Jornalistas Livres

Categoria: memória e Justiça

  • O estado e exceção ontem e hoje

    O estado e exceção ontem e hoje

    No dia 31 de março de 1964, os militares, com o apoio da burguesia, instalaram o regime ditatorial no Brasil, que agravou-se ao longo dos 21 anos que perdurou.


    Milhares de brasileiras e brasileiros perderam seus direitos, foram exilados, agredidos, torturados, abusados sexualmente, assassinados, sequestrados e 436 militantes ainda estão desaparecidos.
    Os crimes foram anistiados e os algozes não responderam juridicamente pelas práticas de violência moral e física, acentuando ainda mais as injustiças no Brasil.

     


    Quase 53 anos após a ditadura, o estado de exceção burocrático ainda permanece na realidade política, jurídica e social do país. Esse estado de exceção não apenas incentiva, mas pratica  frequentemente, o fascismo contra as minorias, principalmente entre os negros e pobres.
    Em 2016, os parlamentares brasileiros financiados por empresários, golpearam o país ocupando a presidência e estabelecendo sérias medidas contra toda a população.
    Em repúdio à ditadura militar vivenciada no passado e ao momento político atual, a Comissão da Verdade Rubens Paiva organizou nessa sexta, 31/03 o ato questionando ao Estado brasileiro “Onde estão os desaparecidos políticos?” e discutiram “O estado e exceção ontem e hoje”.


    Participaram do debate, acadêmicos, estudantes, familiares e amigos dos desaparecidos.
    Houve manifestação artística com músicas e atores que representaram as crueldades do período ditatorial.
    Movimentos como o Cordão da Mentira, movimento de mulheres Olga Benário, jornalistas e políticos também estiveram presentes.

  • JOÃO VICTOR NÃO FOI O ÚNICO MENINO MORTO NO HABIB’S

    JOÃO VICTOR NÃO FOI O ÚNICO MENINO MORTO NO HABIB’S

    Por Kelly Santos, especial para os Jornalistas Livres

    João Victor não foi o único menino morto em frente ao Habib’s da Vila Nova Cachoeirinha. Há exatamente 15 anos, no dia 17 de março de 2002, Cláudio Carvalho Tenório, 14, foi alvejado pelas costas e morreu em frente à loja. Cláudio e seus amigos Weliton Inácio da Silva, Rogério Soares Fonseca e Leandro Júlio da Silva passeavam na avenida Inajar de Souza, quando decidiram comprar umas esfirras no estabelecimento. Weliton e Leandro ficaram aguardando do lado de fora e presenciaram quando alguns garotos passaram, provocando os cachorros dos seguranças. Em seguida, Cláudio saiu da loja e foi confundido com um desses garotos. Por causa disso, o segurança Anderson Cristian Pereira de Andrade atirou contra o menino, que morreu horas depois.

     

     

    A Itaberaba Point Super Lanches LTDA, nome da unidade franqueada do Habib’s, no caso de Cláudio, também procurou desqualificar e criminalizar as vítimas. No decorrer do processo, alegaram que os garotos costumavam assistir competições de “rachas” de automóveis que ocorriam nas proximidades da loja, e que os amigos dos jovens envolvidos promoveram um quebra-quebra na lanchonete após os fatos. Também negaram que Anderson fosse funcionário do Habib’s e informaram que ele estava apenas substituindo um segurança e não tinha vínculo empregatício com a empresa.
    Anderson ficou foragido por um ano e foi preso no Rio de Janeiro. Ele confessou o crime e foi condenado à prisão além de confirmar que estava a serviço do Habib’s na ocasião.

