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Categoria: violência

  • Família de garoto morto em Paraisópolis entrará em campo com o Corinthians

    Família de garoto morto em Paraisópolis entrará em campo com o Corinthians

    Camiseta: Dennys Guilherme Santos, eternamente dentro de nossos corações
    Camiseta: Dennys Guilherme Santos, eternamente dentro de nossos corações

    Em seu último jogo do Campeonato Brasileiro de 2019, contra o Fluminense, na Arena Corinthians, em Itaquera, o Corinthians entrará em campo com um irmão e um primo de Dennys Guilherme Santos, de 16 anos, um dos nove jovens mortos durante o ataque da Polícia Militar aos frequentadores de um baile funk na favela de Paraisópolis, no último domingo.

    Dennys era estudante aplicado e trabalhador dedicado, ganhando a vida como Jovem Aprendiz numa empresa de telemarketing. Morador da Vila Matilde, na Zona Leste de São Paulo, seu sonho era tornar-se administrador de empresas e mostrar para a mãe que um garoto da favela poderia vencer na vida. Nas horas vagas, torcia pelo seu Corinthians. Comparecia aos jogos no Pacaembu e na arena de Itaquera.

    Ao consentir na homenagem, a direção corinthiana atendeu à solicitação de integrantes do Coletivo Democracia Corinthiana (CDC) e do Núcleo de Estudos do Corinthians (NECO), empenhados em fazer valer a tradição centenária do clube alvinegro na luta por uma sociedade justa e solidária.

    Lucas Santos, de 10 anos, irmão mais novo de Dennys, e seu sobrinho, Murillo, de 4 anos, entrarão em campo com seus ídolos. “O pessoal faz um trabalho maravilhoso e fico agradecido de coração pela atenção deles”, diz Rodrigo, irmão mais velho da vítima, integrante ativo dos Gaviões da Fiel.

    Contestação

    A irmã de Dennys, Fernanda Santos, contesta a versão oficial de que a morte do jovem tenha sido em decorrência de pisoteamento. Segundo ela, o adolescente estava sendo socorrido por amigos, em um beco de Paraisópolis, quando a polícia chegou, expulsou os jovens do local e afirmou que socorreria Dennys.

    O rapaz, no entanto, somente foi encontrado no dia seguinte, já morto, no IML. “Ele estava com a barriga coberta, não me deixaram ver. Eu pedi para tocar ele, mas não me deixaram”, afirma Fernanda. Ela examinou o corpo somente no velório. Encontrou apenas uma lesão na cabeça. “Sabemos que não foi pisoteamento”, contesta.

     

     

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  • Marcha pelo Fim da Violência Contra a Mulher em Lisboa

    Marcha pelo Fim da Violência Contra a Mulher em Lisboa

     

    Texto V.G.

    Cobertura Fotográfica Victor Rodolpho Villa Real

    Vídeos Clara Luiza Domingos

     

    As irmãs ativistas dominicanas conhecidas como “Las Mariposas”, Minerva, Pátria, e María Teresa Mirabal, que se opunham ativa e fortemente ao regime ditatorial presidido pelo general Trujillo, entre os anos de 1930 e 1961, na República Dominicana, foram assassinadas em 25 de novembro de 1960 pela polícia secreta, que as espancou até a morte e tentou fazer a brutalidade passar por acidente automobilístico jogando o carro em que estavam a viajar com seus corpos, junto com o do motorista, barranco abaixo na estrada. Foi criada esta data, 25 de novembro, em mémória. A população não engoliu e, aproximadamente 6 meses depois do fato, em 1961, Trujillo é, finalmente, assassinado. 

    Em 1981, durante o primeiro Encontro Feminista Latino-Americano do Caribe, em Bogotá, Colômbia, decidiu-se adotar a data do assassinato dessas supracitadas mulheres como o “Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher” e, em 1999, a ONU (Organização das Nações Unidas) reconheceu a data e criou o “Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres”. Ainda hoje esta é uma luta muito necessária; vide Marielle Franco.

    Na semana passada, a jornalista chilena Albertina Martinez Burgo, de 38 anos, que registrava abusos e agressões policiais durante as recentes manifestações no Chile foi encontrada morta em seu apartamento, sem sua câmera, celular e computador. Veja bem, o que Las Mariposas nos alertam é que não se matam mulheres por matar. Matam-nas quando fazem valer suas opiniões e vontades ou simplesmente por estas serem contrárias às dos homens. Se aos olhos da sociedade parece ser um insulto uma mulher dizer “não” com convicção a um desconhecido qualquer que seja, dando “passe-livre” para classificá-la como agressiva, gerar comentários e narizes torcidos, imagina dizer “não” a um cônjuge ou a uma figura de poder? Isso sem contar a privação da liberdade de ir e vir, em muitas escalas, as quais são submetidas. Ser puxada pelo braço, por exemplo, para fazer valer a vontade, quase incontrolável e animalesca, que os homens têm de controlar as mulheres, é corriqueiro. Quando estas não se calam, são expostas, no mínimo, a uma violência do tipo passiva-agressiva, onde o agressor tenta se passar por vítima aos olhos de terceiros.

