Porque eles são maus, são sádicos e são covardes. Domingo infiltrando sua madrugada fria entre ratos nos canos podres sob o asfalto, chão sujo da metrópole perversa com a miséria alheia.
Nos chega a notícia às seis da manhã, que centenas de coturnos e seus uniformes de batalhões cercam a região central. A Cracolândia não só será invadida, mas desocupada e demolida. As armas e os homens na ação seriam suficientes para transformar todos em carne moída na cidade pobre, pois são tão fracos os que ameaçam, vulneráveis à toda repressão arrogante que invade.
São cegos os que querem esterilizar as ruas, embaixo do asfalto pretendem esconder as carências e mazelas dos excluídos. É governador, é prefeito, é capitão, é médico, todos se orgulham da mão de ferro do Estado, encaram os mais fracos como se nada acontecesse no poder que nos massacra em suas falcatruas. Removem das ruas o espelho de suas promiscuidades, entendem a saúde pública como um problema de polícia e autoridade.
Como dizem os sujos cartazes, velhos poetas na parede desafiam: redução de danos, o mundo não some quando você fecha os olhos. Atravessar o deserto das razões no céu como se fosse bêbado. O que será que juram os profetas embriagados?
O alimento tradicional entre as etnias indígenas é a grande marca entre um povo em equilíbrio. Poder e saber comer é elo entre a terra e os homens que nela habitam. Ter contato com novas culturas sempre varia o cardápio secular das comunidades, muitas vezes se enriquecem ou se complementam, mas é regra que se contaminam com alimentos processados e industrializados tendo no acréscimo do sal, açúcar e gorduras seu maior prejuízo.
A roça e a caça fartavam os que delas sempre se alimentaram quando as chuvas lambiam as matas e o trabalho no roçado mostrava sua graça. Mas nem tudo é mais coleta entre os clãs, as mudanças climáticas no avanço das propriedades e o abraço do agronegócio entre antigos sertões introduziram mudanças em padrões alimentares há muito aprimorados. Rapidamente desfazem antigas tradições entre os produtos baratos e de má qualidade oferecidos aos mais pobres e açoitados por publicidade voraz.
Sucos em pó, guloseimas coloridas, inventos com farinhas saborizadas. Conservantes, acidulantes, açúcares, propionato, amaciantes, corantes, antioxidantes, espessantes; tudo vai criando rima com o ambiente que se desnutre e carece. DDT, acefato, alacloro, aldrin, ametrina, atrazina, bromofós, glifosato, ciromazina, fentoato, malationa, mirex, tiran, zoxamida; uma melodia dissonante de agrotóxicos vai violando a terra e silenciando o balé de abelhas, borboletas e beija flores que cortavam os campos. Tudo é silêncio na vastidão verde da soja, milho ou sorgo que rasgam o cerrado e cortam a Amazônia em novos padrões de produção. Aldeias isoladas em áreas demarcadas sofrem gradualmente a influência de nossa má nutrição, a obesidade e o diabete invadem, na calada e sorrateiras, a saúde indígena.
Equipe de profissionais do Projeto Xingu/EPM-UNIFESP, ensina às mulheres indígenas a reconhecerem as armas silenciosas que inventamos, como o óleo, o sal e o açúcar. Mulheres indígenas descobrem que os perigos são muitos e tudo registram em nova tecnologia para compartilhar com os seus.
Entre tantos desafios oferecidos nesse momento aos povos indígenas, entender nossos alimentos e tudo que neles existe em seu processamento, é apenas um dos mais graves comprometimentos nessa terra que se fundi em sua diversidade. Saber comer é de grande valia entre tantas armadilhas que inventamos. Antigamente o supermercado era o rio e a mata. Agora se perdem entre embalagens e sabores, tudo engana.
A Polícia Federal PF e a operação Carne Fraca (não sei de onde veio este nome) declarou à imprensa que as maiores empresas de pecuária e corte e seus frigoríficos fraudavam o processo de produção de carne no país. Boa parte para a alimentação escolar, porem a fraude também era exercida para o mercado privado. Segundo a PF, o Ministério da Agricultura era o grande articulador e interlocutor da adulteração dos alimentos.
