Jornalistas Livres

Categoria: PT

  • BOLSONARO QUER IMPOR ESTADO POLICIAL

    BOLSONARO QUER IMPOR ESTADO POLICIAL

     

    BOLSONARO QUER IMPOR ESTADO POLICIAL

    NOTA DO PARTIDO DOS TRABALHADORES

     

    A invasão da sede do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Amazonas (Sinteam) por agentes armados da Polícia Rodoviária Federal, na tarde de terça-feira (23), é uma gravíssima violação das liberdades constitucionais de reunião, organização e manifestação.

    É simplesmente inaceitável que agentes federais de segurança violem a sede de um sindicato de trabalhadores e interroguem os presentes sobre os preparativos de uma manifestação pacífica e democrática. E que o façam armados em cumprimento de “ordens do Exército”.

    Este episódio soma-se a uma série de violações de direitos e ameaças por parte do governo Bolsonaro, valendo-se do aparato do Estado para reprimir e intimidar quem denuncia seus abusos e se opõe a suas políticas de destruição dos programas sociais, dos direitos constitucionais e dos valores civilizatórios.

    Os frequentes ataques de Bolsonaro à liberdade de imprensa, as ameaças de parlamentares governistas aos jornalistas do site The Intercept Brasil, por terem denunciado os crimes da Lava Jato, e a incitação à violência contra a oposição e os movimentos sociais nas redes bolsonaristas atestam a intolerância e o autoritarismo deste governo de extrema-direita.

    O Partido dos Trabalhadores e suas bancadas na Câmara e no Senado denunciam ao país e ao mundo estes episódios. A imposição de um verdadeiro estado policial é a única resposta de Bolsonaro à justa resistência da sociedade a seus desmandos.

    Exigimos que a Polícia Rodoviária Federal, o Ministério da Justiça e Segurança Pública, o Comando do Exército e o Ministério da Defesa se manifestem sobre o ataque ao Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Amazonas, apresentem e punam os agentes e, principalmente, os responsáveis pela ordem de violação.

    Em defesa da democracia, das liberdades de reunião, organização e manifestação.

    Brasília, 24 de julho de 2019

    Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do PT
    Paulo Pimenta, líder do PT na Câmara dos Deputados
    Humberto Costa, líder do PT no Senado Federal

  • A formidável (e assustadora) biografia do ano passado

    A formidável (e assustadora) biografia do ano passado

    Por Walter Falceta, especial para os Jornalistas Livres

     

     

     

    Por Walter Falceta, especial para os Jornalistas Livres

     

    Atribui-se ao 32º presidente estadunidense, Franklin Delano Roosevelt, a perturbadora frase: “leva-se um bom tempo para trazer o passado ao presente”.

    De fato, corre tempo demais até compreendermos o porquê das pequenas e grandes tragédias cotidianas. Roosevelt pensava, por exemplo, nos equívocos e desvarios econômicos e financeiros que haviam conduzido seu país à Grande Depressão.

    O desprezo pelo passado frequentemente nos conduz ao horror e ao sofrimento, fenômeno que se apresenta aos olhos dos historiadores no período entre as duas devastadoras guerras mundiais que marcaram o Século 20.

    No Brasil, há quem ainda não tenha compreendido, por exemplo, a natureza do Golpe Militar de 1964, que ceifou vidas, esperanças e amores.

    Pior é a crença patológica em um passado edulcorado, no qual a farda supostamente garantiu aos brasileiros um tempo de ordem, progresso e segurança, de gestores públicos imaculados, jamais envolvidos em casos de corrupção.

    Se o passado é moldado pela construção e reprodução de narrativas particulares, faz-se necessário garantir que o pensamento da civilidade possa concorrer com aquele da barbárie.

    O livro “Sobre Lutas e Lágrimas – Uma Biografia de 2018” (Editora Record, R$ 44,90) escrito pelo jornalista Mário Magalhães, serve brilhantemente a esse propósito.

    A obra trata do pretérito recente, esse que ainda não tivemos tempo de processar, cuja análise atenta exibe uma fieira de ocorrências espantosas, absurdas ou mesmo inacreditáveis.