    Foi o meu caso, mesmo no domingo último, ao sair da sessão única do filme “Marighella”, no espaço Olga Cadaval em Sintra, Portugal. O rapaz fez-se de tonto e respondeu ao meu grito no escuro de que me largasse, dizendo: “Mas eu só queria te fazer uma pergunta!”. “Pois não me encoste! Se eu quiser a respondo.” foi o que pensei em responder. Pensei. 

    Mulheres que pensam; que discordam; que fazem o que querem, são consideradas audaciosas sob a ótica do patriarcado no qual estamos inseridxs. É natural que a mulher que, através dos ciclos menstruais e suas mudanças hormonais mensais lida com pontos-de-vista e percepção diversos dentro de um mês, saiba intrinsecamente respeitar e valorizar a pluralidade e a vida. Enquanto arquétipo, é subversivo aos olhos vorazes, competitivos e mesquinhos do capitalismo. O capitalismo é egoísta. A natureza feminina arquetípica, não. 

    Em Portugal o Número de feminicídios cresceu 40% desde 2016. Num país considerado pacífico este dado assusta, e muito. Eles estão desatinados com o nosso re-despertar de ativa insurgência. Sim, cá há poucos assaltos, pode-se andar “tranquilamente” pela noite, mas não ouse ter opinião e atitude se for mulher. Ainda há uma forte cultura de culpabilização indireta da mulher vítima de violência doméstica que aqui abre queixa contra seus agressores homens, que respondem pela maior parcela destes mesmos feminicídios. Pode esperar um olhar xereta e desprezível pra com estas vítimas vindas por parte da sociedade. “Mas o que foi que você fez pra ele te bater?” ainda é uma frase comum de se ouvir. 

    Existem muitas formas de violência e controle da mulher além das físicas óbvias. Após a crise econômica de 2011 os preços dos aluguéis só sobem e hoje estão exorbitantes. No país com o menor salário mínimo da União Européia (600 euros), arcar com aluguéis desse valor, ou muitas vezes maiores, sozinhx, é impraticável. Principalmente atualmente, em que a contratação de empregados está a ser substituída pela cultura neoliberal da terceirização através dos chamados “recibos verdes”. Para divorciar-se cá, um valor de 600 euros é cobrado e muitas mulheres não têm esta oportunidade. Manter as mulheres em situação de dependência econômica de seus cônjuges é uma forma violenta de tentar calá-las e privá-las de liberdade. O diferencial salarial se traduz em 58 dias de trabalho não pagos para as mulheres em Portugal pois grande parte dos empregos socialmente desvalorizados e informais são relegados à elas. 

    A Marcha foi linda de se ver e estar. Caminhou do Largo do Intendente até a Praça do Rossio e contou ainda com uma instalação com muitos pares de sapatos que simbolizavam aquelas que, infelizmente, não estão mais entre nós, pois lhes foram tiradas as vidas. 

    https://www.instagram.com/tv/B5TqgcNBIcu/

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Abaixo estão dois Manifestos: da “Marcha pelo Fim da Violência Contra as Mulheres” (que contêm a lista dos movimentos subscritos e não inclui os grupos musicais presentes – Baque Mulher e Ritmos da Resistência – e tampouco os partidos políticos. Os partidos Bloco de Esquerda e Livre participaram ativamente da Marcha e levaram faixas); e, em seguida, o Manifesto da “Rede 8 de Março” que organiza a Greve Feminista no Dia Internacional da Mulher, que em Lisboa neste ano reuniu por volta de 30 mil manifestantes aos gritos com frases como “Caladas nos querem, rebeldes nos terão!” envoltas por uma aura violeta. 

