memória de Marielle Franco, Calçadão do Midway. 17h

     

    São Bernardo

    Ato Marielle Vive, Praça da Matriz, 14h

     

    Aracaju

    14M Aracaju – Marielle Vive!, Câmara dos Vereadores de Aracaju, 16h

     

    Sessão Solene em memória de Marielle Franco, Câmara Legislativa do Distrito Federal, 17h

     

    Fortaleza

    Amanhecer por Marielle, Praça da Justiça, 6h

     

    Ato Marielle Vive!, Praça da Gentilândia, 17h

     

    Marielle, presente! De três letras a uma só voz, Auditório Valnir Chagas FACED – UFC, 19h

     

    Belo Horizonte

    Semana Marielle Franco UFMG, UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais, 17h (de 11 a 15 de março)

     

    Marielle Vive! Um ano de Saudade e Lutas!, Praça Sete De Setembro, 17h30

     

    São Paulo

    Justiça para Marielle: vidas negras e periféricas importam! 14M, Av. Paulista praça Oswaldo Cruz, 17h

     

    Marielle Vive, Nós Também! Pelo direito à vida das mulheres!,  Estrada do M’Boi Mirim, 18h

     

    Bauru

    Justiça por Marielle! Quem matou e quem mandou matar?, em frente a Câmara Municipal, 17h

     

    Porto Alegre

    Março Feminista! Justiça para Marielle: 1 ano sem resposta, Esquina Democrática, 18h

     

    Pelotas

    Um Ano Sem Marielle Franco, Chafariz do Calçadão, 17h30

     

    Manaus

    Simpósio e Aula pública – Marielle virou semente – ato em memória de Marielle Franco, Casa das Artes, 15h

     

    * Fabiana Oliveira é jornalista e militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM)

    ** Com informações da Mídia Ninja