     

    ATO EM LEMBRANÇA DE JOÃO VICTOR 

    Foto: Luciney Martins, especial para os Jornalistas Livres

     

    Nesta quinta-feira, 16/03, aproximadamente 100 pessoas participaram do ato em homenagem ao menino João Victor de Souza Carvalho morto no dia 26 de fevereiro em frente ao Habib’s da Vila Nova Cachoerinha, zona norte de São Paulo. Entre familiares e amigos, estavam também representantes de movimentos que atuam na periferia, moradores de rua, e a população indignada.
    O menino foi brutalmente assassinado por funcionários do Habib’s, segundo a única testemunha a se apresentar, a catadora de materiais recicláveis, Silvia Helena Troti, 59. Em depoimento à polícia, ela disse que “um homem forte, gordo, moreno, com uniforme do Habib’s” deu um soco na cabeça do garoto, fato que o levou ao desmaio (e provavelmente à morte). Essa versão ganha força com as imagens de vídeo que mostram João Victor sendo perseguido pelo supervisor Guilherme Francisco do Santos e o gerente Alexandro José da Silva, ambos funcionários da loja, que reaparecem no vídeo arrastando o garoto pelos braços, com a bermuda abaixada e sem nenhuma reação, aparentemente desmaiado.

    Em mais uma tentativa de fugir da responsabilidade pela morte do menino, o Habib’s divulgou comunicado nessa quarta-feira, 15, em que associa a morte de João Victor ao uso de drogas e à sua vulnerabilidade social. Eles divulgaram boletins de ocorrências policiais envolvendo o adolescente o que motivou o Ministério Público a abrir investigação para apurar a conduta da da rede de restaurantes, uma vez que a empresa infringiu o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) quando expôs o garoto sem autorização da família e da Justiça.
    “Chegamos ao ponto de uma criança de 13 anos ser assassinada porque tinha fome, João Victor está longe de ser o único. É crime ser pobre, é crime pedir dinheiro para comer. O Habib’s, uma rede de lanchonete que já tem muito dinheiro, orienta os seguranças a ter essa política de bater em quem pede na frente das lojas.”, afirmou Rafaela Carvalho, do Movimento de Mulheres Olga Benário, entidade que organizou o ato.
    O Advogado Ariel Castro, coordenador da Comissão da Criança e do Adolescente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe-SP), também esteve presente e falou sobre outro ponto polêmico do caso: o laudo assinado pelo médico Danilo Vendrame Vivas que inocenta o Habib’s e descarta as agressões sofridas por João Victor, sentenciando que sua morte ocorreu pelo uso de drogas.
    “Na história recente do nosso país tivemos o caso do médico legista Harry Shibata, acusado de assinar laudos necroscópicos falsos de presos políticos assassinados pela ditadura. Não que estejamos afirmando que isso também ocorreu nesse caso. Mas para termos a garantia da verdade, é necessária a exumação do corpo de João Victor que já foi solicitada pela família”, afirma Ariel Castro.
    Foto: Luciney Martins, especial para os Jornalistas Livres

     

    O nome de Shibata aparece diversas vezes no “Dossiê dos mortos e desaparecidos políticos a partir de 1964”. Entre laudos assinados por ele estão o do suicídio forjado de Vladimir Herzog. e o tiroteio que matou de Carlos Marighella, que na verdade foi executado com vários tiros.
    Quanto ao médico legista Danilo Vendrame Vivas, o que se sabe dele é que, além de admirador do Bolsonaro, é a favor da redução da maioridade penal, fez postagens em sua página do Facebook agredindo beneficiários do Bolsa Família e tinha costume de fazer vários comentários homofóbicos. Ele desativou sua conta na rede social após a divulgação das postagens pela Revista Fórum.
    Na mesma linha do ultraje, Adriano Kirche Moneta, assessor de imprensa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, que trabalha para a CDN Comunicação, chegou a zombar da morte de João Victor e do boicote feito ao Habib’s. Veja aqui uma de suas postagens logo que o laudo de Vendrame Vivas foi publicado “inocentando” o Habib’s e seu segurança.No final do ato, os manifestantes seguiram em caminhada pacífica até o Habib’s da Rua José Bonifácio. Eles exigiram o fechamento da loja e a polícia militar foi chamada mas isso apenas deu mais coragem: “Aqui não tem ladrão, prende logo o assassino do João”; “Esfirra de Sangue”. O protesto só terminou quando os funcionários baixaram a porta do estabelecimento.
    “A gente vive um golpe e aumenta a violência e a repressão aos movimentos sociais. Cada vez mais a juventude pobre e negra está sendo marginalizada e criminalizada por uma polícia racista que logo de cara fez um Boletim de Ocorrência com a versão do Habib’s, uma versão mentirosa, que quis culpar uma criança de apenas 13 anos pela sua própria morte”, afirma Wanderson Carvalho Pinheiro, da Comissão dos Familiares e Amigos do João Victor.