    Manifesto MARCHA 25N 2019 

    LUTO pelas mulheres assassinadas. Em 1999, em memória de Minerva, Pátria e Teresa Mirabal, as dominicanas assassinadas em 1960, e conhecidas como Las Mariposas, as Nações Unidas declararam o dia 25 de Novembro como o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres. 20 anos passados sobre esta declaração, 20 anos passados sobre as manifestações que, anualmente, em todo o mundo, marcaram esta data, homenageando e celebrando a coragem destas três irmãs, em que todas e todos que lutam pela plena implementação dos Direitos Humanos se revêm, passados quase 60 anos sobre o cruel assassinato de Las Mariposas, continua a ser preciso erguer bem alto a voz e dizer que estamos de LUTO pelas mulheres assassinadas, em todos os continentes, vítimas de múltiplas formas de violência de género. Em Portugal, um país com legislação avançada no que diz respeito ao reconhecimento da plena igualdade de direitos das mulheres, os femicídios acontecem a um ritmo assustador. No ano de 2019, em média, houve um femicídio a cada 10 dias. Em Portugal, este ano, em média, foram assassinadas em contexto de intimidade três mulheres por mês. Os números revelam que, também no nosso país, aproximadamente uma em cada três mulheres reconhece ser, ou já ter sido violentada de alguma forma ao longo da sua vida, apenas por ser mulher. Portugal, que se diz ser um país de brandos costumes onde, como na maior parte dos países latinos, “as mães” são aparentemente “idolatradas”, as mulheres continuam a ser as grandes vítimas do sistema patriarcal (e ancestral) porque ainda somos regidas e regidos por práticas sociais atentatórias da liberdade individual de cada mulher. A lei foi à frente tentando marcar o passo, mas as práticas sociais têm-se mantido ofensivamente retrógradas, em muitas circunstâncias, também, apoiadas por sentenças infames e julgamentos públicos sobre a disponibilidade dos corpos das mulheres. A violência contra as mulheres está de tal forma naturalizada em Portugal que, em contextos de profunda brutalidade e de crimes de ódio em razão do género, os media continuam a referir crimes “passionais”, ou a diabolizar as vítimas, por terem escolhido novos parceiros sentimentais, por simplesmente terem deixado de aceitar um quotidiano de violência ou por quererem seguir novos rumos. O caldo “cutural” em que nos movimentamos ainda não reconhece o pleno direito das mulheres a escolherem os seus caminhos e, de forma não oficial, mas “tradicional”, aceita que estes crimes continuem a ocorrer. É por isso que, em 2019, vinte anos passados sobre a declaração do dia 25 de Novembro como Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, estamos na rua em protesto contra a discriminação a que as mulheres continuam a ser sujeitas no nosso país, contra o não reconhecimento do femicídio como um crime de ódio e contra todas as manifestações de violência de género, que são ainda 

    mais abusivas, degradantes e ofensivas no caso de mulheres lésbicas, bi e transexuais, mulheres negras ou de outros grupos étnico-“raciais” oprimidos, mulheres migrantes e mulheres pobres. É por isso que, em 2019, vinte anos anos passados sobre a declaração do dia 25 de Novembro como Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, estamos na rua em protesto contra a discriminação e a violência a que as mulheres continuam a ser sujeitas em todo o mundo, em particular em contexto de guerra e em contextos castradores do ponto de vista cultural, político e religioso. O LUTO pelas mulheres assassinadas que exibimos nas ruas no dia 25 de Novembro de 2019, Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres é o nosso grito individual de compromisso: “LUTO pela erradicação de todo o tipo de violência contra as mulheres!” Em Lisboa, marchamos em LUTO pelas mulheres assassinadas e em atitude de LUTA por todas as mulheres, de todas as condições sociais, culturais, étnicas, funcionais, etárias, reconhecendo-lhes pleno direito de viverem de acordo com a sua orientação sexual, de identidade de género, em paz e numa sociedade que lhes reconheça, e que pratique, a igualdade em todos os seus aspetos. Em Lisboa, 25 de Novembro de 2019, concentração às 17:30 no Largo do Intendente. Partida às 18:00 para o Rossio. SUBSCREVEM: A SEIES – Sociedade de estudos e Intervenção em Engenharia Social AMPLOS ANIMAR APDMGP – Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto CABE – Combate ao assédio ás brasileiras no exterior CASA DO BRASIL CASA QUI FEM – Feministas em Movimento FEMAFRO Festival Feminista de Lisboa GRAAL ILGA IMUNE Humans Before Borders Plano I POR TODAS NÓS – MOVIMENTO FEMINISTA REDE EX AEQUO Rede 8M UMAR- União de Mulheres Alternativa e Resposta”

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/1041173566226978/

     

