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Categoria: Geopolítica

  • Dan Kovalik – No More War

    Dan Kovalik – No More War

    O advogado e especialista em Direitos Humanos Daniel Kovalik, professor na Escola de Direito da Universidade de Pittsburgh, realizou um webinar no último dia 14 de julho onde comentou as mais recentes denúncias sobre violações e assassinatos de mulheres ocorridas em bases norteamericanas pelo mundo.

    Dan Kovalik é autor de vários livros críticos à política externa dos EUA sendo o último deles “No more war”. Quase todos os títulos podem ser encontrados no formato e-book ou encomendados pela Amazon.

    Transcrição, tradução e legendas: Juliana Medeiros
    Revisão: Maria José Campos


    Deixe-me começar com alguns eventos mais recentes.

    Eu hoje li algo sobre uma servidora da marinha, Thae Ohu – eu acredito que ela seja uma vietnamita-americana e militar – que foi sexualmente abusada por seus colegas de marinha. Quando ela reclamou com seus oficiais superiores foi colocada na prisão militar, onde continua presa.

    O desenrolar de outra história tem obtido também muita atenção, a de Vanessa Gillen, uma soldado que aparentemente foi morta e desmembrada por um colega soldado [em uma base] nos EUA.

    Então, por que estou trazendo esses casos? Em grande parte por conta do que vemos com frequência aqui, na grande mídia dos EUA (NPR, NYT..). Eles dizem: “Hey, os EUA não podem deixar lugares como o Afeganistão, porque precisamos estar lá para proteger as mulheres afegãs”. Certo? Bom, vamos encarar o fato de que o governo dos EUA sequer pode proteger seus próprios soldados, as mulheres soldados mas alguns homens também, dos seus próprios companheiros.

    Um em cada 30, pelo menos 1 em 30 – e esses números são os “oficiais”, portanto provavelmente são mais altos – 1 em cada 30 mulheres em relatórios militares já foram sexualmente violentadas por seus colegas soldados. Esse é um problema gigantesco! E de novo, se os militares só podem lidar com esse tipo de problema colocando pessoas na prisão por reclamarem de terem sido sexualmente violentadas, como eles poderiam proteger mulheres em outros países? E esse é um fato que nós já sabemos: eles não podem.

    Então, por exemplo, no Afeganistão nós temos gente como [o jornalista] Scott Simon na [rádio] NPR dizendo: “nós não podemos deixar o Afeganistão e deixar as mulheres nas mãos do Talibã, elas serão abusadas”.

    Vejam, o Talibã não é bom e eles são cruéis com as mulheres, sim. Mas agora mesmo, com soldados norte-americanos em solo lá [no Afeganistão] e eles já estão [na região] nos últimos 19 anos, indo para o 20º, o Afeganistão segue sendo o pior país no mundo, segundo a ONU, para os direitos das mulheres. O pior!

    Então, voltamos à pergunta: o que os EUA estão fazendo para proteger as mulheres no Afeganistão? O que eles fizeram nos últimos 50 anos?

    Os EUA em 1979 apoiaram [fundamentalistas islâmicos] Mujahedin, incluindo um de seus principais líderes, Osama Bin Laden, a iniciar atividades terroristas no Afeganistão contra o governo socialista que havia lá (e que protegia os direitos das mulheres) para derrubar a presença da URSS no Afeganistão. Nós sabemos disso, a partir do Relatório de Segurança Nacional do ex-Conselheiro Zbigniew Brzezinski do [ex-presidente] Jimmy Carter. Ele admitiu isso: que os EUA apoiaram o Mujahedin não para lutar contra as tropas soviéticas no Afeganistão, mas para tirá-los de lá. E foi exatamente o que aconteceu.

    Os EUA vêm dando apoio a esse jihadismo de direita e anti-feminista no Afeganistão desde 1979. E agora nós ouvimos que os EUA não podem sair do Afeganistão para não deixar as mulheres à sua própria sorte? Isso não faz nenhum sentido!

    Eu gostaria de ler algumas passagens do meu livro para dar-lhes uma ideia sobre esses temas.

    O capítulo 9 cujo título é: “As forças armadas dos EUA não são uma organização feminista”. De cara, você poderia dizer “eu nunca pensei que pudesse ser uma organização feminista”. E de novo, de várias maneiras, somos levados a acreditar nisso. Então, aqui está uma parte desse capítulo:

    “É sabido que durante a guerra dos EUA no Vietnã, por exemplo, o estupro era, de acordo com o testemunho dos próprios soldados dos EUA: um “procedimento de operação padrão” e os homens que serviram e mataram no Vietnã eram considerados por seus companheiros como “veteranos em dobro” se eles estuprassem mulheres e meninas vietnamitas, e também todos que fossem considerados inimigos ou ainda “alvos justos de estupro”.

    E de novo: “companheiros, co-membros da mesma unidade militar também foram violentados em cenários de combate.

    Um estudo preliminar de mulheres veteranas no Vietnã estima que tenha sido mais de 29% das mulheres militares norte-americanas que serviram no Vietnã, as vítimas de tentativas ou violações sexuais completas pelos próprios colegas militares dos EUA.

    Agora, você poderia dizer: “e o que dizer da Segunda Guerra Mundial? Nós éramos os caras bonzinhos!”. Bom, o Vietnã não foi a única vítima desse procedimento, nem mesmo considerando na que chamamos “Guerra do Bem” [II Guerra Mundial], segue mais um trecho do livro:

    “As forças aliadas, incluindo as forças dos EUA, se envolveram em estupros inclusive de “cidadãos de países aliados”. Por exemplo, como um artigo do Duke Law Journal explica, “o estupro de mulheres francesas por soldados norte-americanos na Segunda Guerra Mundial foi suficientemente perverso para provocar uma diretiva do quartel-general do General Eisenhower em dezembro de 1944 para o Comando das Forças Armadas dos EUA anunciando que o General estava gravemente preocupado e instruindo que rápidas e apropriadas punições fossem administradas”. Isso porque aparentemente, os estupros cresceram 260% depois do “Dia D”! E nesse caso agora, porque as tropas americanas estavam usando largamente suas armas (apontando mesmo) para cometer estupro contra mulheres aliadas, mulheres francesas [na ocupação] na França.

    Jean Bricmon em seu livro “Imperialismo Humanitário” diz que quando você vai para uma guerra o resultado é a tortura. Inevitavelmente. Apesar de todas as regras que temos sobre guerras, de proibir torturas, de proibir civis como alvos, de cuidar para que civis sejam protegidos, os que invadem outros países sempre torturam essas pessoas nesses países.

    E eu adicionaria a isso, e não estou sozinho, que muitos estudos apoiam a afirmação de que também as guerras agressivas [não defensivas] significam sempre estupros. Quando nossos soldados vão para a guerra no Iraque, no Afeganistão, eles estupram. Então, essa noção de que os EUA estão nesses países para proteger as mulheres é inacreditável.