     

    Veja mais textos sobre o caso João Victor AQUI e AQUI .

  • Empatia: as guerreiras da história refletidas no olhar da juventude

    Empatia: as guerreiras da história refletidas no olhar da juventude

    Luz, contraste, maquiagem, talco e uma boa dose de paixão: estes são os ingredientes do ensaio que, em duas edições, contou com a participação de mais de 100 mulheres, representando lutadoras históricas brasileiras e internacionais, e irá ser editado para montar um livro sobre o projeto. Em breve, a campanha de financiamento estará disponível no Catarse.

    Foto: Alessandra Malachias/ Jornalistas Livres

    Cada personagem foi representada por uma militante, e dentre integrantes do Levante Popular da Juventude e parceiras da causa, cada rosto foi se tornando parte do mosaico de causas ocultadas na história.

    “Inicialmente nós pensamos em fazer um projeto fotográfico resgatando a história de mulheres que a população não conhece, nem nós feministas mesmo, porque na história houve uma hegemonia dos homens, e essas mulheres foram apagadas e a gente queria muito resgatar a historia de vida delas.”, explica Fernanda Maria Caldeira, do Levante Popular da Juventude.

    Nayra Ramira, responsável pela maquiagem a partir do segundo ensaio, diz que o conceito básico de seu trabalho é igual para esse e para outros trabalhos, porém o significado de representar mulheres historicamente negadas que foram tão grandiosas é o que traz um diferencial ao “Mulheres Cabulosas da História”. “É um projeto bacana que mostra o empoderamento das mulheres, e mostra que as mulheres, ao contrário do que a sociedade diz, são capazes de fazer muito mais e não precisam ficar na sombra dos homens”. Sobre o poder do seu trabalho, ela fala com alegria: “isso é uma paixão pra mim, a maquiagem é capaz de mudar a vida das pessoas, e esse trabalho mostra que nós temos o poder”.

    Na luta, elas se confundem. Lado a lado, a história das mulheres cabulosas vai ganhando força através do rosto e da luta das guerreiras belorizontinas do século XXI. E, para além da inspiração, representar grandes nomes femininos é uma grande responsabilidade. Fernanda Maria explica que “a ideia era se inspirar na mulher e na história de vida dela, e buscar características físicas em comum para representá-las.”

    Foto: Alessandra Malachias/ Jornalistas Livres

    Para Chantal Araújo, o ensaio tem um peso diferente para cada mulher. A cabeleireira conta que dar visibilidade para mulheres que foram apagadas faz com que muitas meninas se sintam mais bonitas e confiantes. “O efeito na autoestima das meninas, principalmente as negras que representam grandes mulheres na história, é incrível. É muito diferente de fazer qualquer outro tipo de cabelo, porque muitas vezes você não vai fazer um cabelo esteticamente bonito, mas sim moldá-lo para ficar parecido. São cabelos do cotidiano de épocas, sem tantos recursos”. Para ela, esses efeitos tem o potencial de transformar o conceito de beleza, que na visão dela é “a confiança que a menina tem”.

    Ana Paula Cândido,  militante do Levante Popular da Juventude, é um dos exemplos de empoderamento negro através do projeto. Ela conta que “interpretar Nina Simone no Mulheres Cabulosas da História foi a experiência mais emocionante, libertadora e ao mesmo tempo encorajadora, foi uma experiência que eu nunca tinha vivido antes e isso me engrandeceu de uma forma que fica difícil até de explicar.”

