Jornalistas Livres

Categoria: História

  • Juventude hitlerbolsonarista? Governo quer formar milícias armadas em escolas militarizadas

    Juventude hitlerbolsonarista? Governo quer formar milícias armadas em escolas militarizadas

    Por: Roberto Ponciano

    Walter Benjamin, um judeu alemão, que se suicidou para escapar à perseguição do nazismo, quando fugia, na fronteira entre França e Espanha, foi um heterodoxo crítico literário/filosófico marxista, que previu o desastre nazista. Prever o desastre, não é, de maneira derrotista, sucumbir preventivamente a ele. Ao anunciar a falência da ideia de progresso e a esterilidade das oposições democráticas de esquerda ao nazismo na Alemanha, Walter virou o profeta do imenso genocídio que viria a se configurar diante dos olhos de quem não acreditava que o país mais culto e letrado de Europa fosse capaz de gestar o mal absoluto: o nazifascismo.

    Venho falando de fascismo no Brasil desde 2013. Eu alertei que a Lava-Jato, o macarthismo brasileiro, era um movimento de fundo fascista, que queria judicializar a política no Brasil, criminalizando toda a esquerda. O bolsonarismo é um passo além. O movimento tem tendências paranoicas e psicopatas que vão um grau acima, chegam ao nazismo. Entre o nazismo e o fascismo, irmãos siameses, há uma questão de gradação. Mussolini (admirado e, no princípio, copiado por Hitler) era o líder do Partido Nacional Fascista italiano e um genocida, mas não criou pogrons (perseguições específicas contra uma etnia) e nem campos de concentração. O festim diabólico apelidado de reunião ministerial, que mas parecia o set de filmagem de Saló de Pasolini, revelou ao Brasil, abertamente, o pensamento, mais do que fascista, nazista de Bolsonaro, Weintraub e Damares.

    Estes intentos nazistas são corroborados pelas falas golpistas e tirânicas do General Heleno, que conseguiu açular alguns militares de reserva. O perigo do nazismo em Bolsonaro é que, ao contrário da ditadura militar de 1964, ele não tem nenhum projeto de país. Braga Neto na reunião parecia alguém que quisesse ensinar balé aos símios. Um governo que perde rapidamente sua base de apoio e que aposta cada vez e mais na radicalização, apelando para um exército de fanatizados, que, no entanto, por todas as pesquisas, deve atingir entre 20% e 30% do eleitorado brasileiro, o suficiente para gerar o caos, o confronto, um conflito civil e dar as desculpas para rasgar as últimas garantias constitucionais.

    Não, eu não mudei de posição. Quem alerta para o desastre não diz que o desastre é inevitável. Pessimismo em análise não é derrotismo. “Pessimismo na análise, otimismo na ação”, diria Gramsci. Reitero: alerto para o avanço do fascismo desde 2013. E desde 2016 mostro elementos nazistas nas falas de bolsonaro. O ódio às mulheres (misoginia, pulsões anais sadomasoquistas reprimidas são características da histeria em massa nazifascista), homofobia, racismo, desejo de exterminar o inimigo imaginário, Bolsonaro nunca escondeu isto em seus discursos. Assustador e revelador foi vê-lo falar de seus intentos abertamente em uma reunião ministerial.

    Passos para montar um exército de milicianos nazistas, Bolsonaro e seus filhos metralha já tem dado de maneira aberta. O motim nazifascista no Ceará teve a participação aberta do bolsonarismo. Durante a ditadura militar, militares de baixa patente, praças e paramilitares eram apenas uma linha auxiliar do regime. Não acertamos a conta com nosso passado. A anistia perdoou os criminosos e, sadicamente, perdoou as vítimas. Igualou quem matou e quem morreu. Anistiou criminosos igualando suas vítimas aos torturadores. Os esquadrões da morte, as milícias, todas as organizações paramilitares são herança da ditadura.

    Todavia, a história não se repete. A primeira vez ela acontece como tragédia, a segunda vez, como farsa. Se na ditadura militar, o imenso contingente de oficiais de reserva, praças e baixas patentes, tanto das forças armadas, quanto das PMs, era uma linha auxiliar controlada facilmente pelo regime, com Bolsonaro (que no máximo teria atuado em 64 como algum torturador do delegado Fleury), esses homens tornam-se constituintes de um poder que se organiza de maneira subversiva e paralela, e chantageia e pressiona todo o tempo o Estado Democrático de Direito.

    A finalização de um golpe, com a tirania pessoal de Bolsonaro não é o único perigo para a democracia. Já vi várias análises dizendo que este golpe é inevitável (não concordo com este fatalismo, embora também alerte para o perigo golpista). Com certeza Bolsonaro tem esta aspiração e força os limites de nossa pálida democracia toda semana. Mas, como ele mesmo diz, se vê limitado pelos, cada vez em menor número, alucinados com seus cartazes pró AI5 que consegue reunir na frente do Palácio do Planalto. Basta ver as imagens aéreas em comparação com, por exemplo, as manifestações contra a PEC 95.

    Imagem distribuída pelo próprio Bolsonaro da manifestação a seu favor em 24 de maio de 2020
    Protesto contra a PEC do Teto dos Gastos em 29/11/2016. Foto: www.mediaquatro.com . Ver mais em https://jornalistaslivres.org/cronica-de-um-dia-tragico-em-brasilia/

    Enquanto não consegue finalizar seu intento de uma tirania pessoal, vai financiando e armando suas milícias pessoais. Já conseguiu emplacar até o advogado do escritório do crime como assessor no ministério da saúde. Não temos ideia de quantos mais milicianos estão nomeados em cargos de terceiro, quarto ou quinto escalão pelo país. O nazista disse abertamente na reunião ministerial que quer armar o povo (suas milícias) para derrotar o “inimigo”. Quem for considerado inimigo, ele já declarou diversas vezes, deve ser expulso do país ou sofrer as consequências. E quem pensa que é delírio, é bom lembrar que Bolsonaro aumentou o limite de compra de projeteis de 200 munições por pessoa/ano para 500 por mês (6.000 por ano), o que dá para montar pequenos exércitos milicianos. Junte-se a isto a medida que afrouxa a marcação controle de munições por parte do exército e para a qual chegou a exonerar um general e colocá-lo na reserva. Todos estes movimentos aconteceram sob nosso olhar complacente, sem nenhuma reação nossa.

