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Categoria: Saúde

  • Bolsonaro criminoso contraria Ministério da Saúde e vai, sem máscara, a manifestação anti-Congresso

    Bolsonaro criminoso contraria Ministério da Saúde e vai, sem máscara, a manifestação anti-Congresso

    Apesar de as mortes decorrentes do coronavírus se multiplicarem pelo planeta, especial destaque para a Itália (com mais de 1.441 mortes), o irresponsável presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, fez questão de contrariar as normas de conduta em relação à doença estabelecidas pelo próprio ministério da Saúde, para incentivar as manifestações dos fascistas que o apoiam, marcadas para hoje.

    Bolsonaro deveria permanecer em isolamento até refazer os testes para o coronavírus, já que ao menos seis pessoas que estiveram próximas a ele durante viagem aos EUA, na semana passada, estão infectadas com o novo vírus.

    O presidente já se submeteu a um primeiro teste para o coronavírus, que deu negativo, mas segue sendo um potencial transmissor da doença até que um novo teste para o vírus seja feito nele, a chamada contraprova.

    Depois de ter feito pronunciamento em rede nacional de televisão para desestimular os atos deste domingo (15) em função da propagação do novo coronavírus no país, Jair Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada de carro na tarde deste domingo e seguiu para a Esplanada dos Ministérios.

     

    Irresponsabilidade demais

    Mas a irresponsabilidade de Bolsonaro não pára por aí. Ao comparecer ao lado de manifestantes no ato pró-governo deste domingo e continuar circulando por Brasília, ele incentiva a formação de aglomerações de apoiadores, criando terreno fértil para a proliferação do coronavírus. Bolsonaro também compartilhou vídeos e fotos sobre as manifestações no Twitter. Em uma delas, sem autoria, era possível ler faixas “Fora Maia”, contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, “Fora STF” e “SOS Forças Armadas”.

     

    No Boletim Epidemiológico produzido pelo Ministério da Saúde e divulgado ontem (14/março), lê-se que, entre as medidas mais importantes necessárias à contenção da pandemia de coronavírus, está o “adiamento ou cancelamento de eventos com aglomeração de público – governamentais, esportivos, artísticos, culturais, políticos, científicos, comerciais e religiosos e outros com concentração próxima de pessoas”.

    Por causa disso, jogos de futebol, combates do UFC, shows e outros eventos com aglomeração de pessoas estão sendo cancelados ou, quando realizados, o são sem a presença de público. Bolsonaro é um risco à saúde pública, com seu comportamento irresponsável, leviano e criminoso. E o pior: quem pagará, caso a pandemia se espalhe e comece a matar pessoas por aqui, não serão apenas os apoiadores do presidente fascista que se expuseram à doença ignorando todas as advertências médicas, mas todo o povo brasileiro, porque essa gente que vai aos atos de Bolsonaro passará a doença para inocentes com quem se relacionarem.

     

    É preciso parar Bolsonaro!

  • Indígenas adiam maior encontro brasileiro por causa do novo coronavírus

    Indígenas adiam maior encontro brasileiro por causa do novo coronavírus

    Foto: Leonardo Milano

    O Acampamento Terra Livre, o maior encontro indígena do país, que ocorreria entre os dias 27 e 30 de abril, em Brasília-DF, foi adiado por conta da ameaça do coronavírus, que poderia ser catastrófico para populações indígenas. O Encontro costuma reunir cerca de 4 mil indígenas de todo o país. Em nota, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil Explica:

    “Ressaltamos também, que pandemias como estas alertam para o quão gravoso pode significar uma política de contato com os povos isolados e de recente contato em razão dos riscos não só de etnocídio, mas também a um doloso genocídio”

    COMUNICADO GERAL (APIB)

    Diante da disseminação do Coronavírus e seguindo recomendações da Organização Mundial da Saúde e decretos do governo do Distrito Federal para evitar aglomerações na tentativa de mitigar a propagação do vírus, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) vem informar sobre a necessidade de adiar a realização do Acampamento Terra Livre, que estava previsto para o período de 27 a 30 de abril de 2020. Uma nova data será divulgada conforme as recomendações das instituições de saúde e governamentais.

