Jornalistas Livres

Tag: antifascismo

  • Racistas, fascistas, não passarão!

    Racistas, fascistas, não passarão!

    Em um lado da Esplanada dos Ministérios, um ato em defesa da democracia, contra o racismo e o fascismo. No outro, a marcha do ódio e antidemocrática dos bolsonaristas defendendo o mesmo de sempre: fechamento do STF, intervenção militar, morte aos comunistas, maconheiros e outros absurdos.

    Houve muita provocação verbal dos dois lados, mas apenas os bolsonaristas tentaram criar um embate físico, ao cruzarem a barreira policial no gramado central, para correr entre os manifestantes antifa. A polícia? Parecia mais preocupada em intimidar aqueles que defendem a democracia. Mas a resposta dos que lutam contra o racismo e o fascismo foi linda: muito grito de luta, um ato cheio de emoção e sem violência, como era esperado.

    Confira a galeria de imagens da cobertura dos Jornalistas Lives em Brasília

    Galeria 1- Fotos: Leonardo Milano / Jornalistas Livres

     

    Galeria 2- Fotos: Matheus Alves

  • #JusticeForFloyd em Portugal: atos antirracistas tomaram conta do país neste último sábado.

    #JusticeForFloyd em Portugal: atos antirracistas tomaram conta do país neste último sábado.

    por Isabela Moura e Luiza Abi Saab, Jornalistas Livres em Portugal

     

     

    Os atos antirracistas #JusticeForFloyd tomaram conta de Portugal neste último sábado, 06 de junho de 2020. As principais cidades de Portugal foram ocupadas por milhares de manifestantes em atos antirracistas que pediam justiça para George Floyd. Os atos aconteceram principalmente nas cidades de Lisboa, Coimbra, Porto e Braga.

     

    Em LISBOA, a manifestação  levou milhares de pessoas em marcha até à Praça do Comércio – importante espaço de reivindicação política da capital portuguesa. O encontro em Lisboa foi articulado entre diversas organizações, estavam previstos três atos em dias diferentes, mas as iniciativas foram unificadas em apenas um ato.

    O contexto português e a questão da colonização foram abordagens presentes nos cartazes e nas vozes que se fizeram ouvir. José Falcão, da SOS Racismo, afirma que é necessário mudar o currículo escolar para que se possa saber de fato o que foi o passado português. “A história deste país é só a história do colonialismo, não é das vítimas do colonialismo, não é das pessoas que lá estavam a quem não pedimos autorização par ir. Onde ficamos durante 500 anos a escravizar as pessoas e essa história nunca é contada”, justifica o integrante de umas das associações que organizou a manifestação de sábado.

    Mayara Reis, escritora de 25 anos e uma das vozes intervenientes menciona também a importância da educação nesse combate:  “É preciso falar sobre isso nos manuais de história, falar sobre o Tratado de Tordesilhas, porque Portugal não é inocente”.  “Não foi nossa escolha, foi escolhido por nós. O futuro que eu estou a ter agora vem disso”, refere a escritora sobre as decisões históricas que marcaram o passado colonial de países  como  a terra de onde veio – a Guiné-Bissau.

     

    Em Lisboa, 06/06/2020. Foto de Geraldo Monteiro.

     

    Em Lisboa, 06/06/2020. Foto de Geraldo Monteiro.

     

    Em Lisboa, 06/06/2020. Foto de Geraldo Monteiro.

     

     

     

    No PORTO o ato aconteceu na Avenida dos Aliados. Em referência ao norte americano George Floyd, assassinado pela polícia dos Estados Unidos, vários manifestantes trouxeram consigo os dizeres “I Can’t Breathe”, em português, “Não Consigo Respirar”. As reivindicações ecoavam pela avenida com o grito “Nem mais uma morte”, denunciando também os casos de racismo em Portugal.

     

    Porto, 06/06/2020. Foto de Pedro Kirilos.

     

    Porto, 06/06/2020. Foto de Pedro Kirilos.

     

    Porto, 06/06/2020. Foto de Pedro Kirilos.

     

    Porto, 06/06/2020. Foto de Pedro Kirilos.

     

     

     

    Em COIMBRA a manifestação aconteceu na Praça da República, próxima à Universidade de Coimbra e foi organizada por estudantes da cidade. Centenas de pessoas se reuniram no local, seguindo as regras de segurança da Direção Geral de Saúde de Portugal (DGS).
    O ato contou com depoimentos, gritos por reivindicações da luta antirracista e uma performance que representava Jesus negro interpretando trecho do texto “A Renúncia Impossível”, de Agostinho Neto.

