Jornalistas Livres

Categoria: Lula

  • Editorial – O “adulto na sala” ou ensaio para uma nova ditadura?

    Editorial – O “adulto na sala” ou ensaio para uma nova ditadura?

    O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, publicou na edição de ontem do jornal O Estado de S. Paulo um artigo de opinião intitulado Limites e Responsabilidades. No texto, o vice-presidente, que diversos setores da sociedade tentam vender como o “adulto na sala” e a opção “moderada” contra o governo de destruição nacional de Jair Bolsonaro, demonstra claramente não entender NADA sobre limites e responsabilidades. Ele ultrapassa todos os limites do cargo ao ameaçar, novamente, a imprensa, o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional, os governadores dos estados que não estão alinhados incondicionalmente ao genocida que ocupa a presidência e até mesmo o direito de expressão individual de ex-presidentes da República. Portanto, Mourão não atenta à responsabilidade do cargo que possui atualmente e mata qualquer esperança de que numa eventual presidência pós-impeachment assumirá qualquer responsabilidade sobre os atos de Bolsonaro, a quem ajudou a eleger, sobre o apoio que segue dando ao genocida, ou mesmo sobre o papel fundamental de um governante que é unir a nação para resolver os problemas do povo.

    Ele ataca, mais uma vez, o jornalismo de modo geral ao dizer que “A imprensa, a grande instituição da opinião, precisa rever seus procedimentos nesta calamidade que vivemos. Opiniões distintas, contrárias e favoráveis ao governo, tanto sobre o isolamento como a retomada da economia, enfim, sobre o enfrentamento da crise, devem ter o mesmo espaço nos principais veículos de comunicação. Sem isso teremos descrédito e reação, deteriorando-se o ambiente de convivência e tolerância que deve vigorar numa democracia.” 

    Não, general, opiniões distintas NÃO devem ter o mesmo espaço quando se lida com vidas. Os jornalistas temos a responsabilidade de separar o que é fato, o que é opinião baseada em fatos e na ciência e o que é “achismo” ou declarações oportunistas de canalhas que querem se beneficiar do caos institucional sem se preocupar com as montanhas de cidadãos mortos. Se há intolerância na sociedade hoje, mais do que da imprensa a responsabilidade é de quem diz que os esquerdistas devem ser fuzilados e que torturadores assassinos são heróis, como fez o seu chefe e o senhor.

    As únicas frases corretas do texto estão no primeiro parágrafo: “Nenhum país do mundo vem causando tanto mal a si mesmo como o Brasil. Um estrago institucional, que agora atingiu as raias da insensatez, está levando o País ao caos”. No entanto, Mourão exclui do rol de limites e responsabilidades TODAS as ações do governo federal e joga sobre outros ombros a culpa pelo caos que vivemos, com perto de mil mortes diárias pela Covid-19 em números oficiais. Aliás, assim como seu ainda chefe, o general não fez qualquer referência no artigo ao sofrimento de milhares de famílias que perderam seus entes queridos, no dia em que o país somou oficialmente mais de 14 mil mortes. O tópico não faz parte dos quatro elencados por Mourão, mas e daí, né? Contudo, também a exemplo do chefe, o militar aproveitou o cargo no governo para dar o filé mignon ao filho, que foi promovido duas vezes no Banco do Brasil para ganhar mais de 36 mil reais.

    O estrago institucional em que estamos é consequência direta do golpe parlamentar/judiciário/midiático que tirou ilegalmente a presidenta Dilma Roussef do cargo. Quando um juiz de primeira instância grava e divulga ilegalmente uma conversa da presidenta e não é exonerado, há um enorme estrago institucional. Quando um ministro do STF impede que a presidenta escolha livremente um ministro da Casa Civil para se articular politicamente e impedir o impeachment, o golpe na institucionalidade é ainda maior. Quando um deputado federal vota pelo impeachment homenageando no Congresso um assassino e torturador e não sai de lá preso, a institucionalidade está ferida de morte. Quando um ex-presidente é condenado sem provas por “atos indeterminados” impedindo sua candidatura, rasgando até decisões em contrário da ONU e o ex-juiz responsável por isso vira ministro da justiça do candidato que beneficiou ilegalmente, é o fim da institucionalidade. Tudo o que temos hoje é fachada, é verniz, é disputa do butim. E os Jornalistas Livres avisaram disso em 2016.

