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  • Lula avisa: “Tenho muita coisa para fazer ainda”

    Lula avisa: “Tenho muita coisa para fazer ainda”

    “Não vou deixar a solidão tomar conta de mim, não vou deixar o ódio tomar conta de mim, não vou desanimar, não vou ficar deprimido. Não conheço a palavra depressão. Se já tive, não sei. Tenho muita coisa para fazer ainda”, relatou ex-presidente Lula em entrevista ao jornal “Brasil De Fato”. Confira a seguir o que contou o ex-presidente:

    “Uma coisa que me interessa muito é ler sobre a escravidão. Estou aprendendo porque o Brasil é do jeito que é, porque ainda existe preconceito. Sempre gostei muito de música e estou ouvindo bastante, recebo um pendrive com músicas. Gosto muito de samba, ouço Chico, ouço Caetano, o Gil, ouço muitas músicas daquelas, como chama, cânticos gregorianos. Às vezes, eu durmo com cantos gregorianos.
    Eu recebo muita coisa. E muito debate também. Peço a alguns companheiros que gravem análises de conjuntura para mim. Então, às vezes o João Paulo (do MST) grava uma análise de conjuntura, às vezes o Genoíno me grava, a [Marilena] Chauí me grava, o [Luiz] Dulci me grava, a Gleisi [Hoffmann] me grava, o Jessé [de Souza], o Eduardo Moreira, o Aloízio Mercadante. Eu vou pedindo às pessoas, que vão gravando.
    Como não tem o que fazer, sento para ler, ou sento e fico vendo as pessoas falarem, fico discutindo sozinho com as pessoas, discordando das pessoas. Às vezes, fico puto como as pessoas falam bobagens a meu respeito. E não estou lá para dizer: “Não é assim, rapaz”. Assim vou vivendo.
    Eu vou dormir por volta de meia-noite, 1h da manhã. Acordo todo dia às 6h30, faço meu café, faço um café de qualidade. Acho que não tem ninguém que faça um café melhor do que eu.

    Quero que vocês saibam que essa história de eu falar que vou casar é verdade. Na verdade, encontrei uma meia cara que está me ajudando a vencer essa barreira aqui. Então, não vou deixar a solidão tomar conta de mim, não vou deixar o ódio tomar conta de mim, não vou desanimar, não vou ficar deprimido. Não conheço a palavra depressão. Se já tive, não sei. Como fui corintiano e fiquei 23 anos sem ganhar um título, perdendo para o Santos 15 anos consecutivos, vendo Pelé humilhando o Corinthians – eu ia ao estádio, chegava lá e dava 3 a 0, 4 a 0 –, então acho que não vou ter depressão. Tenho certeza, posso dizer para vocês comunicarem o pessoal lá fora, que vou sair mais maduro, mais preciso naquilo que quero fazer. Vou sair mais lutador do que fui. Estou bem fisicamente. Obviamente que sei que a natureza é implacável, mas como me decidi que vou viver até os 120 anos, que a “Caetana” não venha bater na minha porta, que não tem espaço para ela entrar [referência ao livro “A Moça Caetana – A Morte Sertaneja”, de Ariano Suassuna]. Tenho muita coisa para fazer ainda.
    Então, estou assim, nesse momento da minha vida. Obviamente, fico sonhando em sair daqui, decidir onde vou morar. Quando deixei a Presidência, tinha vontade de morar no Nordeste, vontade de voltar para meu Pernambuco, vontade de morar não perto da praia, mas num lugar em que pudesse ir à praia. Pensava em ir para Bahia, Rio Grande do Norte, mas a Marisa não quis ir porque ela nasceu em São Bernardo [do Campo], e o mundo dela era São Bernardo. Eu não tenho mais o que fazer em São Bernardo. Não sei para onde ir, mas quero me mudar para outro lugar. Quero viver. Espero que o PT me utilize, espero que a CUT me utilize, espero que os sem-terra me utilizem, espero que os LGBT me utilizem, espero que os quilombolas me utilizem, espero que as mulheres me utilizem, espero que todo mundo me utilize para fazer com que eu tenha utilidade nessa minha passagem pelo planeta Terra. Vou sair daqui tranquilo. Não vou dizer que cumpri minha missão, mas vou sair daqui tranquilo, como cidadão consciente do seu papel na história.
    Sou muito agradecido às manifestações dos artistas. Tenho visto pelo pendrive shows no mundo inteiro. Aliás, acho que o PT e os movimentos sociais deveriam fazer da questão cultural uma das bandeiras mais importantes. A gente não pode deixar que esses caras destruam a cultura. A cultura não tem propriedade do Estado. A cultura é uma prioridade da sociedade – ela que se aproveite da cultura e a criatividade que o nosso povo tem nesse país. Não podemos abdicar disso.
    É isso que vocês vão levar daqui. Quero que vocês digam para todo mundo que estou bem, estou muito disposto a brigar. Tenho certeza de que o Moro não dorme com a consciência tranquila como durmo. Tenho consciência de que o Dallagnol está precisando tomar remédio para dormir, talvez tarja preta, porque ele sabe que é mentiroso, ele sabe que foi canalha no meu processo. Estou aqui, para a raiva deles. Porque acho que eles ficam com mais raiva quando eles percebem que estou bem.
    Então, muito obrigado. Quero que vocês transmitam um abraço a todo mundo. Quando sair daqui, espero que a gente faça uma boa entrevista – e um churrasco. Há um livro que li que me impressionou muito, chamado “Um Defeito de Cor”, de uma moça chamada Ana Maria Gonçalves. Eu li “Escravidão”, do Laurentino Gomes, muito bom. Eu tenho lido muito. Li, da escravidão, “O Alufá Rufino” [de Flávio dos Santos Gomes, João José Reis e Marcus J. M. de Carvalho]. É muito bom. É um tema que me apaixonou, porque nunca consegui entender.
    Não sei se vocês lembram, quando eu era presidente, a gente tentou, foi aprovada uma lei, o Fernando Haddad [então ministro da Educação] deve se lembrar disso, para ensinar a história africana no Brasil, que era umas formas que eu achava que a gente iria vencer o preconceito nesse país. Não sei se aconteceu. Pelo que estou vendo, até universidade afro-brasileira está sendo destruída lá em Redenção (CE). Acho que eles estão desmontando isso. Mas estou aprendendo muito.
    As pessoas são muito generosas, as pessoas mandam muitos livros, muito material importante. Esses dias, recebi uma cartinha bonita daquela menina que está em Oxford e participou da equipe daquele médico que ganhou um prêmio Nobel de Medicina; uma menina do Rio Grande do Norte que está com ele, é brasileira. Ela mandou uma cartinha bonita. Eu recebo muita coisa bonita, muita gente generosa. Eu não sei se vou ter força para abraçar todo mundo quando eu sair daqui. Se a minha bursite não voltar…”

