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  • Eduardo Paes, ACM Neto e o amor pelo poder

    Eduardo Paes, ACM Neto e o amor pelo poder

    Sou nascido e criado no Rio de Janeiro. Na periferia, quase Baixada Fluminense. Sou carioca da clara. Moro em Salvador há três anos e meio. Duas cidades muito parecidas entre si, no que têm de bom e no que têm de ruim.

    Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia

    Violência, caos urbano, desigualdade social pornográfica. Cidades africanas e estruturalmente racistas. Festa, Carnaval, cartão postal. Muitas semelhanças, muitas mesmo.

    Salvador leva vantagem sobre o Rio de Janeiro porque tem praia na periferia. Acho fascinante. Uns bairros periféricos, casas humildes e vista pro mar. Praias bonitas, de banho bom. No Rio de Janeiro, estar perto do mar é privilégio. Fico aqui pensando a festa que não seria se tivesse praia em Madureira. Seria outra Copacabana.

    Imaginem só, conterrâneos, duas Copacabanas numa mesma cidade!

    Mas Salvador também perde em relação ao Rio. Não tem Flamengo na Bahia. Tem muito flamenguista, por todos os lugares. Mas não tem Flamengo. Faz falta.

    Mas não é exatamente das cidades que quero falar. Nem do Flamengo. Não hoje. Não aqui.

    Quero falar é de suas mais importantes lideranças políticas: Eduardo Paes e ACM Neto. Também muito semelhantes entre si.

    Ambos são do DEM, tantinho picaretas, relações próximas com o grande capital. Caixa dois em campanha. Gentrificaram as cidades. Eduardo Paes chegou às vias de fato, com remoções criminosas na época das Olimpíadas.

    Carisma faceiro, malandreado, cheio das ousadias. Se existem carioquique e soteropolitanisse como traços culturais, Eduardo Paes e ACM Neto as encarnam perfeitamente. Se metem no meio da festa, do carnaval, bebem, são flagrados bêbados pelas câmeras.

    Gestores habilidosos, bons comunicadores. Ambos amam o poder.

    Políticos profissionais são indispensáveis para a vida social. São eles que cuidam da rua, da praça, para que eu, pessoa privada, possa cuidar em paz da minha casa. Essa é a lógica das modernas democracias de massa, tão bem teorizada e criticada por Tocqueville. Os políticos governam para que as pessoas comuns possam se dedicar aos seus negócios particulares.

    Tolos são aqueles que odeiam os políticos profissionais e entram na onda desses outsiders neófitos aloprados que não entendem da máquina, que não sabem governar. Pior que o político corrupto só o político incompetente.

    Políticos profissionais! Tá aí uma boa forma de definir Eduardo Paes e ACM Neto. Os dois são profissionais. Dominam com excelência seu ofício. Para o bem e para o mal.

    Amados nas periferias e odiados pelas esquerdas. Eduardo Paes e ACM Neto jogam na nossa cara o quanto estamos desconectados da realidade, afastados dos sentimentos da maioria.

    ACM Neto se elegeu duas vezes prefeito de Salvador. A segunda, em 2016, foi de lavada, com os pés nas costas. Molezinha. Tá dando um show de eficiência na gestão da pandemia da covid-19. Se nada de muito diferente acontecer, elegerá com alguma facilidade seu sucessor nas eleições municipais agendadas para novembro próximo.

    Eduardo Paes também venceu duas vezes. Na reeleição, em 2012, venceu no primeiro turno. Na ocasião, Marcelo Freixo, do PSOL, ficou em segundo lugar. Lembro que o PSOL comemorou a derrota. Teve até documentário: “A primavera carioca”.

    É isso mesmo que você leu! O PSOL carioca produziu um documentário louvando uma derrota no primeiro turno!

    “Campanha bonita, colorida, inclusiva”.

    Políticos do quilate de ACM Neto e Eduardo Paes não entram em campanha pra fazer pedagogia, festa, congraçamento. Entram pra vencer. Querem vencer. Estão dispostos a tudo para vencer. Querem governar. Amam o poder.

    Amam o voto dos pobres. Não amam exatamente os pobres. Amam mesmo é o voto dos pobres. Sabem que pra ter poder precisa ganhar eleição. Sabem que pra ganhar eleição, tem que ter, pelo menos, metade +1 dos votos válidos.

