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Categoria: vazajato

  • Morte de Dona Marisa, neto e irmão de Lula viraram piada entre procuradores da Lava Jato

    Morte de Dona Marisa, neto e irmão de Lula viraram piada entre procuradores da Lava Jato

    Integrantes da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba ironizaram a morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia e o luto do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conforme revelam mensagens de chats privados no aplicativo Telegram enviados por fonte anônima ao site The Intercept Brasil analisadas em parceria com o UOL.

    Os diálogos também mostram que procuradores divergiram sobre o pedido de Lula para ir ao enterro do irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, em janeiro passado –quando o ex-presidente já se encontrava preso– e que temiam manifestações políticas em favor de Lula. Na ocasião, alguns membros da Lava Jato disseram acreditar que a militância simpatizante de Lula pudesse impedir a volta dele à superintendência da PF (Polícia Federal), em Curitiba.

    A despedida de Lula do neto Arthur Araújo Lula da Silva, que morreu aos 7 anos em março, também foi assunto entre procuradores da Lava Jato e alvo de crítica em chat composto por integrantes do MPF.

    Em 24 de janeiro de 2017, Marisa Letícia sofreu um AVC hemorrágico. A internação no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, é comentada em chat no aplicativo Telegram.

    A reportagem manteve as grafias das mensagens tal qual constam nos arquivos enviados ao Intercept, mesmo que contenham erros ortográficos ou de informação. Não há indícios de que as mensagens tenham sido adulteradas.

    morte encefálica da ex-primeira-dama foi confirmada em 3 de fevereiro de 2017. Na véspera, a procuradora da República Laura Tessler, do MPF (Ministério Público Federal) em Curitiba, sugere que Lula faria uso político da perda da mulher.

    Minutos após a confirmação da morte de Marisa Letícia ser noticiada, o tema volta ao chat Filhos do Januário 1.

    Em 4 de fevereiro de 2017, após nota da colunista do jornal Folha de S.Paulo Mônica Bergamo sobre a agonia vivida por Marisa em seus últimos dias de vida ter sido compartilhada no grupo, a procuradora Laura Tessler refuta a possibilidade de o agravamento do quadro da ex-primeira-dama ter acontecido após busca e apreensão na casa dela e dos filhos e condução coercitiva de Lula, determinada pelo então juiz Sergio Moro no ano anterior.

    “Ridículo… Uma carne mais salgada já seria suficiente para subir a pressão… ou a descoberta de um dos milhares de humilhantes pulos de cerca do Lula”, afirma Laura.

    Em abril passado, em entrevista ao jornal El País e à Folha de S.Paulo, Lula disse que “Marisa morreu por conta do que fizeram com ela e com os filhos dela. Dona Marisa perdeu motivação de vida, não saía mais de casa, não queria mais conversar nada”. O ex-presidente respondia à pergunta sobre a possibilidade de a saúde da mulher ter sido afetada pelas investigações.

    Na mesma conversa, o procurador Januário Paludo, que também integra a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, coloca sob suspeita as circunstâncias da morte de Marisa Letícia. “A propósito, sempre tive uma pulga atrás da orelha com esse aneurisma. Não me cheirou bem. E a segunda morte em sequência”, diz ele, sem especificar à qual outra morte se referia.

    A suspeição em relação às circunstâncias da morte da ex-primeira-dama já havia sido exposta por Paludo em 24 de janeiro, quando Marisa Letícia fora internada. Na ocasião, o chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, afirma que Marisa havia chegado debilitada ao hospital.

    “Um amigo de um amigo de uma prima disse que Marisa chegou ao atendimento sem resposta, como vegetal”, afirma Deltan. Paludo reage à frase dizendo: “Estão eliminando as testemunhas”.

    Em 4 de fevereiro, o corpo de Marisa Letícia foi velado em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. A fala de Lula na despedida da mulher é compartilhada pela procuradora Laura Tessler no chat. Na ocasião, Lula afirmou: “Eles que têm que provar que as mentiras que estão contando são verdade. Então, Marisa, descanse em paz porque esse Lulinha paz e amor vai continuar brigando muito”.

    Deltan define a manifestação de Lula como “uma bobagem”. “Bobagem total… nguém mais dá ouvidos a esse cara”, diz.

    O tema volta ao grupo no dia seguinte, quando o procurador Antônio Carlos Welter diz que “a morte da Marisa fez uma martir [sic] petista e ainda liberou ele pra gandaia sem culpa ou consequência politica”.

    A morte de Marisa também foi comentada por outros integrantes do MPF em chats no Telegram. Ainda em 4 de fevereiro, a procuradora da República Thaméa Danelon, da força-tarefa da Lava Jato em São Paulo, critica a participação da procuradora Eugênia Augusta Gonzaga no velório da ex-primeira-dama, o que, para ela, equivaleria a ir ao enterro da “esposa do líder de uma facção do PCC”.

    “Olhem quem estava no velório da Ré Marisa Leticia”, escreve às 14h07 no grupo Parceiros/MPF – 10 Medidas, ao citar fotografia de Eugênia na cerimônia. Outros procuradores questionam qual seria o problema da presença no velório de Eugênia Gonzaga, que chefiou a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos de 2014 até o começo de agosto.

    “Acho um desrespeito ao Janot e a todos os colegas envolvidos na LJ. Além disso, demonstra partidarismo. Algo q temos q evitar Apenas isso. Abraços”, responde Thaméa às 15h16. Ela se referia a Rodrigo Janot, então procurador-geral da República. “É como um colega ir ai enterro da esposa do líder de uma facção do PCC. No mínimo inapropriado”, compara.

    “O safado só queria passear”, diz procurador sobre pedido de Lula para ir a enterro de irmão

    A maneira com que Lula externou a perda de parentes e eventuais manifestações públicas de apoio ao ex-presidente nesses momentos foram debatidas por procuradores em ao menos outros dois episódios em 2019: em 29 de janeiro, ocasião em que o irmão Vavá morreu em decorrência de um câncer, e, a partir de 1º março, quando foi confirmada a morte do neto Arthur.

    Em 29 de janeiro, o procurador Athayde Ribeiro Costa compartilha no grupo Filhos do Januário 3 a notícia de que Vavá havia morrido. A resposta de Deltan à informação já indicava o debate que se iniciaria no chat. “Ele vai pedir para ir ao enterro. Se for, será um tumulto imenso”, diz.

    As consequências de uma eventual saída de Lula da superintendência da PF em Curitiba e a legalidade da liberação provisória dividem opiniões no chat. Parte dos procuradores defende o direito de Lula ir ao enterro de Vavá, enquanto outros sustentam que o ex-presidente não é um “preso comum” e se posicionam contra a ida de Lula ao sepultamento do irmão.

