ATUALIZAÇÃO SOBRE PRISÕES NO ATO DO PASSE LIVRE SP, na noite desta quinta (24) em SP
Dos 4 detidos no final do ato, 2 meninos foram liberados ainda durante a noite, início da madrugada.
Duas ativistas do movimentos foram detidas quando voltavam para casa e estão sendo acusadas de dano ao patrimônio, por isso, vão para audiência de custódia logo mais, às 10h, no Fórum Criminal da Barra Funda. Segundo o movimento passe livre, o delegado que acolheu a situação informou que mandou o caso para audiência de custódia para que as duas moças, que são estudantes, provem que são “cidadãs de bem”. Os Jornalistas Livres acompanharão todas as informações no local. Populares presentes no momento da abordagem disseram que as meninas nada fizeram, apenas estava se manifestando e que a versão dos policiais, que também são as testemunhas do caso, não condiz com a verdade.
A foto é do momento da prisão de uma das ativistas, a que entrevistamos. Segundo testemunhas, não houve nenhuma resistência, mesmo assim, pelo menos 4 policiais rendiam a garota com bastante truculência no momento da prisão.
Informações atualizadas 12h04
Veja a entrevista realizada ontem, com uma ativista do Movimento Passe Livre, após apreensão de catraca simbólica, antes da ocorrência. Entenda
Por Emilio Rodrigues, Kátia Passos e Lucas Martins
Em liminar provisória a juíza Carolina Martins Clemencio Duprat Cardoso, 11ª Vara de Fazenda Pública, decidiu acatar a ação da Defensoria Pública contra a prefeitura de São Paulo e suspender o aumento de R$ 0,30 da tarifa básica de ônibus e R$ 0,52 da integração. A Prefeitura anunciou o aumento no começo deste ano: as tarifa passaram de R$4,00 para R$4,30.
De acordo com a decisão o aumento deve ser revisto pelas seguintes justificativas
“1) em razão da falta de parâmetro legal ou contratual para o reajuste; 2) porque aplicado índice muito superior à inflação; 3) ante a ausência de abertura de processo licitatório do serviço de transporte público, constatando-se que as empresas que operam o serviço foram contratadas emergencialmente, por prazo determinado, e assim incabível o reajuste ante a excepcionalidade da situação e sua natureza jurídica.”
O reajuste, já estava valendo desde janeiro e mesmo assim, deu força ao Movimento Passe Livre contesta-lo em manifestações de rua em SP.
A juíza ainda determina que “que todo novo processo de revisão tarifária de transporte realizado após a propositura da presente ação tenha participação popular e ampla divulgação prévia” e “seja implementado somente após a conclusão do processo de licitação para a concessão do serviço de transporte público coletivo”.
A decisão dá para a Prefeitura 30 dias para contestar a decisão. A Prefeitura afirma ainda não ter sido notificada sobre a liminar e que não se pronunciará até que seja.
MPL
Gabriela Dantas, militante do movimento, afirma que, não visão do movimento, a Defensoria “fez o seu papel, defender a população contra os abusos do próprio Estado. Esse aumento, claramente, era um abuso muito grande, sendo mais do que o dobro da inflação. A prefeitura em nenhum momento justificou isso de nenhuma forma. Do nosso ponto de vista nenhum aumento é justificável, mas esse foi um abuso muito além da conta, que inclusive deu margem para judicializar a questão”.
O movimento, que tem em sua história o apelo das Jornadas de Junho de 2013, só viu crescer a repressão em torno de quaisquer de suas ações. Desde 2013, quando chegou a ser conhecido mundialmente, o movimento se mobiliza de forma semelhante. Seja com grandes atos na região central da cidade ou atos menores em pontos mais periféricos que focam em pontos de apoio para a rede do transporte da região metropolitana.
E independente da forma que escolha para pressionar a luta contra as tarifas, a Secretaria de Segurança Pública tem colocado nos atos um efetivo cada vez maior de policiais militares, civis, metropolitanos e de outras instâncias de operações especiais. A desproporcionalidade em relação ao número de manifestantes é sempre um ponto de atenção.