    Com a ocorrência dessa pandemia, vemos como mais urgente ainda a necessidade de ampliar o serviço de saúde pública e a garantia dos subsistemas de saúde indígena, por meio da SESAI e Distritos Sanitários Especiais Indígenas, com condições adequadas de assistência de saúde aos povos indígenas.

    Ressaltamos também, que pandemias como estas alertam para o quão gravoso pode significar uma política de contato com os povos isolados e de recente contato em razão dos riscos não só de etnocídio, mas também a um doloso genocídio.

    É importante ressaltar que com o aumento das alterações climáticas, cientistas já atestam para a maior recorrência de epidemias.

    Aproveitamos para elencar aqui algumas recomendações de medidas preventivas colocadas pelas instituições de saúde:

    1. lavar as mãos com água e sabão, evitando levar aos olhos, nariz e boca;
    2. Não compartilhar objetos pessoais como talheres, toalhas, pratos e copos;
    3. Evitar aglomerações e frequência a espaços fechados e muito cheios;
    4. Manter os ambientes bem ventilados;
    5. Quando possível, evitar viagens para locais que tenham casos decontaminação e reuniões e eventos com a presença de pessoas que venham de países ou estados que tenham confirmação do vírus
    6. E por último, não entrar em pânico. É uma doença que médicos e cientistas já têm conhecimento e estão na tentativa de seu controle. Essas orientações são preventivas, para evitar que a doença se propague.

    Os sintomas do Coronavírus são ocorrência de febre, tosse, dificuldade para respirar e dores do corpo. Em caso de ocorrência dos sintomas, procurar atendimento o mais rápido possível e seguir orientações médicas.

    E tão logo o vírus esteja controlado, definiremos uma nova data para nossa maior mobilização nacional, que neste momento de ataques, invasões, conflitos e retiradas de direitos se faz tão urgente necessária.

    Sangue indígena, nenhuma gota a mais!

    Brasília, 12 de março de 2020.

    Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB

    Veja o comunicado na íntegra:

    COMUNICADO GERAL 01 (2)

     

  • Governo do DF decreta a suspensão de aulas e eventos por cinco dias

    Governo do DF decreta a suspensão de aulas e eventos por cinco dias

    O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB, publicou, na noite de ontem (11), decreto que determina medidas para avaliação, pelo poder público, da situação da propagação do novo coronavírus.

    O decreto determinou que:

    1. Eventos, de qualquer natureza, que exijam licença do poder público, com público superior a cem pessoas;
    2. Atividades educacionais em todas as escolas, universidades e faculdades, das redes de ensino pública e privada.
    3. Os bares e restaurantes deverão observar na organização de suas mesas a distância mínima de dois metros entre elas”. O texto afirma ainda que a medida pode ser reavaliada a qualquer momento, até mesmo antes do prazo de cinco dias.

    Veja abaixo o decreto na íntegra:

  • Coronavírus já atinge o mundo inteiro, mas médico explica que não há motivo para pânico

    Coronavírus já atinge o mundo inteiro, mas médico explica que não há motivo para pânico

    A Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou nesta quarta-feira (11) a doença causada o novo coronavírus (Sars-Cov-2), a Covid-19, como uma pandemia. Trata-se de uma medida técnica, que não afeta as ações atuais. “A descrição da situação como uma pandemia não altera a avaliação da OMS da ameaça representada por esse vírus. Isso não muda o que a OMS está fazendo, nem o que os países devem fazer”, declarou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

     

    Segundo o médico sanitarista Pedro Tourinho, pandemia nada mais é do que declarar que um vírus se espalhou e tem potencial de contaminar milhares de pessoas no mundo todo. Nesse sentido ele explica que a declaração da OMS tem um papel fundamental para fortalecer as ações governamentais na criação de medidas para conter a difusão do vírus.

     

    “Não há razão para pânico, mas temos que ter clareza de que o vírus vai se espalhar por todo o Brasil. Isso significa que vai morrer todo mundo? Não. A mortalidade do vírus é baixa. Mas é de suma importância criar políticas para proteger grupos específicos da contaminação, como pessoas idosas”, explicou Tourinho, que também é professor na faculdade de medicina da PUC-Campinas.

