Jornalistas Livres

Categoria: Manifestações

  • Impunidade são 12 mil assassinatos por ano com quase ninguém na cadeia

    Impunidade são 12 mil assassinatos por ano com quase ninguém na cadeia

    Quando se completam 10 anos dos Crimes de Maio de 2006 (http://bit.ly/1Q4V0qS), 10 meses da chacina de Osasco (http://bit.ly/1XpCmMs) e pouco mais de 10 dias da morte do menino Ítalo por um policial no bairro do Morumbi em São Paulo (http://bit.ly/1Uzrjdz) e da execução de Brian em Ourinhos (http://bit.ly/28ES8Y5), o regime interino de Michel Temer, atendendo à chamada Bancada da Bala, tira a urgência da tramitação do projeto de lei enviado pela presidenta Dilma e pelo ex-ministro da Justiça, Eugênio Aragão, para endurecer a apuração de homicídios praticados pelas forças de segurança (http://nao.usem.xyz/8668).

    Mães de Maio- São Paulo - maio de 2015
    Mães de Maio- São Paulo – maio de 2015

    A quem interesse não apurar devidamente essas mortes? Infelizmente, boa parte da população, estimulada por uma mídia que alardeia diariamente a violência nas periferias, compra a ideia de que “bandido bom é bandido morto” (http://bit.ly/21mH4t7) sem perceber como essa violência afeta toda a sociedade. Por isso, também, o Brasil é campeão em homicídios no mundo, tem a polícia que mais mata e também a força policial mais vítima de assassinatos (http://bit.ly/1UPir6c). Violência gera violência e a impunidade alimenta esse ciclo. Não é à toa que as PMs são responsáveis, segundo dados oficiais, por 18% de todos os homicídios em São Paulo (http://bit.ly/1UdoxQU). Se extrapolarmos esses dados para os cerca de 60 mil assassinatos por ano no Brasil, teremos quase 12 mil mortos pelas forças de segurança.

    Manifestação contra chacina no Capão Redondo - São Paulo, janeiro de 2013
    Manifestação contra chacina no Capão Redondo – São Paulo, janeiro de 2013

    Outro dado alarmante é apenas 8% dos crimes de morte, excluindo os oficialmente identificados como “decorrentes de ação policial” são esclarecidos. Entre eles estão as inúmeras chacinas que ocorrem regularmente em todo o território nacional. Por todos esses motivos, discutir a violência policial deveria ser um dos temas mais importantes no Brasil. E isso tem sido feito por grupos como o Movimento Independente Mães de Maio (http://www.maesdemaio.com/) que há 10 anos lutam contra a impunidade e pedem a federalização das investigações de mortes em decorrência de ação policial. Os Jornalistas Livres têm acompanhado essa trajetória desde sua fundação, assim como nós da MediaQuatro (http://www.mediaquatro.com/) já há mais de cinco anos.

    Cemitério de Santos onde várias vítimas dos Crimes de maio estão enterradas - dia das mães 2014
    Cemitério de Santos onde várias vítimas dos Crimes de maio estão enterradas – dia das mães 2014

    Assim, convidamos a todos que compreendem a gravidade da situação a divulgar, visitar e colaborar com a exposição Bendito O Fruto (http://www.kickante.com.br/campanhas/apoio-ao-projeto-bendito-o-fruto) que retrata a violência policial e a atuação das Mães de Maio. A abertura acontece hoje, 15 de junho de 2016, às 18:00 no saguão do Bloco 5R da Universidade Federal de Uberlândia, Campus Santa Mônica, como parte da VI Jornada em Defesa do Estado Democrático de Direito e Democracia Social – Cidadania Direitos e Resistência, que ocorre nos auditórios A e B a partir das 19:00. A partir de amanhã até o dia 6 de julho, a mostra estará em exibição no Espaço Cultural do Mercado Municipal de Uberlândia. O objetivo do financiamento coletivo é permitir a realização da mostra em si e um evento de fechamento com debate, catálogo e a presença das Mães de Maio.

    https://www.youtube.com/watch?v=mjCuq6FNUV0

     

     

  • Fotógraf@s pela Democracia: O Ato da Foto e as Fotos do Ato

    Fotógraf@s pela Democracia: O Ato da Foto e as Fotos do Ato

    A fotografia contra o gesto impuro é tradição do bom ofício. Nair Benedicto, a oficial de plantão na avenida dignifica a todos, e sobre o caminhão de som que interrompe o trânsito, dá voz à multidão é anuncia que estamos todos contra o golpe e num varal de imagens indignadas, diz à democracia que fique. Queremos fotografar flores nas mãos e não punhos cerrados. É a xepa da feira, R$ 3,80 é o preço da imagem aberta aos presentes em protesto.
    O resto é ato.