    “Todas estamos convocadas para a Greve Feminista Internacional 8 de Março de 2019 Juntas somos mais fortes! A cada 8 de Março a rede 8M mobiliza e convoca todas e todos a fazer greve em defesa dos direitos das  Celebramos a união entre as mulheres e mobilizamo-nos em defesa dos nossos direitos. Somos herdeiras das lutas feministas e das resistências operárias, anticoloniais e antirracistas. Reclamamos o património das lutas pelo direito ao voto, ao trabalho com salário, a uma sexualidade livre e responsável, à maternidade como escolha, à habitação, à educação e saúde públicas. Por todo o planeta, somos as mais traficadas e as mais sacrificadas pela pobreza. Somos do país onde existem 6576 mulheres e raparigas vítimas de mutilação genital. Somos as sobreviventes da violência de género, que em Portugal mata, em média, duas de nós a cada mês, 80% das vítimas de violência doméstica e 90.7% das de crimes sexuais. Somos as vítimas da justiça machista, quando esta fundamenta as suas decisões em preconceitos, e da cultura da violação, que desacredita a nossa palavra e desvaloriza a nossa experiência, procurando atribuir-nos a responsabilidade das violências que sofremos. Somos as que vivem em alerta permanente, porque o assédio no espaço público e no local de trabalho continua a estar presente. 

    Somos múltiplas e diversas, de todas as cores e lugares, de todas as formas e feitios, com diferentes orientações sexuais e identidades de género, profissões e ocupações. Somos trabalhadoras, estudantes, reformadas, desempregadas e precárias, do litoral e do interior, do continente e das ilhas. Somos as invisíveis, as negras e as ciganas. Somos tu e eu, somos nós, somos tantas e tão diversas. A 8 de Março, mulheres em todo o mundo levantam-se em defesa dos seus direitos e mobilizam-se contra a violência, a desigualdade e os preconceitos. Porque as violências que sofremos são múltiplas, a Greve que convocamos também o é. No dia 8 de Março faremos greve ao trabalho assalariado, ao trabalho doméstico e à prestação de cuidados, ao consumo de bens e serviços e greve estudantil. Basta de desigualdade no trabalho assalariado! É a nós que nos é exigida a conciliação entre a atividade profissional e a vida familiar, razão que explica que sejamos as que mais trabalhamos a tempo parcial, o que originará reformas e pensões mais baixas no futuro, reproduzindo o ciclo de pobreza. Somos mais de metade das pessoas que ganham o salário mínimo, o que compromete a nossa autonomia financeira. As profissões em que somos a maioria da força de trabalho são muitas vezes social e salarialmente desvalorizadas. Nelas, as mulheres negras e imigrantes são as trabalhadoras mais exploradas e precarizadas. A diferença salarial é, em média, de 15.8%, ou seja, para trabalho igual ou equivalente, os nossos salários são inferiores, o que faz com que trabalhemos 58 dias por ano sem receber. Os cargos mais bem pagos são ocupados por homens, embora sejam as mulheres as que mais concluem o ensino superior (60.9%). A desigualdade salarial com base no género está presente em todo o lado, nas empresas e instituições privadas e públicas. Exigimos salário igual para trabalho igual ou equivalente e a reposição da contratação coletiva como forma de proteger o trabalho e combater as desigualdades. Temos direito a um projeto de vida digno e autónomo: não somos nós quem tem de se adaptar ao mercado de trabalho, é ele que tem de se adaptar a nós. A gravidez ou os cuidados com descendentes e ascendentes não podem ser o argumento escondido para o despedimento ou a discriminação. Basta de desigualdade no trabalho doméstico e dos cuidados! Para além do trabalho assalariado, muitas mulheres, sem que a maior parte das vezes isso resulte de uma escolha, têm de desempenhar diversas tarefas domésticas e de prestação de cuidados e assistência à família. Este trabalho gratuito, desvalorizado e invisibilizado ocupa-nos, em média, 1 hora e 45 minutos por dia, o que corresponde, durante um ano, a 3 meses de trabalho. A contratação de serviços domésticos reproduz muitas vezes várias desigualdades – raciais, de género e de classe, porque é um trabalho frequentemente desenvolvido por mulheres migrantes e racializadas, sem contrato e sem direitos. Reclamamos o reconhecimento do valor social do trabalho doméstico e dos cuidados e a partilha da responsabilidade na sua prestação. Propomos que este tipo de trabalho seja considerado no cálculo das reformas e pensões e defendemos o reconhecimento do estatuto de cuidador/a. Defendemos a redução do horário de trabalho e igualdade nos tempos de descanso e de lazer. Queremos respostas públicas de socialização de tarefas domésticas e de cuidados, das creches às residências assistidas e de cuidados continuados, das cantinas às lavandarias. Basta de reprodução das desigualdades e do preconceito nas escolas! Os currículos pelos quais estudamos continuam a contar a história dos vencedores, reproduzindo vieses de género, classe e raça. A praxe académica, onde o poder é exercido por meio da humilhação, reproduz violência machista, lesbitransfóbica e racista, estereótipos e preconceitos de género e objetificação dos nossos corpos. Defendemos o direito a conhecer a nossa história e a das resistências ao machismo e ao colonialismo, as alternativas económicas, culturais e ambientais. Exigimos o direito a uma educação pública e gratuita em todos os seus níveis. Reivindicamos uma escola da diversidade, crítica, sem lugar para preconceitos e invisibilizações, uma escola livre de agressões machistas e lesbitransfóbicas, dentro e fora das salas de aula, uma escola empenhada na educação sexual inclusiva como resposta ao conservadorismo. Basta de estereótipos e de incentivos ao consumo! Identificamos nos media, nas redes sociais, na publicidade e na moda a difusão da cultura machista. Rejeitamos a sociedade de consumo, que nos condiciona a liberdade e nos transforma em consumidoras. Não somos mercadoria e, por isso, recusamos a exploração dos nossos corpos e das nossas identidades, os estereótipos que ditam medidas- padrão, ideais de beleza formatados, gostos, comportamentos e promovem estigmas e discriminações. Porque exigimos ser protagonistas das nossas vidas e donas dos nossos corpos, recusamos o negócio em torno da nossa sexualidade e saúde reprodutiva e reclamamos a gratuitidade dos produtos de higiene. Basta de destruição ambiental! Recusamos as políticas neoliberais, porque elas são predatórias, destroem a biodiversidade, provocam alterações climáticas e originam milhões de migrantes ambientais, o que dificulta de forma muito particular a vida e a sobrevivência de mulheres, que, em muitas zonas do planeta, são quem se dedica à agricultura e tem a responsabilidade de prover a família de alimentos. Estamos solidárias com as mulheres indígenas que resistem à 