     

  • Maduro questiona suposta ajuda humanitária: “Com quem Trump se solidarizou até hoje?”

    Maduro questiona suposta ajuda humanitária: “Com quem Trump se solidarizou até hoje?”

    Publicado originalmente em Brasil de Fato | São Paulo

    O presidente eleito da Venezuela, Nicolás Maduro, fez um pronunciamento público na capital Caracas na tarde deste sábado (23). Durante quase duas horas, o líder chavista questionou a suposta ajuda humanitária imposta pelos Estados Unidos e defendeu a soberania do povo venezuelano. “Com quem [o presidente estadunidense Donald] Trump se solidarizou até hoje? Ele odeia os povos da América Latina e Caribe. Por isso quer construir o muro [na fronteira com o México]”, lembrou.

    :: O que está acontecendo na Venezuela? ::

    Milhares de pessoas acompanharam o discurso do presidente, que aconselhou a população a “abrir os olhos”, já que “a operação dita de ‘ajuda humanitária’ quer meter militares no nosso país, para roubar nossas riquezas.” O mandatário convocou a comunidade internacional a se solidarizar com o país e exigir que “Trump tire as mãos da Venezuela” – baseado nos princípios da Organização das Nações Unidas (ONU).

    Rompimento com a Colômbia

    Ao final do discurso, o presidente eleito anunciou a ruptura de relações diplomáticas e políticas com a Colômbia, estabelecendo um prazo de 24 horas para que embaixadores e cônsules deixem a Venezuela.

    As fronteiras com o país vizinho foram fechadas diante da ameaça de intervenção dos Estados Unidos.

    Brasil e UE

    Maduro afirmou ainda que o governo venezuelano foi procurado pela União Europeia (UNE), que ofereceu medicamentos para o país: “Eles nos procuraram oficialmente. Aceitamos a ajuda e vamos pagar por ela”.

    Da mesma forma, o presidente disse estar disposto a aceitar o arroz, açúcar e leite em pó ofertados pelo Brasil. “Pagamos por todos os alimentos que estão no estado de Roraima”, sustentou, argumentando que os venezuelanos não devem ser “tratados como mendigos”.