    Athayde Ribeiro Costa faz uma ressalva em relação à possível repercussão internacional negativa que a proibição traria. “Mas se nao for, vai ser uma gritaria. e um prato cheio para o caso da ONU [Organização das Nações Unidas]”, diz em referência à manifestação que a defesa de Lula apresentaria dias depois ao Comitê de Direitos Humanos do órgão.

    No texto, os advogados de Lula diziam que a prisão se devia a uma “perseguição política” e citavam que o tratamento dado a ele era “carregado de cruel mesquinhez”. Meses antes, durante a corrida eleitoral, a ONU já havia recomendado ao Estado brasileiro “garantir ao ex-presidente o exercício de todos os direitos políticos mesmo que na prisão”.

    O procurador Orlando Martello diz achar “uma temeridade ele sair. Não é um preso comum. Vai acontecer o q aconteceu na prisão” e conclui: “A militância vai abraçá-lo e não o deixaram voltar. Se houver insistência em trazê-lo de volta , vai dar ruim!!”.

    O procurador Diogo Castor pondera que “todos presos em regime fechado tem este direito”, e Orlando Martello retoma o argumento do risco à segurança: “3, 4, 10 agentes não o trarão de volta. Aí q mora o perigo caso insistam em fazer cumprir a lei”.

    Em abril de 2018, Lula se entregou à PF após ficar dois dias na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo. Manifestantes tentaram impedir que o ex-presidente fosse levado à prisão e dificultaram o trabalho dos policiais federais.

    Depois desta troca de mensagens, Januário Paludo encaminha aos colegas uma manifestação que seria entregue à juíza responsável por avaliar o pedido de liberação. Trata-se de um parecer da força-tarefa da Lava Jato pelo indeferimento da saída solicitada pela defesa de Lula. Ao ler o texto, Athayde Ribeiro Costa pondera: “Simplesmente indefirir estamos agindo como pilatos e deixando a juiza em situaca difícil”.

    Minutos depois, os procuradores têm acesso a parecer da Polícia Federal que disse não ter condições de atender ao pedido de Lula. O relatório levou em consideração três situações de risco: “Fuga ou resgate do ex-presidente Lula, atentado contra a vida do ex-presidente e comprometimento da ordem pública”. A PF também considerou que as aeronaves que poderiam estar disponíveis para levar o petista ao enterro, naquele momento, estavam realocadas para dar apoio às autoridades em Brumadinho (MG), onde o rompimento de uma barragem, dias antes, deixou aos menos 248 mortos.

    Anteriormente, a Justiça Federal, na primeira e na segunda instâncias, já havia se posicionado contra a solicitação dos advogados do ex-presidente. Minutos depois da manifestação da PF, a Procuradoria da República do Paraná também se posicionou contra o pedido de Lula.

    No chat, Antônio Carlos Welter concorda com a PF, mas diz acreditar que Lula tinha o direito de ir ao enterro do irmão. “Eu acho que ele tem direito a ir. Mas não tem como”. Januário Paludo responde: “O safado só queria passear e o Welter com pena”.

    Laura Tessler comenta: “O foco tá em Brumadinho…logo passa…muito mimimi”.

    O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Dias Toffoli, permitiu contudo que Lula fosse levado a São Paulo e se encontrasse com familiares em unidade militar da região. A decisão foi publicada no momento em que Vavá estava sendo sepultado em São Bernardo do Campo, e Lula acabou não deixando a carceragem da PF.

     

    SAIBA MAIS. LEIA: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2019/08/27/lava-jato-morte-marisa-leticia-lula.htm

    Claudinei Ligieri/Futura Press/Ag.Estado/UOL
  • Deputados dos EUA questionam Departamento de Estado sobre envolvimento com Lava Jato

    Deputados dos EUA questionam Departamento de Estado sobre envolvimento com Lava Jato

    MOTIVAÇÃO POLÍTICA

    Do Brasil de Fato | São Paulo (SP)

    Ouça o áudio:

    Um grupo de 12 deputados e deputadas do Partido Democrata dos EUA fez um questionamento formal ao Departamento de Justiça daquele país sobre a colaboração do órgão com a Operação Lava Jato, segundo informou nesta quarta-feira (21) o jornal Folha de S.Paulo.

    Os parlamentares se dizem preocupados com o envolvimento do governo estadunidense com “procedimentos jurídicos brasileiros recentes que geraram controvérsia significativa e podem desestabilizar a democracia do país”.

    O documento cita as várias reportagens publicadas na imprensa brasileira e mundial nos últimos dois meses, a partir de conversas de aplicativo obtidas pelo site The Intercept Brasil – e que mostram, entre outras ilegalidades, um conluio entre os procuradores da Lava Jato e o ex-juiz Sérgio Moro para condenar sem provas o ex-presidente Luiz Inácio da Silva e tirá-lo da disputa eleitoral de 2018.

    “Essas reportagens parecem confirmar que as ações do juiz Moro e dos procuradores da Lava Jato tiveram motivação política e o intento de minar as perspectivas eleitorais do PT. Colaboração estratégica entre juízes e procuradores em atividades judiciais de motivação política são, no mínimo, violações da ética básica judicial”, diz a carta

    Os autores da carta afirmam que, normalmente, relutam em se intrometer nos procedimentos jurídicos de outros países, “mas esses procedimentos passam a ser da nossa conta no momento em que o nosso governo os apoia, direta ou indiretamente”.

    Entre os questionamentos enviados ao Departamento de Justiça estão:

    “Descreva o envolvimento do Departamento de Justiça na Operação Lava Jato. O que levou o departamento a agir nessa operação especificamente?”;

    “Que tipo de apoio o Departamento de Justiça ofereceu, ou ainda oferece, aos agentes judiciários envolvidos na operação?”;

    “Descreva o envolvimento do Departamento de Justiça com o juiz Sergio Moro, incluindo todo o suporte técnico, compartilhamento de informações e apoio oferecido por terceirizados do departamento”;

    “Agentes do Departamento de Justiça já se relacionaram com o juiz Moro, sua equipe ou outros envolvidos na Operação Lava Jato através de canais não oficiais?”.

    Assinam os deputados e as deputadas: Hank Johnson, Raul Grijalva, Eleanor Holmes Norton, Jared Huffman, Susan Wild, Adriano Espaillat, Veronica Escobar, Deb Haaland, Mark Pocan, Ilhan Omar, Jesus G. “Chuy” Garcia, Emanuel Cleaver 2º e Ro Khanna.

    Edição: João Paulo Soares

    A deputada Eleonor Holmes é uma das parlamentares que assinam a carta enviada ao Departamento de Estado / Divulgação Facebook
  • Carta de Lula para a campanha Moro mente

    Carta de Lula para a campanha Moro mente

    Do site do Lula

    Carta de Lula no Ato da ABJD (Associação Brasileira de Juízes pela Democracia)  Moro Mente no salão nobre da Faculdade De Direito da USP:

    “Companheiros e Companheiras da ABDJ,

    Quero mandar um forte abraço a cada um de vocês que, esta noite, estão aí reunidos na USP para o Ato de lançamento da Campanha Moro Mente.