    A pena virtuosa do colega Mário nos choca ao narrar, por exemplo, os eventos de abril, quando o ex-presidente Lula deixou a resistente São Bernardo e rumou ao cárcere em Curitiba, vítima estoica das tramas lavajateiras.

    Ora, um recuo modesto no tempo, que seja a 2008, exibe um país governado pelo mesmo nordestino. A economia cresce e multiplica-se a oferta de empregos, o filho do porteiro ingressa na universidade e a fome vai desaparecendo do cotidiano das famílias mais humildes.

    Na época, poucos imaginavam que o ex-metalúrgico, mandatário colecionador de sucessos na gestão pública, pudesse cair vítima de um golpe articulado por procuradores reacionários em parceria com um magistrado de cultura limitada.

    Causa estranheza que, em 2018, nos tenha faltado tempo para compreender 1968, o famoso ano rebelde que não terminou. Vivemos o ano passado de forma vertiginosa, ocupados, procurando entender o mês anterior, o dia de ontem, a hora passada.

    Neste Brasil líquido, senão gasoso, como nos reconta o genial Mário, assistimos à caça de macacos, incriminados como transmissores da febre amarela. Se houve empoderamento das mulheres, multiplicaram-se os casos de feminicídio. O Doutor Bumbum revelou sua verdadeira índole. Caminhoneiros travaram o país, a intervenção militar amedrontou o Rio de Janeiro, a direita paranoica mobilizou-se contra a Ursal, índios e jovens recorreram ao suicídio para findar a aflição dos dias todos.

    O neofascismo brasileiro, associado aos neoliberais que se desencantaram com o PSDB e o DEM, viabilizou a candidatura do ex-capitão Jair Bolsonaro. Neste medieval ano de 2018, milhões de brasileiros foram enganados pelo “tiozão” do WhatsApp, que repassou notícias sobre a “mamadeira de piroca” do Haddad, o mesmo candidato vermelho que, segundo ele, pretendia legalizar a pedofilia.

    Na obra de Mário o que mais espanta, no entanto, é a celeridade nas mudanças de cenário. Nos textos escritos no início do segundo semestre, ele ainda cogita de uma candidatura de Lula e não descarta a vitória do ex-metalúrgico. Poucos meses adiante, o que se avalia é se Bolsonaro pode ou não vencer a eleição presidencial no primeiro turno.

    O autor rememora o episódio da reportagem de Patrícia Campos Mello, da Folha, sobre o esquema ilegal de disparo de conteúdos anti-PT nas redes, bancado por empresas. Mas não faz olho militante. Investiga na minúcia os personagens de seu 2018, um ano que se converte, ele próprio, em personagem.

    Na página 261, apresenta um rascunho do candidato presidencial de esquerda, Fernando Haddad:

    • Em piscada de olho para o centro, Haddad elogiou Sergio Moro (“ajudou” o Brasil, com “saldo positivo”), mas criticou a condenação de Lula. Errou ao endossar a acusação improcedente que atribuía tortura ao general Mourão, porém se corrigiu. Criticou decisões de correligionários, como a desmesurada renúncia fiscal do governo Dilma.

    Se nos adiantamos aqui, é bem possível que façamos um curioso spoiler daquilo tudo que já sabemos, ou julgamos saber.

    Quer colar no passado e trazê-lo para decifrar o presente? Embarque nessa leitura, no fascinante jogo das frescas reminiscências. São 330 páginas, mas que passam rapidinho, como aquelas 730 de “Marighella – O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo”, obra luminosa e reveladora do mesmo Mário.

     

     

  • “Com o PT, era para ser diferente”, protesta docente universitário baiano

    “Com o PT, era para ser diferente”, protesta docente universitário baiano

    *Por Roque Pinto, especial para os Jornalistas Livres

    Há poucos dias conversava com um técnico agrícola quando ele de repente me perguntou: “Você é PT?”. Disse que fui favorável a várias políticas e medidas dos governos Lula e Dilma, que mudamos de patamar, que evoluímos enquanto país para um capitalismo moderno e para um lugar melhor para se viver, mas também que tinha críticas duras pela forma como muitas coisas foram feitas e, especialmente, pelo abandono da agenda original do partido em favor da velha política do toma lá dá cá, o fisiologismo, este câncer entranhado no tecido político brasileiro.