     

    Em coletiva de imprensa, o diretor-executivo do programa de emergências da OMS, Michael Ryan, pontuou que é preciso desenvolver políticas específicas para a situação em cada país. “A declaração de uma pandemia não é como a de uma emergência internacional – é uma caracterização ou descrição de uma situação, não é uma mudança na situação”.  Segundo ele, é hora dos países seguirem para além da mitigação, estratégia de saúde pública que busca sobretudo cuidar dos doentes e públicos prioritários.

     

    MORTALIDADE

     

    A mortalidade da gripe no Brasil é de 0,1%, ou seja, uma pessoa a cada mil, mas ninguém se preocupa em morrer de gripe, exemplificou Tourinho. A medida de contenção, como está ocorrendo na Itália, é importante para pessoas com mais de 80 anos, já que nesses casos a chance de morte chega a 14%, ou seja, 140 pessoas para cada 1.000 infectadas. O coronavírus mata oito vezes mais na Itália do que na Coreia do Sul porque 22% da população tem mais de 65 anos – o país tem a população mais velha da União Europeia. Quando contabilizamos também as pessoas com menos de 40 anos a mortalidade cai pra 2 mortes a cada mil infectados.

     

    COMO EVITAR A CONTAMINAÇÃO

    É importante manter a higiene respiratória. Evitar levar a mão ao rosto e lavar sempre as mãos com bastante água e sabão. É imprescindível o uso de máscaras para quem está tossindo. Mas no caso de não ter uma à disposição, é importante usar um lenço ou tossir próximo ao cotovelo – nunca usar as mãos. Evitar aglomerações também é recomendado, uma vez que nesses lugares a chance do vírus se proliferar é ainda mais alta.

     

    Cancelar eventos é uma medida prudente e não motivo de pânico, explica Tourinho. “Não quer dizer que é preciso deixar de trabalhar, mas esses lugares com muitas pessoas facilitam muito a disseminação do vírus”.

     

    Na primeira imagem abaixo vemos uma curva que representa “um pico” de contaminação, que resulta na sobrecarga no serviço de saúde. Já na segunda podemos ver que a contaminação aconteceu de forma mais gradual, fazendo, assim, com que o sistema de saúde consiga desafogar, então é possível mitigar a situação.

     

     

    O médico sanitarista afirma que não há razão para desespero, mas que também não dá pra tratar como “só uma doideira midiática”. “Não precisamos pensar em quarentena no Brasil, mas a expectativa é que exista um pico de contaminação do coronavírus dentro de 2 a 4 semanas. Tudo depende das políticas adotadas pelo governo”, explica.

     

    A IMPORTÂNCIA DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

     

    O desmonte do SUS iniciado no governo de Michel Temer, que assumiu a presidência depois de um golpe de estado, pode ser um fator importante na contaminação por coronavírus da população brasileira.

     

    “Essa situação do coronavírus é um momento muito importante pra gente compreender a importância do sistema de saúde estar funcionando bem e com um bom financiamento. Atualmente o sistema tá sendo estrangulado pela falta de recursos. Só no ano passado ele perdeu 20 bilhões de reais em termos orçamentários – em relação ao que seria a legislação de financiamento antes da Emenda Constitucional 95, de 2016, criada por Michel Temer, e esse ano vai perder mais 9 bilhões. Estamos vivendo um momento que é preciso uma revisão – e vários países do mundo vão fazer isso – das normas draconianas de austeridade impostas pelo sistema financeiro, pelas estruturas do capital internacional que, diariamente, estrangulam o sistema de proteção social. Então é uma oportunidade pra gente fazer essa reflexão e tomar medidas que revertam esse tipo de situação”, explicou o médico.

     

    Nesse sentido, o fortalecimento dos sistemas públicos de saúde, como é o caso do SUS brasileiro, é fundamental. Assim, diferente do que está sendo apresentado para votação urgente no Congresso, não é hora de ameaçar cortes nos salários e jornadas de funcionários públicos, como proposto pela PEC Emergencial, e muito menos de diminuição do piso de investimentos na saúde, como prevê a PEC do Pacto Federativo.

     

    MEDIDAS NO BRASIL

    Segundo o Ministério da Saúde até ontem 34 pessoas estavam infectadas pelo coronavírus no Brasil. Hoje, um estudante do Departamento de Geografia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – FFLCH USP, foi confirmado como portador do vírus. O Conselho Departamental da universidade decidiu suspender todas as atividades no dia de hoje, 11, e avisou aos estudantes por e-mail que novos encaminhamentos seriam enviados por este canal.