    O perigo das milícias nazistas é maior que o do golpe. O Brasil se transformar na Colômbia, onde bandos paramilitares agem livremente assassinando opositores à luz do dia. Já temos isto feito de forma aberta no campo brasileiro. Já houve uma experiência de terror controlado, executada pelo mesmo escritório do crime ligado ao bolsonarismo, no caso Marielle. Devemos tomar as medidas democráticas legais para que o crescimento e o poder armamentício das milícias não avance mais do que avançou. Lembrando que o Rio de Janeiro, território onde o bolsonarismo foi criado, já tem bairros inteiros dominados por ela, às claras, e com a total omissão do poder público. E a maior apreensão de armas de guerra de última geração no estado, 117 fuzis modelo M-16 vindos dos EUA, foi feita na casa de um amigo/sócio do vizinho de Bolsonaro, o miliciano Ronnie Lessa, acusado de ser o assassino de Marielle.

    O passo mais descarado e ostensivo para isto foi dado por Paulo Guedes. Espanta-me que a esquerda tenha protestado apenas contra o “trabalho escravo”, quando Guedes tem a coragem de anunciar que quer treinar jovens nos quartéis e depois usá-los para cavar buracos, pagando 200 reais por mês.

    O menos ruim aí é o trabalho escravo. Creio que a maioria das pessoas nem se deu conta de que Guedes sugeriu criarmos a guarda nazista, a juventude hitlerista bolsonarista, com dinheiro público. O problema é que a esquerda introjetou o absurdo. Alguns estados governados pela esquerda aceitaram a excrecência que são as escolas cívico-militares, colégios de “pedagogia” militar em plena democracia. Algo não previsto em lugar nenhum da nossa constituição, mas que diante da falta de verbas, quando condicionadas a elas, foram aceitas avidamente de norte a sul. Mas, muito pior do que isto é a proposta de milícias estatatais bolsonaristas feita por Guedes.

    O governo financiaria jovens que iriam para os quartéis serem doutrinados com “OSPB” e, depois, por 200 reais por mês, estariam disponíveis para “ações governamentais”. A disciplina Organização Social e Política do Brasil, nem matéria escolar é mais. Tenho 49 anos, portanto, sou da geração que teve OSPB e Educação Moral e Cívica na escola. Cada estabelecimento de ensino dava, nessas matérias, aquilo que desejava. Além de ensinar o hino nacional e o que representava cada estrela da bandeira, podiam incluir a estrutura do estado e até história. Obviamente que, usando-se as forças armadas para amestrar jovens, através de OSPB, não vai se ensinar hoje a eles “direitos humanos”. Jovens pobres (nenhum jovem de classe média vai se alistar para ganhar 200 reais por mês) que serão doutrinados e estarão ao dispor do Bolsonarismo, para qualquer ação por uma ninharia, e tudo pago com dinheiro público.

    Óbvio que temos que evitar isto! E uma das formas é denunciar que a maior tragédia é que de maneira clara e aberta o bolsonarismo tenha coragem de propor a criação de uma milícia paga com dinheiro público, sem acobertamentos, sem subterfúgios.

    O anjo da história, tese IX de Benjamin, olha para o passado, para a sucessão de tragédias e catástrofes, para o sofrimento dos humilhados e derrotados, mas é impelido por um vento irresistível para o futuro. É impossível parar a roda da história. Mas é possível SIM evitar as catástrofes, as tragédias, antes que elas aconteçam. O bolsonarismo já desdenha ocultar que declarou uma guerra de morte à frágil democracia brasileira. Temos que estar alertas e desarmar seus planos, destruir sua tentativa de criação de um gigantesco exército paramilitar. Ou paramos esta construção, o autômato do mal absoluto e estrutural, ou ele ficará maior que Bolsonaro. Um exército de paramilitares, milicianos, armados até os dentes, de jovens alistados e mal pagos para cumprir tarefas de uma seita nazista, lutando contra um inimigo imaginário, é uma séria ameaça à democracia, que está sendo arquitetada, tijolo por tijolo, frente a nossos olhos complacentes.

     

    Roberto Ponciano é escritor, mestre em Filosofia e Letras, especialista em Economia.

  • O Brasil nas rédeas da Globo

    O Brasil nas rédeas da Globo

    Em 02 de abril de 1964, “O Globo” exaltou o Golpe dizendo que o Brasil estava salvo da “comunização”, para ela a quartelada era o ressurgimento da democracia e o país estaria por viver “dias gloriosos”. Nada mais ridículo. No dia 07 apoiou o primeiro Ato Institucional que autorizou a cassação de mandatos, a suspensão de direitos políticos por até 10 anos e o afastamento de servidores públicos. Logo depois, as eleições diretas foram canceladas e o mandato do primeiro ditador, Castelo Branco, prorrogado.

    Por Silmara Conchão* e Eduardo Magalhães Rodrigues**, especial para os Jornalistas Livres

    Era isso que “O Globo” chamava de “revolução democrática”? O entusiasmado apoio não foi em vão. Em 1965 era inaugurada a TV Globo a partir de acordo com o Grupo Time-Life dos Estados Unidos, o que era proibido por lei. Com isso, a Globo acessou milhões de dólares, o que lhe garantiu a montagem da estrutura necessária. Apesar da relação ter sido questionada judicialmente, o general Costa e Silva legalizou o trato em 1968. Muito satisfeito, Médici, o terceiro ditador, declarou em 1972: “Sinto-me feliz todas as noites quando assisto TV porque no noticiário da Globo o mundo está um caos, mas o Brasil está em paz…É como tomar um calmante após um dia de trabalho…”. Diferentemente da bajulação à ditadura, a Globo nunca foi simpática a movimentos sociais, populares e sindicais. Em 1984, Roberto Marinho afirmou “participamos da Revolução de 1964 identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social…”. Hostilidade confirmada por Boni, ex-manda-chuva da emissora durante décadas, que confessou a manipulação do debate presidencial entre Collor e Lula para beneficiar o primeiro. Apesar de ser uma tradicional bandeira do PT, nenhum Presidente da República, até o momento, conseguiu colocar em prática o controle social da mídia para se garantir pluralidade e diversidade de ideias. O comportamento do Grupo Globo nunca foi julgado, sua hegemonia nunca foi questionada, salvo exceções, como as protagonizadas por Brizola que prometia, no primeiro dia, na primeira canetada, se eleito presidente, começar a acabar com o monopólio Global. Possivelmente por isso nunca ganhou…

    Embora tenha assumido em 2013 que foi um equívoco histórico ter apoiado 1964, a Globo não se propôs rever as vantagens recebidas. Esquecem que é concessionária de um serviço público, o espectro eletromagnético pertence ao povo e não a uma família…Família esta cuja fortuna supera os 40 bilhões de reais. Vale lembrar, que os três filhos do Roberto Marinho, mais cinco ricaços brasileiros, possuem a mesma renda que metade da população. Para o restante do país continuam defendendo a política de restrição de gastos públicos, mas entre 2000 e 2016, receberam mais de 10 bilhões e 200 milhões de reais em publicidade do governo federal, isso sim é que é Estado Máximo.