    Especialmente em eleições municipais, pra conquistar o voto dos mais pobres, carece de entregar alguma coisa, principalmente quando se tem a máquina na mão. Quem gosta de campanha bonita, festiva e colorida é estudante universitário. Povão gosta é de eficiência. Quer ganhar alguma coisa na forma de bem-estar social. O cálculo do povão é pragmático, como deveria ser todo cálculo.

    Asfalto na rua pra criatura deixar de melar a perna de lama até o joelho quando sai pra trabalhar. Parque público bonitinho pra levar os meninos pra andar de bicicleta no domingo, fazer showzaço da Anitta de vez em quando, de graça.

    Carnaval apoteótico, cheio de artistas famosos. Orla revitalizada. Academia pras tias e pros tios mexerem os músculos e manter as juntas fortes. Posto de saúde funcionando.

    Sou um sujeito de esquerda. Por coerência ideológica, eu não deveria gostar de Eduardo Paes e ACM Neto. Mais ou menos. Ser de esquerda significa, antes de qualquer coisa, usar a política para melhorar a vida de quem mais precisa do Estado. Eduardo Paes e ACM Neto fizeram isso, de alguma forma, em alguma medida. Se fizeram muito ou se fizeram pouco é conversa pra mais de metro. Quem acha que fizeram pouco precisa apresentar projeto melhor, viável. Precisa vencer eleição.

    Fato é que o povão referendou. Os caras foram reeleitos em primeiro turno. Isso não é dado irrelevante. O povo não é burro e nem facilmente manipulado.

    Não confio em liderança política que não gosta de poder, que não tem tara pelo poder. Esses não têm responsabilidade com a realidade. Têm compromisso apenas com as próprias ideias. Não vencem eleição. Não melhoram a vida dos mais frágeis, nem mesmo dos grupos que dizem representar.

    Gosto de Netinho e do Dudu Paes. Não deveria, mas gosto.

  • NOTÍCIAS FRESQUINHAS DE SALVADOR

    NOTÍCIAS FRESQUINHAS DE SALVADOR

    ARTIGO

    RODRIGO PEREZ OLIVEIRA, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia

    No Brasil, as eleições municipais acontecem sempre quando o presidente da República está chegando à metade do mandato. O impacto disso no debate eleitoral municipal não é bom. As questões locais, como saneamento básico, creche, iluminação urbana, acabam sendo ofuscadas pelas disputas nacionais. Isso é especialmente verdadeiro em grandes capitais.

    As eleições municipais, portanto, sempre têm certa dimensão plebiscitária para o governo federal.

    Depois das eleições presidenciais atípicas de 2018, onde um candidato sem estrutura partidária e tempo de propaganda na TV venceu a disputa, as eleições municipais de 2020 têm ainda maior relevância para o cenário político nacional. Todos queremos saber se o bolsonarismo é onda temporária ou cultura política já consolidada. Pesquisas de opinião são importantes, mas nada é melhor para a identificação de tendências políticas do que resultado oficial de eleição. A ver o que as urnas dirão no segundo semestre.

    Em Salvador, a temperatura da disputa eleitoral está quente, quentíssima. Como por aqui o bolsonarismo puro sangue não é força política relevante, a competição se dará dentro do campo democrático, entre petismo e carlismo.

    De um lado, o PT, liderado pelo governador Rui Costa e pelo senador Jacques Wagner. O carlismo é liderado por ACM Neto, do DEM e atual prefeito de Salvador, em segundo mandato.

    Olhando de perto, porém, a situação é bem mais complexa. Explico.

    O PT baiano está rachado. Os movimentos sociais de base querem a candidatura de Vilma Reis, mulher negra. Rui Costa e Jacques Wagner querem a candidatura de Denice Santiago, mulher negra, major da PM.

    Nessa disputa interna, podemos perceber a manifestação dos grandes dilemas que atravessam a esquerda brasileira contemporânea.

    Primeiro, entre os dois grupos há consenso a respeito da importância da representação identitária. Salvador é a capital mais negra do Brasil e nunca foi governada por pessoa negra. O PT pretende corrigir essa falha histórica.

    As semelhanças, porém, acabam por aí. Sim, tanto Vilma Reis como Denice Santiago são mulheres negras. Mas não são negras da mesma forma, não performam a negritude do mesmo jeito.

    Vilma Reis é quadro histórico dos movimentos sociais baianos. Socióloga, defensora pública, ativista dos direitos da população negra e LGBT. Vilma é aquilo que poderíamos chamar de “militante raiz” de esquerda, na estética e na agenda programática.

