Jornalistas Livres

Categoria: memória e Justiça

  • Che Guevara: um homem movido pelo amor

    Che Guevara: um homem movido pelo amor

    Por Elaine Tavares, jornalista e documentarista do IELA (Instituto de Estudos Latino Americanos da UFSC)

    Sempre que se fala em Che Guevara a primeira coisa que vem a mente é a imagem do soldado, do revolucionário. Essa era uma das facetas do Che. Mas não a única. Desde bem garoto ele inventou de andar pela América Latina, gostava de conhecer as gentes e, com elas, estabelecia vínculos de amor. Formou-se em medicina e ainda estudante voltou a percorrer os caminhos da América do Sul. Seu coração de jovem médico era apaixonado por essa América profunda, pelos trabalhadores, pelos empobrecidos.  Ele não queria que a realidade fosse assim, tão dura, com os trabalhadores.  E foi esse amor pela sua gente latino-americana que o levou a ser um soldado da revolução cubana. Com seus companheiros cubanos ele empunhou o fuzil para derrubar uma ditadura, mas também cuidou dos caídos, dos doentes, dos feridos. Médico e soldado, coração e razão, sempre andando junto.

    Quando a revolução foi vitoriosa ele acabou sendo Ministro da Indústria e Comércio. Mas, seu trabalho nunca foi só de gabinete. Ele andava pela ilha, vendo as coisas com os próprios olhos, trabalhando junto com os trabalhadores no corte da cana, no carregamento dos grãos. Vivia como pensava. Ele acreditava que um homem e uma mulher revolucionários precisavam  ser perfeitos, éticos, pautados pelo bem comum. Ele dizia: “temos de ser o melhor marido, o melhor filho, o melhor pai, o melhor estudante, o melhor trabalhador, o melhor tudo. Temos de ser perfeitos, para ser exemplo. Tudo aquilo que formulamos como moral para o outro, temos de ser”.  A palavra para ele não era coisa vã. Era a escritura de uma ação concreta na vida.

    Tanto que não conseguiu aquietar-se num cargo de ministro da recém liberta nação cubana. Aquela gente sofrida da América que ele conhecera nas suas andanças continuava amargando dores, misérias e exploração. Então, para ele não podia haver acomodação na vitória. Seu desejo era voltar e iniciar uma revolução na parte sul do continente. Mas, naqueles dias, outros povos clamavam por libertação. Eram as gentes do continente africano que começavam suas lutas de independência das colônias europeias e do racismo fomentado por elas. Che não pensou duas vezes. Largou a pasta de ministro e foi se fazer soldado de novo. Ele era movido por profundos sentimentos de amor. “Enquanto houver um irmão injustiçado, somos companheiros”, era seu lema.  Como poderia descansar se outros companheiros e companheiras estavam em luta. E lá se foi para o Congo e Angola, batalhando contra o apartheid e o colonialismo.

    Na volta da África, de novo, seu coração decidiu por fazer valer a ética que o caracterizava: o amor pelo outro, pelo caído, pela vítima do sistema capitalista, pelo que se levantava em rebelião. E, mais uma vez recusou cargos ou honrarias. Não haveria de descansar enquanto toda a América Latina não avançasse para um tempo de justiça. Foi quando viajou para a Bolívia, onde iria combater outra ditadura. Lá, por conta das diferentes condições históricas e erros de estratégia, foi capturado. Um dia depois, assassinado friamente por um soldado boliviano, mas a mando de agentes estadunidenses que foram chamados para documentar a morte do revolucionário. Não contentes em executar o então prisioneiro, desarmado e indefeso, os agentes lhe cortaram as mãos. Um toque de sadismo. Era preciso tripudiar do homem que ousara sair do comodismo de uma boa vida de médico burguês, e abraçara a causa dos trabalhadores, dos oprimidos.

    A última imagem que temos do Che é a de um homem morto, deitado numa mesa fria, com os olhos bem abertos, mirando o infinito. Nem na morte os seus carrascos conseguiram apagar a luz que emanava do seu ser.

    Obedecendo aos preceitos éticos que pregava, el Che foi o homem perfeito. Amou as mulheres, amou seus filhos, amou Cuba, amou o conhecimento, amou os cubanos, amou os africanos, amou os latino-americanos, e por conta desse amor incondicional entregou sua vida.  Ele curou vidas, produziu teoria, dirigiu uma revolução, comandou um ministério, morreu por seus ideais.

    Esse é seu maior legado. Viveu o tempo todo, na prática, aquilo que apontava como teoria, como moral e como ética. Morreu de pé, olhando o inimigo no olho. Seu exemplo de ser humano é sua maior herança.