    O seu mais novo love affair é o santo lavajatista Moro que se esforçam para transformar no incorruptível-salvador-da-pátria. Se tudo der certo para ela, o candidato em 2022. Como sempre, a ganância Global é tendenciosa e partidária, destroem figuras políticas de esquerda ao mesmo tempo em que tentaram, na campanha de 2018, decolar o candidato neoliberal, no caso, o picolé de chuchu. Não tiveram sucesso com o psdbista. Esse cenário político dos últimos anos deve causar um curto-circuito no “cérebro” dos bolsominions. Não sabem se continuam amando a Globo ou o “Mito”. Dúvida cruel que se agravou com o rompimento de Moro. E nem ajuda aos universitários podem pedir, pois consideram todos comunistas balburdianos… De acordo com Paulo Henrique Amorim, a Globo não ganha mais dinheiro produzindo conteúdos e vendendo publicidade, seu maior ganho é com juros e aplicações financeiras. Ainda segundo o jornalista, a Globo está sendo googada e youtubada, perdendo a batalha para a tecnologia… Soma-se a esse desafio econômico um outro que talvez esteja incomodando os filhos de Roberto Marinho: se o “Mito” conseguir dar o autogolpe, instalando uma ditadura militar, o que eles fariam? Enfrentariam ou conciliariam? A Globo, depois de já haver pedido desculpas por seu apoio à ditadura militar, voltaria a apoiar uma outra?

     

    *Silmara Conchão – Socióloga, feminista e professora universitária da Faculdade de Medicina do ABC. Mestra em Sociologia e Doutora em Ciências da Saúde.

    **Eduardo Magalhães Rodrigues – Sociólogo e pesquisador da Universidade Federal do ABC. Mestre em Relações Internacionais e Doutor em Planejamento e Gestão do Território.

    Veja mais: Vidas ou lucro? Modelo capitalista neoliberal entra em xeque com pandemia do Novo Coronavírus

  • Editorial – O “adulto na sala” ou ensaio para uma nova ditadura?

    Editorial – O “adulto na sala” ou ensaio para uma nova ditadura?

    O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, publicou na edição de ontem do jornal O Estado de S. Paulo um artigo de opinião intitulado Limites e Responsabilidades. No texto, o vice-presidente, que diversos setores da sociedade tentam vender como o “adulto na sala” e a opção “moderada” contra o governo de destruição nacional de Jair Bolsonaro, demonstra claramente não entender NADA sobre limites e responsabilidades. Ele ultrapassa todos os limites do cargo ao ameaçar, novamente, a imprensa, o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional, os governadores dos estados que não estão alinhados incondicionalmente ao genocida que ocupa a presidência e até mesmo o direito de expressão individual de ex-presidentes da República. Portanto, Mourão não atenta à responsabilidade do cargo que possui atualmente e mata qualquer esperança de que numa eventual presidência pós-impeachment assumirá qualquer responsabilidade sobre os atos de Bolsonaro, a quem ajudou a eleger, sobre o apoio que segue dando ao genocida, ou mesmo sobre o papel fundamental de um governante que é unir a nação para resolver os problemas do povo.

    Ele ataca, mais uma vez, o jornalismo de modo geral ao dizer que “A imprensa, a grande instituição da opinião, precisa rever seus procedimentos nesta calamidade que vivemos. Opiniões distintas, contrárias e favoráveis ao governo, tanto sobre o isolamento como a retomada da economia, enfim, sobre o enfrentamento da crise, devem ter o mesmo espaço nos principais veículos de comunicação. Sem isso teremos descrédito e reação, deteriorando-se o ambiente de convivência e tolerância que deve vigorar numa democracia.” 

    Não, general, opiniões distintas NÃO devem ter o mesmo espaço quando se lida com vidas. Os jornalistas temos a responsabilidade de separar o que é fato, o que é opinião baseada em fatos e na ciência e o que é “achismo” ou declarações oportunistas de canalhas que querem se beneficiar do caos institucional sem se preocupar com as montanhas de cidadãos mortos. Se há intolerância na sociedade hoje, mais do que da imprensa a responsabilidade é de quem diz que os esquerdistas devem ser fuzilados e que torturadores assassinos são heróis, como fez o seu chefe e o senhor.

    As únicas frases corretas do texto estão no primeiro parágrafo: “Nenhum país do mundo vem causando tanto mal a si mesmo como o Brasil. Um estrago institucional, que agora atingiu as raias da insensatez, está levando o País ao caos”. No entanto, Mourão exclui do rol de limites e responsabilidades TODAS as ações do governo federal e joga sobre outros ombros a culpa pelo caos que vivemos, com perto de mil mortes diárias pela Covid-19 em números oficiais. Aliás, assim como seu ainda chefe, o general não fez qualquer referência no artigo ao sofrimento de milhares de famílias que perderam seus entes queridos, no dia em que o país somou oficialmente mais de 14 mil mortes. O tópico não faz parte dos quatro elencados por Mourão, mas e daí, né? Contudo, também a exemplo do chefe, o militar aproveitou o cargo no governo para dar o filé mignon ao filho, que foi promovido duas vezes no Banco do Brasil para ganhar mais de 36 mil reais.