    Deus sabe, eu sei, Delagnol (Leia na íntegra a carta aqui)sabe e o próprio moro sabe que mentiu!

    Para colocar em prática o seu direito penal do inimigo, a pretexto de combater a corrupção, Moro e a força tarefa da Lava Jato transformaram a operação em uma quase instituição para manipular, fraudar, mentir e corromper as instituições.

    Está à mostra que a operação Lava Jato usou abusivamente a Polícia Federal, o Ministério Público, a Receita Federal, e também que é necessário que o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal afirmem definitivamente a lei de abuso de autoridade, assegurem que o sigilo que protege os dados do cidadão só seja afastado mediante autorização judicial, garantam a presunção da inocência, o vigor do contraditório da ampla defesa e que a apuração das fake news vá até o fim para desvendar todas as fraudes, tal como exige o Estado Democrático de Direito

    Tenho acompanhando o trabalho dos juristas pela democracia desde o começo e considero fundamental que advogados, professores e todos os operadores de direito espalhados pelo Brasil expliquem para o nosso povo o que é um justo processo e como é importante defender a presunção de inocência.

    A operanção Lava Jato não só violou as regras mais importantes do processo penal e da Constituição, como também tem se revelado uma grande operação de assalto à soberania nacional.”….

    (Leia na íntegra a carta aqui)

    Foto: Ricardo Stuckert

     

  • Carta da ABJD explica por que Moro Mente

    Carta da ABJD explica por que Moro Mente

     

    CARTA PÚBLICA DA CAMPANHA #MOROMENTE feita pela ABJD (Associação Brasileira de Juristas pela Democracia)

    1.O Brasil vive uma crise institucional sem precedentes.

    1. Um governo eleito no pleito mais controverso da história, com perfil explicitamente autoritário, neoconservador e fundamentalista religioso, impondo retrocessos vertiginosos a direitos e conquistas democráticas, atuando por meio de decretos e medidas provisórias como forma de consolidar um projeto antipopular e antinacional.

    2. Um governo liderado por um Presidente que constrange o seu povo diariamente, das mais diversas formas, envergonhando a todos com preconceitos incontidos, palavras chulas e desconcertantes, violentando o acúmulo de civilidade conquistado com muita luta social.

    4. Bolsonaro planeja destruir os espaços de participação social, projeta interferir na autonomia escolar e universitária, decide dilapidar o patrimônio ambiental e multicultural, aposta em arruinar as relações com outras nações. Mais que isso, orgulha-se em servir aos interesses de outra nação e projeta raiva, ódio e discórdia entre o povo brasileiro.

    1. No centro deste deprimente retrato, está o sistema de justiça, setores do Poder Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal emparedados diante das evidencias espantosas que demonstram o cometimento de crimes contra a democracia e a soberania nacional.

    2. O Brasil tornou-se famoso pela utilização do sistema de justiça com fins alheios ao devido processo legal. Algo que já era percebido e denunciado por juristas , mas que agora revela-se nas minúcias.

    1. Os documentos obtidos pelo jornalista Glenn Greenwald e sua equipe confirmam a desconfiança de todos nós, juristas, de que a força-tarefa anticorrupção serviu para maquiar a interferência política e a desestabilização democrática por intermédio de procedimentos judiciais supostamente legítimos, uma espécie de “lawfare à brasileira”. Sob o pretexto de combater a corrupção a qualquer preço, procuradores e juízes violaram leis processuais e garantias constitucionais, como a presunção de inocência.

    2. Mas as revelações são muito mais graves. Os procuradores da Lava Jato, hipervalorizados pela mídia hegemônica, com o tempo conquistaram poderes e competências excepcionais para criar uma força-tarefa especial, atraindo para uma só repartição judicial,  na cidade de Curitiba, processos judiciais que não deveriam originalmente ser julgados ali. Desta forma esses processos, forçosamente conexos, foram submetidos a um mesmo juiz.

    3. Foi assim que Sergio Moro se consagrou herói nacional, legitimando-se como saneador da corrupção sistêmica, centralizando todos os processos e desfrutando de popularidade jamais vista na magistratura.

    4. O estilo do juiz de primeiro grau sempre foi singular, destoando da discrição recomendada pela lei da magistratura. A extravagância de comparecer a eventos sociais e premiações, além de sua forte presença nos meios de comunicação, produziu grande poder midiático e o constrangimento das demais instâncias do judiciário, em parte inebriadas pela comoção popular midiaticamente forjada, em parte convencida das mentiras comunicadas por aquele que, subterraneamente, atuava na chefia de um conluio entre colegas do Judiciário e membros do MP e da PF.

    1. Moro Mentiu. Moro Mente!

    2. Esse alinhamento entre a instância judicial de Curitiba, a mídia empresarial e a opinião pública criou condições para que a lei penal fosse aplicada de forma cada vez mais arbitrária. Exemplo são as chamadas “conduções coercitivas”, transformadas em espetáculos midiáticos, e as longuíssimas prisões preventivas a fim obter delações premiadas que, espelhada no modelo estadunidense, foram negociadas com ampla margem de liberdade e abuso pelos acusadores. Acrescenta-se ainda que a mídia empresarial obtinha semanalmente informações privilegiadas de inquéritos e processos sigilosos, vazados criminosamente por agentes públicos que estavam obrigados a protegê-las, o que era utilizado para a construção de um clima manipulado de indignação pública.

    3. Os processos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como exemplo, foram os mais violentos e midiáticos, sendo em tudo excepcionais: nos prazos, na prisão antecipada, no uso de provas e testemunhas, e nas negativas aos direitos políticos e civis, desrespeitando até mesmo decisão obrigatória das Nações Unidas.

    4. Os diálogos divulgados sugerem que o juiz Moro orientava clandestinamente os trabalhos da acusação, chefiando e subordinando os procuradores, o que  contraria a Constituição brasileira, que obriga a imparcialidade dos magistrados. Aquele que acusa não pode ser o mesmo que prolata a sentença, e o juiz/acusador Moro atuou ao mesmo tempo em um dos lados do processo, o que é uma violação primária do Direito.

    5. O conjunto de informações reveladas até o momento confirma o que os juristas pela democracia já sabiam desde muito: que no Brasil uma trama complexa e perversa sequestrou a autonomia e a independência do Poder Judiciário.

    6. Esse conluio comprometeu o destino político do Brasil desde 2016 e talvez muito antes. Num cenário de crise econômica e desestabilização política, as eleições presidenciais de 2018 foram, em grande medida, também decididas pela Lava-Jato e pelo juiz Moro, abrindo espaço para a eleição de Jair Bolsonaro, que posteriormente premiou o juiz que condenou Lula, fazendo dele seu Ministro da Justiça.