    Visivelmente aliviado, meu interlocutor contou que era funcionário de um órgão público do estado da Bahia, mas que foi demitido para ser recontratado como terceirizado. Contou como sua vida piorou, como suas condições de trabalho pioraram, como os instrumentos de controle e fiscalização afrouxaram em favor das empresas contratadas que, afinal, pertencem a apadrinhados políticos, retroalimentando a roda da velha política. “É por isso que não voto mais neste partido. Com o PT, era para ser diferente”, desabafou.

    Sim, era para ser diferente.

    Mas Rui Costa, o atual governador da Bahia eleito pelo PT, à semelhança do seu antecessor, Jaques Wagner, também do PT, tem apreço por políticas conservadoras, autoritárias, privatizantes, e parece ter uma grande repulsa contra o servidor público baiano e a coisa pública de uma forma geral, guardando uma estranha proximidade com o governo federal, ora sob controle da família Bolsonaro, que vem impondo um quadro de regressão política, econômica, social, ambiental e educacional tão grotesco e sombrio que não seria exagero compará-lo aos Talibãs afegãos da década de 1990.

    No Brasil, na Bahia de Rui Costa, o governo petista está alinhado com o ministro bolsonarista Sérgio Moro. Aquele que transformou Lula no preso político mais importante do mundo, hoje. A violência policial contra a juventude pobre, negra e trabalhadora é praticamente uma “marca de governo”. Policiais militares envolvidos numa chacina no Bairro do Cabula em Salvador, por exemplo, foram descritos pelo governador como “artilheiros diante do gol”.

    O governador petista também abraça Bolsonaro quando se coloca a favor da militarização das escolas públicas, inclusive com o emprego de policiais aposentados no lugar de profissionais da educação. O chamado “vetor disciplinar”.

    Liberal na economia e conservador nos costumes

    Nas eleições presidenciais de 2018 um dos pleiteantes que se posicionava do lado oposto ao PT no espectro político nacional, candidato por um partido neoconservador, definiu-se como “liberal na economia e conservador nos costumes”. Pois parece ser a perfeita definição do governador petista da Bahia. Não bastasse seu alinhamento com o governo tosco e fundamentalista dos Bolsonaros na violência policial e na militarização da educação pública, há também vários outros pontos de convergência dentro de um viés francamente neoliberal. E que não se resume apenas ao sequestro dos investimentos em áreas sociais.

    É assombroso o afã em privatizar e desmontar empresas estatais e públicas. Chama bastante atenção a terceirização da gestão na saúde pública e em outras áreas, ao tempo em que a imprensa veicula sobejamente casos de favorecimentos, apadrinhamentos, desvios, vistas grossas aos mal feitos e escândalos de toda ordem.

    Ao arrepio das diretrizes do seu próprio partido, Rui Costa fala em cobrança de mensalidade em universidade pública. Um velho sonho da direita brasileira. O petista está em perfeita harmonia com o deputado pernambucano Luciano Bivar, do PSL de Bolsonaro, que pretende apresentar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para que estudantes paguem mensalidade nas universidades públicas.

    O terror como estratégia de governo

    O outro lado da moeda da ideologia neoliberal é o conjunto dos ataques aos direitos dos servidores públicos, com o desmonte da previdência pública, o aumento da alíquota de contribuição previdenciária, sucateamento do Planserv (Plano de Saúde dos Servidores públicos do Estado da Bahia) e uma política perversa de arrocho e acúmulo de perdas salariais, que no caso dos professores das Universidades Estaduais baianos já beira uma perda de mais de 25%, em relação a 2015.

    O descaso do governo do estado da Bahia, que há 4 anos não recebe o movimento docente – a despeito das reiteradas solicitações, todas devidamente protocoladas e registradas –, levou à deflagração de uma greve por tempo indeterminado das quatro universidades estaduais da Bahia (Uesb, Uneb, Uefs e Uesc), no dia 9 de abril de 2019.