     

    E-mail enviado aos alunos sobre caso de coronavírus no Departamento de Geografia
    E-mail enviado aos alunos sobre caso de coronavírus no Departamento de Geografia
  • Valorização da Vida no cortejo: o desafio de se abordar a Prevenção do Suicídio no carnaval em BH

    Valorização da Vida no cortejo: o desafio de se abordar a Prevenção do Suicídio no carnaval em BH

     

    Por: Cristiane Santos de Souza Nogueira*

     

    O suicídio é um fenômeno que perpassa a história da humanidade, sendo considerado na atualidade como um problema de saúde pública. Desde 2003 a OMS instituiu o dia 10 de setembro como sendo o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. No Brasil, a campanha do setembro amarelo se iniciou em 2015 e tem ganhado força a cada ano. Tendo como slogan “Falar é a melhor solução” objetiva-se promover e ampliar espaços de sobre suicídio, sensibilizando a população para as questões do adoecimento mental e desconstruindo mitos que impedem que as pessoas busquem ajuda diante da dor emocional.

    No entanto é importante que tais temas possam ser abordados durante todas as épocas do ano, uma vez os índices de adoecimento psíquico da população crescem no mundo todo e que é preciso conscientizar as pessoas para que aprendam a reconhecer e respeitar o sofrimento mental da mesma forma que reconhecem e respeitam o sofrimento e o adoecimento do corpo.

    Em novembro de 2019 uma das organizadoras de um bloco de carnaval de Belo Horizonte fez contato com o Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais solicitando orientações sobre como abordar a questão da prevenção do suicídio visto ser o tema escolhido pelo bloco para o cortejo de 2020.

    Em sua 9ª edição, o bloco que desde 2012 carnavaliza BH levantando as bandeiras do amor, da diversidade, da alegria, do respeito e demarcando o posicionamento contra qualquer tipo de preconceito e manifestação de ódio, definiu ter como tema o SETEMBRO AMARELO “para lembrar as pessoas que a vida de cada um é muito importante.

    Queremos dobrar nosso recado de afeto e trazer um tema que é por muitos ignorado. Avalia-se como uma atitude responsável do bloco buscar suporte profissional para levar esse tema para as ruas, demonstrando ter consciência sobre a necessidade se falar de maneira correta sobre um tema tão delicado. Nas chamadas para as atividades eu foram realizadas conjuntamente entre CRP e Bloco de carnaval, marca-se o convite para falar sobre o tema e para a responsabilidade de cada um na prevenção do suicídio e valorização da vida.

    “É um tema tranquilo para ser tratado? NÃO! Qualquer um pode falar sobre? TAMBÉM NÃO! Para dar a devida seriedade e respeito ao assunto, contamos com o apoio do Conselho Regional de Psicologia … que já faz ações de prevenção ao suicídio e irá colaborar com a gente”.

    Na próxima segunda-feira, 13/01, vamos ter uma roda de conversa sobre Valorização da Vida. É muito importante que a banda vá em peso para saber mais do tema e conseguir levar uma mensagem da forma mais respeitosa possível”.

    Ainda que não haja consenso entre a própria categoria da Psicologia, sobre os efeitos de campanhas e ações que envolvem a sociedade no tocante ao fenômeno do suicídio o CRP avaliou ser pertinente ofertar as orientações e suporte necessário para realização do cortejo, não podendo recuar ou se eximir desse debate, visto que a categoria profissional tem sido cada vez mais demandada no enfrentamento do suicídio.

    Foi realizada uma reunião na sede do CRP para primeiros alinhamentos e definições em dezembro de 2019, com a primeira orientação norteadora: em se tratando de carnaval, o tema seria abordado pela Valorização da Vida, buscando formas de se passar a mensagem da prevenção do suicídio com leveza e da forma lúdica que a ocasião comporta.

    Foram realizados dois encontros com os fundadores, organizadores e integrantes do bloco no Teatro da Cidade.