    7. A campanha #MoroMente busca explicar à sociedade brasileira as consequências para a justiça quando um magistrado assume um dos lados do processo, desequilibrando a balança para condenar previamente adversários e desafetos políticos. A campanha também visa conscientizar sobre os riscos que a democracia corre quando o povo é enganado por fake news e pelo uso arbitrário e perverso do direito.

    8. É com este compromisso que a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), entidade jurídica criada para defender o Estado Democrático de Direito, vem a público dizer, em alto e bom som: Moro Mente! Mentiu como juiz, mente agora como Ministro.

    1. É com a disposição de reestabelecer a verdade dos fatos que a ABJD  cobra dos poderes constituídos respostas à sociedade. Não aceitaremos que se naturalizem os graves fatos revelados como se lícitos fossem.

    2. Esperamos: Que o Parlamento constitua CPIs para averiguar responsabilidades e eventuais crimes cometidos por servidores públicos; que sejam verificadas as condições contratuais dos acordos de leniência de empresas estatais e nacionais no contexto da Lava Jato; que sejam tornadas públicas as investigações e os documentos que protegem autoridades que participaram do conluio entre MP e judiciário; que sejam correicionados os juízes que atuaram contrariamente à lei, violando o princípio basilar da imparcialidade e as garantias do devido processo legal. Que seja devolvido ao povo brasileiro a confiança no poder judiciário contaminado pela corrupção funcional e pela mentira.

    Ninguém está acima da Lei e a verdade histórica prevalecerá.

    Com relação a Moro nós fizemos duas representações no CNJ:

    1) Quando ele impediu o cumprimento do HC do Lula em julho de 2018

    2) Quando ele aceitou o cargo de Ministro sendo juiz, em dezembro de 2018

    Com relação a Dallagnol fizemos 3 representações:

    1) sobre as palestras em fevereiro de 2018

    2) Sobre a Fundação Lava Jato em maio de 2019 (e fizemos junto com a AJD uma carta à PGR pedindo providências)

    3) Sobre as revelações do The intercept em julho de 2019

    Foto: Ricardo Stuckert
  • Lava Jato usava chats para pedir dados fiscais sigilosos sem autorização judicial ao atual chefe do Coaf

    Lava Jato usava chats para pedir dados fiscais sigilosos sem autorização judicial ao atual chefe do Coaf

    Integrantes da Lava Jato (Moro, Dallagnol e Cia) agiam fora da lei e sem ética nas investigações da operação*
    O combate à corrupção tem que ser feito permanentemente, porém dentro da lei.
    Um, entre envolvidos nos crimes revelados, é Roberto Leonel, atual presidente do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) no governo Jair Bolsonaro (PSL) e indicado.por Moro.
    Leonel, antes de assumir o Coaf, chefiou a área de inteligência da Receita em Curitiba até 2018.

    Do Intercept Brasil

    Em colaboração com

     

    Procuradores realizavam consultas “informais” para saber até se seguranças de Lula compraram geladeira e fogão para o sítio de Atibaia.

    Além de incentivar secretamente investigaçõesde ministros do Supremo Tribunal Federal, colaborar de forma proibida com então juiz Sergio Moro, usar partido político e grupos da sociedade civil como lobistas para emplacar suas pautas políticas, tramar o vazamento de uma delação para interferir na política de outro país e se encontrar secretamente com banqueiros em pleno ano eleitoral, os procuradores da operação Lava Jato também usaram o Telegram para obter informalmente dados sigilosos da Receita Federal – ou seja, sem nenhum controle da Justiça.

    O coordenador da força-tarefa, Deltan Dallagnol, e seus colegas em Curitiba recorreram em diversas ocasiões a um informante graduado dentro da Receita para levantar o sigilo fiscal de cidadãos sem que a Justiça tivesse autorizado a quebra. As investigações clandestinas são reveladas agora pelo Intercept em parceria com a Folha de S.Paulo, graças ao arquivo da Vaza Jato.

    Para obter os dados sigilosos, os procuradores recorreram ao auditor fiscal Roberto Leonel, que chefiava a área de inteligência da Receita em Curitiba, onde trabalhava. Leonel é hoje presidente do Coaffoi levado ao governo de Jair Bolsonaro por Sergio Moro.

    A relação entre Leonel e a força-tarefa era tão próxima que eles pediram para o auditor informações sigilosas de contribuintes até mesmo para verificar hipóteses sem indícios mínimos. A Lava Jato, como o Intercept mostrou em parceria com o El País, já se movimentou contra seus inimigos declarados motivada apenas por boatos.

    O presidente do COAF, Roberto Leonel, na Cerimônia de transmissão de cargo do novo ministro da Justiça, o ex-juiz Sergio Moro, no Ministério da Justiça, em Brasília.

    Roberto Leonel chefiava a área de inteligência da Receita em Curitiba, onde trabalhava. Ele hoje é presidente do Coaf e foi levado ao governo de Bolsonaro por Moro.

    Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

    A OBSESSÃO LULA: ‘TIPO PESCADOR DE PESQUE E PAGUE RSRSRS’

    TRÊS DOS CASOS ENCONTRADOS nos diálogos envolvem a maior obsessão dos procuradores em todos os anos de conversas pelo Telegram, o nome mais citado entre todos: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em agosto de 2015, diante das notícias de que um sobrinho de Lula fizera negócios em Angola com ajuda do político e da Odebrecht, a primeira coisa que ocorreu ao procurador Roberson Pozzobon foi chamar Leonel. “Quero pedir via Leonel para não dar muito na cara, tipo pescador de pesque e pague rsrsrs”, disse numa mensagem a Dallagnol no grupo Chat FT MPF Curitiba 2.

    No ano seguinte, entre janeiro e março, a força-tarefa pediu a Leonel que levantasse informações sobre uma nora de Lula e sobre o caseiro do sítio de Atibaia, propriedade à época registrada em nome de Fernando Bittar e Jonas Leite, e que era frequentada pelo ex-presidente. O caso levou à sua segunda condenação.

    18 de janeiro de 2016 – grupo 3Plex

    Januário Paludo – 15:18:31 – estou pedindo para roberto leonel verificar se o aluguel é pago para a marlene araujo, cnpj SUPRIMIDO pelo restaurante SUPRIMIDO. Ja pedi todos os registros de imóveis do terminal 3 de guarulhos.
    Paludo – 15:18:37 – CNPJ SUPRIMIDO Nome fantasia: SUPRIMIDO Razão Social: SUPRIMIDO LTDA 06/11/2013 end: Rod Helio Smidt, S/N, Terminal de Passageiros 3; 1º piso, Aeroporto de Guarulhos
    Julio Noronha – 15:19:02 – 

     

    A investigação informal contra Lula e pessoas que o cercavam também incluiu o pedido, feito pelos procuradores, a informações sobre o patrimônio dos antigos donos do sítio, antes da propriedade ser comprada por Bittar e Leite. Na mesma época, os procuradores também solicitaram ao auditor informações sobre compras que a ex-primeira dama Marisa Letícia e os seguranças do casal teriam feito.