    Prontamente o governo cortou o ponto dos professores e estabeleceu uma agenda de reuniões cuja única função prática é evitar que se chegue a um acordo razoável e minimamente aceitável para os professores, que pleiteiam a liberação do montante de 110 milhões de reais das universidades estaduais contingenciados pelo governo, reajuste salarial (após quatro anos sem sequer reposição da inflação no período), desbloqueio dos direitos de promoção e progressão e abertura de concursos públicos para provimento de vagas (professores se aposentam, mas não são abertos concursos para a admissão de novos profissionais, prejudicando a qualidade do trabalho ofertado à população e sobrecarregando os docentes).

    A bravura dos que nadam contra a maré

    O governador Rui Costa faz uso extensivo de dinheiro público para se autopromover, usando largamente a propaganda oficial para vender a ideia de “bom gestor”. Mas o custo social disto, que naturalmente não aparece nas peças publicitárias, é a extinção de cargos públicos, o arrocho salarial, as privatizações e terceirizações, o corte em investimentos públicos em saúde, moradia, segurança e educação. É o serviço precário, é a falta de material, a falta de motivação e o adoecimento do trabalhador.

    Neste momento, os docentes de todas as universidades estaduais da Bahia permanecem em greve, bravamente resistindo ao segundo corte de salário e às investidas midiáticas desonestas do governo petista contra os trabalhadores da educação superior.

     

    Educação ou barbárie: uma luta de todos

    Somos especialistas, mestres, doutores, cientistas premiados nacional e internacionalmente que lutamos para ter condições de trabalho que nos permitam continuar dando os melhores anos de nossas vidas em prol da formação de engenheiros, geógrafos, cientistas sociais, biólogos, historiadores, físicos, químicos, contabilistas, administradores, comunicólogos, matemáticos, pedagogos, geneticistas, advogados, médicos, enfim, que continuemos formando com qualidade todos os profissionais de nível superior necessários ao bom funcionamento de qualquer sociedade moderna.

    É lamentável que o governo petista da Bahia – que de tão afinado com o governo Bolsonaro parece fazer parte dele – não entenda a importância estratégica e a necessidade social de uma universidade pública.

    Para um partido que se diz dos trabalhadores, era para ser diferente, sim. Mas vivemos tempos sem disfarces. Por isto, mais do que nunca, a luta é pela educação pública. Esta é a luta de todos. É a luta da ciência contra a barbárie. Porque o nosso lado é o lado da verdade. É o lado da desmistificação, contra o fanatismo e a ignorância. É o lado da emancipação pelo conhecimento.

    O nosso compromisso é com a educação pública, gratuita e de qualidade. Não temos ditador de estimação.

    *Roque Pinto é professor Titular de Antropologia na Universidade Estadual de Santa Cruz.

     

  • Por que o ex-queridinho da direita Marco Antonio Villa foi “limado” da Rádio Jovem Pan

    Por que o ex-queridinho da direita Marco Antonio Villa foi “limado” da Rádio Jovem Pan

    Por Bia Abramo, especial para os Jornalistas Livres

    Vocês sabiam que o boçalnarismo, aquele aglomerado de forças verde-amarelas que foram fazer manifestação a favor domingo passado (não me perguntem a favor do quê, porque aí vocês me complicam: não saberei dizer e olha que estou lendo análises desde sábado), chama o que chamamos de PIG de “extrema-imprensa”? E que por obra e graça da pressão dessa gente defenestraram um sabujo bem conhecido das ondas de rádio?

    Sim, estou falando do afastamento de Marco Antonio Villa, comentarista político da Jovem Pan. Villa, em seu passado remoto, tirou um diploma de historiador, mas, uma década para cá, pelo menos, engrossou as hostes neoconservadoras como comentarista político e passou a ostentar aquela veemência dos que sempre acham que tem razão. De articulista eventual, em “O Estado de S.Paulo” e na “Folha”, suas diatribes cada vez mais reacionárias ganharam espaço à medida que a grande imprensa foi, por assim dizer, reforçando seu time de direitistas.

