O grito de guerra da dirigente Carmen Silva Ferreira, da Frente de Luta por Moradia (FLM), não poderia ter significado mais poderoso. De um lado, foi a senha para que 280 trabalhadores sem teto entrassem no terreno imenso encravado no bairro da Bela Vista, região central da cidade, onde há 30 anos um prédio lindo em estilo art-déco encontra-se abandonado.
Carmen e vários daqueles sem-teto conhecem bem o edifício, pertencente ao INSS (governo federal), porque já o ocuparam por mais de seis anos, dele saindo em 2004, sob a promessa de que ele seria reformado e devolvido à cidade como moradia popular. Não foi. “Vamos voltar pra casa, pessoal!” era, ali, literalmente, a convocação à retomada de um lar que um dia, no longínquo governo de Marta Suplicy, ela — ainda petista — prometeu. E não cumpriu.
O prédio elegante, erguido na primeira metade do século 20, mas hoje gravemente deteriorado, inclusive por um incêndio (foto abaixo), foi um dos dez “alvos” da FLM em uma série de ocupações envolvendo milhares de militantes da luta por moradia, desfechadas na madrugada do dia 31, na zona leste e no centro da cidade.
Os ocupantes são gente que sabe como se luta e por que se luta. São babás, cozinheiras, zeladores, eletricistas, faxineiros, cuidadores, enfermeiros, vendedores ambulantes, costureiras, mecânicos e garçonetes…. Gente que sabe o que é trabalhar muito para ganhar R$ 1.500 reais e entregar R$ 1.000 ao proprietário de uma kitinete e ali espremer toda a família. Sobram R$ 500 mensais pra comida, roupa, material escolar e transporte. Dá uma média de R$ 4 por pessoa por dia para dar conta de todas as despesas vitais, além da casa.
Sabe o que é viver assim?
Foto: Virginia Medeiros
Mas o grito de “Vamos voltar pra casa, pessoal!”, saindo da boca de uma petista como Carmen Silva Ferreira, adquiriu um novo significado em um dia marcado por mais uma derrota da esquerda num 2016 coalhado de notícias tristes para quem sonha com um mundo mais solidário.
É que, neste 30 de outubro, domingo, foram realizadas as eleições municipais em segundo turno. Um total de 57 municípios voltaram às urnas para escolher o prefeito.
Depois de o PT perder redutos eleitorais históricos, como São Bernardo, Diadema, Osasco e Santo André; depois de fracassar em entusiasmar a periferia preta e pobre de São Paulo com a candidatura do “Homem Novo” Fernando Haddad; depois de encolher eleitoralmente, boa parte das esperanças da esquerda estavam depositadas nas candidaturas de Marcelo Freixo, no Rio de Janeiro, de Edmilson Rodrigues, em Belém, e de João Paulo, em Recife, entre outras.
Foram apostas perdidas, ao menos eleitoralmente.
Depressão? Desespero?
Os pobres não têm tempo para isso.
O grito parado no ar na noite escura de São Paulo — “Vamos voltar pra casa, pessoal!” — é impossível não escutá-lo como uma senha para as forças democráticas e populares.
Carmen e seus camaradas da Frente de Luta por Moradia mostravam na prática que a esquerda precisa voltar para casa… reencontrar os seus valores e métodos. Fazer o trabalho de base esquecido por muitos, organizar o povo pobre e oprimido para que ele busque sua emancipação e sonhos.
Foto: Sato / Jornalistas Livres
“Vamos voltar pra casa” é um convite para toda a esquerda brasileira voltar para a casa comum em que se encontram os pobres, os trabalhadores, a juventude, as mulheres, os negros, os índios, os artistas, os refugiados da barbárie das guerras capitalistas, o povo LGBTTT, todas as pessoas que, nesta madrugada, não tiveram tempo para ficar deprimidas e tristes com as derrotas eleitorais e foram reescrever juntas, mais uma vez, a história da luta por um mundo mais justo.
SARAU DA PEDRA MOSTRA QUE A CRACOLÂNDIA NÃO É SÓ CRACK. TEM ARTE, RESISTÊNCIA E RENASCIMENTO
Por Flávia Martinelli, Sato do Brasil e Adolfo Várzea/Jornalistas Livres
Fotos: Sato do Brasil/Jornalistas Livres
Se no meio do caminho tinha uma pedra, nada impede que no meio de uma pedra exista um caminho. E nele, um sarau. Ali, no coração da Cracolândia, ponto excluído até dos moradores mais excluídos de São Paulo, música, dança, arte e poesia abriram um clarão na noite desta quarta-feira (25). Foi o Sarau da Pedra, nome perfeito para a linda iniciativa do projeto Casa Rodante/ Cidadania Rodante, que faz parte do “De Braços Abertos”, projeto de redução de danos da Prefeitura, parceria do coletivo casadalapa, Associação Sabiá e Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo.