Foi a própria violência policial que fez explodir 2013. Naquele fatídico 13 de junho, a repressão brutal da Polícia Militar do Estado de São Paulo foi o fogo de palha que acendeu as jornadas.
Neste início de 2019, a sequência de cinco atos que buscaram contestar o reajuste, extrapolaram essa pauta e questionaram o funcionamento da rede pública de transporte e sua comercialização. Após o quinto ato o movimento decidiu encerrar a “temporada”, mas afirma que “seguimos fortalecidos para travar as lutas contra os cortes de linha previstos na licitação dos ônibus municipais, construindo a luta por um transporte público de verdade também nos bairros!”.
Outro ponto marcante das mobilizações foi o decreto do Governador João Doria que foi entendido pelo movimento como uma “limitação ao direito de manifestação”. Ao regularizar uma lei proposta na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, o texto aprovado exigiu um aviso prévio de cinco dias para manifestações, proíbe máscaras, bandeiras e hastes.
ACIMA DA INFLAÇÃO
O reajuste criticado pelo movimento e suspenso pela justiça tem um valor “muito superior à inflação”, sendo esse ponto levantado por ambos os atores.
Em um levantamento realizado pelo Jornalistas Livres é possível identificar a série histórica dos aumentos.
Levantamento dos aumentos, fonte: SPTrans.
De 2019 frente a 2018, significa 15 centavos a mais por viagem. Um passageiro que faça 40 viagens por mês (20 para ir ao trabalho e mais 20 para voltar para casa). Este custo anual chega a R$ 72 reais por pessoa. Corrigindo os valores pelo IPCA de 2003 até aqui a tarifa cresceu em valores corrigidos pela inflação 38 centavos e, por ano, chega a quantia de 181 reais a mais por ano.
A conclusão do Movimento Passe Livre é que os trabalhadores estão transferindo sua renda e seu suor para fazer a felicidade dos empresários. A revogação, mesmo que temporária, indica que o MPL é um ator muito mais contundente do que a violência policial aplicada nas ruas, pelo Governo de Doria, quando o assunto é fomentar um debate qualitativo sobre um transporte público e de qualidade. Afinal de contas, se a ação do grupo na organização dessas mobilizações não tivesse importância, atores do mundo institucional e do Judiciário não dariam a menor importância para isso. Aí está a prova.
Cerca de 90% de aumento nas tarifas de metrô das cidades de Belo Horizonte, Maceió, Natal, João Pessoa e Recife provocam indignação e protestos pela suspensão do aumento do bilhete nacionalmente. O governo federal decretou o reajuste através da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), empresa responsável pelo transporte metroviário nas 5 capitais. A ação levou centenas de passageiros às ruas em Belo Horizonte e Recife para reivindicar transporte acessível e a preço justo e sem aumento em âmbito nacional. O preço segue mais alto e causa repúdio.
No Recife, a passagem foi de R$ 1,60 a R$ 3,00. Belo Horizonte, de R$ 1,80 a R$ 3,40. E em João Pessoa, Maceió e Natal, o dobro: de R$ 0,50 a R$ 1,00. Ao mesmo tempo, cidadãos reclamam de infraestrutura ruim, falta de acessibilidade e mau funcionamento do transporte nas diferentes áreas do país. Ainda, em março deste ano, a CBTU arriscou a tentativa de apenas funcionamento das linhas de metrô nos horários de pico dos dias úteis. O economista do Tarifa Zero de Belo Horizonte, André Veloso, comentou que “esse aumento é ilegal, temos que levar esses trâmites a nível nacional”, reforçando: “vamos fazer atos e continuar na rua até garantir que a tarifa vá continuar 1,80”.
Fotos por Isis Medeiros, dos Jornalistas Livres
Especificamente na capital mineira, onde a tarifa estava congelada há 12 anos, o repúdio da população contribuiu para que o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) suspendesse por meio de uma liminar o maior reajuste já feito, horas depois dele ter entrado em vigor. No entanto, essa decisão possui caráter provisório e é limitada apenas a Belo Horizonte. Ainda, a suspensão só ocorrerá depois que a CBTU for notificada. A mesma declarou não ter sido, continuando a vender os bilhetes a R$ 3, 40.