Porem existe algo que devemos dialogar que não se refere apenas a operação da PF que na linguagem popular deveria chamar: Carne Podre. Alguns questionamentos e reflexões são fundamentais para a garantia dos direitos humanos, em especial o direito humano a alimentação adequada.
A que custo vale a vida? Alimentos sólidos ou líquidos são a base fundante para que nosso corpo resista ao cotidiano de atividades físicas e laborais. Nossa vida não pode valer a ganância e o lucro de ruralistas que trazem o modelo do agronegócio, baseado na revolução verde dos anos 80, como uma forma única de abastecimento alimentar do país.
Comer é um ato político e segundo o organizador do SlowFood, Carlo Petrini, o poder de articulação entre os campesinos e a população é uma estratégia objetiva para romper com a quase nenhuma soberania alimentar que vivenciamos nos tempos atuais.
E se é política a escolha do alimento, mais do que nunca é hora de fortalecer a agricultura familiar agroecológica, garantir a Segurança Alimentar e Nutricional como um direito inalienável, superar a ideia de que alimento é mercadoria. É também importante garantir a produção nas grandes cidades através da agricultura urbana, pensando as praças, parques e lotes vagos que hoje estão dispostos a especulação imobiliária como espaços de produção.
Lutar é preciso. O agronegócio é o PIB de um país que lucra com a morte de milhares de pessoas por doenças como câncer, diabetes e dentre outras provocadas pela transgenia dos alimentos, veneno na produção agrícola. Quem perde com isso é o povo brasileiro, a fauna e flora. Não haverá biodiversidade enquanto o lucro for mais importante do que a Terra.
Lutar é necessário. Garantir aos agricultores e agricultoras familiares a condição real de assistência técnica e fomento para a produção de alimentos saudáveis, superar o estigma de que comer caro. Só quando os governos estiverem articulados aos movimentos sociais haverá circuitos curtos de comercialização e uma nova legislação sanitária que coloque fora de nossas casas as carnes pobres e nos garanta os produtos beneficiados pelo campesinato.
Comida de verdade no campo e na cidade só é possível se existir uma nova forma de lidar com o campo, pensando a ruralidade, as tradições e o conhecimento popular. Só será possível quando estivermos dispostos a construir uma nova ordem societária longe da opressão e da desigualdade, em que a relação ecológica não seja um marketing empresarial, mas sim um norteador para o equilíbrio do planeta.
Leonardo Koury – Professor, assistente social e militante dos movimentos sociais
O prefeito Dória e seu secretário Wilson Pollara tem como missão atual fechar as farmácias municipais e passar a distribuição gratuita de medicamentos para a iniciativa privada, atualmente a distribuição dos medicamentos é feita pelas farmácias localizadas nas Unidade Básica de Saúde (UBS) e Assistência Médica Ambulatorial (AMA).
O discurso utilizado por Dória e e seu secretário Wilson Pollara é que o sistema atual não funciona, tem alto custo, problemas logísticos e existem faltas frequentes de medicamentos, sendo assim, a solução é passar a distribuição para as redes privadas que tem o conhecimento necessário para executar essa tarefa perfeitamente. Doria e Pollara querem que as grandes redes Drogaraia, Drogasil, Drogaria São Paulo e Onofre cuidem da distribuição dos medicamentos. Em entrevista, Pollara diz “Nós não conseguimos entregar remédio nas Unidades Básicas de Saúde. É impossível competir com a rede logística das farmácias (privadas).”, nesta mesma matéria são citadas as grandes redes novamente.
[…]o Programa Remédio Rápido, que fará com que as receitas sejam emitidas nas UBSs e a retirada dos remédios seja feita nas grandes redes de farmácias espalhadas pela cidade, com mais agilidade e praticidade. Já fizemos reuniões com vários grupos de empresas da área e, felizmente, a aderência tem sido surpreendentemente positiva.[…]
É de se estranhar essa postura de Dória, pois, se existe um problema de distribuição é necessário identificá-lo e resolvê-lo ao invés de simplesmente passar a distribuição para as redes privadas. Inclusive essa a opinião da promotora Dora Strilicherk ao investigar a falta de remédios na rede pública em 2016.