    Mas, como disse o vice escolhido por ter feito em 2017 defesa enfática da ditadura de 1964 a 1985 e de uma intervenção militar, ainda “Há tempo para reverter o desastre. Basta que se respeitem os limites e as responsabilidades das autoridades constituídas” . Neste momento é passada a hora das autoridades constituídas assumirem suas responsabilidades dentro de seus limites. O Tribunal Superior Eleitoral, por exemplo, deve julgar urgentemente as eleições de 2018 e cassar a chapa eleita (Bolsonaro E Mourão) por caixa-dois e uso massivo de fake news como fartamente provado pela imprensa. O Supremo Tribunal Federal deve urgentemente votar a suspeição de Sergio Moro como juiz nos casos envolvendo Lula e anular a condenação do ex-presidente, como é consenso no mundo jurídico sério. O presidente do Congresso, Rodrigo Maia, deve escolher o quanto antes um dos mais de 30 pedidos de impeachment contra Bolsonaro e colocar em votação, já que não faltam crimes de responsabilidade provados. E mais, votar também a proposta de lei que exige novas eleições em 90 dias no caso de impeachment. Afinal, o país só poderá retornar à normalidade democrática quando de fato houver eleições limpas, com debates sobre projetos de governo e a presença de todos os principais candidatos dos partidos.

     

    Foto: www.mediaquatro.com
  • Lula escreve carta ao presidente chinês se desculpando em nome do povo brasileiro

    Lula escreve carta ao presidente chinês se desculpando em nome do povo brasileiro

    Que falta nos faz um estadista! Neste momento de pandemia de Coronavírus, os dois países com mais condições de ajudar outras nações a diminuir as mortes são Cuba, com seus médicos, e a China, que já venceu a primeira fase da contaminação em massa. Além disso, o país asiático é nosso maior parceiro comercial e nossas relações com ele serão fundamentais durante e depois da crise médica. Mas nada disso parece importante para o presidente da república, para o ministro das relações exteriores e para o suposto presidente do comitê de relações exteriores e defesa nacional da Câmara dos Deputados (os nomes estão com letra minúscula porque os atuais detentores dos cargos não merecem maiúsculas). Após três dias de conflito diplomático com a China iniciado por um post indecoroso no Twitter feito pelo filho do presidente (ele ainda ocupa o cargo de presidente do comitê de relações exteriores?), foi preciso um ex-Presidente da República falar em nome do Povo Brasileiro pedindo desculpas e explicando a situação vexatória…

    Leia abaixo a carta que Lula escreveu a Xi Jinping, disponível em seu site, repudiando a atitude de filho de Bolsonaro e condenando o pai por se portar como “reles bajulador de Donald Trump”.

    São Bernardo, Brasil,
    20 de março de 2020

    “Caro presidente Xi Jinping,

    Em nome da amizade entre os povos do Brasil e da China, cultivada por sucessivos governos dos dois países ao longo de quase cinco décadas, venho repudiar a inaceitável agressão feita a seu grande país por um deputado que vem a ser filho do atual presidente da República do Brasil.

    Tal atitude, ofensiva e leviana, contraria frontalmente os sentimentos de respeito e admiração do povo brasileiro pela China. Creio expressar o sentimento de uma Nação, que tive a responsabilidade de presidir por dois mandatos, ao pedir desculpas ao povo e ao governo da China pelo comportamento deplorável daquele deputado.

    Como é de seu conhecimento, setores expressivos da sociedade brasileira condenaram aquela agressão, incluindo os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal do Brasil.

    Lamento, entretanto, que o atual governo brasileiro não tenha feito ainda esse gesto pelos canais diplomáticos e por meio do próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, que deveria ter sido o primeiro a tomar tal atitude. Seu silêncio envergonha o Brasil e comprova a estreiteza de uma visão de mundo que despreza a verdade, a Ciência, a convivência entre os povos e a própria democracia.