    Em 15 de fevereiro daquele 2016, Dallagnol sugeriu aos colegas no grupo 3Plex que pesquisassem as declarações anuais de imposto de renda do caseiro Elcio Pereira Vieira, conhecido como Maradona. “Vcs checaram o IR de Maradona? Não me surpreenderia se ele fosse funcionário fantasma de algum órgão público (comissionado)”, disse. “Pede pro Roberto Leonel dar uma olhada informal”.

    Uma semana depois, Moro autorizou a quebra do sigilo fiscal do caseiro. No processo que trata do sítio, no entanto, não há nenhuma informação do Fisco sobre ele, nem sinal de que a hipótese de Dallagnol tenha sido checada.

    15 de fevereiro de 2016 – grupo 3Plex

    Deltan Dallagnol – 15:53:20 – Vcs checaram o IR de Maradona? Não me surpreenderia se ele fosse funcionário fantasma de algum órgão público
    Dallagnol – 15:53:24 – (comissionado)
    Julio Noronha – 15:55:00 – Não olhamos… Vou colocar na lista de pendências
    Dallagnol – 15:56:32 – Pede pro Roberto Leonel dar uma olhada informal
    Noronha – 15:56:39 – Ok!

     

    Em 6 de setembro de 2016, o procurador Athayde Ribeiro Costa informou aos colegas no grupo 3Plex que pediu a Leonel para averiguar se os seguranças de Lula tinham adquirido uma geladeira e um fogão, dois anos antes, para equipar o triplex que a empreiteira OAS diz ter reformado para o petista no Guarujá. Costa enviou ao auditor sem autorização judicial, os nomes de oito seguranças que trabalhavam para o ex-presidente, além do nome de duas lojas. Não há confirmação, nos chats, se Leonel verificou as informações, mas no processo do triplex, que levou Lula à prisão, a OAS é indicada como responsável pela compra dos eletrodomésticos, e não os seguranças.

    6 de setembro de 2016 – Grupo 3Plex

    Athayde Ribeiro Costa – 20:18:43 – Pessoal, fiz esse pedido ao LEONEL em relacao ao fogao e geladeira
    Costa – 20:18:53 – Leonel, boa noite. Se possível, tentar ver dps se os seguranças do LULA adquiriram geladeira e fogao da marca BRASTEMP no ano de 2014 que foram parar no apartamento. Os fornecedores devem ter sido a SUPRIMIDO ou SUPRIMIDO. Será que conseguimos ver isso?
    Costa – 20:18:53 – O nome deles
    Costa – 20:18:53 – SUPRIMIDO, SUPRIMIDO, SUPRIMIDO, SUPRIMIDO, SUPRIMIDO, SUPRIMIDO, SUPRIMIDO e SUPRIMIDO.
    Jerusa Viecilli – 21:37:12 – 

     

    As mensagens não permitem saber se Leonel atendeu a todos os pedidos clandestinos dos procuradores, mas há ao menos um caso em que fica claro que o auditor repassou informações sobre pessoas que sequer eram investigadas em Curitiba.

    ‘POR FAVOR DELETE ESTE ASSUNTO POR ENQUANTO’

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    A corridinha de Loures, flagrado pela PF na noite de 24 de abril de 2017 carregando uma mala com 500 mil reais em dinheiro vivo.

    GIF: Reprodução/YouTube

    EM MAIO DE 2017, Leonel informou a Dallagnol, em um chat privado, que fizera uma representaçãocontra os pais do ex-deputado do PMDB Rodrigo Rocha Loures, e que preparava outra contra sua ex-mulher, que acabara de declarar uma conta milionária na Suíça.

    deputado da mala, aliado do então presidente Michel Temer, tinha sido afastado de seu mandato pelo STF poucos dias antes daquela conversa. Ele foi filmado pela Polícia Federal recebendo R$ 500 mil de um executivo da J&F. Na época, a Procuradoria-Geral da República acusou Temer de ser o destinatário final do dinheiro. A denúncia contra Temer foi suspensa pela Câmara dos Deputados.

    24 de maio de 2017 – Chat privado

    Roberto Leonel – 16:28:27 – Deltan Posso te falar daquele outro assunto de ontem Gersonme deu mais bronca
    Leonel – 16:29:26 – Fiz hj representação para srrf08 contra os pais do Rodrigo copiando Gerson normalmente Ele quis saber pq fiz etc e se tinha passado está inf a vcs
    Leonel – 16:30:11 – Disse q NUNCA passei pois não tem origem ilícita suspeita !!! Por favor delete este assunto por enquanto
    Deltan Dallagnol – 16:30:20 – Vc fez bem Por que ele quer saber se passou pra nós?
    Dallagnol – 16:30:31 – claro
    Leonel – 16:34:38 – Pior
    Leonel – 16:36:43 – Confidencial A ex cônjuge do dep fed Rodrigo entregou dirpf retificadora incluindo conta no banco pictet suica Não menciona na dirpf se fez ou não dercat. Mas aproveitou o embalo e inseriu saldo de 1 milhão em cc na suica aem lastro
    Dallagnol – 16:39:21 – ta brincando!!
    Leonel – 16:39:48 – Agora estou fazendo outra representação
    Leonel – 16:40:06 – Banco pictet Conhecido de vcs?
    Leonel – 16:40:37 – Esta Inv está na pgr ou descerá para vcs?
    Leonel – 16:40:54 – Acho q ficará lá mas sei lá como vou fazer
    Dallagnol – 16:44:14 – Com a PGR. Estou sugerindo eles fazerem checagens
    Dallagnol – 16:44:28 – Quem está com isso é a colega clara, do gt-pgr da lava jato
    Dallagnol – 16:44:34 – se quiser te coloco em contato com ela

     

    Loures não era investigado em Curitiba. Mesmo assim, Leonel procurou Dallagnol após ser questionado por seu superior sobre a representação. “Ele quis saber pq fiz etc e se tinha passado está inf a vcs”, disse Leonel, no dia 24 de maio. “Disse q NUNCA passei pois não tem origem ilícita suspeita !!! Por favor delete este assunto por enquanto”.

    Dallagnol quis saber de Leonel por que o chefe do auditor suspeitava que ele poderia ter repassado informações sobre os pais de Loures à força-tarefa. O auditor deixou a pergunta sem resposta, mas contou que iria protocolar nova representação. “Confidencial”, escreveu. “A ex cônjuge do dep fed Rodrigo entregou dirpfretificadora incluindo conta no banco pictet suica Não menciona na dirpf se fez ou não dercat. Mas aproveitou o embalo e inseriu saldo de 1 milhão em ccna suica aem lastro”.