    O estrago institucional em que estamos é consequência direta do golpe parlamentar/judiciário/midiático que tirou ilegalmente a presidenta Dilma Roussef do cargo. Quando um juiz de primeira instância grava e divulga ilegalmente uma conversa da presidenta e não é exonerado, há um enorme estrago institucional. Quando um ministro do STF impede que a presidenta escolha livremente um ministro da Casa Civil para se articular politicamente e impedir o impeachment, o golpe na institucionalidade é ainda maior. Quando um deputado federal vota pelo impeachment homenageando no Congresso um assassino e torturador e não sai de lá preso, a institucionalidade está ferida de morte. Quando um ex-presidente é condenado sem provas por “atos indeterminados” impedindo sua candidatura, rasgando até decisões em contrário da ONU e o ex-juiz responsável por isso vira ministro da justiça do candidato que beneficiou ilegalmente, é o fim da institucionalidade. Tudo o que temos hoje é fachada, é verniz, é disputa do butim. E os Jornalistas Livres avisaram disso em 2016.

    Mas, como disse o vice escolhido por ter feito em 2017 defesa enfática da ditadura de 1964 a 1985 e de uma intervenção militar, ainda “Há tempo para reverter o desastre. Basta que se respeitem os limites e as responsabilidades das autoridades constituídas” . Neste momento é passada a hora das autoridades constituídas assumirem suas responsabilidades dentro de seus limites. O Tribunal Superior Eleitoral, por exemplo, deve julgar urgentemente as eleições de 2018 e cassar a chapa eleita (Bolsonaro E Mourão) por caixa-dois e uso massivo de fake news como fartamente provado pela imprensa. O Supremo Tribunal Federal deve urgentemente votar a suspeição de Sergio Moro como juiz nos casos envolvendo Lula e anular a condenação do ex-presidente, como é consenso no mundo jurídico sério. O presidente do Congresso, Rodrigo Maia, deve escolher o quanto antes um dos mais de 30 pedidos de impeachment contra Bolsonaro e colocar em votação, já que não faltam crimes de responsabilidade provados. E mais, votar também a proposta de lei que exige novas eleições em 90 dias no caso de impeachment. Afinal, o país só poderá retornar à normalidade democrática quando de fato houver eleições limpas, com debates sobre projetos de governo e a presença de todos os principais candidatos dos partidos.

     

    Foto: www.mediaquatro.com
  • Nazistas do governo não se emendam

    Nazistas do governo não se emendam

    Não se pode alegar que ninguém avisou. A expressão Brasil Acima de Tudo, usada em campanha e até hoje por membros do governo fascista que ocupa Brasília, foi claramente inspirada no primeiro verso de uma canção nacionalista alemã (Das Lied der Deutschen): Deutschland über alles, ou, Alemanha Acima de Tudo. A queda do Secretário de Cultura, Roberto Alvim, que plagiou o discurso do ministro da propaganda de Hitler, Joseph Goebbels (descoberta primeiro pelos Jornalistas Livres), não deveria deixar de pé qualquer dúvida remanescentes.

    O fato é que esse governo não tem mesmo vergonha de se mostrar nazista e a Secretaria de Comunicação, do secretário Fábio Wajngarden que tem a própria empresa como cliente do governo, resolveu novamente, mais uma vez, abusar de frases tiradas do regime hitlerista. Desta vez, foi a infame ironia do letreiro acima dos portões do campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia sob ocupação: Arbeit Macht Frei, ou O Trabalho Liberta.

     

    Como era de se esperar, o secretário negou a intenção de invocar o nazismo na mensagem do governo, até pelo motivo dele próprio ser judeu. Mas o espírito fascista está tão entranhado neles, que isso não significa coisa alguma. Tanto é assim, que a Confederação Israelita do Brasil, como era de se esperar, repudiou o uso da expressão:

    Conib repudia o uso, pela Secretaria de Comunicação do governo federal, da mensagem “o trabalho liberta”

    A Conib divulgou nota em repúdio ao uso, pela Secretaria de Comunicação do governo federal, da mensagem “o trabalho liberta” – a conhecida frase na entrada do campo de extermínio de Auschwitz.

    “É conhecidíssima a relação desse mote com a mais infame instituição do Holocausto, o campo de extermínio de Auschwitz. Ali, no seu portão de entrada, uma placa com esses dizeres transmitia a mentira de que aquele era um local de trabalho e de possível liberdade – quando se tratava da principal fábrica de mortos do nazismo.

    É lamentável ver, mais uma vez, questões caras ao judaísmo e à humanidade em geral serem banalizadas e emuladas, ofendendo a memória das vítimas e dos sobreviventes, em um momento já tão difícil do nosso país e do mundo”, disse, na nota, o presidente da Conib, Fernando Lottenberg.

    Veja matéria original em: https://www.conib.org.br/conib-repudia-o-uso-pela-secretaria-de-comunicacao-do-governo-federal-da-mensagem-o-trabalho-liberta/

  • Documentos sigilosos do SNI apontam crimes do senador Jayme Campos e família

    Documentos sigilosos do SNI apontam crimes do senador Jayme Campos e família

    Por: Lázaro Thor Borges, especial para o Congresso em Foco

    Corrupção, fraude eleitoral e assassinato: estas são algumas das acusações feitas, durante o regime militar, contra o atual presidente da Comissão de Ética do Senado, Jayme Campos (DEM-MT). Os relatos das investigações estão em documentos arquivados pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão de espionagem dos militares. Nestes arquivos, Jayme e seu irmão, Júlio Campos (DEM-MT), que é candidato ao Senado na eleição suplementar decorrente da cassação do mandato da ex-senadora Selma Arruda (Podemos-MT), são apontados por investigadores do SNI como autores de diferentes crimes.

    Apesar dos relatórios produzidos, das cartas, dos dossiês e outros documentos, Jayme e sua família nunca foram formalmente acusados. Os Campos são o clã político mais poderoso de Mato Grosso e grande parte deste poder foi conquistado nos 1980, quando dominavam o PDS, principal herdeiro da Arena, legenda de apoio à ditadura.

    Uma das denúncias aparece em um dossiê elaborado pelo SNI em 25 de maio de 1984, que aponta o enriquecimento da família Campos às custas de dinheiro público. Caçula do clã, Jayme Campos estava no primeiro ano de mandato como prefeito de Várzea Grande, cidade contígua a Cuiabá e berço político da família.

    No comando do governo de Mato Grosso estava o irmão de Jayme, Júlio Campos (DEM-MT). O documento, que foi classificado como “confidencial” na época, estava depositado no Arquivo Nacional, onde permanece até hoje. Segundo o relatório, a família Campos participava direta e indiretamente do quadro societário de pelo menos oito empresas que venceram licitações no governo do estado e que, já no primeiro ano das gestões de Júlio e Jayme, elevaram seu capital social.