Com um carro de som (curiosamente criado em forma de carroça) e um projetor de vídeo na rua, o que se viu foi alegria e até leveza no quarteirão entre o largo Coração de Jesus e a rua Dino Bueno, no mal iluminado bairro da Luz. Os microfones estavam abertos para quem quisesse se apresentar e havia público para prestigiar. Para um desavisado, aquele poderia ser só mais um sarau de rua como outro qualquer: com risadas, abraços, poses para fotografias, bate-papo sobre causos e histórias de vida, espaço para mostrar aos parceiros que se sabe cantar, dançar ou até fazer performance caprichada para a vizinhança.
Mas o Sarau da Pedra aconteceu em meio ao vai e vem do fluxo – o emaranhado de gente na busca ou no delírio da pedra. Isso, no entanto, não impediu que muitos interrompessem a marcha da fissura para prestigiar uma transsexual cantando Cássia Eller e Maria Rita ou aplaudir a dupla Chineladaaa, por exemplo. O show de do DJ Will Robson e do performer e escritor Pedro Guimarães misturou eletrofunk com imagens da pornochanchada brasileira, desenhos japoneses dos anos 80 e 90 e poesia social urbana. “O bagulho aqui foi louco”, descreveu uma espectadora. “Foi uma noite especial, a Cracolândia tá mudando e vai mostrar para a sociedade que aqui tem cultura. Eu hoje ocupei o meu tempo. Precisamos de quem faz algo diferente pra cair na mente e deixar o crack de lado.”
É, o bagulho é louco…
Júlio Dojcsar, cenógrafo, grafiteiro, artista plástico que faz parte da organização do sarau e há dois anos trabalha na Cracolândia dá sua definição lugar: “aqui não é só crack. A Cracolândia é um quilombo urbano, é negra. É também uma área de resistência contra a especulação imobiliária e de resistência contra uma política de drogas super militarizada. É um tapa na cara da sociedade”.
Júlio fala de problemas que vão muito além da pedra e acredita que o local precisa ser entendido como uma zona de exceção. “Só assim seremos capazes de enxergar a Cracolândia a partir das leis e valores dela. E não a partir dos olhos de uma sociedade hipócrita que tem uma classe média que compra Rivotril por R$ 6,50 e coloca o dedo na cara de um usuário para dizer o que ele pode e não pode fazer”.
“Aqui não é só crack. A Cracolândia é um quilombo urbano, é negra”
Júlio lembra que quem vive na Cracolândia está à margem até dos mais marginalizados. “A sociedade trata a todos aqui como um bando de almas nuas, sem valor. Consideram os usuários menos que um morador de rua, menos que um bicho. Mas a gente que está aqui dentro olha tudo de um outro jeito. Quando vejo esse sarau, acho que sociedade pode mudar. E rápido. Como? Com menos revólver na cara e mais respeito e amor. Com o bairro sendo um espaço de quem vive nele. E com a rua sendo de todos. Sendo nossa.”
Falar dessa apropriação num bairro como a Luz ganha ainda mais relevância. O que se chama de Cracolândia é na verdade um depositório de usuários que muda de lugar conforme as pressões do mercado imobiliário do centro de São Paulo. Em 2005, o tudo piorou por causa do projeto Nova Luz, da gestão do prefeito Gilberto Kassab, que desfigurou completamente o bairro em planos de desapropriação para a construção de edifícios comerciais. Assim, não espanta o fato de a Cracolândia ter mudado de endereço conforme avançava a compra de imóveis por um conglomerado de empresas, hoje capitaneadas pela seguradora Porto Seguro que instalou sua sede na região.
“Aprendi a viver a vida contando que não vai dar tempo. Mas agora eu acho que vai dar, sim”
Várias casas dos arredores onde o Sarau da Pedra foi realizado já estão vendidas ou em vias de serem arrematadas. A preço de banana, claro. “Quando tudo estiver comprado e os novos imóveis começarem a ser construídos, facilmente vão empurrar os moradores do fluxo para outro lugar e teremos outras Cracolândias”, explica Julio, dessa vez interrompido por um morador que quis participar da conversa.