  • 40 mil mineiros foram às ruas na capital no dia nacional de luta

    40 mil mineiros foram às ruas na capital no dia nacional de luta

    Não parecia uma manifestação, pela alegria que se via. Parecia uma grande festa, com pessoas felizes a cantar e dançar. Mas os gritos de ordem de “Fora Temer”, “Volta Querida”, “Golpistas Não Passarão” e vários outros, denunciavam o que acontecia ali: um grande ato com a união das forças dos movimentos sociais. Não é pouca coisa.

    40 mil pessoas saíram às ruas, convocadas pelas Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, formadas por diversos movimentos sociais e populares.

    Fotografia: Sô Fotocoletivo
    Fotografia: Sô Fotocoletivo
    Fotografia: Sô Fotocoletivo
    Fotografia: Sô Fotocoletivo

     

    Ainda às 6 da manhã, integrantes do Movimento Dos Atingidos Por Barragens – MAB e do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST, vindos do interior, já anunciavam a luta: cerca de 300 pessoas marcharam por ruas da cidade, passaram pelas ocupações urbanas na capital, e fecharam simbolicamente a entrada do prédio do Ministério da Fazenda em BH. Também houve mobilização em frente ao prédio da Caixa Econômica Federal.

    Fotografia: Sô Fotocoletivo
    Fotografia: Sô Fotocoletivo

    “Quem vai barrar o golpe somos nós”. Disse uma jovem em cima do caminhão da CUT, posicionado na Avenida João Pinheiro desde às 5 da tarde. Enquanto os manifestantes aguardavam a descida da Frente Povo Sem Medo, que se concentrava um pouco acima dali, na Praça da Liberdade, gritos eram entoados. Eles tinham que ser altos e fortes, afinal o objetivo é tirar um presidente do poder, que não recebeu voto para exercer o cargo, sendo portanto um usurpador. Isso também não é pouca coisa.

    A música que os manifestantes tanto cantaram para Eduardo Cunha, tem servido para Michel Temer também: “O Temer vai ganhar uma passagem pra sair desse lugar. Não é de carro nem de trem nem de avião, é algemado no camburão. Eta Temer ladrão!”

    Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
    Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
    Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres
    Fotografia: Isis Medeiros / Jornalistas Livres

    Indígenas Xakriabás saíram do Norte do Estado para engrossar o grande ato unificado Fora Temer: eles são contra a PEC 215 e também contra o governo interino. Mulheres iam fantasiadas de bruxas carregando uma grande faixa: Mexeu com uma mexeu com todas ! Elas querem varrer” o Temer, por isso saíram fantasiadas de bruxas. Novamente uma diversidade nos rostos dos manifestantes: de crianças a adultos.

    “Latifúndiarios e empresários não precisam de aposentadoria. Quem sai prejudicado somos nós, trabalhadores. Isso a Rede Globo não vai te contar”, falava de cima do caminhão Beatriz Cerqueira, presidente da CUT -MG. Não vai contar mesmo. Aliás, vai! Por exemplo, sobre o ato, a organização estimou a presença de 40 mil pessoas, e o telejornal da Globo Minas afirmou que havia 700 manifestantes. Ainda bem que imagens podem falar por si. Muitos internautas criticaram o número dado pela emissora de televisão, que nem ousa aparecer por terra, observa do helicóptero .

    Fotografia: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres
    Fotografia: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres

    Após a chegada da Frente Povo Sem Medo na Praça Afonso Arinos, todos iniciaram juntos o grande percurso até a Praça da Estação. Pelas ruas, os manifestantes cantavam e denunciavam o golpe em curso no país. O ato foi encerrado com balões vermelhos lançados ao céu, apresentações artísticas, bateria do Levante Popular da Juventude, e claro, um bom papo do jeito que os mineiros gostam.