    Histórico

    Herdeiro político do ex-presidente Hugo Chávez, Maduro chegou ao poder em meio à comoção pela morte do líder que, além de impulsionar a chamada Revolução Bolivariana, colocou o país petroleiro no mapa geopolítico mundial. A ausência de Chávez, no entanto, fortaleceu a oposição, que não deu trégua ao governo Maduro, primeiro não reconhecendo sua vitória, passando por tentativas de tirá-lo do poder por meio de referendo ou promovendo boicotes e protestos.

    Petróleo

    Com mais de 2,9 bilhões de barris por ano, os EUA são os maiores importadores de petróleo do mundo. Cerca de 500 milhões de barris vêm da Venezuela, cujas reservas são dez vezes maiores que as estadunidenses.

    O país latino-americano é considerado estratégico, do ponto de vista logístico, porque o custo de importação é inferior àquele importado do Golfo Pérsico, por exemplo, com tempo reduzido entre a produção e a entrega.

    Na Venezuela, o Estado controla a produção, a distribuição e o destino da renda do petróleo, e é visto como um impedimento à dominação econômica e política dos EUA no continente.

  • Quatro anos de imprensa popular em Minas Gerais

    Quatro anos de imprensa popular em Minas Gerais

     

    Em maio de 2013, foi lançado em Minas Gerais o jornal Brasil de Fato MG, que, a partir de agosto daquele ano, passou a sair semanalmente, completando agora quatro anos de edições ininterruptas. Em formato tabloide, com a proposta de apresentar à sociedade uma versão popular das notícias do estado, do Brasil e do mundo, são 200 edições e mais de 10 milhões de exemplares distribuídos gratuitamente. O Brasil de Fato MG é um desdobramento de uma experiência exitosa de comunicação – o jornal Brasil de Fato – lançado nacionalmente em 2003.

     

    Com uma tiragem de 160 mil exemplares por mês, o Brasil de Fato MG chega a diversos pontos movimentados de Belo Horizonte, Betim, Contagem, Uberlândia e outras 40 cidades mineiras, tanto pelas mãos de distribuidores oficiais, como pela distribuição voluntária de parceiros, e também por assinaturas, em que o leitor paga somente o custo do envio.

     

    Foto: Brasil de Fato MG

    Joana Tavares, editora do Brasil de Fato MG, conta que o jornal é resultado da unidade entre entidades e movimentos da classe trabalhadora, que apoiam a luta pela democratização da comunicação. “Ainda hoje no nosso país, poucas famílias controlam a mídia, o que faz com que as notícias sejam enviesadas conforme interesses políticos e econômicos. Isso nos coloca o desafio de construir nossas próprias ferramentas de comunicação, com uma visão a partir das necessidades do povo”, afirma.

     

    Diálogo

    As seções do jornal são variadas e envolvem cotidiano, política, entretenimento, cultura e esportes. A estratégia do jornal é construir uma edição que politize a realidade, mas que seja atrativo e chame a atenção do leitor. “Tentamos discutir problemas, e suas soluções, daquelas pessoas que levantam cedo para trabalhar, que dependem de transporte público, que sofrem com os subempregos… Mas também falamos de novela, culinária e cultura, porque essas são questões que fazem parte da nossa vida”, diz Joana.

    Foto: Brasil de Fato MG

     

    Nas ondas do rádio

    Desde abril deste ano, todos os sábados, das 11h ao meio dia, o programa Brasil de Fato vai ao ar na Rádio Autêntica/Favela FM, em Belo Horizonte. A iniciativa pretende ampliar o público que tem acesso ao conteúdo jornalístico produzido pela equipe. “Apesar do pouco tempo que estamos no ar, já percebemos que o nosso público tem gostado do programa. É comum recebermos e-mails e ligações de ouvintes que sugerem e discutem nossa pauta”, destaca Amélia Gomes, coordenadora do rádio.

     

    História

    Brasil de Fato foi lançado em 2003, no Fórum Social Mundial em Porto Alegre. O jornal de caráter nacional era distribuído por meio de assinaturas. Em formato standard, a publicação continha textos analíticos e direcionados a um público formador de opinião. Em 2013, foram criadas edições regionais, em formato tabloide, em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. No ano passado, foram lançadas edições em Pernambuco e no Paraná. Atualmente, o sistema Brasil de Fato de Comunicação abrange os jornais impressos, o site de notícias, a Radioagência Brasil de Fato e o portal Expressão Sergipana.