    A família Campos controlava, segundo o SNI, as empresas Empreendimentos Santa Laura S.A., Rádio Industrial de Várzea Grande S.A., Aquário Engenharia e Comércio S.A., Eletroeste Comércio de Produtos Elétricos S.A., JHG Recuperadora de Transformadores Ltda., Terramat Terraplanagem Matogrossense Ltda., Asteca Mineração Ltda.  e Rádio e Televisão Brasil Oeste.

    Jayme era sócio direto de pelo menos duas dessas empresas: Terramat e Empreendimentos Santa Laura. A Terramat foi a segunda construtora que mais ganhou contratos com o governo e, principalmente, com a prefeitura de Várzea Grande, comandada pelo próprio Jayme. De 1983 a 1984, a Terramat venceu 11 licitações, duas realizadas na prefeitura, com valores de obras que não foram divulgados.

    A Aquário Engenharia, outra empresa que segundo a investigação do SNI era controlada pelos Campos, venceu 12 licitações no mesmo período. Seu capital social saltou de Cr$ 236 milhões em dezembro de 1982 para Cr$ 1,3 bilhão em março de 1984. Em março de 1982, antes da eleição em que os Campos venceram, a Terramat tinha um capital social de Cr$ 58 milhões, depois da posse de prefeito e governador este valor passou para Cr$ 260 milhões e, no ano seguinte em 1984, a empresa chegou a Cr$ 850 milhões.

    “Torna-se evidente, pelo número de licitações que as firmas Aquário e Terramat se saíram vencedoras em apenas um ano do governo Júlio José de Campos, que as mesmas estão sendo beneficiadas. Por outro lado, causa estranheza os súbitos e elevados aumentos de capitais que tais empresas tiveram, a partir do momento em que Júlio Campos teve certeza de ter ganho as eleições de 1982”, diz trecho do relatório do SNI.

    SNI.

    Os investigadores do SNI também suspeitavam que Jayme e Júlio elevaram o capital social de suas empresas em dezembro de 1982 já cientes de que ganhariam a eleição e que, com o capital aumentado, poderiam participar de licitações com o poder público. Além disso, de acordo com o relatório, essa movimentação seria um indicativo de aumento do patrimônio depois que eles já  estivessem em seus cargos.

    Suspeita de propina

    Parte desse relatório revela que uma investigação preliminar, feita pela Agência Regional do SNI em Cuiabá, indicou a possibilidade de existência de um esquema de cobrança de propina envolvendo empreiteiras que tinham negócio com o governo comandado por Júlio Campos.

    Conforme o relatório, a Dinâmica Nasser Representações Ltda., sediada em Campo Grande, no estado vizinho de Mato Grosso do Sul, intermediava irregularmente credores do estado. A empresa, ainda segundo o documento, encaminhava credores para tratarem de suas dívidas com o empresário Jorge Pires de Miranda, cunhado de Júlio, que repassava a negociação para o governador.

    Neste último estágio, prosseguia o SNI, o pagamento só era viabilizado se o credor aceitasse retornar, para as mãos de Júlio, 10% do que o estado lhe devia. “O motivo alegado para a ação corrupta é o de criar um ‘fundo’ para financiar sua campanha ao Senado Federal”, diz o documento da investigação.

    Fraude nas eleições e assassinato 

    A convicção na vitória daquela eleição não era tão firme em novembro de 1982 quanto se tornou em dezembro do mesmo ano, quando o capital social das empresas foi elevado. Nas vésperas da disputa, os Campos temiam a derrota. Os primeiros a relatarem publicamente a angústia do clã Campos foram os policiais civis Márcio Roberto Tenuta França e Laury San Martin da Paixão, presos quatro anos depois, em 1986, acusados de comporem um “Esquadrão da Morte” que, segundo os próprios acusados, era liderado pelo governador Júlio Campos.

    Márcio Tenuta e Laury Paixão contaram em depoimento prestado à polícia por conta de outros crimes que, no início de novembro daquele ano, a família Campos se reuniu na Rua 24 de Outubro, em Cuiabá, para pensar estratégias que pudessem frear o avanço dos candidatos Celso Mendes Quintela, rival de Jayme na prefeitura de Várzea Grande, e do Padre Raimundo Pombo, rival de Júlio para o governo do estado. Os dois, Quintela e Pombo, eram filiados ao MDB.

    Os dois policiais contaram que o empresário Jorge Pires de Miranda, cunhado dos Campos, ofereceu, logo depois da reunião, quarenta milhões de cruzeiros para que os dois matassem Celso Mendes Quintela. Os policiais afirmaram que recusaram a proposta e que, dias depois, outro policial, a mando da família, executou o adversário emedebista.

    “Foi o Jorge que ofereceu dinheiro para matar o Quintela, mas eu e o Peninha não aceitamos; no dia seguinte o Jorge me propôs um dinheiro, não lembro quanto, para matar o Padre Pombo, e eu não aceitei”, diz trecho do depoimento de Márcio Tenuta, que foi entregue ao SNI através de um relatório classificado como “urgentíssimo”.

    A morte de Quintela fez surgir, no ambiente político de Mato Grosso, uma cortina de silêncio. No dia 26 de novembro de 1982, quando foi morto, o advogado iniciava uma busca desenfreada para tentar provar que as eleições em que saiu derrotado tinham sido fraudadas.

    “Ele estava na Alameda Júlio Muller, em Várzea Grande, tinha conseguido pegar uma testemunha das fraudes, exigia que o sujeito falasse”, conta um membro do MDB da época, que pediu anonimato. “Um outro carro se aproximou e alguém disparou um tiro que acertou a cabeça do Quintela, todos sabiam que ele estava investigando as fraudes”, completa.

    No dia 27 de novembro, um dia depois da morte do candidato, o MDB entrou com recurso na 1ª Zona Eleitoral de Cuiabá solicitando a anulação de toda disputa daquele ano. Os documentos entregues pelos diretores do MDB apontavam a existência de mais de 30 mil nomes repetidos nas urnas, além de nomes de pessoas falecidas ou não habilitadas para votar.

    A repercussão da denúncia se tornou ainda mais intensa nos jornais, com a revelação de imagens de urnas eleitorais que foram encontradas boiando no rio Cuiabá. Nos registros oficiais no Tribunal Regional Eleitoral, Jayme venceu Quintella por uma diferença de 3 mil votos e Júlio venceu o Padre Raimundo Pombo por uma diferença de 14 mil votos. Mas, na visão dos que viveram intensamente aquela disputa, as fraudes comprovadas reverteram totalmente o resultado.