    O primeiro encontro, em janeiro de 2020, aconteceu em forma de roda de conversa, onde se buscou refletir sobre o fenômeno do suicídio considerando os aspectos epidemiológicos, demográficos, intrapessoais (transtornos mentais e comorbidades psiquiátricas), mas principalmente os aspectos interpessoais.

    Ao discutir características do modo de vida contemporâneo foi possível deslocar o comportamento suicida dos fenômenos da patologização e medicalização da vida, reconhecendo que a nossa forma de viver comporta elementos que fazem sofrer o ser humano e que o comportamento suicida pode se apresentar como expressão da dor intensa e sofrimento emocional insuportável, estando presente ou próximo de cada pessoa que ali podia se expressar. Buscou-se desconstruir mitos sobre o fenômeno do suicídio, apresentando fatores de risco e de proteção, legitimando que as pessoas são capazes de reconhecer sinais de sofrimento emocional, mas que para isso é preciso investir mais na convivência, na disponibilidade de escutar sem julgamento e de ofertar apoio e suporte emocional.

    Reiterou-se que é preciso fortalecer as redes de apoio, ofertar canais e ferramentas de apoio, legitimar a importância de se buscar ajuda profissional quando necessário e de construir saídas locais, mapeando os recursos e dispositivos disponíveis nos territórios de pertencimento.

    O segundo encontro se deu em formato de oficina abordando Valorização da Vida, contando com a colaboração da conselheira do CRP e de uma jornalista que contextualizou a chita enquanto tecido de resistência subversiva, resistência político afetiva na história do Brasil desde a colonização.  O bloco não usa abadás ou fantasias, sendo instituído o uso da chita para confecção de roupas e adereços para seus integrantes.

    A jornalista ao citar Walter Benjamin e sua obra “a história dos vencidos”, fala da chita em sua cesura, fazendo um recorte na história e demonstrando o descontínuo do tecido do povo. Originalmente da Índia, a Chintz foi levada para a Europa no século XVI por Vasco da Gama, sendo um tecido nobre e tão caro quanto a seda. Suas cores e figuras acompanham e interpretam a cultura local, sofrendo alterações pelos países por onde passa.

    Considerada mais que um tecido, um padrão, amplamente usado na decoração, na porcelana e na impressão de tecidos nobres, a Chita chega ao Brasil no século XVII, havendo uma proibição de sua produção pela coroa de Portugal, uma vez que os nobres só podiam comprar tecidos da Europa. Tal proibição não impediu que os escravos produzissem o tecido em teares escondidos, sendo usado também pelos os índios, passando a ser considerado no Brasil como pano de pobre, dos rejeitados enquanto em Portugal se realiza concursos de vestido de chita.

     

     

    Para os africanos que aqui estavam, a chita era um tecido carregado de memória afetiva, por a resistência em continuar tecendo. Os inconfidentes se vestiam de chita quando protestavam nas ruas da antiga Villa Rica, hoje Ouro Preto nas Minas Gerais.  Assim passa a ter a conotação de subversão e no século XIX vem nova ordem de proibição de qualquer tecido em MG, que teve a primeira grande industria dedicada à produção de chita.

    Curvelo, Terra de Zuzu Angel, que foi a primeira estilista que usou a moda como política, trazendo a chita como expressão de resistência na ditadura militar.

    “O não conformismo nas roupas tende naturalmente a expressar o não conformismo em ideias sociais e políticas”. (Flugel)

    Contextualizando a chita, a essência do bloco estava colocada. Assim, como a Valorização da Vida seria a tônica da abordagem da prevenção do suicídio no cortejo de carnaval, definiu-se pelo uso de chitas em cor amarela, tecidos com girassol e do próprio girassol como símbolo para 2020. Tornou-se oportuno também contextualizar sobre o uso da cor amarela e do girassol como símbolos da campanha da prevenção do suicídio no Brasil e no mundo.

    POR QUE O GIRASSOL?

    Setembro: início da primavera, estação das flores e da esperança. Pesquisas comprovaram que pessoas que moram em lugares bruscos, com pouco Sol, podem desenvolver tendências à Depressão.

    Assim, o girassol é a flor da campanha da Prevenção do Suicídio justamente por acompanhar a alegria e a vitalidade da luz solar.

     

    Nos campos, em dias nublados, os girassóis se voltam uns para os outros, buscando a energia em cada um.