     

     

    Confira todas as edições impressas:

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    Mais informações

    Página do Facebook: www.facebook.com/brasildefatomg/

    Site Nacional: www.brasildefato.com.br/

  • Lula tomou um “banho de povo”

    Lula tomou um “banho de povo”

    Após 5 mil quilômetros percorridos por mais de 30 cidades dos nove estados nordestinos, a Caravana “Lula pelo Brasil”, que teve início no dia 17 de agosto, chegou ao fim nesta quarta-feira (5), em São Luís do Maranhão.

    Foto: Mídia Ninja

    A Caravana, como foi falado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em diversos momentos, teve como principal objetivo vivenciar o grande desenvolvimento pelo qual a região passou durante os 13 anos de governo do Partido dos Trabalhadores. E, principalmente, entender de que forma o Nordeste vem sofrendo com os desmontes sociais do governo de Michel Temer, exatamente um ano depois do golpe que tirou do poder a presidenta Dilma Rousseff, e aprovou uma série de medidas que restringem o investimento em políticas públicas e flexibilizam os direitos dos trabalhadores, como a PEC 55 e a Reforma Trabalhista.

     

    Entre as principais mudanças na região durante a última década, que a Caravana mostrou, está a interiorização do ensino superior brasileiro, a construção de cisternas para armazenamento de água, e a distribuição de renda e direitos básicos através de programas como o Luz para Todos e o Bolsa Família. Foram 63 campi universitários, 150 novas escolas técnicas e sete novas universidades construídas no Nordeste pelo governo do PT; 1/,2 milhão de cisternas para consumo instaladas em casas do semiárido nordestino, e milhões de pessoas beneficiadas pelos programas sociais.

    O contexto político atual é essencial para entender a importância histórica dessa Caravana, e marcou boa parte dos discursos do ex-presidente, assim como os depoimentos do povo que o recepcionou. Difamado diariamente pela grande imprensa, réu em primeira instância pela Operação Lava Jato, e aguardando uma decisão em segunda instância que pode barrar sua candidatura em 2018 – para uma eleição que já é antecipada como uma das mais polarizadas da história do país – Lula encontrou na Caravana o apoio e reconhecimento das milhares e milhares de pessoas beneficiadas pelo seu projeto de país.

    Apoio esse que, mais uma vez, tentou ser apagado por veículos da mídia empresarial que descaradamente insistiam em fotografar praças esvaziadas horas antes dos atos marcados, ignorando fatos noticiosos como cidades que reuniram um número de pessoas (algumas vindas de regiões próximas) que somavam mais da metade de sua população para assistir às falas do ex-presidente, como Currais Novos (RN), que tem 35 mil habitantes e aglomerou pelo menos 30 mi pessoas.

    Nesse sentido, tivemos a decisão de fazer uma cobertura colaborativa entre três dos maiores veículos da mídia alternativa, assumindo o desafio de construir em conjunto uma narrativa, acompanhando todas as atividades dos 20 dias de Caravana, contando os relatos, lembranças e sonhos daqueles que tiveram suas vidas transformadas, mas são os últimos a serem ouvidos pela mídia hegemônica. Produzimos textos, fotos, vídeos, matérias para rádio, transmissões ao vivo, memes, em quatro comunicadores no dia a dia da Caravana, mas contando com o apoio das equipes das bases e de colaboradores em diversas cidades pelas quais passamos. A nossa cobertura atingiu cerca de 30 milhões de pessoas.

    Assim, acompanhar a jornada de Lula pelo mesmo Sertão que ele deixou há 64 anos, como retirante, foi uma das mais comoventes experiências vivenciadas por cada uma e cada um de nós. De tudo que presenciamos e contamos, algumas cenas foram especialmente marcantes, como a travessia de Lula pelo Rio São Francisco, quando centenas de pessoas aguardavam para recebê-lo no estado de Alagoas, às margens do rio, ao por do sol. Ou também em uma noite, na pequena cidade de Acari (RN), quando fomos surpreendidos por uma multidão deixou a missa, que acontecia naquele momento, para assistir à passagem da Caravana dos degraus de uma igreja.

    Essas paradas não programadas em cidades onde os habitantes espontaneamente se reuniam e se mobilizavam para encontrar com o ex-presidente, foram, talvez, os momentos mais emocionantes da viagem. No trajeto original de cinco horas entre Quixadá (CE) e Juazeiro do Norte (CE), onde foram realizados atos programados, por exemplo, a Caravana parou em oito pequenas cidades do interior, demorando o dobro de tempo para chegar.