É Carlos Badarós que fez questão de dizer que sua família foi cigana e que ele aprendeu a “viver a vida contando que não vai dar tempo”. Badarós diz isso enquanto enumera balas alojadas e vários remendos que fez pelo corpo. “Já pensou se você vivesse a minha vida? Você ia achar que não ia dar tempo. Mas agora eu acho que vai dar, sim. Já cheguei aos 61 anos, até que deu tempo de viver muita coisa.” Júlio concorda. Afinal, se no meio do caminho tinha uma pedra, nada impediu que no meio de uma pedra existisse um caminho para Badarós. E, no caminho, um sarau onde Badarós disse que ainda dá tempo. Há de dar.
Já dizia o refrão da marchinha do primeiro desfile do Blocolândia, em 2015:
“Alô família, O bloco da pedra tá na rua
A rua é minha, A rua é sua, Ninguém nunca tá só
Nessa vida crua e nua.”
Se o carnaval é a maior festa de rua do mundo, como se propaga aos quatro ventos, nada mais verdadeiro do que esse bloco criado nas redondezas da Cracolândia, no bairro da Luz. Como disse Cristiano Vianna, da CasaRodante,“se aqui é Cracolândia, aqui também é Luz.”
Imagens: Sato do Brasil / casadalapa para Jornalistas Livres. Edição: Eduardo Nascimento
O bloco foi criado com o fluxo de usuários de crack e o apoio dos vários grupos, coletivos e organizações que povoam o território. O coletivo Sem Ternos, a casadalapa com a CasaRodante e o Cedeca Interlagos com o Projeto Oficinas, juntos à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, CRATOD — Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas, Consultório na Rua, independentes, e a impensável parceria entre o Programa Recomeço, do Governo do Estado, e o Projeto De Braços Abertos, da Prefeitura da Cidade de São Paulo. Como tudo isso se organiza? Raphael Escobar, do Projeto Oficinas, traduz bem: “Todos os trabalhadores da ponta se unindo e pensando em algo em coletivo. Além de ser Recomeço, Governo, Prefeitura, mas é uma coisa que todo mundo tá a fim, sabe? Produzir algo que faça sentido pro pessoal da Craco.”
E o bloco teve de tudo que um bom bloco tem que ter. Teve madrinha de bateria? Sim. Destaques com suas fantasias luxuosas? Também. E diretor de bateria? Um mestre. Ala das passistas? Das boas. Ritmistas do mundo do samba? Também. Puxadores ensandecidos? Claro! Carro alegórico? Às pampas. Até a ala dos garis fechando o desfile teve.
Aqui é Cracolândia, aqui é Luz
O bairro da Luz é uma região complicada da cidade, centro de uma disputa política clara. Mas os problemas do bairro vão muito além do crack, um lugar envelhecido onde a solidão e o alcoolismo são muito perceptíveis. Se existe uma iniciativa inovadora de Redução de Danos, existe também uma especulação imobiliária gigantesca se aproveitando de uma vizinhança frágil. Contribui também a entrada de empresas predadoras na região, impedindo o livre acesso às ruas pelos seus próprios moradores, através de milícias de seguranças de calçada. Abandonada depois de vários anos em que a sua estrutura foi sendo metodicamente comprometida, vários esforços isolados vêm acontecendo na região para combater esse cenário. Mas os esforços não se complementavam e em muitos momentos, atrapalhavam uns aos outros. Com a entrada de novos atores de coletivos e esforços que já se movimentam no território há mais de dois anos, como a CasaRodante, o coletivo Sem Ternos e o Projeto Oficinas, as pontas que trabalham nas instituições governamentais se aproximaram e os trabalhos de inclusão no fluxo de usuários se intensificaram.
Pra estar aqui tem que ser gente da gente
Consideremos nossa cidade, nossa vizinhança. Todos somos vizinhos. E para vizinho a gente dá bom dia, a gente para e olha nos olhos, a gente aperta as mãos, a gente abraça, a gente cuida. E todo vizinho tem sua história. Respeitemos, então, cada história. Quem nunca teve seus problemas que achava ser impossível resolver? Às vezes, as coisas saem do controle. Não nos compete julgar, nos compete não abandonar a nossa cidade, as nossas ruas e quem faz parte dela. Todos somos vizinhos.