“[…]há mais problema de gestão do que de falta de recursos nos dois sistemas.As farmácias informam órgãos centrais que haverá falta de medicação, mas a compra não é feita na velocidade adequada, diz a promotora.”Cabe a quem está acima hierarquicamente pegar essa informação e tomar a providência cabível. Se é sabido que se pode ter problemas com os prazos, é preciso planejar. Se comprar antes, não vai faltar”, diz Strilicherk.”
Outro fato importante é que o Ministério Público enviou em Janeiro um ofício solicitando que”divulguem, em até 40 dias, quais medicamentos estão em falta(em cada unidade) e qual o prazo para que sejam repostos e voltem a ficar disponíveis para a população”. É curioso notar que a Secretaria Municipal de Saúde não tem sistematizado os medicamentos em falta e qual o prazo para repor mas sabe que a melhor saída é passar para a gestão privada essa responsabilidade. Em que dados Dória e Wilson Pollara se fundamentam?
A partir do exposto, criei alguns mapas para analisar quem serão os principais afetados pelo fechamentos das farmácias e a transferência da distribuição dos medicamentos para a rede privada.
Nos mapas utilizei as três maiores redes privadas de farmácias em São Paulo, que são Drogaria São Paulo, Drogasil e Drogaraia, todas são tratadas como uma grande rede privada nos mapas. Já na rede pública estão unificadas as UBS e as AMAS. O endereço das farmácias foram obtidos a partir do site delas e os da UBS e AMAS do portal Geosampa da prefeitura, depois cada endereço foi transformado em um ponto no mapa.
Vamos aos mapas
Localização das farmácias públicas e privadas em São Paulo
Nos dois mapas abaixo temos a área de cobertura de cada estabelecimento, quanto menor o polígono melhor, pois significa que a distância até percorrida a farmácia é menor e também uma área de cobertura menor por unidade, o que evita superlotação e a demora no atendimento.
Em seguida dois mapas de calor comparando a presença das redes públicas e privadas, eles monstram aonde há uma concentração das farmácias, sendo o vermelho “mais quente”, amarelo o “morno” e o azul “o mais frio”.
Mapa de calor das principais redes de farmácias privadas em São Paulo
No mapa abaixo é analisada a distância que as pessoas terão que percorrer com o fechamento das farmácias das UBS e AMA pela gestão Dória.
Distância da rede pública de farmácias para a rede privada mais próxima
Pelos mapas acima fica claro que as grandes redes estão concentradas no centro e nas regiões mais ricas e que os mais afetados pelos fechamentos das farmácias públicas municipais serão as periferias, os mais pobres, aqueles que não podem arcar com um plano de saúde e dependem do SUS e o idosos. Dória inclusive tem planos para limitar o benefício do passe livre para os idosos, fazendo com que sejam duplamente afetados pela suas políticas.
Conferimos o que a Secretária de Municipal de Saúde fez nos últimos dois anos para aprimorar a logística dos medicamentos:
O processo logístico de uma Rede de Saúde Municipal composta por 976 unidades espalhadas em um território de 1.509 Km2[…]e que deve atender, potencialmente, cerca de 11 milhões de habitantes[…]
As 566 farmácias da Prefeitura de São Paulo são responsáveis por entregar 279 tipos de medicamentos, dispensando cerca de 28 milhões de receitas por ano – há 10 anos, em 2005, esse número era de 9.660.547. Entre medicamentos para dispensação, medicamentos para uso interno nas unidades de saúde e insumos em geral – luvas, aventais, etc –, a logística da SMS para Atenção Básica e Especializada movimenta 1.200 tipos de itens. Por ano, a logística da Secretaria transporta cerca de 2 bilhões de unidades de insumos e medicamentos, totalizando um valor de R$345 milhões em 2015, até novembro.