     

     

    Coimbra, 06/06/2020. Foto de Daniel Soglia.

     

    Coimbra, 06/06/2020. Foto de Raoni Arraes.

     

    Coimbra, 06/06/2020. Foto de Daniel Soglia.

     

    Coimbra, 06/06/2020. Foto de Raoni Arraes.

     

     

     

    Em BRAGA, a manifestação “Vidas Negras Importam” uniu cerca de 300 pessoas que prestaram sua solidariedade aos atos por George Floyd que acontecem há 10 dias nos Estados Unidos. Os presentes também denunciaram a violência policial contra negros, lembrando os casos de vítimas como Cláudia Simões e Alcindo Monteiro.

     

    Braga, 06/06/2020. Foto de Rafa Lomba.

     

    Braga, 06/06/2020. Foto de Rafa Lomba.

     

    Braga, 06/06/2020. Foto de Rafa Lomba.

     

    Braga, 06/06/2020. Foto de Rafa Lomba.

     

     

     

     

  • O Dia que Ganhamos as Ruas

    O Dia que Ganhamos as Ruas

    Breno Castro Alves (@trocavales), especial para os Jornalistas Livres
    Fotos: Thias Haliski (@tatinhahaliski)

    Durante a última semana, brasileiros despertos tiveram pesadelos com tanques sitiando avenida Paulista. A tensão explodiu domingo 31/05, quando a escrete fascista, jogando em casa, apanhou de Gaviões e aliados. Em resposta, Messias bateu na mesa dizendo chega enquanto sociólogos estudados anunciavam: novo conflito seria a brecha que o sistema queria, pretexto para autogolpe do presida miliciano. São Paulo sabadou sob céu terrível, literal tempestade elétrica.

    Acordou domingo para o azul derramado do outono paulistano. Céu celeste, sol agressivo na cara da manifestação, marcada para duas da tarde.

    DRIBLE: ELÁSTICO DE LETRA

    Após meses jogando sozinhos, onde derramaram defesas ilegais de intervenção militar e ruptura democrática, em 31/05 os fascistas finalmente receberam adversário a altura. Se apresentou o catadão antifascista ponta de lança, convocado pela SomosDemocracia, grupo autorganizado que nasceu na Gaviões e humilhou o adversário. A nítida vitória simbólica, apoiada inclusive pela velha mídia, abriu a porteira para a retomada das ruas.

    No Facebook, sociólogos alertando iminente golpe de Estado e rappers no sofá levantando as necessárias contradições sanitárias de se manifestar em meio à ascendente e maior pandemia da geração. Um juiz proibiu as manifestações antagônicas na mesma avenida e o vice presidente usava pijamas quando escreveu artigo escorrendo saliva rábica e o desejo inequívoco de ruptura democrática.

    Ainda assim, chega 07/06 e uma multidão de grupos autorganizados de todos os matizes está pronta para novamente fazer frente à manifestação fascista, que desidratou por justificado medo de apanhar na cara.

    O circo pronto para treta, vem Corintia e dribla geral. Jogariam no Largo da Batata, longe da treta, longe dos tanques, perto do povo. Apontou para um lado e tocou para o outro: drible elástico de letra.

    Em São Paulo, os campos do Corintia são: Itaquerão, Pacaembu, Fazendinha, Largo da Batata. E, sabendo ou não, seguiram a máxima de Sun Tzu, mestre chinês da Arte da Guerra: usar seu terreno é ganhar a batalha.

    Ao longo da semana toda, a equipe antifascista recebeu reforços. Uma centena de grupos organizados compareceram ao Largo da Batata, provando que daqui pra frente os Gaviões não mais enfrentarão o fascismo sozinhos.

    Meio dia, duas horas antes do protesto, o largo bonito de manifestantes concentrando sua participação. Euforia palpável quando membros da UJS compartilham olhares e tubos de álcool gel, 100g. O MTST autofinanciou uma cooperativa têxtil, distribuiu 4.000 máscaras durante o evento. Brigadas de saúde, movimento indígena, coletivos jurídicos, partidos políticos, palhaços da linha de frente, mídia-livristras, anarco primitivistas, feministas radicais e moderadas, tantas siglas que cansariam este texto, o sheik da mesquita da Penha e, principalmente, o movimento negro.