    Nesses momentos, Lula descia com o apoio de alguns seguranças e era engolido por uma multidão de pessoas que fazia questão de seguir os ônibus para tocá-lo e agradecê-lo, segurando bandeiras vermelhas improvisadas com paus, lençóis e outros tecidos, em cenas que pareciam histórias de realismo fantástico. Após duas semana de Caravana, as mãos e braços do ex-presidente já estavam bastante arranhadas, sua voz havia praticamente sumido, mas ele continuou com o impressionante esforço de cumprimentar e abraçar as pessoas em cada lugar que o recebia.

    A presença incansável do povo marcou desde a primeira atividade da Caravana, a visita de Lula ao recém-inaugurado metrô de Salvador (BA), até o última fala do ex-presidente em São Luís do Maranhão. Nesse meio tempo, Lula participou de atividades inesquecíveis como a colação de grau dos estudantes brasileiros e africanos da primeira turma do curso de Humanidades da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (Unilab), criada durante seu governo para promover a integração Sul-Sul, e agora ameaçada de cortes de bolsas para seus estudantes. Ou o almoço no acampamento Valdir Marcedo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), em Jandaíra (BA), onde centenas de acampados e assentados se reuniram para recebê-lo. Ou os cinco títulos de Doutor Honoris Causa que o ex-presidente recebeu durante a Caravana, apesar de, como ele disse diversas vezes, não ter tido a oportunidade de ter uma formação universitária.

    Foto: Guilherme Imbassahy

    Outro ponto marcante que notamos foi a presença das mulheres em cada uma dessas manifestações. Mais afetadas pelas políticas públicas de distribuição de renda e reparação histórica dos governos do PT, e consequentemente as maiores vítimas dos desmontes sociais de Temer, elas foram as protagonistas de cada uma das atividades organizadas pela Caravana. Nossa cobertura decidiu contar a história de algumas dessas mulheres, já que elas apareciam como presentes a cada parada da Caravana, com suas histórias comoventes e que traduzem toda a força e peleja de suas vidas.

    Assim, contamos a história da jovem Iva Mayara, que devolveu seu cartão de beneficiária do programa Bolsa Família à Lula em Aracaju (SE), afirmando não precisar mais dele após ter se graduado pelo PROUNI e se tornar cadastradora do próprio programa. Narramos a vida da peixeira Simone Virgínia e da lavadeira Alzira de Souza, moradoras do bairro de Brasília Teimosa, no Recife, desde quando ele sofria com a falta extrema de saneamento básico, antes da visita de Lula ao local, em 2004.

    Também tivemos a honra de conversar com a lendária militante da reforma agrária Elizabeth Teixeira, que aos seus 92 anos não deixou de comparecer ao ato de recepção de Lula em João Pessoa (PB), e com a fundadora do MST no Ceará, dona Maria Lima, hoje com 80 anos. Conversamos também Solange Saldanha, a Sol, que esteve presente em Currais Novos (RN) para agradecer Lula pela possibilidade de ter entrado no curso de letras da Universidade Federal do Rio Grande do Norte aos 35 anos, através do mesmo sistema de cotas raciais que colocou sua filha mais velha – e colega de classe – na mesma universidade.

    Após 20 dias acompanhando Lula pelo Nordeste, voltamos, cada um para seu respectivo estado, com a certeza de que somente por termos estado debaixo do sol com o ex-presidente, durante ao menos 10 horas diárias, pudemos entender a dimensão do desenvolvimento trazido pelo seu governo, e das injustiças que tentam diminuir uma das maiores lideranças políticas da América Latina. É preciso estômago para ignorar e deslegitimar os relatos de pessoas que representam o primeiro diploma de suas famílias, que relatam com propriedade o fim dos saques nas épocas de seca após as políticas de Lula, que agradecem com lágrimas nos olhos pela atenção que lhes garantiu sobrevivência.

    Deixamos o Maranhão sabendo que, independente da linha editorial de cada veículo da nossa cobertura compartilhada, e da opinião política de cada comunicador, tivemos a chance de vivenciar e entender a proporção mais bruta das medidas tomadas em Brasília e da intensificação da luta de classes no país.

    Por esse motivo, voltamos acreditando ainda mais no potencial de uma mídia independente, ativista ou popular, e da importância de oferecer contra-narrativas, com o apoio de um povo que hoje não apenas tem o que comer e onde morar, mas possui a consciência política e os meios tecnológicos necessários para disseminar essas informações. Como disse Lula, em uma entrevista coletiva realizada no terceiro ônibus da Caravana, que durante as três semanas nos abrigou, temos alternativas à mídia hegemônica: “Nós não precisamos deles”.

    A cobertura da caravana “Lula pelo Brasil” foi realizada por meio da parceria entre Brasil de FatoMídia Ninja e Jornalistas Livres.