    globalização e estão comprometidas com as lutas contra as alterações climáticas, contra a dependência de energias fósseis e em defesa da soberania alimentar. Basta de guerra e de perseguição às pessoas migrantes! Rejeitamos as guerras e a produção de armamento. Para saquear matérias-primas e garantir controlo geopolítico e económico, destroem-se culturas, dizimam-se povos e expulsam-se populações dos seus territórios. As guerras originam milhões de pessoas refugiadas, entre as quais muitas mulheres e crianças, vítimas de redes de tráfico humano e sexual, da pobreza e da destruição. Levantamo-nos pelo fim das guerras, pelo acolhimento das pessoas migrantes e em defesa da alteração da lei da nacionalidade. No mundo ninguém é ilegal! Quem nasce em Portugal é português/portuguesa! Todas estamos convocadas para a Greve Feminista. Todas temos mil e uma razões para protestar, parar, reivindicar. Fazemos Greve porque não nos resignamos perante a desigualdade, a violência machista e o conservadorismo. Fazemos Greve para mostrarmos que as mulheres são a base de sustentação das sociedades. 

    VIVAS, LIVRES E UNIDAS! 

    SE AS MULHERES PARAM, O MUNDO PÁRA!”.

     

  • CIDH vai a Bolívia ouvir vítimas

    CIDH vai a Bolívia ouvir vítimas

    A Comissão Interamericana de Direitos Humanos esteve nos dias 24 e 25 de Novembro na Bolívia visitando as algumas áreas, e recebendo denúncias da população. O Secretário- Executivo da CIDH, Paulo Abrão foi pessoalmente ao local.

    O Massacre na Bolívia

    Em nota divulgada no dia 20.11, o organismo vinculado à OEA (Organização dos Estados Americanos), condenou a ação das Forças Armadas e policiais na repressão aos protestos realizados no país, e classificou como “inadmissível” o decreto da autoproclamada presidenta Jeanine Áñez que visa eximir de responsabilidade penal os militares que participem das matanças.

    Além disso, o comunicado também adverte sobre “as ameaças dirigidas a líderes do governo anterior, parlamentares e dirigentes sociais” ligados ao partido MAS (Movimento ao Socialismo), assim como “a funcionários e dirigentes de instituições independentes do Estado, como os organismos nacionais de promoção e proteção aos direitos humanos”.

     

    Mais na nota oficial:

    http://www.oas.org/es/cidh/prensa/comunicados/2019/301.asp?fbclid=IwAR2db8GDwY8rvKt3zyme_mXxlSPx9T489KCXiIH3NSw5RXSyHbZaAc4MqME

     

     

  • QUEM SEQUESTROU LUCAS?

    QUEM SEQUESTROU LUCAS?