    Lamento especialmente que esta agressão tenha ocorrido na conjuntura de um contencioso comercial entre a China e os Estados Unidos, país ao qual a política externa brasileira vem sendo submetida de maneira servil por este governo. Bolsonaro rebaixa as relações do Brasil com países amigos e se rebaixa como reles bajulador do presidente Donald Trump.

    Este governo passará, sem ter estado à altura do Brasil, mas nada poderá apagar os laços de amizade e cooperação que vimos construindo desde 1974, quando o então presidente Ernesto Geisel restabeleceu as relações entre o Brasil e a República Popular da China.

    Praticamente todos os presidentes brasileiros, desde então, fortaleceram nossa relação nos mais diversos campos. Recordo que, ainda em 1988, o presidente José Sarney assinou os acordos para a construção do satélite sino-brasileiro, que viria a ser lançado no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.

    Em 1994, os presidentes Itamar Franco e Jiang Zemin estabeleceram a Parceria Estratégica Brasil e China, que tem frutificado em benefício mútuo. Desde 2009 a China é o maior parceiro comercial do Brasil. Em meu governo, o Brasil reconheceu a China como economia de mercado e construímos juntos os BRICS, inaugurando um novo capítulo na ordem mundial.

    Recentemente, expressei minha solidariedade ao povo e ao governo da China no enfrentamento ao coronavírus. Recebo agora a notícia de que os esforços admiráveis nesse combate resultaram na interrupção, pelo segundo dia consecutivo, da transmissão do vírus em seu país. Parabéns por esta vitória e sigam lutando.

    Esta é a verdadeira imagem da China que nós, brasileiros e brasileiras, aprendemos a admirar, numa convivência de mútuo respeito. Um país com o qual desejamos manter e aprofundar as melhores relações de amizade e cooperação, inclusive no combate à grave pandemia que também nos atinge.

    Receba minha saudação respeitosa e fraterna, que se estende a todo o povo chinês,

    Luiz Inácio Lula da Silva

  • ‘DEMOCRACIA EM VERTIGEM’ E O MEDO À IMPARCIALIDADE

    ‘DEMOCRACIA EM VERTIGEM’ E O MEDO À IMPARCIALIDADE

    A última frase do filme “Democracia em Vertigem” de Petra Costa condensa todo o significado do processo que levou à eleição de Bolsonaro: Moro virou Ministro da Justiça de Bolsonaro e Lula permanecia preso. O documentário indicado ao Oscar mostrou a engenharia reversa do golpe de 2016 e de todo o processo que permitiu a ascensão da extrema-direita ao poder no Brasil em 2018.

    Todos sabem que o filme não ganhou o mais conhecido prêmio do cinema, mas também sabem que, por outro lado, ganhou uma notoriedade inesperada que lhe deu a possibilidade de ser visto mundialmente. Foi o esse o grande incômodo dos bolsonaristas em relação ao filme de Petra: “Democracia em Vertigem” se tornou acessível a todas as pessoas interessadas pelo respeito à democracia e à igualdade em Melbourne, em Amsterdam, em Boston, em Nairobi, em Lima e em Hong Kong.

    Desastre para o bolsonarismo! Agora qualquer pessoa, em qualquer continente, poderá conhecer o estilo brasileiro de fazer política! Basta sentar diante do televisor e sintonizar a Netflix! A grande força do filme de Petra reside na combinação entre a engenharia reversa e o espectador imparcial. Os seguidores do “mito” temem que a película mostre a esses estrangeiros os meandros do impeachment de Dilma e da condenação política de Lula. Os bolsonaristas odeiam o filme não por medo de que os gringos venham a interferir e a alterar a presente situação no Brasil após assistirem ao filme, mas sim porque ele convida o espectador estrangeiro a assumir o papel de espectador imparcial, uma função fatal para a narrativa criada pela direita brasileira.

    Mas o que é engenharia reversa?