  • As Minas destruíram Gerais

    As Minas destruíram Gerais

    O relato de quem viu a vida ficar debaixo dos escombros

    Na coletiva de imprensa do governador Fernando Pimentel em Governador Valadares, um pescador da região questionou o fato de que os peixes estão morrendo e não vão ser “repostos”. “Não adianta dar multa só. Tem que voltar com os peixes para o rio. Somos 500 pescadores na associação. Precisamos disso para viver”. O governador, como em todas as outras perguntas, enrolou para responder e disse que precisa rever a lei ambiental do Estado, mas ele mandou um projeto de lei para a Assembleia que facilita a concessão de licença ambiental às mineradoras. Que feio, Pimentel. Um governo que mente para o pescador, para o ribeirinho, para o morador de Mariana e também o de Valadares. Para quem se diz do povo, está longe de ser.

    Foto: Fadia Calandrini

    O pescador do rio Doce não é o único preocupado com sua história e identidade. O seu Nélio Cordeiro, de Bento Rodrigues, chorou ao ver o lugar onde ele morava completamente devastado. “Eu vim para socorrer o outro fazendeiro, mas já tinha acontecido. Ele estava do outro lado, perto da cachoeira, tentando tirar as crianças. É triste demais, gente. Isso está sendo avisado há 20 anos. Isso aqui era uma vegetação nativa, mas com essa tragédia… Nossa Senhora!”

    Seu Nélio ouviu no rádio que a tragédia estava acontecendo. “Eu vim descendo. Vi peixes boiando, cavalo, cachorro, galinha. É triste demais. Triste demais mesmo. Agora acabou. Nosso município acabou. Tudo para quê? Para tirar o minério, para mandar ele para fora e nos dar isso de recompensa. É triste. Acabou o Bento. É horrível! É desastroso!”

    O fazendeiro ainda contou sobre a trajetória heroica dos professores que salvaram 70 crianças do desastre. “Ela (uma professora) foi muito ágil. Saiu da porta da escola com os meninos e subiu para lugares mais altos. Mas a gente não dormiu, a gente passou a noite desatinado. Que as autoridades tomem providências para que essas mineradoras trabalhem com mais segurança. É lastimável ver uma situação dessas, as matas ‘tudo’ (sic) devastada. Virgem Maria… Acabou!”

    O servente Waldeci da Silva Reis, de Santa Rita Durão, distrito de Mariana, também viu a tragédia acontecer. “Eu vi um pessoal tentando sair da lama. Passaram umas ambulâncias, mas estavam muito longe. Não resolveu nada. Aí estavam falando que a polícia estava batendo nos outros ainda. Nunca vi isso, bater em quem veio salvar, mas conseguiram tirar o menino no meio da enxurrada e ‘levar ele’ (sic) para o pronto socorro.”

    Foto: Fadia Calandrini

    Waldeci diz que passou por momentos desesperadores. “O pessoal estava pedindo socorro. A Samarco não tinha ligado a sirene para alertar o povo. É muita mentira. Tem muito tempo que a Samarco fala que está tomando providências para mudar isso e nunca fez nada. Agora já era. Nunca deu apoio para o pessoal. E agora que acontece a tragédia fala que vai tomar providência? Agora é tarde.”

    O servente afirma que foi uma tragédia anunciada. “Há muitos anos todo mundo fala que esse ‘trem’ ia estourar e matar o povo todo. Consegui salvar só um menininho. Ele estava na beira aí conseguimos salvar ele lá”.

    Jefeson Geraldo é vigilante e salvou várias pessoas da enxurrada de lama.“Eram umas 16h20. Ouvi uma explosão e achei que era tubulação que havia estourado. Mas, como o barulho era muito intenso e começou a quebrar muito mato, a gente percebeu que não tinha como ser a tubulação e sim a barragem que tinha estourado. Tentamos avisar o máximo de gente possível com escândalo porque não tinha mais como ir à casa de cada um. Conseguimos pegar o máximo de gente e colocar em caminhonetes para levar para cima, para os morros. Depois voltamos pela beirada, tentando ver se achávamos algumas pessoas e resgatar quem estava pedindo socorro mais próximo da margem.”

    Foto: Fadia Calandrini

    A casa de Jefeson, porém, não foi perdoada pelo desastre causado pela Samarco. “Não sei como ficou minha casa. Eu acho que não vejo ela nunca mais. A última vez que eu vi, ela tinha se desprendido do lugar, andou uns cem metros para cima e depois aí pelo rio abaixo”.