    Tem esse outro grande livro.. estou tentando lembrar o nome do autor agora, eu o citei no meu livro, ele fala sobre a complexidade das bases norte-americanas ao redor do mundo.. David Vine, creio que é esse o nome.

    Nós temos mais de 800 bases militares pelo mundo e em todas as bases militares dos EUA, nas mais de 800 delas, sempre houve funcionários civis em serviço nessas bases. Nossos soldados, adicionalmente a estuprarem suas próprias companheiras [militares] tem abusado de mulheres [civis] em todas essas bases. Isso é excepcionalmente bem aceito, ninguém se assusta com isso.

    Sabe, nós falamos sobre como o Japão abusou de mulheres da Coreia durante a Segunda Guerra Mundial e a Coreia continua reclamando sobre isso e o Japão jamais se desculpou. E [achamos que] isso é legítimo. Mas e sobre as mulheres que os soldados americanos abusaram todos esses anos e continuam fazendo?

    Esse é o grande ponto que eu tentei trazer no meu livro. Essa ideia de que os EUA e o Ocidente estão saindo pelo mundo para proteger os direitos humanos e protegendo pessoas de genocídios é uma fantasia. Mas é uma fantasia com um propósito. Nós nos convencemos de que isso é verdade para justificar o contínuo gasto de mais de um trilhão de dólares por ano atualmente e as contínuas guerras agressivas ao redor do mundo.

    Um grande exemplo disso é a invasão da Líbia em 2011. E por que esse tão enigmático exemplo? Primeiro, pelo lado americano, ela foi liderada por Barack Obama e por três conselheiras que realmente empurraram os EUA a participar desse ataque da OTAN na Libia. E essas foram Samantha Power, Susan Rice e Hillary Clinton. Elas pressionaram para que ele entrasse nessa “incursão humanitária”. Mas nós sabemos agora, como muitos de nós já sabíamos então, que essa intervenção humanitária era uma mentira.

    Houve três principais mentiras para justificar o ataque da OTAN na Líbia:

    Número UM e a mais ultrajante de todas – que a Hillary Clinton gostava muito de promover – de que Muammar Gadafi estava distribuindo Viagra às suas tropas para praticar estupros em massa na Líbia; a Anistia Internacional mais tarde derrubou essa acusação, ninguém conseguiu encontrar qualquer evidência disso.

    DOIS, a denúncia – de novo, levada por Samantha Power, Hillary Clinton e Susan Rice – de que Gadaffi estava a ponto de cometer um genocídio em Benghazi; mas se olhamos os e-mails internos particularmente da equipe de Hillary Clinton [e, lembrando, eles também estão no meu livro] nós vemos a equipe de Hillary comentando entre eles que, quando a missão OTAN/Obama na Líbia começou, não havia qualquer preocupação com a questão dos direitos humanos em Benghazi. Que tudo já havia acabado e a oposição havia tomado conta de Benghazi e não havia qualquer risco [aos direitos humanos] naquele momento.

    A TERCEIRA e pior leviandade, foi a de que “mercenários negros” estavam sendo usados por Muammar Gaddafi para impor essa guerra contra seu próprio povo. Alguns grupos de direitos humanos e própria Anistia Internacional, inicialmente, apoiaram essa acusação. Embora a Anistia Internacional tenha, tarde demais, derrubado essa acusação. O que eles acabaram dizendo foi: “Não. Desculpem, não eram mercenários, eram trabalhadores estrangeiros, da África Subsaariana”. E, a propósito, a mídia na época até dizia que se podia identificar os mercenários negros, porque eles usavam capacetes amarelos. Claro, porque eles eram trabalhadores da construção!

    Então, essa mentira, não apenas pavimentou o caminho para essa intervenção na Líbia, a outra coisa que essa mentira fez foi criar um genocídio na Líbia. Porque os jihadistas, apoiados pela OTAN para derrubarem Gaddafi, começaram a atacar qualquer um com a pele negra, baseados nessas mentiras.

    Eles exterminaram cidades e localidades inteiras com população negra africana, mataram negros africanos, aprisionaram em massa, e até hoje ninguém fala disso! E os negros subsaarianos continuam sendo colocados nas ruas da Líbia e vendidos, como escravos! 

    Esse é o resultado da “intervenção humanitária” na Líbia, a que quase ninguém nos EUA jamais se opôs. Até mesmo [o programa de jornalismo independente] “Democracy Now” foi um veículo de apoio para essa invasão. E até hoje, não só Democracy Now, NPR [National Public Radio] mas muitos outros se recusam a rever os fatos sobre essa invasão, em ser honestos com suas visões em apoiar isso. E para ser franco, muito poucos se opuseram ao envolvimento dos EUA na Líbia.

    E você sabem, esse tipo de coisa foi o que me motivou a escrever esse livro. A guerra, a guerra imperialista é uma imensa parte do problema dos EUA.

    Eu vou lhes dar outro exemplo disso, recentemente Trump anunciou que queria remover 900 tropas da Alemanha. E queria começar a remover também as tropas do Afeganistão e trazê-las para casa. E nós vemos agora os Democratas, particularmente os que deram ouvidos a Liynn Chenney [Republicana], a mulher de Dick Chenney, que tentou aprovar a legislação para prevenir Trump de remover essas tropas. E se nós olhamos para os Democratas e os Liberais, eles na verdade estão atacando à direita de Trump em relação a esse tipo de problema. E acho que precisamos ser honestos sobre isso, com as cores que isso tem.

    Porque votar em Joe Binden em novembro? É, eu provavelmente vou, eu acho que ele também está entre as pessoas mais cruéis, mas eu também sei que as pessoas podem lutar contra Binden cada centímetro para evitar que ele continue essas guerras intermináveis no mundo.

    Outro exemplo, é esse outro novo inimigo amargo de Trump, John Bolton, que foi seu Conselheiro de Segurança Nacional, ele foi tanto um propagador de guerras, que Trump chegou a dizer: “eu tenho o melhor cara, ele pode ir comigo a qualquer lugar”. E Trump estava muito certo sobre isso.

    Então, Bolton escreveu esse livro com coisas sobre Trump que estão “bem descritas”, sabe como é, mas Bolton se tornou um herói para muitos liberais [esquerda] nos EUA porque ele estava “atacando Trump”. Só que ele estava [no livro] atacando Trump à direita, por exemplo, dizendo: “se Trump for reeleito ele vai encontrar-se com o Presidente Nicolás Maduro da Venezuela”. O que a propósito eu acho que seria uma coisa boa, eu gostaria que um presidente dos EUA fizesse isso. Mas porque foi Trump quem teria ganhado para fazer isso, os liberais estão dizendo: “ah, isso é ruim, ele é mau, é um ditador etc”.