O núcleo duro dessas operações é a Central de Distribuição de Medicamentos e Correlatos (CDMEC), que fica no bairro do Jaguaré. Em um espaço de 13mil m², dez galpões armazenam todos os insumos, guardando diariamente cerca de R$ 90 milhões em produtos que chegam e saem quase ininterruptamente. Diariamente, 38 veículos climatizados circulam de 6h até 16h por toda a cidade.
As melhorias no sistema logístico e burocrático se traduzem em diminuição de custos – de até R$ 44,610 milhões potenciais para serem gastos na logística em 2015 até outubro, segundo um contrato flexível, a Prefeitura gastou apenas R$ 40,231 milhões. Foram economizados R$4,379 milhões para o Município, conferindo maior rapidez ao abastecimento das unidades e consequente maior acesso do cidadão aos medicamentos – entre junho e novembro deste ano, já houve uma queda de 65% nas queixas com relação à falta de medicamentos oferecidos pela Prefeitura na Ouvidoria Municipal.
[…]o reabastecimento às unidades já foi mensal e passou a quinzenal; agora, funciona a cada 8 dias úteis e deve passar a semanal, já havendo um piloto para testar o novo sistema em cinco unidades[…]
[…Esta maior precisão quanto ao consumo real das unidades também permitiu que a Prefeitura fizesse, pela primeira vez em 2015, um planejamento anual de compras de insumos e medicamentos. Para 2016, além de analisar históricos de estoque e consumo, esse planejamento anual incluirá também histórico e projeção de preços dos produtos.
O planejamento, além de possibilitar uma melhor visão aos gestores, permite que se reduzam as compras emergenciais, ou seja, feitas sem os procedimentos normais de licitação e quando há situação crítica de desabastecimento. Em 2015, a porcentagem de compras emergenciais foi de apenas 3%[…]
Ora, Dória e o Secretário Wilson Pollara dizem que o sistema não funciona mas não apresentam dados. Alegam que a prefeitura gasta 500 milhões de reais com logística por ano, enquanto a gestão passada diz que gastou 40,23 milhões de reais com logística de janeiro a outubro de 2015. A conta não fecha. De qual fonte o novo prefeito tirou este dado de 500 milhões gastos com logística? Dória precisa apresentar esses números e fontes. Além disso, há os medicamentos e insumos usados pelas equipes dentro das unidades básicas de saúde que são distribuídos pelo mesmo processo logístico dos medicamentos que Dória quer extinguir. O que Dória irá fazer para garantir nas UBSs esses insumos e medicamentos para os atendimentos? Irá mandar comprar nas farmácias privadas também?
São 1.200 tipos de itens e 279 tipos de medicamentos entregues pelas farmácias da prefeitura, dispensando cerca de 28 milhões de receitas por ano e transportando cerca de 2 bilhões de unidades de insumos e medicamentos. Não se pode simplesmente dizer que isso não funciona e passar para a iniciativa privada sem apresentar dados confiáveis e estudos.
Outro aspecto importante que destaca o Sindicato dos Farmacêuticos:
“A assistência farmacêutica não é somente entrega de remédio. Você perderá o acompanhamento farmacêutico junto à equipe multidisciplinar que atende às suas necessidades na unidade pública de saúde. Isso afetará, por exemplo, a retirada de medicamentos em casos de dúvidas sobre as receitas – hoje, os técnicos e farmacêuticos entram em contato diretamente com os outros profissionais e sanam os problemas com mais agilidade, evitando que o paciente tenha que retornar ao médico apenas para pegar uma nova receita.”