    Esta luta, que nasceu antifascista, decididamente se assumiu antirracista neste 07/06.

    ENFRENTAR A MORTE HOJE PARA NÃO MORRER AMANHÃ

    Do alto do caminhão de som (que exibia o logo da Central dos Trabalhadores do Brasil), um ativista negro fez fala tão forte e pesada que supera a equalização do equipamento, sua voz grave e distorcida foi ouvida longe, exigindo:

    Brancos, abaixem. Pretos, se olhem. Se reconheçam.

    Velha guarda do rap e do hiphop presente, Thaide sobe ao caminhão e canta o drible corintiano: Eles esperam treta, hoje não terão.

    Mano Brown na galera bate palmas e reforça a constatação de que Racionais > Emicida – que segue muito respeitado por este coração.

    O ato organizado não durou duas horas. O caminhão de som ligou 14h e pouco e desligou não dava 16h. O recado dado, a foto aérea provando: neste domingo 07/06 São Paulo produziu

    5.000 antifas x 50 fascistas na rua.

    Disseram para ficar em casa, que manifestar seria pior, abrir a guarda para o golpe. Dividida, a equipe foi para a rua. Ganhou de lavada, 100 x 1.

    As consequências pandêmicas desta aglomeração são sim terríveis e um preço invisível a ser pago em vidas pela sociedade, produzido exclusivamente pelos que ali se apresentaram.

    PORÉM daqui para frente a milícia genocida que ora desgoverna sabe que perdeu as ruas. E isto vale, muito. Avaliação pragmática: acelerar sua queda é o melhor que um pode fazer para diminuir nossa mortalidade estúpida.

    Hoje, todos os brasileiros sabem. Os fascistas são minoria.

    Pra cima deles seus putos, em todas as arenas.

    Cresci na Vila Belmiro e ontem usei minha primeira a camisa do Corintia, cortesia da namorada com passado Ronaldo9. Descobri que minha afiliação futebolística é política e hoje tomo sol orgulhoso do time do meu avô, disposto a louvar suas cores mas não o suficiente para escrever corretamente o nome:

    • Vai Coríntia, porra!
  • Denúncia aponta que PM do DF pretende agir com violência em ato marcado para o próximo domingo (7)

    Denúncia aponta que PM do DF pretende agir com violência em ato marcado para o próximo domingo (7)

    Via Metrópoles 

    A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CDH-DF) encaminhou, nesta quinta-feira (4), pedido de investigação ao Comando Geral da Polícia Militar do DF, sobre a denúncia de que oficiais da PM estariam incentivando ações violentas por parte dos policiais que acompanharão a manifestação antirracista, antifascista e pró-democracia, agendada par o próximo  domingo (7), às 9h, em frente ao Museu Nacional da República.

    Na denúncia há, também, relatos de que o esquema de segurança que será montado para a manifestação do próximo domingo é muito maior do que o que vem sendo usado nos atos antidemocráticos promovidos pelos apoiadores de Bolsonaro, que pedem, entre outras coisas, o fechamento do Congresso Nacional e do STF, além de ataques à imprensa, inclusive com agressões físicas, e sem resposta da PM.

    “Há um risco de que a tropa chegue ao local com ânimos acirrados e que, mesmo com um protesto pacífico, seja empregada violência excessiva. Isso tudo porque, de acordo com os denunciantes, membros da corporação estariam insuflando os policiais contra os manifestantes”, afirma o presidente da CDH, o deputado distrital Fábio Felix (PSol-DF).

    O Receio de Félix, que é presidente da CDH-DF, é de que os policiais estejam com disposição de provocar conflitos com os manifestantes, para justificar uma resposta violenta da PM, segundo apurou a reportagem do Metrópoles, e confirmadas pelos Jornalistas Livres com um membro da CDH.

    “São graves as denúncias e exigimos que o governo adote as providências necessárias para garantir a segurança e a integridade dos manifestantes”, destaca Fábio Felix.

    Ao Metrópoles, a Assessoria de Imprensa da PM-DF, informou que ainda não tinha tomado conhecimento do ofício encaminhado pela CDH-DF, mas que,  “após sua ciência, conhecerá do seu teor e adotará as medidas julgadas oportunas”. A Assessoria disse ainda que, ao planejar suas ações, não considera o viés ideológico das manifestações. No entanto, não foi o que se viu nas manifestações do domingo passado (31/04) em São Paulo, quando claramente a PM-SP provocou os manifestantes pró-democracia e protegeu os apoiadores de Bolsonaro, inclusive uma mulher portando um taco de baseball.

