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Categoria: Greve dos Petroleiros

  • Corte de R$ R$ 58,8 bilhões nos investimentos da Petrobrás

    Corte de R$ R$ 58,8 bilhões nos investimentos da Petrobrás

    A coluna Dia a Dia do Desgoverno mostra o corte de mais de 63 bilhões nos investimentos das empresas federais em 2019, especialmente para obras que poderiam criar milhares de empregos.

    Em 2019 o previsto foi de R$ 121 bilhões e  só foi realizado R$ 58,2 bilhões, ou seja um corte de R$ 63,5 bilhões ou -52%.Destaco os cortes de investimentos para o grupo Petrobrás em R$ 58 bilhões (-53,6%),, Na Eletrobrás o corte foi de R$ 2,98 bilhões (-53,6%).

    2019 Previsto Realizado Variação Variação
    Total 121.742.194.513 58.280.726.383 -63.461.468.130 -52,1%
    Petrobrás 109.770.059.032 50.897.182.867 -58.872.876.165 -53,6%
    Eletrobrás 5.977.526.802 2.996.874.317 -2.980.652.485 -49,9%
    Demais 5.994.608.679 1.158.881.895 -4.835.726.784 -80,7%
    Financeiro 5.714.570.117 3.227.787.304 -2.486.782.813 -43,5%

    Ao comparar 2019 com 2018, último ano do governo Temer, se constata que houve uma redução de R$ 26,5 bilhões ou 31,2%, sendo que no grupo Petrobrás a redução chegou a quase 34%.

    2.018 2.019 Variação Variação
    Total 84.801.621.623 58.280.726.383 -26.520.895.240 -31,27%
    Petrobrás 77.041.092.598 50.897.182.867 -26.143.909.731 -33,94%
    Eletrobrás 3.518.899.355 2.996.874.317 -522.025.038 -14,83%
    Demais 1.437.078.947 1.158.881.895 -278.197.052 -19,36%
    Financeiro 2.804.550.723 3.227.787.304 423.236.581 15,09%

    Destacamos outros cortes na Dataprev, que processa o pagamento do INSS, da SERPO que cuida dos dados dos cidadão brasileiros, dos correios  que tem baixos investimentos e estão na lista da privatização do governo federal.

    Destaques Investimentos empresas federais previsto realizado variação variação
    Ceagesp 59.219.000 348.953 -58.870.047 -99,41%
    Centrais de Abastecimento de Minas Gerais S.A. – CEASAMINAS 1.750.000 550.528 -1.199.472 -68,54%
    Companhia de Armazéns e Silos do Estado de Minas Gerais – CASEMG 966.700 0 -966.700 -100,00%
    CEAGESP – Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo 59.219.000 348.953 -58.870.047 -99,41%
    Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP 92.998.150 7.819.026 -85.179.124 -91,59%
    Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos 921.920.244 332.520.091 -589.400.153 -63,93%
    Banco da Amazônia S.A. – BASA 64.740.828 5.461.905 -59.278.923 -91,56%
    Serviço Federal de Processamento de Dados – SERPRO 198.000.000 118.661.017 -79.338.983 -40,07%
    Banco do Nordeste do Brasil S.A. – BNB 144.379.728 22.911.998 -121.467.730 -84,13%
    Casa da Moeda do Brasil – CMB 146.164.651 3.510.680 -142.653.971 -97,60%
    Caixa Econômica Federal – CAIXA 2.603.818.911 1.331.199.582 -1.272.619.329 -48,88%
    BB Tecnologia e Serviços S.A. 56.762.507 27.984.074 -28.778.433 -50,70%
    Banco do Brasil SA – BB 2.742.459.550 1.836.955.022 -905.504.528 -33,02%
    Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social – DATAPREV 200.000.000 31.767.750 -168.232.250 -84,12%
    Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BNDES 66.172.950 23.439.771 -42.733.179 -64,58%
    Araucária Nitrogenados S.A. 130.034.000 15.322.678 -114.711.322 -88,22%
    Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia HEMOBRÁS 485.982.560 17.924.111 -468.058.449 -96,31%
    Companhia Docas do Ceará – CDC 19.194.217 3.581.246 -15.612.971 -81,34%
    Companhia Docas do Espírito Santo -CODESA 67.357.360 14.664.803 -52.692.557 -78,23%
    Companhia das Docas do Estado da Bahia -CODEBA 54.747.667 3.479.442 -51.268.225 -93,64%
    Companhia Docas do Estado de São Paulo -CODESP 226.211.849 6.013.923 -220.197.926 -97,34%
    Companhia Docas do Pará CDP1 30.743.727 6.010.282 -24.733.445 -80,45%
    Companhia Docas do Rio de Janeiro – CDRJ 70.585.438 18.838.501 -51.746.937 -73,31%
    Companhia Docas do Rio Grande do Norte -CODERN 88.073.838 6.422.073 -81.651.765 -92,71%
    Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária INFRAERO 1.028.215.682 453.201.902 -575.013.780 -55,92%
    Empresa Gerencial de Projetos Navais -EMGEPRON 1.301.523.656 933.042 -1.300.590.614 -99,93%