    Um ideólogo e um dos grandes semeadores do antipetismo, antilulismo, antiprogressismo, antiesquerdismo (não é tudo a mesma coisa, como estamos vendo) deram nesse caldo de cultura do pensamento direitista. Villa foi um dos principais insufladores do impeachment, com programa diário na Rádio Jovem Pan e participação na bancada do Jornal da Cultura. Ao lado de Augusto Nunes, Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, Eliane Cantanhêde, Vera Magalhães, Ricardo Noblat, o ex-historiador pertence à turma que “saiu do armário” nos últimos anos do governo Dilma, para perseguir de forma sistemática aquilo que eles imaginam que seja a esquerda, ao mesmo tempo que fingiam não perceber os traços fascistas e retrógrados da direita que se formou a partir de 2013.

     

    “Cortem-lhe a cabeça!”

    Cúmplices das cortinas de fumaça do Brasil de Temer, não hesitaram em apostar todas as fichas na articulação de direita que se organizou para disputar as eleições de 2018. Venderam, como análise jornalística aparentemente séria, a máxima “é só tirar o PT” que o Brasil toma jeito. Passados cinco meses de um governo pífio, marcado por trapalhadas na condução dos assuntos do país e rompantes de autoritarismo vulgar, Villa entrou para a turma dos “arrependidos”, dos “chocados”. Esses, que contribuíram por tantos anos demonizando a esquerda e, por isso, ajudando a botar essa gente que está no poder lá, no poder, estão agora, diante de tanta inoperância e estupidez, saltando do barco e atirando uns traques. Para o bozonarismo-olavismo, esses traques soam como canhões e, por isso, pede – e obtém – essas cabeças.

    A Jovem Pan nega que tenha sofrido pressão, mas uma rápida pesquisa nas redes da direita mostra que os reparos que Villa anda fazendo ao governo Bolsonaro, ao guru Olavo de Carvalho e aos participantes da festa estranha com gente esquisita do 26 de maio não caem bem entre os bolsonaristas. Ontem, a rede de direita comemorava a saída de Villa e pedia outras cabeças que não estão rezando pela cartilha do capitão. Não é escusado lembrar que o diretor de jornalismo da Jovem Pan é Felipe Moura Brasil, wonder boy da direita criado a leite com pera pela Veja e organizador do livro de Olavo de Carvalho, nem que ministros já caíram a pedidos de Olavo.

    O que me preocupa não é o destino do sujeito em si – não comemoro, nem lamento, nem nada. Também hesito em classificar como “censura”, uma vez que censura me parece ser um ato ou conjunto de atos mais organizado(s) do Estado (Acho eu. Se estiver enganada, me avisem). Mas é um episódio nítido de perseguição política. É muito grave e alarmante que esta perseguição já esteja incidindo com essa violência e rapidez justamente sobre os aliados de anteontem. Se pensarmos que bem antes de instalado o governo Bolsonaro, a grande imprensa já tinha sofrido um processo de depuração dos jornalistas menos alinhados à direitização que foi sofrendo nos últimos anos, o cenário daqui para frente é apavorante.

    Sinal claro, a meu ver, de que a perseguição ideológica do bolsonarismo mal começou –e vai ser longa, cruenta e irracional.

     

     

    Aqui o vídeo em que Villa explica que a Jovem Pan “prescindiu dos serviços dele por 30 dias”: https://youtu.be/5KReoE2qRZg

     

  • Lição de coragem e Democracia: dois alunos do Colégio Bandeirantes exigem Lula Livre bem ao lado de Bolsonaro

    Lição de coragem e Democracia: dois alunos do Colégio Bandeirantes exigem Lula Livre bem ao lado de Bolsonaro

    Por Laura Capriglione e Lina Marinelli, dos Jornalistas Livres

     

    “E este movimento do pessoalzinho aí que eu cortei verba, o que vocês acharam?”, indagou Jair Bolsonaro a um grupo de 36 alunos do Colégio Bandeirantes, o Band, como a escola é carinhosamente chamada, que faziam uma excursão pela Capital Federal neste sábado (18).

    “Um lixo. A gente é estudante de verdade. A gente estuda”, respondeu um dos alunos.