A decisão cabe recurso, com isso, o preço da passagem ainda não está definido para as próximas semanas. A liminar também não fornece informação sobre reembolso dos passageiros que pagaram R$ 3,40 pela viagem metropolitana, mas determina à CBTU multa de 250 mil por dia em caso de descumprimento.
A Companhia argumenta que, em Belo Horizonte, o bilhete do metrô não sofreu alterações em 12 anos, o que causa dificuldades com as despesas e receitas. A capital tem apenas 19 estações de metrô rodoviário e, de acordo com a CBTU, transporta cerca de 60 milhões de pessoas por ano, o equivalente a quase 11% do total de cidadãos que utilizam do transporte público da cidade.
Segundo a ação popular contra o reajuste, proposta pelo deputado Fábio Ramalho (MDB), a “legislação de regência não autoriza o somatório de inflações reprimidas e o consequente repasse ao consumidor”. Portanto, o aumento é ilegal. A decisão é do juiz Mauro Pena Rocha, da 4ª Vara da Fazenda Pública e Autarquias da Comarca de Belo Horizonte. Também foi reclamado o fato do reajuste ter ocorrido apenas quatro dias após a decisão.
Com relação à CBTU não ter seguido a ordem e continuar vendendo o bilhete à 3,40, e não 1,80, a reportagem tentou contato com o Tribunal e espera resposta.
Política de segregação urbana
“74% da população usuária do metrô de Belo Horizonte ganha no máximo dois salários mínimos, sendo que 50% ganha até 1 salário mínimo.” explica André Veloso, economista e integrante do movimento Tarifa Zero. Os números foram feitos baseados em dados da Pesquisa Origem e Destino de 2012. O estudo feito a cada 10 anos fornece um retrato do transporte na Região Metropolitana de Belo Horizonte. “Um aumento de 1,60 por viagem, 3,20 de ida e volta. Isso representa um aumento de R$160,00 no fim do mês. Poucos conseguem arcar com esse orçamento” acrescenta André.
“O governo Michel Temer está fazendo uma segregação socioespacial e o fim de uma política de redistribuição de renda sobrevivente dos governos petistas”.
Enquanto a tarifa de ônibus sobe de acordo com a inflação, a do metrô está congelada há 12 anos em Belo Horizonte. Isto fez com que mais e mais usuários trocassem os ônibus pelos trens urbanos. Segundo a pesquisa, o uso do ônibus diminuiu em 17% enquanto o uso de metrô aumentou 169% entre 2002 e 2012. Essa transição foi ainda mais expressiva para a população de baixa renda: com diminuição de 19% no uso de ônibus e aumento de 435% no uso de metrô.
“A CBTU (empresa federal que administra o metrô de BH) quer acabar com essa política que beneficia centenas de milhares de pessoas de baixa renda na cidade, alegando que o preço do metrô não pode ser tão barato.” afirmou o movimento Tarifa Zero, por meio de nota. “No entanto, o subsídio ao transporte público é um direito da população, previsto na Constituição, no Plano Nacional de Mobilidade Urbana e no Estatuto da Cidade.”
Fotos por Isis Medeiros, dos Jornalistas Livres
O ato contra o aumento em Minas Gerais
Manifestantes realizaram um ato unificado a partir das 17 horas da tarde de ontem (11) na Praça Sete de Setembro até a Praça da Estação, ambas no centro da cidade. Compareceram centenas de estudantes, professores, trabalhadores e passageiros indignados com o aumento da tarifa. Eles trouxerem cartazes e faixas que indicavam que “3,40 é roubo”, além de terem organizado falas públicas de liderança.