    Então, nós temos que ter nossos princípios nessas questões, o primeiro é o princípio antiimperialista. Não importa quem esteja no comando, eu espero que possa ser Joe Binden, mas se é Joe Binden, nós tampouco vamos poder dormir. Temos que continuar pressionando nossos governos para encerrar essas guerras intermináveis.

    Ok, então esses são meus marcos principais. A propósito eu estou ao vivo no meu Facebook com meu celular e estou ao mesmo tempo no Zoom com meu computador, então é meio difícil ler todos os comentários e peço desculpas por isso. E eu nem sei que horas são. Vocês, amigos, tem comentários, perguntas, considerações, eu estou a postos para responde-los.

    Ok, obrigado Paul. Para o pessoal que está ao vivo no Facebook, eu quero dizer que vou responder agora uma pergunta do Reverendo Paul Dordal, ex-congressista, e ativista pela paz de Pittsburgh, que está no Zoom, vá em frente Paul.

    Claro Paul, bom ele me pediu mais exemplos sobre essas falsas alegações de “intervenções humanitárias” dos EUA. A propósito, Paul serviu como Capelão Militar durante a invasão do Iraque, tá certo Paul? Certo.

    Bom, há muitos exemplos, eu poderia voltar à outra história do meu livro no que eu acredito que foi nossa primeira “intervenção humanitária” e essa foi a “intervenção humanitária” do Rei Leopoldo II, da Bélgica, no Congo. Que teve início no final do século 19.

    Vocês provavelmente já aprenderam um bocado sobre isso porque durante os recentes protestos do BLM [Black Lives Matter] uma estátua do Rei Leopoldo II foi derrubada na Bélgica e a razão para isso é que o Rei Leopoldo decidiu pessoalmente invadir o Congo, por seus próprios interesses, especialmente para obter benefícios com o roubo de marfim. Mas o Rei Leopoldo, assim como muitos líderes, era muito esperto e sabia que a maioria dos países não iria apoiar que ele controlasse um país africano só para retirar seus recursos naturais. Então, ele apareceu com esse plano – e ele já tinha enviado emissários para o Congo e para o mundo, incluindo os EUA – para alegar que ele estava indo ao Congo para proteger as mulheres congolesas. E em particular, dos mercadores de escravos árabes que ainda existiam nessa região. Mas ele não estava interessado em proteger ninguém, era só uma justificativa e ele foi muito eficaz nisso. Ele conseguiu convencer muitas pessoas e governos – e os EUA foram os primeiros a reconhecer seus interesses no Congo – de que essa seria uma “intervenção humanitária” e inclusive conseguiu que pessoas lhe dessem dinheiro para sua aventura “humanitária” no Congo.

    Bem, o que aconteceu é que Leopoldo, ele mesmo, escravizou milhares de congoleses para apoiar sua extração de madeira, para construir rodovias, para facilitar sua retirada de recursos do país através dos rios [do Congo] para fora do país e para retirar o marfim. Ele escravizou milhares de congoleses e os torturou, se os congoleses não eram submissos a ele, ou ao trabalho que precisava ser feito, suas mãos eram cortadas, isso é bastante conhecido, às vezes seus genitais eram cortados, e no final como resultado do seu brutal tratamento, houve ainda mais de 10 milhões de pessoas no Congo que foram mortas durante essa incursão.

    E claro que essa incursão se encerrou por conta de pessoas honestas no Ocidente. Alguns deles não existem mais hoje em dia, mas naquela época tínhamos pessoas como [os escritores] Mark Twain, por exemplo, ou Arthur Conan Doyle – que descreveu isso inclusive em suas histórias de Sherlock Holmes – sobre o que o Rei Leopoldo estava fazendo. E essas pessoas, com pressão e organização, conseguiram que a comunidade internacional terminasse com essa incursão do Rei Leopoldo no Congo.

    E eu discuto isso no meu livro, o que o Rei Leopoldo fez no Congo foi “em nome dos Direitos Humanos” e o que o Ocidente continua fazendo em todo o mundo também é “em nome dos Direitos Humanos”. Só que agora de uma maneira mais sofisticada, claro, e pior. Mas no final é o mesmo jogo incluindo, a propósito, no Congo.

    Muitas pessoas não se dão conta de que sob Bill Clinton, começando em 1996, a administração Clinton apoiou os governos de Ruanda e Uganda a invadirem o Congo. De novo, sob o pretexto de “parar o que seria um genocídio” que estaria ocorrendo lá e era por isso que Ruanda queria entrar no Congo. Mas o resultado foi que essas forças de Ruanda e Uganda apoiadas por Bill Clinton mataram 6 milhões de pessoas no Congo, a maioria delas congoleses. E nós nos damos conta disso, eu procuro detalhar isso no meu livro, a partir da leitura da mídia hegemônica. A maioria das maiores empresas de mineração dos EUA, no final, a maioria delas conseguiu imensos lucros e benefícios nessa incursão no Congo. E através dessas invasões, as primeiras a ganharem com isso foram justamente as de Hope, no Arkansas, que são empresas muito próximas a Bill Clinton, como sabemos.

    E depois de Clinton, algumas pessoas gostam de se referir ao primeiro presidente negro [Obama], com Hillary trabalhando com ele, mas ele prosseguiu com esse massacre de 6 milhões de congoleses, em nome dos Direitos Humanos, e isso era uma completa mentira. E nós podemos ir além, mas enfim, essa é a mais comum das armadilhas, a ideia de que os EUA estariam apoiando a prevenção de genocídios sob o princípio dos Direitos Humanos, quando na verdade é o Ocidente e os EUA que tem cometido genocídios pelo mundo.

    Bom, tem alguém que gostaria de fazer alguma pergunta ou podemos encerrar aqui? Eu acho que às vezes, menos é mais. E nessas circunstâncias, vejo meu amigo John sorrindo, eu acho que provavelmente é verdade. Então porque não terminamos aqui? Acho que é um bom ponto para encerrar. Eu quero agradecer a todos por acompanharem e de novo esse é meu livro e você pode conseguir em qualquer lugar, na Amazon ou encomendar na sua livraria. Eu realmente estou grato por vocês estarem aí, eu acho que é um período duro para estar atrás de livros como esse, mas acho que tem uma boa mensagem aí e algo que podemos aprender. Obrigado a todos que estão conectados, isso realmente significa o mundo para mim. Nós estamos vivendo tempos muito difíceis e estamos todos atravessando um enorme desafio com essa pandemia e ver vocês disponíveis aí para me ouvir, significa tudo para mim. Vocês foram muito pacientes e muito gentis. Eu desejo a todos, boa tarde, boa noite e boa sorte. Obrigado!