    Segundo Leonel, a ex-mulher de Loures retificara sua declaração anual de Imposto de Renda para informar uma conta na Suíça com saldo de 1 milhão de doláres – no que parecia um movimento para aderir ao programa, lançado no ano anterior, para regularização de dinheiro mantido no exterior.

    O auditor perguntou a Dallagnol se ele tinha informações sobre o banco suíço Pictet. Já Leonel quis saber do procurador onde as investigações sobre Loures seriam conduzidas. Dallagnol respondeu que o caso estava com Brasília e prometeu pôr Leonel em contato com uma colega.

    SEM DEIXAR RASTROS

    ALGUMAS SEMANAS DEPOIS, o chefe da força-tarefa discutiu no Telegram com o auditor a possibilidade de ter acesso amplo à lista de contribuintes que haviam aderido ao programa de regularização de ativos, o mesmo que Leonel suspeitava ter sido usado pela ex-mulher de Rocha Loures. Essa lista é mantida sob sigilo pela Receita Federal.

    O Ministério Público Federal e os auditores fiscais criticaram o programa publicamente na época. Eles temiam que criminosos o usassem para legalizar dinheiro de origem ilícita. O programa não exigia, de fato, a comprovação da origem do dinheiro. A Receita pode analisar esses dados e comunicar indícios de crime a outros órgãos, o que tem ocorrido, mas normas internas do Fisco – para dar segurança a todos os contribuintes do país – restringem o acesso às informações.

    Dallagnol chegou a tratar do assunto em junho de 2017 com o então secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, e também com Gerson Schaan, o chefe de Leonel, numa reunião da qual participaram outros integrantes da força-tarefa. Dallagnol relatou o encontro ao auditor amigo, que não estava presente. “Bati de frente com ele, inclusive dizendo na frente de todos que ele tinha que ser o primeiro a defender as mudanças do sistema para que deixe de ser um canal de lavagem.”

    1 de junho de 2017 – Chat privado

    Roberto Leonel – 08:01:37 – Caro Deltan Bom dia Como foi a reunião com o rachidMesmo q curiosidade mate, mas não resisti em te perguntar
    Deltan Dallagnol – 12:39:24 – Foi boa, mas Gerson se colocou uma postura de defender a opacidade do programa com argumentos furados (“não existe sistema informatizado para extrair” e “se gafi aprovou é porque é bom contra lavagem de dinheiro”). Bati de frente com ele, inclusive dizendo na frente de todos que ele tinha que ser o primeiro a defender as mudanças do sistema para que deixe de ser um canal de lavagem. Fomos sensíveis à questão de o prazo estar aberto até julho e colocamos 3 demandas: cruzamento dos CPFs do programa com os da LJ; compartilhamento com o COAF; após julho, pedir comprovação da origem. Ficaram de “estudar”. Na pratica, creio que vão se mexer só quando se tornar público nosso procedimento que será instaurado a partir daquele da corregedoria do MF.
    Leonel – 13:49:07 – Q vergonha Desculpe Uma questão é plano de arrecadação trib pela regularização Outra é controle cruzamentos e sigilo absoluto dos dados
    Leonel – 13:50:41 – Acho q não vão fazer Ou se fizerem pouco abrirão ou pouco controlarão Vai ser briga entre Coger MF e gab de novo Vamos ver quem ganha
    Leonel – 14:12:52 – Só não peço para sair da chefia do EspeiPor que acho q ajudo muito mais brigando e enchendo o saco deste povo
    Dallagnol – 16:00:52 – Nem pense nisso!
    Dallagnol – 16:00:59 – Vc é essencial

     

    Dallagnol pediu à Receita o cruzamento dos dados dos contribuintes que aderiram ao programa com os de investigados pela Lava Jato, o compartilhamento das informações com o Coaf e a exigência de comprovação da origem dos recursos declarados. O procurador disse que a Receita ficou de estudar os pedidos. Em sua resposta, Leonel mostrou-se decepcionado. “Acho q não vão fazer Ou se fizerem pouco abrirão ou pouco controlarão”, escreveu.

    ‘Se eu pedir para consultar todos os nomes, Vc não tem como assegurar que o Paulo não vá ter acesso?’

    Um mês depois desse diálogo, os dois continuavam insatisfeitos com a falta de acesso às informações do programa, e Dallagnol consultou Leonel sobre a possibilidade de buscá-las nos computadores da Receita sem que a cúpula do órgão fosse alertada. “Se eu pedir para consultar todos os nomes, Vc não tem como assegurar que o Paulo não vá ter acesso?”, escreveu Dallagnol ao auditor. “Vc pode dizer que recebeu a demanda, e posso fazer expressamente, exigindo garantia de que não sairá do ESPEI. E negocia com o Paulo, não?”

    Leonel explicou a Dallagnol que tinha como saber a identidade dos contribuintes que haviam aderido ao programa, mas não os valores e outros detalhes. Mas alertou: era improvável que conseguisse consultar as informações sem deixar rastros. “Eh uma situação difícil q estou para te responder”, disse Leonel. “Não tenho como garantir q a copesnão vá ter acesso.” O auditor sugeriu que uma alternativa seria obter uma lista completa fora dos sistemas, mas não via como conseguir algo assim: “Só por um milagre eles me passarao a listagem”.

    8 de julho de 2017 – Chat privado

    Deltan Dallagnol – 11:01:19 – Roberto se eu pedir para consultar todos os nomes, Vc não tem como assegurar que o Paulo não vá ter acesso? Vc pode dizer que recebeu a demanda, e posso fazer expressamente, exigindo garantia de que não sairá do ESPEI. E negocia com o Paulo, não?
    Leonel – 13:51:32 – Eh uma situação difícil q estou para te responder. Ontem conversei com jerusa Não tenho como garantir q a copes não vá ter acesso. Somente se eu tivesse a listagem completa off-line do rercto, mas q dificilmente será disponibilizada off-line pois sem controle de acesso. Só por um milagre eles me passarao a listagem. A consulta individualizada q Paulo cirilo falou q disponibilizou para mim em um extrator da rfb, apenas é individualizada por cpf e CNPJ , além de apenas informar sim ou não aderente. Sem valor, sem data de darf , q em alguns casos será importante. Esta consulta individualizada manual um a um é monitorada pela Copes do Paulo Cirilo.

     

    Dallagnol decidiu então restringir seu pedido. As mensagens do dia seguinte dão a entender que ele queria acesso amplo às informações do programa de repatriação, mas, ao mesmo tempo, queria evitar que a Receita Federal soubesse quais eram os alvos da Lava Jato. “Acho que o melhor é pedir a consulta excluindo os mais sensíveis mesmo”, escreveu. Leonel respondeu em 10 de julho: “Envie ofício com eventual exclusão dos mais sensíveis e ainda sob sigilo e dai veremos como proceder.”