    E hoje, quando lembramos os 50 anos do seu assassinato, é isso que nos conforta. Che Guevara ainda é um caminho.

    Do Jornal  Che vive!  50 anos

    Associação José Martí e Instituto Arco Íris

  • Precisamos falar sobre Dilma

    Precisamos falar sobre Dilma

    Publicado originalmente por Alexandre Santini* na ANF – Agência de Notícias das Favelas

    Nesta semana, a Câmara dos Deputados deve rejeitar a denúncia e o pedido de investigação contra Michel Temer. Apesar das evidências explícitas, do flagrante delito, da conversa indecorosa com um empresário corrupto na calada da noite em sua residência oficial, do seu assessor Rodrigo Rocha Loures correndo pelas ruas de São Paulo com uma mala de dinheiro, a denúncia contra Temer provavelmente será arquivada. Mesmo com as provas e a desaprovação massiva ao seu governo, Temer se agarra ao cargo, e vai se arrastando no poder enquanto o país é tragado pelo abismo de uma crise institucional sem precedentes.

    Vamos lembrar que em abril de 2016, num dia de domingo, até o Campeonato Brasileiro de Futebol foi interrompido para que o Brasil acompanhasse ao vivo a sessão presidida pelo então poderoso chefão da Câmara dos Deputados, o hoje detento Eduardo Cunha. Cunha autorizou o início do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, que culminou em seu afastamento da presidência da República. O espetáculo grotesco dos parlamentares votando em nome de Deus, das mulheres, dos filhos, enrolados na bandeira do Brasil ou de seus estados, falando em ética, moral e bons costumes para justificar a cassação de Dilma é algo que não deve ser esquecido, a figurar como um dos episódios de hipocrisia explícita mais eloquente da história recente do país. É preciso conferir como será a sessão que vai votar a denúncia contra Temer, caso ela ocorra, e qual será a postura dos mesmos parlamentares. Um dos mais enfáticos algozes de Dilma, o obscuro deputado Wladimir Mota, do Pará, é o mesmo que esta semana eternizou o nome de Temer em seu corpo, feito tatuagem.

    E qual é a acusação que pesava sobre Dilma? As chamadas “pedaladas fiscais”, expediente de ajuste nas contas do orçamento da União, utilizado por todos os governos nos últimos 20 anos, inclusive pelo atual. Ainda que seja um erro de improbidade administrativa, tal decisão de governo, em circunstâncias normais, jamais justificaria uma acusação de crime de responsabilidade. O julgamento definitivo, presidido pelo juiz Ricardo Levandowski no plenário do STF, proferiu uma sentença esdrúxula, que deixou clara a fragilidade do julgamento, e dos fatos apresentados como prova: Dilma teve seu mandato cassado, mas não teve os direitos políticos suspensos, conforme determina a lei do impeachment. Seus acusadores não tiveram esta coragem, diante dos argumentos apresentados pela defesa de Dilma nas brilhantes exposições do advogado José Eduardo Cardozo, que deixavam claro o caráter de exceção do processo acusatório.

     

    Não cabe aqui uma defesa do governo de Dilma. As dificuldades eram muitas, e diversas medidas tomadas, em especial na área econômica, são passíveis de grande questionamento. É possível que, neste momento, seu governo estivesse se arrastando e amargando baixos índices de popularidade. No entanto, a forma como foi conduzido o seu processo de afastamento, numa conspiração explícita, foi uma aventura irresponsável que lançou o país em uma crise institucional de graves consequências. Há certamente um forte componente de misoginia e machismo no cerco político e midiático construído para derrubar a primeira mulher eleita presidente da república em nosso país. A sociedade brasileira é machista, e a conspiração contra Dilma revelou que o machismo não é um componente menor ou irrelevante na condução dos processos políticos e no jogo do poder no país.

    Alguns episódios são eloquentes e falam por si. Dilma desceu a rampa do Planalto abraçada, recebida pelo povo e, em especial, por muitas mulheres que lhe traziam flores, presentes, cartazes e muitas demonstrações públicas de apoio e solidariedade. Do outro lado, viu-se a imagem da “posse” de Temer, cercado de homens brancos e ricos, e a composição de uma equipe ministerial formada somente por homens. A ex-guerrilheira, presa e torturada pela ditadura militar o julgamento no Senado Federal de forma lúcida, altiva e bem-humorada (Como esquecer que “A vida é dura, senador”?) mais de 12 horas de uma sessão histórica.