    “Eu me lembro muito bem que, logo depois da morte do Quintela, fomos procurar o padre Raimundo Pombo para protestarmos e ele, religioso que era, pediu que desistíssemos, me falou ‘esqueça esta história, meu filho’, acho que ele estava com medo”, conta outro militante da época, que também prefere não revelar seu nome.”

    Aos poucos, o silêncio foi tomando conta do cenário político. Os protestos iniciais realizados pelo MDB e monitorados pelo SNI foram desaparecendo. O caso só voltou à tona em 1986, justamente por conta do depoimento dos policiais. Depois da divulgação das denúncias na imprensa, o diretor do MDB em Várzea Grande redigiu uma carta ao ministro chefe do SNI na época, general Ivam de Souza Mendes, em que denunciou com mais detalhes como foi o assassinato de Quintela.

    “As provas já se avolumaram de tal sorte a ponto de ninguém mais duvidar de que as eleições seriam indubitavelmente anuladas”, diz trecho da carta sobre a investigação paralela que Quintela teria realizado. “No dia 24.11.82 recebe o Dr. Celso uma estupenda oferta para abandonar a luta pela anulação da eleição […] nada mais, nada menos que Cr$ 50 milhões a alta cúpula pedessista oferecia à Quintela com um certo ar de ameaças, como quem diz: aceita ou daremos um jeito”, narra a missiva, assinada por um diretor do MDB que, ao ser procurado pela reportagem, se recusou a comentar sobre o assunto.

    Em 2001, o acusado pela morte do candidato do MDB, Daniel Germano Gonçalves, foi absolvido por júri popular. Três anos depois, em 2003, ele foi condenado a cumprir pena em regime semiaberto após a Justiça determinar novo julgamento. Daniel disse aos investigadores que tentava defender seu irmão, Timóteo Gonçalves, que, segundo Quintela, tinha provas das fraudes naquelas eleições. O depoimento dos policiais do esquadrão da morte foi arquivado.

    Em 2013, Júlio Campos voltou a ser relacionado a um assassinato. Nesse caso, ele foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por homicídio, apontado como mandante  das mortes do geólogo Nicolau Ladislau Eryin Haralyi e do empresário Antônio Ribeiro Filho, em 2004. Os dois foram, mortos segundo o MPF, por conta da disputa de uma terra de 87 mil hectares com diamantes em Mato Grosso. Em fevereiro deste ano o processo prescreveu e foi extinto.

    Júlio Campos foi governador de Mato Grosso e deputado federal. Foto: Agência Câmara

    Em 2014, quando era deputado federal, Júlio teve o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso, acusado de compra de votos e gasto ilícito de dinheiro público na sua campanha eleitoral. A cassação, no entanto, foi derrubada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

    Outro lado

    A reportagem do Congresso em Foco procurou as assessorias de Júlio e Jayme Campos. Os dois decidiram que o senador falaria sobre o assunto. Em contato por telefone, Jayme afirmou que as denúncias sobre assassinato político e fraude eleitoral foram provocadas pelo MDB na época porque o grupo derrotado estava insatisfeito com o resultado daquelas eleições.

    “O Quintela foi morto por pistoleiros dele”, afirmou Jayme. “Eu nunca fui ouvido nem ninguém da minha família, o MDB daqui, derrotado porque ganhamos as eleições, criou este factoide contra nós. Como tem envolvimento nosso se eu nem sei quem foi o autor e quem brigou com o cara? Ninguém nosso foi ouvido, nem eu nem o Júlio Campos”, afirmou.

    “Quem pode ter matado ele eram adversários dele do MDB, conosco nunca teve nada, eu tive 70% dos votos. Quem poderia ter matado eram adversários dele dentro da coligação, nunca fui ouvido nem tenho conhecimento disso daí”, completou.

    Em relação aos demais relatórios do SNI, que citam as denúncias de esquemas de corrupção e a participação de empresas da família, Jayme nega todas as acusações. Ele afirma que o relatório é mentiroso. Cita, por exemplo, que a Terramat estava falida no governo Júlio Campos.

    “Chegou em 1981 a empresa quebrou, espatifou, mas não trabalhou no governo Júlio Campos nem no meu”, relata. “Este relatório está mentindo, está faltando com a verdade, esta firma foi montada em 1978 e por volta de 1981 ela faliu, nunca trabalhou no governo, isso aí tudo é denúncia de adversário. Nós somos limpos”, afirmou.

    Jorge Pires de Miranda, que também foi procurado, disse não querer comentar as denúncias. Segundo ele, o caso do assassinato de Quintela já foi investigado e julgado e não há nada que ligue seu nome ao assunto.

    Júlio Campos (DEM) também foi ouvido pela reportagem. Ele negou as acusações e alegou que as denúncias são uma “pilhéria” e que se realmente fosse culpado teria sido investigado e julgado. Ele lembrou que nunca foi chamado pelo chefe da SNI na época, cuja sede na ocasião era em Campo Grande (MS), e que era comum que adversários políticos procurassem o órgão para provocar factóides.

    “Nas eleições de 82 o povo Mato Grosso é que optou por um cara jovem, deputado federal, e um padre de 70 anos, falando em plantar mangueira e goiabeira na beira da estrada, aquelas maluquice… Eu ganhei a eleição e o MDB ficou frustrado”, afirmou o ex-governador de Mato Grosso.

    Júlio contou que nunca soube da existência das denúncias e que, mesmo assim, “nada o abalou”. Sobre a acusação de ter enriquecido empresas em que era sócio em seu governo, Júlio lembra que a família “nunca foi pobre” e que a maioria dos bens já pertenciam a seus parentes.

    A família Campos define-se publicamente como descendente de Antônio Pires de Campos, o primeiro bandeirante a chegar em Mato Grosso. Pires de Campos chegou na região à procura de índios para vender como escravos em São Paulo.

    “Todos nós estudamos no Rio de Janeiro e em São Paulo, nós nunca fomos pobres”, conta. “A maioria destes bens já eram da família Campos antes da política, meia Várzea Grande é nossa hoje, era da minha avó, da minha bisavó, naquele tempo quem morava em Cuiabá e conseguiu conservar ficou bilionário”, explicou.