    A imprensa deu destaque para a frase do aluno chamando seus colegas das escolas públicas e de várias particulares de “lixo”. Deu voz para os estudantes gritando “Ô Bolsonaroooo, cadê você, eu vim aqui só pra te ver”.

    Seria a prova de que, ali, onde se pratica um ensino hiper-competitivo, todos os alunos e professores endossam os cortes de 30% nos orçamentos das universidades e institutos federais de ensino. Só que não.

    O que não se mostrou, o que a assessoria de imprensa de Bolsonaro escondeu e o Colégio Bandeirantes convenientemente deletou foi a “foto pra posteridade” do encontro de Bolsonaro com os alunos. Por quê?

    Porque ali, no meio de tanta festa, de tanta balbúrdia, de tantos sorrisos perfeitos de estudantes brancos, 15-16 anos, frequentadores de uma escola de elite, que cobra mensalidades de R$ 4.000… Ali, bem pertinho de um Bolsonaro “simplão” na medida certa, de sandália, short amarelo e a camisa do segundo uniforme da Seleção Brasileira, feliz por ainda receber algum apoio quando até mesmo os entusiastas de sua candidatura pulam do barco… Bem, ali, no meio da festa, dois estudantes tiveram a coragem de destoar da farra, conscientes de que não há o que comemorar no Brasil dos nossos dias.

    Trata-se de Ivan, de 15 anos, e G., de 16 anos, que corajosamente, no meio da euforia juvenil do presidente e seus fãs, ousaram desafinar o coro dos contentes e fazer um “L” perfeito, “L” de Lula Livre, contra o desmanche da Educação e a destruição de direitos, que Bolsonaro representa.

    Tem mais: quatro alunas não quiseram sair na foto-felicidade e retiraram-se, chorando.

    Mauro de Salles Aguiar, diretor presidente do Colégio Bandeirantes, apoiou o presidente Jair Bolsonaro nas últimas eleições (fez campanha contra Fernando Haddad e o PT), além de explicitamente endossar a candidatura da atual senadora Mara Gabrilli, do PSDB de São Paulo, enviando propaganda aos pais.

    Para ele, os Jornalistas Livres enviaram o seguinte questionamento:

    Prezado professor Mauro Aguiar,

    Estamos escrevendo uma reportagem sobre o encontro do presidente Jair Bolsonaro com os estudantes do Colégio Bandeirantes, neste sábado (18).

    Segundo uma mãe de aluno essa atividade de visita a Brasília é realizada todos os anos. Havia outros colégios visitando o palácio no mesmo momento, mas o presidente resolveu conversar apenas com os seus alunos. Por quê?

    O senhor apoiou o presidente Jair Bolsonaro nas últimas eleições (fez campanha contra Fernando Haddad e o PT), além de apoiar a candidatura da atual senadora Mara Gabrilli, do PSDB. Qual a sua opinião sobre a Escola Sem Partido, projeto tão caro ao presidente Jair Bolsonaro?

    Gostaríamos de entrevistar o estudante que trava o diálogo a seguir com o presidente. Claro que isso seria feito com a anuência dos pais ou responsáveis. O senhor poderia intermediar esse contato?

    Aqui o diálogo:

    “E este movimento do pessoalzinho aí que eu cortei verba, o que vocês acharam?”, indagou Jair Bolsonaro a um grupo de 36 alunos do Colégio Bandeirantes, uma das escolas mais caras de São Paulo, que faziam uma excursão pela Capital Federal neste sábado (18).
    “Um lixo. A gente é estudante de verdade. A gente estuda”, respondeu um dos alunos.”

     

    Hoje, domingo (19), os meninos e meninas do Band chegarão a São Paulo, vindos de avião de Brasília. No saguão do desembarque, a mãe de Ivan, Fabiana Kelly, estará com outras mães, para levar uma mensagem de tolerância e amor a todos os alunos, e de solidariedade a Ivan e aos demais membros da comunidade escolar que se sentiram usados e ultrajados pela propaganda pró-Bolsonaro.

    “Eles não autorizaram que tivessem suas imagens juvenis usurpadas pela máquina de campanha do presidente.”

    “Mas nossos cartazes são de amor e de ênfase no diálogo. O bullying com quem pensa diferente de nós é um caminho sem volta para a barbárie”, diz Fabiana.