    Não ficam murchinhos, nem de cabeça baixa. Olham uns para os outros … Erguidos, lindos.

    Nos ensinam que olhar para o outro, pode fazer toda diferença em nossas vidas, afinal a convivência é nossa força motriz. Seu miolo gera centenas de sementes, que produzem tantos outros novos girassóis! Semear esperança e muitos afetos é para o ser humano, sentido de vida!

    Se não temos sol todos os dia, temos uns aos outros…
    Que sejamos girassóis todos os dias!!!

    Nesse segundo encontro abordou-se algumas atitudes e falas que devem ser evitadas ao se abordar o tema, ressaltou-se a importância da escuta ativa e de se apontar canais de ajuda e construção de saídas para pessoas que apresentem sinais de dor e sofrimento emocional. Depois de um brain storm coletivo, de frases, palavras e ideias com os presentes, foram selecionadas frases de impacto a serem usadas no cortejo:

    – Aguente firme, Você não está só!

    – Você tem o poder de dizer ‘não é assim que minha história termina’

    – Pare e respire, há opções melhores, e muitas pessoas que te amam

    – Mesmo que as coisas estejam difíceis, sua vida importa; você é uma luz brilhante em um mundo escuro, então, aguente firme.

    Valorizar a vida é…

    É ligar quando sentir saudades.

    É não ignorar um pedido de ajuda.

    É ouvir sem julgar.

    É respeitar as escolhas e vontades.

    É dizer que ama.

    A comunicação entre a COMORG e a conselheira referência do CRP se manteve ativa para troca de ideias, construção de frases, mensagens e estratégias a serem usadas no cortejo. Através da revisão da playlist, definiu-se momentos de marcação sobre o tema durante o trajeto. Foi construído um release, um texto que foi disponibilizado a todos os integrantes do bloco, para que todos se preparassem para possíveis interpelações e questionamentos que pudessem surgir, antes, durante e após o cortejo, visto ser uma atitude ousada e polêmica um bloco de carnaval que abordar a prevenção do suicídio.

    “O bloco do Batiza, com suas chitas que espalham resistência e empatia pelo carnaval de BH decidiu abordar a valorização da vida no seu cortejo de 2020. O tema da prevenção do suicídio ainda é polêmico, envolvido em muitos mitos e julgamentos morais e muitas pessoas têm medo de falar sobre o assunto. É preciso disseminar a mensagem de que a vida vale a pena, de existem razões para viver. É desconstruir as ideias em torno do sofrimento emocional, levando a sociedade a respeitar e reconhecer a dor da alma da mesma forma que reconhece a dor do corpo.

    Dessa forma, as pessoas irão parar de esconder sua dor interna, falando e recebendo orientação, procurando ajuda profissional se for necessário. O suicídio é um problema de saúde pública no mundo inteiro, sendo o final de um processo de sofrimento insuportável.

    Estima-se que 90% dos casos sejam evitáveis mas para seu enfrentamento é preciso o envolvimento de todos os atores sociais, que auxiliem as pessoas que sofrem de desesperança, de desamparo, de desespero a construírem saídas e alternativas para a vida. As pessoas podem aprender a reconhecer sinais e sintomas da dor emocional que não é visível aos olhos e só pode ser identificada através da convivência, das relações.

    Precisamos de mais afetos e menos telas. De mais trocas e acolhimento e menos individualismo. É possível aprender a ofertar apoio, a ofertar escuta e acolhimento. Para isso, é preciso encarar as ameaças com seriedade, ajudar a pessoa a avaliar a situação, explorando soluções e dando orientações concretas para preservar a vida.

    Para tanto, é preciso antes de tudo, procurar compreender (sem juízo de valor), ofertar disponibilidade de escuta sem repressões e sem ser invasivo, apontando canais de apoio como o CVV,  serviços e profissionais de saúde mental.  FALAR É A MELHOR SOLUÇÃO E A CONVIVÊNICIA É A MELHOR SOLUÇÃO, se acreditamos e valorizamos a vida! Sejamos boas energias! Sejamos girassóis!” Vamos amarelar nossas chitas e as ruas por onde passarmos.