    Na II Guerra Mundial, por exemplo, os ingleses desmontavam cuidadosamente os tanques alemães capturados em batalha para descobrir os seus segredos, engenharia reversa aplicada aos estudos militares. Quando um técnico desmonta uma bomba d’água para analisar os seus componentes, mesmo com pouco ou nenhum conhecimento adicional sobre os procedimentos envolvidos na produção final daquele objeto, ele encontrará peças e fios e tentará entender a função de cada um, a articulação entre eles, a sinergia gerada e o seu funcionamento final. Assim podemos afirmar que Petra fez a engenharia reversa do golpe de 2016; em vez de fios e peças de aço, ela encontrou e interpretou fatos que lhe permitiram desmontar a ficção criada pela direita brasileira para justificar a derrubada de Dilma.

    O cuidadoso desmonte cinematográfico permitirá a um espectador imparcial avaliar adequadamente a última frase do filme.

    Petra narrou as raízes históricas da democracia brasileira, com todas suas contradições e nos contou também sobre as suas próprias raízes, o engajamento revolucionário de seus pais, a dimensão burguesa da sua família, etc. A sua narrativa é minimalista porque expõe, com voz suave, momentos nodulares da nossa história, mesmo quando ressalta as condutas impróprias, inadequadas e autoritárias de muitos protagonistas. Petra adequou o grau de sua indignação até um limite que pudesse ser assimilado pelo espectador imparcial.

    Conduta oposta adotou Janaína Pascoal, professora da USP e mentora jurídica do impeachment, quando aos gritos e com gestos espalhafatosos, comparou Lula a uma víbora e pediu a sua decapitação. Janína não soube controlar as suas paixões para não ultrapassar o ânimo normal do espectador. Espectadores em Melbourne e Hong Kong certamente ficaram chocados com a conduta de Janaína.

    https://gfycat.com/defenselessglisteningamericanredsquirrel

    “Minimalista” não significa “imparcial”: quer dizer apenas que Petra tentou evitar os adjetivos exagerados e grandiloquentes. Creio que ela narra a história com o tom da indignação de que quem vê a democracia ser atropelada e colocada em quarentena. Acusar Petra de ser parcial é um elogio pois significa dizer, por um lado, que a diretora não é nem apática nem manipulada pelos interesses neoliberais e, por outro, que ela não é indiferente à sorte dos brasileiros.

    No Brasil, o argumento ad hominem diz que que quem não concorda ponto por ponto com as minhas crenças é mal-intencionado, comunista e corrupto; ora, essa técnica erística já cumpriu o seu papel na construção do ambiente de ódio no nosso país. Os seguidores do “mito” repetem esse tipo de argumento à exaustão e isso não é um exemplo de imparcialidade. Soa muito estranho que os bolsonaristas acusem e condenem nos outros vícios e falsidades que eles mesmos praticam habitualmente, a saber, excluir, perseguir e ameaçar pessoas que pensam diferentemente deles.

    E o que seria o espectador imparcial? Por qual razão o filme de Petra Costa, exibindo a engenharia reversa do golpe, encontrou naquele o terreno fértil para a semente da verdade? Adam Smith, no seu livro Teoria dos Sentimentos Morais, apresenta o conceito do espectador imparcial, um artifício teórico para pensar a objetividade na avaliação da justiça. Smith estava preocupado em ampliar a discussão para evitar o paroquialismo no plano dos valores e insistia sobre a necessidade de vermos nossas opiniões de uma certa distância. O conceito de Smith tinha o objetivo de analisar não apenas a influência do interesse pelo benefício próprio, mas também o impacto da tradição e do costume (Sen:2011:75). E, em termos de argumentação, a objetividade tem a ver diretamente com a possibilidade de sobreviver aos desafios da análise informada proveniente de direções diversas.

    E esse é o supremo temor dos bolsonaristas: que, dos inúmeros rincões da Terra redonda, os gringos possam fazer análises informadas imparciais e alimentadas pelo filme “Democracia em Vertigem”. Ser imparcial seria adotar decisões morais não restritas apenas ao interesse pessoal (arrogância, egoísmo, prepotência, etc.) e adotar uma conduta ou ação de interesse social. Seria restabelecer a importância do interesse geral e mostrar a utilidade social da opinião. Seria igualmente reconhecer a necessidade de invocar como as coisas pareceriam para qualquer outro espectador justo e imparcial, incluindo os juízos feitos por pessoas desinteressadas de outras sociedades também – distantes e próximas (Sen:2011:155). Em outras palavras: para além dos patos amarelos, da doutrinação da mídia e dos slogans religiosos que hoje infectam considerável parcela das classes médias e baixas brasileiras, podem existir opiniões inteligentes.