    Muito diferente é o caso de Denice Santiago, major da Polícia Militar da Bahia, sem histórico de militância em movimentos sociais. Denice sequer é filiada ao Partido dos Trabalhadores. O ativismo político de Denice acontece mesmo nos quadros da PM, onde ela comanda desde março de 2015 a “ronda Maria da Penha”, que protege mais de 600 mulheres vítimas de violência doméstica.

    Atentos à energia punitivista que atravessa a sociedade brasileira, Rui Costa e Jacques Wagner, políticos experimentados, sabem que a população se sente mais segura com policiamento ostensivo, com militar armado na rua. Se essa sensação de segurança está correta ou não de acordo com os especialistas na área é outra discussão. Fato é que a população está assusta e tomada por um sentimento hobbesiano, desejando o endurecimento do aparato repressor do Estado, nem que isso signifique restrição de algumas liberdades individuais.

    No Rio de Janeiro, Wilson Witzel foi eleito prometendo que a policia ia “atirar na cabecinha” dos traficantes varejistas. Em São Paulo, João Dória prometeu que a partir do primeiro dia de seu mandado, a PM ia “atirar pra matar”. O próprio Rui Costa, reeleito em 2018 no primeiro turno, tem no policiamento ostensivo um de seus principais ativos políticos.

    Na ocasião de uma chacina acontecida em bairro periférico de Salvador, Rui Costa disse que os policiais são como “artilheiros de time de futebol”. Na metáfora do governador, cada corpo derrubado no chão é um gol. Por essas e outras, a esquerda baiana diz que Rui Costa é o “Bolsonaro vermelho”.

    Ao defender a candidatura de Denice Santiago, Rui Costa e Jacques Wagner tentam conciliar a demanda identitária por representatividade com o apelo eleitoral que um outsider ligado à segurança pública teria.

    Já a esquerda baiana não se sente representada por Denice Santiago, que não aparece em público vestindo batas coloridas, ostentando penteado black power e citando Ângela Davis. Denice Santiago não tem o selo de qualidade “mulher negra de verdade” emitido pelos movimentos sociais.

    Enquanto isso, o prefeito ACM Neto constrói o nome de Bruno Reis, vice-prefeito, que já aponta como franco favorito para a corrida eleitoral. “Netinho”, como se costuma falar aqui, é político muito habilidoso, um grande quadro da direita brasileira. Foi reeleito em 2016 em primeiro turno, impulsionado por obras de melhoramento urbano e contenção de encostas, construção de postos de saúde, e um serviço de comunicação social muito profissional.

    Há mais de um ano, Salvador está rasgada por obras: BRT, revitalização de orlas na periferia, construção de praças e espaços públicos de socialização.

    Sim, em Salvador tem orla na periferia, o que fascina este carioca, que cresceu numa cidade onde estar perto do mar é privilégio dos ricos.

    Trânsito caótico, problemas seríssimos com alagamentos em dias de chuva. Mas Netinho dobrou a aposta e no ano eleitoral inaugurará dezenas de obras que impactarão positivamente na vida da população. Bruno Reis estará ao seu lado.

    O mais provável é que aconteça o óbvio e Bruno Reis, homem branco, seja eleito com relativa facilidade, contando com o voto de milhares de mulheres negras da periferia e derrotando a mulher negra lançada pela esquerda, seja ela quem for.

  • Após movimento negro provocar debates públicos, Salvador já tem oito pré-candidatos negros à Prefeitura

    Após movimento negro provocar debates públicos, Salvador já tem oito pré-candidatos negros à Prefeitura

    Matéria do editor-chefe do Mídia 4P, Yuri Silva, originalmente publicada pelo portal

     

    A disputa pelo comando do Palácio Thomé de Souza, sede da Prefeitura de Salvador, acontecerá apenas em outubro de 2020, daqui um ano e dois meses, mas pelo menos oito pré-candidatos negros já se lançaram como alternativas para ocupar o cargo mais importante da capital baiana.

    A ebulição de pré-candidaturas de lideranças do movimento negro acontece no bojo de mobilizações e debates públicos promovidos na capital baiana, como o lançamento de campanhas públicas para incentivar o lançamento de postulações ao Executivo e ao Legislativo municipal.

    As mobilizações são uma resposta ao fato de que a cidade, que possui 85% de população negra e é a mais negra fora do Continente Africano, nunca conseguiu eleger pelo voto popular um prefeito negro.