Apesar do movimento ser pacífico e desacompanhado de qualquer ato de violência, a Polícia Militar não mediu esforços para contê-la. Para um ato de poucas centenas, composto sobretudo por jovens, ela foi recebida por um contingente totalmente desproporcional de soldados e guardas: pelo menos várias dezenas de PMs e 20 viaturas estavam posicionados na Praça da Estação, destino final do ato. A maioria da Tropa de Choque. Por outro lado, um grupo mínimo, comparado a força repressora, foi usado para reorganizar o trânsito e garantir a segurança dos manifestantes.
Está claro qual é a prioridade do Estado mineiro nesse debate.
Quando era candidato, em ao menos duas oportunidades, o prefeito de São Paulo pelo PSDB, João Doria Jr, se comprometeu a não aumentar a tarifa de ônibus no mandato dele, caso fosse eleito. A última delas foi em 20 de setembro de 2016, durante uma visita a um hospital na Zona Leste de São Paulo. Na ocasião, Doria disse:
Aqui vc vê a reportagem do G1, que flagrou o prefeito na mentira:
Esta segunda-feira, 8/1, constitui-se no primeiro dia útil de vigência das novas tarifas do transporte público de São Paulo. Os ônibus tiveram a passagem unitária majorada de R$ 3,80 para 4. Veja os demais aumentos:
O Movimento Passe Livre (MPL) marcou para o dia 11 de janeiro, a próxima quinta-feira, protesto contra o aumento das tarifas de ônibus em São Paulo.
O evento está marcado para começar às 17h, na porta do Teatro Municipal, que fica na Praça Ramos de Azevedo, centro de São Paulo. Foi criado um evento de convocação no Facebook. Leia um trecho aqui:
4.00 REAIS! CONTRA O AUMENTO: DESOBEDIÊNCIA!!!
Querem nos fazer pagar ainda mais caro pelo que nem deveríamos pagar e NÃO É POSSÍVEL ACEITAR PACIFICAMENTE A EXISTÊNCIA DE UM OUTRO AUMENTO!
Por uma vida sem catracas!!!
Se ontem o prefeito empresário e seu padrinho governador anunciaram mais um aumento no transporte, hoje já avisamos que vamos travar resistência a tarifa! Dória e Alckmin esperavam um início de ano tranquilo? Vai ter luta na cidade!
Diego Soares e Gabriel Silva, durante entrevista aos Jornalistas Livres
Diego Soares, 28 anos, e Gabriel Silva, 25 anos, ambos militantes do Movimento Passe Livre, o MPL, conversaram com os Jornalistas Livres sobre suas táticas de mobilização contra o novo aumento. O MPL, pra quem chegou agora de Marte, é aquele movimento que realizou as maiores mobilizações contra o aumento das tarifas em 2013, forçando os governos de várias cidades e estados a congelar os preços das passagens.
Gabriel e Diego são trabalhadores. Um é garçom e o outro é bancário. Em meio à vida cotidiana corrida, eles lutam para tornar realidade os sonhos de Direito à Cidade e Justiça Social. Com o MPL, eles querem fomentar o debate contra os aumentos das tarifas de transporte púbico que só prejudicam os mais pobres, aqueles mais excluídos e que pagam mais impostos.
Conheça aqui um pouco sobre o que pensam esses guerreiros pela mobilidade urbana. Leia a entrevista.
O que é o Movimento Passe Livre em 2018?
Diego: O Estado Democrático de Direito é um avanço, poder se organizar em um partido é um avanço, mas não é por esse tipo de sociedade que lutamos, apesar de reconhecermos essas vias. Gabriel: Em SP, não temos no momento, militantes de partido, mas fazemos ações conjuntas, com pessoas que às vezes estão ligadas a partidos. Em outros Estados há mais proximidade com partidos. Então, o MPL está na luta por transporte e tem a Tarifa Zero como pauta máxima. Somos um movimento autônomo, horizontal, anticapitalista, mas não antipartido. Somos apartidários.
Diego: Sobre número de participantes, por exemplo, o MST está concentrado numa fazenda, espaço específico. Já o movimento social de transporte tem uma dinâmica diferente, temos militantes em POA, Osasco, regiões completamente opostas, então fica difícil quantificar. Mas, vemos que pelo menos em SP, a maioria das pessoas que participam hoje são mulheres.