    Segundo familiares, na última terça (12), o jovem foi raptado da frente de sua casa por policiais e colocado dentro de uma viatura. Até o fechamento dessa reportagem, Lucas continuava desaparecido.
    Nesta sexta (15), sua família passou o dia no Instituto Médico Legal de Santo André para realizar exames de DNA, isso porque depois da pressão de reportagens veiculadas do dia do rapto para cá, um corpo de um jovem não identificado foi encontrado na represa Billings, região sul de SP, próximo do local onde Lucas fora sequestrado pela polícia.
    Na quarta (13), pela manhã, o irmão de Lucas Eduardo Martins dos Santos registrou depoimento no 6° DP de Santo André, num dos trechos do Boletim consta que:
    “por volta de 1h30 o declarante diz ter ouvindo barulho de carros e portas batendo em frente a sua residência, momento em que olhou pela janela e viu tratar-se de policiais militares, que se dirigiram a parte de baixo do imóvel, local onde residem seus irmãos e a madrasta T. Os policiais foram recebidos pela senhora T. (…) que foi indagada sobre quem residida naquela local e se havia algo de errado no interior da residência, e se poderiam adentrar”. Os policiais não entraram na casa, mas perguntaram quem morava lá e em seguida teriam ido embora.
    Esses fatos aconteceram no Jardim Santa Cristina, região periférica de Santo André, onde Lucas, um garoto negro, como são os alvos prediletos da polícia brasileira, mora. Ainda no Boletim, o irmão de Lucas declarou que:
    “no momento da chegada dos policiais, sua madrasta afirmou ter ouvindo uma voz, que não pode afirmar ser de Lucas, dizendo: eu moro aqui! Logo que os policiais deixaram o local, o declarante e seus familiares passaram a procurar por Lucas”.
    Durante a busca avistaram um usuário de entorpecentes que costumeiramente perambula nas proximidades. Esse rapaz vestia uma blusa cinza, de moletom pertencente à Lucas.
    O jovem irmão de Lucas questionou o usuário sobre como teria adquirido a blusa e esse respondeu: “encontrei atrás da E.E. Antônio Adib Chammas”. Neste momento familiares de Lucas foram até o local e acharam também um boné que o garoto usava naquela noite.
    Na própria quarta moradores do bairro organizaram um ato público nas ruas do bairro, exigindo justiça e solução para o rapto do garoto. A manifestação seguiu pelas ruas próximas da Av São Bernardo, até que foi violentamente reprimido pela PM, com sua habitual resposta de tiros a esmo com bombas de gás e truculência. Na quinta (14) mais um ato de resistência foi realizado. Mais uma vez seguindo pela Av São Bernardo, até o terminal Vila Luzita, passando ela escola onde encontram as roupas de Lucas e finalizado na Av. São Bernardo. A polícia foi obrigada a se controlar, uma vez que o caso já havia sido veiculado por alguns veículos de imprensa.
    A ouvidoria da PM já abriu um procedimento para acompanhar o caso. Enquanto isso, no exato momento em que você está lendo esse texto, os familiares do garoto seguem aflitos, fazendo buscas mas, principalmente transtornados com o desaparecimento. Fora o clima de terror, medo e hostilização que vizinhos têm passado com a conduta violenta da Polícia que intensificou as patrulhas, como nunca fora visto antes, com movimentações, olhares ameaçadores. A corporação diz ter afastado os policiais envolvidos. No IML, um corpo que fora exposto hoje à família não foi reconhecido. Os parentes fizeram exame de DNA e o Instituto Médico Legal deu um prazo de 10 dias úteis para o resultado.
    Enquanto isso, a aflição e a tristeza são os sentimentos da família e moradores da comunidade de Lucas. Mas o medo de um Estado que deveria proteger, sobretudo crianças e adolescentes é sem dúvida, muito maior do que tudo. O pior é pensar que para talvez solucionar o rapto do garoto, o único meio e equipamento acessível para essa família, seja o próprio Estado. Mas como confiar numa Instituição que hostiliza, sequestra, barbariza e mata?
    Sem dúvida, um dilema que de dentro dos espaços de privilégio é quase que invisibilizado por uma grande parcela da população. Um caso como esse, suscita, inclusive, a reforma do sistema de segurança, das alternativas sobre a abolição do tráfico de drogas e outros pontos que fazem com que a justiça seletiva esteja tão normatizada nos quatro cantos do país
    A rede de colaboradores dos Jornalistas Livres vai acompanhar o caso, minuto a minuto e trará  atualizações em breve.
  • Ketellen Gomes, cinco anos, a 6ª criança morta por bala perdida no Rio