    Veja matéria original no site do Congresso em Foco – https://congressoemfoco.uol.com.br/legislativo/documentos-sigilosos-do-sni-apontam-crimes-do-senador-jayme-campos-e-familia/

  • “Jornalismo será peça-chave para a construção de um novo momento na democracia”

    “Jornalismo será peça-chave para a construção de um novo momento na democracia”

    Por: Safira Campos para o PNBonline

    Professor e pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Bruno Araújo é jornalista pela Universidade de Coimbra, onde também cursou Mestrado em Comunicação e é doutor pela Universidade de Brasília (UnB). Atualmente é coordenador do Programa de Pós-graduação em Comunicação, o primeiro programa da área em todo Mato Grosso. É também um dos organizadores do livro ‘(Des)construindo uma queda: a mídia e o impeachment de Dilma Rousseff’, em que discute a atuação e influência da imprensa no impedimento da presidente petista em 2016. 

    Com estudos voltados à crítica da mídia, o professor tem desenvolvido pesquisas sobre comunicação e política por meio da análise de coberturas de escândalos políticos, eleições, casos de corrupção e construção de personagens políticas. Na entrevista especial deste domingo (19), o PNBonline conversa com Bruno Araújo sobre o papel do Jornalismo na sociedade, como a profissão pode contribuir para o combate à cultura do ódio e sobre perspectivas da mídia para o futuro diante do cenário de ataque no presente. 

    PNBonline – Como o Jornalismo pode contribuir com a sociedade em um cenário de dicotomia entre o seu papel social de informar e a notícia como mercadoria?

    Bruno Araújo – Esta é uma questão bastante complexa. A notícia é encarada em muitos estudos da Comunicação em pelo menos duas perspectivas. Em primeiro lugar, a notícia como um produto social que visa esclarecer a opinião pública sobre temas que interessam a vida da sociedade. De outro lado, você tem estudos e análises que vão olhar a notícia dentro de algumas limitações em relação à essa primeira perspectiva. A notícia então é vista como um produto de uma empresa que, embora tenha um compromisso social – sendo este um dos valores do chamado Jornalismo liberal que se identifica como uma espécie de quarto poder – visa a obtenção de lucros.

    “Estamos falando da lógica capitalista que invade, como negócios que são, as empresas de comunicação”

    Essa dicotomia precisa ser levada em consideração até para nos alertar que o Jornalismo, apesar de prestar um papel relevantíssimo à sociedade, também é afetado por lógicas que estão muito para além da noção de interesse público. Estamos falando da lógica capitalista que invade, como negócios que são, as empresas de comunicação. Isso dá à notícia uma complexidade muito grande, que faz dela algo que esclarece a opinião pública, mas que também pode entrar em processos de manipulação.

    Essa dicotomia não nasceu hoje e existe desde sempre. O que é preciso considerar, é que independentemente de ser uma mercadoria ou não, a notícia e o Jornalismo como um todo são instâncias que estão sujeitas ao escrutínio, ou seja, à análise da sociedade. Esta é uma porta de oportunidade que não dá ao jornalista uma carta branca para fazer o que quiser. É por isso também que na academia, nós fazemos crítica de mídia e pesquisas das mais diversificadas para analisar o trabalho jornalístico. Nós temos que fazer com que o Jornalismo aperfeiçoe a sua prática para que ele possa ser cada vez mais um serviço público e que tenha uma função de esclarecimento das pessoas.

    PNBonline – Então como preparar estudantes de Jornalismo para um mercado de trabalho em que objetivos econômicos podem ultrapassar o interesse social?

    Bruno Araújo – Na universidade, nós temos um papel muito importante, que é dizer ao estudante que ele trabalhará em empresas de comunicação que são privadas, que têm sua linha editorial, valores e interesses, mas que eles não são obrigados a contar inverdades, a mentir. Ou seja, há certos valores éticos, e por isso fazemos uma discussão sobre ética jornalística, que são inalienáveis. Dizemos a eles que podem perfeitamente trabalhar em uma empresa jornalística, que têm objetivos de obtenção de lucro, e fazer um trabalho que vise o esclarecimento das pessoas, que traga outra múltiplas vozes para participar do debate público. Que a imprensa é uma instância de mediação imprescindível para a sociedade e que não pode ser secundarizada.

    A formação em Jornalismo é a ainda hoje cada vez mais importante, porque é fundamental que nós formemos estudantes que tenham a noção de que nós não somos inocentes na crise democrática que nós vivemos hoje, mas que o Jornalismo também será peça-chave para a construção de um novo momento na democracia.

    PNBonline – Enquanto é atacado, como o Jornalismo brasileiro pode combater a cultura do ódio tão presente atualmente e que tanto trabalha com a desinformação?

    Bruno Araújo – Esse afeto que destila contra o outro as piores energias que estão em nós, que visa não apenas confrontar esse outro, mas destruí-lo como sujeito e ser social, sempre existiu. A diferença agora, e que por isso se fala em uma cultura do ódio, é a força que esse tipo de sentimento tem no espaço público. Muitas vezes você vê o ódio como um afeto que pertence principalmente ao espaço privado, mas agora esse sentimento ganha o espaço público de uma maneira generalizada e exponenciada pela força das redes sociais.

    “O jornalismo não pode naturalizar discursos de ódio e ser um medidor silencioso, sem oferecer um contraponto necessário”

    O Jornalismo tem um papel fundamental mais uma vez. É claro que pedir ao Jornalismo para resolver a cultura do ódio é uma missão mais que impossível, no entanto, o Jornalismo pode sim atuar criando possibilidades de enfrentamento à essa cultura do ódio. Como por exemplo, quando ele produz reportagens que dão conta de crimes que são motivados pelo ódio como as narrativas sobre feminicídio. Elas devem ser feitas de uma maneira muito responsável, mostrando as razões estruturais que estão por trás dos crimes cometidos contra as mulheres por questões machistas. O mesmo para o racismo, que se pulveriza nas nossas relações sociais e não está apenas naquele demonstração mais evidente, mas pode estar escondido em certas expressões, tratamento dado a certos grupos, etc.

    É preciso que as coberturas vão além das estatísticas, humanizando esses números. Dar a oportunidade para que as vítimas possam expressar sua voz no espaço midiático. O Jornalismo não pode abrir mão de ser o lugar da denúncia. Não é possível que se entreviste um candidato que vincula fake news, como o atual presidente na bancada do Jornal Nacional durante as eleições de 2018, sem que os jornalistas sejam capazes de denunciar as mentiras que estavam sendo ditas e que incentivam posições de ódio contra homossexuais, grupos progressistas ou outros candidatos. O Jornalismo não pode naturalizar discursos de ódio e ser um medidor silencioso, sem oferecer o contraponto necessário.