    Dando o tom do que o ensaio representa na vida das meninas que participaram, ela conta, emocionada: “Saber a importância da mulher, conhecer o potencial e descobrir que podemos ser muito mais do que imaginamos é emocionante e traz uma paz interior, uma calmaria. A aceitação é um processo doloroso e depois deste ensaio eu venci, eu me aceitei, eu me descobri e eu posso dizer com toda certeza que eu sou outra mulher, outra mulher cabulosa!”

    Foto: Alessandra Malachias/ Jornalistas Livres
  • Uma homenagem à guerreira Marisa Letícia

    Uma homenagem à guerreira Marisa Letícia

    Hora doída de sofrer e dizer: adeus, Dona Marisa. Hora eterna e amarga de perda. De confortar e ser confortado na certeza de que injustiças e perseguições não mais lhe farão diferença. Hora de agradecer a senhora por sonhos tidos juntos, que realizaram a certeza de que sim, não há porque ter medo de ser feliz. E de que é possível, sim, ser dono da própria história. Hora de chorar junto com seu grande companheiro de toda vida.

    Hora de fixar na memória sua coragem e dignidade, de ter seu exemplo como referência.

    Hora de recolhimento, de abraçar e ser abraçado. De escolher bem os pensamentos e as palavras. De pensar e dizer, em sua homenagem: que a luta continua.

     

  • A solidariedade é vermelha; o amor é vermelho

    A solidariedade é vermelha; o amor é vermelho

    E foi um tal de procurar a estrelinha do PT. “Onde foi que eu deixei?” Perdida no meio das bijouterias ou naquela caixinha com as recordações da primeira campanha presidencial de Lula, em 1989? Ou será que…

    Muitos militantes apareceram com suas estrelinhas vintage afixadas no peito, para homenagear Marisa Letícia Lula da Silva, ontem, 4/2, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. E com flores, e com camisetas vermelhas e com bandeiras estreladas do PT, agitadas com a força da indignação.

    Morta aos 66 anos, o atestado de óbito de Marisa Letícia Lula da Silva registrará que ela morreu por complicações decorrentes de um AVC (acidente vascular cerebral), depois de agonia de 10 dias, período em que ficou internada no Hospital Sírio-Libanês.

    Para boa parte dos amigos e da militância do Partido dos Trabalhadores, contudo, Marisa morreu em decorrência do linchamento que sofreu desde que sua vida e a de sua família passaram a ser devassadas por investigações de corrupção que, de concreto, encontraram um tríplex que jamais pertenceu aos Lula da Silva, um sítio em Atibaia cuja escritura mostra outros donos, a propriedade de dois pedalinhos ancorados em um lago minúsculo, e um barco de alumínio que custou a bagatela de R$ 4 mil.

    “Marisa morreu triste [por causa da] canalhice, leviandade e maldade que fizeram com ela… Quero que os facínoras que levantaram leviandades contra ela tenham um dia a humildade de pedir desculpas”, disse Lula, durante discurso emocionado no velório, quando da cerimônia de fechamento do caixão. O corpo de Marisa vestia um vestido vermelho e um amor. No peito, uma estrelinha.

    Fosse uma morte aceita como simples fatalidade, e haveria amigos e companheiros presentes. Mas não o ato de solidariedade e desagravo, vinte mil pessoas tendo passado diante do corpo morto de Marisa, segundo avaliação da Polícia Militar no local. (leia aqui)

    E foi a antiga militância do PT que protagonizou o abraço emocionado em Lula e sua família enlutada e ofendida. Nas filas gigantescas que se formaram em torno do sindicato para cumprimentar o ex-presidente –ele fez questão de abraçar cada um dos que foram até lá, apesar da reprimenda dos seguranças, que temiam algum atentado—viam-se os muitos rostos vincados de pessoas pobres que participaram das lutas históricas dos metalúrgicos do ABC e do PT, heróis anônimos da greve de 1979, quando 113 mil metalúrgicos cruzaram os braços e pararam as máquinas em São Bernardo, Santo André, São Caetano e Diadema, enfrentando todo o aparato repressivo da Ditadura.