    BLOCO DO BATIZA

    Outras ações estavam planejadas para o cortejo como entrega de adesivos e de sementes de girassóis com frases de esperança, porém, com os problemas vivenciados pelos blocos de BH, às vésperas do início do carnaval, com

    As repercussões resultaram em comprovar que é possível abordar a temática com seriedade e responsabilidade, através de orientações técnicas e com embasamento científico, em contextos diversos, com leveza e transmitindo mensagem de esperança. Pensando que as saídas devem ser locais, que as micro políticas podem operar transformações…

    Chamando as pessoas para sua dimensão de participação e responsabilidade. Promover saúde mental nos moldes da saúde coletiva.

    Essa experiência buscou efetivar a encomenda inicialmente formulada ao CRP, conjugando a essência do bloco com suas a chitas, com o amarelo do girassol na perspectiva da Valorização da Vida e da Prevenção do Suicídio, de forma lúdica, propiciando a sensibilização sem mobilizar resistências e defesas frente a um tema que toca a todos de forma tão profunda. Um cortejo de carnaval como resistência e subversão aos processos de medicalização e patologização, para uma aposta de vivencias afetivas, de fortalecimento de vínculos, do estreitamento dos laços de convivência. Uma aposta nas tecnologias leves, na melhoria da qualidade de vida das pessoas, que só é possível pelas relações, afinal o ser humano é ser gregário, que se abastece da luz, do calor e da energia de outros seres humanos.

     

    Texto e Fotografia:
    Cristiane Santos de Souza Nogueira,
    Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais
    Especial para os Jornalistas Livres

    Edição da matéria:
    Leonardo Koury Martins, Jornalistas Livres

     

  • Na contramão do parto humanizado

    Na contramão do parto humanizado

     

    A violência obstétrica, parceira de mulheres pobres e negras, na verdade não escolhe alvos quando se trata do sistema público de saúde. É o caso do relato abaixo, de Aracelle Fonseca, garota inteligente e sagaz, que nunca teve medo de encarar a vida, muito menos cara feia. É jornalista, graduada também em Letras, e há alguns anos escolheu ser policial civil. Não se enquadra, portanto, na categoria que sofre o diabo em toda e qualquer circunstância e não tem ou não sabe onde e a quem reclamar.

    É casada com um também policial civil. Portanto, são funcionários públicos do Estado de Minas Gerais. Por questão de princípio de cidadania, escolheram a maternidade do Instituto de Previdência do Estado de Minas Gerais (Ipsemg) para receber Cecília, uma garotinha muito amada e linda, que veio ao mundo há poucos dias, apesar de um monte de atropelos e absurdos. Viva a mamãe Aracelle, que não guarda silêncio da violência de que foram alvo ela e sua filhinha. Calar só perpetua o mal. Recebi a postagem da mãe de Aracelle, mas está no Facebook, providência de uma amiga de longa data. (Sulamita Esteliam, jornalista)

     

    “Meu nome é Aracelle! Sou jornalista, formada em letras e Policial Civil. Antes de me tornar servidora do Estado de Minas Gerais, trabalhei por 9 anos no SINDPÚBLICOS-MG – Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público do Estado de Minas Gerais. Lá, aprendi que o IPSEMG – Instituto de Previdência dos Servidores Públicos de Minas Gerais, é patrimônio dos servidores. Aprendi a defendê-lo, a lutar por ele, a cobrar melhorias do governo! Quando me tornei servidora não pensei duas vezes: cancelei meu plano de saúde e me tornei beneficiária! Defensora que era, fiz propagandas positivas e defendia a ideia de que todos deveriam aderir ao plano para torná-lo forte e solidário, atendendo bem todas as classes de servidores públicos.

    Engravidei no começo de 2019 e fiz meu pré-natal no IPSEMG. Nasci na maternidade do hospital Governador Israel Pinheiro (HGIP), hospital próprio do Instituto. E achava incrível poder ter minha filha lá! E assim passei minha gestação, tranquila, sem nenhum mal estar ou intercorrência. Praticando atividades físicas e sendo o mais saudável possível para conseguir ter um parto normal tranquilo e humanizado!