    Arrisco prever que o tempo e o circo de horrores que o Brasil passou a viver vão, progressivamente, reposicionar a imagem e o papel político de Dilma. Sem desconhecer os seus erros e equívocos, é impossível não se impressionar com sua dignidade e altivez, demonstradas em diversas ocasiões. Recentemente, Dilma foi novamente inocentada no julgamento de sua chapa no TSE. Não será surpresa se, nos próximos anos, Dilma Rousseff venha a ter um papel muito importante na cena política brasileira. O julgamento da história não deve tardar e, certamente, não há de falhar. A história lhe absolverá.

    *Alexandre Santini é gestor cultural, dramaturgo, diretor teatral, bacharel em Teoria do Teatro pela UNIRIO e mestre em Cultura e Territorialidades pela UFF. Integrou por 10 anos o Grupo de Teatro Tá Na Rua, atua na rede dos Pontos de Cultura desde 2004 e participou da criação do Fórum e da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura. Em 2012, criou o Lab de Políticas Culturais e, através deste projeto, conheceu e percorreu experiências relacionadas ao Cultura Viva em países como Argentina, Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Guatemala e Costa Rica. Atuou na Organização do I Congresso Latino-Americano de Cultura Viva Comunitária (2013) e no processo de aprovação e regulamentação da Lei Cultura Viva no Brasil (2014). Foi diretor de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura entre 2015 e 2016. Atualmente, é diretor do Teatro Popular Oscar Niemeyer, em Niterói (RJ).

  • Pensar no passado para questionar o presente: ditadura em pauta

    Pensar no passado para questionar o presente: ditadura em pauta

    “Nos tempos sombrios, se cantará também? Também se cantará sobre os tempos sombrios” – Murilo Mendes, Poesia do Exílio

     

     

     

    A ditadura militar tomou a paz, os direitos e a vida de muitas pessoas no Brasil entre os anos de 1964 e 1985. Com o processo de redemocratização, foram anistiados os bravos lutadores e as bravas lutadoras que, com seu suor e sangue, dedicaram suas vidas a garantir que o futuro da nossa nação fosse melhor.

    Porém, a anistia foi total e irrestrita, e isentou da responsabilidade também àqueles que mataram e torturaram em nome do estado. Anos se passaram, e pouco reviramos os arquivos dos tempos sombrios da ditadura. Somente a partir de 16 de maio de 2012, a Comissão Nacional da Verdade criada pela Lei 12528/2011 foi instaurada no país e as mortes e os desaparecimentos começaram a ser investigados.

    Todas as graves violações de Direitos Humanos ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988 começaram a sair de debaixo dos panos, mas mesmo assim, o silêncio em relação ao tema ainda predominava. Pouco falamos sobre este período de vergonha brasileiro, fingimos que as atrocidades não aconteceram, e pior: fingimos que estas não tem ligação com nosso presente devastador.

     

     

    A exposição, um ato político de resistência por si só, por existir estampada em paredes apesar dos desmandos do governo, nos convida a refletir sobre para onde queremos ir e que lado de nós mesmos queremos refletir em 2017. Ela é parte do projeto Memorial da Anistia, que prevê outras ações, mas está parado pelos embargos e desmandos do Ministério da Justiça de Michel Temer.

    Reproduzo aqui palavras do memorial de abertura, escritas por Leda Martins e Silvana Cóser, da coordenação e supervisão geral:

    “É precisamente por recusar o esquecimento e a cegueira, aos quais os fatos históricos e cotidianos estão sujeitos, e por optar por seguir os rastros da história e da memória que a Universidade Federal de Minas Gerais traz a público, com muito orgulho, compromisso institucional e dever cívico, esta exposição que se propõe a relembrar e reviver um dos momentos mais marcantes e traumáticos da história nacional: o golpe de 1964, o estado de exceção vivido pelo povo brasileiro, a anistia que se seguiu e a longa construção do processo de reparação e justiça.”

    É preciso resgatar nossa história, transformar a memória em canto e coro, para que crise, desemprego, violência policial, perda de direitos e tantas outras histórias não se repitam. É preciso não se calar. É preciso conhecer o pior de nossas raízes para renascer do novo. Concluo repetindo as palavras de Fabrício Fernandino, curador da exposição: “Só não sintamos indiferença”.

     

     

     

  • O povo decide, Diretas Já

    O povo decide, Diretas Já

    Por Clara Maragna e Leonardo Koury

    Primeiro a gente tira a Dilma, rasga a Constituição Federal, fortalece o Estado policial, e nos resta saber: Quem controla o judiciário?