     

  • Greve dos petroleiros já atinge 12 refinarias e 4 terminais

    Greve dos petroleiros já atinge 12 refinarias e 4 terminais

    Do site da FUP

    A greve dos petroleiros, que teve início na madrugada deste sábado, ganhou a adesão pela manhã dos trabalhadores da Refinaria Alberto Pasqualini, no Rio Grande do Sul, e do Terminal Madre de Deus, na Bahia.

    Até o momento já são 12 as unidades de refino que estão sem rendição nos turnos e 04 terminais da Transpetro, subsidiária da Petrobrás que também está sob risco de privatização e demissões.

    Na Bacia de Campos, 12 plataformas já aderiram à orientação do sindicato de realizar levantamento de pendências de segurança, efetivo e se houve embarque de equipes de contingência a bordo.

    Na Fafen-PR, os trabalhadores seguem ocupando a unidade há 12 dias para impedir o seu fechamento e as mil demissões anunciadas pela gestão da Petrobrás para ter início no próximo dia 14.

    Na tentativa de abrir um canal de negociação com a gestão da Petrobrás, um grupo de cinco diretores da FUP estão desde as 15 horas de ontem (31/01), ocupando uma sala de reunião no quarto andar do edifício sede da empresa, na Avenida Chile, no Rio de Janeiro.

    A greve dos petroleiros é pela suspensão das demissões na Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen) e pelo estabelecimento imediato de um processo de negociação com a Petrobras, que cumpra de fato o que prevê o Acordo Coletivo de Trabalho, com suspensão imediata das medidas unilaterais tomadas pela gestão e que estão afetando a vida de milhares de trabalhadores.

    Gestão da Fafen-PR provoca acidente

    Por volta das 22h45 de sexta (31/01), a sirene da Fafen-PR foi acionada, em função de uma vazamento de amônia, que aumenta a insegurança dos trabalhadores e pode atingir a comunidade de Araucária. O acidente foi provocado pela decisão irresponsável da gestão de parar a caldeira que mantém a fábrica operando e, assim, acelerar a paralisação da unidade, à revelia dos alertas dos trabalhadores, que vêm ocupando há 12 dias a Fafen-PR para evitar o seu fechamento e as demissões que atingirão mil famílias.

    O vazamento foi controlado na madrugada, com apoio do Corpo de Bombeiros. Os representantes do Sindiquímica-PR se reúnem neste sábado com a gerência da fábrica para discutir as condições de segurança da unidade.

    Unidades de refino na greve

    Refinaria Alberto Pasqualini, no Rio Grande do Sul (Refap) – desde as 07h de 01/02

    Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco (Rnest) – desde a zero hora de 01/02

    Fábrica de Lubrificantes do Nordeste, no Ceará (Lubnor) – desde a zero hora 01/02

    Refinaria Duque de Caxias, no Rio de Janeiro (Reduc) – desde a zero hora 01/02

    Refinaria Presidente Getúlio Vargas, no Paraná (Repar) – desde a zero hora 01/02

    Fábrica de Xisto, no Paraná  (SIX) – desde a zero hora 01/02

    Refinaria de Paulínia, em São Paulo (Replan) – desde a zero hora 01/02

    Refinaria de Capuava, em Mauá/São Paulo (Recap) – desde a zero hora 01/02

    Refinaria Landulpho Alves, na Bahia (Rlam) – desde a zero hora 01/02

    Refinaria de Manaus, no Amazonas (Reman) – desde a zero hora 01/02

    Refinaria Gabriel Passos, em Minas Gerais (Regap) – desde a zero hora 01/02

    Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados, no Paraná (FafenPR/Ansa) – ocupação desde o dia 28/01