    Ketellen Gomes, cinco anos, a 6ª criança morta por bala perdida no Rio

    Por Gil Alessi , Via El País    São Paulo 13 NOV 2019

    violência armada no Rio de Janeiro fez uma nova vítima nesta terça-feira. Ketellen Umbelino de Oliveira Gomes, 5, foi atingida por uma bala perdida quando ia para a escola acompanhada da mãe, em Realengo, zona oeste da cidade. Ela chegou a ser levada para o hospital Albert Schweitzer, mas não resistiu. Além de Ketellen, Davi Gabriel Martins do Nascimento, 17, também foi morto por um projétil de arma de fogo. De acordo com a Polícia Militar, os disparos que mataram ambos foram feitos a partir de um veículo que passava pelo local —os ocupantes ainda não foram identificados.

    A jovem engrossa uma triste estatística fluminense: é a sexta criança morta por bala perdida no Rio de Janeiro neste ano. Em fevereiro, Jenifer Gomes, de 11 anos, foi baleada em Triagem, na zona norte da cidade. Um mês depois foi a vez de Kauan Peixoto, 12, ser morto durante uma operação da Polícia Militar na Chatuba, Baixada Fluminense. Maio foi marcado pela morte de Kauã Victor Rozário, 11, na Vila Aliança, em Bangu, enquanto ele andava de bicicleta —PMs são suspeitos do crime. Em setembro Kauê Ribeiro dos Santos, 12, morreu ao ser atingido por disparo na cabeça no Complexo do Alemão (familiares dizem que ele foi morto por policiais). Por fim, a pequena Ágatha Félix, de 8 anos, foi morta em outubro também no Complexo do Alemão, enquanto estava em uma van. Outras dez crianças foram atingidas este ano, mas sobreviveram, segundo a plataforma Fogo Cruzado.

    Estes episódios de violência, que geralmente aconteceram em consequência de ações policiais nas comunidades, colocaram o governador Wilson Witzel (PSC) na mira dos críticos —ainda que no caso de Ketellen não haja evidências até o momento disso. Ele sempre foi um defensor do enfrentamento entre forças policiais e tráfico, independentemente do impacto que essa política possa ter para os moradores. Durante o mandato de Witzel também dispararam as mortes cometidas por agentes do Estado: houve um aumento de 16% nos primeiros oito meses de 2019 com relação ao mesmo período do ano passado.

    Segundo estudos, mais de 90% das mortes cometidas por policiais em operações não são devidamente investigadas e acabam arquivadas, um estímulo à impunidade. Relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito dos Autos de Resistência (nome dado para ocorrências com morte envolvendo PMs) da Assembleia do Rio, de 2018, concluiu que 98% dos casos ocorridos entre 2010 e 2015 foram arquivados.

    O caso de Ágatha foi emblemático deste padrão: de acordo com a revista Veja, entre 10 e 20 policiais invadiram o hospital para onde ela havia sido socorrida e exigiram dos médicos a bala retirada de seu corpo, o que não conseguiram. A conclusão óbvia é que eles buscavam dificultar a apuração do caso, e a munição poderia apontar para um disparo feito por agente do Estado.

    O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, chegou a propor em seu pacote Anticrime a ampliação do excludente de ilicitude (ocasiões nas quais o policial poderia matar sem responder criminalmente). O texto elaborado pelo juiz previa, por exemplo, que o PM que matar agindo sob “forte emoção” não seria processado. Alvo de críticas, este trecho foi suprimido pelos parlamentares. Uma versão da proposta deve ser votada ainda este ano no Congresso.

  • Chile: falsa normalidade

    Chile: falsa normalidade

    Desde o governo, no trabalho, em algumas instituições de ensino e inclusive em grupos familiares ou de amigos, nos pedem que depois de mais de 20 dias de manifestações no Chile voltemos à “normalidade”. Mas desde o momento em que acordo até a hora que vou dormir percebo que esse desejo de alguns é impossível de ser realizado. É, inclusive, violento o simples fato de ser solicitado.

    Por Amanda Marton Ramaciotti, jornalista brasileira-chilena

    Como posso voltar à normalidade quando o Instituto Nacional de Direitos Humanos (INDH) relata diariamente sobre a quantidade de pessoas que foram vítimas da violência policial durante as manifestações e o número só aumenta?

    Até agora, sabemos que 23 pessoas perderam a vida durante a crise social. Oficialmente, cinco faleceram em mãos dos agentes do Estado e outras duas enquanto estavam detidas em delegacias. Mas também há outros casos até agora sem explicação, como o de Yoshua Osorio (17 anos), quem, segundo os documentos, morreu em um incêndio. Mas, de acordo com a autópsia do Instituto Médico Legal, o corpo possuía três orifícios na região do tórax.