  • Dados e Política: Por Dentro da Indústria da Influência

    Dados e Política: Por Dentro da Indústria da Influência

    Prestes a entrar em uma disputa eleitoral cujo resultado é extremamente significativo o resultado deve atender à vontade da soberania popular e fortalecimento da democracia a equipe da Casa Hacker sempre atuando em pró da democracia e direitos humanos tem buscado através da inclusão digital e tecnológica dos cidadãos trazer ferramentas e informações que promovam a equidade e a democracia.
    Os interesses de grupos colocam em xeque a democracia se utilizando do voto
    A indústria das campanhas políticas tem se tornado um grande negócio lucrativo e fortemente influenciada por dados pessoais. Esses dados se estendem por muito além dos registros eleitorais: tudo pode alimentar a base de dados coletados, desde os itens do seu carrinho de compras à pontuação dos seus posts e testes aleatórios do Facebook, ao bar que você visita numa sexta à noite, pode ser usado por partidos e políticos para descobrir quem é você e te influenciar.
    Experiências passadas e resultados manipulados
    Em 2018 explode nos meios de comunicação o escândalo dos dados de usuários do facebook, não era a primeira vez que o Facebook se envolvia em uma polêmica relacionada à “manipulação de opinião pública durante a eleição presidencial americana”. Assim como a eleição de Donald Trump para presidente dos EUA, a campanha marcante para que o Reino Unido deixasse a União Europeia usou ilegalmente dos dados privativos pessoais.
    Os 50 milhões de usuários do facebook foram vítimas de uma coleta de dados realizada pela Cambridge Analytic por meio do próprio facebook através de um teste como tantos outros que vemos na rede social.

    Casa Hacker combatendo a manipulação por meio da informação 

    A Casa Hacker junto à Tactical Tech lançam o Guia do Eleitor e a vídeo galeria “Dados Pessoais: Persuasão Política — O que está a venda?” em formato digital e de acesso gratuito que explicam, em termos e linguagem acessível, onde as campanhas políticas pesquisam por dados pessoais, que tipos de dados elas coletam, e como elas usam isso para tornar alvos e persuadir eleitores. O guia detalha as técnicas de campanhas como “escuta digital”, “micro-segmentação” e “testes A/B”, e oferece aos eleitores brasileiros 7 dicas essenciais para desintoxicar seus dados pessoais e deixar as campanhas eleitorais e políticos longe de seus dados pessoais.
    O Guia do Eleitor aborda 7 dicas (e contextualiza com exemplos reais):
    DICA #1: Mude sua Rotina;
    DICA #2: Mude suas Preferências nas Redes Sociais;
    DICA #3: Bloqueie seu Celular e Navegadores de Desktop;
    DICA #4: Mantenha-se Informado;
    DICA #5: Limite Quem Sabe Onde Você Está;
    DICA #6: Fale;
    DICA #7: Conte à sua Comunidade.

    Com a ajuda dessas dicas práticas, eleitores podem votar com o conhecimento de como e quando essas técnicas digitais estão sendo usadas, e, inclusive, o que podem fazer para barrá-las.
    A vídeo galeria “Dados Pessoais: Persuasão Política — O que está a venda?” é o resultado de uma pesquisa extensa no mundo todo conduzida pela Tactical Tech e parceiros globais onde encontramos mais de 300 empresas em todo o mundo que usam dados para fornecer informações aos partidos políticos sobre quem são os eleitores, o que eles querem ouvir e como persuadi-los. Ao mergulhar fundo em seus sites, encontramos várias empresas, consultorias, agências e firmas de marketing, desde startups locais a estrategistas globais, visando partidos que abrangem o espectro político. Essa galeria visual e virtual captura as promessas dessas empresas, oferecendo uma janela única para os serviços que elas promovem e a linguagem atraente que usam, frases como “fortalecemos a democracia”, “emoções impulsionadas pelos dados”, “mudando o mundo, um pixel de cada vez” e “vencer eleições com inteligência social”. Principalmente empresas com fins lucrativos, com o objetivo principal de gerar, manter e aumentar os lucros, é importante perguntar: quais são as implicações de permitir que a política seja amplamente influenciada pelas organizações de tecnologia orientadas a dados?
    O “Guia do Eleitor” e a vídeo galeria “Dados Pessoais: Persuasão Política – O que está a venda?” estão disponíveis gratuitamente no site da Casa Hacker.

    Sobre a Casa Hacker

    A Casa Hacker é um espaço hacker sem fins lucrativos e 100% dedicada a colocar comunidades locais no controle de suas experiências digitais e a moldarem o futuro da tecnologia da informação e comunicação para o bem público. Desenvolvemos programas e projetos de educação e cultura digital em comunidades periféricas e defendemos direitos digitais junto à Coalizão Direitos na Rede.

    Sobre a Tactical Tech

    A Tactical Tech é uma organização sem fins lucrativos alemã que trabalha na intersecção entre tecnologia, direitos humanos e liberdades civis. Eles fornecem treinamentos, conduzem pesquisas e criam intervenções culturais que contribuem para o debate sócio-político mais amplo sobre segurança digital, privacidade e ética dos dados.

     

     

     

    https://vimeo.com/323661112

  • Venezuela frustra ataque de mercenários

    Venezuela frustra ataque de mercenários

    Um grupo de mercenários que partiu da Colômbia tentou invadir a Venezuela na manhã deste domingo por via marítima, mas foi surpreendido e rechaçado pelas forças venezuelanas. Vários deles foram mortos ou detidos em Macuto, no estado de La Guaira, segundo o ministro do Interior e Justiça Néstor Reverol. Ele explicou que a tentativa de entrar no país foi através das costas do estado de La Guaira, no norte da Venezuela, por meio de lanchas. Reverol informou que vários dos “terroristas” foram mortos na operação e outros capturados, e um arsenal de rifles de assalto foi apreendido.

    A tentativa de agressão à Venezuela ocorre quase exatamente um ano após a frustrada tentativa de golpe liderada pelo deputado da oposição Juan Guaidó, em Caracas, acompanhado pelo líder de direita Leopoldo López.

    “Um grupo de mercenários terroristas da Colômbia tentou realizar uma invasão marítima com o objetivo de cometer atos terroristas no país, perpetrando assassinatos de líderes do governo revolucionário e aumentando a espiral de violência e, com isso, levar a uma nova tentativa de golpe. Parece que as tentativas imperiais frustradas de derrubar o governo legitimamente constituído, liderado pelo presidente Nicolás Maduro, os levaram a formular ações excessivas”, afirmou Reverol hoje, depois de declarar um estado de “resistência permanente e alerta” no país sul-americano.

    Conforme foi detalhado pelos militares venezuelanos, o ataque foi detectado “graças ao trabalho profissional e científico das agências de inteligência e contra-inteligência, bem como à execução permanente da operação militar e policial ‘Escudo Bolivariano‘, que garante a vigilância contínua do espaço. geográfica da nação“.