    “Não há nenhum tipo de linguagem desprovido de ideologia (…) O Jornalismo é uma atividade que comporta uma carga ideológica”

    PNBonline – Por que a imprensa brasileira insiste no mito da imparcialidade? 

    Bruno Araújo – No Brasil, nós somos muito influenciados pelo Jornalismo dos Estados Unidos. Essa influência trouxe uma noção chamada em literaturas liberais de ‘Jornalismo cão-de-guarda’. Evidente que em algumas situações isso é verdade, mas no Brasil nós temos uma situação híbrida. Em algumas situações nós temos uma imprensa que agiu como contra-poder, mas em geral a tendência brasileira é outra, em uma perspectiva de cobertura adversária. Nós temos como exemplo, toda a cobertura do impeachment da presidente Dilma Rousseff que não contemplou uma discussão sobre se houve mesmo crime de responsabilidade ou não. Quando houve essa crítica a colegas jornalistas, você ouvia “somos imparciais e objetivos, damos voz aos dois lados”.

    Em semiótica, nós estudamos o papel ideológico da linguagem. Não há nenhum tipo de linguagem desprovido de ideologia, pois como afirmam Bakhtin e Volochinov, toda palavra é ideológica. O Jornalismo é uma atividade que comporta uma carga ideológica. O que temos estudado há muito tempo é que os veículos estão muitas vezes  a cargo de certas faixas políticas, de certos grupos de pressão e não exatamente com o esclarecimento público. Portanto, o Jornalismo é parcial e tem lado, mas precisamos refletir que lado é esse.

    Nos Estados Unidos há também o hábito dos jornais assumirem durante as eleições, que candidatos apoiam. Mas isso não quer dizer que eles farão uma cobertura enviesada. Aqui no Brasil, os veículos têm seus próprios candidatos e vários estudos refletem sobre isso, mas não é algo assumido. Atualmente, um dos poucos veículos que dizem o candidato apoiado, é a Carta Capital.

    PNBonline – Como o Jornalismo enfrentará as constantes crises de credibilidade e os ataques à profissão?

    Bruno Araújo – Nós estamos vivendo hoje uma situação de grande crise nas mais diversas instâncias da sociedade e o Jornalismo não passa ao largo disso. A credibilidade jornalística é algo que vem sendo bastante contestada, sobretudo e cada vez mais por líderes políticos dos polos extremos, especialmente a extrema-direita que tem feito uma investida muito grande neste sentido. É importante perceber que a contestação do trabalho da imprensa não é feita apenas por forças políticas, mas também por camadas da sociedade.

    Este momento, que para alguns significaria o fim da imprensa ou a perda total de sua relevância, é um momento de extrema oportunidade para que a imprensa retome o seu papel de mediadora das questões sociais e de esclarecedora do debate público. Neste momento, ao mesmo tempo em que as pessoas criticam o trabalho da imprensa, uma camada importante da sociedade está atordoada sem saber muito bem em que narrativas ela deve confiar para entender o que está acontecendo. É reafirmando sua natureza que o Jornalismo enfrentará este momento.

    PNBonline – Como o Jornalismo local pode se fortalecer e se aproximar do seu público sem se prender a fatores econômicos e políticos?

    Bruno Araújo – Quanto mais regionalizado é o Jornalismo mais dependente ele pode ser de fatores econômicos e políticos. Não há uma resposta pronta para os caminhos a serem traçados para que o Jornalismo local se torne mais independente. Mas certamente ele passaria pelo fortalecimento dos laços com os leitores. É preciso que as pessoas entendam que elas são fundamentais também no financiamento do Jornalismo profissional. Hoje na internet nos parece que tudo é de graça e livre, mas o trabalho empenhado demanda recursos. Em uma perspectiva otimista, quanto mais o público estiver envolvido no financiamento da informação, mais ele tirará o peso desses fatores políticos e de grandes grupos econômicos.

    PNBonline – O professor e pesquisador João Carlos Correia (UBI) diz que o jornalismo precisa contribuir para formar leitores qualificados. Uma falsa democratização do acesso à informação só aumentaria o elitismo. O senhor concorda com esse pensamento?

    Bruno Araújo – Sim. Acho que de fato o Jornalismo tem uma função pedagógica para cumprir na sociedade. É uma função que passa pelo esclarecimento das questões, pela visibilidade de grupos sociais que são historicamente marginalizados e que têm coisas a dizer. No Jornalismo profissional, muitas vezes por conta das próprias rotinas de produção que valorizam as fontes oficiais e instituições consolidadas não damos espaço de voz para esses grupos, que produzem reflexões altamente sofisticadas e são os verdadeiros representantes da sociedade brasileira.

    Quando damos essa visibilidade disminuímos o déficit democrático que temos. Isso contribui para a formação de leitores mais críticos, com uma perspectiva mais aberta, mais aprofundado de temas sociais. Apesar de sermos um país plural, muitas vezes essa pluralidade não reflete no trabalho da imprensa. É preciso, portanto, que nós demos espaço a essa pluralidade para que tenhamos leitores mais críticos e qualificados.

    PNBonline – Quais as expectativas em relação ao Programa de Pós-graduação em Comunicação da UFMT?

    Bruno Araújo – A aprovação do programa foi para nós um grande presente para nós da UFMT e para todo o estado de Mato Grosso, já que nós éramos o único estado da região Centro-Oeste sem uma pós-graduação stricto sensu em Comunicação. Será uma oportunidade de qualificação dos quadros que nós temos agora no mercado de trabalho e de todas as pessoas que se sentem motivadas a investigar na pesquisa e na carreira acadêmica. Teremos a oportunidade de produzir uma massa crítica sobre os fenômenos da Comunicação, principalmente contemplando os temas que são caros no âmbito regional. Com a pandemia, o processo seletivo que esteja em andamento para o mestrado foi interrompido, mas logo que as atividades forem retomadas pela UFMT, retomaremos o processo para dar início às aulas.

    Veja matéria original em: https://www.pnbonline.com.br/geral/a-jornalismo-sera-pea-a-chave-para-a-construa-a-o-de-um-novo-momento-na-democraciaa/65300