    Era gente que se tornou petista em 1989, Lula contra Collor, mulheres que participaram com Marisa da passeata das mulheres pela libertação dos sindicalistas presos na greve de 1980, Lula incluído. Eram gerações diferentes. Gente que fez campanha para o PT na base do mimeógrafo, da faixa escrita à mão (como se valorizava então a caligrafia!) e da camiseta que, na época, a gente orgulhosamente sabia estampar em silk screen. E que financiava as campanhas eleitorais vendendo broches de estrelinhas –sempre elas. E ficava lindo!

    Coração geográfico da esquerda

    Bem que ofereceram o hall monumental da Assembléia Legislativa de São Paulo, no Ibirapuera, para que lá se fizesse o velório e o povo se despedisse dela.

    Lula não aceitou.

    Foi no Sindicato que o operário viúvo conheceu Marisa, também viúva. Foi lá que eles se casaram. Foi lá que nasceu a idéia de um novo partido “diferente de tudo que está aí”. E é lá que vive o núcleo afetivo e amoroso da esquerda brasileira. Núcleo da resistência e da luta da classe trabalhadora.

    [slide de fotos]

    Os repórteres da “Folha de S.Paulo” notaram com razão que “a presidente Dilma compareceu à cerimônia, que reuniu poucos políticos não-petistas”.

    Foi o PT pré-poder, principalmente, quem se reuniu para a solidariedade a Lula. Lá estava Luiza Erundina aos prantos. Lindbergh Farias, o cara-pintada que derrubou Collor. O ex-dirigente sindical e ex-deputado federal Djalma Bom, 77 anos, operário aposentado da Mercedes-Benz. Djalma chegou a soluçar enquanto falava aos Jornalistas Livres. Emocionado, pediu que a morte de Marisa não seja esquecida. “Porque o ódio, a calúnia, a mentira e a intolerância foram determinantes para o agravamento da saúde e a morte da companheira Marisa. Isso tem de parar.”

    Luís Rodrigues, o Luisinho da Perkins, de São Bernardo do Campo, acabou de se submeter a uma cirurgia para extração de um câncer de próstata. Saiu do hospital há dois dias e ainda tem de conviver com a bolsa de drenagem de urina, mas foi, assim mesmo, meias de compressão contra uma trombose, chinelos e roupão, para o Sindicato querido, levar sua solidariedade e Lula. “Eu conheci a Marisa. Morava a 200 metros da casa de Lula no [bairro de] Assunção, em São Bernardo; meus filhos estudaram com os filhos do Lula. A gente sabe quanto o Lula ama a Marisa. Por isso, viemos aqui, dar o nosso apoio a ele, nesta hora tão difícil. E ela onde estiver vai apoiar o Lula.”

    Golpistas ficaram longe

    É difícil imaginar Geraldo Alckmin no meio do território de classe. A coroa de flores que ele enviou foi parar na porta do banheiro do sindicato –disseram que foi por falta de espaço, já que havia mais de 100 . Também seria impensável ver Temer lá. Ou algum dos golpistas que se tinham aventurado a visitar Lula na ante-sala da UTI onde Marisa recebia os últimos cuidados, no Hospital Sírio-Libanês.

    Foto: Tuane Fernandes

    A narrativa que no Sindicato se fazia combinava a luta operária à história de amor entre Lula e Marisa, que todos ali testemunharam de perto; e não de ouvir dizer.

    MAS…

    O carinho entre Lula e Marisa, o respeito e a dedicação que ele sempre devotou à mulher com quem se casou em 1973, tudo isso ficou repentinamente incômodo para aquela certa direita-que-odeia.

    Tão logo Marisa foi internada, o neurocirurgião Richam Faissal El Hossain Ellakkis postou nas redes sociais a exortação a seus colegas para que matassem a paciente. “Esses fdp vão embolizar ainda por cima. Tem que romper no procedimento. Daí já abre pupila. E o capeta abraça ela.”