    O homem à direita de Juan Guaidó teria sido morto durante o ataque

    Vídeos que circulam nas redes sociais relataram o sobrevoo de helicópteros e detonações ocorridas na área de Macuto nas primeiras horas da manhã. Mais tarde, usando barcos, mergulhadores tentaram recuperar parte do armamento que estava com os invasores.

     

  • Noam Chomsky: Os sociopatas da Casa Branca estão levando o país à destruição

    Noam Chomsky: Os sociopatas da Casa Branca estão levando o país à destruição

    Para o filósofo e linguista Noam Chomsky, a primeira grande lição da atual pandemia é que estamos diante de “outra falha em massa e colossal da versão neoliberal do capitalismo”, que no caso dos Estados Unidos está agravado pela natureza dos “bufões sociopatas que dirigem o governo” liderado por Donald Trump.

    De sua casa em Tucson (Arizona) e longe de seu gabinete no Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), desde que transformou para sempre o campo da linguística, Noam Chomsky repassa em uma entrevista com “Efe” as consequências de um vírus que deixa claro que os governos estão sendo “o problema e não a solução”.

    Que lições positivas podemos extrair da pandemia?

    A primeira lição é que estamos diante de outra falha em massa e colossal da versão neoliberal do capitalismo. Se não aprendemos isso, a próxima vez que acontecer algo parecido vai ser pior. É óbvio após o que ocorreu depois da epidemia do SARS em 2003. Os cientistas sabiam que viriam outras pandemias, provavelmente da variedade do coronavírus. Teria sido possível se preparar naquele ponto e abordá-lo como se faz com a gripe. Mas não se fez.

    As empresas farmacêuticas tinham recursos e são milionárias, mas não o fazem porque os mercados dizem que não há lucros em se preparar para uma catástrofe virando a esquina. E depois vem o martelo neoliberal. Os governos não podem fazer nada. Estão sendo o problema e não a solução.

    Estados Unidos é uma catástrofe pela jogada que fazem em Washington. Sabem como culpar todo mundo exceto a eles mesmos, apesar de serem os responsáveis. Somos agora o epicentro, em um país que é tão disfuncional que nem sequer pode prover de informação sobre a infecção à Organização Mundial da Saúde (OMS).

    Qual sua opinião do gerenciamento da administração Trump?

    A maneira como isto se desenvolveu é surreal. Em fevereiro a pandemia estava já fazendo estragos, todo mundo nos Estados Unidos o reconhecia. Justo em fevereiro, Trump apresenta alguns orçamentos que vale a pena olhar. Cortes no Centro de Prevenção e Controle de Doenças e em outras partes relacionadas com a saúde. Fez cortes no meio de uma pandemia e incrementou o financiamento das indústrias de energia fóssil, a despesa militar, o famoso muro…

    Tudo isso diz algo da natureza dos bufões sociopatas que administram o Governo e porque o país está sofrendo. Agora buscam desesperadamente culpar alguém. Culpam a China, a OMS… e o que têm feito com a OMS é realmente criminoso. Deixar de financiá-la? Que significa isso? A OMS trabalha em todo mundo, principalmente em países pobres, com temas relacionados com a diarreia, a maternidade… Então que estão dizendo? “Ok, matemos um montão de gente no sul porque talvez isso nos ajude com nossas perspectivas eleitorais”. Isso é um mundo de sociopatas.

    Trump começou negando a crise, disse inclusive que era um boato democrata… Pode ser esta a primeira vez que os fatos venceram Trump ?

    A Trump há que lhe conceder um mérito… É provavelmente o homem mais seguro de si mesmo que já existiu. É capaz de sustentar um cartaz que diz “amo vocês, sou seu salvador, confiem em mim porque trabalho dia e noite para vocês” e com a outra mão te apunhalar pelas costas. É assim que se relaciona com seus eleitores, que o adoram independentemente do que faça. E recebe ajuda por um fenômeno mediático formado por Fox News, Rush Limbaugh, Breitbart… que são os únicos meios que assistem os republicanos.

    Se Trump diz em um dia “é só uma gripe, esqueçam dela”, eles dirão que sim, que é uma gripe e que há que se esquecer. Se no dia seguinte diz que é uma pandemia terrível e que ele foi o primeiro a se dar conta, gritarão em uníssono e dirão que ele é a melhor pessoa da história.

    Ao mesmo tempo, ele mesmo olha Fox News pelas manhãs e decide o que supõe que tem que dizer. É um fenômeno espantoso. Rupert Murdoch, Limbaugh e os sociopatas da Casa Branca estão levando o país à destruição.

    Pode esta pandemia mudar a maneira com que nos relacionamos com a natureza?

    Isso depende dos jovens. Depende de como a população mundial reaja. Isto nos poderia levar a estados altamente autoritários e repressivos que expandam o manual neoliberal inclusive mais que agora. Recorde: a classe capitalista não cede. Pedem mais financiamento para os combustíveis fósseis, destroem as regulações que oferecem alguma proteção… No meio da pandemia nos Estados Unidos, eliminaram normas que restringiam a emissão de mercúrio e outros contaminantes… Isso significa matar mais crianças estadunidenses, destruir o meio ambiente. Não param. E se não há contraforças, é o mundo que nos sobrará.

    Como fica o mapa de poder em termos geopolíticos depois da pandemia?

    O que está acontecendo a nível internacional é bastante chocante. Isso que chamam de União Europeia. Escutamos a palavra “união”. Ok, veja a Alemanha, que está gerenciando a crise muito bem… Na Itália, a crise é aguda… Estão recebendo ajuda da Alemanha? Felizmente estão recebendo ajuda, mas de uma “superpotência” como Cuba, que está mandando médicos. Ou chinesa, que envia material e ajuda. Mas não recebem assistência dos países ricos da União Europeia. Isso diz algo…

    O único país que tem demonstrado um internacionalismo genuíno tem sido Cuba, que tem estado sempre sob estrangulamento econômico por parte dos EE.UU. e por algum milagre têm sobrevivido para seguir mostrando ao mundo o que é o internacionalismo.

    Noam Chomsky

    Mas isto não se pode dizer nos Estados Unidos porque o que tens de fazer é culpar Cuba de violações dos direitos humanos. De fato, as piores violações de direitos humanos têm lugar ao sudeste de Cuba, em um lugar chamado Guantánamo que Estados Unidos tomou à ponta de pistola e se nega a devolver.

    Uma pessoa educada e obediente supõe-se que tem que culpar a China, invocar o “perigo amarelo” e dizer que os chineses vêm nos destruir, nós somos maravilhosos.

    Há um chamamento ao internacionalismo progressista com a coalizão que Bernie Sanders começou nos Estados Unidos ou Varoufakis em Europa. Trazem elementos progressistas para contrarrestar o movimento reacionário que se forjou da Casa Branca (…) da mão de estados brutais do Oriente Médio, Israel (…) ou com gente como Orban ou Salvini, cujo desfrute na vida é se assegurar de que as pessoas que fogem desesperadamente da África se afoguem no Mediterrâneo.