    A proximidade do auditor com as investigações da Lava Jato era frequentemente elogiada por Dallagnol e outros procuradores, mas foi motivo de críticas entre os funcionários da Receita. Eles o viam mais como um funcionário do Ministério Público do que do Fisco. “Leonel está com muitos problemas internos na Receita”, escreveu o procurador Paulo Roberto Galvão no grupo Filhos de Januario 1 em outubro de 2016. “Estranhamentos decorrentes da percepção de que ele trabalha para o MPF e não para a arrecadação.” O procurador Diogo Castor de Mattos ponderou: “eh um cara que nos ajuda mto”.

    UM HOMEM DA LAVA JATO NO COAF

    O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e o presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Roberto Leonel, participam da solenidade de entrega do Diploma de Mérito Coaf.

    Foi Moro quem levou Leonel ao Coaf. Hoje Leonel responde ao Ministério da Economia de Paulo Guedes, sujeito aos humores de Bolsonaro.

    Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

    NO ÚLTIMO MÊS DE JULHO, o presidente do Supremo, Dias Toffoli, suspendeu investigações baseadas em informações do Coaf. A mais polêmica delas tem como alvo o filho do presidente da República, o senador Flávio Bolsonaro, do PSL. Toffoli argumentou que o Coaf só pode compartilhar – sem autorização judicial – dados genéricos, sem detalhes sobre a movimentação financeira das pessoas, como a possível compra de uma geladeira, por exemplo.

    O Supremo ainda se movimentou mais um vez. No início deste mês, o ministro Alexandre de Moraes suspendeu investigações conduzidas pela Receita sobre 133 contribuintes, incluindo as mulheres dos ministros Gilmar Mendes e Toffoli. Moraes argumentou que os alvos da Receita foram selecionados sem motivo.

    Leonel criticou publicamente a decisão de Toffoli, o que levou Bolsonaro a pedir a sua cabeça no Coaf. O governo também decidiu transferir o órgão, que já foi ligado ao Ministério da Justiça e hoje está com o Ministério da Economia de Paulo Guedes, para o Banco Central.

    O Ministério Público tem o direito de solicitar informações à Receita durante investigações, mas é necessário que os pedidos sejam realizados de maneira formal e fundamentada – o que é bem diferente de uma mensagem privada enviada pelo Telegram. Em casos de pedidos muito abrangentes, não há como escapar de pedir autorização à Justiça. Auditores têm, claro, o dever de avisar ao Ministério Público quando encontram indícios de crimes ao fiscalizar contribuintes, mas existem limites para o compartilhamento dos dados, como Dias Toffoli e Alexandre de Moraes deixaram claro em suas decisões.

    Ao receber o convite de Moro para chefiar a Coaf, em novembro de 2018, Leonel consultou Dallagnol. “Meu Deus Falei com ele Tarefa difícil Mas temos de ajudar este país”, disse.. “Exato. Alguns convites são irrecusáveis”, respondeu o chefe da Lava Jato, que aproveitou para fazer lobby em prol da força-tarefa. “Povo vai lá e sai pra chefiar setores de compliance dos bancos. É evidente que assim eles jamais vão acusar os bancos de irregularidades. Vão levar na manha pra sair de bem com os bancos e serem chamados. É o que estamos constatando. Nós vamos pra cima dos bancos aqui na LJ e vamos precisar da sua ajuda”.

    Apesar de ter deixado a inteligência da Receita em Curitiba, Leonel seguiu próximo à força-tarefa. No fim de março deste ano, ele encaminhou uma mensagem ao procurador Júlio Noronha se dizendo triste e preocupado com a chance da área que comandava na casa ser desmontada frente a uma possível reestruturação da Receita depois de “contribuir fortemente, juntamente com o MP e Polícia, em investigações de lavagem de dinheiro, de corrupção, e contra org criminosas”. Em abril, fez questão de visitar pessoalmente a sede da força-tarefa na capital paranaense para apresentar um relatório feito pela inteligência do Coaf especialmente para os procuradores. O destino de Leonel, fiel aliado de Moro, está agora nas mãos de Paulo Guedes, e ao sabor dos humores de Bolsonaro.


    PROCURADAS PELO INTERCEPT E PELA FOLHA,
     a força-tarefa em Curitiba e a Receita Federal afirmaram que a troca de informações ocorre dentro de limites legais. Ainda assim, tanto a Lava Jato quanto a Receita não falaram nada sobre o caráter informal que marca os diversos pedidos de informação feitos pela força-tarefa ao Fisco revelados pelos diálogos.

    “É perfeitamente legal – comum e salutar no combate ao crime organizado – o intercâmbio de informações entre o Ministério Público Federal e a Receita no exercício das funções públicas de apuração de fatos ilícitos de atribuição dos órgãos”, afirmou em nota a força-tarefa ao ressaltar que a troca de informações é incentivada pela Lei das Organizações Criminosas e pela Lei Orgânica do Ministério Público da União. O Manual do Sigilo Fiscal da Receita, no entanto, diz que o órgão deve fornecer informações sigilosas aos procuradores sempre que houver requisição feita diretamente, mas deixa claro também que o acesso amplo e indiscriminado a seus bancos de dados não é permitido.

    Sobre a discussão com a Receita para acessar informações do programa de regularização de ativos no exterior em 2017, a força-tarefa explicou que buscou proteger a identidade dos alvos da Lava Jato para garantir o sigilo de investigações em andamento. A Receita Federal, por sua vez, afirmou que o MPF “tem o poder de requisitar informações protegidas por sigilo fiscal”, e que a cooperação de seu escritório de inteligência em Curitiba respeita regras previstas no Código Tributário Nacional, que exige procedimentos formais para troca de informações. “Todos os servidores da Receita Federal estão sujeitos ao sigilo fiscal e respondem administrativa, cível e criminalmente em caso de vazamento doloso”, acrescentou.

    Informado sobre o teor das conversas envolvendo o atual chefe da instituição, o Coaf não se manifestou. Roberto Leonel também preferiu ficar em silêncio

  • OS IMPACTOS DA VAZA-JATO NA LAVA-JATO

    OS IMPACTOS DA VAZA-JATO NA LAVA-JATO

    ARTIGO

    Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia

    Acredito que poucos aqui duvidam que os vazamentos dos chats privados da Operação Lava Jato, iniciados em 9 de junho pelo site Intercept Brasil, são um dos fatos mais relevantes na crônica política brasileira contemporânea.

    Lá se vão mais de dois meses. Muita coisa aconteceu. Nas crises, o tempo passa mais rápido.

    Se é verdade que os vazamentos ainda não foram capazes de promover uma reviravolta completa no jogo político, é impossível negar que modificaram o cenário. Meu objetivo neste texto é examinar os impactos dos vazamentos no comportamento dos operadores da Lava-Jato.