     

    Nesta segunda-feira (20), o Colégio Bandeirantes enviou à imprensa a seguinte nota, que reproduzimos na íntegra:

    “Há 6 anos, os estudantes do ensino médio do Colégio Bandeirantes fazem uma viagem para Brasília. Acompanhados de professores de história e geografia, os alunos têm a oportunidade de conhecer o Palácio da Alvorada, o Senado, a Catedral Metropolitana de Brasília, entre outros espaços. A proposta é promover uma vivência em lugares onde a política brasileira acontece, saber mais sobre personagens da história do Brasil e, ainda, desfrutar da arquitetura e da arte presentes na capital. Para a surpresa da equipe pedagógica e dos próprios jovens, pela primeira vez, um Presidente da República  recepcionou-os de forma não programada e casual. Sem restrição ideológica, a instituição valoriza a pluralidade, o pensamento crítico e a liberdade de expressão de sua comunidade de estudantes.”

     

     

  • Por que Lula ainda está preso?

    Por que Lula ainda está preso?

     

     

    Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História da Universidade Federal da Bahia, com ilustração de Fernandes

     

    Uma das principais características da crise brasileira contemporânea é o cerco inédito que o sistema de Justiça montou para acuar a classe política. Desde o nascimento da Operação Lava Jato, em 2014, diariamente o noticiário mostra o espetáculo das operações da Polícia Federal na caça aos políticos profissionais.

    Os brasileiros e brasileiras se habituaram a ligar a TV e ficar sabendo que naquele dia a PF tinha batido às seis da manhã na porta de um senador, de um deputado, de um ex-governador, para cumprir mandado de prisão. De fato, a operação Lava Jato levou para a cadeia um segmento da sociedade que até então contava com mansidão da Justiça.

    É óbvio que a população aplaudiu de pé e a Lava Jato rapidamente se tornou sucesso de público e crítica. Até mesmo a presidenta Dilma e Zé Eduardo Cardozo, seu ministro da Justiça, se deixaram levar pela popularidade da Lava Jato. Eles estavam convencidos de que a corrupção estava com seus dias contados no Brasil.

    Essa energia política era tudo que a Lava Jato precisava para o seu lance mais ousado: a prisão de Lula, o principal líder popular da história do Brasil. Funcionou. Lula foi preso em abril de 2018 e nada aconteceu. Protestos reunindo algumas centenas de pessoas aqui e acolá, mas nada capaz de salvar o ex-presidente.

    Isso quer dizer que a popularidade de Lula derreteu? Creio que não. No final de agosto de 2018, o Datafolha fez a última pesquisa em que o nome de Lula aparecia entre os presidenciáveis. Os números apontam que Lula venceria as eleições com alguma facilidade. Ou seja, as pessoas até votariam em Lula, mas não estão convencidas de sua inocência, não estão dispostas a irem às ruas levar bala de borracha no lombo e gás de pimenta na cara para defendê-lo.

    A discussão se Lula é inocente ou não, se sua prisão foi arbitrária ou legítima, terá vida longa, talvez mais longa do que a vida do próprio condenado. Não entro aqui no mérito dessa questão. Quero discutir outra coisa.

    Por que, um ano depois, Lula continua preso? O leitor mais apressado diria: porque ele roubou!

    Em um exercício puramente analítico, aceito a hipótese do leitor. Digamos que sim, que Lula tenha roubado, que seja de fato culpado.

    Lula é mais ladrão que Beto Richa ou Michel Temer?

    Por que Lula permanece preso, enquanto outros políticos notoriamente envolvidos com casos de corrupção conseguem sucessivos habeas corpus que lhes permitem entrar e sair da cadeia?

    Lula é bandido mais perigoso que Fernandinho Beira-Mar, que o goleiro Bruno, que o Maníaco do Parque? Lula não pode dar entrevistas, ao contrário de traficantes e assassinos, que mesmo presos puderam falar à imprensa.

    A conclusão, ao menos pra mim, é óbvia: mesmo que Lula fosse culpado, sua manutenção na cadeia teria motivação política.