    Coloque todo esse “reacionarismo” internacional de um lado e a pergunta é… serão contestados? Eu só vejo esperança no que Bernie Sanders tem construído.

    Que tem perdido…

    Diz-se comumente que a campanha de Sanders foi um fracasso. Mas isso é um erro total. Tem sido um enorme sucesso. Sanders tem conseguido mudar o âmbito da discussão e a política, e coisas muito importantes que não podiam ser mencionados há alguns anos e que agora estão no centro da discussão, como o Green New Deal, essencial para a sobrevivência.

    Não lhe financiaram os ricos, não tem tido apoio dos meios… O aparelho do partido teve que manipular para evitar que ganhasse a indicação. Da mesma maneira que no Reino Unido o ala direita do Partido Trabalhista destruiu Corbyn, que estava democratizando o partido de uma maneira que não podiam suportar.

    Estavam dispostos até a perder as eleições. Temos visto muito disso enos Estados Unidos, mas o movimento permanece. É popular. Está crescendo, são novos… Há movimentos comparáveis na Europa, podem marcar a diferença.

    Que acha que passará com a globalização tal e qual a conhecemos?

    Não há nada de mal com a globalização. É bom viajar à Espanha, por exemplo. A pergunta é: que forma de globalização? A que se desenvolveu tem sido sob o neoliberalismo. É a que se tem desenhado. Tem enriquecido os mais ricos e existe um enorme poder em mãos de corporações e monopólios. Também tem levado a uma forma muito frágil de economia, baseada em um modelo de negócio da eficiência, fazendo as coisas ao menor custo possível. Esse raciocínio leva a que os hospitais não tenham certas coisas porque não são eficientes, por exemplo.

    Agora o frágil sistema construído está colapsando porque não pode lidar com algo que tem saído mal. Quando desenhas um sistema frágil e centralizas a produção em um só lugar como a China… Olha a Apple. Fatura enormes lucros e poucos ficam na China ou em Taiwan. A maior parte de seu negócio vai para onde provavelmente têm localizado um escritório do tamanho de meu estúdio, na Irlanda, para pagar poucos impostos em um paraíso fiscal.

    Como é que podem esconder dinheiro em paraísos fiscais? Isso faz parte da lei natural? Não. De fato nos Estados Unidos até Reagan, era ilegal. Assim como as compras de ações. (…) Eram necessárias? Reagan legalizou.

    Tudo foi projetado, são decisões… que têm consequências que vemos ao longo dos anos e uma das razões que se encontra é o mal chamado “populismo”. Muita gente estava enfadada, ressentida e odiava o governo de forma justificada. Isso tem sido um terreno fértil para demagogos que podiam dizer: sou teu salvador e os imigrantes isso e aquilo, etc.

    Acha que, depois da pandemia, os Estados Unidos estarão mais perto de uma previdência universal e gratuita?

    É muito interessante ver essa discussão. Os programas de Sanders, por exemplo, previdência universal, taxas universitárias gratuitas… Criticam-no em todo o espectro ideológico. As críticas mais interessantes vêm da esquerda. Os colunistas mais liberais do New York Times, CNN e todos eles… Dizem que são boas ideias, mas não para os estadunidenses.

    A previdência universal está em todas as partes. Em toda Europa de uma forma ou de outra. Em países pobres como Brasil, México… E a educação universitária gratuita? Em todas as partes… Finlândia, Alemanha, México… em todos os lados. De modo que o que dizem os críticos na esquerda é que Estados Unidos é uma sociedade tão atrasada que não pode ser colocado à altura do resto do mundo. E isso diz bastante da natureza, da cultura e da sociedade.

    Tradução: Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba

    Foto: Apu Gomez

    Texto original: http://www.cubadebate.cu/especiales/2020/04/22/noam-chomsky-el-unico-pais-que-ha-demostrado-un-internacionalismo-genuino-ha-sido-cuba/#.XqH1_mZKh0w

    Cuba Salva Bloqueio Mata

  • Boletim #1 da Venezuela: o ataque imperialista dos EUA durante a pandemia de Covid-19

    Boletim #1 da Venezuela: o ataque imperialista dos EUA durante a pandemia de Covid-19

    Por Bruno Falci e Clara Luiza Domingos, do Jornalistas Livres

    O Jornalistas Livres estreou o Boletim Semanal da Venezuela com o objetivo de informar ao público fatos e análises sobre a Venezuela, que não chegam pela grande mídia, dando voz à lideranças que possam expor os problemas vividos pelos venezuelanos diariamente, em função dos ataques imperialistas por parte dos EUA, que estão se intensificando durante a pandemia do Covid-19. O Boletim Semanal da Venezula é transmitido ao vivo, todas as quintas-feiras, às 16h30 (horário de Brasília).

    O convidado recebido pelos jornalistas Bruno Falci e Clara Luiza Domingos para o Programa #1 foi o Secretário Geral do Comitê de Solidariedade Internacional (COSI), Gabriel Aguirre, que apresentou um panorama geral sobre a situação política atual da Venezuela e as ações do governo de Nicolás Maduro para ajudar a população a enfrentar a pandemia.

    No fim de Março, enquanto todo os países do mundo tomavam medidas de emergência para combater a Covid-19, o governo dos Estados Unidos anunciou que enviaria forças navais para as proximidades da Venezuela e ofereceu uma recompensa de $15 milhões por informações que levassem à captura do presidente venezuelano Nicolás Maduro. A justificativa é a acusação de que o líder popular teria envolvimento com narcotráfico. 

    Os argumentos são fortemente rebatidos pelos cidadãos e governo da Venezuela. De acordo com Gabriel Aguirre, “a agressão que tem se desenvolvido contra a Venezuela tem um objetivo central: o controle dos recursos estratégicos que possui nossa nação. Venezuela é a principal reserva de petróleo a nível mundial, quarta reserva de Gás a nível mundial, a segunda maior reserva do minério coltan no mundo, além dos recursos energéticos, minerais e aquífero”, rebate Gabriel.

    O histórico de ataques dos Estados Unidos à Venezuela é longo. O país sul-americano tem sido um entrave para as políticas imperialistas dos Estados Unidos na América Latina desde as eleições presidenciais que levaram Hugo Chávez à presidência, em 1998. O presidente militar, socialista, iniciou uma nova página na história da Venezuela, comprometido com a justiça social, soberania nacional e integração dos povos e nações periféricas do mundo e da
    América Latina. 

    “Venezuela, nos últimos anos, com o presidente Chávez, no marco de integração regional, representou um polo de contenção aos planos hegemônicos do imperialismo sobre a América Latina. Todas as iniciativas que se desenvolveram na Venezuela, com o objetivo de impedir a continuidade do financiamento dos Estados Unidos no continente, serviram para a agressão se intensificar”, lembra Aguirre sobre o início da década de ouro da América Latina, quando Chávez inaugura um novo período marcado pela eleição de governos progressistas no Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia, Equador, Paraguai, Honduras, Nicaragua e El Salvador. 