Em 2014, muitos eventos aconteceram na Luz e formaram um sentimento de pertencimento que o fluxo nunca teve. O cinema na rua e os mutirões de arte e jardinagem, produzidos pela CasaRodante ajudaram muito. Em 2015, as atividades aumentaram e surgiu o primeiro carnaval na Cracolândia, junto ao Projeto Oficinas, de forma ainda bem tímida, com a participação de ritmistas contratados e tudo feito com a ajuda dos carroceiros e das pessoas mais próximas. Aconteceu também a Festa da Primavera, a mobilização contra a apreensão das carroças da região feita pelo Coletivo Sem Ternos, e a Semana da Consciência Negra, quando aconteceram as rodas de Capoeira do Mestre Baiano e ensaios de bateria do Mestre Anderson.
Foto: Gabriella Moura / Outros Carnavales
Fotos: Sato do Brasil / Jornalistas Livres
Foto: Leo Savaris / Coletivo Nação
Blocolândia: Coração Valente!
A ideia de uma bateria no fluxo foi sempre do Mestre Anderson, que tentou sua implantação durante um bom tempo até conseguir o apoio do Programa Recomeço. Ali, conseguiu uma sede e espaço para guardar os instrumentos doados. Nesse momento, os coletivos e as pontas dos projetos de Saúde permitiram a maior cartada de um programa de Redução de Danos. Só poderiam participar da bateria os usuários que estivessem cadastrados e trabalhando no De Braços Abertos. O nome foi dado pelos próprios usuários na época da campanha presidencial do ano passado, mesmo que isso não signifique um apoio uníssono: Bateria Coração Valente. Toda semana tinha ensaio.
O fluxo sempre respirou samba. Tem hip-hop, tem funk, mas o samba impera. Uma radio sintonizada e o batuque começa. Esse é o ritmo do fluxo. Assim, muitos ritmistas que já defenderam outras agremiações do samba paulista aportaram na Coração Valente. Colorado do Brás, X-9 Paulistana, Peruche, Camisa Verde, Vai-Vai. As escolas mais tradicionais do carnaval paulista dando um pouco de seu ritmo para o carnaval da Cracolândia.
Os coletivos e os próprios usuários deram gás para a criação do bloco carnavalesco. Oficinas de máscaras e de instrumentos reciclados foram produzidos. Também rolou uma oficina de confecção de fantasias e adereços e, assim, o Blocolândia surgiu no cenário do carnaval paulista. Tudo dominado e produzido pelos usuários e amigos da região. O samba-enredo foi composto junto ao fluxo, músicos, artistas, moradores das redondezas e a Coração Valente deu o tom.
O Blocolândia e a Coração Valente são um organismo só. Vivo e pulsante. Assim, essa parceria construiu um dos mais belos e interessantes causos do carnaval paulista.
Chegou, chegou, chegou! A nossa comunidade firmou
Como diziam os antigos.. Até do lixão nasce flor
Venha conhecer a nossa nova comunidade
De braços abertos.. É o recomeço da liberdade
Pra viver aqui .. Tem que ter coração valente
Por isso eu digo ao mundo ..Para estar aqui
Tem que ser gente da gente!
Foto: Sato do Brasil / Jornalistas LivresFoto: Leo Savaris / Coletivo NaçãoFoto: Leo Savaris / Coletivo Nação
De braços abertos é o recomeço da liberdade
Quem vive a rua merece se divertir nela também. Num território em que a polícia constrói um quadro permanente de tensão e violência e as empresas criam um exército de seguranças, a melhor cena foi a de um ritmista que saiu de sua posição na bateria, se dirigiu à porta de vidro de uma empresa em que os seguranças, do lado de dentro, não tinham nenhum receio de mostrar a sua indisposição com o bloco, e com as mãos desenhou um coração no vidro. Uma demonstração de cidadania muito maior que qualquer ação dessas empresas que invadiram o bairro de forma danosa e virulenta.
Talvez o que Carlão, um dos foliões que carregou o tempo todo um cetro de realeza, resumiu, contemple essa ideia: “Pra mim, tá aqui, nesse Blocolândia… é uma mudança, uma mudança na vida. É uma luta, brincando.”