    O ódio ao filme de Petra Costa é a insistência em manter a compreensão parcial da ética e da justiça; o ódio a “Democracia em Vertigem” é o ódio ao esclarecimento; o ódio a esse filme que concorreu ao Oscar 2020 é o ódio à possibilidade do alargamento de perspectivas que as vozes de fora possam fornecer. É cômico e, ao mesmo tempo, constrangedor notar a raivosa impotência dos seguidores do “mito” quando constatam que não podem impedir alguém em Amsterdam ou em Nairóbi de assistir ao filme de Petra. Ao observador imparcial parecem pacientes de um hospital psiquiátrico envoltos em camisas de força, arreganhando os dentes para os psiquiatras e gritando impropérios.

    Alexandre Costa é professor, doutor em filosofia e cinéfilo

    Referências:

    SEN, Amartya: A ideia de justiça, São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

  • Lula pergunta quem mandou matar Marielle? 

    Lula pergunta quem mandou matar Marielle? 

    Do Face do Lula

    Lula  pergunta quem mandou matar Marielle? Depois de dois anos, os brasileiros e brasileras exigem resposta para esta pergunts.

    E o 8 de março é dia de luta por igualdade e justiça. Lula chama a atenção para  o crescente número de feminicídios e “apenas em 2019, o machismo assassinou 1.314 mulheres, incentivado por um governo que naturaliza a violência”.

    dilma relembra o papel do PT em eleger a primeira mulher presidente da república.

    “8 de março – Dia Internacional da Mulher

    Hoje, milhões de mulheres vão às ruas em todo o mundo lutar por bandeiras de igualdade. Elas estão nas ruas por igualdade de direitos, de salário, de oportunidades e, sobretudo, pelo direito à própria existência. Uma coisa tão cara como a vida é negada a uma mulher a cada 7 horas no Brasil. Uma mulher a cada 7 horas. Esse é o número de feminicídios em nosso país, onde, apenas em 2019, o machismo assassinou 1.314 mulheres, incentivado por um governo que naturaliza a violência.

    Neste dia que nos convoca à reflexão e à luta, quero lembrar de uma mulher que há 725 dias teve a vida encerrada justamente por encarnar a luta e os ideais das mulheres que sonham com um mundo mais igual: Marielle Franco.

    Buscar justiça para Marielle e por todas as Marielles que incomodam por sua força, que incomodam por saber seu lugar e fazer questão de ocupa-lo, é um dever de todos nós.

    Eu me somo, ao lado de nosso partido que já levou uma mulher ao mais alto posto da República e é presidido por uma, na luta por um mundo onde as pessoas não sejam subjugadas por seu gênero. Em nossa busca permanente e inegociável por igualdade e justiça social.

    Lula”

    Foto: Ricardo Stuckert

  • ELISA LUCINDA: Em Portugal, com o Brasil a doer no coração

    ELISA LUCINDA: Em Portugal, com o Brasil a doer no coração

    Elisa Lucinda na terra de Eça de Queiroz, onde participou do Encontro Internacional Literário Correntes D’Escritas - foto: Jonathan Estrella
    Elisa na terra de Eça:  “o mundo está assistindo nossa dor” – foto: Jonathan Estrella

    Estou em Póvoa de Varzim, terra de Eça de Queiroz, lindo lugar que pertence ao distrito do Porto, lançando o livro “A fúria da beleza” por uma editora luso cabo-verdiana, Rosa de Porcelana… Uma beleza. Somos muitos autores neste Encontro Internacional Literário bem chamado de Correntes D’Escritas. O país que nos colonizou vai muito bem, respeitando as artes e as ciências humanas e exibindo escolas públicas de altíssima qualidade. Pois vai muito bem mesmo este nosso Portugal. (não se preocupem não vou morar aqui… rsrs). É nutrição de esperança ver Portugal brilhando como esquerda europeia. O pequeno imenso país vai mesmo muito bem.