    Gabriel relembra que o processo de tentativa de desestabilização do governo venezuelano também se repetiu em outros desses países do continente que tomaram medidas na disputa continental pela “liberação do povo latino-americano, após o marco iniciado por Chávez”, como ele afirma. “Lembremos de Lula, no Brasil; Nestor Kirchner, na Argentina; Fernando Lugo, no Paraguai; Manuel Zelaya, em Honduras. Isso é o que o imperialismo não tem perdoado por todos esses anos na Venezuela, por isso a ferocidade em níveis muito incrementados da agressão que se expressa em todos os âmbitos: político, econômico, diplomático e militar”, completa.

    O Boletim #1 da Venezuela foi transmitido ao vivo pelo Facebook e Youtube do Jornalistas Livres, na última quinta-feira (16/04), e continua disponível para acesso. Acompanhe as notícias de Caracas:

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/907163233078392/

  • “Jornalismo será peça-chave para a construção de um novo momento na democracia”

    “Jornalismo será peça-chave para a construção de um novo momento na democracia”

    Por: Safira Campos para o PNBonline

    Professor e pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Bruno Araújo é jornalista pela Universidade de Coimbra, onde também cursou Mestrado em Comunicação e é doutor pela Universidade de Brasília (UnB). Atualmente é coordenador do Programa de Pós-graduação em Comunicação, o primeiro programa da área em todo Mato Grosso. É também um dos organizadores do livro ‘(Des)construindo uma queda: a mídia e o impeachment de Dilma Rousseff’, em que discute a atuação e influência da imprensa no impedimento da presidente petista em 2016. 

    Com estudos voltados à crítica da mídia, o professor tem desenvolvido pesquisas sobre comunicação e política por meio da análise de coberturas de escândalos políticos, eleições, casos de corrupção e construção de personagens políticas. Na entrevista especial deste domingo (19), o PNBonline conversa com Bruno Araújo sobre o papel do Jornalismo na sociedade, como a profissão pode contribuir para o combate à cultura do ódio e sobre perspectivas da mídia para o futuro diante do cenário de ataque no presente. 

    PNBonline – Como o Jornalismo pode contribuir com a sociedade em um cenário de dicotomia entre o seu papel social de informar e a notícia como mercadoria?

    Bruno Araújo – Esta é uma questão bastante complexa. A notícia é encarada em muitos estudos da Comunicação em pelo menos duas perspectivas. Em primeiro lugar, a notícia como um produto social que visa esclarecer a opinião pública sobre temas que interessam a vida da sociedade. De outro lado, você tem estudos e análises que vão olhar a notícia dentro de algumas limitações em relação à essa primeira perspectiva. A notícia então é vista como um produto de uma empresa que, embora tenha um compromisso social – sendo este um dos valores do chamado Jornalismo liberal que se identifica como uma espécie de quarto poder – visa a obtenção de lucros.

    “Estamos falando da lógica capitalista que invade, como negócios que são, as empresas de comunicação”

    Essa dicotomia precisa ser levada em consideração até para nos alertar que o Jornalismo, apesar de prestar um papel relevantíssimo à sociedade, também é afetado por lógicas que estão muito para além da noção de interesse público. Estamos falando da lógica capitalista que invade, como negócios que são, as empresas de comunicação. Isso dá à notícia uma complexidade muito grande, que faz dela algo que esclarece a opinião pública, mas que também pode entrar em processos de manipulação.

    Essa dicotomia não nasceu hoje e existe desde sempre. O que é preciso considerar, é que independentemente de ser uma mercadoria ou não, a notícia e o Jornalismo como um todo são instâncias que estão sujeitas ao escrutínio, ou seja, à análise da sociedade. Esta é uma porta de oportunidade que não dá ao jornalista uma carta branca para fazer o que quiser. É por isso também que na academia, nós fazemos crítica de mídia e pesquisas das mais diversificadas para analisar o trabalho jornalístico. Nós temos que fazer com que o Jornalismo aperfeiçoe a sua prática para que ele possa ser cada vez mais um serviço público e que tenha uma função de esclarecimento das pessoas.

    PNBonline – Então como preparar estudantes de Jornalismo para um mercado de trabalho em que objetivos econômicos podem ultrapassar o interesse social?

    Bruno Araújo – Na universidade, nós temos um papel muito importante, que é dizer ao estudante que ele trabalhará em empresas de comunicação que são privadas, que têm sua linha editorial, valores e interesses, mas que eles não são obrigados a contar inverdades, a mentir. Ou seja, há certos valores éticos, e por isso fazemos uma discussão sobre ética jornalística, que são inalienáveis. Dizemos a eles que podem perfeitamente trabalhar em uma empresa jornalística, que têm objetivos de obtenção de lucro, e fazer um trabalho que vise o esclarecimento das pessoas, que traga outra múltiplas vozes para participar do debate público. Que a imprensa é uma instância de mediação imprescindível para a sociedade e que não pode ser secundarizada.

    A formação em Jornalismo é a ainda hoje cada vez mais importante, porque é fundamental que nós formemos estudantes que tenham a noção de que nós não somos inocentes na crise democrática que nós vivemos hoje, mas que o Jornalismo também será peça-chave para a construção de um novo momento na democracia.

    PNBonline – Enquanto é atacado, como o Jornalismo brasileiro pode combater a cultura do ódio tão presente atualmente e que tanto trabalha com a desinformação?

    Bruno Araújo – Esse afeto que destila contra o outro as piores energias que estão em nós, que visa não apenas confrontar esse outro, mas destruí-lo como sujeito e ser social, sempre existiu. A diferença agora, e que por isso se fala em uma cultura do ódio, é a força que esse tipo de sentimento tem no espaço público. Muitas vezes você vê o ódio como um afeto que pertence principalmente ao espaço privado, mas agora esse sentimento ganha o espaço público de uma maneira generalizada e exponenciada pela força das redes sociais.

    “O jornalismo não pode naturalizar discursos de ódio e ser um medidor silencioso, sem oferecer um contraponto necessário”

    O Jornalismo tem um papel fundamental mais uma vez. É claro que pedir ao Jornalismo para resolver a cultura do ódio é uma missão mais que impossível, no entanto, o Jornalismo pode sim atuar criando possibilidades de enfrentamento à essa cultura do ódio. Como por exemplo, quando ele produz reportagens que dão conta de crimes que são motivados pelo ódio como as narrativas sobre feminicídio. Elas devem ser feitas de uma maneira muito responsável, mostrando as razões estruturais que estão por trás dos crimes cometidos contra as mulheres por questões machistas. O mesmo para o racismo, que se pulveriza nas nossas relações sociais e não está apenas naquele demonstração mais evidente, mas pode estar escondido em certas expressões, tratamento dado a certos grupos, etc.