Por fim, Dória faz muita propaganda em cima do programa “Remédio Rápido na Farmácia Amiga” mas não responde perguntas básicas sobre o como será feito o controle, a fiscalização, o preço de compra desses medicamentos, como a população será atendida, entre outras questões. Sobretudo, não responde como lidará com a ausência de farmácias privadas nas periferias, e as consequências dessa ausência para a população.
por Raquel Wandelli, especial para os Jornalistas Livres
O prefeito de Florianópolis, Jean Loureiro (PMDB), propôs uma rodada de negociação com os municipários em greve, depois de uma forte manifestação realizada pela categoria no Centro de Florianópolis ontem (20), no final da tarde. Cerca de sete mil servidores públicos municipais estão em greve há 36 dias contra um pacote de medidas que retira todos os direitos dos trabalhadores, além de desmontar o sistema de saúde do município, que é um modelo para o país desde a implantação do SUS. A rodada começou no final da tarde, logo após a passeata, sem apresentação de nenhuma proposta, mas a reunião de fato, que deveria ter prosseguido hoje pela manhã, na Prefeitura, não aconteceu. O prefeito preferiu judicializar a conversa, convocando uma reunião para amanhã (23), às 9 horas, no Tribunal de Justiça, internediada pela desembargadora que decretou a ilegalidade da greve, Vera Lúcia Cepetti.
Aprovada na última assembleia da categoria, a proposta apresentada pelo Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal de Florianópolis (Sintrasem) solicita que o executivo encaminhe Projeto de Lei à Câmara de Vereadores restabelecendo todos os direitos suprimidos pela aprovação do PL 1591, de janeiro deste ano que, entre outras alterações estruturais, determina o fim do plano de carreira do servidor e cortes superiores a 50% nas futuras aposentadorias. O PL faz parte de um conjunto de projetos de cortes nas verbas públicas apresentado em caráter de urgência pelo executivo à Câmara de Vereadores, no mesmo estilo do que fizeram os prefeitos de São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. É considerado o piloto municipal do pacote neoliberal de desmonte do serviço público impetrado por Temer no país, conforme o presidente do Sindicato, Alex dos Santos. “Estão esfriando a negociação para apostar num refluxo da categoria, mas estão enganados: o movimento está cada vez mais forte e não vai arredar”, avalia Renê Munaro, farmacêutico e membro do Comando de greve, que considera a convoção da reunião para o TJ como uma tentativa de judicialização das negociações e criminalização do movimento. Servidores e entidades apoiadoras da luta farão uma manifestação em frente ao Tribunal pela manhã, durante a audiência.
Com adesão inédita dos médicos, dos assistentes sociais, de várias outras categorias, e 100% de paralisação das escolas, os servidores tiveram uma reação forte e persistente, mantendo uma greve inédita na história. Desde o dia 17, a creche Matheus de Barros, no bairro Monte Cristo, está ocupada pelos pais e servidores para impedir o seu fechamento pelos cortes de verbas. Uma rua lateral à creche foi fechada pelos próprios moradores para que ninguém entre enquanto não houver garantia de creche para todos com a derrubada do pacotão de Gean. Enquanto desenvolvem atividades políticas e educativas dentro da creche ocupada, pais e crianças ouvem as sirenes da polícia do lado de fora. Amanhã (22) às 8h30min, um ato será realizado no bairro em apoio à greve, informa Camila Boff, integrante do Comando de Greve, grávida de oito meses, que estava na manifestação do Centro. Grande maioria dos pais e alunos da rede municipal apoia a paralisação e participa com os professores das atividades de rua da categoria.
No dia 17 de março, o secretário Filipe Mello declarou em programa de rádio que a prefeitura havia encaminhado projeto atendendo algumas revindicações e propondo o fim da greve. A categoria, contudo, entendeu que não havia nenhum recuo do prefeito e votou pela continuidade do movimento, respondendo com uma proposta que pede a revogação do chamado “pacote de maldades” de Gean Loureiro, Gean Loureiro que se elegeu com a promessa de valorização do serviço público e dos aposentados. O presidente do sindicato da categoria, Alex Santos, reclama principalmente do “atropelamento e autoritarismo na imposição das medidas, que foram votadas e aprovadas no período de recesso, por apenas um voto e sem a necessária discussão com a sociedade civil organizada e nem mesmo com os vereadores, que nem tiveram tempo de apreciar medidas tão complexas e impactantes para o futuro da população”.