    Meu coração brasileiro é que não.

    Tenho vergonha do desmonte lá de casa. Vim representar um país cujo governo o despreza e o ataca diariamente. Para ele, fodam-se os índios, os pretos, a diversidade de gênero, a Amazônia, nossos metais valiosos, nossos museus, nossas universidades, nossa ciência, nossa pesquisa, nossa sustentabilidade, a soberania nacional. A elite brasileira não perdoa um governo que olhe para o povo. Por isso o ministro da justiça Sérgio Moro não luta mais contra corrupção; notaram? Se esqueceu da possível armação rachadinha do Queiroz, faz vista grossa para milícias e tudo que possa ferir o poder que alcançou negociando cargo em plena gestão de suas condenações da lava jato. Moro parece só pensar agora em ser o próximo presidente, e não tem tempo para a justiça. Tampouco se explica ao país. O poder é mais um dos seus brinquedinhos, coisa de menino rico que só sabe ser o dono da bola e ganhar sozinho o jogo. Nada pra ele é do coletivo. Não está nem aí pro genocídio da juventude negra pois, em sua balança cega para os que dela precisam, pesa a desigualdade. A cada hora uma criança perde a vida no Rio de Janeiro na chamada guerra contra o crime. E só é assassinada criança preta e pobre. Os petroleiros estão em greve. A cada hora um trabalhador perde ainda mais sua possibilidade de trabalho na constante desindustrialização do país por parte deste governo. Também, fodam-se os trabalhadores pois o ministro da economia quer o dólar alto por que não quer saber desta farra de domésticas viajando pra Disney sem parar, já que, a sonhada bobagem de grandes bonecos de Mickey e Pateta, é simbologia branca da classe média, e de quem tem dinheiro. Não é pra pobre não, senão vira bagunça. O presidente é racista, homofóbico, misógino e publicamente sem qualquer pudor, desrespeitador das mulheres e de várias vastas “minorias”. Tenho vergonha dele. Aqui ainda me sinto mais mal. Trago um Brasil doente no peito. Na internet do mundo rola o fedor da nossa roupa suja. O pessoal aqui tá sabendo. O ataque baixo do presidente à jornalista Patricia Campos Mello, ao jornal Folha de S.Paulo e a toda imprensa independente que o está criticando, todo mundo tá sabendo. Que horror! Socorro! Estou num festival de letras representando um país cujo presidente não me representa, não acredita nas letras e que, em nome de deus quer que o pobre continue pobre e não tenha dignidade nem saída. Estou representando um país cujo presidente se tornou internacionalmente metáfora de coisa ruim. Referência de despotismo, de fascismo, de atraso. Todos o sabem. Perguntam-me nas ruas daqui estarrecidos. Na lanchonete o rapaz que faz o sanduíche me questiona: “O que aconteceu ao Brasil? O homem só faz estragos! Só diz asneiras! E a Regina Duarte, será que não vê isto, oi?”

    Por isso, declaro aos presentes aqui: Sei que o mundo está assistindo nossa dor.

    Nossa democracia sofre duros e sucessivos golpes numa nocauteante sequência. Estava num bom caminho e nitidamente desandou aos nossos olhos e aos olhos do mundo que sinceramente tinham o Brasil num imaginário de um notável país, amante da liberdade e em desenvolvimento que, reduziu a fome, ostentou o SUS como melhor atendimento de saúde pública do mundo, zerou o analfabetismo, foi referência no combate à Aids. Fez o dinheiro circular e o trabalhador começou a poder andar de avião. Diminuiu com forte impacto a população abandonada e moradora das ruas das grandes cidades. Preto, indígena e pobre ocupando lugares nobres nas PUCs e outras importantes Universidades, LGBTQI+ avançando nitidamente ao seu lugar legítimo de cidadania.

    De repente, o tempo virou.