    Fotografia: Mídia Ninja
    Fotografia: Mídia Ninja

     

  • Manifesto da Delicadeza em Tempos de Brutalidade

    Manifesto da Delicadeza em Tempos de Brutalidade

    Assim como a boca seca
    Quando há sede ou medo
    Assim como o Sol aquece
    E também pode cegar
    Assim como a noite anuncia
    A necessidade de descansar

     

     

     

     

     

    Vivemos no mesmo mundo.
    Estamos onde deveríamos estar?

     

     

    Assim como o medo dispara
    os passos e o coração, na rua
    Assim como a voz se cala
    Diante do Mar e das despedidas
    Assim como Corpo vibra
    Quando quer dançar a música

    Vivemos no mesmo mundo.
    Estamos onde deveríamos estar?

    Se o ar nos falta diante do terror
    Se a mata é destruída, dando lugar a edifícios
    Se a cobiça mata e nos arranca o chão e o teto
    Se a multidão transita desatenta à potência da Vida

    Aqui, então, somos Corpo-Manifesto

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Em tempos de extermínio
    [de pobres, negros, mulheres, Indígenas]
    Em tempos de estupro, impunidade e terror
    Em tempos de violência banalizada e Institucional
    Em tempos de Educação e Cultura
    [intencionalmente sucateadas]

     

    Manifesto a Delicadeza, em Tempos de Brutalidade!

    DELICADEZA, em tempos de BRUTALIDADE
    AMOR, em tempos de EXTERMÍNIO
    ARTE, em tempos de CONSUMO
    DANÇA, em tempos de APATIA
    CORPO, em tempos de AUSÊNCIA e PROJEÇÃO
    AÇÃO, em tempos de REAÇÃO
    COLETIVO, em tempos de ISOLAMENTO
    AFETO, em tempos de ANESTESIA
    LIBERDADE, em Tempos de COAÇÃO
    SUSSURRO, em tempos de SURDEZ
    PAÍS LAICO, em tempos de FUNDAMENTALISMO
    EMPATIA, em tempos de INTOLERÂNCIA

     

    Manifesto a Delicadeza em Tempos de Brutalidade
    Manifesto a Delicadeza em Tempos de Brutalidade
    Manifesto a Delicadeza em Tempos de Brutalidade

    Que o NÓS desate esse nó
    De mentiras e Direitos subtraídos
    Que o NÓS nos enlace em uma Dança que evoque
    O sentido fundamental de Liberdade!

     

    Que se manifeste na Delicadeza,
    Em tempos de Brutalidade.

     

    Dezenas de bailarinas e bailarinos apresentaram “Manifesto da Delicadeza em tempos de Brutalidade” durante o Dia Nacional de Lutas em São Paulo, em 10/06/2016. Saindo do CRD – Centro de Referência da Dança, no centro de São Paulo, eles e elas dançaram até a avenida Paulista no que chamaram de ato poético e coreográfico coletivo.

  • Aulas fora da sala na UFU

    Aulas fora da sala na UFU

    A paralisação, decidida na assembleia geral dos estudantes da Universidade Federal de Uberlândia-UFU em 1o de junho, não foi votada para os alunos ficarem em casa. O objetivo é ocupar, de diversas formas, os espaços da universidade. Assim, os alunos da UFU realizam nesses dias de mobilização (8, 9 e 10 de junho) diversas atividades formativas dentro dos campi. A manhã da quinta-feira, 9/06, por exemplo, foi liberada para que os diretórios e centros acadêmicos (DAs e CAs) propusessem as suas atividades.

    O Centro Acadêmico de Comunicação Social – CACoS é um dos mais ativos, tendo promovido uma roda de conversa sobre como as mobilizações estudantis são representas pelas diferentes mídias. O debate contou com cerca de 50 alunos de diversos cursos, fazendo com que a troca de ideias ficasse bastante ampla. Foi reforçada a importância do diálogo e da participação dos próprios estudantes de jornalismo nas atividades, para que os mesmos alimentassem as redes sociais e alguns veículos livres, na intenção de expressar o ponto de vista do estudante sobre as mobilizações e não de alguém que simplesmente vem até a universidade apenas para coletar informações. Além disse, ficou clara a vontade dos estudantes a favor da paralisação de ampliar o debate com os demais estudantes da universidade.