    Ciente dos potenciais riscos que os manifestantes antirracistas, antifascistas e pró democracia correm no domingo, a CDH  disponibilizou um canal de atendimento para os manifestantes que possam vir a sofrer abusos por parte da PM.

    Os manifestantes podem enviar relatos, vídeos e fotos pelo WhatsApp (61) 99904-1681

     

     

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  • Jornalistas Livres exibem Intervenção – Amor Não Quer Dizer Grande Coisa

    Jornalistas Livres exibem Intervenção – Amor Não Quer Dizer Grande Coisa

    “O estado de exceção e a inimizade se converteram na base normativa do direito de matar. Nessas situações, o poder (que não é necessariamente um poder estatal) faz referência contínua e invoca a exceção, a urgência e uma versão ficcionalizada do inimigo”. (Achille Mbembe)
    A extrema-direita fala…

    A epígrafe é utilizada como sinopse do filme, um documentário-colagem com discursos de extrema-direita colhidos na internet durante 2015 e 2016, e que segundo os diretores, serviram de motor/animador ideológico no processo que culminou no impeachment da Presidente Dilma Rousseff e levou ao poder o líder fascista Jair Bolsonaro.

    O que parecia delírio, paranoia e alucinação de ex-militares reformados, jovens e velhos ideólogos de extrema-direita, sugerindo, em 2015, manifestações na porta de quartéis pedindo a volta de um regime autoritário, ganhou corpo, forma e vida no atual governo, como demonstra a bizarra participação do Presidente da República no ato que pedia o fechamento do Congresso e do STF em frente ao Quartel General, em Brasília, no último dia 19.

    Por mais que o presidente venha minimizar o peso simbólico dos seus atos e palavras, é dever do jornalismo levar ao público conteúdos que ajudem a sociedade a se entender e pensar seus destinos. Nesse sentido, Intervenção – Amor Não Quer Dizer Grande Coisa tem o mérito de nos colocar em contato com um Brasil que ninguém quer ver, mas que ganha cada vez mais participação na vida pública.

    Inédito na internet, o filme foi exibido pela primeira vez em 2017 no 50º Festival de Brasília, na Mostra Terra em Transe. Na época, segundo um dos diretores, Rubens Rewald, “a sensação do público ao ver o filme era de profundo mal estar por parte de alguns, por travarem conhecimento com esse “novo” mundo desconhecido e assustador para eles, e de distanciamento por parte de outros, que consideraram o filme um mero catálogo de bizarrices. Quase três anos depois, nada mudou, ou melhor, as coisas pioraram, e muito, e aquilo que era considerado bizarro, hoje é normal, e cada vez faz mais parte do nosso dia a dia”.

    Para Tales Ab’Sáber “o que em um passado recente mal disfarçava o ódio e o desejo corpóreo de violência sobre alguém no ato limite de calar e atordoar o inimigo batendo panelas, hoje ultrapassou esta barreira, e prossegue, como compulsão à repetição indomável, tentando cada vez mais, cada dia mais, alcançar o corpo de direitos e o corpo real dos inimigos maléficos, sempre inventados, para animar esse sistema psíco-político. Do comunista imaginado de 2014/2015 chegamos aos artistas pedófilos, e às filósofas críticas bruxas do presente, sonhados para serem queimados”.

    Gustavo Aranda acredita que “a esquerda ainda não entendeu o processo revolucionário proposto pela extrema-direita. Ela apenas reage, se apegando às estruturas políticas que sempre foi crítica. Está abdicando de disputar a revolução em nome de uma ‘democracia’ que nunca fez parte da realidade da maioria da população brasileira”.

    Jornalistas Livres exibem Intervenção – Amor Não Quer Dizer Grande Coisa dia 21 de abril, terça-feira, às 21H30 pelo seu canal no Youtube.

     

    assista ao trailler

     

    Assista ao filme à partir das 21:30

     

    Sobre os diretores:

    Rubens Rewald e Tales Ab’Sáber (Rewald & Ab’Sáber)
    São formados em cinema, professores na USP e na UNIFESP em São Paulo e realizaram o documentário Esperando Telê em 2010. Rewald dirigiu também os filmes Corpo, Super Nada e Segundo Tempo. Ab’Saber é psicanalista e ensaísta. Juntos pesquisam um cinema de ensaio de baixíssimo orçamento.
    Gustavo Aranda é Jornalista Livre, documentarista e montador.