    O vigilante conseguiu salvar alguns familiares. “Graças a Deus eu consegui salvar minha família, alguns amigos e umas pessoas de idade. Mas dois primos meus estão desaparecidos. Ninguém sabe por onde anda, ninguém acha. De 1999 até 2005 havia muito boato sobre a barragem explodir. A gente começou a debater isso com a Samarco e eles falaram que não corria risco nenhum disso acontecer. E aquilo foi indo. Houve um ano, não me lembro ao certo, em que eles falaram que ela ia explodir, corremos todos para o ponto mais alto, mas não explodiu nada. Depois disso, a Samarco foi tranquilizando o pessoal e ninguém ficou muito preocupado porque no dia em que ela ia estourar, não estourou. Aí, ninguém se preocupou mais. E em um sol quente, de uns 35 graus, quatro horas da tarde, vem esse desastre acontecer.”

    Foto: Fadia Calandrini

    Jefeson acredita que faltou empenho por parte dos órgãos ditos competentes. “O governo mandou várias pessoas, mas não fez nada para ajudar a gente. A Samarco, que é uma das maiores responsáveis, junto com a Vale, nem aqui apareceu. Não mandaram socorro, não mandaram nada. Se não fosse a gente mesmo tentado nos ajudar, estava todo mundo morto. E Deus ajudou tanto que isso aconteceu quatro horas da tarde, quando estava todo mundo acordado. Porque se isso acontece onze horas da noite, por exemplo, não tinha ninguém para contar a história. Não dá nem para descrever o que eu sinto. É uma tragédia que levou tudo que era nosso. E não tenho suporte da companhia nem sei como vou recuperar um terço do que eu perdi.

    Maria Januária Nunes, também de Bento Rodrigues, estava na Arena Mariana à procura de quatro pessoas desaparecidas. “Eu deixei meu nome lá dentro; agora estou dando entrevista e quero saber onde eles estão enterrados ou soterrados. Minha casa está toda debaixo da lama, caiu tudo. Agora estou imaginando o inquilino que estava lá.

    Foto: Fadia Calandrini

    Um trabalhador da Vale, que também acha que a culpa é da Samarco, está com receio de sofrer represália. “A gente está indo trabalhar à paisana, já falaram de manifestações, que vão fechar o trilho. Estamos com medo de apanhar na rua. Mas a gente não fez nada. A empresa é culpada, o trabalhador não”.

    Uma senhora, que só se identificou como Luciene, estava na Samarco quando tudo começou. “A gente ouviu e achou que era um tremor de terra e fomos todos evacuados da área. Balançaram as paredes todas, mas falaram que era tremor. Só que daí a pouco chegou notícia de que a barragem tinha estourado e que tinha muita gente soterrada. Agora acabou com nosso distrito. Graças a Deus minha família ao menos está viva, mas eu só tenho a roupa do corpo agora e mais nada.”

    De acordo com relatos de diversos moradores do distrito, a Samarco sabia que a barragem podia se romper e agiu com descaso. A população precisa de respostas imediatas sobre o número real de desaparecidos e mortos.

    Foto: Olívia Porto Pimentel

    O que se vê na mídia tradicional não corresponde à realidade dos fatos. Foram vistos muitos carros do IML perto do distrito, helicópteros descendo e subindo, carros de funerária. E falam em apenas seis mortos? A população foi proibida de ajudar. Uma barricada formada pela polícia do Pimentel com funcionários da Samarco proibia os moradores de ajudar a encontrar os amigos no destruído distrito de Bento Rodrigues. Como disse a jornalista Laura Capriglione, “é o bandido cuidando da cena do crime”.

    *Que fique claro. A Samarco pertence à Vale e à BHP Billiton (maior mineradora do mundo). Ela deve ser responsabilizada e culpada pelo crime ambiental e pelos homicídios que cometeu. A Samarco é a única culpada de todo o desastre e deve pagar por isso.

  • PM prende quatro em protesto contra ‘reorganização escolar’ de Alckmin

    PM prende quatro em protesto contra ‘reorganização escolar’ de Alckmin

    Quatro pessoas foram detidas pela Polícia Militar durante uma manifestação ocorrida na Avenida Paulista na manhã desta sexta-feira (9), em São Paulo (SP). Um professor, dois estudantes e um profissional de imprensa foram encaminhados à delegacia.

    Os manifestantes — estudantes, professores e pais — protestavam contra a proposta de “reorganização” da rede estadual de ensino, anunciada no fim do mês passado pela Secretaria de Educação, do Governo Geraldo Alckmin (PSDB). O ato, o segundo do ano sobre o tema, começou por volta das 8h e fechou as duas vias da Paulista.