    Roda de conversa sobre mídia e cupações em frente ao CA de Comunicação - CACoS
    Roda de conversa sobre mídia e ocupações estudantis em frente ao CA de Comunicação – CACoS

    No mesmo horário dos espaços promovidos pelo jornalismo e pelos demais cursos, o Diretório Acadêmico da Enfermagem realizou uma roda no campus Umuarama sobre as formas que os cortes afetam a formação do enfermeiro. Contando com a presença de estudantes de outros cursos e dos professores da enfermagem, o debate também foi bastante construtivo. O DA, em nota, enfatizou a fala da Profa. Dra. Marcelle Barros: “Nós da enfermagem precisamos entender nossa necessidade, vermos que somos metade dos profissionais da saúde no Brasil, somos fortes, vamos lutar”.

    Além das atividades promovidas pelos DAs e CAs de cada curso, foram definidos dois “aulões” durantes os dois primeiros dias de paralisação, para debater a saúde e educação pública de forma com todos os estudantes pudessem participar e se inteirarem dos assuntos, mesmo não sendo da sua área de estudo.

    Julio, aluno da enfermagem, em debate no campus Umuarana
    Júlio Alvares, aluno da enfermagem, em debate no campus Umuarana

    O espaço sobre a saúde aconteceu no primeiro dia de paralisação, o estudante do oitavo período de enfermagem, Júlio Alvares, fez uma ampla discussão explicando para estudantes das outras áreas de como funciona o Sistema Único de Saúde – SUS e da sua importância para a prevenção das doenças. Falou-se também das consequências que uma saúde privada traria para a população, que já não teria mais esse trabalho de prevenção e de educação, o que atingiria principalmente as classes mais baixas.

    Já o debate sobre educação contou com a fala de diversos estudantes, dentre eles o Pibidianos (alunos bolsistas do programa de iniciação da docência), tanto de licenciatura quanto de bacharelado. Os alunos levantaram a questão da necessidade de investimentos em laboratórios para os cursos de licenciatura e humanas também precisam, para a produção de ciência. Reforçaram como é necessário repensar formação dos professores nas áreas das ciências duras, como engenharias, por exemplo, que não contam com nenhum tipo de didática, o que acaba prejudicando a forma de aprendizado em sala, que em algumas disciplinas têm um alto índice de reprovação. O debate contou com vários relatos de estudantes, sobre como pensam que a má educação influência nos preconceitos, como machismo e lgbtfobias, que são disseminados pelo senso comum.

    Debate sobre saúde com estudantes de enfermagem. Imagem cedida pelo DAENF
    Debate sobre saúde com estudantes de enfermagem. Imagem cedida pelo DAENF

    Ficou clara a indignação dos estudantes com o novo ministério da educação, com um ministro reacionário que representa um grande retrocesso nas conquistas sociais, uma vez que ele se declarou contra programas sociais para educação, como as cotas raciais implementadas pela lei 12.711/2012.

    O que se viu nesses dois dias de paralisação foi um grande esforço para que os estudantes que não são ligados ao movimento estudantil, entendessem os motivos desses atos. Precisamos lutar contra os cortes de verba, que não começaram agora mas que se agravam com esse governo ilegítimo. Além dos movimentos citados, foram realizados mais alguns espaços de integração com os estudantes, como a oficina das artes visuais que pautavam o ativismo feito através da arte. Nesse último dia de paralisação, sexta-feira 10/06, outros atos estão programados a partir das 09:00h, realizados pelos estudantes de arquitetura e pelo sindicato dos técnicos da UFU (SINTET-UFU) finalizando com o grande ato Fora Temer previsto para as 17:00 no centro de Uberlândia.

    Nota da redação Jornalistas Livres: Infelizmente as atividades na paralisação não foram unanimidade entre os estudantes da UFU, como se pode ver no vídeo https://www.facebook.com/naoseomita/videos/1082648708481546/

  • Panela democrática é que faz comida boa

    Panela democrática é que faz comida boa

    Por Aline Gomes, especial para os Jornalistas Livres

    Se termos como “coxinhas”, “mortadelas” e “paneleiros” estiveram em voga durante o momento político atual, um sentimento serviu de estopim para que chefs de cozinha e profissionais ligados à Gastronomia lançassem ontem (09/06) um manifesto de repudio ao golpe de estado em curso no país: indignação.