Sobre movimento estudantil secundarista, qual é a relação de vocês? Qual é a identificação de vocês?
Gabriel: Temos conexões com lutas autônomas. Estamos atentos, por exemplo, à Cracolândia. Mas a nossa luta especialmente orgânica é com os estudantes secundaristas. A conquista do Passe Livre Estudantil em 2015 é um resultado das ocupações escolares. A vitalidade das lutas de 2017 contra os cortes que Doria fez no Passe Livre vem dos estudantes. Se formos falar da base mais afetada com aumento do valor de tarifa, teremos: estudantes, desempregados e trabalhadores precarizados. Desse universo de luta, os estudantes estiveram à frente, são organizados historicamente pois conquistaram passe estudantil em “revoltas”, como foi o caso do Rio de Janeiro, Santa Catarina, todas organizadas por estudantes secundaristas.
Tivemos o golpe e muita coisa mudou depois de 2015 e 2016. Agora vivemos um cenário pré-eleitoral. Como o MPL pode atuar no diálogo com o povo sobre a Tarifa Zero, se ela depende de uma vontade política de candidatos que se eleitos ocuparão os cargos majoritários em 2018?
Gabriel: 2018 está dado como um ano de ataques, ano difícil. Entendemos que a primeira grande luta do ano é essa contra o aumento das tarifas. Logo depois, em fevereiro, pode ser que entre em votação a Reforma da Previdência. O primeiro grande ataque aos mais pobres é o aumento da tarifa. A resistência a esse ataque vai determinar a força com que eles virão os ataques futuros. Se no início de fevereiro ainda tivermos uma luta vigorosa e nacional contra o aumento, teremos um cenário explosivo. Imagine uma greve geral no meio de uma jornada contra o aumento. Lembrando que junho de 2013 foi um momento onde duas lutas se encontraram: contra a Copa, em especial a das confederações, no RJ e BH, e a do aumento. O cenário desse ano pode ser parecido, se colocada em votação a Reforma da Previdência. Mas acredito que há um receio da elite de colocá-la em votação, temendo um cenário caótico como esse de 2013.
Diego: A luta contra as tarifas de transporte funcionará como uma espécie de termômetro. Se acontecer uma revolta, isso pode reverberar para que o povo vá às ruas contra outros ataques. Isso certamente influenciará também na intensidade da repressão policial aos atos e dos ataques por parte da elite.
Então a responsabilidade de vocês é grande?
Diego: Nossa não! (risos) Acho que da população inteira. Antes do MPL, há 100 anos, o povo virava bonde e não era estudante, era trabalhador. Agora falam de MPL por causa de junho de 2013. Mas as revoltas contra os aumentos de tarifa são centenárias.
Qual é a diferença de estratégia da jornada de 2013 e 2018?
Diego: Cada ano de aumento teve uma estratégia diferente. Historicamente, grandes mobilizações no Brasil são muito esporádicas. Por exemplo, antes de junho de 2013, tivemos o Fora Collor, manipulado pela mídia; antes, as Diretas Já, então, diferente do que diz a grande mídia, nunca tivemos a pretensão de fazer outro Junho de 2013, pois sabemos que é muito difícil que aquela jornada se repita.
Gabriel: Em 2016 tentamos algo mais próximo de 2013, pois ainda aconteciam as ocupações nas escolas e era uma luta explosiva, autonôma e vitoriosa. Tinha o vigor secundarista. Embora o aparato da repressão tenha sido muito grande.
Falando mais sobre repressão policial em SP. O ano é estratégico, de eleição. Mas vocês têm a possibilidade de crescer muito nas ruas, pois o povo espera reações fortes de partidos que se declaram como “de esquerda” e provavelmente esses posicionamentos não acontecerão. Então, caberá a vocês jovens do MPL “executarem esta tarefa”. Crescendo nas ruas, cresce o número de policiais. Como vocês agirão?