    Apenas o jurista Edvaldo Brito, hoje vereador da cidade, foi prefeito de Salvador, mas biônico (ou seja, indicado pelo então governador Roberto Santos, durante a ditadura militar) e por um período de apenas oito meses.

    Além do movimento ‘Eu Quero Ela – Salvador Cidade Negra’, que acabou ganhando o protagonismo das ações, também promoveram debates as articulações de movimentos ‘Agora é ela, Bicão na Diagonal’, que se reúne em torno do Fórum Marielles, e ‘Plataforma Salvador Negra 2020’.

    Após as movimentações, que incluíram um seminário com possíveis postulantes, pré-candidatos dos principais partidos da base do governo Rui Costa (PT) lançaram pré-candidaturas. Só no PT, três nomes estão colocados na disputa oficialmente. A socióloga e militante do movimento de mulheres negras Vilma Reis, o vereador Moisés Rocha e o deputado federal Valmir Assunção são postulantes ao cargo de prefeito.

    Além deles, também colocaram seus nomes o presidente e fundador do bloco afro Ilê Aiyê Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê (PDT), o vereador de Salvador e presidente municipal do PSB Silvio Humberto, a deputada estadual Olívia Santana (PCdoB), e dois quadros do PSOL (o deputado estadual Hilton Coelho e o sindicalista Raimundo Calixto).

    O vereador Edvaldo Brito (PSD) também pode ser candidato, de acordo com comentários de bastidores, mas a reportagem do Mídia 4P não conseguiu confirmar com ele nem com sua assessoria se a informação procede. Caso haja a confirmação, o número de pré-candidatos negros sobe para nove.

    Também está fora da conta das pré-candidaturas negras o deputado federal Pastor Sargento Isidório (Avante), que, apesar de ser da base do governo Rui Costa, não tem identificação com o movimento negro.

    Se seu nome fosse contado e o de Edvaldo Brito for confirmado, o número de pré-candidatos considerados negros chegaria a 10, um recorde histórico. Nunca antes Salvador teve tantas pré-candidaturas com essa característica.

    Direita

    No campo da direita, a questão racial é considerada “superada”. Na base do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), a questão é vista como algo a ser desconsiderado na eleição do próximo ano, segundo fontes ouvidas pela reportagem do Midia 4P. Principais quadros negros do grupo, a ex-deputada federal Tia Eron e o deputado federal Márcio Marinho, ambos do PRB da Igreja Universal, estão fora da disputa.

    O assunto foi superado, para a base ‘netista’, com a eleição de Célia Sacramento (à época no PV, hoje na Rede Sustentabilidade) na posição de vice-prefeita em 2012 – o que depois terminou em brigas públicas, acusação de corrupção e um rompimento político traumático.

    Tia Eron e Márcio Marinho, dupla do PRB da Igreja Universal / Foto: O Globo

    Dentro do próprio PRB, na melhor das hipóteses, pode sobrar para Marcio Marinho, que é presidente estadual do partido, ocupar o posto de vice na chapa encabeçada pelo deputado federal João Roma, que é branco.

    A candidatura, contudo, teria a função apenas de ‘cumprir tabela’ no xadrez eleitoral, diante da extinção das coligações – isso se a postulação existir de fato.

    Marinho inclusive já foi candidato a vice na chapa de ACM Neto em 2008, quando foram derrotados pelo prefeito João Henrique, que se reelegeu.

     

    2012 foi melhor ano para negros na disputa pelo Executivo, até então

    Foi justamente em 2012, ano em que Célia Sacramento foi eleita vice-prefeita de Salvador, o melhor desempenho de lideranças negras nas eleições municipais da capital baiana para o Executivo.

    Naquela época, além da própria Célia, praticamente todos os candidatos a vice-prefeito/a foram negros ou negras. Foi o caso da própria Olívia Santana, que na época concorreu como vice na chapa do candidato do PT Nelson Pelegrino, sendo derrotados no segundo turno para ACM Neto.

    Márcio Marinho também foi candidato à época, pelo PRB. O candidato Mário Kertész (à época no PDMB) também teve um negro, Nestor Neto, como candidato a vice em sua chapa. Além da candidatura negra do PSOL à Prefeitura, com a figura de Hamiton Assis.