    Terminais na greve

    Terminal Madre de Deus, na Bahia – desde as 07h de 01/02

    Terminal Aquaviário de Suape, em Pernambuco – desde a zero hora de 01/02

    Terminal de Paranaguá, no Paraná (Tepar) – desde a zero hora 01/02

    Terminal de São Francisco do Sul, em Santa Catarina (Tefran) – desde a zero hora 01/02

    [FUP]

  • Petroleiros ocupam sede da Petrobrás e exigem suspensão das demissões na Fafen-PR

    Petroleiros ocupam sede da Petrobrás e exigem suspensão das demissões na Fafen-PR

    Do site da FUP

    Dirigentes da FUP estão ocupando desde às 15h desta sexta-feira (31) a sede da Petrobrás, na Avenida Chile, no Rio de Janeiro.

    O objetivo é pressionar a gestão da empresa a negociar com a entidade alternativas que evitem as demissões na Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná.

    Os petroleiros também cobram negociação das pendências do Acordo Coletivo, com suspensão imediata das medidas unilaterais que estão afetando a vida de milhares de trabalhadores.

    A ocupação foi anunciada pela FUP ao final da reunião desta sextacom a gestão da Petrobrás, onde os petroleiros ponderaram sobre a importância da empresa atender à pauta de reivindicações aprovada pela categoria nas assembleias que deliberaram sobre a greve que começa neste sábado em todo o país.

    O gerente de Relações com Sistema, Governo e Entidades Externas,  Fabricio Pereira Gomes, saiu da sala de reuniões, se comprometendo a levar o pleito da categoria para a Diretoria Executiva da Petrobrás e responder às representações sindicais o quanto antes.

    A ocupação pacífica ocorre no quarto andar do prédio, onde está localizada a Gerência de Gestão de Pessoas.  “Ficaremos aqui por quanto tempo for necessário para que a direção da Petrobrás se sensibilize sobre a urgência de suspender as demissões na Fafen-PR, que afetam a vida de mais de mil famílias. Nosso objetivo é abrir um canal imediato de negociação com a empresa e estaremos aqui , dia e noite, dispostos a negociar”, afirma o diretor da FUP, Deyvid Bacelar, um dos petroleiros que estão na ocupação.

    A partir da meia noite, os petroleiros das unidades operacionais do Sistema Petrobras iniciam a greve nacional da categoria, unificando a luta em defesa dos empregos, do Acordo Coletivo de Trabalho e da Petrobrás.

    [FUP]

    Juíza garante direito a protesto pacífico:

    Na tentativa de abrir um canal de negociação com a gestão da Petrobrás, um grupo de cinco diretores da FUP está desde as 15 horas de ontem (31/01), ocupando uma sala de reunião do edifício sede da empresa (Edise), na Avenida Chile, no Rio de Janeiro. O objetivo é  pressionar a gestão a discutir com a entidade alternativas que evitem as demissões na Fafen-PR e faça a empresa a estabelecer negociações que de fato resolvam as pendências do ACT.

    A ocupação ocorre de forma pacífica no quarto andar do edifício, onde funciona a Gerência de Gestão de Pessoas, com quem os diretores da FUP tiveram uma reunião na sexta, para cobrar a abertura de um canal de diálogo com a entidade, na buscar do atendimento da pauta de reivindicações, aprovada pelos petroleiros nas assembleias que deliberaram sobre a greve.

    Apesar do caráter negocial e pacifista da ocupação, sem qualquer dano ao patrimônio da Petrobrás, a gestão da empresa ingressou na madrugada deste sábado com uma liminar na Justiça do Trabalho do Rio de Janeiro, na tentativa de retirar à força os trabalhadores do prédio, o que foi negado pela juíza Rosane Ribeiro Catrib, em uma decisão que enfatiza a legitimidade da ação dos petroleiros.