    Ficha Técnica:

    direção e montagem: Rubens Rewald, Tales Ab’Sáber (Rewald & Ab’Sáber) e Gustavo Aranda
    argumento: Tales Ab’Sáber
    edição de som: João Godoy
    musica: Romulo Fróes
    produtor executivo: Rubens Rewald
    produtora: Confeitaria de Cinema / Cérebro Eletrônico
    documentário de longa metragem: 76 minutos

  • A volta dos que não foram – Brasil redescobre os fascistas

    A volta dos que não foram – Brasil redescobre os fascistas

    Por Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com – especial para os Jornalistas Livres

    A mídia hegemônica e as redes sociais se espantaram essa semana ao “descobrir” que os fascistas brasileiros perderam totalmente a vergonha e resolveram mostrar suas atitudes e símbolos à luz do sol, em espaço público. Primeiro foi a retirada pela PM de uma faixa da torcida antifascista do Botafogo.

    Foto: reprodução Instagram

    Depois alguém flagrou um homem de meia idade sentado tranquilamente num bar de Unaí, Minas Gerais, com uma braçadeira de suástica nazista sobre a manga da camisa.

    Foto: reprodução Instagram

    E, finalmente, reportagem do tradicional jornal paulistano O Estado de São Paulo mostra que os Integralistas, versão brasileira do nazismo nos anos 1930, estão de volta à atividade em plena luz do dia.

    Captura de tela do site gratuito Press Reader de foto Hélvio Romero / Estadão – Fonte: https://www.pressreader.com/brazil/o-estado-de-s-paulo/20191215/283205855157928

    Para nós, que sempre fomos antifascistas e cobrimos as manifestações de rua no Brasil antes de virar modinha com as Jornadas de Junho de 2013, temos visto isso, fotografado, registrado, reportado e tentado alertar a esquerda, que infelizmente se achava invencível na política institucional e aparentemente até hoje não conseguiu se rearticular para barrar o processo de fascismo galopante que vivemos, e não somente no Brasil. 

    Barrar o fascismo é fundamental. Nem mesmo as ideologias de centro-direita, nem o liberalismo clássico podem fazer frente a um regime fascista, como explica nessa palestra em inglês o pesquisador Jason Stanley, escritor do livro Como o fascismo funciona: A política do “nós” e “eles” (um bom resumo didático em português pode ser visto no Meteoro.Doc, inclusive fazendo as referências corretas com o Brasil de Bolsonaro citado três vezes na palestra).

    Abaixo, reproduzimos na íntegra a reportagem de março de 2014 publicada originariamente no site Brasil+40 sobre a dita Marcha Com Deus e a Família Pela Liberdade, que além dos integralistas e “segurança” de supremacistas brancos, trazia TODOS os grupos e mesmo slogans em faixas que apareceriam em todas as TVs, revistas e jornais do Brasil a partir de março de 2015 na campanha pelo Golpe contra Dilma Roussef e depois no apoio a Bolsonaro.

    Não digam que não avisamos!

     

    A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM

    Reedição da Marcha com Deus e a Família pede o retorno dos militares ao poder ignorando que a mentalidade militarista nunca deixou a polícia, os presídios ou a periferia

    Com o golpe de 2016, de fato consequiram “seu” país de volta. Essa e todas as fotos seguintes: Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com

    Quando skinheads, integralistas, fanáticos religiosos e saudosistas do regime militar conclamam nas redes sociais a população brasileira a cerrar fileiras contra um golpe comunista e/ou gaysista (acuma?), a censura na internet (Marco Civil), os perigos à liberdade de expressão (dos discursos de ódio de “jornalistas” como a Rachel Sheherazade), a vinda de guerrilheiros/escravos disfarçados de médicos (de Cuba), as urnas eletrônicas (que fraudariam as eleições que eles não conseguiram ganhar) etc, a coisa pode até parecer piada ou alucinação. Mas quando mais de mil passeiam pelo centro de São Paulo gritando esses slogans e agredindo quem se coloca contra isso, aí já é vandalismo!