    “Nós, representantes da gastronomia brasileira, não podíamos assistir a esse cenário de ruptura da ordem constitucional democrática sem manifestar nossa profunda tristeza”, diz trecho do manifesto, lançado no facebook através da página Gastronomia contra o golpe e do qual participam chefs de cozinha, profissionais do ramo de restaurantes, jornalistas e críticos gastronômicos do Brasil e do mundo.
    O racionamento de comida à presidenta eleita pelo governo interino foi fortemente repudiado por quem acredita ser a mesquinharia um ingrediente indigesto à mesa. “Trata-se bem mais do que cortar a comida e direitos legítimos de uma presidente eleita, trata-se de simbolicamente relegar à indigência a democracia e a inteligência no Brasil. A indignação inspirou esse movimento de “alimentar a democracia”. A gastronomia, que nutre, agrega, reúne famílias, amigos e até inimigos em torno de uma mesa, que é capaz de promover a paz, também se une em defesa da democracia”, diz o manifesto.
    “Infelizmente os clientes que mais deixam dinheiro em restaurantes são da elite e, grande parte dela não reconhece estarmos vivendo um golpe. Assim, a maioria dos chefs e pessoas que dependem de clientes prefere ficar em silêncio. Posicionar-se nesta hora requer coragem e muita força. Internacionalmente, vejo muita gente contra o golpe. Os governos de Lula e Dilma tiveram um grande impacto internacional no combate à miséria no Brasil, sendo citados como exemplos na ONU, em conferências e com apoio de muitos jornais e publicações internacionais. O teatro vergonhoso do congresso votando a favor do impeachment e, principalmente, o momento que Bolsonaro elogiou um torturador e a ditadura ecoou de forma muito negativa pelo mundo. Eu viajo 250 dias por ano a trabalho e dou conferências em vários países. Estive após o golpe no Canadá, EUA, em vários países da Europa. Recebo várias mensagens de colegas de 5 continentes e todos estão chocados com o que está acontecendo no Brasil. O fato que a nossa frágil e jovem democracia está correndo risco e que réus, com extenso currículo de casos de corrupção, tomaram o poder com a desculpa de combater a corrupção é algo que ninguém compreende ou aceita. Por isso, estamos unidos neste movimento Gastronomia Contra o Golpe.  Se permitirmos que esse governo ilegítimo e golpista se estabeleça, abriremos a porta ao caos e ao passado, onde a cultura, a ciência e os direitos humanos, entre outras coisas, sofrerão sua maior derrota” – Luciana Bianchi, jornalista e crítica gastronômica internacional, atualmente mora na Escócia.
    A ameaça ao Estado Democrático de Direito e o ódio histérico que tomou conta do país foram outros temas abordados no texto, que em poucas horas angariou assinaturas de profissionais de diferentes partes do Brasil e do mundo.
    Confira o texto na íntegra.
    Manifesto Popular
    GASTRONOMIA CONTRA O GOLPE
    Tem panela, coxinha, mortadela e, agora, até racionamento de comida à presidenta eleita. Não faltam ingredientes gastronômicos indigestos na desastrosa receita política do Brasil de hoje.
    Nós, representantes da gastronomia brasileira, não podíamos assistir a esse cenário de ruptura da ordem constitucional democrática sem manifestar nossa profunda tristeza e indignação.
    Representantes de um setor que gera 6 milhões de empregos diretos em todo o país e que é a porta de entrada no mercado de trabalho para muitos brasileiros, sejam como estagiários, cumins ou garçons, até pesquisadores, jornalistas da cultura gastronômica, chefs, empresários do setor de alimentos e bebidas, restaurateurs, apaixonados pela gastronomia, que vivem dela ou por ela, vimos manifestar o nosso repúdio a essa ruptura por que passa hoje o Brasil.