    É preciso que as coberturas vão além das estatísticas, humanizando esses números. Dar a oportunidade para que as vítimas possam expressar sua voz no espaço midiático. O Jornalismo não pode abrir mão de ser o lugar da denúncia. Não é possível que se entreviste um candidato que vincula fake news, como o atual presidente na bancada do Jornal Nacional durante as eleições de 2018, sem que os jornalistas sejam capazes de denunciar as mentiras que estavam sendo ditas e que incentivam posições de ódio contra homossexuais, grupos progressistas ou outros candidatos. O Jornalismo não pode naturalizar discursos de ódio e ser um medidor silencioso, sem oferecer o contraponto necessário.

    “Não há nenhum tipo de linguagem desprovido de ideologia (…) O Jornalismo é uma atividade que comporta uma carga ideológica”

    PNBonline – Por que a imprensa brasileira insiste no mito da imparcialidade? 

    Bruno Araújo – No Brasil, nós somos muito influenciados pelo Jornalismo dos Estados Unidos. Essa influência trouxe uma noção chamada em literaturas liberais de ‘Jornalismo cão-de-guarda’. Evidente que em algumas situações isso é verdade, mas no Brasil nós temos uma situação híbrida. Em algumas situações nós temos uma imprensa que agiu como contra-poder, mas em geral a tendência brasileira é outra, em uma perspectiva de cobertura adversária. Nós temos como exemplo, toda a cobertura do impeachment da presidente Dilma Rousseff que não contemplou uma discussão sobre se houve mesmo crime de responsabilidade ou não. Quando houve essa crítica a colegas jornalistas, você ouvia “somos imparciais e objetivos, damos voz aos dois lados”.

    Em semiótica, nós estudamos o papel ideológico da linguagem. Não há nenhum tipo de linguagem desprovido de ideologia, pois como afirmam Bakhtin e Volochinov, toda palavra é ideológica. O Jornalismo é uma atividade que comporta uma carga ideológica. O que temos estudado há muito tempo é que os veículos estão muitas vezes  a cargo de certas faixas políticas, de certos grupos de pressão e não exatamente com o esclarecimento público. Portanto, o Jornalismo é parcial e tem lado, mas precisamos refletir que lado é esse.

    Nos Estados Unidos há também o hábito dos jornais assumirem durante as eleições, que candidatos apoiam. Mas isso não quer dizer que eles farão uma cobertura enviesada. Aqui no Brasil, os veículos têm seus próprios candidatos e vários estudos refletem sobre isso, mas não é algo assumido. Atualmente, um dos poucos veículos que dizem o candidato apoiado, é a Carta Capital.

    PNBonline – Como o Jornalismo enfrentará as constantes crises de credibilidade e os ataques à profissão?

    Bruno Araújo – Nós estamos vivendo hoje uma situação de grande crise nas mais diversas instâncias da sociedade e o Jornalismo não passa ao largo disso. A credibilidade jornalística é algo que vem sendo bastante contestada, sobretudo e cada vez mais por líderes políticos dos polos extremos, especialmente a extrema-direita que tem feito uma investida muito grande neste sentido. É importante perceber que a contestação do trabalho da imprensa não é feita apenas por forças políticas, mas também por camadas da sociedade.

    Este momento, que para alguns significaria o fim da imprensa ou a perda total de sua relevância, é um momento de extrema oportunidade para que a imprensa retome o seu papel de mediadora das questões sociais e de esclarecedora do debate público. Neste momento, ao mesmo tempo em que as pessoas criticam o trabalho da imprensa, uma camada importante da sociedade está atordoada sem saber muito bem em que narrativas ela deve confiar para entender o que está acontecendo. É reafirmando sua natureza que o Jornalismo enfrentará este momento.

    PNBonline – Como o Jornalismo local pode se fortalecer e se aproximar do seu público sem se prender a fatores econômicos e políticos?

    Bruno Araújo – Quanto mais regionalizado é o Jornalismo mais dependente ele pode ser de fatores econômicos e políticos. Não há uma resposta pronta para os caminhos a serem traçados para que o Jornalismo local se torne mais independente. Mas certamente ele passaria pelo fortalecimento dos laços com os leitores. É preciso que as pessoas entendam que elas são fundamentais também no financiamento do Jornalismo profissional. Hoje na internet nos parece que tudo é de graça e livre, mas o trabalho empenhado demanda recursos. Em uma perspectiva otimista, quanto mais o público estiver envolvido no financiamento da informação, mais ele tirará o peso desses fatores políticos e de grandes grupos econômicos.

    PNBonline – O professor e pesquisador João Carlos Correia (UBI) diz que o jornalismo precisa contribuir para formar leitores qualificados. Uma falsa democratização do acesso à informação só aumentaria o elitismo. O senhor concorda com esse pensamento?

    Bruno Araújo – Sim. Acho que de fato o Jornalismo tem uma função pedagógica para cumprir na sociedade. É uma função que passa pelo esclarecimento das questões, pela visibilidade de grupos sociais que são historicamente marginalizados e que têm coisas a dizer. No Jornalismo profissional, muitas vezes por conta das próprias rotinas de produção que valorizam as fontes oficiais e instituições consolidadas não damos espaço de voz para esses grupos, que produzem reflexões altamente sofisticadas e são os verdadeiros representantes da sociedade brasileira.

    Quando damos essa visibilidade disminuímos o déficit democrático que temos. Isso contribui para a formação de leitores mais críticos, com uma perspectiva mais aberta, mais aprofundado de temas sociais. Apesar de sermos um país plural, muitas vezes essa pluralidade não reflete no trabalho da imprensa. É preciso, portanto, que nós demos espaço a essa pluralidade para que tenhamos leitores mais críticos e qualificados.

    PNBonline – Quais as expectativas em relação ao Programa de Pós-graduação em Comunicação da UFMT?

    Bruno Araújo – A aprovação do programa foi para nós um grande presente para nós da UFMT e para todo o estado de Mato Grosso, já que nós éramos o único estado da região Centro-Oeste sem uma pós-graduação stricto sensu em Comunicação. Será uma oportunidade de qualificação dos quadros que nós temos agora no mercado de trabalho e de todas as pessoas que se sentem motivadas a investigar na pesquisa e na carreira acadêmica. Teremos a oportunidade de produzir uma massa crítica sobre os fenômenos da Comunicação, principalmente contemplando os temas que são caros no âmbito regional. Com a pandemia, o processo seletivo que esteja em andamento para o mestrado foi interrompido, mas logo que as atividades forem retomadas pela UFMT, retomaremos o processo para dar início às aulas.

    Veja matéria original em: https://www.pnbonline.com.br/geral/a-jornalismo-sera-pea-a-chave-para-a-construa-a-o-de-um-novo-momento-na-democraciaa/65300