    Assassino potencial, Richam não esteve só na barbaridade. Ele contou com a cumplicidade de colegas que vazaram exames de Marisa pela rede, atitude liminarmente vedada pelo Código de Ética Médica-2009, que impõe: “o médico guardará sigilo a respeito das informações que tenha conhecimento no desempenho de suas funções, com exceção dos casos previstos em Lei”. Para piorar, esses médicos-monstros fizeram tais vazamentos serem acompanhados de troças e chacotas contra a paciente.

    A rede, felizmente, revoltou-se com tamanho horror. Os médicos envolvidos perderam seus empregos, o Conselho Regional de Medicina apreciará suas condutas e poderá até vir a cassar o registro profissional dos meliantes.

    Chega? Não. A direita raivosa prossegue no linchamento moral de Marisa, Lula e familiares, agora colocando em dúvida o amor entre eles. Este é o mote hoje nas redes sociais.

    Luta que segue.

    A classe operária, os pobres e os oprimidos em geral que lotaram o sindicato dos metalúrgicos do ABC, atendendo ao chamado de seu amigo e camarada Luiz Inácio Lula da Silva, bandeiras ao vento, estrelinhas no peito, mostraram mais uma vez que a solidariedade é vermelha, que o amor é vermelho. Que a união fortalece o espírito que sofre. É disso que a burguesia, com razão, tem medo.

    Foto: Tuane Fernandes

    #MarisaPresente

    #ForçaLula

  • Vídeo mostra polícia atirando em presídio

    Vídeo mostra polícia atirando em presídio

    Uma das grandes obscuridades em relação aos recentes massacres nos presídios em Manaus e em Boa Vista é a participação da Polícia Militar. Quando acontecem rebeliões nos presídios, os batalhões de choque da PM são os responsáveis por atuar para acabar com os motins. Até agora não se sabe como a polícia atuou no momento das mortes, durante as negociações ou quando acabou a briga entre facções (o que obviamente aconteceu, ainda que o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, queira negar).

    As informações oficiais de Manaus, por exemplo, dão conta de que a Polícia Militar entrou “pacificamente” no Compaj após o fim das negociações. A versão dos familiares é outra: a polícia teria matado – à queima roupa e na frente de qualquer um que passasse pela cena – os presos que fugiram do complexo penitenciário. Dos cerca de 200 foragidos (podem ser muitos mais), apenas 63 foram recapturados com vida. Os agentes penitenciários também contam outra história. Dizem que a polícia entrou para matar. “Quando os policiais entraram, não queriam saber se era agente ou bandido. Eles atiravam. Ainda bem que a polícia de choque não entrou logo de início, se não a gente ia morrer”, contou à Folha um agente penitenciário feito refém. Um vídeo divulgado neste sábado mostra a polícia de Roraima atirando nos presos depois do final da rebelião com bala de borracha a uma distância que, dependendo de onde acerte o tiro, é letal. Isso é tortura.

    A atuação da Polícia Militar matou pelo menos 111 presos no Massacre do Carandiru, o maior extermínio de pessoas sob custódia do Estado da América Latina – e o segundo maior do mundo. O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, e o presidente da República, Michel Temer, vêm, a cada dia, negando o óbvio: houve massacre (não foi acidente); o período de tensão era conhecido pelas autoridades federais; o rompimento entre as facções era sabido pelo governo federal; as condições degradantes das cadeias foram amplamente estudadas e divulgadas para a União. Querer que a população acredite que autoridades e polícia não tiveram participação nas mortes, seja por ação ou por omissão, é acreditar que o brasileiro não pensa e que não tem memória.

    Cenas de tortura

    O vídeo mostra policiais mascarados entrando na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista Roraima, enquanto atiram com escopetas calibre 12 municiadas com bala de borracha.

    Os alvos: presos a poucos metros de distância.

    A distância considerada segura para o disparo de balas de borracha – munição de elastômero – é de 20 metros. Disparos de distâncias menores do que esta aumentam consideravelmente o risco de ferimentos graves, inclusive levando ao óbito.

    “‘Bora, caralho, ‘bora”. “Vai, vai, filho da puta!”, gritam os policiais para os presos, já dominados e desarmados.