    No dia 15/11/2019, com 40 semanas e 3 dias, começaram as tão esperadas contrações! Eu entrava em trabalho de parto naturalmente e aquilo me deixou muito feliz! Seguimos, meu marido e eu, pra maternidade do HGIP. Fomos atendidos por um médico que constatou uma dilatação de 3cm e contrações ritmadas! Surpresa número um: o médico disse que me examinaria novamente dentro de duas horas para ver se a dilatação teria evoluído… E que até lá eu poderia ficar andando pelo corredor do hospital, segurando nos corrimões e agachando a cada contração!

    Eu estava com muita dor! Onde estava a tão esperada sala de pré-parto? O tão sonhado acolhimento? As bolas de Pilates? O chuveiro quente? A enfermeira carinhosa??? Éramos somente meu marido, eu e as dores das contrações em meio a pacientes, visitantes, faxineiros, atendentes! Éramos ninguém!

    Passaram-se as duas horas e minhas dores estavam insuportáveis! Meu marido corre atrás do médico que resolve me examinar de novo, encontra uma dilatação de 5cm e decide, enfim, me internar. Ufa! Agora viria a tão sonhada sala de pré-parto… E ela veio! Uma maca velha, descascada e rodeada por cortinas. Ninguém me consolava… Ninguém me sentava na bola… Me furavam e iam embora! Furavam de novo! Eu chorava! Meu marido me carregou pra um banheiro com chuveiro que tinha num canto da sala. Ele tira minha camisola e me coloca no banho quente! Ele me pede calma… Ele agacha comigo a cada contração! Ele, eu, minhas contrações e mais ninguém!

    Os 7cm de dilatação chegam e eu imploro pela anestesia… Vou para o bloco cirúrgico e uma anestesista trêmula chega, me fura várias vezes, deixa meu marido desesperado, mas consegue me anestesiar… Alívio! Continuo na batalha de fazer força a cada contração. Pressão cai e quase desmaio. Aplicam adrenalina e pressão sobe! Uma confusão! Me pedem pra ficar de pé e agachar nas contrações… Obedeço! Papai agacha comigo, segura na minha mão! Os médicos residentes conversam entre si e mexem no celular sem sequer olhar pra mim naquela situação em que eu tentava, com todas as minhas forças, trazer minha bebê ao mundo! Eu chorava… Estava exausta! Me pedem pra sentar na maca novamente… Tentam manobras manuais para encaixar o bebê… Me sinto insegura… Sinto aqueles residentes inseguros!

    De repente, o cenário muda! Sou avisada de que o bebê entrou em sofrimento e seus batimentos cardíacos sobem de forma absurda! Há mecônio dentro de mim! Uma Cesárea de emergência precisava ser realizada! Mais anestesia naquelas mãos trêmulas… Um corte mal feito, grande e mal posicionado é realizado na minha barriga, minha bebê é retirada, meu útero lavado… Sou costurada de qualquer jeito! Me sinto abandonada, estranha… Mas quero ver minha neném… Cecília chegou linda e saudável às 22h50 daquele dia. Ufa! Naquele momento só o amor por ela era importante!

    Vamos para o quarto e o abandono continua! Ninguém me limpa… Banho só na manhã seguinte… Um quarto pequeno, um banheiro pequeno, duas famílias, médicos escassos, alimentação ruim, acomodações para mãe e acompanhante desumanas! Nada que eu venha escrever aqui seria capaz de demonstrar o abandono em que a maternidade do IPSEMG se encontra… Saí de lá dois dias depois em pânico! E acho que me encontro um pouco assim até hoje, 15 dias depois, quando consigo escrever esse relato em meio a lágrimas!

    Olho para a cicatriz em mim e choro! É nela que enxergo os maus tratos pelos quais passei! É nela que vejo a marca da violência obstétrica que sofri! Mas sei também que chegará o dia em que olharei para ela e não irei mais chorar… Porque será nela que terei orgulho de dizer que venci! Que minha filha, meu marido e eu vencemos… E tê-la em nossos braços é o que mais importa nessa vida! É o maior amor do mundo! E nada mais importa!

    Já o IPSEMG? Feche a maternidade! Acabem com o Hospital! Ninguém mais precisa ser enganado e mal tratado dessa forma! Sejamos realistas! A defesa para a manutenção do IPSEMG a qualquer custo não pode continuar! Afinal, é a vida e a sanidade dos servidores e seus dependentes que devem ser prioridade na luta sindical!”