    “Sabemos bem que não estamos diante daquela ordinária hipótese do piquete às portas da empresa, mas também a ocupação ora questionada deverá ser analisada sob a ótica da  excepcionalidade da ação possessória para solução do impasse resultante de movimento grevista”, afirma a juíza em sua decisão.

    “A certidão emitida pelo Oficial de Justiça nos dá conta da ocupação pacífica, de uma sala de reuniões do setor de Recursos Humanos, sem qualquer dano ao patrimônio da empresa, afastando a restrição prevista no §3º do art. 6º do diploma legal acima referido. Não há empecilho ao acesso ao trabalho, nem ameaça ou dano à propriedade ou pessoa”, ressalta em outro trecho da decisão.

    “Sob nenhum aspecto, a permanência dos ocupantes nesse espaço restrito indica risco ou ameaça à PETROBRÁS. Estamos diante de nada mais que cinco dirigentes sindicais, número que, muito provavelmente, não supera o quantitativo de integrantes da equipe de segurança do prédio sede da Petrobrás, mesmo em um final de semana”, afirma a juíza.

    “Aliás, exatamente por tratar-se de um final de semana, as possibilidades de prejuízo ao bom funcionamento da empresa ficam ainda mais reduzidas. E não estaríamos diante desse risco, mesmo em dias de pleno funcionamento do prédio sede. A indisponibilidade de uma das inúmeras salas de reuniões do prédio sede da PETROBRÁS não ameaça o regular desenvolvimento de suas atividades, nem mesmo as do setor de Recursos Humanos. Sob esse aspecto, não passa de um transtorno. E não se pode exigir absoluta normalidade em situação de greve”.

    “O que se vê é a legítima atuação do Sindicato no sentido de persuadir a empresa à negociação. Negociação frustrada após uma reunião para a qual foram convidados e não saíram porque, como já dito, permanecem em mesa para negociar. É um sinal de resistência, próprio do jogo democrático”, conclui.

  • Vitoria dos caminhoneiros autônomos, dos petroleiros e da esquerda:  Pedro Parente (PSDB) pede demissão  da presidência da Petrobrás

    Vitoria dos caminhoneiros autônomos, dos petroleiros e da esquerda: Pedro Parente (PSDB) pede demissão da presidência da Petrobrás

    Pedro Parente caiu!
    Vitória dos caminhoneiros e petroleiros, dos motoristas de vans escolares, os motoqueiros . Ótimo para a esquerda do país!

    Ao contrário de apoiar a greve dos caminhoneiros, a esquerda vacilou. Ficou em discussões abstratas. Confusa, não conseguiu se aproximar dos caminhoneiros e não foi efetivamente solidária a greve.

    A literal salvação da lavoura veio por meio de setores mais lúcidos, como o MST e os petroleiros, que foram conversar com os caminhoneiros autônomos que deram início a uma organização que exigiu a imediata queda de Pedro Parente e o fim da política de preços da Petrobrás, que levou a elevação absurda dos preços da gasolina, diesel e gás de cozinha.

    Vitor Teixeira

    A população, embora esteja pagando preços absurdos nos postos de gasolina, sente a crise e não tolera mais tantos aumentos.

    A greve evidenciou a revolta de uma parcela população, que não é de esquerda, pelo desastre do golpe.

    O povo ganhou e o mercado perdeu a luta. Com a queda de Pedro Parente, quem sabe chegou a hora de tornar a Petrobrás efetivamente uma empresa pública do país que seja orgulho dos brasileiros e não algoz do povo.

    O fato dos caminhoneiros autônomos terem amplo apoio popular de segundo pesquisa Datafolha tem 87% de apoio e que lideranças dos caminhoneiros estarem fazendo uma marcha para Brasília deve  ter precipitado sua queda.

    Veja o comunicado da Petrobrás:

    “A Petrobras informa que o senhor Pedro Parente pediu demissão do cargo de presidente da empresa na manhã de hoje. A nomeação de um CEO interino será examinada pelo Conselho de Administração da Petrobras ao longo do dia de hoje. A composição dos demais membros da diretoria executiva da companhia não sofrerá qualquer alteração. Fatos considerados relevantes serão prontamente comunicados ao mercado.”