Gabriel: Sempre temos a presença de muitos policiais nos atos. Achamos que dessa vez não será diferente. Convidamos vocês a denunciar a repressão que nos cerca. Não vamos arregar por isso. Mas temos um certo otimismo. Alckmin e Doria estão desgastados em suas gestões. Doria cortou diversos direitos sociais e só não é mais impopular pois possui fortes investimentos em marketing e Alckmin está completamente envolvido em escândalos da cartelização de transportes com citação na Lava Jato. Então, acho que “explodir” [reprimir fortemente] os atos já na concentração é algo que eles não estão com moral de fazer nesse momento. Há grande probabilidade de isso despertar a opinião popular e fomentar os atos,o que pode ser perigoso para ambos. Temos completa consciência sobre a grande possibilidade de repressão, o que espanta o povo das ruas. Mas o medo dos governantes sobre a força da revolta popular é maior.
Soubemos que o aumento vai ser anunciado por Milton Leite, vereador e presidente da Câmara Municipal de SP. Mas o aumento não teria que ser anunciado pelo prefeito?
Gabriel: Doria vai estar viajando, não trabalha e nunca precisou, tampouco sabe o que é fazer isso. Milton Leite é um político altamente ligado aos empresários de transporte. Falo isso para dizer que podemos fazer uma comparação sobre o que está acontecendo no Rio de Janeiro, onde há provas que os aumentos das tarifas foram motivados por propina e caixa 2 de empresários do transporte, ex-governadores, deputados e vereadores. Esses caras foram inclusive presos com essas acusações. Por conta disso, dois aumentos foram derrubados no RJ e em SP nós não temos dúvida que há uma situação semelhante.
Como deve ser financiado o congelamento das tarifas? Vocês defendem a expropriação dos donos das empresas de transporte?
Diego: Para congelar a tarifa bastaria uma auditoria. Além de congelar, teríamos acesso ao valor real. A maior margem de lucro do país se dá em SP, muito acima do mercado.
Fala-se que o metrô tem chance de ser privatizado nos próximos meses… como os trabalhadores do metrô podem ajudar na mobilização atual contra o aumento das tarifas?
Diego: Vemos a categoria dos metroviários como uma das mais combatentes de SP. Eles são parceiros na luta contra a privatização.
Gabriel: Importante o sindicato avançar no debate sobre a tarifa zero. Mas há dificuldades sobretudo por causa da pressão de Alckmin contra o direito de greve. Na última demonstração de luta combativa da categoria, a tarifa zero foi colocada em prática, com a liberação de catracas. Mas dezenas de metroviários foram demitidos no pós-greve.
Lutar contra Haddad é mais fácil do que contra Doria?
Gabriel: (Risos) Entendemos que Haddad faz parte do campo progressista. Mas achamos que ainda há ressentimentos da esquerda em relação as nossas lutas passadas, embora estejamos vendo que as coisas estão mudando e que essa mesma esquerda parece que quer correr ao nosso lado. Não sentimos mais aquelas acusações: “Vocês são golpistas”, “Estão plantados na Direita”. Hoje até falam, mas falam batendo no Doria junto. (risos) Em 2013, Haddad, por ser do campo progressista, tinha que mostrar que estava minimamente negociando. Já Doria tenta agradar seu publico conservador.
Doria declarou para a imprensa tradicional que o “aumento é suportável”. E aí?
Diego: Essa é a visão de um rico que não conhece a cidade, não sabe o que é ser pobre, nunca pegou ônibus e não tem noção do que é o transporte público.
Gabriel: Esse aumento é maior que o do salário mínimo e isso resulta em diminuição da renda dos mais pobres. No contexto geral dos cortes de Doria, as pessoas estão voltando a passar fome na periferia. Isso mostra um conceito.
Diego: Para quem acha que Tatuapé* é periferia, o aumento é realmente suportável.