    O INDH também informou que 1.915 pessoas foram feridas, 1.003 delas pelo disparo de diferentes tipos de balas, sendo as principais de chumbo e de borracha.

    Nesse período, o Chile quebrou um triste recorde: se transformou no país do mundo com mais pessoas com lesões por balas de borracha. 180 foram afetadas. 30% delas ficaram completamente cegas de um olho. Enquanto escrevo este texto, o jovem Gustavo Gatica (21 anos), quem perdeu a vista de um olho, está tendo o outro operado para não ficar completamente cego. Uma série de pessoas se manifestaram do lado de fora da clínica para apoiá-lo, mas foram reprimidos pela polícia.

    Em paralelo, 262 pessoas iniciaram uma ação judicial contra os organismos do Estado. 171 delas por torturas e maus-tratos.

    Não é possível voltar à normalidade para quem foi ferido, para quem perdeu a vista, para quem foi torturado. Para quem morreu.

    E apesar de tudo isto, o Presidente do país, Sebastián Piñera, propôs na sexta-feira um projeto de lei que dá mais poder aos policiais. O mandatário reconheceu situações de excessos. Mas negou que haja uma violação aos direitos humanos.

    Tampouco é possível pensar em normalidade quando caminho pelas ruas e vejo as mensagens deixadas nas paredes. “Estado assassino”; “Piñera, vai embora”; “esqueceram de nós”; “a polícia nos estupra”; “exigimos nova Constituição” (…) e alguns que despertam um sorriso “tenho mais medo da minha mãe do que de vocês” e o clássico de todos os tempos “faca amor, não faca a guerra”.

    Nas ruas, de domingo a domingo, há manifestações. Algumas pacíficas, outras, violentas. Mas todas, sem exceção, terminam com esse cheiro insuportável das lacrimogêneas e de gás pimenta. Esse odor que fica impregnado no nosso cabelo, em cada um dos nossos poros. Que dá a sensação de que não poderemos voltar a respirar ou a abrir os olhos. E logo, o fogo. As barricadas. O caminhar de um lado para o outro em um labirinto sem fim entre os encapuzados e os policiais. E o metrô não está aberto. Os ônibus não passam. Isto não é normal.

    De qual normalidade estão falando quando os meus colegas jornalistas denunciam que estão sendo censurados, ameaçados a não difundir as suas opiniões pessoas no Twitter ou Facebook? Como posso voltar à normalidade quando abro as redes sociais e já não sei distinguir o quê é verdadeiro do que é falso? Quando leio uma entrevista do Piñera alterando a sua própria declaração de que “estamos em guerra contra um inimigo violento” e tergiversando essa informação ao explicar que o que queria dizer é que “estamos em guerra contra a pobreza e a desigualdade”?

    As poucas tentativas de regressar à normalidade se viram frustradas. Na segunda-feira, a Pontificia Universidad Católica de Chile —a mais importante do país— abriu suas portas para uma jornada de reflexão e logo o começo das aulas. Os alunos votaram imediatamente por uma greve indefinida. Durante a tarde, alunos de um dos edifícios denunciaram a repressão policial dentro da universidade. De noite, um grupo invadiu a sede da PUC e roubou objetos para formar uma barricada. No dia seguinte, a universidade fechou novamente.
    E também existe outro lado. O das pessoas que temem a violência dos manifestantes. As que apóiam os protestos, mas que já não querem ver o comércio fechado, as ruas sujas, os edifícios prendendo fogo. As que demoram horas e horas para chegar a casa porque o transporte está interrompido. As que estão desesperadas para regressar ao trabalho porque senão lhes será impossível pagar as contas no fim do mês. Para elas também não é nada normal.

    E atualmente eu me pergunto, a qual normalidade querem regressar o governo, o trabalho, algumas instituições de ensino e inclusive alguns grupos familiares ou de amigos? A que existia antes já não é possível. Ou é a essa normalidade de um grupo de privilegiados que não sabia —ou fingia não saber— que o Chile é um país desigual? Ou essa normalidade “linda” que os turistas percebem quando visitam Santiago porque (surpresa!) todos os atrativos turísticos da cidade estão na parte mais bela e bem cuidada da cidade?

    “Normalidade”. Sempre estivemos vivendo uma anomalia. Se insistirmos em voltar a ela, talvez, com o tempo consigamos. Mas será falsa. E sabemos onde essa falsa normalidade nos levou.