     

     

  • Sindicato dos petroleiros do Rio Grande do Sul  é invadido durante a greve de advertência

    Sindicato dos petroleiros do Rio Grande do Sul  é invadido durante a greve de advertência

     

    Será que a “justiça” vai investigar o caso ou como sempre vai cair no esquecimento. É triste constatar que para punir os pobres eles são rápidos, inclusive para cobrar multas milionárias dos petroleiros que só quer reduzir os preços da gasolina, diesel e gás de cozinha.

    Do site da FUP (Federação única dos petroleiros)

    No início da manhã desta quinta-feira, 31, por volta das 05:30h, aconteceu uma invasão no Sindipetro do Rio Grande do Sul.

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    Os criminosos entraram pelo ar-condicionado e quebraram o alarme, que disparou quando ao arrombarem a gaveta da secretaria.

    A princípio, foram furtados dois computadores e um celular, que também era da secretaria do Sindicato.

    A direção do Sindipetro RS já registou a ocorrência e permanece durante a manhã na delegacia para as devidas providências.

     

     

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    Mais detalhes ainda estão sendo apurados pelo Sindicato e pela FUP.

     

    [FUP]

  • Pai, caminhoneiro, herói!

    Pai, caminhoneiro, herói!

    Por Stéfanni Meneguesso Mota, especial para os Jornalistas Livres

     

    Era 1995, uma operária metalúrgica e um caminhoneiro começavam uma família, em uma casa de dois cômodos e um banheiro na periferia da Grande São Paulo. Ali começava a história da Stéfanni, esta mesma que agora, como uma jornalista formada, escreve para vcês para contar como foi ser criada pela potência de uma sindicalista e o carinho de um caminhoneiro dentro de uma boleia.

    Esta é com meu pai e irmã no trancamento na Anchieta, no domingo, 27/5

    É domingo à noite, dia 27 de maio, 9 dias após o início da paralisação dos caminhoneiros contra o aumento abusivo do combustível, sobretudo do diesel. Pego uma carona para me encontrar com meu pai, no km 23 da Rodovia Anchieta.  Uma fila de caminhões no acostamento, os grevistas fizeram fogueiras para segurar o frio. “Comprei umas pizzas aqui, quem quiser é só chegar” grita um deles, provavelmente um dos caminhoneiros de São Bernardo do Campo, cidade de muitas montadoras e transportadoras.

    Travar a Rodovia na cidade em que se mora e trabalha é difícil. Cortar o transporte de combustível mexe diretamente na economia e vida cotidiana do povo, mas também dificulta a mobilidade do próprio movimento, que se segura na coletividade. Quem pode traz pão com manteiga, água, comida. “Seu padrinho conseguiu um ônibus pra levar o pessoal pra ir usar um banheiro, tomar um banho”, meu pai me conta ao me ver chegar.

    Olhei para os lados e num breu não vi patrões ou empresários. Vi homens, trabalhadores em uma das profissões mais insalubres de que tenho conhecimento cruzando os braços em uma greve tão legítima quanto qualquer outra. Veio em minha cabeça um filme do que levou aqueles homens àquele momento, um roteiro que se confunde com a história de meu próprio pai.

    Claudio começou a dirigir muito cedo. Ainda menor de idade, aprendeu o ofício com seu próprio pai e outros caminhoneiros amigos. Na raça. Aos 17 anos foi emancipado, depois que meu avô sofreu um acidente. Passou a ser responsável pelo sustento dos pais e três irmãos mais novos. Quando nasci, a casa tinha um único fogão portátil de duas bocas, que meu pai levava com ele para cozinhar na estrada, nas longas viagens levando carros para a Argentina.

    O frete pequeno não permitia comer na estrada. Minha mãe, muito guerreira, comia na fábrica e eu comia na creche. Na volta pra casa, sobrava saudade, mas o que trazia no bolso não pagava as contas. Nos anos de governo progressista, meu pai passou a transportar carros em território nacional, o frete melhorou, mas não houve rompimento com a rotina insalubre. Além do óleo diesel, o pedágio e os gastos com manutenção também aumentaram, as estradas continuaram péssimas e perigosas.