    Rapidamente o Brasil sai deste lugar pra virar constrangimento? Para citar e namorar os conceitos nazistas em pleno 2020? Enquanto as universidades do mundo estudam e aplicam o método Paulo Freire de ensino o presidente o ataca, ofende sua memória, importância e saber, na cara de quem o estudou? O presidente se volta contra a literatura, o cinema, os artistas, os professores, os direitos humanos? Enquanto os terreiros de candomblé e umbanda são atacados e vilipendiados por neo fundamentalistas, a Damares faz de seu ministério um templo, defende abstinência sexual para os jovens e o Estado, que era laico, faz culto evangélico na assembleia do Rio???!!!! O racista Sérgio Camargo insiste em assumir a Fundação Palmares, criada para defender os direitos dos negros! O cara está sendo imposto como um lobo destinado a cuidar das chapeuzinhos. Ele tem sede. É capitão do mato. É como designar um pedófilo para coordenar uma creche. Mas venho avisar a este mundo que estamos lutando. O senhor Sérgio não nos representa e não vai ocupar a presidência que leva o nome do Quilombo mais poderoso de que já se teve notícia. Quem trai Zumbi não ocupará Palmares. Este presidente não nos representa. Falo em nome dos que nunca acreditaram neste governo e também dos que por ele foram traídos e só agora estão entendendo. E parabenizo os nossos constitucionalistas, os ativistas, os bravos parlamentares, os professores, os estudantes, os petroleiros, povos da floresta, povos das favelas, povos quilombolas, ambientalistas, aqueles que de suas trincheiras não cansam de lutar. Bolsonaro não tem partido nem tem o congresso. Se cercou de militares, e não aceita que nem todo seu desejo possa virar decreto. A lei o atrapalha. O congresso e a constituição complicam sua vida.

    O Brasil se revelou na sua hipocrisia:

    Está mais assumidamente racista, perdido nas fake news, vendo atrocidades em nome de Deus, da pátria e da família. Mas está cada vez menos explicado: de qual Deus, de que pátria e de qual família fala o presidente? E quem entrou pelo sistema de cotas na universidade está entendendo sim e explicando pro seu pessoal, esclarecendo, conscientizando. Agora temos mais advogados pretos, temos rede social filmando as barbáries, desafiando e esfregando na cara da sociedade a realidade que ninguém quer e ninguém queria ver. O mundo mudou. O país é novo e complexo. Por isso advogados rapidamente se apresentaram diante do abuso sofrido por Raull Santiago. Sempre foi assim pros pretos. Desde o nosso holocausto que durou 400 anos. Há muito nos matam por lá. Por isso o governo Lula criou a Secretaria Especial da Igualdade Racial que este governo fez questão de acabar. Mas agora todo mundo vê. Lê. A fofoca é geral. Salva, comenta e compartilha. Estamos mais articulados do que nunca e, embora mais silencioso do que o conjunto de seus algozes, o quilombo contemporâneo se avoluma. A minoria está ficando do tamanho da maioria que é. É ao vivo, em tempo real, sem edição. Haverá revolução.

    Agradeço a esse encontro das Correntes D´Escritas, lugar onde a palavra é celebrada, em que várias vezes o Brasil foi citado como uma preocupação mundial. Sei que vocês sabem que o Brasil não é um caso isolado, e a retrógrada e insana mão da extrema direita ameaça o mundo. Por isso o Brasil percebe a solidariedade de todas entidades do planeta comprometidas com a igualdade, sabedora de que a desigualdade não produzirá a paz. Aproveito para compartilhar uma das lições que a nossa democracia duramente está recebendo: Nós da esquerda temos que nos livrar de costumes separatistas, preconceituosos que engendramos e praticamos em nossa política do cotidiano, e dos quais se aproveitam as forças conservadoras. Enquanto formos machistas, racistas e homofóbicos na vida íntima ou coletiva, mais estaremos vulneráveis ao nazismo e ao fascismo. Agradeço a este país que me recebe de braços abertos, aos escritores e poetas do mundo que cá estão, e faço questão de vos lembrar as palavras de Martin Luther King: “A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar”. Há um país que não aceita mais o racismo explícito do jornalista William Waack ou do Rodrigo Bocardi e que, apesar de sofrer toda a peste da evangelização tóxica em toda parte a dominar as mentes com seus moralismos, há um país cuja população adulta é filha da liberdade, e seus filhos mais ainda. Há uma país que não abrirá mão desta liberdade, que não a negociará, e que não vai parar de fazer amor, nem de exigir saber quem mandou matar Marielle!