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    Brincadeiras à parte, o número de pessoas que saíram de suas cavernas e detrás das telas de computador onde estão relativamente protegidas para destilar toda sua falta de informação real e preconceito infelizmente não foi insignificante, como alguns jornais publicaram. Ao contrário disso, o fato de colocarem suas “ideias” na rua, de cara limpa, com propostas absurdas mas factíveis (como sempre diz a Professora Malena Contrera, os psicopatas são perfeitamente lógicos e coerentes em sua loucura) é muito significativo do momento que o Brasil e o mundo atravessam, além de ser resultado do processo histórico que vivemos entre 1964 e 1985, e no assim chamado período da redemocratização.

    Diferente de outros países como Chile e Argentina, onde os crimes das ditaduras foram abertos por comissões da verdade e os criminosos acusados, condenados e presos, no Brasil a Lei da Anistia de 1979 (recentemente reafirmada como juridicamente válida pelo STF, apesar dos acordos internacionais em contrário assinados pelo país e da Constituição de 1988) tem garantido a impunidade e preservado a identidade de torturadores e assassinos fardados, além de seus comparsas civis.

    Manifestante traz na camiseta o símbolo do DOPS - Departamento da Ordem Política e Social, usado durante da ditadura para perseguir, torturar e matar dissidentes

    Manifestante traz na camiseta o símbolo do DOPS – Departamento da Ordem Política e Social, usado durante da ditadura para perseguir, torturar e matar dissidentes

    Depois dos períodos ditatoriais no continente, presidentes envolvidos em grandes negociatas e esquemas de corrupção nas privatizações do ciclo neoliberal no Peru, Bolívia e Venezuela também foram julgados e detidos ou estão foragidos nos Estados Unidos. Por aqui, Sarney e Collor seguem sendo eleitos para o Senado e FHC não teme ser investigado pela venda por preço irrisório da maior empresa mineradora do mundo (a Vale), nem pelo sistema telefônico nacional e muito menos pela compra de votos para sua reeleição ou a brutal desvalorização do Real no segundo mandato que derrubou a menos da metade o valor das estatais vendidas.

    O CCC nos anos 1960 e 70 era o Comando de Caça aos Comunistas. Hoje dizem querer caçar corruptos mas atribuem a corrupção apenas à comunista Dilma

    O CCC nos anos 1960 e 70 era o Comando de Caça aos Comunistas. Hoje dizem querer caçar corruptos mas atribuem a corrupção apenas à comunista Dilma

    Para quem quiser conhecer a verdadeira origem da insegurança pública, da impunidade e da falta de qualidade nos sistemas públicos de saúde e educação no Brasil, um bom começo é estudar o que há disponível de história, antes que os revisionistas mudem os fatos, da ditadura civil-militar. Sim, civil! Afinal, jamais os militares teriam tomado o poder se não fosse o dinheiro grosso investido pelos Estados Unidos e por empresários nacionais no desmonte de serviços altamente lucrativos hoje como segurança, educação e saúde.

    Religião, civis, militares, ideologia e mídia em uma única foto

    Religião, civis, militares, ideologia e mídia em uma única foto

    Do mesmo modo, a violência no campo e o inchaço das periferias certamente seriam menores se as reformas de base, como a reforma agrária, propostas pelo PTB de João Goulart em 1961, não tivessem sido abortadas pelo golpe.

    Na linha de frente da marcha à ré, os skinheads

    Na linha de frente da marcha à ré, os skinheads

    Quem empunhou as cores da bandeira nacional no último sábado 22 de Março,via de regra, são aqueles que se beneficiaram e ainda se beneficiam dos frutos de 1964, enquanto a maior parte da população padece de uma herança maldita ainda presente na impunidade cotidiana de torturadores e assassinos pagos com os impostos de todos para manter os pobres longe da velha classe média e garantir o direito à propriedade de grandes latifundiários e especuladores, mesmo que sejam escravistas ou grileiros.

    Um dos únicos detidos na marcha. A polícia não informou o motivo.

    Um dos únicos detidos na marcha. A polícia não informou o motivo.

    Afinal, quem são os heróis, saudados aos gritos nas ruas, numa corporação militar que matou 111 presos em 1992, assassinou mais de 600 em 48 horas nas periferias em 2006, desalojou com bombas 1.600 famílias no Pinheirinho em 2012 e agrediu e deteve de forma totalmente ilegal mais de 800 manifestantes e jornalistas entre junho de 2013 e março de 2014, pra falar só de São Paulo? Pior, o que cada uma dessas ações recentes resultou em termos de melhorias na segurança, educação ou saúde?