    Para fechar com saldo positivo no fim do mês, continuava necessário rodar por dias a fio sem dormir. Por falar nisso, você consegue pensar em outra profissão que obrigue o trabalhador a se drogar para ficar acordado e produzir à exaustão?

    Ninguém me contou, eu vi e vivi tudo isso em 23 anos acompanhando meu pai em suas viagens nos fins de semana, enquanto minha mãe fazia hora extra na fábrica. Depois da escola, eu ia para a casa da minha avó que cuidava de mim até minha mãe chegar, então ele me ligava: “Alô, o pai pegou carga! Quer ir comigo ou ficar na Vó?”. Daí era uma listinha de tarefas que eu conhecia bem: ligar para a minha mãe e avisar, pedir a minha avó que me levasse em casa para fazer uma malinha com roupas para o fim de semana, esperar pelo meu pai que chegava lá pelas 21h.

    Era pegar a carga na sexta, para rodar centenas de quilômetros parando só para descarregar. Passávamos a noite acordados, ao som de música sertaneja, Elvis Presley e Balão Mágico. “Filha, separa 10 reais”, e eu sabia que estávamos chegando a outro pedágio. Sempre que tinha sede, era eu quem lhe dava água. Eu tinha 7 anos e era tratada por ele com muito carinho e respeito. Tínhamos longas conversas na noite escura da rodovia, o assunto não acabava nunca. Garça, Pompéia, Marília, Presidente Prudente, Osvaldo Cruz, Dracena…

    Sempre que o caminhão parava para descarregar, eu separava as notas e levava as chaves dos carros, pulava do caminhão e pedia insistentemente para ser seu chapa. Então ele me deixava dobrar e guardar as cintas que amarravam os carros à carreta. Quando não fazia hora extra, minha mãe nos acompanhava e a viagem era melhor.

    À dir. está o meu pai, numa greve em S.Bernardo; vê-se que ele tem uma marca de bala de borracha nas costas

    Lembro que um dia antes de ir pra escola minha mãe me chamou. “Tá tudo bem, mas seu pai sofreu um acidente.” Durante a aula, eu não conseguia parar de pensar no que poderia ter acontecido. À noite ele chegou em casa. Só tinha machucado a mão, mas os custos para consertar o caminhão tombado sairiam do bolso dele. Foram meses de aperto. Também me lembro de estar na casa da minha avó, quando meu pai chegou em casa sem camisa, com um machucado grande nas costas. “Isso é tiro de borracha mãe, não é nada”, mas era alguma coisa sim. Meu pai tem marcada na pele a prova de que a polícia nem sempre foi pacífica com caminhoneiros grevistas.

    Em 2018, meu pai completa 34 anos de estrada, rodando sobre 5 eixos que custam caro por um frete que só consigo chamar de injusto, mesmo sendo um dos melhores do seguimento. Trabalhando por noites a fio, meu pai não concluiu o ensino médio, não esteve presente em todas as fases de minha vida e perdeu boa parte do crescimento de minha irmã mais nova. Mas rodou da Bahia até São Paulo sem parar, para estar presente no dia 4 de dezembro de 2017, o dia da apresentação do meu trabalho de conclusão de curso. Aquela foi a primeira vez que meu pai pisou numa faculdade e foi para ver sua filha conquistar o primeiro diploma universitário da família. Costumo dizer que, colocando em números eu fiz 30% do esforço, todo o resto foi trabalho duro dos meus pais.

    Por tudo isso, mesmo tendo uma posição político-ideológica que me impede de levantar algumas das bandeiras daqueles caminhoneiros, tenho por eles um profundo respeito. Nutro uma admiração enorme por estes homens e mulheres que, sem um sindicato organizado para defender seus direitos, organizaram uma série de paralisações e trancamentos, usando a força da comunicação de motorista para motorista. A luta dos caminhoneiros está longe de acabar, pois é grande, é importante e é solitária. Não é só pela redução do preço do diesel, mas é também por mais segurança, postos de parada, direitos trabalhistas e condições para cumprir a lei. A luta é minha e de cada filha de caminhoneiro, para que possamos saber que nossos pais voltarão para casa e nos verão crescer, estarão lá nos nossos primeiros passos, aniversários e diplomas também.

     

    Leia mais informações sobre a greve dos caminhoneiros no link