    Póvoa de Varzim, Inverno em fevereiro, 2020

     

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  • Lula: injustiça contra Glenn Greenwald revela esfacelamento da democracia brasileira

    Lula: injustiça contra Glenn Greenwald revela esfacelamento da democracia brasileira

    Do site Lula livre

    Por Luiz Inácio Lula da Silva

    *Originalmente publicado em inglês no Washington Post

    Imagine o que teria sido a história dos Estados Unidos se, nos anos 1970, a opinião pública e as autoridades estivessem mais preocupadas em atacar e investigar Carl Bernstein e Bob Woodward do que em buscar a verdade sobre o escândalo Watergate. Se o Congresso e o FBI tivessem decidido investigar os repórteres do Washington Post e suas fontes, ao invés de investigar o Partido Republicano.

    É algo assim que está acontecendo hoje no Brasil, onde o jornalista Glenn Greenwald acaba de ser denunciado judicialmente por suas atividades jornalísticas.

    Greenwald foi acusado de cometer crimes cibernéticos, por causa das reportagens que fez, ano passado, sobre vazamentos de mensagens telefônicas que mostraram graves violações em uma força-tarefa de investigação de corrupção conhecida como Operação Lava Jato. Greenwald se transformou em alvo desde que seu site de notícias, The Intercept Brasil, começou a publicar matérias baseadas nas mensagens vazadas, que obteve de uma fonte protegida por sigilo.

    The Intercept demonstrou que havia um conluio entre o juiz e os procuradores federais que conduziam o caso. O juiz, Sergio Moro, é hoje ministro da Justiça do presidente Jair Bolsonaro – a recompensa que ganhou por ter politizado a investigação de corrupção.

    As ações de Moro e dos procuradores armaram o palco para meu julgamento injusto. As investigações de Greenwald são a chave para demonstrar como a Operação Lava Jato violou meus direitos legais e humanos.

    E agora eles estão indo atrás da imprensa. O procurador federal que denunciou o jornalista violou uma ordem da Suprema Corte brasileira que protegia a liberdade de imprensa de Greenwald.

    Mas abusos como este não têm sido novidade no Brasil. O impeachment politicamente motivado da presidenta Dilma Rousseff, em 2016, foi uma clara violação da Constituição e sinalizou para estimular ainda mais a manipulação do sistema judicial contra os adversários políticos.

    Mas não vamos perder o foco. As mensagens secretas reveladas pelo The Intercept Brasil confirmaram que Moro e os procuradores grampearam advogados, ocultaram provas e direcionaram depoimentos para falsificar acusações e condenações. Para manipular a opinião pública, Moro e os procuradores vazaram ilegalmente um telefonema de Dilma Rousseff. As mensagens mostram que eles mentiram para o Supremo Tribunal Federal sobre esses fatos – e continuam mentindo para o país até hoje.

    Com poucas exceções, a mídia brasileira bancou esse jogo. A cobertura da poderosa TV Globo é focada num inquérito da Polícia Federal que visa a criminalizar as fontes de Greenwald e o próprio jornalista.

    A participação da mídia ao longo dessa farsa mudou o curso da história e contribuiu para a eleição de Bolsonaro, um radical de extrema-direita. Antes da denúncia contra o jornalista, o assunto nacional era o fato de o presidente ter tido um exaltador do nazismo como secretário da Cultura.

    Nos últimos tempos venho lutando para limpar meu nome diante de uma grosseira aberração judicial, mas minha maior preocupação é com a profunda destruição do nosso país que este governo está causando. As pessoas podem concordar ou discordar de um político ou um partido, mas um sistema judiciário imparcial e a liberdade de imprensa estão acima de qualquer debate.

    Greenwald é testemunha, repórter e, agora, a mais recente vítima deste processo de esfacelamento da democracia brasileira.