    Lula ainda está preso porque ele representa um projeto de desenvolvimento que confronta diretamente o programa de governo que chegou ao poder em 2016, depois do golpe parlamentar que derrubou a presidenta Dilma.

    A prisão de Lula, seu total isolamento, é a representação perfeita da lógica maior da crise brasileira.

    O Brasil está atolado numa crise que parece não ter fim por causa da radicalização do conflito entre dois projetos desenvolvimentistas rivais: de um lado, está o projeto que define o Estado como o gestor do desenvolvimento nacional. Do outro lado, está o projeto que entrega essa posição de comando ao mercado.

    É a guerra entre o projeto estatista e o projeto privatista.

    O conflito não é nada novo na história no Brasil. Suas origens nos remetem aos primórdios do Brasil moderno, quando, na década de 1940, a gerência estatal começou a ser confrontada pelos grupos políticos organizados na UDN.

    Na década de 1990, nos governos do PSDB, o projeto privatista estava no poder. O PT, representando o projeto estatista, era oposição. Do começo do século XXI até 2013, o PT estava no governo, com energia política para implantar seu programa.

    Mas as sucessivas derrotas eleitorais e o inegável sucesso político dos governos comandados pelo Partido dos Trabalhadores convenceram os adversários de que seria impossível vencer nas urnas. A falta de um horizonte de retorno ao poder pela via democrática levou o projeto privatista a romper seu compromisso com a democracia.

    Não foi a primeira vez. Aconteceu também em meados da década de 1950. O resultado foi na morte de Getúlio Vargas. Aconteceu também em 1964. O resultado foi o golpe militar e o estabelecimento da ditadura.

    Fato é que o projeto privatista apostou alto e declarou guerra total ao seu rival. Não havia lugar para meia vitória. A artilharia foi pesada. O Partido dos Trabalhadores, com seu programa desenvolvimentista, precisava ser completamente destruído.

    Com isso, não quero dizer que o PT não tenha se envolvido em escândalos de corrupção. Somente um militante ingênuo seria capaz de chegar tão longe.

    Estou afirmando que a corrupção não é o núcleo duro da crise. É apenas pretexto, discurso pra legitimar perseguição política.

    Dilma foi golpeada, mas ainda assim não era suficiente.

    Também não bastava apenas impugnar a candidatura de Lula. Solto, andando pelo Brasil e fazendo campanha, Lula poderia eleger o próximo presidente. O projeto privatista não poderia dar sopa para o azar.

    O plano não deu tão certo assim. O objetivo era o retorno dos tucanos ao Palácio do Planalto. O PSDB garantiria a estabilidade política que o projeto privatista precisa. A situação acabou saindo do controle e foi Jair Bolsonaro quem herdou o ódio político que o golpismo plantou.

    O projeto privatista apostou ainda mais alto e resolveu apoiar a candidatura de Bolsonaro. Hoje, o projeto privatista está no governo, mas não tem hegemonia. Precisa disputar espaço com uma direita histérica que fez do moralismo comportamental sua profissão de fé, com os militares que se recusam a abrir mão de seus privilégios previdenciários, com a família presidencial que quer instituir a sucessão hereditária na República.

    Ao fim e ao cabo, a vitória de Bolsonaro significou uma meia vitória para projeto privatista. Não é o ideal, mas é o possível. Talvez sirva. Será?

    Mas pra servir mesmo, para que o projeto privatista consiga continuar impondo sua agenda ao Brasil, Lula precisa continuar preso.

    Já pensaram, leitor e leitora, Lula saindo pelo Brasil em caravana explicando para o povo o que significa a reforma da previdência, o que significa o fim do benefício de prestação continuada.

    Antes de tudo, Lula é um pedagogo.

    Lula solto, ou com um celular conectado à internet nas mãos, significaria a desestabilização de um governo que nasceu frágil, atravessado por conflitos internos.

    Lula solto significaria oposição efetiva agitando as pessoas. Não pode. O projeto privatista chegou muito longe, apostou alto demais. Lula não pode ser solto. Se nada de muito inesperado acontecer, Lula morrerá na cadeia. Temo que jamais ouviremos sua voz novamente.