    O governo é provisório, mas os traumas, permanentes. Nossa jovem democracia sofre um de seus mais duros golpes e exige de todos coerência e compromisso históricos. Uma presidente legitimamente eleita por 54,5 milhões de votos está afastada sob um pretexto ininteligível para a maioria dos mortais, as pedaladas fiscais. Empréstimos contábeis que seus antecessores e dezenas de governadores cometeram e cometem, mas que só são crimes porque, para a presidente, a lei parece ter outro peso. Justiça com pesos diferentes não é Justiça, é vingança, é golpe. A maioria dos congressistas não faz ideia do que seja “pedalada fiscal” e recorre ao “conjunto da obra” para justificar o impeachment, como se fizesse parte de um júri de menu-degustação. Um pastelão que nos envergonha mundo afora.
    Ao arrepio da lei, sob o argumento falso-moralista de “crime de responsabilidade”, a presidente foi substituída por um vice ficha-suja e inelegível, cuja postura é completamente incompatível com a que se espera de um companheiro de chapa, e por um ministério (em sua totalidade, formado por homens e brancos, um retrocesso que não se via desde o governo Geisel), cuja idoneidade não resiste a uma simples pesquisa no Google. Assistimos, atônitos, ao BBB do governo interino, com uma queda por semana.
    O ato de cortar a comida de uma chefe de Estado, sua família e equipe nos sensibilizou não só por ser mesquinho, mas por ser medíocre. Um dos inegáveis méritos da gestão Lula-Dilma foi o de promover a ascensão social. Segundo a própria ONU, Lula e Dilma tiraram o Brasil do mapa da fome, dando dignidade mínima a 36 milhões de brasileiros. E foi justamente a essa chefe de Estado, gestora do Fome Zero, que o presidente interino negou comida, num gesto totalitário, anticonstitucional e incompatível com o de um vice de um projeto vitorioso nas urnas.
    Trata-se bem mais do que cortar a comida e direitos legítimos de uma presidente eleita, trata-se de simbolicamente relegar à indigência a democracia e a inteligência no Brasil. A indignação inspirou esse movimento de “alimentar a democracia”. A gastronomia, que nutre, agrega, reúne famílias, amigos e até inimigos em torno de uma mesa, que é capaz de promover a paz, também se une em defesa da democracia.
    Este é um manifesto apartidário, assinado por fãs de coxinha e de mortadela, de Cuba e de mojitos, de café, fé e wi-fi, do boteco-pé-sujo ao restaurante 3 estrelas, do vermelho (símbolo da Revolução Francesa e de tudo o que ela inspira até hoje) e do verde-e-amarelo, petistas e não petistas, eleitores de Dilma Rousseff ou não, eleitores com graves críticas ao governo da presidente, mas que sabem que impeachment não é solução, é consequência.
    Em comum: somos contrários ao ódio de classe, à intolerância e à histeria coletiva que tomou conta do país, temos amor ao Brasil e a convicção de que democracia só se cura com mais democracia.
    Assinam o Manifesto Popular “Gastronomia Contra o Golpe”:
    1. Adalberto Ribeiro –Sócio da Grill Burger de Bragança (PA)
    2. Airton Eré –Bartender da Malabar Drinks Artísticos (Florianópolis, SC)
    3. Alexandre Bussab – Sócio do Raiz Forte Bar e Eventos (RJ)
    4. Aline Lockmann de Azevedo Gomes – Jornalista (SP)
    5. Ana Rojas – Jornalista de gastronomia (Brasil/Reino Unido)
    6. Ana Candida Ferraz – Chef de sala (SP)
    7. Analice Souza – Socióloga e chefe do Oliver Art Bar (Belo Horizonte, MG)
    8. Annete Alves – Barista (Buenos Aires, Argentina)
    9. Bel Coelho – Chef de cozinha do Clandestino (SP)
    10. Bianca Barbosa – Chef (RJ)
    11. Caio Zakia – Cozinheiro (SP)
    12.Carmem Virginia – Chef-proprietário do Altar Cozinha Ancestral (SP)