     

    AGENDA DE ENTREVISTAS

    Diante da ebulição de pré-candidaturas negras, o portal Mídia 4P está fazendo uma série de entrevistas com os postulantes negros ao Palácio Thomé de Souza. Até agora, já foram entrevistados Vovô do Ilê (leia aqui), Vilma Reis (leia aqui), Moisés Rocha (leia aqui) e Silvio Humberto (leia aqui).

    Ainda faltam dar entrevista os deputados estaduais Hilton Coelho e Olívia Santana, o deputado federal Valmir Assunção, o sindicalista Raimundo Calixto e o vereador e ex-prefeito de Salvador Edvaldo Brito.

    Hilton Coelho marcou para falar com a reportagem nesta quinta-feira, dia 22. Os demais ainda não confirmaram suas agendas para a entrevista.

  • Meio ambiente derrota ‘ACM Motoserra’ em Salvador

    Meio ambiente derrota ‘ACM Motoserra’ em Salvador

    O Ministério Público Federal na Bahia e o Ministério Público do Estado da Bahia ajuizaram nessa terça-feira, 12, ação civil conjunta contra a União, a Caixa Econômica Federal, o Município de Salvador, o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) e o Consórcio BRT Salvador. Os MPs requerem a declaração de nulidade do contrato firmado entre a Prefeitura Municipal de Salvador e o Consórcio BRT/Salvador e, liminarmente, a suspensão imediata das obras do BRT (Bus Rapid Transit ou Transporte Rápido por Ônibus, em tradução literal) na capital baiana.

    Além de inadequado e de alto custo, a implantação do sistema de transporte coletivo BRT em Salvador, defendido pelo prefeito ACM Neto (DEM), provocaria a eliminação de centenas de árvores, muitas delas centenárias, o que revolta ambientalistas e a população. Confira abaixo mais detalhes na notícia a respeito divulgada pelo Ministério Público Federal na Bahia:

    http://www.mpf.mp.br/ba/sala-de-imprensa/noticias-ba/brt-em-salvador-ba-mps-requerem-a-nulidade-do-contrato-e-a-suspensao-imediata-das-obras

     

     

  • Não ao BRT de Salvador

    Não ao BRT de Salvador

    Um grupo de cerca de 30 cidadãos e ativistas ocupa desde a manhã desta quarta-feira o canteiro de obras da construção do BRT Lapa-Iguatemi na Av. Juracy Magalhães em Salvador. Os manifestantes protestam contra a realização do empreendimento que está orçado em mais de R$ 820 milhões, o que torna a instalação do modal uma das mais caras do país e a mais dispendiosa por km instalado.

    Alcunhado “Movimento Não ao BRT de Salvador”, o grupo diz que realizará até o fim do dia o registro da destruição ambiental já promovida pelo início das obras, além de atividades convocando a população a se mobilizar contra o projeto. Os manifestantes pedem a interrupção imediata do processo e a discussão de melhores soluções para a mobilidade urbana de Salvador.

    Prefeitura cortou dezenas de árvores para construir o BRT em Salvador.

    Segundo nota divulgada pelos integrantes do movimento, a ocupação iniciou com anúncio aos trabalhadores da obra explicando o propósito pacífico do ato e promovendo registros das condições do canteiro e dos equipamentos para evitar futuras acusações de depredação. Os manifestantes avaliam ainda retirar uma parte dos tapumes que cercam a área para revelar à população o desmatamento que está sendo executado em um dos boulevards mais arborizados da cidade.

    Ainda de acordo com o grupo, os Ministérios Públicos Federal e Estadual e o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema) “estão sendo convocados publicamente a visitar a ocupação e assumir o papel de mediação de conflitos do qual têm se omitido” já que “representações da sociedade civil junto aos MPs vêm sendo sistematicamente arquivadas desde 2015, mesmo com farta documentação apresentada apontando irregularidades – que vão desde vícios de licitação até a ausência de licença para tamponar os rios e o plano de manejo de fauna”. Para o Movimento, a omissão destas entidades, faz com que seus integrantes recorram à ocupação do canteiro como meio de oferecer a visibilidade que a situação merece.

    As obras do BRT de Salvador vêm sendo questionadas por diversos especialistas da área de mobilidade, meio ambiente e urbanismo. Quase 70 mil pessoas já assinaram petição online contra a derrubada prevista de 579 árvores na área. Artistas como Caetano Veloso, Camila Pitanga e Nando Reis, entre outros, também se manifestaram contra os planos da prefeitura da capital baiana.