Durante a manifestação de ontem, que foi acompanhada por forte aparato policial cercando as ruas e a entrada dos prédios da prefeitura, o sindicato distribuiu um material que apresenta de forma bem didática o pacote de Gean Loureiro para facilitar o acompanhamento das ações e ajudar a população a compreender as repercussões negativas do pacote. Ao mesmo tempo em que avança com as ofensivas contra os direitos, o prefeito impinge sanções aos trabalhadores em greve, o que só tem fortalecido o movimento, conforme o médico Renato Figueiredo, diretor do Sindicato dos Médicos de Santa Catarina e membro do Comando de greve do Sintrasem, que considera a iniciativa de Gean como uma forma de desestruturação do Sistema Único de Saúde, ao tirar a perspectiva de carreira do médico e reduzir a carga horária dos agentes comunitários. Entidades sindicais de todo o Brasil e de vários países se manifestaram contra as ameaças de prisão dos sindicalistas, quando, há duas semanas, o procurador geral de Florianópolis entrou no Tribunal de Justiça com pedido de intervenção no sindicato e prisão de todos os diretores da entidade, que não estariam cumprindo a ordem judicial de retomar o trabalho. O pedido não foi aprovado pela desembargadora responsável.
Por volta das 17:30 de hoje, o grupo, formado por professores, trabalhadores do posto de saúde, demais servidores e representantes da comunidade, saiu da E.B. Dilma Lúcia dos Santos rumo ao centro do bairro próximo à praia. No caminho, foi buscado o diálogo com a comunidade, explicando sobre a situação e falando palavras de ordem contra o prefeito Gean Loureiro – chamado de “Inimigo da Cidade” por alguns cartazes – e o projeto de lei 597/17, conhecido como Pacote de Maldades, por retirar direitos dos servidores públicos. Na marcha, houve momentos também de crítica à cobertura midiática da RBS sobre a greve. A greve caminha para ser a de mais longa duração na história da categoria, contabilizando até hoje 36 dias. Fotos: Giovanni Velozo.
Na tarde de hoje (07), a Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal aprovou o Projeto de Lei 255/2016, do senador e médico Eduardo Amorim (PSC-SE). Segundo Amorim a doença tem consequências graves e permanentes e a iniciativa busca reforçar o orçamento das famílias.
A doença
A microcefalia é uma doença congênita em que a cabeça e o cérebro das crianças têm tamanho menor que o normal para a sua idade. Ela prejudica o desenvolvimento mental e está associada a problemas de visão, audição, dificuldades de aprendizado e distúrbios neurológicos.
A recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), anunciada no dia 09 de março de 2016, é que novos parâmetros sejam adotados para medir o perímetro cefálico de recém nascidos. O diagnóstico de microcefalia se confirmará se, para menino, a medida for igual ou inferior a 31,9 cm e, para menina, igual ou inferior a 31,5 cm. A OMS já confirmou mais de 2 mil casos de crianças com microcefalia, outros 3 mil de bebês com má formação cerebral estão sendo investigados, e pelo menos mil novos casos devem ser diagnosticados nos próximos meses.
Mães e bebês
A criança com microcefalia demanda muitos cuidados e muda a vida dos pais, segundo relatou a psicóloga Jacqueline Loureiro em entrevista ao programa Bem-Estar. Das 41 mulheres que ela aconselha no trato com o estresse e o trauma, somente 10 recebem apoio financeiro ou emocional adequado de seus companheiros.
O site Cabeça e Coração, criado pela Jornalista Maria Clara Vieira, pela estudante Maria Julia Vieira e pela economista e professora voluntária Cida Nicolau, reúne 45 relatos de mulheres, mães de bebês com microcefalia, e tem o intuito de arrecadar ajuda para essas mulheres. Os depoimentos emocionantes contam o processo de descoberta, os desafios do dia a dia e os sonhos de cada uma delas. Sonhos estes que em todos os casos estão relacionados ao bem-estar de seus filhos e filhas.