    A Lava-Jato nasceu em 2014, mas seus métodos de trabalho remetem a 2005, à ação Penal 470, à crise do “Mensalão”: contatos pouco republicanos entre o poder Judiciário e a imprensa, espetacularização do processo legal, midiatização de juízes e procuradores, seletividade na acusação e o uso da “teoria do domínio do fato” nos julgamentos.

    A Lava-Jato nasceu como resultado da ação política de grupos que decidiram usar a tática do lawfare para desestabilizar os governos comandados pelo Partido dos Trabalhadores. Com isso, não estou querendo dizer que os governos petistas sejam completamente inocentes, que não tenham cometido crimes, ou que não tenham sido lenientes com práticas de corrupção há muito utilizadas no Brasil.

    Somente o petista mais ingênuo seria capaz de negar o óbvio. Por outro lado, apenas o antipetista mais virulento não reconhece os atropelos dos operadores da Lava-Jato no processo legal.

    Em um primeiro momento, a Operação Lava-Jato era um braço da oposição aos governos petistas, na época liderada pelo PSDB. De acordo com os vazamentos, em 2016 Sérgio Moro, o chefe da Lava-Jato, orientou Deltan Dallagnol a não investigar Fernando Henrique Cardoso, para não “melindrar alguém cujo apoio é importante”. Os vínculos familiares e políticos de Sérgio Moro com o PSDB já foram demonstrados por pesquisas e pela atuação do ex-juiz no escândalo do Banestado.

    A Lava-Jato se tornou sucesso de público e critica e o galho passou a ser mais pesado do que o tronco.

    Sérgio Moro com foto estampada nos principais jornais e revistas. Os procuradores de Curitiba sob os holofotes, requisitados para entrevistas e palestras. Prometeu e se desacorrentou no primeiro semestre de 2017, quando a Lava-Jato começou a querer caminhar com as próprias pernas.

    Em maio de 2017, também segundo os vazamentos do Intercept, Deltan Dallagnol começou a conduzir uma investigação clandestina cujo objetivo era rastrear possíveis elos entre Gilmar Mendes e Paulo Preto.

    Paulo Preto era tesoureiro das maracutaias do PSDB. Durante anos, Gilmar Mendes defendeu os interesses tucanos na corte do STF. Ao mirar Gilmar Mendes e Paulo Preto, a Lava-Jato sinalizava que desejava se libertar da tutela do PSDB.

    No primeiro semestre de 2018, Deltan Dallagnol, ultrapassando os limites legais da atuação de um procurador da República, apresentou ao Congresso Nacional um “pacote anticorrupção” que jamais seria assinado por um parlamentar do PSDB. Beto Richa, ex-governador do Paraná, foi preso em janeiro de 2019. Pela primeira vez, a Lava-Jato batia na porta de um cacique tucano.

    Por que ser um puxadinho do PSDB quando era possível agir por contra própria? Por que ficar nas sombras de um partido decadente que saiu despedaçado das eleições de 2018?

    Assim, acompanhado de grande ambição, Sérgio Moro chegou ao Ministério da Justiça como o fiador do governo de Jair Bolsonaro, que começava sob a desconfiança de todos. Moro era o “superministro”, o subordinado que nenhum chefe deseja ter: aquele que não pode ser demitido.

    Em janeiro de 2019, sem dúvida alguma, Moro era maior que Bolsonaro. A Vaza-Jato alterou essa hierarquia. A cada vazamento, Moro fica mais acuado, constrangido, pressionando, passando a depender do apoio do presidente da República.

    Hoje, é Bolsonaro quem sustenta Sérgio Moro. A Vaza-Jato enfraqueceu aquele que até bem pouco tempo atrás era o principal adversário de Bolsonaro na disputa pela hegemonia no campo da direita. Sobrou João Dória.

    A situação de Dallagnol é tão difícil quanto a de Sérgio Moro. Os vazamentos já mostraram Dallagnol lucrando com palestras e ofendendo autoridades da República. Gilmer Mendes foi chamado de brocha e Raquel Dodge de barraqueira.

    A Lava-Jato nunca esteve tão fragilizada. Em pesquisa realizada pelo IPSOS em agosto de 2018, nas vésperas das eleições, 63% dos entrevistados acreditavam que a Java-Jato estava ajudando o Brasil a se tornar um país sério, enquanto 26% se manifestaram contrários à operação. Os números variaram sensivelmente em pesquisa mais recente, encomendada pela XP Investimentos no início de julho de 2019, quando os primeiros efeitos dos vazamentos começavam a ser sentidos. O apoio incondicional à Lava-Jato caiu para 43%, enquanto a rejeição subiu para 31%.

    Também em julho deste ano, o Datafolha fez uma pesquisa sobre o prestígio da Lava-Jato na opinião pública. Cinquenta e oito por cento da população reprovam a conduta de Sérgio Moro, apesar de o apoio à força-tarefa ainda continuar relativamente alto, na casa dos 61%.

    Apoiado nestes dados e com alguma dose de observação empírica, creio não ser exagerado dizer que a imagem da Lava-Jato está, no mínimo, arranhada.

    Moro e Dallagnol são os mais prejudicados. Por enquanto, o prejuízo é menor do que desejam os adversários da Lava-Jato, mas tá longe de ser irrelevante.

    Acuada, a Lava-Jato está contra-atacando, dobrando a aposta e se deslocando ainda mais para a direita do espectro ideológico. Em 7 de agosto, tentou transferir Lula para um presídio comum, no interior do Estado de São Paulo. Na voz de Rodrigo Maia, o Congresso Nacional se manifestou em favor de Lula. De forma quase unânime, o STF derrubou a transferência.

    A Lava-Jato sabia que a transferência não aconteceria. Um ex-presidente da República, conhecedor de segredos de Estado, em presídio comum seria de uma temeridade inédita no mundo ocidental. Até mesmo o Brasil do bolsonarismo teria dificuldade em chegar tão longe.

    O objetivo da ação foi transformar Lula no protegido da “velha política” e excitar a base social fascista contra as instituições estabelecidas. Hoje, a sobrevivência da Lava-Jato depende do apoio e da capacidade de mobilização da base social orgânica do bolsonarismo.

    Juristas com algum prestígio acadêmico, a maior parte da imprensa e da opinião pública internacional criticaram a decisão. Depois dos vazamentos, a Lava-Jato coleciona críticos. Sobrou apenas a base social fascista.

    A Lava-Jato foi obrigada pelas circunstâncias a guinar ao fascismo. Foram implodidas as fronteiras que separavam o bolsonarismo do lava-jatismo.

    Lutando pela sobrevivência, os bons moços de Curitiba, barbeados, limpinhos, evangélicos, quase virgens, irão cada vez mais se emporcalhar no esgoto do bolsonarismo raiz.