    Entender o processo político que o Brasil vem sofrendo, é uma tarefa árdua e emblemática para todos nós. Mas de certo, é notório que a surpresa tornou-se um elemento central desse arranjo golpista, que tem como pano de fundo a ação do Poder Judiciário.

    Traições, malas, chips invisíveis, Família Neves, Lava Jato, Temer, retirada de direitos, capas de revistas, prisões decretadas, almoços, judiciário desequilibrado e a ampulheta do tempo correndo contra o povo brasileiro.

    Em meio a tanta fumaça sentenciada, é importante perceber que os atores do golpe não possuem cadeira cativa no Congresso Nacional, e tão pouco se resumem aos aliados de Temer.

    Se assim, o fosse, a rejeição de Temer não seria exorbitante, e não estaríamos aqui falando desse novo capítulo, que além da cassação do Presidente golpista trará também uma corrida de atores pela linha sucessória da Presidência da República.

    Quem opera o golpe não deseja que ele acabe, mas que ele se estruture e naturalize de modo a dificultar qualquer reação do povo brasileiro, afinal de contas a história nos ensinou que toda expansão de regimes totalitários sempre esteve relacionada aos problemas econômicos e sociais de um Estado imerso em ações ilegais sob os olhos do judiciário.

    Asensação de que ha um distúrbio social é inerente ao processo vivenciado por todas e todos nós, especialmente porque essa anomalia se inicia através de uma ação contra os nossos direitos garantidos num Diploma Legal violado.

    Com a previsão da saída de Temer, o golpe toma novos contornos, a Constituição Federal começa a ser avocada através das eleições indiretas por setores golpistas, de modo a legitimar o processo realizado por Michel Temer.

    Porque não devemos aceitar as eleições indiretas?

    Podemos começar a falar que não devemos aceitar eleições indiretas porque não queremos a continuidade dessa orquestra golpista. Além disso, esse desejo por eleições indiretas não passa pela polarização entre coxinhas e não coxinhas, ou pelos projetos de poder ideológicos de esquerda ou direita, mas por uma estruturação anti democrática que será corroborada por interesses privados.

    Não é legítimo avocar normal legal de uma Constituição violada, posterior a retirada do Estado Democrático de Direito, para consolidar uma violação nacional.

    Defender eleições indiretas é legitimar o golpe na medida em os atos anteriores à sucessão presidencial produzirão efeitos concretos. A estrutura de poder é determinada pelo conteúdo da sua ação, e de fato os interesses da maior rede de televisão se resumem em apropriar -se do processo mais do que a população que constrói esse país.

    É preciso entender que a ordem de um Estado Democrático destina-se a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna e pluralista.
    Exigir o cumprimento desses princípios que regem a Constituição Federal, é construir uma disputa justa, e a possibilidade da escolha de representatividade pelos cidadãos e cidadãs brasileiras.
    Estamos diante de um capítulo que nos aparece sob a corda bamba à beira de um abismo, recheado de fatos que nos dá elementos suficientes para lutarmos pela Democracia brasileira. Não é apenas a conexão de uma nova fase da conjutura, mas uma etapa da tática que a elite brasileira avança no objetivo central que é a volta do liberalismo e o estado mínimo.
    Talvez a pergunta inicial, sobre quem controla o judiciário, aqui, toma outra percepção, a de que é preciso estar nas ruas, em todos os tipos de ações diretas, para tentarmos nesse último respiro, restabelecer um mínimo de razão com as eleições diretas. Estas não podem ser entendidas como apenas a volta de um governante eleito por voto popular, mas a concretude de que todo poder emana do povo, afinal está no parágrafo único do primeiro artigo da Carta de 88.
    É preciso estar atentos, fortes, e nas ruas, afinal o poder emana do povo, o povo decide, Diretas Já!

    Por Clara Maragna, advogada popular e militante da Frente povo sem medo e Leonardo Koury, professor e assistente social militante da Frente Brasil Popular

    Charge DUKE

  • Nada pode turvar nosso amor e reconhecimento à Marisa.

    Nada pode turvar nosso amor e reconhecimento à Marisa.

    Se existiram duas pessoas absolutamente fundamentais para que eu pudesse me tornar o metalúrgico, o dirigente sindical e o presidente da República que fui, essas duas pessoas foram Dona Lindu, minha mãe, e Marisa, mãe dos meus filhos. Duas mulheres de luta que tinham em comum a garra e a fortaleza.