Todo o dia no fluxo é um dia de luta. Combater o preconceito, o desconhecimento, é fundamental nessa alegria contagiante para rebater os incrédulos. Muitos moradores se juntaram à folia como em qualquer outro bairro da cidade. Dona Carmen, uma senhora que mora no bairro há tanto tempo que nem se lembra mais, nem sabia que era o bloco dos usuários: “Meu filho, tá tudo bonito, tá todo mundo se divertindo, né mesmo? Que diferença faz?” Novamente Escobar, também um dos puxadores do bloco complementa:“Com o preconceito todo que tem na vizinhança, quando você vê, tá todo mundo com a cabeça pra fora na janela, dançando junto, descendo junto pra dançar com a galera, é um ressignificar do que pensam sobre eles e acho isso importantíssimo. É um ocupar a cidade, ocupar o espaço que eles tem, mas com empoderamento deles.” O outro puxador do bloco, o Macaco Louco emendou: “É tudo nosso! Aqui tem história.”
Foto: Leo Savaris / Coletivo Nação
Em tempos que a grandiosidade do carnaval de São Paulo está tomando conta das ruas, nós sempre pensamos naqueles blocos tradicionais, de amigos e de amigos de amigos, uma verdadeira festa de comunidade, uma família. Aqueles pequenos blocos, onde todo mundo se conhece e canta e dança junto. O verdadeiro carnaval de rua na sua essência. Nada mais verdadeiro, nada mais comunitário, nada mais familiar que o cortejo do Blocolândia e Coração Valente. Pontuou Julio Dojcsar: “Quem tá na rua, tomando a rua, não tem Portolândia aqui não, é mostrar que por mais que a galera seja usuária de drogas, tá todo mundo vivo. Antes de ser usuário, já era uma pessoa, continua sendo uma pessoa.” Simplesmente a alegria estampada no rosto, no ritmo, na batucada e no sorriso como qualquer morador dessa cidade merece ter. Como a madrinha de bateria, que sempre que a Coração Valente se ajoelhava, numa convenção inventada pelo Mestre Anderson, ela, impávida e dona de si, evoluía maravilhosa por entre os integrantes da “furiosa”. Como a ala dos tamborins, que abria a frente da bateria com 3 ritmistas grávidas. A molecada já nascendo no ritmo. E a felicidade dos foliões que, de mão em mão, empunhava com respeito e alegria, o estandarte do bloco.
Ao terminar o circuito, duas horas de batucada e samba no pé, muitos ritmistas e foliões pararam pra se abraçar. Agradecimentos mútuos e a certeza de terem feito algo belo nessa cidade. A última ala, feliz da vida, foi a dos garis da Prefeitura. Acompanharam todo o trajeto varrendo, sambando, dançando.“Valeu, hein, gente?”, gritou um deles ao guardar seus instrumentos de trabalho. No fim do cortejo, dois ritmistas se abraçavam em meio à lágrimas e pulos de alegria. Foi então que um se virou pro outro e disse baixinho: “O baguio é nosso!”
Com duas mil pessoas nas ruas, movimento assegura data de lançamento de edital do Minha Casa, Minha Vida — Entidades e outras reinvindicações.
Na tarde de ontem(16) cerca de 3.000 militantes do MTST — Movimento dos Trabalhadores Sem Teto realizaram um ato para pressionar a prefeitura a cumprir os acordos acertados com o Movimento, como a liberação de terrenos para o MTST e de recursos para os projetos dos mesmos.
Após longa reunião dos Coordenadores do MTST com a Secretaria de Habitação, Guilherme Boulos, José Pivatto, Secretário Adjunto de Relações Governamentais, e Américo Calandriello, Secretário-adjunto da Secretaria Municipal de Habitação, anunciaram juntos as reivindicações conquistadas:
comprometimento por parte da prefeitura de publicar o edital Minha Casa, Minha Vida Entidades até o dia 30 de setembro. O governo também se comprometeu a incluir 3 ocupações do Movimento no edital: Chico Méndez 2, Dandara e Numa Pompílio, nas Zonas Sul e Leste da Cidade;
comprometimento da prefeitura de liberação de recursos para assessoria técnica por meio de decreto assinado pelo prefeito Haddad até o dia 10 de outubro;
conquista dos apartamentos das moradias da Rua São Caetano, que deverão ser completamente revertidas aos moradores da ocupação Estaiadinha;
agilização do processo de regularização da Ocupação D. Deda e de outras ocupações.
Boulos finalizou: “Para nós, não basta falar de moradia, temos que falar de
moradia digna, de estrutura, de lazer, de urbanismo.”. No próximo dia 23 o
MTST está convocando uma nova manifestação, contra os cortes na habitação e a política econômica do governo federal.