*Diego fez uma piada com uma frase dita por Doria Jr, que em visita de vistoria ao Hospital de Tatuapé disse: “ver a realidade como ela funciona, sobretudo na região periférica da cidade, com é o caso desse hospital no Tatuapé”. O prefeito fez uma análise baseada na região em que o bairro fica, na zona leste, a mais populosa de SP e com grandes desigualdades sociais em relação ao restante da cidade. Só que Doria se esqueceu que o bairro do Tatuapé constitui-se hoje em centro de empreendimentos de alto padrão. É uma realidade bem diferente daquela que se observa no fundão da ZL, a mais afetada pela a miséria e o desemprego.
Todo ano a história é a mesma: Prefeitos e Governadores justificam o aumento da tarifa alegando a suposta necessidade de fazer o reajuste para manter o equilíbrio do Sistema.
Equilíbrio para quem?
Para quem passa 4 horas diárias em ônibus e trens lotados, para quem gasta um terço da renda familiar com o preço das passagens, para quem deixa de comprar alimento, remédio, de pagar o aluguel para poder pagar a tarifa do transporte, para os mais de 30 milhões de brasileiros que não tem acesso ao transporte por não ter como pagar é que não é!
Todo mundo sabe o que significa um aumento! E, por isso, não vamos deixar barato!
Querem nos fazer pagar ainda mais caro pelo que nem deveríamos pagar e NÃO É POSSÍVEL ACEITAR PACIFICAMENTE A EXISTÊNCIA DE UM OUTRO AUMENTO!
Por uma vida sem catracas!!!
Se ontem o prefeito empresário e seu padrinho governador anunciaram mais um aumento no transporte, hoje já avisamos que vamos travar a resistência contra a tarifa! Doria e Alckmin esperavam um início de ano tranquilo?
Vai ter luta na cidade!
Na mais pura amizade, João Doria e Geraldo Alckmin novamente deram as mãozinhas e anunciaram MAIS um aumento! Dessa vez, de vinte centavos na nossa já absurda passagem para o começo do próximo ano e ainda junto com o corte de muitas linhas que usamos todos os dias. Movimentar-se pela cidade, algo pelo qual não deveríamos ter que pagar, agora vai custar R$ 4,00 – QUATRO REAIS – e pra quem pega metrô e ônibus, vai para R$ 6,00. Nas linhas da EMTU, mais ainda!!!
No começo desse ano, Dória MENTIU (Dória sempre mente) ao dizer que congelou o preço da tarifa.
Não só, junto de Alckmin, aumentou o valor da integração em quase 1 real e reduziu as cotas do passe estudantil dos estudantes, como também aumentou os bilhetes temporais e mudou a ordem de cobrança para beneficiar ainda mais o bolso dos seus amigos empresários. A licitação do serviço municipal de transporte nem ao menos teve abertura pra ser discutida com a população! Mas temos a nossa proposta: Não queremos um transporte excludente, queremos tarifa zero pra geral!
AUMENTO NÃO!
Enquanto o governador e o prefeito se importam somente com o lucro dos seus amigos empresários, a cada vez que a tarifa sobe, aumenta o número de pessoas excluídas do transporte coletivo. Entre nós e a cidade (que nós mesmos fazemos funcionar!) existe uma catraca que cobra cada vez mais caro. É que para os de cima, ninguém tem que sair da periferia se não for para trabalhar ou – se tiver dinheiro – para consumir.
Por Oscar Neto, especial para os Jornalistas Livres
Foto: Lucas Martins
“O maior astral”. Assim começou o primeiro ato do ano contra o aumento das passagens de ônibus, metrô e trem em São Paulo. Alguns milhares de pessoas partiram da frente do Theatro Municipal pelas ruas do centro com bandeiras, faixas, baterias e muita disposição para questionar mais um revés para a população, já cansada – e infelizmente acostumada – com tantos reajustes.
E eles foram. Desceram a rua Conselheiro Crispiniano, contornaram o Largo do Paissandu, desceram o início da avenida São João e, finalmente alcançaram o Vale do Anhangabaú. Palco de tantas manifestações populares históricas, a grande calçada do Vale já estava tomada pelo povo.