    Foto: Mídia NINJA

    Repressão

    A atuação da PM contra a manifestação começou quando um policial abordou um rapaz negro que cobria o rosto, atraindo outros manifestantes que pretendiam impedir que o jovem fosse encaminhado à delegacia. P.N., estudante do ensino médio de uma escola da região central da capital, que acompanhava a manifestação, afirma que, após a abordagem ao rapaz, “a polícia distribuiu cacetadas nos que estavam em volta, e muita gente saiu machucada”.

    Foto: Mídia NINJA
    Foto: Mídia NINJA
    Foto: Mídia NINJA

    P.N., como a maior parte dos presentes, não pertence a nenhum partido e compõe o Grupo Autônomo Secundarista, uma “organização independente”, segundo o estudante. De acordo com seu relato, no momento da abordagem da polícia, o jovem com pano no rosto “não fazia nada”. Um vídeo postado no Facebook, em uma página chama Território Livre, mostra o momento do ocorrido.

    A atuação da Polícia resultou em quatro detidos, entre eles Caio Castor, fotojornalista do Coletivo Comboio. Rafael Vilela, fotojornalista da Mídia Ninja e dos Jornalistas Livres, concorda com a versão de P.N.. “A PM fez de tudo pra tirar eles [jovens com o rosto coberto], mesmo não tendo qualquer tipo de depredação”, afirma.

    Foto: Jardiel Carvalho / Rua Fotocoletivo

    “A sensação que tive é que eles queriam tentar acabar com o ato na base do medo”, afirma Vilela, que ainda disse que as prisões por ele acompanhadas — de Caio e do professor Luiz Carlos, docente da escola Raul Fonseca, localizada no bairro da Saúde — foram “completamente sem razão”.

    O próprio Vilela teve a sua atuação profissional limitada: “Eu tive dois momentos. No primeiro, fui impedido fisicamente de documentar a prisão do professor, com uso de violência, e, na sequência, sofri represália por conta do capitão Santos, que me atacou num momento de calmaria com um cassetete, atingindo a minha [lente fotográfica] objetiva, que foi quebrada”, relata.

    Todos os detidos foram liberados na delegacia.

    Foto: Mídia NINJA

    Proposta

    A Secretaria de Educação anunciou no final de setembro um projeto de “reorganização” da estrutura escolar no estado. A pasta não liberou mais informações, mas, segundo dados obtidos pelo portal G1, mais de 400 escolas devem ser fechadas em todo o estado e mais de um milhão de alunos transferidos de unidade.

    Para o estudante secundarista P.N., “se trata de uma medida meramente técnica e orçamentária, não pedagógica, que prejudica alunos e professores”. “A reorganização é só uma maneira de fazer os filhos da classe trabalhadora pagarem pela crise”.

    Foto: Mídia NINJA

    Na opinião de Leonardo da Vincci, 19, aluno de EJA na escola Clara Montério, no bairro do Belém, região leste da capital, a medida afeta toda a “comunidade escolar”. Da Vincci é um dos criadores da página de Facebook “Não Fechem a Minha Escola”, que reúne relatos e manifestações de todo o estado.

    “Alckmin afirma que vai reduzir a lotação das salas, gostaria de entender como isso é possível fechando escolas e cortando períodos”, questiona da Vincci. Segundo ele, cerca de 50 escolas na capital estão mobilizadas.

    Carolina Ariar, professora de línguas e mãe de uma estudante do 9º ano na escola Américo Brasiliense, em Santo André, se mobilizou junto à filha contra as mudanças. “A reorganização das escolas em São Paulo nunca considerou os interesses dos estudantes”, afirma.

    Foto: Mídia NINJA

    Ariar ressalta a ausência de diálogo com os estudantes, “as propostas de mudanças devem vir dos e das estudantes, que passam seis horas diárias trancados em estabelecimentos precários. Ao sair das escolas, não há qualquer perspectiva para o futuro”.

    Um novo ato está previsto para o dia 15 de outubro, em frente ao Palácio dos Bandeirantes. No dia 20, batizado de Dia-E, mobilizações locais ocorrerão por todo o estado.

    Resposta

    A Secretaria Estadual de Educação informou à reportagem do Brasil de Fatoque ainda não há nenhuma confirmação de fechamento de escolas. A secretaria anunciou que estuda um remanejamento para as unidades escolar atenderem somente a um dos ciclos de ensino e que os pais dos alunos que passarem por esse remanejamento serão informados até novembro.

    A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública questionando os métodos e as razões da atuação da PM, mas não obteve resposta.

    Foto: Mídia NINJA