    13. Carolina Ronconi – Fundadora do blog Meninas no Boteco (SP)
    14. Caroline de Azevedo – Cozinheira (RS)
    15. Cilmara Bedaque – Jornalista do blog Lupulinas (SP)
    16. Danilo Lodi – Barista, torrador de café e juiz internacional (SP)
    17. Diogo Pedraçoli – Bartender da Cozinha 212 (SP)
    18.Dora Gil – Gerente de restaurante (SP)
    19. Edson Pivoto – Gerente de restaurante (SP)
    20. Elia Schramm – Chef (RJ)
    21. Eliza D. Teixeira – chef e pesquisadora (Brasil/EUA)
    22. Facundo Guerra – empresário do Grupo Vegas (SP)
    23. Fel Mendes – Jornalista revista Rabo de Galo e incubador da abeLLha (SP)
    24. Felipe Jannuzzi – Idealizador do Mapa da Cachaça (SP)
    25. Flávia Pogliani – Barista (SP)
    26. Gabriel Cavalcante – Cantor e gourmet (RJ)
    27. Gabriel Torres – Barista do Por um Punhado de Dólares (SP)
    28. Gabriella Kerber – Chef de cozinha (SP)
    29. Giovanni Assante –Proprietário das massas Gerardo di Nolla (Nápoles, Itália)
    30. Guga Rocha – Chef e apresentador de TV (Brasil/Canadá)
    31. Gisele Coutinho – Barista do Pura Caffeina (SP)
    32. Guilherme Schwinn – Chef e sommelier (SC)
    33. Hanny Guimarães – Especialista em chás (SP)
    34. Izabela Tavares – Padeira (SP)
    35. João Felipe Morandi, mixologista (Belo Horizonte -MG)
    36. João Grinspum Ferraz – Historiador, cientista político e proprietário da Casa do Carbonara (SP)
    37. Juliana Gelbaum – Barista do Por um Punhado de Dólares (SP)
    38. João Carvalho – Barista (São Lourenço, MG)
    39. Julio Bernardo (JB) – Crítico gastronômico (SP)
    40. Junior Milério – Jornalista (Brasil/Irlanda)
    41. Kátia Barbosa – Chef (RJ)
    42. Lais Duo – Chef de cozinha (SP)
    43. Luciana Berry – Chef (Brasil/Reino Unido)
    44. Luciana Bianchi – Jornalista de gastronomia e chef (Reino Unido/Brasil)
    45. Luciano Salomão – Barista e mestre de torra de café (SP)
    46. Maira Marques – Bartender (Fortaleza, CE)
    47. Mario Oliveira – Bartender (SP)
    48. Marcelo Cury – Médico e jornalista de gastronomia (SP)
    49. Marco de la Roche – Mixologista, editor do Mixology News e da revista Rabo de Galo (SP)
    50. Marcos Tomsic – Barista do Por um Punhado de Dólares (SP)
    51. Marilia Zylbersztajn – Confeiteira (SP)
    52. Pedro Marques – Jornalista especializado em gastronomia e bebidas (SP)
    53. Priscila Sabará – Criadora do FoodPass (SP)
    54. Raissa Palamarczuk – editora da revista Rabo de Galo (SP)
    55. Rafael Mariachi – Mixologista (SP)
    56. Raphael Criscuolo – Fotógrafo (SP)
    57. Ricardo Pieralini – Jornalista (SP)
    58. Roberta Malta – Jornalista (SP)
    59. Roberto Hundertmark – Chef de cozinha (Belém – PA)
    60. Robinho Bernardo – Barista do Por um Punhado de Dólares (SP)
    61. Rodolfo Bob – Gastrônomo e mixologista diretor de OBarVirtual (SP)
    62. Rodolfo Herrera – Barista, proprietário do Beluga Café (SP)
    63. Roger Bastos – Bartender do Meza Bar (SP)
    64. Sérgio Crusco – Jornalista gastronômico (SP)
    65. Sheila Grecco – Jornalista, historiadora, RP na área gastronômica (SP)
    66. Tabata Magarão – Sócia do Raiz Forte Bar e Eventos (RJ)
    67. Tainá Hernandes – Confeiteira (SP)
    68. Thiago Ceccotti – Bartender e consultor da Ducktails (Belo Horizonte, MG)
    69. Thiago dos Santos – Bartender e idealizador da Samba Nego (SP)
    70. Thiago Flores – Chef do Circo Voador (RJ)
    71. Thiago Rosas – Restauranteur (PA)
    72. Thiago Tavares – Empreendedor e cachacier (SP)
    73. Thianny Estevam – Bartender do Zazá Bistrot (RJ)
    74. Tony Harion – Diretor da Mixing Bar (SP)
    75. Túlio Silva – Jornalista gastronômico do PenseComida (SP)
    76. Victor Camerlingo – Barista do Por um Punhado de Dólares (SP)