    Diversos artistas se manifestaram contra o BRT em Salvador.

    Segundo técnicos e especialistas, a prefeitura também não apresentou estudos que comprovariam a demanda que justificasse a adoção por este modal de transporte, já considerado defasado, o aporte de investimento também é considerado excessivo para esta solução de transporte.

    Outro ponto polêmico do projeto é o futuro tamponamento de dois rios e a construção de quatro elevados, um tipo de intervenção viária que tem sido evitada em todo o mundo pelo seu grande impacto urbano. Além disso, pelo projeto completo da obra, parte de sua estrutura deverá passar pela região do Dique do Tororó, um cartão postal da cidade e área tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

    O Movimento afirma que mesmo diante da intensa demonstração de insatisfação nas redes e nas ruas, a prefeitura não abriu o diálogo para discutir com a sociedade a pertinência, a viabilidade ambiental e econômica da obra e os seus impactos na cidade.

    Na tentativa de desqualificar o movimento, a prefeitura de Salvador divulgou nota nesta manhã classificando o movimento como realizado por “militantes políticos travestidos de ambientalistas e pré-candidatos a cargos eleitorais”. Ainda segundo texto divulgado pela prefeitura, a Polícia Militar foi acionado e “a invasão foi patrocinada por lideranças locais e nacionais do PSOL, numa atitude que demonstra o caráter partidário e eleitoreiro da ação, que não é pacífica ou democrática, já que se trata de ocupação irregular de uma área pública em obras”.

    O “Movimento Não ao BRT Salvador”, contudo, se configura como um coletivo plural, suprapartidário, com organizações ambientalistas, populares, associações profissionais, pessoas com diferentes formações políticas, profissionais e sociais, que têm promovido manifestações na região aos domingos, realizando panfletagens, discussões sobre questões ambientais, urbanísticas e de mobilidade envolvidas na obra e mobilizado contra o projeto que entendem como injustificado em seus termos e nocivo em seus desdobramentos e resultados.

  • Cartunista dá cartão vermelho para BRT baiano

    Cartunista dá cartão vermelho para BRT baiano

     

    Depoimento de Cau Gomez

    “Sou cartunista mineiro, radicado em Salvador há mais de 20 anos, e que sempre paga muitos impostos por aqui (IPTU, ISS, TFF, IPVA e muitos outros mais). Resolvi ir nessa terça-feira à audiência pública que aconteceu no Ministério Público do Estado da Bahia, que discutiu o projeto do BRT, que poderá ser implantado sobre os rios da avenida ACM, a fim de conhecer o outro lado e ouvir as informações oriundas da Prefeitura de Salvador.

    A audiência, que tinha como objetivo esclarecer publicamente os pontos de tensão causados pela desinformação da própria gestão municipal e, principalmente, pelo corte de belíssimas e frondosas árvores, algumas centenárias, na fase inicial de implantação do modal de transporte, na Av. ACM. Foram aproximadamente quatro horas de embates acalorados, onde pude ouvir a versão oficial de um projeto que cheira ao desperdício de tempo e energia, em todos os sentidos. Uma proposta de mobilidade urbana dispendiosa e que não previa alternativas até então.

    Os participantes, na maioria professores, ambientalistas, engenheiros, urbanistas, ativistas ambientais, estudiosos, jornalistas, advogados, promotores de Justiça e outros cidadãos contrários à imposição da vontade do prefeito ACM Neto, conseguiram um coro muito interessante para ampliar as minhas suspeitas relativas a vários pontos nebulosos da implantação do BRT. Detectei inúmeras questões negativas na proposta oficial: não houve publicidade antecipada do projeto nem consulta aberta à população; os custos da obra são exorbitantes; as árvores centenárias deixarão de existir; e os canais onde escoam os rios urbanos serão tamponados, piorando o clima da cidade e os intermináveis alagamentos a quaisquer dois minutos de chuva. E, por fim, os grandes ganhadores desse caos urbano serão as empreiteiras e o transporte individual. Mais carros circulando nas ruas, poluindo o ambiente, e menos linhas de ônibus – que já foram gradativamente retiradas desde a implementação das estações do metrô – para interligar a população aos futuros terminais do BRT e do metrô.

    É preciso repensar sustentavelmente uma alternativa complementar que proporcione realmente eficiência à mobilidade urbana na região metropolitana da capital baiana, e para todos os cidadãos.”