Segundo o MPL (Movimento Passe Livre), que convocou a passeata, 30 mil pessoas. Segundo a PM (Polícia Militar), cerca de três mil. Na opinião de outros manifestantes ali presentes, não mais do que dez mil.
Foto: Alex Terto
Além do MPL, estavam presentes movimentos populares, algumas frentes de partidos políticos, organizações feministas, estudantes universitários e secundaristas, associações de trabalhadores.
A paz era plena. O Gapp (Grupo de Apoio ao Protesto Popular), que desde 2013 presta primeiros socorros a manifestantes feridos, estava presente. Mas a única ocorrência até aquele momento foi a de um morador de rua com um profundo corte no pé por um motivo que nada tinha a ver com as pessoas que ali se manifestavam.
Foto: Ligia Roca
Com cerca de meia hora de passeata, a linha de frente começava a entrar na avenida 23 de maio, sentido à zona sul, que estava bloqueada ao trânsito dos veículos para que o ato pudesse passar. Neste momento, tudo mudou. O objetivo do movimento era “trancar” a 23, tática conhecida como “trancaço”, amplamente usada pelos estudantes das escolas ocupadas. Parte das pessoas entrou na pista sentido zona norte, em meio aos carros, e imediatamente a pancadaria começou.
A violência policial veio com tudo. Dezenas de bombas de gás lacrimogêneo foram lançadas, primeiramente contra um grupo mais animado de manifestantes e, em seguida, a esmo, para cima, para os lados, na imprensa, em quem passasse na rua. Muita gente passou mal, vomitando.
A polícia atuou em frentes para dispersar qualquer possibilidade de reorganização do protesto. Muitas pedras eram arremessadas contra os oficiais. Na verdade, a confusão era tanta que jornalistas e fotógrafos precisaram se esconder para não serem atingidos pelos objetos lançados.
Foto: Sato do Brasil
No meio do campo de guerra, um grupo de PMs ficou “esquecido” na avenida, exatamente abaixo do acesso que conecta o Terminal Bandeira ao metrô Anhangabaú. Acuados, eles foram apedrejados por transeuntes comuns, que não participavam da passeata, mas não escondiam a raiva anti-PM. Muitas pedras foram lançadas contra o pelotão, que só se protegeu. Um policial saiu com o rosto sangrando.
Foto: Oscar Neto
A resposta foi, como sempre, totalmente desequilibrada. A tropa de choque disparou mais bombas para o alto e algumas delas tinham como alvo o acesso ao Terminal. Centenas de pessoas que nada tinham a ver com a guerra sofreram com a cegueira e com os efeitos sufocantes e nauseantes do gás lacrimogêneo. Também era possível escutar o som dos tiros das perigosas balas de borracha.
Foto: Sato do Brasil
A partir daí, outros pontos de ataque policial ocorreram em locais diferentes do centro, chegando inclusive à avenida paulista. Algumas agências bancárias foram depredadas e muito lixo foi incendiado e jogado ao meio da rua.
Rescaldo
No rescaldo da noite de guerra, a cidade cheirava a pólvora, as pessoas estavam apavoradas, havia muita reclamação dos transeuntes quanto à ação policial desmedida. Sonoras vaias e xingamentos eram escutados a cada vez que uma viatura passava.
A SSP (Secretaria de Segurança Pública) divulgou que 17 pessoas foram presas “por práticas criminosas” que incluíam o porte de explosivos. Eles foram encaminhados para o 2º e 78º distrito policial. No entanto, os Jornalistas Livres gravaram com exclusividade o momento em que policiais colocam supostos artefatos explosivos dentro da mochila de um manifestante detido perto da Praça Roosevelt.
Amanhã vai ser maior
Assim como tem sido de costume, o começo do ano promete ser mais violento nos próximos dias. Para quem pretende comparecer aos protestos que deverão ser convocados nos próximos dias (já se fala no dia 12), recomenda-se todo cuidado. Depois que a primeira bomba é disparada, não importa quem você é e o que está fazendo ali. Você também se torna um alvo.