    Segurança reforçada "do nosso lado" , como dizia o panfleto de convocação da marcha.

    Segurança reforçada “do nosso lado” , como dizia o panfleto de convocação da marcha.

    Prós versus Contras

    Importante lembrar, contudo, que protestos civis questionando o atual modelo de democracia representativa refém dos grandes capitais, como temos visto desde junho passado, não são exclusividade do Brasil. Mas, distintamente dos que pregam maior repressão aos movimentos populares, os jovens nas ruas de todo o mundo ainda não conseguem apontar um caminho para a sociedade e o resultado final é a participação cada vez menor nos processos eleitorais. Não é à toa que os reacionários, sem número para se contrapor à maioria da população, bombardeiam os programas sociais ao mesmo tempo em que pedem o fim do voto obrigatório. Na Espanha dos “indignados”, onde mais de um milhão foram às ruas contra as medidas de austeridade no último fim de semana, os franquistas voltaram ao poder há dois anos também por causa de uma abstenção recorde de 46%. Na Grécia, os neonazistas não ganharam por pouco (diferente dos adeptos ucranianos que tomaram o poder à força e com apoio estadunidense) e na França o partido de extrema-direita acaba de ganhar as eleições municipais no mesmo esquema de poucos votos, falta de organização e desânimo das esquerdas.

    Se Deus foi, não dá pra dizer, mas representantes da igreja, com certeza

    Se Deus foi, não dá pra dizer, mas representantes da igreja, com certeza

    Por aqui, tirando vitórias pontuais de movimentos específicos, como o MPL que conseguiu barrar o aumento das tarifas de transporte em várias cidades, a maior parte dos protestos mais à esquerda não trazem propostas afirmativas, apenas negativas. A própria manifestação de contraponto à Marcha de sábado trazia o título de ANTIfascista e apesar de reunir mais gente teve, obviamente, repercussão menor. Da mesma forma, o movimento mais forte nas ruas esse ano traz em destaque a expressão NÃO vai ter Copa. A outra parte do slogan (sem direitos) quase não aparece. Uma pergunta simples, pragmaticamente falando, o que tem mais chance de se concretizar no curto prazo: a redução da maioridade penal ou o cancelamento da Copa do Mundo?

    Civis e militares juntos por uma nova intervenção "constitucional"

    Civis e militares juntos por uma nova intervenção “constitucional”

    Fundamental ressaltar, também, que é muito mais fácil criminalizar manifestantes mascarados, especialmente os adeptos da tática Black Bloc, e acusá-los na mídia de extrema violência (ainda mais depois da morte do jornalista Santiago Ilídio Andrade no Rio de Janeiro) do que apontar, dentro da PM e dos governos, os responsáveis pelas agressões a pessoas (e não a vidraças), mutilações e mortes na brutal repressão às manifestações. Não podemos esquecer, por exemplo, que NINGUÉM está respondendo processo pela perda do olho do fotógrafo Sérgio Silva em 13 de junho de 2013, enquanto a morte de Santiago foi esclarecida em menos de uma semana.

    A campanha contra o Marco Civil da Internet, chamada de censura pelos manifestantes, não conseguiu impedir sua aprovação na Câmara

    A campanha contra o Marco Civil da Internet, chamada de censura pelos manifestantes, não conseguiu impedir sua aprovação na Câmara

    Se queremos um avanço real na sociedade e não a volta da ditadura, devemos olhar com atenção quais táticas trazem resultados de fato, quais nos levam a ficarmos reféns da violência para conseguir visibilidade e o que significa essa armadilha. É preciso observar a ação dos grupos que conseguem passar sua visão de mundo nos meios de comunicação em massa, inclusive os reacionários, quem os apóia e quais os interesses não revelados por trás deles. Temos de desconfiar da cobertura da grande imprensa, mas criar formas de diálogo e de influenciar e influir nos seus fluxos. E, finalmente, temos de desenvolver as alternativas factíveis para os modelos atuais que sejam mais democráticos e justos para o conjunto da população e especialmente os mais vulneráveis e historicamente prejudicados. A rua é de todos que têm coragem de ocupá-las. Mas as vitórias políticas são de quem tem plano e estratégia para conquistá-las.

    A população realmente marginalizada não tava nem aí pra marcha

    A população realmente marginalizada não tava nem aí pra marcha