    Uma vez, logo após as eleições de 1998, eu estava em frangalhos depois de uma campanha muito cansativa que havia terminado com nossa terceira derrota, e Marisa veio me dar uma bronca. “Para com isso, Lula”, ela me disse. “Lembre-se da sua mãe. Tem que teimar!” Marisa repetia uma frase de Dona Lindu. O que ela, Marisa, queria dizer, é que eu tinha de levantar a cabeça e seguir em frente. Dali a quatro anos voltaríamos mais fortes.

    Depois que minha mãe morreu, às vésperas do dia das mães de 1980, Marisa assumiu a função de me fazer teimar. E tirava força sabe-se lá de onde. Tinha vez que ela conseguia ajudar nossos filhos com o dever de casa de matérias que ela nunca tinha visto na escola. E mantinha a engrenagem da nossa casa funcionando quando a militância, as campanhas e a intensa atividade como Presidente da República me obrigavam a ficar ausente a maior parte do tempo.

    Hoje penso que, se fui eleito e reeleito presidente desse país, a maior responsável foi a Marisa. Se terminei o mandato com aprovação recorde de 87%, foi muito por causa da Marisa. Se levamos o Brasil bem perto de ser a quinta economia do mundo, se conseguimos tirar o Brasil do mapa da fome, criar 22 milhões de empregos e promover a maior inclusão social e educacional da história deste país, foi com a inestimável contribuição da Marisa.

    Neste nosso primeiro dia das mães sem Marisa, só eu sei o respeito e o carinho que tive e tenho por ela, e por isso vou continuar afirmando que ninguém, nem juiz, nem polícia federal, nem ministério público, nem imprensa, tem o direito de fazer o que fizeram com ela. O vazamento de conversas privadas, a invasão do nosso apartamento, o confisco dos tablets dos nossos netos e, mais recentemente, a recusa em decretar sua absolvição sumária nos processos em que Marisa era ré, conforme estabelece a lei em caso de morte da pessoa investigada.

    Neste dia das mães, nossos quatro filhos e eu temos muito do que nos orgulhar. E nada pode turvar nosso amor e reconhecimento à Marisa.

    Que cada filho olhe para sua mãe com o máximo de carinho, respeito e gratidão por elas existirem! Um feliz dia das mães para todas as mães do Brasil!

    Luiz Inácio Lula da Silva

  • Delegacia NÃO, Memorial SIM!

    Delegacia NÃO, Memorial SIM!

    Em memória aos 53 anos do golpe militar, os grupos “Núcleo da Memória” e “Memória, Verdade e Justiça de São Paulo”, realizaram nesse sábado, 01/04/2017, o “4° Ato Unificado Ditadura Nunca Mais”. O objetivo do evento é transformar as dependências do DOI-Codi em memorial, evidenciando a importância da conscientização de toda a sociedade, sobre o horror vivenciado durante o período ditatorial que ocorreu no Brasil entre 1964 e 1985. O local foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do estado de São Paulo em janeiro de 2014.

     


    O prédio na Rua Tutóia onde atualmente funciona uma delegacia foi o palco principal da Operação Bandeirantes, mais conhecida como OBAN. A operação foi elaborada em 1969 pelo Exército com o apoio do Estado e das forças armadas. Por lá passaram mais de 6.700 acusados e morreram 50 pessoas, entre elas o jornalista Vladimir Herzog.
    O pátio da delegacia estava repleto de cartazes, faixas e banners que denunciam o desaparecimento de presos políticos brutalmente torturados e assassinados; e também repudiam as “Ruas da Vergonha”, que homenageiam torturadores como, dr. Sérgio Fleury, Henning Boilesen e Ênio Pimentel da Silveira.


    A apresentação do ato foi conduzida por José Luís del Roio e contou com a presença de alguns dos militantes que sobreviveram às agressões no DOI-Codi e narraram os tristes momentos de crueldade que passaram enquanto lutavam pelo fim da Ditadura Militar. Eles citaram amigos, familiares que foram executados à sangue frio no local que tornou-se um dos cenários mais horríveis da história do país.
    O jornalista, ex- preso político e presidente do Conselho Núcleo Memória, Ivan Seixas referiu-se à a triste maneira como foi torturado ao lado do pai, Joaquim Alencar de Seixas, dirigente do Movimento Revolucionário Tiradentes, que ,infelizmente, não resistiu às agressões e morreu.


    A atriz Dulci Muniz junto ao Núcleo 184 do Teatro Heleny Guariba, fizeram uma intervenção representando o julgamento em que os jovens militantes narravam como foram assassinados, entre as narrações mais importantes estavam a da estudante Aurora Maria Nascimento Furtado e Heleny Guariba.
    Por fim, o coro Luter King emocionou o público com belas canções que recordam os “anos de chumbo” do Brasil.